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UNIVERSIDADE LÚRIO

UNILÚRIO BUSINESS SCHOOL


Curso de Mestrado em Agronegócios

Módulo: Métodos de Pesquisa Aplicados ao Agronegócios

Paradigmas de Investigação

Mestranda:
Ângela Maria Bastião

Docente:
PhD. Mahomed Nazir Ibraimo

Nampula, 28 de Abril de 2022

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Introdução

Com este trabalho pretende-se expor informações referentes aos paradigmas de


investigação. E para a sua efectivação, recorreu-se à consulta bibliográfica de autores
que abordam esta temática.

A informação foi estruturada a partir da conceituação ao desenvolvimento da mesma,


para além da conclusão e referências bibliográficas.

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Os paradigmas de investigação

Para este trabalho, avança-se primeiramente com a conceituação do que é paradigma de


investigação, que pode ser segundo (Coutinho, 2011) “como um conjunto articulado de
postulados, de valores conhecidos, de teorias comuns e de regras que são aceites por
todos os elementos de uma comunidade científica num dado momento histórico” (p. 9).

Seguidamente, apresenta-se as diferentes concepções filosóficas ou simplesmente os


paradigmas de investigação. Trata-se, portanto de uma visão geral, um modelo, ou como
é apelidado por Creswell (2010), uma “concepção filosófica”. Creswell (2010, citando
Guba, 1990) diz ter optado por este termo pois refere-se a “um conjunto de crenças
básicas que guiam a acção”. Afirma que essas concepções filosóficas estão presentes em
toda a investigação mas, por vezes, existe a intenção deliberada de as manter ocultas.

Aconselha, por isso, a que se explicite claramente a visão filosófica subjacente à


investigação. O mesmo autor refere então que existem quatro grandes concepções ou
paradigmas associados à investigação, nomeadamente à investigação em Ciências
Sociais e Humanas: pós-positivista, construtivista, reivindicatória/participatória
(paradigma sociocrítico) e pragmatismo, esta última mais recente no tempo e que veio,
de alguma forma, amenizar os extremismos sobre o modelo a seguir.

De um modo geral, a visão pós-positivista está associada à forma tradicional de


pesquisa pois baseia-se em metodologias quantitativas de recolha e análise de dados. É
uma visão que se pretende objectiva, experimental, mesmo que adaptada à realidade
social. O pesquisador deve ser neutro, não interveniente, admitindo, no entanto, que o
conhecimento nunca é totalmente objectivo fruto da interpretação humana. Procura-se a
explicação da causa através da verificação empírica, baseando-se na ideia que toda a
realidade pode ser mensurável. Utiliza um método hipotético-indutivo em que a
confirmação das hipóteses leva à generalização dos casos particulares numa lei geral.
Usher (1996, citado em Coutinho, 2011) é um dos autores que critica este modelo uma
vez que não é possível aplicar à realidade social, que é aberta e indeterminada, um
modelo que concebe o mundo como sendo ordenado, previsível e sujeito a leis.

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O paradigma construtivista apoia-se numa perspectiva qualitativa de recolha e análise
de dados, em que o pesquisador reconhece o seu próprio significado sobre a realidade e
sobre ela exerce influência, posicionando-se no seu interior. Ele dá significado à
realidade que os sujeitos em estudo apresentam, através do diálogo e interacção com os
participantes. Em vez de começar com uma teoria, os investigadores desenvolvem um
padrão de significado a partir da interpretação que fazem da interacção com o sujeito.
Neste sentido, são utilizadas questões abertas dando azo à interpretação das respostas.

O paradigma sociocrítico, ou concepção reivindicatória/participatória, é mais recente e


defende que a investigação deve servir propósitos políticos e sociais, através do debate e
discussão, de modo a lançar as bases para uma mudança social. Assume claramente que
nenhum pesquisador é neutro em termos ideológicos ou políticos. A investigação
decorre com os sujeitos que são envolvidos activamente, participando na recolha e
análise dos dados e, inclusivamente, no rumo a seguir. Segue o método da investigação-
acção, centrando-se, essencialmente, em grupos ou indivíduos marginalizados pela
sociedade, abordando questões como a desigualdade, opressão, alienação.

Recentemente, surgem correntes que afirmam não fazer sentido esta divisão em
paradigmas pois a metodologia a seguir, nomeadamente na recolha e análise de dados,
deve ser a que melhor responde ao problema definido. O mundo não sendo uma
realidade absoluta deve ser compreendido à luz de diferentes métodos (métodos mistos).
Nesse sentido, o pesquisador é livre na escolha dos métodos, técnicas e procedimentos a
seguir. Centra-se, também, na aplicação do conhecimento ao real, nas soluções práticas
para os problemas, tendo presente que o contexto social, cultural, histórico e político
devem ser considerados pois influenciam a investigação. É o paradigma pragmático.

A definição clara de um paradigma ou concepção subjacente a uma investigação deve


ser feita de modo a entender perfeitamente as opções do investigador, nomeadamente no
que se refere a metodologias, métodos e técnicas. Koetting (1996, citado por Coutinho,
2004) refere que “As metodologias carregam em si mesmas interesses que condicionam
os resultados procurados e encontrados, razão pela qual o investigador deverá
procurar identificar os interesses humanos que estão sempre por detrás das diferentes
formas de investigar” (p.438).

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A autora defende que ao conhecer o(s) paradigma(s) de investigação possibilita tomar
decisões fundamentadas, questionando assim os “porquês” das opções metodológicas,
fazendo assim uma viagem ao pensamento científico inerentes à prática de investigação.

A grande diversidade de perspectivas vigentes na investigação qualitativa, elemento


determinante desta forma de investigar, é por vezes explorada pelos seus detractores
como um sinal de falta de coerência teórica. De facto, trata-se tão só de um dos reflexos
da vasta produção de conhecimento, produzido ao longo deste século, e representa um
desafio ao investigador na medida em que, face a esta heterogeneidade de concepções,
tem de fazer opções também a este nível.

Guba (1990:17) considera o paradigma, ou esquema interpretativo, “um conjunto de


crenças que orientam a acção”. Cada paradigma faz exigências específicas ao
investigador, incluindo as questões que formulam e as interpretações que faz dos
problemas. Genericamente, podemos detectar quatro paradigmas interpretativos:
positivista/pós-positivista, construtivista-interpretativo, crítico e feminista pós-
estrutural.

Denzin e Lincoln consideram que os paradigmas positivista e pós-positivista actuam no


seio de ontologias realistas e crítico-realistas, de epistemologias e de metodologias
experimentais e quase-experimentais. O paradigma construtivista, por seu lado, assume
uma ontologia relativista (existem múltiplas realidades), uma epistemologia subjectiva
(investigador e sujeito criam compreensões, conhecimento) e um conjunto naturalista de
procedimentos metodológicos (no mundo natural).

Para os autores Denzin e Lincoln (1994), conceitos como credibilidade,


transferibilidade, dependência e confirmabilidade substituem os critérios positivistas de
validade interna e externa, fiabilidade e objectividade. Quanto aos modelos de
investigação feministas, étnicos, marxistas e culturais, estes privilegiam uma ontologia
materialista-realista, ou seja, a realidade diferencia-se em termos de raça, classe e
género, e recorrem a epistemologias subjectivas e naturalistas, frequentemente
etnográficas (p. 14).

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As teorias pós-estruturalistas feministas enfatizam os problemas dos textos sociais, a sua
lógica e a sua incapacidade de representar o mundo das experiências vividas na sua
totalidade. Os critérios de avaliação positivistas e pós-positivistas são substituídos por
outros, nomeadamente textos reflexivos e polifónicos enraizados nas experiências das
pessoas oprimidas.

O paradigma dos estudos culturais é multifocado, com diferentes elementos desenhados


a partir do marxismo, feminismo e da sensibilidade pós-moderna (Richardson,1994).
Existe uma tensão entre os estudos culturais humanistas que acentuam as experiências
vividas e os projectos de estudos culturais mais centrados nos determinantes materiais e
estruturais (raça, classe e género) da experiência.

De acordo com Colás (1992), Existem diversas modalidades de estudo de casos e


distinguem-se pelas características e procedimentos que adoptam (p. 252):

a) estudos de casos ao longo do tempo - permitem o estudo de um fenómeno, sujeito ou


situação a partir de diferentes perspectivas temporais;
b) estudos de casos observacionais - caracterizam-se pelo recurso à observação
participante e podem referir-se a temáticas diversas;
c) estudos de comunidades - consistem na descrição e compreensão de uma determinada
comunidade educativa (escolas, instituições, investigador no mundo empírico e
relaciona-se com contextos específicos, pessoas, grupos, instituições e materiais
relevantes, nomeadamente documentos e arquivos; especifica a forma como o
investigador dirige os dois fluxos críticos de representação e legitimação.

No que se refere à estratégia de pesquisa, esta compreende um conjunto de capacidades,


pressupostos, pressuposições e práticas que os investigadores aplicam à medida que
passam do campo teórico (paradigmático) ao campo empírico. As estratégias de
pesquisa “põem os paradigmas de investigação em movimento” e simultaneamente
colocam o investigador em contacto com métodos específicos de recolha e análise de
material empírico que integram o estudo de casos, as técnicas fenomenológicas e
etnofenomenológicas, o uso de métodos biográficos, históricos, clínicos, etc.

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Quadro – Paradigmas de Investigação

Paradigma/Teoria Critério Forma de Teoria Tipo de


Narração
Positivista/Pós- validade interna, lógico-dedutiva, Relatório
positivista externa científica fundamentada científico
Construtivista fidelidade substantiva- formal estudos de caso
substantiva- formal credibilidade, interpretativos,
estudos de caso transferibilidade, ficção etnográfica
confirmabilidade
Feminista Afrocêntrica crítica, opinião ensaios, história
experiência escrita
vivida, diálogo, experimental
raça, classe, género,
praxis,
emoção,
fundamentação
afrocêntrica,
experiência concreta
Étnica afrocêntrica, opinião, crítica, ensaios, fábulas
experiência vivida, dramas
diálogo,
responsabilidade
histórica, raça, classe,
género.
Marxista teoria emancipatória crítica, histórica, histórica,
dialógica, económica económica,
raça, classe, género análise
sociocultural
Estudos práticas culturais, criticismo cultural teoria cultural
Culturais praxis, como criticismo
textos sociais,
subjectividades

Fonte: Paradigmas Interpretativos (Denzin & Lincoln,1994:13)

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Conclusão

O trabalho permitiu perceber que sempre que se pretender realizar uma pesquisa
científica, torna-se imperioso ter em consideração os paradigmas de investigação, uma
vez que eles constituem o modelo, princípios e as estratégias a serem seguidos de modo
a conferir a cientificidade ou credibilidade.

Certamente, os paradigmas de investigação são complexos para a sua assimilação, dai


que se exige do investigador um melhor aperfeiçoamento para o sucesso do trabalho
investigativo.

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Referências Bibliográficas

Creswell, J. (2010). Selecção de um projecto de pesquisa. In: Projecto de pesquisa.


Métodos qualitativo, quantitativo e misto. (3ª Ed.). Artmed Editora.

Coutinho, C. (2004). Quantitativo versus qualitativo: questões paradigmáticas na


pesquisa em avaliação. [Online] Recuperado de:
http://hdl.handle.net/1822/6469(http://hdl.handle.net/1822/6469)

______________ (2011). Paradigmas, Metodologias e Métodos de Investigação. In:


Metodologias de Investigação em Ciências Sociais e Humanas. Lisboa, Portugal:
Almedina.

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