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6 habilidades essenciais para a compreensão da leitura

Algumas pessoas pensam no ato de ler como uma tarefa simples e fácil de dominar. Na
realidade, é um processo complexo que se baseia em muitas habilidades diferentes.
Juntas, essas habilidades levam ao objetivo final da leitura: compreensão de leitura ou
compreensão do que foi lido.

A compreensão da leitura pode ser um desafio para as crianças por várias razões. Seja
qual for a causa, conhecer as habilidades envolvidas e prejudicadas em uma
determinada criança, pode ajudá-la a obter o apoio certo.

Aqui estão seis habilidades essenciais necessárias para a compreensão de leitura e dicas
sobre o que pode ajudar as crianças a melhorar essa a leitura.

1. Decodificação

A decodificação é uma etapa vital no processo de leitura. As crianças usam essa


habilidade para expressar palavras que já ouviram antes, mas que não foram escritas. A
capacidade de fazer isso é a base para outras habilidades de leitura.

A decodificação se baseia em uma habilidade do idioma inicial chamada consciência


fonêmica. (Essa habilidade faz parte de uma habilidade ainda mais ampla chamada
consciência fonológica.) A consciência fonêmica permite que as crianças ouçam sons
individuais em palavras (conhecidas como fonemas). Também permite que eles
“brinquem” com sons no nível da palavra e da sílaba.

A decodificação também depende da conexão de sons individuais às letras. Por


exemplo, para ler a palavra sol, as crianças devem saber que a letra s produz o som / s /.
Entender a conexão entre uma letra (ou grupo de letras) e os sons que eles costumam
fazer é um passo importante para “emitir sons”.
O que pode ajudar: A maioria das crianças adquire a ampla habilidade da consciência
fonológica naturalmente, sendo exposta a livros, músicas e rimas. Mas algumas crianças
não. De fato, um dos primeiros sinais de dificuldade de leitura é o problema de rimar,
contar sílabas ou identificar o primeiro som de uma palavra.

A melhor maneira de ajudar as crianças com essas habilidades é através de instruções e


práticas específicas. As crianças precisam ser ensinadas a identificar e trabalhar com
sons. Você também pode desenvolver consciência fonológica em casa através de
atividades como jogos de palavras e leitura para seu filho.

2. Fluência

Para ler fluentemente, as crianças precisam reconhecer instantaneamente as palavras,


incluindo aquelas que não conseguem ouvir. A fluência acelera a taxa na qual eles
podem ler e entender o texto.

Decodificar cada palavra pode exigir muito esforço. O reconhecimento de palavras é a


capacidade de reconhecer palavras inteiras instantaneamente pela vista, sem “emiti-las”

Quando as crianças conseguem ler rapidamente e sem cometer muitos erros, são leitores
“fluentes”.

Leitores fluentes leem sem problemas em um bom ritmo. Eles agrupam as palavras para
ajudar no significado e usam o tom apropriado na voz ao ler em voz alta. A fluência da
leitura é essencial para uma boa compreensão da leitura.

O que pode ajudar: O reconhecimento de palavras pode ser um grande obstáculo para
os leitores com dificuldades. Os leitores comuns precisam ver uma palavra de quatro a
14 vezes antes de se tornar uma “palavra visual” que reconheçam automaticamente.
Crianças com dislexia, por exemplo, podem precisar ver até 40 vezes.

Muitas crianças têm muita dificuldade com a fluência da leitura. Assim como outras
habilidades de leitura, as crianças precisam de muitas instruções e práticas específicas
para melhorar o reconhecimento de palavras.

A principal maneira de ajudar a desenvolver essa habilidade é praticando a leitura de


livros. É importante escolher livros com o nível certo de dificuldade para as crianças.

3. Vocabulário

Para entender o que você está lendo, você precisa entender a maioria das palavras no
texto. Ter um vocabulário forte é um componente essencial da compreensão de leitura.
As crianças podem aprender vocabulário através de instruções. Mas elas geralmente
aprendem o significado das palavras através da experiência cotidiana e também da
leitura.

O que pode ajudar: Quanto mais palavras as crianças são expostas, mais rico seu
vocabulário se torna. Você pode ajudar a criar o vocabulário da criança conversando
frequentemente sobre vários tópicos. Tente incluir novas palavras e ideias. Contar
piadas e jogar jogos de palavras é uma maneira divertida de desenvolver essa
habilidade.

Ler juntos todos os dias também ajuda a melhorar o vocabulário. Ao ler em voz alta,
pare com novas palavras e defina-as. Mas também incentive a criança a ler sozinho.
Mesmo sem ouvir a definição de uma nova palavra, a criança pode usar o contexto para
ajudar a descobrir.

Os professores também podem ajudar. Eles podem escolher cuidadosamente palavras


interessantes para ensinar e depois fornecer instruções explícitas (instrução
especializada e direta). Eles podem envolver os alunos na conversa. E eles podem tornar
o aprendizado do vocabulário divertido, jogando jogos de palavras em sala de aula.

4. Construção de sentenças e coesão

Compreender como as frases são construídas pode parecer uma habilidade de escrever.
O mesmo acontece com a conexão de ideias dentro e entre sentenças, que é chamada de
coesão. Mas essas habilidades também são importantes para a compreensão da leitura.

Saber como as ideias se vinculam no nível da frase ajuda as crianças a obter significado
de passagens e textos inteiros. Isso também leva a algo chamada coerência, ou a
capacidade de conectar ideias a outras ideias em um texto geral.

O que pode ajudar: Instruções explícitas podem ensinar às crianças o básico da


construção de frases. Por exemplo, os professores podem trabalhar com os alunos para
conectar dois ou mais pensamentos, através da escrita e da leitura.

5. Raciocínio e conhecimento prévio

A maioria dos leitores relaciona o que leu ao que sabe. Portanto, é importante que as
crianças tenham conhecimento prévio sobre o mundo quando leem. Elas também
precisam ser capazes de “ler nas entrelinhas” e extrair significado mesmo quando não
está literalmente escrito.

Veja este exemplo: Uma criança está lendo uma história sobre uma família pobre na
década de 1930. Ter conhecimento sobre a este marco histórico pode fornecer
informações sobre o que está acontecendo na história. A criança pode usar esse
conhecimento de base para fazer inferências e tirar conclusões.

O que pode ajudar: A criança pode desenvolver conhecimento através da leitura,


conversas, filmes e programas de TV e arte. A experiência de vida e as atividades
práticas também criam conhecimento.

Exponha a criança o máximo possível e fale sobre o que aprendeu com as experiências
que teve juntos e separadamente. Ajude a criança a fazer conexões entre novos
conhecimentos e conhecimentos existentes. E faça perguntas abertas que exijam
reflexão e explicações.

6. Memória de trabalho e atenção


Essas duas habilidades fazem parte de um grupo de habilidades conhecido como
cognição. Eles são diferentes, mas estão intimamente relacionados.

Quando as crianças leem, a atenção lhes permite captar informações do texto. A


memória de trabalho permite que eles se apeguem a essas informações e as usem para
obter significado e desenvolver conhecimento com o que estão lendo.

A capacidade de auto monitorar durante a leitura também está ligada a isso. As crianças
precisam ser capazes de reconhecer quando não entendem alguma coisa. Então eles
precisam parar, voltar e reler para esclarecer qualquer confusão que possam ter.

O que pode ajudar: Existem várias maneiras de ajudar a melhorar a memória de


trabalho de uma criança. Há uma série de jogos e atividades cotidianas que podem criar
memória de trabalho sem que as crianças sequer saibam disso.

Para ajudar a aumentar a atenção da criança, procure material de leitura interessante ou


motivador. Por exemplo, algumas crianças podem gostar de revistinhas em quadrinho
da turma da Mônica. Incentive a criança a parar e reler quando algo não estiver claro. E
demonstre como você “pensa em voz alta” quando lê para garantir que o que está lendo
faz sentido.

Mais maneiras de ajudar na compreensão da leitura

Quando as crianças têm dificuldades com uma ou mais dessas habilidades, podem ter
problemas para entender completamente o que leem. Descubra como saber se a criança
tem dificuldade em entender a leitura.

Aprenda sobre o que pode causar problemas com a leitura em crianças. Lembre-se de
que ter dificuldades de leitura não significa que uma criança não seja inteligente. Mas
algumas crianças precisam de apoio e incentivo extras para progredir.

Por Pollyanna Barros Batista|8 de novembro de 2019|


Atenção, Audição, Cognição, Dislexia, Fonoaudiologia Educacional, Funções
Executivas, Leitura, Linguagem, memória|0 Comentários
As Habilidades de Leitura: Muito Além de Uma Simples
Decodificação.
Autora: Mônica Garcia Barros

RESUMO

A leitura é uma das habilidades mais importantes e fundamentais que podem ser
desenvolvidas pelo ser humano. É a partir da leitura de mundo que o aluno pode
compreender a realidade em que ele está inserido e chegar a importantes
conclusões sobre o seu mundo e os aspectos que o compõem. A habilidade de
leitura é essencial e dá suporte para o estudo de outras áreas do conhecimento. Ao
estudar matemática, a criança terá que realizar a leitura de sinais, de números
existentes em uma determinada situação, bem como a leitura dos enunciados das
questões propostas nas atividades. Já em história, ela irá se encontrar com um
universo de palavras que caracterizam uma época, um acontecimento. Sendo capaz
de realizar uma leitura proficiente desse contexto, ela não só compreenderá o
passado, como também poderá estabelecer paralelos sobre a época estudada e a
realidade atual. As habilidades de leitura vão muito além de uma simples
decodificação, na verdade, vão além da própria compreensão do que foi lido. Mas
quais são os conhecimentos e habilidades de leitura que o aluno deve ter? A
habilidade que se deve ter de leitura não é somente traduzir sílabas ou palavras
(signos lingüísticos), em sons, isoladamente (a decodificação). É sobre as
habilidades de leitura e as etapas de leitura que abordaremos neste trabalho.

Palavras-chave: Habilidades de Leitura. Etapas de Leitura. Leitura no Livro Didático.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo abordar aspectos que fazem parte do
desenvolvimento das habilidades de leitura dos alunos, em especial, do 2º ciclo do
ensino fundamental em que os alunos ainda estão num processo de alfabetização.
Habilidades que possibilitam o aluno compreender não só as tarefas em língua
portuguesa, e sim, outras disciplinas. Na verdade, o aluno compreende não apenas
o contexto escolar, mas o contexto de sua própria vida e do mundo
contemporâneo.

A leitura é uma das habilidades mais importantes e fundamentais que podem ser
desenvolvidas pelo ser humano.
É a partir da leitura de mundo que o aluno pode compreender a realidade em que
ela está inserida e chegar a importantes conclusões sobre o seu mundo e os
aspectos que o compõem.

A habilidade de leitura é essencial e dá suporte para o estudo de outras áreas do


conhecimento. Ao estudar matemática, a criança terá que realizar a leitura de
sinais, de números existentes em uma determinada situação, bem como a leitura
dos enunciados das questões propostas nas atividades. Já em história, ela irá se
encontrar com um universo de palavras que caracterizam uma época, um
acontecimento. Sendo capaz de realizar uma leitura proficiente desse contexto, ela
não só compreenderá o passado, como também poderá estabelecer paralelos sobre
a época estudada e a realidade atual.

As habilidades de leitura vão muito além de uma simples decodificação, na


verdade, vão além da própria compreensão do que foi lido.

Mas quais são os conhecimentos e habilidades de leitura que o aluno deve ter?

A habilidade que se deve ter de leitura não é somente traduzir sílabas ou palavras
(signos lingüísticos), em sons, isoladamente (a decodificação), é muito mais que
isso, a boa leitura deve passar pelas seguintes etapas:

1º - Decodificar;

2º - Compreender;

3º - Interpretar, e

4º - Reter.

A LEITURA EM QUESTÃO SEGUNDO PESQUISADORES

Para Dansereau , “a leitura como processo é constituída pelo conhecimento de


símbolos gráficos (escritos ou impressos) que servem para estimular significados da
experiência passada do leitor”.

Para Lionel Bellenger , “ler é ser um pouco clandestino, é abolir o mundo exterior,
deportar-se para uma ficção, abrir o parêntese do imaginário”.

Para o pedagogo e matemático Gaston Milaret , “ler é ser capaz de transformar


uma mensagem escrita numa mensagem sonora segundo certas leis precisas. É
compreender o conteúdo da mensagem escrita, é ser capaz de julgá-lo e de
apreciar seu valor”.

Para Ezequiel Theodoro da Silva3, “ler é, antes de tudo, compreender”.

Para Magda Becker Soares, “leitura não é (...) ato solitário; é interação verbal entre
indivíduos e indivíduos socialmente determinados”.

A autora diz também que a leitura:

(...) do ponto de vista da dimensão individual de letramento (a leitura como uma


‘tecnologia’), é um conjunto de habilidades lingüísticas e psicológicas, que se
estendem desde a habilidade de decodificar palavras escritas até a capacidade de
compreender textos escritos. (...) refletir sobre o significado do que foi lido, tirando
conclusões e fazendo julgamentos sobre o conteúdo. (SOARES, 2002, pp. 68-69)

Ler para Borel-Masonny (1949), “significa, estando-se diante de um signo escrito,


encontrar a sua sonorização.” (1960), “ler oralmente significa, diante de um signo
escrito, encontrar sua sonorização portadora de sentido”.

Já para Foucambert,

(...) Ler é funcionar como uma agulha de um toca-disco que transforma vibrações
de um certo tipo em sinais de um outro tipo.

(...) A leitura é um equilíbrio entre o processo de identificação de palavras que não


pudemos prever com precisão – e que, por isso, informam – e o processo de
verificação da antecipação de palavras que pudemos prever – e que, portanto,
informam menos.

(...) Não existe leitura se não existir uma expectativa, uma pergunta, uma questão,
antes da interação com o texto.

(...) Ler é ser questionado pelo mundo e por nós mesmos, é saber que certas
respostas podem ser encontradas no escrito; é poder ter acesso a esse escrito; é
construir uma resposta que integre uma parte das informações novas e tudo o que
já sabemos.

(...) Ler é verificar a exatidão de uma antecipação. (apud BARBOSA, 1990, p.90)

A leitura é um processo no qual “o leitor é um sujeito ativo que

processa o texto e lhe proporciona seus conhecimentos, experiências e esquemas


prévios.” (SOLÉ, 1998, p. 18)

AS ETAPAS DE LEITURA

“No processo de leitura, ocorrem, pelo menos, quatro etapas, segundo uma visão
psicolingüística: decodificação, compreensão, interpretação e retenção”. (Cabral,
1986).

A decodificação

O aluno primeiramente decodifica os símbolos escritos. É uma leitura superficial


que, apesar de incompleta, é essencial fazê-la mais de uma vez num mesmo texto.
É o momento em que o aluno deve anotar as palavras desconhecidas para achar
um sinônimo, passo importante para passar para a próxima etapa de leitura, a
compreensão do que foi lido.

Segundo Menegassi (1995, p. 87)

Na decodificação, há a ligação entre o reconhecimento do material lingüístico com


o significado que ele fornece. No entanto, ‘muitas vezes a decodificação não
ultrapassa um nível primário de simples identificação visual’, pois se relaciona a
uma decodificação fonológica, mas não atinge o nível do significado pretendido

Segundo Angela Kleiman (1993 apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002, p. 82), "as
práticas de leitura como decodificação não modificam em nada a visão de mundo
do leitor, pois se trata apenas de automatismos de identificação e pareamento das
palavras do texto com as palavras idênticas em uma pergunta ou comentário”.

A compreensão

Após passar pela etapa da decodificação, o aluno deve captar o sentido do texto
lido. Deve saber do que se trata o texto, qual a tipologia usada, compreender o que
o autor pretendeu passar e ser capaz de resumir em duas ou três frases a essência
do texto.

Nas questões referentes à essa etapa, as respostas podem ser encontradas


literalmente no próprio texto, ou escritas de outra forma, porém estão explícitas no
texto.

Para Leffa (apud MENEGASSI; CALCIOLARI, 2002, p. 85), “ler é interagir com o
texto, considerando-se o papel do leitor, o papel do texto e a interação entre leitor
e texto”.

A respeito disso, Menegassi; Calciolari (2002) complementa que “nesse caso, a


compreensão só ocorre se houver afinidade entre o leitor e o texto; se houver uma
intenção de ler, a fim de atingir um determinado objetivo.”

A interpretação

Na terceira etapa da leitura, o aluno deve interpretar uma seqüência de idéias ou


acontecimentos que estão implícitas no texto.

O aluno não encontrará facilmente as respostas no texto se não o compreendeu,


pois apenas com uma boa compreensão o aluno conseguirá interpretar sentidos do
texto que não estão escritos literalmente.

O educador e escritor Rubem Alves nos diz que:

Na vida estamos envolvidos o tempo todo em interpretar. Um amigo diz uma coisa
que a gente não entende. A gente diz logo: "O que é que você quer dizer com
isso?". Aí ele diz de uma outra forma, e a gente entende. E a interpretação, todo
mundo sabe disso, é aquilo que se deve fazer com os textos que se lê. Para que
sejam compreendidos. Razão por que os materiais escolares estão cheios de testes
de compreensão. Interpretar é compreender. (ALVES, 2004)

Quando o professor lê um texto com os alunos e faz a seguinte pergunta: “o que o


autor quis dizer com isso?”, está fazendo o início de uma interpretação, porém o
aluno terá primeiro que conhecer o texto e compreendê-lo, assim terá condições
suficientes para fazer uma boa interpretação.

A retenção

Nessa última etapa, o aluno deve ser capaz de reter as informações trabalhadas
nas etapas anteriores e aplicá-las: fazendo analogias, comparações, reconhecendo
o sentido de linguagens figuradas ou subtendidas, e o principal, aplicar em outros
contextos refletindo sobre a importância do que foi lido fazendo um paralelo com
seu cotidiano, aprendendo com isso, a fazer suas próprias análises críticas.

A última etapa no processo de leitura (...) é a retenção, que diz respeito ao


armazenamento das informações mais importantes na memória de longo prazo.
Essa etapa pode concretizar-se em dois níveis: após a compreensão do texto, com
o armazenamento da sua temática e de seus tópicos principais; ou após a
interpretação, em um nível mais elaborado. (MENEGASSI, apud MENEGASSI;
CALCIOLARI, 2002 p. 83)

Apesar de toda essa preocupação com as habilidades de leitura, na escola, ela deve
ser uma aprendizagem e não uma técnica resultante de uma mecanização ou
receita a ser seguida. Deve ser uma ação do aluno refletindo, levantando hipóteses
e se interando sobre o objeto de conhecimento. Certos “tabus” instituídos pelo
poder dominante do professor, que define leituras como próprias ou impróprias,
devem ser extintos da sala de aula. E para que esses “tabus” sejam extintos é
preciso lembrar que:

um primeiro princípio para a construção de uma nova pedagogia da leitura diz


respeito ao conhecimento, pelo professor, das circunstâncias de vida dos alunos e à
recuperação, como ponto de partida, das suas experiências vividas. (SILVA, 1998,
p. 26)

O que o professor deve fazer é conhecer seus alunos no que diz respeito ao seu
estilo de vida, culturas e ideologias; e tomar como ponto de partida as várias
experiências vividas pelos alunos. Essa é a base de uma preparação da
aprendizagem de leitura, não esquecendo de valorizar as opiniões e gostos desses
alunos.

A maneira como a escola conduz o aluno à leitura, através do bê-a-bá, pode


acarretar sérios problemas para a formação do leitor. O reconhecimento das
famílias silábicas, como das letras, faz parte do processo de decifração e não da
leitura, como comumente se pensa. (VILAR, 2001)

A leitura, na escola, não serve para aprender a ler, e sim, para aprender outras
coisas, serve para treinar a pronúncia dos alunos na língua materna e para ensinar
gramática; tornando-se uma atividade secundária com apenas alguns poucos
minutos de dedicação.

Tem como objetivo sanar os problemas de escrita, considerados mais importantes,


possuindo a concepção de que "a melhor coisa que a escola poderia oferecer aos
alunos é a leitura (...) se um aluno não se sair bem nas outras atividades, mas for
um bom leitor, a escola já cumpriu grande parte de sua tarefa". (CAGLIARI, 1996)

Alunos e professores estão acostumados a usarem a leitura para vários fins, menos
para o que, realmente, ela serve.

Os alunos lêem para depois “copiar” o que uma personagem disse, ou o que o autor
disse; lêem para procurar “erros” de ortografia ou para observar no texto o que
eles aprenderam nas aulas de gramática, ou lêem para responder à uma chamada
oral do professor, para poder provar que leu o que ele pediu.

Mas esse não é o objetivo dos livros, a leitura serve para formar leitores pensantes
e críticos que saibam resolver problemas novos e jamais vividos. Não basta copiar o
que o autor disse, tem que formular suas próprias idéias para defender ou criticar o
autor, ou aplicar o novo conhecimento ao seu cotidiano.

DESENVOLVENDO AS HABILIDADES DE LEITURA NOS ALUNOS


O aluno somente terá habilidades de leitura se tiver primeiramente o hábito de ler.
Mas, como fazer com que nossos alunos tenham gosto pela leitura?

O gosto pela leitura nem sempre surge do nada. Apesar de algumas crianças terem
o gosto pela leitura sem ser imposto pelo professor, elas são a minoria, e já foi
comprovado que depende da influência dos pais.

O professor, depois dos pais, tem o papel principal e mais importante no


desenvolvimento de hábitos e habilidades de leitura dos alunos, porém, não deve
ser autoritário a ponto de escolher sozinho o que seus alunos devem ou não ler. O
professor deve levar em conta as diversidades dentro da sala de aula e valorizar os
gostos e opiniões formadas pelos alunos.

Mas, ler e escrever é um compromisso só do professor de língua portuguesa ou


também dos professores das outras áreas do conhecimento?

Esse é um ponto em que se deve insistir muito hoje, a tendência é julgar que cabe
ao professor de Português ensinar a desenvolver habilidades de leitura e de escrita.
Freqüentemente, professores das outras disciplinas se queixam com o professor de
Português de que os seus alunos não estão sabendo compreender o problema de
Matemática, o texto de História, o texto de Ciências. Na verdade, essa
competência, essa responsabilidade não é só do professor de Português, nem o
professor de Português é inteiramente competente para desenvolver habilidades de
leitura de um problema de Matemática, por exemplo. Porque tem uma terminologia
específica, tem uma forma específica de se apresentar, como o livro de Ciências,
como o livro de Geografia. Não é o professor de Português quem vai ensinar um
aluno a ler um mapa, nem quem vai ensinar a ler um gráfico. Isso são atribuições
específicas dos professores que trabalham com essas formas de escrita. Então,
cabe a eles desenvolver essas habilidades de leitura e de escrita também. Escrever
um texto de História, ou de Ciências, não é a mesma coisa que escrever uma
crônica, se o professor de Português pede uma crônica. São gêneros diferentes,
cada área de conteúdo tem um tipo específico de texto que cabe ao professor dessa
área ensinar o aluno a escrever ou a ler. Mas, essa é uma questão que tem sido
difícil, porque os professores de outras áreas que não Português não têm recebido
formação na área de leitura, isso seria necessário, introduzir na formação desses
professores alguma disciplina, enfim, alguma formação na área de leitura e
produção de texto para que eles pudessem trabalhar com isso. (SOARES, 2002).

Para despertar o gosto pela leitura nos alunos, eles devem ter a autonomia de
escolher o que quer ler, o que na maioria das vezes são livros de literatura infanto-
juvenis.

A IMPORTÂNCIA DOS PAIS NO INCENTIVO A LEITURA

Não podemos colocar a responsabilidade de incentivo à leitura somente a cargo dos


professores, os pais possuem um papel muito importante nesse processo.

Os pais devem incentivar a leitura de seus filhos antes mesmo deles iniciarem a
vida escolar, reservando alguns minutos do dia para ler livros infantis para eles.
Quando estiverem alfabetizados, esses minutos devem continuar, porém, são eles
que vão ler os livros que podem ser até os mesmos inicialmente para que
comparem o que eles ouviam com o que eles estão lendo.

Os pais devem evitar expressões como "Está errado!" ou "Está lendo mal!", deve-se
utilizar expressões como "Agora vamos ler juntos..." e apontar para as palavras à
medida que, lentamente, as lê.
Deve-se aumentar a auto-estima da criança elogiando todos os progressos, até os
aparentemente mais insignificantes.

É importante variar os gêneros, propondo leituras de livros infanto-juvenis,


matérias de jornal, revistas infantis, textos informativos, receitas, manuais etc.

Falar sobre o livro que a criança vai ler é interessante, pois agusta a curiosidade da
criança em saber como a história vai acabar. Ao final da leitura é fundamental
discutir sobre o que ela leu solicitando que ela faça um paralelo com algum
exemplo real do cotidiano.

Visitas regulares à bibliotecas podem ser divertidas, pois a criança aprende a


escolher e localizar o livro que lhe agrada, podem visitar cessões especiais para
crianças com vídeos e brinquedos e também pesquisar algum assunto para
trabalhos escolares.

Mas todo esse processo não deve ser forçado, deve haver um interesse por parte
da criança, para que esse processo seja prazeroso e não obrigatório.

A LEITURA E O LIVRO DIDÁTICO

Segundo pesquisa realizada por Zanini (1998), em pleno regime militar, década de
70, foi criada uma nova Lei (Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 5692/71).
Essa década é considerada, na área da educação, como a “década dos modelos”.

A LDB, em sua concepção de linguagem, previa um aluno capaz de aprender um


novo conceito ou saber por meio de repetições, prática de exercícios que o levasse
à respostas seguindo o modelo.

Nesse sentido os professores ganharam um grande aliado: o “livro didático”, pois


traziam exercícios já elaborados, pronto para serem realizados pelos alunos, no
próprio livro (o chamado consumível). E o mais interessante era que o professor
ganhava o livro que continha as respostas dos exercícios realizados pelos alunos (o
chamado “livro do professor”). Esse era o lado bom desse vínculo entre professor-
livro didático.

Por outro lado, o professor, ao se encontrar numa relação de dependência ou


acomodação, não foi além do que continha o livro didático, sem menos ainda
contestá-lo se era eficaz ou suficiente para um bom ensino, principalmente de
leitura e interpretação.

Isso tudo fez com que o aluno se tornasse reprodutor de modelos dos quais eram
principalmente de livros didáticos e cada vez menos de seus professores. Fato que
fez com que os professores perdessem campo para os livros didáticos “(...) uma
vez que as suas aulas já vinham preparadas, dentro de uma realidade que nem
sempre era a de seus alunos, e a sua obrigação era ‘cumprir’ um programa pré-
estabelecido(...)” (ZANINI, 1999, p. 81).

AS ETAPAS DE LEITURA NUM LIVRO DIDÁTICO

A seguir analisaremos um livro didático de língua portuguesa da 5ª série do ensino


fundamental utilizado em uma escola estadual no ano de 2003 no município de
Maringá.

figura 1. Livro do qual, um dos textos, analisaremos a seguir.


Esse livro, composto de 4 unidades de 2 capítulos cada, leva o título de: Português:
Leitura, Produção, Gramática. Leila Lauar Sarmento. 5ª série, São Paulo: Ed.
Moderna, 2002.

Cada capítulo é composto por três textos para leitura (primeira, segunda e terceira
leitura), após cada leitura há quatro tipos de atividades sobre o texto lido (relendo
o texto, conversando sobre o texto, explorando o texto e interagindo com o texto).

Os títulos dessas atividades, parecem ter relação com as etapas de leitura:

- Relendo o texto = decodificação

- Conversando sobre o texto = compreensão

- Extrapolando o texto = interpretação

- Interagindo com o texto = retenção

A seguir analisaremos se a relação feita anteriormente faz sentido e se as questões


propostas nas atividades seguem uma ordem de raciocínio no que diz respeito às
etapas de leitura.

Análise do texto

“O Sapo e o Boi” – Fábulas de Esopo – tradução: Heloísa Jahn, São Paulo: Ed.
Companhia das letrinhas, 1994.

- Relendo o texto

1) O sapo e o boi é uma narrativa, pois apresenta uma história, situada num tempo
e espaço, personagens e narrador. O texto apresenta narrador em 3ª pessoa. Ele
não é personagem. O tempo e o espaço são indefinidos. Identifique a história e as
personagens.

Essa questão não exige do aluno uma compreensão, nem interpretação, e muito
menos, uma retenção do que foi lido, o aluno apenas precisa exercitar seu
conhecimento de produção textual, pois o texto foi usado, nesta questão, como
pretexto para verificação de gênero literário.
2) O que despertou o sentimento de inveja no sapo e por quê?

Já essa questão propõe ao aluno uma compreensão do que leu, podendo a resposta
ser tirada do próprio texto. Como já vimos, essa é a segunda etapa de leitura pela
qual o aluno deve passar.

3) Você acha que o sapo se tornaria igual ao boi, se ele ficasse grande? Por quê?

Essa questão já exige do aluno um pouco mais de atenção, é uma questão de


interpretação (o que está implícito no texto), terceira etapa de leitura.

4) Apesar das advertências dos amigos, o sapo continuou a se estufar. Diante


dessa atitude, como podemos caracterizá-lo?

Apesar dessa questão parecer do tipo retenção, ela, na verdade é uma


interpretação, pois a resposta será baseada na última linha do texto que é a moral
da história.

5) Que mensagens nos passa a moral do texto? “Seja sempre você mesmo.”

Essa também é uma questão de interpretação, apesar de também parecer com


uma questão de retenção. A mensagem que a moral do texto passa é baseada na
interpretação da própria moral. Essa questão permite respostas pessoais, porém
dentro do sentido que o texto deixou, caso contrário será considerada incorreta, ou
pelo professor, ou pelo autor do texto.

- Conversando sobre o texto

1) Que tipo de pessoas o boi e o sapo representam nessa fábula? O que você pensa
sobre elas?

Pessoalmente não diria que esta questão é totalmente de retenção, eu diria que é
uma questão de transição entre a interpretação do sentido proposto e a retenção
numa opinião pessoal do aluno.

2) Na sua opinião, para que o sapo se tornasse elegante, era necessário que se
transformasse em boi? Por quê?

Essa questão, como a anterior, ainda não está na etapa de retenção, pois o aluno
ainda tem que interpretar uma possibilidade de acontecimento no texto, o aluno
não está trazendo o sentido do texto para seu cotidiano, mesmo que a questão seja
de opinião.

- Extrapolando o texto

1) O que você pensa sobre as pessoas que vivem insatisfeitas consigo mesmas? O
que lhes diria?

Após bastante compreensão e Interpretação, aparece uma questão de retenção, na


qual o aluno poderá colocar suas idéias a respeito de um assunto que, embora
esteja relacionada com o assunto do texto, a opinião do aluno é sobre o cotidiano
comum das pessoas.

2) Você está feliz com sua aparência e seu jeito de ser? Esclareça sua resposta.
3) Se você pudesse ser outra pessoa, quem você gostaria de ser? Por quê?

São ambas questões de retenção, e agora de opiniões bem pessoais

- Interagindo com o texto

Essa atividade não está relacionada com as habilidades e etapas de leitura, suas
questões são de prática de gramática e figuras de linguagens.

Esse texto que acabamos de analisar, possui atividades que estão dentro da ordem
das etapas de leitura. Apesar de termos analisado as atividades de apenas um
texto do livro, o fato da distribuição das atividades dos textos serem padronizadas,
podemos tirar hipóteses de que o livro didático está de acordo com as etapas de
leitura, possibilitando ao aluno uma possível habilidade de leitura sem muitas
dificuldades ao resolver as questões propostas.

Colocamos anexo o texto analisado com suas respectivas atividades.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir com este trabalho que para que o aluno chegue à habilidade de
criticar (retenção) sem grandes dificuldades, ele deve passar pelas habilidades de
leitura sucessivamente, sem mudar essa ordem, pois para uma compreensão o
aluno deve, obviamente passar pela etapa de decodificação – se não ler o texto não
vai conseguir compreendê-lo. Por sua vez, o aluno poderá interpretar um texto
facilmente, se ele o compreendeu. Conseqüentemente o aluno só conseguirá
criticar (reter) o sentido que o texto pretendeu passar, fazendo paralelos com seu
cotidiano, e colocando sua opinião como uma análise crítica sobre o assunto, se ele
compreendeu e interpretou o texto em questão.

Concluímos também que todo esse processo a ser seguido numa leitura é o que faz
a diferença no ensino de leitura na sala de aula. É a partir daí que o aluno começa a
ter um bom hábito de leitura e conseqüentemente uma boa produção textual.

Concluímos, por fim, que ler é mais do que uma simples decodificação, é muito
mais que a própria compreensão; é saber ler, compreender o que foi lido,
interpretar o sentido do que foi lido e criticar (reter) essas informações de maneira
que possa transferi-la para seu cotidiano, fazendo análises críticas e dando opiniões
pessoais traçando paralelos entre o que aprendeu com a leitura com sua vida.

Este é o verdadeiro hábito de ler!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura. São Paulo: Ed. Cortez, 1990.

CABRAL, L. S. Processos psicolingüísticos de leitura e a criança. Porto Alegre: Letras


de Hoje, v. 19, n. 1, pp. 7-20, 1986.

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MENEGASSI, Renilson José; CALCIOLARI, Angela Cristina. A leitura no vestibular: a


primazia da compreensão legitimada na prova de Língua Portuguesa. Maringá: UEM
– Acta Scientiarum, v. 24, n. 1, pp. 81-90, 2002.
MENEGASSI, Renilson José. Compreensão e interpretação no processo de leitura:
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PALO, Maria José; OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil: voz de criança. 3.
ed., 2. impressão, São Paulo: Ed. Ática, 2001.

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SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed., 5.


reimpressão, Belo Horizonte: Ed. Autêntica, 2002.

SOLÉ, I. Estratégias de leitura. 6. ed., Porto Alegre: Ed. Artmed, 1998.

ZANINI, Marilurdes. Uma nova visão panorâmica da teoria e da prática do ensino de


língua materna. Maringá: UEM – Acta Scientiarum v. 21 n. 1, pp. 79-88, 1999.

ANEXO A

Texto analisado “O Sapo e o Boi”


ANEXO B

Atividades analisadas referente ao texto anterior

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