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TALITA PAZETO

THIAGO CASTRO

COMO ENSINAR A
CRIANÇA A LER E
A ESCREVER?
Guia da Alfabetização

2024
1

Olá queridos leitores,

Sou a professora Talita Pazeto, e é com grande entusiasmo que apresento


este material dedicado a proporcionar a vocês informações essenciais,
respaldadas por bases científicas, sobre as habilidades cruciais que uma
criança necessita desenvolver para se tornar uma leitora e escritora eficaz.

Iniciaremos nossa jornada explorando as bases da alfabetização,


discutindo a importância da oralidade e, mais especificamente, das
habilidades fonológicas, que desempenham um papel fundamental nesse
processo. Apresentarei as idades em que se espera que a criança alcance
determinados marcos e o que ela deve compreender em cada etapa.

O conteúdo aqui fornecido visa auxiliar não apenas você que tem ou
trabalha com crianças típicas, mas também aqueles envolvidos no
desenvolvimento de crianças atípicas. Este material tem como objetivo
prepará-los para entender, de maneira simples e direta, o universo da
alfabetização. Uma produção elaborada por uma mãe atípica e apaixonada
em dar aula.

Com formação em Pedagogia, Psicopedagogia, mestrado e doutorado em


distúrbios do desenvolvimento, sou também mãe de duas crianças incríveis
que, através de suas experiências, me mostraram que as complexidades da
teoria nem sempre se traduzem de forma simples na prática. Ben, meu filho
mais velho, é autista, e Amélie, minha filha mais nova tem altas habilidades,
tornando nosso dia a dia bem interessante e desafiador.

Como professora universitária há mais de uma década, minha pesquisa se


concentra em identificar os fatores que impactam na alfabetização e como
podemos estimular essas habilidades no dia a dia de forma simples,
acessível e eficaz, na sala de aula, na clínica e em casa.

Convido cada um de vocês a embarcar nesta jornada comigo. Este material


não é apenas um guia, mas uma oportunidade de compreendermos juntos
a importância do conhecimento na alfabetização.

Vamos juntos?

Com carinho,

Talita Pazeto

(I Coríntios 10:31)
2

SUMÁRIO

Habilidades Preditoras de Alfabetizaçã

Leitura e escrit

O que a criança deve saber em cada idad

Como alfabetizar na prátic

Considerações Finai

Referência

Bônus: modelo de alfabeto

SUMÁR
1
3

HABILIDADES PREDITORAS DE ALFABETIZAÇÃO

As habilidades preditoras desempenham um papel crucial ao preparar e


influenciar a criança para o processo de aprendizagem da leitura e escrita.
Imagine essas habilidades como os alicerces fundamentais que precisamos
construir antes de aprender habilidades mais complexas, como se fosse
criar a estrutura da casa bem forte antes de colocar o telhado (NATIONAL
READING PANEL, 2000; CAPOVILLA; DIAS; MONTIEL, 2007; EHRI, 2013;
BRASIL, 2019; PAZETO; SEABRA, 2019; BRASIL, 2020).

É fundamental que essas habilidades sejam estimuladas antes do início


formal da alfabetização, pois elas constituem os fundamentos essenciais
para garantir a eficácia do aprendizado posterior dessas habilidades
(BRASIL, 2019; PAZETO; SEABRA, 2019; BRASIL, 2020).

Na literatura especializada, as habilidades preditoras são frequentemente


referidas como fundamentais, fundantes e como parte integrante da
literacia emergente. Essa última categoria engloba todas as experiências,
comportamentos, valores e atitudes relacionados ao universo da linguagem
escrita que uma criança vivencia no dia a dia antes de iniciar a
alfabetização formal, com suas famílias nos mais diversos ambientes e
oportunidades. Desde quando você lê uma história para a criança até
quando mostra um anúncio e diz o que está escrito nele (BRASIL, 2019;
PAZETO; SEABRA, 2019; BRASIL, 2020).

Mas voltando a alegoria da nossa casa, imaginem a Linguagem Oral como


as paredes dessa casa, como o centro desse processo, que permite que
cada um de nós se comunique e partilhe pensamentos e sentimentos por
meio da fala. Pense nas interações diárias, nas conversas durante as
refeições, nos diálogos enquanto brincamos juntos. Isso tudo é linguagem
oral em ação, permitindo a comunicação e preparando o terreno para a
leitura e escrita (BRASIL, 2019; PAZETO; SEABRA, 2019; BRASIL, 2020).

Temos algumas habilidades que são preditoras e influenciam a


alfabetização, e a Linguagem oral é uma delas. Nossa discussão começa
por ela, pois é uma habilidade que se desenvolve no começo da primeira
infância, de forma natural, bastando que a criança esteja inserida em um
ambiente onde...
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pessoas falam e que ela tenha o modelo. Porém essa oralidade tem
algumas características essenciais que precisamos compreender para
então saber como estimular (BRASIL, 2019; PAZETO; SEABRA, 2019;
BRASIL, 2020).

Separei para vocês 6 características fundamentais da linguagem oral. A


primeira é que ela permite que pessoas que compartilham da mesma língua
se comuniquem, por exemplo, nós falantes do português aqui do Brasil
conseguimos conversar com pessoas ao longo de todo nosso país. Terão
palavras que não conhecemos ou que não fazem parte do nosso dia a dia,
mas em geral nossa comunicação será boa (STERNBERG, 2008; BRASIL,
2019; BRASIL, 2020).

A segunda característica é que a linguagem é arbitrariamente simbólica,


pense em como a palavra "sol" representa uma imensa bola de fogo no céu,
e como cada palavra que escutamos automaticamente vamos criando uma
imagem mental dela. A terceira é que nossa linguagem é estruturada,
seguindo regras gramaticais que todos nós internalizamos sem perceber,
como por exemplo, levar as pessoas a falarem de forma correta mesmo
sem ter estudado sobre isso: “os meninos comeu pães”, “eu de gosto
comer abacate”. Mesmo sem saber qual é a regra ortográfica que rege essa
relação a pessoa sabe que não é assim que falamos e que devemos
organizar essas palavras de outra forma (STERNBERG, 2008; BRASIL, 2019;
BRASIL, 2020).

Além disso a linguagem é gerativa, permitindo que as crianças criem


histórias, inventem palavras e expressem sua criatividade de maneira
única. Considere, por exemplo, as histórias imaginativas que as crianças
contam sobre seus brinquedos favoritos. As possibilidades de juntarmos as
palavras em novos discursos é infinita (STERNBERG, 2008; BRASIL, 2019;
BRASIL, 2020).

E por fim, a dinamicidade da linguagem oral é evidente na evolução


constante das palavras e expressões. Pense em como novos termos
entram em nosso vocabulário à medida que a tecnologia avança - a forma
como as crianças discutem dispositivos eletrônicos e aplicativos, por
exemplo, com palavras que não faziam parte do nosso dia a dia há poucos
anos ou décadas, quem dirá de nossos pais e avós (STERNBERG, 2008;
BRASIL, 2019; BRASIL, 2020).
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Apesar de todas essas características fundamentais da nossa oralidade um


elemento é essencial e fundamental, as palavras. Pois é por meio da
expressão e da compreensão de palavras que a comunicação existe,
quando falamos e quando escutamos. Considere o vocabulário
compreensivo e expressivo como ferramentas básicas para entender e
expressar pensamentos. Pense nas situações diárias em que as crianças
compreendem e usam palavras, ao seguir instruções, ao descrever suas
experiências, ao pedir algo que querem, ao compartilhar onde estão com
dor e/ou ao participar de conversas informais (STERNBERG, 2008; BRASIL,
2019; BRASIL, 2020).

Ao destacar esses aspectos no nosso dia a dia, buscamos evidenciar a


aplicação prática das habilidades preditoras. Essas não são apenas teorias
abstratas, mas conceitos importantes que fazem parte das interações
diárias, das brincadeiras e das conversas que permeiam o ambiente das
crianças. Essa é a base sólida que queremos construir, e a compreensão
desses elementos proporciona uma percepção valiosa para pais,
professores e terapeutas na promoção de um ambiente alfabetizador
desde os primeiros passos, preparando essa criança para subir cada
degrau do grande processo da alfabetização. E mesmo que pareçam
percepções simples, pode acreditar, elas fazem a diferença em preparar
cada criança para ser alfabetizada (STERNBERG, 2008; BRASIL, 2019;
PAZETO; SEABRA, 2019; BRASIL, 2020).

Além de explorarmos o vocabulário compreensivo e expressivo como


habilidades preditoras, temos também a memória fonológica, um
componente fundamental no processo de alfabetização, que em termos
simples é a nossa capacidade de repetir sons, sejam eles palavras
familiares ou até mesmo aquelas que ainda não conhecemos plenamente
(TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).

Considere as atividades diárias onde essa habilidade se destaca. Ao


ensinar uma nova palavra a uma criança, percebemos como a memória
fonológica entra em ação. Repetimos a palavra, encorajando a criança a
imitar o som. Isso não apenas amplia o vocabulário, mas também fortalece
a capacidade de reprodução de sons, uma habilidade que terá um impacto
significativo nas fases subsequentes de leitura e escrita (TREVISAN et al.,
2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).
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A discriminação fonológica, por sua vez, é outra habilidade que faz parte
dessa base e permite que diferenciemos palavras que compartilham sons
semelhantes, como "dente" e "pente", "vaca" e "faca". Observe como, no
dia a dia, as crianças são expostas a esses desafios linguísticos. Ao
brincarem com rimas, ao explorarem jogos de palavras, estão, de maneira
inconsciente inicialmente, a criança refina sua capacidade de discernir
entre sons sutis que formam as bases da consciência fonológica e que é
uma das habilidades preditoras que mais merece atenção pelo seu impacto
para o aprendizado da leitura e da escrita, sendo uma das principais
habilidades preditoras (TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL,
2019).

A consciência fonológica é nossa habilidade de perceber e manipular os


sons da fala, compreendendo que a linguagem pode ser desmembrada em
partes menores. Essas partes podem então ser combinadas e
recombinadas de diversas maneiras, gerando novas palavras. Ao
explorarmos essa habilidade, podemos reduzir nossas frases a palavras,
essas a sílabas e, por fim, essas sílabas em sons individuais, conhecidos
como fonemas, por exemplo, a palavra /TALITA/ é formada por três
pedaços menores /TA/-/LI/-/TA/ e esses pedaços por sons ainda menores,
como /T/-/A/-/L/-/I/-/T/-/A/ e o mesmo som que começa “TALITA” começa
“TRATOR” (TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).

Vale destacar que a consciência fonológica abrange diversas habilidades,


como a percepção de sons similares em palavras que rimam, que terminam
com o mesmo som ou sílaba final, a identificação de palavras que começam
com o mesmo som e sílaba por meio da aliteração, o entendimento da
segmentação silábica ao quebrar palavras em suas partes constituintes, e
a capacidade de manipular fonemas. Tudo isso são habilidades da
consciência fonológica e o seu treino será fundamental e impacta
diretamente quando a criança precisa ler ou escrever essas palavras,
facilitando nesse momento (TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL,
2019).

Por exemplo, ao explorar rimas, como "gato" e "rato", as crianças devem


perceber que os sons finais são iguais. O mesmo ocorre com a aliteração,
onde a repetição de sons consonantais, como em "carro colorido", destaca
a habilidade de perceber padrões sonoros, no caso no começo com o
mesmo som de /c/ e pode ser com a sílaba por exemplo, escola e estrada
(TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).
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Quando se trata de percepção e manipulação fonêmica, imagine a palavra /
mar/. Ao remover o /m/, temos /ar/. Esse tipo de atividade envolvendo a
substituição ou eliminação de fonemas promove uma maior sensibilidade
aos componentes sonoros das palavras e vai fazendo a criança perceber
que ela consegue isolar cada pedacinho menor de tudo que fala (TREVISAN
et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).

Assim, ao abordar a consciência fonológica, não apenas reconhecemos a


capacidade de perceber e manipular sons, mas também enriquecemos
essas habilidades por meio de atividades práticas, como rimas, aliterações,
segmentação silábica e manipulação fonêmica. Esses exemplos concretos
são peças fundamentais para a compreensão e o fortalecimento dessa
habilidade crucial no processo de alfabetização (TREVISAN et al., 2012;
PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).

Além de todas essas habilidades preditoras descritas anteriormente, temos


também a nomeação automática rápida e o conhecimento do alfabeto e a
percepção de sua relação com esses sons, o que também é chamado de
princípio alfabético (TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).

A nomeação automática rápida refere-se à habilidade de identificar e


nomear letras e palavras de forma instantânea. Imagine a importância
dessa habilidade quando uma criança, ao olhar para a letra "A", pode
automaticamente associá-la ao som correspondente, e assim com a sílaba
e por fim com a palavra inteira. Essa capacidade não apenas acelera o
processo de leitura, mas também sinaliza uma compreensão sólida do
princípio alfabético. Essa habilidade pode inicialmente ser treinada com a
nomeação de desenhos, depois letras, números e palavras (TREVISAN et
al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).

Perceberam que até esse momento nós quase não falamos de letras e
alfabeto ainda? Pois é, essa é uma das grandes dificuldades que as
pessoas têm, de compreender que a alfabetização começa sem letras, pelo
estímulo de todas essas habilidades que aprendemos até aqui. Mas o
alfabeto é importante e também deve ser estimulado nessa base da
alfabetização (TREVISAN et al., 2012; PAZETO, 2019; BRASIL, 2019).
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O princípio alfabético é a compreensão fundamental de que as letras


representam os sons da fala. Quando uma criança entende que cada letra
tem uma correspondência sonora específica, e que cada som das palavras
que ela fala tem uma letra que o representa ela começa a compreender o
papel do alfabeto no mundo da escrita. Essa compreensão é a base que
permite a decodificação e codificação eficiente das palavras durante a
leitura e a escrita (CARDOSO-MARTINS, 2005; SNOWLING, HULME; 2013,
DEHAENE, 2012; SARGIANI, 2022).

Relacionar as letras aos sons é uma habilidade que vai além do


reconhecimento individual de letras e abrange a conexão direta entre cada
letra e seu som específico. Ao associar o "B" ao som de /b/, por exemplo, a
criança está fortalecendo a base para a leitura fonética, onde a
decodificação das palavras ocorre de maneira mais fluida (CARDOSO-
MARTINS, 2005; SNOWLING, HULME; 2013, DEHAENE, 2012; SARGIANI,
2022).

Ensinar músicas do alfabeto, colocar cartazes com as letras e associar


cada uma ao seu som, estimular a coordenação motora, proporcionar um
ambiente que o mundo da escrita faça parte, ler com as crianças, deixar
materiais escritos disponíveis, desenhar, pintar, brincar com água, areia,
rasgar revista, recortar desenhos, recortar letrinhas, fazer pontilhado,
ensinar o nome da criança e isso é só o começo (CARDOSO-MARTINS,
2005; SNOWLING, HULME; 2013, DEHAENE, 2012; SARGIANI, 2022).

Estimulando as habilidades preditoras na educação infantil damos as bases


que cada criança precisa para desenvolver a alfabetização, elas chegarão
preparadas no primeiro ano para desenvolverem essa habilidade mais
complexa e você pode e deve auxiliar nessa preparação estimulando no dia
a dia tudo que comentamos nesse capítulo.
2 LEITURA E ESCRITA

Uma das primeiras considerações a serem abordadas no contexto da


leitura e escrita é a compreensão de que essas habilidades não se
desenvolvem de maneira inata, ou seja, sozinhas, de forma natural. Isso
implica que, simplesmente colocar a criança em um ambiente onde a
escrita e a leitura são práticas comuns não é suficiente para que ela
aprenda sozinha. É necessário que a criança seja ensinada de forma
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explícita, repetitiva e sistemática para adquirir tais habilidades (CARDOSO-


MARTINS, 2005; SNOWLING, HULME; 2013, DEHAENE, 2012; SARGIANI,
2022).

Embora termos como "repetitivo", "explícito" e "sistemático" possam evocar


uma conotação negativa, é fundamental esclarecer que esses termos se
referem à necessidade de instrução direta. O processo de ensino deve
incluir a apresentação aberta e a prática repetitiva de conceitos-chave,
como o reconhecimento das letras, a associação entre letras e sons,
seguido pelo ensino das sílabas e assim por diante, até que a criança
alcance a autonomia na leitura e escrita (CARDOSO-MARTINS, 2005;
SNOWLING, HULME; 2013, DEHAENE, 2012; SARGIANI, 2022).

De forma geral isso significa que você precisa preparar a criança e ensiná-
la, pois ela sozinha não conseguirá. Lembrando que estamos falando do
desenvolvimento típico e aqui não entram os casos de crianças com
hiperlexia por exemplo, que aprendem precocemente as habilidades de
alfabetização, tirando esses casos as demais crianças precisam ser
ensinadas (CARDOSO-MARTINS, 2005; SNOWLING, HULME; 2013,
DEHAENE, 2012; SARGIANI, 2022).

A analogia com outras habilidades, como a prática física na academia ou o


aprendizado de um novo instrumento musical, destaca a importância da
repetição no processo de aprendizagem. Para tudo que queremos aprender
e desenvolver na vida precisamos treinar e repetir, por que com as
habilidades escolares isso seria diferente? Não é, por isso quanto mais
oportunidades de aprendizado forem oferecidas à criança, melhores serão
os resultados, evidenciando a importância da repetição de forma lúdica,
variando as propostas, mas buscando retomar o mesmo conceito de
diferentes formas e estimulando pelas mais diversas vias sensoriais
(CARDOSO-MARTINS, 2005; SNOWLING, HULME; 2013, DEHAENE, 2012;
SARGIANI, 2022).
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Isso significa que quando você ensinar a letra /X/ a criança pode desenhar
a letra, recortar ela de revistas, fazer com o corpo, desenhar na tinta, na
areia, sair pela escola procurando onde tem essa letra escrita, falar
palavras que começam com esse som, juntar essa letra com as vogais e ver
qual som forma dessa sílaba. É a mesma letra, mas as formas de repetir vão
variando, então repetição não precisa ser a mesma proposta igual, mas sim
variações do mesmo conteúdo atingindo assim o maior número possível de
alunos e no seu caso que está só com a sua criança ofertando diferentes
formas de aprendizado (CARDOSO-MARTINS, 2005; SNOWLING, HULME;
2013, DEHAENE, 2012; SARGIANI, 2022).

A fase inicial da leitura e escrita, quando a criança está sendo


sistematicamente instruída no primeiro ano, tem como objetivo primordial a
decodificação e codificação. Nesse estágio, a criança se dedica a extrair as
pronúncias das palavras, relacionando as letras aos seus respectivos sons,
decodificando cada sílaba e escrevendo cada pedaço. A ênfase está na
identificação das palavras, e a compreensão plena é amadurecida a partir
do segundo ano e terceiro ano em diante (CARDOSO-MARTINS, 2005;
SNOWLING, HULME; 2013, DEHAENE, 2012; SARGIANI, 2022).

A leitura, portanto, é a capacidade de extrair a pronúncia e o significado de


uma palavra com base em seus sinais gráficos, ou seja, as letras. O objetivo
final é a compreensão, algo que se desenvolve mais profundamente com
um pouco mais de tempo. Então a leitura inicial será a capacidade da
criança de ver as letras escritas e tirar os seus sons juntando em sílabas e
essas sílabas em palavras, realizando a sua leitura e relacionando com o
seu significado (DEHAENE, 2012; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020; SARGIANI,
2022).

A escrita, por sua vez, é o processo inverso que envolve transformar os


sons da fala em representações gráficas, ou seja, letras. Além disso,
incorpora um componente motor, integrando as áreas sonora e visual,
tornando-se uma habilidade visuoconstrutiva. Porém, a escrita não se
limita apenas a corresponder sons e letras; também exige que a criança
saiba o nome da letra, seu som e seja capaz de traçá-la. A complexidade
aumenta com a presença de letras maiúsculas, minúsculas, bastão e
cursiva, representando apenas o início do processo de escrita (ZORZI,
2009).

Assim como na leitura, onde a criança é incentivada a compreender cada


palavra que lê, depois a frase, parágrafo e o texto, na escrita é esperado
que ela seja capaz de produzir, envolvendo todas essas áreas adicionais...
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citadas no trecho anterior. Só que no começo, no primeiro ano não. Não é


esperado que a criança já consiga ler e escrever com todas as
complexidades desses 2 processos em níveis de fluência e compreensão
como nós, que já somos fluentes, mas sim que ela comece a decodificar e
codificar, com palavras e pequenas frases simples (ZORZI, 2009;
DEHAENE, 2012; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020; SARGIANI, 2022).

Pensem no processo de escrita, imagine que além da escrita de uma


simples palavra isolada, o escrever inclui caligrafia, ortografia, pontuação,
estrutura gramatical, contexto e espaçamento entre palavras. Tudo isso é
necessário para que a criança consiga escrever de maneira eficaz.
Entretanto, esse nível de escrita não é atingido nos primeiros anos, mas sim
a partir do segundo e terceiro ano, quando a criança refinará esses
processos através da prática contínua de leitura e escrita (ZORZI, 2009;
DEHAENE, 2012; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020; SARGIANI, 2022).

Para que a criança alcance fluência na leitura e na escrita, é essencial


proporcionar treino e repetição. Este é um processo gradual, que se
desenvolve ao longo dos anos, principalmente a partir do terceiro ano. A
melhoria na leitura e escrita, relacionada à conquista de fluência,
velocidade e compreensão, está intrinsecamente ligada ao reconhecimento
direto de palavras. A capacidade de ler palavras inteiras automaticamente,
sem a necessidade de decodificação é um marco significativo nesse
processo (ZORZI, 2009; DEHAENE, 2012; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020;
SARGIANI, 2022).

Um erro comum é antecipar que esse processo automático ocorra


imediatamente após a alfabetização, pressionando a criança a ler e
escrever fluentemente desde o início do primeiro ano. Essa expectativa
precoce pode resultar em dificuldades, desinteresse pela leitura e escrita e,
muitas vezes, na evitação dessas atividades, afinal não é que ela não
consegue ler e escrever, mas a exigência está acima do que ela tem de
desenvolvimento naquele momento (ZORZI, 2009; DEHAENE, 2012; BRASIL,
2019; BRASIL, 2020; SARGIANI, 2022).
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A teoria de Ehri (2013, 2014 e 2020) proporciona uma análise dos estágios
de desenvolvimento da leitura e a escrita e que é simples e didático de
compreender, dividindo-os em quatro momentos distintos que você pode
utilizar para identificar a fase da sua criança, aluno ou paciente:

Fase pré-alfabética: A criança ainda não compreende que as letras


representam os sons da fala, dependendo de pistas visuais e
memorização global de um número limitado de palavras. Pode até
conseguir reconhecer algumas poucas letras e seu nome em geral, mas
ainda não entendeu o papel que as letras desempenham

Alfabética Parcial: A criança aprendeu o alfabeto e compreende que as


letras representam sons da fala, iniciando a percepção da relação entre
letras (grafemas) e fonemas (sons). Começa a entender que as letras
têm uma função, conhece seus nomes, relaciona com os sons e começa
a juntá-los em sílabas e a formar suas primeiras palavras, mas tudo
simples e bem inicial

Alfabética Completa: A criança escreve de acordo com a pronúncia


(como ela fala) e pode cometer erros fonológicos na leitura e na
ortografia na escrita, pois nem todas as palavras são lidas como estão
escritas. Já é capaz de codificar e decodificar, por exemplo, /EXÉRCITO/
que tem som de /Z/ mas é escrito com /X/, assim como /TÁXI/ que se
lermos como está escrito seria /TAXI/ e não /TAQUISSI/. Nossa língua
tem diversas questões como essas que vão sendo aprendidas e
amadurecidas com o tempo

Alfabética Consolidada: O estágio final, no qual a leitura e a escrita


tornam-se processos automáticos, permitindo que a criança
compreenda e produza textos de acordo com as regras gramaticais e
normas ortográficas da língua.

O momento específico em que a criança adquire cada uma dessas


habilidades será discutido no próximo capítulo apresentando para vocês as
idades em que eles devem ser esperados também. Porém algo que vocês...
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precisam compreender é a complexidade do aprendizado da leitura e da

escrita, pois para nós que somos alfabetizados parece algo simples de se

perceber, mas não, envolve e requer inúmeras habilidades que em conjunto

se unem para que a gente consiga ler e escrever. Na nossa Política

Nacional de Alfabetização, conhecida como PNA, eles apresentam uma

imagem que mostra o quanto ler é um processo muito mais complexo do

que parece (BRASIL, 2019 p. 29):

Observem essa imagem para sempre ter em mente que a alfabetização não

deve ser olhada exclusivamente como as habilidades de codificar e de

decodificar, de ler e de escrever isoladamente, mas sim como um conjunto

enorme de inúmeros processos e ensinos que juntos preparam a criança

para a alfabetização eficaz e que devem ser estimulados desde a educação

infantil.
3 O QUE A CRIANÇA DEVE SABER EM CADA IDADE

Uma das principais inquietações que surgem no contexto da alfabetização


é a avaliação se a criança está ou não alcançando os marcos esperados, se
ela está na idade adequada, se está adiantada ou atrasada em relação a ler
e a escrever. Porém, vale lembrar que, por se tratar de uma habilidade que
não se desenvolve de forma natural, é possível encontrar adolescentes e
adultos que ainda não dominam a alfabetização, por isso é comum falarmos
de habilidades e não apenas de idade (BRASIL, 2019; BRASIL, 2020;
SARGIANI, 2022).

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Mas sim, temos idades que são esperadas que a criança tenha
desenvolvido e aprendido certos conceitos e habilidades e descreveremos
para que vocês tenham e usem como referência, tanto em casa quanto na
escola e na clínica (BRASIL, 2019; BRASIL, 2020; SARGIANI, 2022):

Educação Infantil (Pré-alfabetização, dos 4 aos 5 anos): · Durante esse


período, é importante focar no estímulo das habilidades preditoras
discutidas no primeiro capítulo. Busque garantir que a criança deixe a
educação infantil com um sólido desenvolvimento das habilidades
fonológicas, consciência fonológica e princípio alfabético
Primeiro Ano (5 aos 6 anos): · No início do ensino fundamental, é
necessário retomar as habilidades preditoras, pois muitas crianças
ingressam em escolas diferentes nesse momento. Não podemos
esperar que elas tenham adquirido plenamente o necessário na
educação infantil. Portanto, é essencial revisitar essas habilidades antes
de avançar para o ensino mais sistemático de sílabas e palavras
regulares, com foco na decodificação e codificação
Segundo e Terceiro Ano (7 aos 9 anos): Nesse momento, concentre-se
em desenvolver fluência e velocidade, tornando os processos mais
automáticos. Espera-se que a criança avance diariamente, lendo frases,
pequenos parágrafos, textos curtos e aprimorando a ortografia e a
gramática. Ao final do terceiro ano, a leitura e a escrita devem permitir
que a criança produza e compreenda textos adequados à sua faixa
etária.
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Sargiani (2022, p.13) fornece um quadro que resume essas faixas etárias,
servindo como um guia útil que vocês podem utilizar:

Além disso, na PNA, eles também apresentam uma pirâmide dividindo o


que devemos trabalhar na base da alfabetização, desde a pré-escola e
primeiro ano do ensino fundamental até o 6 ano e ensino médio, o que
reforça o quanto as habilidades de ler e escrever vão se tornando mais
complexas e acabam por serem mais exigidas ao longo de cada ano escolar
(BRASIL, 2019 p.21):
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Se observar que uma criança está atrasada, não hesite em revisitar o

processo, reiniciar do início, do começo (sim, eu sei do pleonasmo aqui,

mas quero mesmo frisar). Independentemente da idade, o foco deve estar

nas habilidades. Inicie com as habilidades iniciais e progrida à medida que

a criança se desenvolver. Essa abordagem, embora óbvia, ressalta a

importância de consolidar as bases antes de avançar. E reforça o quanto

uma habilidade prepara para o próximo nível quando o assunto é

alfabetização (BRASIL, 2019; BRASIL, 2020; SARGIANI, 2022).

A cada ano escolar a exigência se tornará maior e mais complexa e

lembrando da nossa analogia da casa, se uma das bases não estiver

formada, estruturada e firme isso pode afetar o ler e escrever de forma

eficaz, como pode ser verificado pela imagem que também está na nossa

Política Nacional de Alfabetização que retoma tudo que deve ser

trabalhado e que faz parte do ler e escrever (BRASIL, 2019 p.33):


4 COMO ALFABETIZAR NA PRÁTICA

Vamos ver na prática como vocês podem estimular alfabetização de forma


simples, sem precisar de materiais complexos e de altas tecnologias, a
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partir de momentos do dia a dia e de estratégias que farão a diferença. As


atividades e brincadeiras prepararão a sua criança para a alfabetização e
tem como objetivo tornar esse processo mais fácil e eficiente.

Apresentaremos uma lista de propostas que vocês podem estimular


organizadas em habilidades preditoras, conhecimento alfabético,
decodificação e codificação e por fim fluência, compreensão e produção.
Se atentem ao fluxograma a seguir que chamaremos de “escadinha da
alfabetização”, nele temos o passo a passo, cada degrau que a criança
deve desenvolver antes de avançar para o próximo.

Lembre-se de que quanto mais apoio concreto, estratégias visuais e


recursos multissensoriais eu utilizar, mais facilitado será esse processo, e
isso servirá para todas as crianças, típicas e atípicas. O apoio é
fundamental e deve ser retirado aos poucos conforme a criança for te
mostrando que aprendeu e desenvolveu aquela habilidade e que está
pronta para avançar para o próximo degrau.

As adaptações, o facilitar as propostas ajuda todas as crianças e não


apenas as crianças com alterações do neurodesenvolvimento. Por isso
foque em desenvolver e criar materiais que possam auxiliar a todos, que
são direcionados para a infância e para o que as crianças precisam para
aprender, que são variedades de recursos, repetição, apoio e
direcionamento.
18

As habilidades preditoras e o princípio alfabético podem ser trabalhadas

desde a criança muito pequena, então vamos focar esse trabalho com as

crianças dos dois últimos anos da educação infantil, entre 4 e 6 anos. O

que vocês podem fazer:

Levar a criança a perceber os sons do ambiente. Fechem os olhos, o que

vocês conseguem escutar? Me falem o que estão escutando

Coloque sons de barulhos específicos para a criança identificar, por

exemplo, uma porta batendo, um papel sendo amassado, uma

campainha, um latido, entre outros. E peça para ela de olhos fechados te

falar do que é aquele som

Criança de olhos fechados coloque o som de algo escondido no

ambiente e peça para ela dizer de onde está vindo o som. Todas essas

brincadeiras para estimular a percepção sonora antes da consciência

fonológica

Ensine palavras novas para a criança, de coisas do seu dia a dia, mas

não se limite apenas ao nome, pergunte, onde compra, para que serve,

quem utiliza, de que material é feito, enriqueça a rede de significados

Faça o contrário, descreva características de itens para que a criança

identifique do que se trata, por exemplo: serve para levar as pessoas de

um lugar para outro; tem de vários tamanhos, marcas e cores; tem 4

rodas, é um carro

Estimule a percepção dos pedaços das palavras, batendo palmas, como

por exemplo, 3 palmas para /tomate/, pulando a quantidade de sílabas,

fazendo bolinhas e massinha

Recorte figuras e faça um jogo da memória das que terminam com o

mesmo som

Atividades de ligar, pintar da mesma cor, bingo, todas podem estimular

tanto os sons iniciais iguais (aliterações) quanto os sons finais iguais

(rimas).
19

Comece a ensinar a percepção do som falando a palavra bem devagar,


bem lentamente mesmo, como /sol/. Perceba que quanto mais devagar
você pronunciar mais você consegue perceber o som inicial /s/. Então
brinque com a criança, o que começa com o mesmo som de /s/, /sapo/
ou /vaca/
Faça a mesma proposta com partes do corpo, com peças de roupas,
comidas, brinquedos, com as mais diversas possibilidades do seu dia a
dia
Depois de ensinar essa percepção do som isolada, que chamamos de
consciência fonêmica, comece associar esse som a sua letra. Sabe o
som /s/ da palavra /sol/, ele é representado por essa letra que se chama
/esse/ = S. Ensine o nome da letra e o seu som
Deixe disponível na altura da criança o alfabeto nos seus quatro
formatos de letra e sempre que puder vá associando esses sons das
brincadeiras a letra correspondente. Isso já com 5-6 anos.

Essas propostas anteriores são algumas ideias que vocês podem aplicar no
dia a dia para estimular as habilidades preditoras. Mas, não precisam se
prender apenas ao que está aqui e sim utilizar de base para variações e
outras brincadeiras. Se ao final da educação infantil a criança estiver com
essas habilidades aprendidas ela estará pronta para dar o próximo passo,
aprender a decodificar e codificar no primeiro ano.

A decodificação e a codificação estão relacionadas a capacidade da


criança de ler e de escrever, de conseguir transformar os sons em letras
(codificar) e as letras em seus sons (decodificar). E deve ser ensinada de
forma sistemática e explícita a partir do primeiro ano, 6 e 7 anos. A seguir
apresentaremos algumas formas de você trabalhar:

Nesse momento você já ensinou a criança a perceber o som de cada


uma das letras, então agora ela deve juntá-los em sílabas. Que som
forma ao juntarmos /s/ + /a/ = /sa/ e se juntarmos /p/ + /o/ = /po e ao
juntarmos esses dois pedaços /sa/ + /po/ = /sapo/. E assim a criança vai
percebendo a sílaba e começando a formar palavras simples.
20

Deixe exposto um alfabeto silábico, que pode auxiliar e servir de modelo

para a criança

Tenha letras móveis das vogais e consoantes, umas 5 de cada vogal e

umas 2 de cada consoante, para que a criança consiga manipular e criar

as sílabas

Associe as sílabas a imagens, objetos concretos e forneça apoio visual

Coloque sílabas em cartões ou peças móveis. Peça à criança para criar

palavras diferentes movimentando as sílabas. Esse movimento físico

ajuda na internalização do processo de formação de palavras. Você

pode grudar as sílabas em blocos, palitos de sorvete ou utilizar letras

móveis

Ao ler histórias, convide a criança a caçar sílabas específicas. Peça para

sublinhar ou destacar as sílabas identificadas, promovendo a conexão

entre a leitura de palavras completas e a identificação de sílabas

Esconda palavras simples em lugares estratégicos. Ao encontrar uma

palavra, a criança deve soletrá-la e, em seguida, criar uma nova palavra

trocando uma sílaba, reforçando a manipulação de sílabas

Desenhe um caminho com diferentes sílabas. À medida que a criança

percorre o caminho, ela forma palavras. Essa atividade incorpora o

movimento físico à aprendizagem das sílabas

Crie quebra-cabeças onde cada peça representa uma sílaba. A criança

deve montar o quebra-cabeça para formar palavras. Isso envolve a

manipulação física das sílabas para construir o significado, depois ela

pode escrever essas palavras

Associe sílabas escritas de letra bastão com cursiva e depois a criança

precisa criar uma palavra com elas

Forneça um conjunto de cartões com sílabas diferentes. A criança

escolhe aleatoriamente várias sílabas e cria uma história utilizando as

palavras formadas. Isso estimula a criatividade e a aplicação das sílabas

em contexto.
21

Crie cartelas de bingo com sílabas e imagens correspondentes. Ao


chamar as sílabas, a criança deve identificá-las e marcar a imagem
correspondente. Isso fortalece a conexão entre sílabas, palavras e
significados visuais

Forneça sílabas móveis e peça à criança que crie palavras movendo as


sílabas em uma superfície magnética ou em uma lousa. Essa proposta
tátil reforça a aprendizagem e permite a experimentação com diferentes
combinações

Faça ditado de sílabas, depois de palavras curtas, depois de pequenas


frases e vá aumentando gradativamente

Apresente listas de palavras simples e familiares. Inicialmente, a criança


pode ler essas palavras e, conforme progride, formar frases curtas com
base nessas palavras

Peça para a criança escrever listas de tudo que vocês precisam comprar
ou fazer, desde ir ao mercado até montar uma mala de viagem

Associe imagens a palavras específicas e incentive a criança a formar


frases curtas descrevendo as imagens

Introduza livros com palavras e frases curtas. Comece com livros


simples que destacam palavras familiares e permita que a criança
pratique a leitura dessas palavras. Caso você perceba dificuldades vai
intercalando com a criança, você lê uma palavra e ela a outra

Crie um jogo de memória com cartões que tenham pares de frases. A


criança vira dois cartões por vez, tentando encontrar as frases
correspondentes. Isso estimula a memorização e a compreensão de
frases. Você pode iniciar com as palavras e ir aumentando o nível de
dificuldade até chegar em frases curtas

Apresente histórias curtas e peça à criança para reorganizar as palavras


para criar uma sequência coerente

Escreva palavras embaralhadas para que a criança coloque em ordem


de uma forma que a frase faça sentido.
22

O processo de codificação e decodificação oferece inúmeras

possibilidades de estímulo para as crianças, e as propostas mencionadas

anteriormente representam apenas uma amostra do que temos de

atividades disponíveis. É fundamental reconhecer que cada criança é única,

com interesses, estilos de aprendizado e ritmos distintos. Dessa forma,

pais e profissionais têm a oportunidade de explorar e adaptar essas

sugestões conforme a individualidade de cada criança. Lembrando que as

habilidades progridem em grau de dificuldade, então para que a criança

consiga avançar ela precisa estar bem estabelecida na base anterior.

E quanto mais você treinar e estimular mais você estará preparando a

criança para que ela desenvolva a última área que separei para vocês, a

competência, que veremos propostas que estimulam a fluência, a

compreensão e a produção escrita. Atividades e brincadeiras que podem

ser trabalhadas com as crianças a partir do 2 ano e 3 ano, dos 7 aos 9

anos:

Introduza jogos de palavras cruzadas e caça-palavras relacionados aos

temas estudados

Crie um jogo em que a criança complete frases incompletas

Apresente sequência de figuras, três, para que a criança coloque em

ordem, monte uma história oralmente e depois a escreva

Escolham uma pessoa para enviar uma carta ou recado

Promova sessões regulares de leitura compartilhada, onde pais ou

professores leem para as crianças e, em seguida, discutem o conteúdo.

Isso estimula a compreensão e o vocabulário

Incentive a criança a formular perguntas sobre um tema específico e,

em seguida, respondê-las por escrito

Tenha cartões com diferentes partes de frases e peça à criança para

combiná-las de maneiras criativas.


23

Realize atividades que envolvam a produção coletiva de histórias. Cada


criança pode contribuir com uma parte, criando uma frase e juntando
em uma história maluca

Selecione uma pequena passagem de um livro e peça à criança para


reescrevê-la com suas próprias palavras

Jornal da família ou da turma, com as principais notícias semanais do


que aconteceu

Leitura de pequenos livros de forma individual pela criança e em voz


alta

Ditado de frases e de pequenas histórias

Dramatização de histórias lidas

Proponha atividades em que as crianças entrevistem uns aos outros


sobre seus livros favoritos. Elas podem criar perguntas, conduzir
entrevistas e depois compartilhar as informações por escrito. Ou em
casa, um entrevistar o outro

Escrita de um diário

Criação de quadrinhos das mais diversas temáticas e tamanhos

Estabeleça uma "Hora da Leitura" diária em casa, onde a criança pode


escolher um livro para ler sozinha ou compartilhar com um membro da
família

Promova a leitura em dupla, onde a criança lê um livro junto com um


membro da família

Incentive a criança a dramatizar ou encenar partes de suas histórias


favoritas. Isso não apenas aprofunda a compreensão, mas também
desenvolve habilidades de expressão oral.
24

Introduza a criança a diferentes gêneros literários, como contos,


poesias e ensaios

Estimule a criação de livros caseiros, onde a criança escreve e ilustra


suas próprias histórias

Seja modelo!

Ao explorar as práticas de alfabetização no dia a dia e nas estratégias


sugeridas ao longo deste capítulo, é essencial compreender que a
diversidade de métodos e abordagens auxiliam para que a gente ofereça o
aprendizado de diferentes formas atingindo o maior número possível de
crianças. Criando, adaptando e variando as propostas de acordo com os
interesses e necessidades específicas de cada um.

A "escadinha da alfabetização" apresentada, destacando as habilidades


preditoras, conhecimento alfabético, decodificação e codificação, fluência,
compreensão e produção, serve como guia, mas é importante perceber que
o progresso não é linear. Cada degrau dessa escada representa uma
conquista significativa, e as adaptações podem ser necessária para auxiliar
todas as crianças nesse percurso. A introdução gradativa de desafios e a
retirada gradual de apoios concretos são estratégias fundamentais e
podem ser utilizadas em qualquer idade e para crianças com
desenvolvimento típico e atípico.

As práticas apresentadas não devem ser interpretadas como prescrições


inflexíveis, mas sim como propostas flexíveis suscetíveis a modificações. A
criatividade e o envolvimento são cruciais neste contexto. Em última
instância, a trajetória de alfabetização revela-se tão particular quanto cada
criança que a percorre, por isso precisamos olhar para cada uma delas de
forma individual, para que ela seja capaz de desenvolver a competência em
leitura e escrita de forma realmente eficaz.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao percorrer os diversos capítulos deste ebook, exploramos as


complexidades que fazem parte do processo de alfabetização, destacando
que essa habilidade não é adquirida de maneira espontânea, mas sim por
meio de instrução explícita e sistemática. O caminho rumo à leitura e
escrita demanda a construção de bases sólidas, representados pelas
habilidades preditoras essenciais discutidas no primeiro capítulo.

A compreensão da linguagem oral, as habilidades fonológicas, a


consciência fonológica e o princípio alfabético constituem a base mais
25

importante, sendo fundamentais para o desenvolvimento posterior da


leitura e escrita. Essas habilidades devem ser estimuladas na educação
infantil, especialmente entre os 4 e 5 anos, e preparam à criança para o ler
e escrever.

No segundo capítulo, exploramos o processo de leitura e escrita,


destacando que a repetição, a instrução explícita e a prática são
elementos-chave. Compreendemos que a fluência e a compreensão plena
emergem gradualmente ao longo dos anos, sendo necessário paciência,
treino e um entendimento do que é esperado para cada fase. Sabendo que
no primeiro ano é o momento em que ocorrerá esse ensino mais direto e é
esperado que as crianças comecem a codificar e decodificar, ler e escrever
palavras simples e pequenas frases, de forma lenta e gradual pois estão
aprendendo.

O terceiro capítulo abordou as expectativas de desenvolvimento em cada


idade, enfatizando a importância de focar nas habilidades necessárias em
vez de meramente considerar a idade cronológica. A ênfase no reforço das
habilidades preditoras reforça a necessidade de consolidar as habilidades
antes de avançar, lembrando que a leitura e escrita se tornarão mais
difíceis e complexas a cada etapa e que sem dominar e ter desenvolvido o
que era necessário na etapa anterior a criança não conseguirá avançar.

A teoria de Ehri (2013, 2014, 2020) nos fornece uma forma de identificar
em que fase a criança está, delineando os estágios de desenvolvimento da
leitura e escrita, desde o pré-alfabético até a consolidação alfabética. Esse
modelo oferece uma perspectiva clara e didática sobre o processo
complexo pelo qual as crianças passam e serve como guia para vocês
identificarem em que momento a criança está e qual será o próximo.
26

Conhecer a teoria te prepara para aplicar na prática tudo que foi ensinado,
te direciona a olhar cada proposta e a criar novas a partir do que é
esperado e do que eu preciso estimular e ensinar em cada momento da
alfabetização, fazendo com que você relacione os exemplos práticos
apresentados a teoria e saiba como e o porquê cada habilidade deve ser
ensinada.

Portanto, ao encarar a alfabetização como um processo multifacetado,


percebemos que não se trata apenas de codificar e decodificar, mas sim de
uma interconexão de inúmeras habilidades que se combinam para formar a
base do ler e escrever. A imagem apresentada na Política Nacional de
Alfabetização nos lembra a amplitude e complexidade desse processo.

Em suma, ao entender as nuances envolvidas na alfabetização e ao aplicar


as orientações aqui apresentadas, pais, professores e terapeutas podem
contribuir de maneira significativa para o desenvolvimento sólido e eficaz
das habilidades de leitura e escrita em crianças. Cada fase, cada
habilidade, e cada conquista constroem um caminho rumo a uma
alfabetização plena e enriquecedora e vocês podem e devem fazer parte
disso.

Este ebook não é apenas um manual de instruções, mas uma ferramenta


para estimular a reflexão profunda e a capacitação de pais, educadores e
profissionais envolvidos no processo de alfabetização. Ao alinhar a ciência
cognitiva com as práticas baseadas em evidências, buscamos não apenas
informar, mas também capacitar aqueles que querem junto conosco mudar
o cenário da alfabetização no nosso país.
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BRASIL, PNA: política nacional de alfabetização. Brasília: MEC, 2019.

BRASIL, RENABE: relatório nacional de alfabetização baseada em


evidências. Brasília: MEC, 2020.

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componentes da consciência fonológica no ensino fundamental e
correlação com nota escolar. PsicoUSF, v. 12, n.1, p. 55-64, 2007.

CARDOSO-MARTINS, C. et al. Os novos caminhos da alfabetização infantil.


São Paulo, Menon, 2005.

27

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capacidade de ler. Porto Alegre. Penso, 2012.

EHRI, L. C. Aquisição da habilidade de leitura de palavras e sua influência


na pronúncia e na aprendizagem do vocabulário. In: Maluf, M. R.;
CARDOSO-MARTINS, C.(ed.) Alfabetização no século XXI: como se
aprende a ler e a escrever. Porto Alegre: Penso, 2013, p.49-81.

EHRI, L. C. Ortographic mapping in the acquisition os sight word Reading,


spelling memory, and vocabular learning. Scientific Studies of Reading,
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EHRI, L. C. The Science of learning to read words: a case for systematic


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EHRI, L. C. et al. Systematic phonics instruction helps students learn to


read: evidence from the national Reading panel’s meta-analysis, Reaview os
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GAZZANIGA, M. S.; IVRY, R. B.; MANGUN, G. R. Neurociência cognitiva.


Porto Alegre: Artmed, 2006.

HULME, C.; SNOWLING, M. J. Learning to read: What we know and what we


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MORAIS, J. Criar leitores: para professores e educadores. São Paulo:


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NATIONAL READING PANEL. Teaching children to read: na evidence-based


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SEABRA, A. G.; CAPOVILLA, F. C. Problemas de leitura e escrita: Como


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SEABRA, A.G; DIAS, N. M. Métodos de alfabetização: delimitação de


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SNOWLING, M. J.; HULME, C. A ciência da leitura. Porto Alegre, Penso,


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STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.

TREVISAN, B. T. et al. Teoria e pesquisa para avaliação de aspectos da


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ZORZI, J. L. A alfabetização: uma proposta para ensinar crianças com


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aprendizagem. São Paulo: Pulso, 2009.
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