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HISTÓRIA DAS IDÉIAS NO BRASIL: uma leitura da obra de João Cruz Costa

Autor: Rodrigo Schlenker


Orientador: Pedro Leão da Costa Neto

INTRODUÇÃO Primeiro aluno inscrito no concurso do vestibular de filosofia


graduou-se em 1936 e foi orador da turma. Durante o curso na
João Cruz Costa (1904-1978), figura marcante dos primórdios da
USP, os professores da missão francesa tiveram importante papel e
Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. Procurou trazer
influência em Cruz Costa. Recebeu a influência dos professores da
a reflexão filosófica ou crítica – e não as filosofias – para o “desenrolar
missão, dentre os quais, Jean Maugüé, do qual foi assistente. Também
da vida brasileira da qual acreditava há de emergir uma cultura que
foram seus professores Claude Lévi-Strauss, Fernand Braudel, Roger
nos seja própria, que caracterize o que somos no todo da cultura
Bastide e Martial Gueroult.
humana”1.
Após licenciar-se em filosofia, ministrava cursos como professor
A sua trajetória intelectual tem início na formação rígida dada pelos
contratado da USP e durantes este mesmo período doutora-se em
pais. A família economicamente estabelecida possibilitara suas viagens
Filosofia (1942) pela mesma universidade. Torna-se catedrático de
e cursos no exterior. Leitor e observador assíduo, em suas viagens
filosofia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP em 1954,
à Europa aproxima-se de dois autores, que segundo o próprio Cruz
onde ministrava psicologia, lógica e ética. Segundo Tânia Gonçalves
Costa iriam marcar a formação do seu pensamento, Léon Brunschvicg
“João Cruz Costa, marca, de forma definitiva, a sua opção pela
e Karl Marx.
História da Filosofia no Brasil, tema da sua tese para o concurso (para
Inicia institucionalmente seus estudos em 1923 com um curso a cátedra de Filosofia na FFCL)”2. É escolhido doutor honoris causa
preparatório para a Faculdade de Medicina em Paris. Ingressa na pela Universidade de Rennes (1958). Permanece como catedrático da
Faculdade de Medicina de São Paulo em 1925, onde permanece USP até 1965. Integrou vários congressos de filosofia e era membro
por quatro semestres. O período entre seu afastamento do curso da Comissão de História das Ideias do Instituto Panamericano de
de medicina até sua inscrição no primeiro curso da Faculdade de História e Geografia do México. Também foi professor visitante nas
filosofia da USP, em 1934, Cruz Costa se aproxima das literaturas Universidades de Sorbonne e Montevidéu.
francesas, portuguesa e brasileira. Ao lado da trajetória intelectual Com a instauração do Regime Militar em 1964 foi submetido ao
de Cruz Costa, percebemos a contribuição do movimento modernista, inquérito policial-militar que cobrava de Cruz Costa “a independente
especialmente da figura de Mario de Andrade e sua conhecida obra irreverência, sua posição de esquerda e a influência que exercia sobre
Macunaíma de 1928. os jovens”3.

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Enquadrá-lo a sistemas de pensamento seria impossível, afirma a partir dos anos 1930, as obras são de difícil classificação dentro dos
isto em seu Depoimento de filosofante, mas que concorda com a moldes convencionais da ciência histórica, as discussões giram em torno
definição que lhe foi dada por Pe. Castagnola, classificando-o como da “revolução” de 1930. Com o Estado Novo, surgem duas frentes “uma
“filósofo independente, não sendo filósofo, mas apenas filosofante” . 4
voltada para o passado, para o ideal aristocrático da cultura brasileira;
E no mesmo texto deixa claro seu posicionamento sobre a filosofia. outra voltada para o futuro, caracteriza-se pelo pensamento radical da
“Considero a filosofia como uma crítica que se processa a partir de classe média urbana”7. A criação das universidades institucionaliza o
dados concretos, positivos, que tem em conta a História e que não saber, substitui-se “a qualificação intelectual pela função intelectual”8.
pode ficar presa à rigidez sistemática” .
5
Os anos finais da década de 1930 e até meados dos anos de 1950,
A lista completa de sua produção aparece detalhadamente uma revisão de modelos proporciona uma nova virada na historiografia.
nas referências bibliográficas. Todavia, a obra que despertou nosso A institucionalização do saber ocorrida na década anterior atenta aos
interesse pelo autor referido merece destaque aqui. Contribuição à olhares para a perspectiva nacional-desenvolvimentista, “o nacionalismo
História das Idéias no Brasil (CHIB) definitivamente corresponde a sua como ideologia prevalece nos diagnósticos de desenvolvimento”9. O
obra mais sistemática e nos parece ser a obra de condução para a rompimento com esta perspectiva proporciona um olhar das pesquisas
leitura da produção de Cruz Costa. Nela aparecem suas percepções da sobre as classes e as estruturas sociais, bem como se acentuou o
filosofia, e mais importante, a aplicação e a análise dos momentos das debate sobre “a dependência da economia e da cultura brasileira”10.
histórias das idéias brasileiras a partir destas percepções. Dentro desta perspectiva, tendo Contribuição à História das Idéias
Cruz Costa definia a filosofia como pragmática, deveria existir como fio condutor, se pretendeu perceber este intérprete do Brasil em
uma função prática as formulações abstratas. É esta perspectiva sua época, “em sua data, com sua problemática específica e com suas
que permeia CHIB tendo como base uma herança dos colonizadores específicas avaliações do passado e projeção do futuro”11.
portugueses e que permeariam a nossa história, não somente a Para executar esta tarefa, optamos pela inserção do objeto
intelectual, mas também política. da pesquisa no campo histórico, composto pelo diálogo entre uma
Grande parte de CHIB publicada em 1956 foi a tese apresentada dimensão histórica cultural, entendida aqui com a “finalidade de
ao concurso da cadeira de filosofia da Faculdade de Filosofia, Ciências definir os modelos culturais que, em certos momentos, se impuseram
e Letras da Universidade de São Paulo. A tese em questão, chamada a determinadas sociedades, dar conta do seu sucesso, perceber
O Desenvolvimento da Filosofia no Brasil no século XIX e a evolução enfim o movimento, vivo ou lento, brando ou brusco, que, no decorre
histórica nacional, foi publicada em 1950. A sua Contribuição pode dos tempos, os transforma”12, com a História das Idéias ou História
ser enquadrada dentro do período que José Carlos Reis chama de Intelectual em uma tripla possibilidade: em relação aos seus agentes
“Redescobrimento do Brasil”6. A historiografia brasileira sofre uma virada históricos, aos ambientes sociais e aos objetos de estudo.

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Além destas perspectivas teóricas, o conhecido texto “A operação Este trabalho, aparecido anteriormente em limitada tiragem,
foi a tese que apresentei ao concurso da cadeira de filosofia da
historiográfica” de Michel de Certeau possui na interdisciplinaridade
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São
uma possibilidade de análise do momento histórico, que, por sua vez, Paulo. É reeditado agora, acrescido de mais um capítulo e de
segundo a perspectiva dos Annales, a história deve estar aberta às algumas modificações. Desde 1937, quando assumi o cargo de
assistente da cadeira de filosofia, ocupada então pelo meu prezado
problemáticas e a metodologias existentes em outras ciências sociais. amigo, Prof. Jean Maugüé, julguei que devia chamar a atenção dos
Considerando estas afirmações, a interpretação das idéias na obra de nossos estudantes para as vicissitudes pelas quais passaram, em
nossa terra, as correntes filosóficas estrangeiras e, sobretudo,
João Cruz Costa estará sujeita a esta interdisciplinaridade, já que, a para a curiosa significação que elas têm apresentado no envolver
própria produção da obra esta inserida no contexto de aplicação das de nossa história. Tem sido essa, desde aquele tempo, uma das
minhas preocupações como professor.15
teorias desenvolvidas pela segunda geração dos Annales.
Segundo Michael de Certeau, a categoria “discurso histórico” seria Na citação percebemos a instituição como legitimadora da obra,
“produzido de uma maneira deslocada em relação à realidade passada, uma considerando o momento posterior, quando Cruz Costa, efetivamente
vez que, para o autor, o passado não poderia ser apreendido plenamente, faz parte da Faculdade de Filosofia e sua obra começa a repercutir,
não só pelas limitações dos métodos historiográficos (recortes, triagem, ao menos em meios acadêmicos. Consideradas desta maneira, nossas
inteligibilidade do presente), mas, principalmente, devido ao lugar de referências teóricas nos possibilitaram a percepção de alguns objetivos
onde fala o historiador.”13 Assim, em “Contribuição à Historia das Idéias e aqui eles serão expostos conforme aparecem nos capítulos.
no Brasil” percebemos a caracterização por uma busca ao passado O primeiro capítulo pretendeu-se apontar a concepção de filosofia
para falar da situação presente ao autor, a saber, o fato de que “temos de João Cruz Costa. Dividido em duas partes, a primeira apresenta a
simplesmente glosado o pensamento europeu e não contribuímos até hoje visão de “experiência histórica” para nosso autor e a importância desta
para o patrimônio da Filosofia com nenhuma criação”14. Desta forma, o uso para a sua compreensão; a segunda demonstra a percepção dualista
do conceito descrito neste parágrafo nos remete a um terceiro conceito da formação do Brasil e de sua cultura, apresentada por Cruz Costa
identificado em Certeau o de “legitimação institucional”. através de dois modelos antagônicos: o jesuíta e o aventureiro.
A “legitimação institucional” ocorre através de um posicionamento No segundo capítulo, buscamos reconstruir a história das ideias
da instituição visando reconhecer como válidas, as afirmações teóricas no Brasil a partir das obras de João Cruz Costa. Para isto, usamos
e historiográficas, produzidas em âmbito acadêmico e ao mesmo tempo somente os seus textos: artigos, livros, depoimentos, conferências e
determinando os limites que configuram dada produção histórica. Sobre entrevistas. Estes textos nos serviram de base para esta tentativa.
isto, o prefácio da obra analisada nos responde e exige a consideração Desde o período colonial, até sua preocupação com o golpe de
deste conceito de “legitimação institucional”. No prefácio da obra ele 1964; o olhar de João Cruz Costa aparece neste capítulo de forma
afirma o seguinte: resumida.

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O terceiro capítulo, dividido em duas partes apresentou a crítica da de outros países e ressignificadas na nossa sociedade. Percebeu, ou
obra de Cruz Costa. Primeiramente de que forma o Instituto Brasileiro ao menos defendeu que a experiência histórica era fator determinante
de Filosofia, e alguns de seus colaboradores desenvolvem sua crítica na constituição da cultura brasileira e esta experiência tem valor
a Cruz Costa. E, em segundo lugar, a revisão da crítica e uma nova significativo para o nosso autor.
valoração sobre Cruz Costa desenvolvidas por Bento Prado Júnior e Definir o conceito de “experiência histórica” não é o objetivo
Paulo Eduardo Arantes. deste trabalho, entretanto, a centralidade e o emprego deste
Além da síntese necessária acerca da produção que se desenvolveu conceito na obra de João Cruz Costa é determinante para a sua
em torno da pesquisa, na conclusão, se pretendeu apontar alguns compreensão17. Consideramos que o próprio conceito em questão
motivos do esquecimento da obra de João Cruz Costa. reúne “em si a diversidade da experiência histórica assim como a
Pensamos a reescrita contínua da história como necessária. soma das características objetivas teóricas e práticas em uma
Partirmos de duas perspectivas para validar esta necessidade. A única circunstância, a qual só pode ser dada como tal e realmente
primeira, objeto de nosso campo de estudo, a inserção dos homens e experimentada por meio desse mesmo conceito”18
das sociedades humanas no tempo; e a segunda, a problematização em A experiência histórica referida por Cruz Costa, e que permeia
várias escalas do objeto do historiador que se refletem nas alterações as suas obras, nos é apresentada a partir de sua função pragmática,
do próprio conhecimento histórico. Desta maneira, percebemos ou seja, de que “todo o pensamento é sempre inteligência e
o passado “então, repensado e ressignificado de forma renovada e ação”19. Próximo desta perspectiva afigura-se como epígrafe de sua
fecunda”16. Tal justificativa é por demais simples para complexidade Contribuição um texto de Clóvis Beviláqua que diz o seguinte: “Se
teórica que a reescrita histórica sugere, todavia, ao pensarmos a algum dia pudermos alcançar mais significativa produção filosófica,
história como conhecimento lacunar, acreditamos estar preenchendo estou convencido de que ela não surgirá dos cimos da metafísica”20,
uma pequena lacuna com a produção deste trabalho. revelando uma percepção que dinamiza a possibilidade do processo
histórico. Sendo assim, para o autor a história não estaria acabada,
1 A CONCEPÇÃO DE FILOSOFIA
e uma vez que é meta-histórica, é ultrapassada, enquanto seu
DE JOÃO CRUZ COSTA
movimento concluído e atual.
Podemos apontar a experiência como “passado atual, aquele
1.1 “Experiência histórica” brasileira no qual os acontecimentos foram incorporados e podem ser
Como foi exposto na introdução João Cruz Costa, foi professor lembrados”21. Nela, pode-se encontrar “a elaboração racional e as
por alguns anos do departamento de filosofia da USP. Dedicou-se a formas inconscientes de comportamento, que não precisam mais estar
estudar o desenrolar da filosofia no Brasil, como estas eram recebidas presentes no conhecimento”22.

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Ao considerarmos esta perspectiva, inserimos uma reflexão de Poderia alguém objetar-nos, no entanto, que essa consideração do
passado (de que ele fornece dados históricos de um destino de
João Cruz Costa que nos parece relevante. O autor afirma que:
quatro séculos – na história do Brasil) é mais própria do historiador
A filosofia anda ligada muito intimamente às ciências positivas do que do estudioso de assuntos filosóficos. Mas que poderá haver
e ás suas vicissitudes. Mais ainda: tem relação com o complexo de estranho no fato de alguém, após haver dedicado boa parte de
condicionalismo da história e não perde de vista, muito ao contrário sua vida ao estudo da filosofia, consagrar também sua atenção ao
do que muita gente pensa, os problemas concretos da experiência exame do fascinante problema que é o da história das idéias de
que a história nos vai fornecendo no fluir do tempo. É um reflexo sua terra? Será por acaso estranho o haver alguém dedicado o seu
da própria vida, do drama que é a vida. É crítica e não ortodoxismo, tempo a procurar compreender as correntes e a longa esteira de
demagogia ou fanatismo. É espírito de liberdade e é, ao mesmo idéias que as variadas influências do pensamento europeu abriram
tempo estímulo de libertação.23 na vida cultural do Brasil?26

Esta citação nos remete ao horizonte de expectativa categoria Ao considerarmos as categorias de Koselleck, percebemos que o
pensada por Koselleck, afinal, a cavaleiro desta categoria, está o lugar espaço de experiência em que João Cruz Costa se inseria permitiu que
aonde se produz algo, ou seja, o espaço de experiência. Desta maneira, estes questionamentos fossem levantados. No entanto, que espaço
percebemos a realização da expectativa no hoje, considerando que era este? Acreditamos, considerando as explanações de Astor Diehl27,
este hoje “é o futuro presente, voltado para o ainda não, para o não que no ano da escrita deste texto o espaço acadêmico brasileiro e em
experimentado”24. Segundo Koselleck, e dentro desta dinâmica, os especial das ciências sociais passava por um processo de ebulição com
sentimentos se entrelaçam, “esperança e medo, desejo e vontade, a institucionalização do saber nas universidades. Institucionalização
a inquietude, mas também a análise racional, a visão receptiva ou a esta que provocou o engajamento de determinados setores intelectuais
curiosidade fazem parte da expectativa e a constituem”25. às perspectivas nacional-desenvolvimentistas.
Apesar de distantes, teórica e metodologicamente, João Cruz É deste espaço que João Cruz Costa responde. Procurando dar
Costa e Reinhart Koselleck permitem um diálogo que se desdobra sentido à relação entre as disciplinas que constituem seu campo de
a partir da percepção do modelo histórico e algumas perspectivas análise, ou seja, a filosofia no Brasil e a história desta, afirma não crer
filosóficas que João Cruz Costa aborda em sua obra, ao considerarmos que o filósofo deva ser avesso ao estudo da história das filosofias por
as categorias acima citadas. mais que:
Na introdução de Contribuição à História das Idéias no Brasil a
Dir-se-á, porém, que este trabalho é trabalho de historiador.
proposta e as motivações que deram forma ao modelo histórico e Efetivamente. É mister, porém, não esquecer que este historiador
filosófico desenvolvido por Cruz Costa aparecem. Nesta, o nosso deve seguir os infinitos meandros da Geistesgeschichte dos
ensaístas alemães, ou os caminhos mais sutis que, no rico e
autor explana sua preocupação acerca da relação entre o estudo da pujante pensamento de Lucien Febvre, constituem o estudo das
ideias serem elaborada por filósofos ou historiadores e em seguida sensibilidades, isto é, o estudo dos níveis intelectuais e culturais.
questiona: É necessário ainda que o historiador das idéias aplique aos seus

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estudos os processos de análise e os métodos de um Marcel Além disso, é mister que possa, do próprio interior da apaixonante
Mauss, atento sempre ao bombardeio cósmico das civilizações e inquietadora história pátria, reconstruir o trabalho, muitas vezes
pelas civilizações vizinhas.28 doloroso, da formação de nossa terra, dos dramas de consciência
que constituem a aventura da sua história espiritual. É preciso
Desta tripla perspectiva elencada por Cruz Costa – ensaístas ainda que se procure apreender, nessa movediça história nacional,
o sentido dessas aventuras e integrá-las nos seus quadros de vida,
alemães, Lucien Febvre, Marcel Mauss – percebemos que a maior
do mesmo modo que se coloca um rio entre as suas margens. É a
influência está na contribuição de Lucien Febvre e dos Annales. condição ainda, para a compreensão do problema, indagar talvez o
A principal contribuição de Febvre, e logicamente de Bloch, como que sobrevive dessa aventura passada ...31

representantes dos Annales, foi uma nova compreensão sobre a


Com esta nota inserimos o modelo de elaboração da história
temporalidade histórica, pois segundo as indicações de José Carlos Reis
das ideias no Brasil, como João Cruz Costa o percebeu e que se
“em suas obras históricas e teóricas, eles introduziram o permanente, o
desenvolve através da reflexão sobre as transformações que as
duradouro, recusando a história como o conhecimento exclusivamente
doutrinas filosóficas e as ideias européias adquiriram ao aportar no
da mudança”29. É esta perspectiva que permitiu Cruz Costa afirmar
Brasil, caracterizando nossa história ao longo dos quinhentos anos de
que a História das Idéias no Brasil era a história da recepção, difusão sua existência.
e adaptação das idéias europeias em nosso país, considerando isto João Cruz Costa ao prefaciar a obra de Guillermo Francovich,
como influência da pragmática herdadas da colonização portuguesa e Filósofos Brasileiros, em 1947 afirmou que continuava a “chegar
que permeava toda nossa história. às nossas praias [...] o eco das lutas que a inteligência trava, dos
Além desta característica pontual de influência, apontamos movimentos de idéias que se processam na velha e rica cultura da
como relevante outra consideração de José Carlos Reis ao retomar sedimentada tradição dos países europeus” 32, porque seria de lá que
a apresentação do número inicial da Revista Annales D’ Histoire “viera a forma atual de nossa cultura” 33.
Economique et Sociale. O alcance da revista, conforme indica Reis,
Segundo Cruz Costa criaríamos um estilo de vida:
consistia em “promover a aproximação da história das ciências
[...] que revela uma escala de valores morais em que se traduz [...]
sociais e afirmar a nouvelle histoire não por artigos e teóricos, mas o condicionalismo de nossa própria circunstância, [...] um estilo de
pelo exemplo e pelo fato”30. Esta perspectiva aparece claramente nas vida americano que é, ao mesmo tempo, legado, transformação e
criação de valores.34
preocupações de Cruz Costa, não somente com a escrita de seus
textos, no que concerne uma interdisciplinaridade, mas também com as Ao buscarmos o entendimento deste ponto de vista, recorremos
considerações acerca das questões pragmáticas das quais tributamos. a Koselleck que nos ajuda a compreendê-lo ao relacionar espaço de
Ainda pensando na Escola Francesa, mas já em perspectiva de analise experiência a horizonte de expectativa. Para o autor, as experiências
da realidade brasileira João Cruz Costa indica: são reunidas por sua capacidade de repetição, e “continuam sendo

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comum a todos os conceitos de movimento a produção compensatória expectativa”. Neste, afirma que “todas as histórias foram constituídas
que realizam. Quanto menor o conteúdo de experiência, tanto pelas experiências vividas e pelas expectativas das pessoas que atuam
maior a expectativa que se extrai dele”35. Assim sendo, as ideias e ou que sofrem”41. Ou seja, as possíveis experiências e as expectativas
sistemas de pensamentos, estão inseridos e são condicionados por acerca destas experiências se constituíram na relação entre o espaço
uma conjuntura temporal e espacial, que revelam nas experiências e o tempo.
passadas um “resultado objetivo, que passa a fazer parte do seu modo Pensamos esta percepção de Cruz Costa a partir Koselleck,
de elaboração. Isso, naturalmente, também exerce um efeito sobre as considerando as afirmações de José Carlos Reis sobre as interpretações
expectativas passadas”36. do Brasil as quais apontam que “cada interpretação do Brasil revela
Ao admitirmos esta perspectiva de Koselleck, entendemos a o que podia ser visto do passado e vislumbrado do futuro naquela
necessidade de que o conhecimento histórico deva ser visto, conforma posição temporal específica. As interpretações atuais são mais amplas
afirma Cruz Costa, como uma necessidade gnoseológica que não e abrangentes e se enriquecem ao incluírem as anteriores, mesmo na
poderá ser eliminada do campo do devir humano. “Torna-se impossível divergência”42.
um conhecimento teórico que não atenda às condições históricas” . 37
Mesmo dentro desta perspectiva, o legado, a transformação
Desta forma, aponta: “antes de ser brasileira, a realidade histórica é e a criação de valores sobre as ideias, podem ser vistos com certa
humana”38, e afirma que “o que a filosofia contemporânea pretende ser é originalidade, já que, para Cruz Costa enquanto estes se processam,
simplesmente uma filosofia da reflexão que encontra matéria para o seu [...] a inteligência cresce lentamente, sem influir poderosamente na
estudo e para a sua meditação na história do pensamento humano”39. vida social ou na vida política. Enquanto isso, [...] a inteligência se
robustece, preparando as reformas que as sociedades necessitam.
Espaço e tempo provavelmente são as duas grandes coordenadas
Apesar dos erros, das situações e dos entraves de toda a
que fundamentam todas as atividades humanas. Quando João Cruz ordem que dificultam o natural desenvolvimento da crítica e dos
Costa utiliza-se de Lucien Febvre para problematizar a questão conhecimentos, resta-nos a esperança de que estamos fatalmente
condenados à civilização...43
em torno do tempo e do espaço, indica uma diferença no sentido
destes. A saber, o tempo europeu no espaço brasileiro aponta para Estamos fatalmente Condenados à civilização, remeteu-nos a
uma contradição neste, produzida pela desproporção daquele sobre leitura das obras de Norbert Elias sobre O processo civilizador. Este
este. Desproporção dada pelos “quatro séculos de esforço dramático indica que a mudança no comportamento, e para nós interessa o
de construção de povos e de adaptações da civilização ocidental às comportamento em relação aos sistemas de pensamentos, decorre em
condições do nosso continente”40. direção a uma “civilização gradual, mas só a experiência histórica torna
Koselleck contribui significativamente para a compreensão destas mais claro o que esta palavra realmente significa”44. Esta civilização, à
categorias em seu texto “Espaço de experiência e horizonte de qual estaríamos condenados, é a consciência que o ocidente tem de si

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mesmo. Assim, um caráter especial brota deste raciocínio, já que, esta Esta pragmática humanista permite que dialoguemos com François
sociedade civilizada orgulha-se do “seu nível de tecnologia, a natureza Dosse, onde a experiência prática é assinalada como “coletiva, mas
de suas maneiras, o desenvolvimento de sua cultura científica ou visão própria a uma comunidade social dada que se exprime sob a forma de
do mundo”45. Restaria amoldar-nos, através da “pressão da tradição ditados, sentenças, máximas, de um saber prudente compartilhado,
institucionalizada e da situação vigente”46. uma espécie de senso comum”53. Condicionados desta maneira, por
A adaptação da cultura européia decorre do processo da experiência conta da complexidade de sentidos e das relações que uma comunidade
brasileira, que tem suas raízes na colônia de onde “tem origem todo o social contém, diferentes pragmatismos adquirem valor e “reaparecem
rosário de contradições de nossa experiência histórica”47. Esta situação em certas correntes filosóficas que [...] no passado, estão a dar novo
deixa um vácuo, um sentimento de que “uma cousa, um quê qualquer sentido à filosofia de nossos dias”54.
que ainda está para ser expresso de maneira conveniente, adequada. Cruz Costa vislumbrava a adesão ao estudo da história das
Há na nossa vida um movimento revolto, tumultuoso que não se deixa ideias como um elemento determinante para a compreensão do que
prender em fórmulas rígidas”48. ele chamou de humanismo do nosso tempo. Especificamente sobre a
Isto se resolveria com eventos presentes que modificam a história das idéias afirma:
experiência sobre dado passado, ou seja, um novo olhar sobre um
O destino que as idéias sofrem no evolver da história, as
passado evidenciaria novas condições de conhecimento deste. A mútua transformações que se dão no seu conteúdo, as reinterpretações
constituição entre história e conhecimento histórico que, “certamente pelas quais passam e as diferentes significações que assumem, -
tudo isto constitui uma tão curiosa quão importante semântica das
o fazem mostrando e produzindo a relação interna entre o passado e
idéias que é, sem dúvida nenhuma, importante investigar. 55
futuro, hoje e amanhã”49 é que constituem este novo olhar.
Este quê, a ser expresso, mostra os seus sinais através da Tais afirmações nos levam à percepção da história, e também
percepção do “pensamento como produto sutil da atividade de um da filosofia imbuída de um caráter axiológico, em que a experiência
povo [...] a fim de procurar apreender, se possível, o significado, o histórica é fator determinante. Reforçando esta percepção afirma o
sentido do que realmente somos” . O sentido do que somos implica
50 nosso autor:
numa valorização pragmática da existência. O filósofo que tem em conta os dados da ciência, (...) sabe que
de nada adiantará o recurso aos artifícios dialéticos, aos golpes
A pragmática da qual somos tributários, afirma Cruz Costa, é
de oratória ou de sistematizações ou totalitarismos, para passar
aquela decorrente “do senso prático, do sentido útil, do imediato é por cima das dificuldades que a ciência ainda não ultrapassou. O
o que de preferência aí transparece”51. Sugere então um humanismo filósofo digno deste nome é um homem que dá valor à dúvida e que,
por essa razão, tem em conta, na vida moral, a palavra tolerância ...
pragmático que seria “uma nova concepção de homem como fator do (...) O seu objetivo não é abrir novas e misteriosas vias de acesso
próprio destino, pela sua vontade e esforço”52. ao que chamava antigamente de essência dos fenômenos. O que

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procura é simplesmente aprofundar, cada vez mais, a consciência colonização, passando pelos processos de adaptação cultural, econômica,
entre o homem e o universo. E, para aprofundar essa relação,
religiosa, política, ao longo da história estariam presentes o jesuíta e o
recorre à História.56
aventureiro, agindo, atuando. Ou seja, a utilização das experiências
Postas estas questões acerca da experiência e de que modo ela trazidas da Europa, no caso da colonização, e das formas de organização
se desenvolve no pensamento de Cruz Costa, cremos possibilitar da colônia e posteriormente do império e da república, caracterizadas
a identificação da cultura e da experiência brasileira através dos através da dialética entre estes modelos específicos e antagônicos,
contrastes desenvolvidos em nosso meio sobre a influência de diversas constituíram o que entenderíamos como “nossa cultura”. Uma cultura que
contradições. permearia todas as instâncias das relações humanas brasileiras fundadas
O Brasil é visto por João Cruz Costa como um país de contrastes, “estas na prática, no pragmatismo, na utilização de certa idéia.
palavras inúmeras vezes repetidas por nosso autor nas suas diferentes Leitor de Sérgio Buarque de Holanda, o aventureiro e o jesuíta
obras, é como uma sorte de programa de interpretação”57. Admitimos que são a resignificação por Cruz Costa, do aventureiro e do trabalhador59
todo o contraste sempre decorra de um embate, entre duas personagens, descritos em Raízes do Brasil. A justificativa de Cruz Costa aparece em
duas realidades, dois modelos de analise, são deste contraste ou deste longa nota de rodapé, que é a reprodução do texto de Sérgio Buarque,
embate sobre as idéias no Brasil que trataremos a seguir. nos fazendo considerar a importância destas duas personagens e sua
modulação antagônica para a sua escrita.
1.2 A percepção dualista da
formação do Brasil Novas formas de vida coletiva, - escreve Sérgio Buarque de
Holanda – podem assinalar-se dois princípios que se combatem
de morte e regulam diversamente as atividades dos homens.
Segundo João Cruz Costa, a formação do Brasil enquanto nação
Estes dois princípios encarnam-se nos tipos do aventureiro e do
passou por uma experiência dualista na sua constituição. A expressão trabalhador. Já entre as sociedades rudimentares manifestam-se
deste dualismo na formação do Brasil apareceu nos modelos eles, segundo sua predominância, na distinção fundamental entre
povos caçadores e os povos agricultores.60
antagônicos do jesuíta e do aventureiro.
Ambos, o aventureiro e o jesuíta, embora aparentemente opostos, Esta compreensão de Sérgio Buarque de Holanda é tributária da
estão integrados num idêntico sentido de ação. De um lado, perspectiva weberiana que ele possui. A principal influência nesta
o jesuíta empenhado na conquista espiritual e o aventureiro,
escrita é a do Tipo Ideal que Max Weber explicita. Este Tipo Ideal é um
disposto à conquista da terra. Ambos representando uma aparente
contradição da nossa história e da nossa cultura. Ambos, porém, se instrumento para a compreensão da realidade e não a caracterizando
acham igualmente integrados na construção do Brasil58. em sua concretude. Como recurso metodológico o conceito é usado
Num sentido idêntico de ação, ou seja, toda a maneira que o Brasil na construção de conjecturas e estas são elaboradas por traços em
foi construído – considerando estes modelos antagônicos – desde a comum identificados em alguns elementos da análise. Resumidamente

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o Tipo ideal é um modelo que permite formulações sobre o que poderia menor grau de múltiplas combinações e é claro que, em estado
puro, nem o aventureiro nem o trabalhador possuem uma existência
ser dada realidade ou de que forma os sistemas de pensamento podem
real, fora do mundo das idéias. E é precisamente nessa extensão
ser expressos nesta realidade. Esta perspectiva aparece claramente superindividual que eles assumem uma importância inestimável
na sequência da nota já utilizada acima. Sistematizados estes dois para o estudo da formação e da evolução das sociedades (Sérgio
Buarque de Holanda, Raízes do Brasil, 1.ª ed., págs. 20/22)62
tipos de colonizadores são percebidos.
Para uns, o objetivo final, a mira de todo esforço, o ponto de Percebemos, desta maneira, um modelo da constituição de um
chegada, - a palavra aventura vem do latim, ad-ventura, advenire possível dualismo presente na história do Brasil. A idealização de
– assume uma relevância tão capital que chega a dispensar por
dois modelos se dá a partir das trocas argumentativas, ou seja, da
secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários.
Seu ideal seria colher o fruto sem plantar a árvore. Esse tipo institucionalização de dois personagens “que se confrontam, se
humano ignora as fronteiras. No mundo tudo se apresenta a posicionam, argumentam e chegam a uma conclusão, designando
ele em generosa amplitude e onde quer que erija um obstáculo
a seus propósitos ambiciosos, sabe transformar esse obstáculo papéis específicos e um diálogo particular”63. Assim, existe um
em trampolim. Vive dos espaços ilimitados, dos projetos vastos, problema dialético estabelecido entre estes dois modelos (o jesuíta
dos horizontes distantes. O trabalhador, ao contrário, é aquele
e o aventureiro ou aventureiro e o trabalhador), pois “repousa sobre
que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a
alcançar (...) Existe uma ética do trabalho, como existe uma um problema bem preciso, definido a partir de comum acordo [...]
ética da aventura. Assim, o indivíduo do tipo trabalhador só aceitando falar segundo regras explicitamente estabelecidas”64. A
atribuirá um valor moral positivo às ações que sente ânimo de
praticar, e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as contradição entre estes dois modelos produziria a inteligência do povo
qualidades próprias do aventureiro, a audácia, a imprevidência, a brasileiro e conseqüentemente a sua cultura decorre disto também.
irresponsabilidade ... e tudo quanto se relacione com a concepção
Encontramos no pensamento de João Cruz Costa a influência
espaçosa do mundo, característica desse tipo. Por outro lado,
as energias e os esforços que se dirigem a uma recompensa de Sérgio Buarque, que pretendia um olhar sobre o passado não
imediata são enaltecidos pelos aventureiros; as energias que idealizado. A preocupação deste com o Brasil constituíam a busca pela
visam estabilidade, paz, segurança pessoal e os esforços de
perspectiva de rápido proveito material passam, ao contrário,
superação do passado ibérico. “A crise brasileira dos anos de 1930,
por viciosos e desprezíveis. Nada lhes parece mais estúpido e aliás, a eterna crise brasileira, foi criada já em Portugal no século XVI
mesquinho que o ideal do trabalhador.61 [...] o nosso mal é a herança portuguesa, devemos superá-la e nos
E, por fim, a nota descreve os desdobramentos da relação tornarmos pós-portugueses, isto é, brasileiros”65.
estabelecida entre estes dois tipos, que é uma especulação sobre Devemos considerar ainda os apontamentos feitos por Antônio
como na prática estes modelos se concretizariam. Cândido ao prefaciar Raízes do Brasil em 1995 por ocasião da 26ª

Entre esses dois não há, em verdade, tanto uma oposição absoluta, edição da obra. Cândido destaca a aventura e o trabalho como a
como uma radical incompreensão. Ambos, participam em maior ou tipologia básica do livro e que ao serem consideradas opostas, como

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 436 | História | 2010


de fato são, caracterizam duas formas éticas possuindo o aventureiro Fugiam todos ao mistério da terra. Um porém – e dos maiores
a efetiva atitude colonizadora da terra enquanto ao trabalhador ficara – fizera sentir do letrado saudosista do litoral toda a importância
a margem deste processo. da massa que recuara para o sertão e que agora, encarnado no seu
Desta maneira, a apropriação66, por Cruz Costa, de seus autores fanatismo, todo feito de misérias e sofrimentos, a causa santa da
contemporâneos, aqui em destaque Sérgio Buarque, nos aparece como justiça, rebelara-se na selva para exigir precisamente uma reforma: a
fontes que proporcionam compreender e “recompor a configuração da da inteligência brasileira.68
experiência do tempo”67. Sistematizado teríamos na obra de João Cruz Costa: Jesuíta (letrado),
Outra consideração a ser feita é a da interpretação de nosso autor habitante do litoral, com seus olhos voltados para o mar, para a Europa e
sobre a obra de Euclides da Cunha, Os Sertões. Esta interpretação nos de costas para o interior, o sertão. Aventureiro (fanático) que desbravava

aparece como um modelo de recomposição da configuração do tempo, a terra, mais prático, agia conforme a necessidade, habitante do sertão.
Esta vocação atlântica contrastada com o sertão que aparece em Euclides
atrelado à perspectiva antagônica das duas personagens, o jesuíta e
da Cunha é a relação da situação do homem brasileiro com sua terra e o
o aventureiro, constituindo um exemplo da interpretação da história e
resultado desta relação foi a exposição de um problema que “é de nosso
das idéias no Brasil.
idealismo, não se alongar muito longe da terra ...”69.
Euclides, homem do litoral, encontrou-se na Campanha de Canudos
com esse sertão que, na nossa história, aparece nos momentos Estes modelos emprestados, resignificados e que se transformam
de crise e de transformação revolucionária e para o qual se volta em ferramentas de interpretação da história do Brasil são um exemplo
como escreve Alcântara Machado, a alma nacional como a agulha
de como João Cruz Costa concebia a filosofia.
imantada para o pólo magnético. Tem sido o sertão a obsessão
do aventureiro, a decantada salvação das elites que com ele Filosofia é reflexão; inquietação. Não é esquematismo, não é
simpatizam, mas que o esquecem... dogmatismo. Alain já dizia que pensar é dizer não, que refletir é
negar aquilo que se crê. Há quem procure na filosofia, escrevia uma
Euclides da Cunha, não o geólogo, o geógrafo, o botânico. O vez Karl Jasper, um remédio para a humanidade. Mas isto é pedir-
antropologista – que nem sempre são seguros – foi o artista que lhe demasiado. A filosofia deixa de ser verdadeira quando pretende
interpretou em palavras cheias de foca para ferir os ouvidos e aquilo que somente as religiões podem dar, isto é, respostas
sacolejar a alma dos bacharéis pálidos do litoral [...] clamando em absolutas. A filosofia representa para o pensamento ao contrário,
favor do deserto incompreendido, dos sertões abandonados, dos o pólo oposto, o indispensável que mantêm viva a inquietação. O
sertanejos esquecidos. homem perde-se se perde esse pólo. A atitude filosófica é feita,
ao mesmo tempo, de respeito e de crítica e a filosofia é a fonte de
inquietação do mundo.70
Os fanáticos, como disseram os homens do litoral, foram batidos
pelas nossas tropas de linha. Enquanto isso, os letrados, do litoral
ainda continuariam a entregar-se a tarefa de construir uma fachada
Decorrente desta inquietação e reflexo na perspectiva histórica
européia para o país. de Cruz Costa é a possibilidade que a história seja constantemente

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reescrita. Novamente Koselleck nos permite a compreensão desta A colonização portuguesa no Brasil proporcionou consequentemente
problemática. Rever, criticar ou negar a dogmatização de algo, ou a herança cultural deste povo, que, por sua vez, é fortemente
seja, “a tomada de posição é inevitável e favorável à pesquisa – é marcada pelo pragmatismo, segundo considera Cruz Costa. Este é
uma tentativa de salvar a objetividade ao não se pretender um possível percebido na cultura portuguesa, desde suas relações cotidianas, até
ponto de vista supra-histórico”71. o grande empreendimento que culminou com a empresa marítima dos
É nessa perspectiva que o passado brasileiro é revisto por Cruz descobrimentos. Esta afirmação aparece para o nosso autor como
Costa. Dentro de uma possibilidade antagônica, mas não fechada, decisiva para a formação da história brasileira. Esta visão firmada do
uma interpretação crítica da história que constrói um “conhecimento pragmatismo é mencionada em sua primeira obra “Ensaio sobe a vida
histórico que é também e ao mesmo tempo história da historiografia”72. e a obra do filósofo Francisco Sanchez” de 1942. Para descrever as
E que, por sua vez, coloca Cruz Costa em um quadro de progresso do influências intelectuais e culturais de Francisco Sanches, ao reconstruir
conhecimento histórico, ao lado de vários intérpretes do Brasil, como o momento histórico português, dedica um capítulo de seu livro a isto.
o próprio Sérgio Buarque, Caio Prado Jr., Gilberto Freyre, Nelson Desta maneira, afirma Cruz Costa:
Werneck Sodré entre outras. Nos séculos XV e XVI o campo da observação humana alarga-se.
Tanto a concepção que se tem do mundo moral como do mundo
2 A HISTÓRIA DAS IDEIAS NO BRASIL físico sofrem radicais modificações. Um grande número de fatos
SEGUNDO JOÃO CRUZ COSTA: UMA aparece, que a Antiguidade não conhecera nem suspeitara, que
contradizem as observações da Antiguidade e da ciência medieval.
POSSÍVEL RECONSTRUÇÃO Os descobrimentos dos portugueses e dos espanhóis, trazendo
ao velho mundo, um mundo novo, com povos e civilizações
desconhecidas, determinariam uma forte ruptura com os moldes
2.1 Da colônia à independência culturais da Antiguidade e da Idade Média. Uma nova cultura, de
base experimental e de tendência crítica iria se formar agora.73
O processo de colonização das terras além mar, foi determinante advento
na história da Europa e alterou as relações humanas em vários de seus Na mesma direção, aponta seu seguinte trabalho, “A Filosofia no
níveis. Este processo de colonização possuía características específicas: a Brasil” de 1945. No que diz respeito à pragmática lusitana, afirma:
terra “descoberta” passava a fazer parte do reino que a encontrasse, o Uma das maiores autoridades em matéria histórica e filosófica de
rei possuía poder total sobre esta terra, as normas de colonização e da Portugal, o Prof. Joaquim de Carvalho, da velha Universidade de
Coimbra, ao estudar, no Desenvolvimento da Filosofia em Portugal
posse da terra eram ditadas pela metrópole. Desta maneira todos os paises durante a Idade Média e nos interessantes capítulos que escreveu
eram representantes de dada cultura que buscava sua expansão territorial sobre a cultura filosófica portuguesa para a História de Portugal,
que esteve sob a direção do Prof. Damião Peres, traz à luz alguns
para além dos domínios europeu. Ao lado desta perspectiva material de
fatos que indicam, de maneira muito viva, qual o caráter que,
conquista e posse, trouxeram suas características culturais. desde muito cedo tomou, em Portugal, a investigação filosófica.

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A filosofia portuguesa é essencialmente prática. Nela prepondera Também em “Panorama da História da Filosofia no Brasil”
o sentido prático e positivo da vida. Não é a Razão Pura, mas o
encontramos uma referência ao pragmatismo português, que também é
homem que pensa, o homem que sente, que age, o homem vivo,
que interessa o português. Nunca foi a contemplação, o principal usado para introduzir o momento e as motivações das ações jesuíticas
característico da alma portuguesa.74 na colônia:

Nesta passagem, percebemos algumas leituras que nos mostram O pensamento português foi marcado por um espírito terra-terra
que gravitou, como diz o Prof. Joaquim de Carvalho, em torno de
as influências para a escrita de sua obra. Além dos autores citados, uma “problemática realista, de objeto preciso, limitado, concreto”.
também Jaime Cortesão, Joaquim Nabuco e Miguel Unamuno são O caráter comercial, cosmopolita da vida portuguesa dos fins do
século XV e começo do XVI, contribuiria para acentuar esta feição,
referencias para o nosso autor.
digamos, pragmática. 77
Em um artigo escrito para Enciclopédia Delta Larousse, intitulado
“A História da Filosofia no Brasil”, de 1964, afirmava a “herança” João Cruz Costa descreve a história do Brasil e de sua filosofia
portuguesa como delimitadora da forma cultural brasileira e sua fortemente marcada pela presença dos jesuítas, segundo os quais,
tradução aparecia como uma visão prática da existência. “Assim, desde “não é possível examinar a história dos países ibéricos sem atender à
cedo o pensamento português é marcado por um sinal grosseiro da influência que sobre eles exerceram os discípulos de Santo Inácio”78.
praticidade (...). O sentido de útil, do imediato é o que transparece no Os Jesuítas do período colonial desenvolveram o que se
pensamento português” . 75 convencionou chamar de ”Segunda Escolástica” Portuguesa,
No mesmo ano, 1956, em que o livro Contribuição à História das principalmente difundida pelo conhecido Curso Conimbricense. Esta
Idéias no Brasil foi lançado, em um artigo publicado na Revista Kriterion escolástica é marcada pelo trabalho dos Jesuítas que produziram uma
“Um aspecto da Filosofia América”, Cruz Costa aponta o pragmatismo relação entre o Humanismo e seus métodos críticos ao pensamento
como um problema filosófico brasileiro, mas que teria suas raízes nos de São Tomás.
paises colonizadores dos séculos XV e XVI. Da cultura portuguesa, “o A importância que nosso autor dá aos jesuítas aparece em A
senso prático, o sentido do útil, do imediato é o que de preferência aí Filosofia no Brasil de 1945, aonde afirma que o movimento intelectual

transparece”76. brasileiro do século XVII estaria sobre o domínio e influência jesuítica:

João Cruz Costa afirma em “Contribuição à História das Idéias no Os estudos humanísticos que haviam passado na Metrópole,
completamente para a mão dos jesuítas, prolongam-se até a
Brasil”: Colônia. (...) Qualquer que possa ser a nossa posição em face das
Esta concepção de cultura (a portuguesa) deriva de uma valorização idéias da Companhia de Jesus, é inegável que muito contribuíram
pragmática da existência. O caráter cosmopolita, burguês, da vida os jesuítas, com as suas escolas, com os seus colégios, para nossa
portuguesa do século XV, e do início do XVI, contribuiria também formação intelectual. (...) o que vai ser a filosofia nesse período, é
para acentuar, no seu pensamento, essa feição pragmática. 77 fácil de imaginar. As velhas lições da escolástica coimbrense serão

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aqui repetidas e ensinadas por Vieira, por Frei Manuel do Desterro, anterior a “Contribuição à História das Idéias no Brasil”, este modelo
por Diogo Gomes Carneiro, por Frei Mateus da Encarnação Pina,
de conquistador aparece.
em seminários e colégios destinados a formar mestres da latinidade
e da filosofia dogmática.79 O destino da história nacional – e o da sua cultura – está ligado
a duas grandes linhas: há nele uma vocação atlântica, marcada
Devemos considerar que “o jesuíta foi de fato uma das principais pela larga costa continental que nos obriga a olhar para o vasto
formas de modelagem da inteligência brasileira”80, e que, do horizonte oceânico, para o outro lado do Mar. E há a serra, a
floresta, o sertão, a imensidão dos horizontes que fica por detrás
ensinamento proferido em seus colégios: das serranias da costa e que desde muito cedo alertou a curiosidade
Receberam instrução humanística, os pouco afortunados filhos dos e a cobiça do aventureiro.84
primeiros senhores de engenho, os proprietários de canaviais e
fabricantes de açúcar dos fins do século XVI e princípios do século No ano de 1961, o artigo “A universidade latino-americana: suas
XVII, assim como os filhos funcionários do Reino, administradores possibilidades”, posterior à “Contribuição”, Cruz Costa afirma:
da Colônia 81.
Nessa empresa (a da colonização) vejo dois tipos principais: o
Estes letrados, formados pela tradição jesuítica, foram responsáveis aventureiro e o missionário – que no caso brasileiro é o jesuíta.

pela fixação da cultura intelectual européia portuguesa no Brasil.


Ao aventureiro, homem do seu tempo, da agitada renascença,
Todavia, ao lado destes: o nosso Continente abria-se (...) como campo propício a todo e
Outros homens, do povo, prosseguiam a aventura econômica que livre esforço, para as possibilidades e para a esperança. A riqueza
continuava a mentalidade aventurosa dos homens do século XVI. julgada fácil, atraia o aventureiro e aqui, (...) os mais remissos
Foram estes que rasgaram caminhos pela selva, que descobriram ânimos encontravam estímulos para grandes arrojos. Contraditório,
rios, que construíram vilas, que esboçaram as fronteiras do crédulo e audaz, o aventureiro não se perdia em sutilezas morais ao
Brasil.82 enfrentar a terra nova e o indígena.

A partir de uma dialética entre jesuíta e aventureiro, como foi Opondo-se a este, o missionário, empenhado, no mais largo sentido
descrito no primeiro capítulo, João Cruz Costa traça as primeiras da palavra, na conquista das almas, quando o outro o estava na
conquista da riqueza. Na ação do jesuíta, na sua ânsia de conquista
características de uma possível interpretação da história do Brasil.
espiritual, não se disfarçava o cruzadismo medieval. Assim, ao lado
Herdeiro da colonização portuguesa, o Brasil seria o palco destas duas do renome e do lucro, o sumo zelo na dilatação da fé.85
figuras, o jesuíta e o aventureiro, se complementam na construção
Para Cruz Costa, é neste modelo de colonizadores em que se
da sociedade brasileira, este pelo espírito desbravador aquele pelo
encontram as contradições de nossa história e sempre em momentos de
cuidado espiritual. O aventureiro e o jesuíta assumem características
crise eles aparecem com uma possível resposta. Levando a afirmação
determinantes na colonização e na história do Brasil. O primeiro estaria
preocupado na conquista da terra, do material, enquanto o outro se de que “da dialética que se vai estabelecer em nossa história entre

preocupa com a conquista espiritual. Em “A filosofia no Brasil”, trabalho esses dois tipos de colonizadores, derivará o molde inicial de nossa

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inteligência e do destino de nossa cultura”86. Libertação fez-se, sobretudo, em virtude da influência das idéias
francesas que correspondiam no momento, a uma etapa mais
Com a remodelação do quadro político europeu – o absolutismo
decisiva da ascensão e do progresso social e político da burguesia.
questionado pelo iluminismo – Portugal recebe a influência do chamado Burgueses eram os jovens brasileiros que iam estudar na Europa e
despotismo esclarecido, que através do Marquês de Pombal, se natural era que aquelas idéias novas os marcassem.91

percebe sobre a forma do Regalismo e o Beneplácito Régio. Percebemos a importância e o valor dados pelo autor à implantação
A renovação de métodos de estudos na península Ibérica e em da cultura francesa no Brasil no seu trabalho “A Filosofia no Brasil”,
particular Portugal, decorre da sugestão “introduzida pela Congregação onde afirma que “é preciso dizer que não podíamos ter encontrado
do Oratório, que se guerreia com a influência tradicional dos jesuítas”87 melhor guia para a nossa inteligência”92, e reeintera:
aonde seu posicionamento filosófico “substituiam em aulas a lógica
A cultura francesa, toda ela impregnada pelo espírito da liberdade
carvalha e barreta dos jesuítas por livros inspirados em doutrinas que havia de conduzir à Revlução de 1789, inspirava-nos e guiava-
mais recentes”88. Esta alteração aparece através da influência de Luís nos no sentido da nossa independência. (...) a nossa história
cultrural abre-se então às mais variadas inpirações. Estas, porém,
Antônio Verney, “esse iluminista português foi o pioneiro da renovação
só tomam forma quando, na própria terra, podem encontrar seiva
cultural portuguesa”89. que as faça prosperar.93
Desta maneira, a influência dos jesuítas, que durante dois séculos
A missão da França “nessa época foi a de acordar, instruir e guiar
foram os responsáveis pela educação na Colônia, perde força. Sua
as nações”94. Alguns livros que constituem a biblioteca do Cônego
expulsão de todos os territórios portugueses, através da reforma
Luís Vieira da Silva sugerem esta visão, já que, revelam o acesso a
imprimida por Pombal, em Portugal, determinaria definitivamente seu
algumas obras francesas do período, entre elas livros de Descartes,
afastamento da Colônia.
Montesquieu, Voltaire e alguns volumes da da Enciclopédia de Diderot
O momento que marca esta mudança de influência é também
e D’Alembert.
o momento que “uma ininterrupta tentativa de novas e variadas
A influência inicial e marcante do pensamento francês no Brasil
experiências intelectuais, visões originadas em outras culturas”90,
foi a do ecletismo desenvolvido por Vitor Cousin. Enquanto atitude
começam a ganhar espaço. Consequentemente, a nova corrente que
filosófica o ecletismo pretendia conciliar os valores tradicionalistas
ganha força na Europa, o iluminismo, afeta os intelectuais que vão,
com um desejo pela modernidade. Sem problemas maiores podiam
principalmente a Coimbra fazer seus estudos, recebem esta nova
ligar os princípios liberais econômicos, político e buscar preservar a
influência e a levam para a Colônia. O que nos leva à percepção da
unidade nacional em recém formação. Enquanto corrente filosófica, o
influência francesa, na qual uma:
objetivo desta filosofia foi, segundo Cousin, o discernimento entre o
verdadeiro e o falso das diversas doutrinas e a reunião deste resultado

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visando obter uma doutrina melhor e mais vasta. Brasileira” organizada por Sérgio Buarque de Holanda. O seu artigo,
Alguns nomes são vinvulados a correntes do pensamento deste “As novas idéias” sugere de que maneira as ideias, em especial as
momento intermediário. Silvestre Pinheiro Ferreira, afirma Cruz Costa, francesas, chegaram e foram aplicadas na América portuguesa. Sobre
sobre o ecletismo, definia-se: o republicanismo afirmou:
Educado com os princípios de Aristóteles e seus continuadores, Todavia, na história das vicissitudes do curioso liberalismo colonial
Bacon, Leibniz, Locke e Condillac e é uma mistura desses filósofos brasileiro, a tonalidade revolucionária,se assim podemos dizer, de
que ele expõe nas trinta longas aulas que fez e que constituem o quando em quando se ôpos aos ideais do bom senso e do justo
livro aparecido em 1813 na Imprensa Régia – creio que o primeiro meio.
livro de filosofia publicada no Brasil – as Preleções Philosophicas
sobre a theórica do Discurso e da Linguagem, a Esthetica, a A revolução de 1817 foi liberal mas não deixou de ser também uma
Diceosyna e a Cosmologia.95 manifestação de republicanismo. Antônio Carlos, que aderira a
ela e que mais tarde seria monarquista, declarava: “Um brasileiro
Com isto, o quadro sobre este ecletismo primário no Brasil é posto liberal podia crer em 1817 ser necessário aderir a republicanos e
em evidência e seu objetivo é apontado como uma postura filosófica hoje adotar as instituições monárquicas. Naquela época a realeza
era contra a liberdade; agora não”.98
consciente:
O ecletismo correspondia precisamente ao desejo de evitar os Contribuindo sobre o momento entre o fim do século XVIII e início
excessos dos revolucionários e dos reacionários. Filosofia do do XIX, afirma que:
justo meio condizia com os ideais do liberalismo burguês. Aliás,
a importância do ecletismo na história do século XIX deriva do A influência das idéias dos enciclopedistas criara, a partir do fim
fato de haver ele fornecido ao liberalismo as teses filosóficas de do século XVIII, um esboço de consciência política, que explica,
que este necessitava. Insuficientemente crítico e prudentemente em parte, haver sido a nossa primeira tentativa de indepêndencia
progressista, ligou-se à forma monárquica, constituindo-se como um movimento em que se empenhou um punhado de letrados
filosofia das elites liberais (...)96 mineiros.99

Além do ecletismo, Silvestre Pinheiro Ferreira foi responsável pelo O desenvolvimento cultural e econômico empreendido no Brasil
primeiro contato com as idéias da filosofia germânica no Brasil, sendo com a presença da corte portuguesa a partir de 1808 foi determinante
que “na sua obra são citados filósofos alemães tais como Kant, Fichte, no processo que culminou no setembro de 1822. Esta presença fez
Schelling e Hegel.” 97
Todavia, a adesão às diretrizes destes filósofos parecer que “o Brasil tivesse despertado de um sono prolongado e se
não aparecem claramente por parte de Silvestre Pinheiro, afirma Cruz pusesse agora a caminho da conquista da sua libertação” 100
, e ainda,
Costa. “o século XIX vê surgir, num continente novo, um novo grupo de nações
Joao Cruz Costa faz uma breve referência ao republicanismo em que iria logo se integrar no destino político da civilização ocidental”101.
sua segunda contribuição à coleção “História Geral da Civilização

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2.2 As filosofias do século XIX no Brasil para a História Geral da Civilização Brasileira, O pensamento brasileiro
sob o império.
O século XIX foi marcado pela consolidação das influências A importação das ideias, sua recepção e seu estabelecimento
iluministas do século anterior, bem como, o desenvolvimento das novas durante o século XIX seguem a seguinte ordem: O ecletismo
formulações filosóficas decorrentes das nascentes necessidades e das representado principalmente em Mont’ Alverne, o positivismo e seus
novas formas de pensar o mundo. O utilitarismo, marxismo, positivismo, desdobramentos e a Doutrina da Igreja Católica com o catolicismo e
pragmatismo, idealismo são algumas das correntes deste século. a escolástica; a influência dos materialistas aparece, na última parte
Como foi exposto anteriormente, as idéias francesas chegaram à do século ao lado da metafísica alemã, dando espaço para o que foi
colônia sobre o intermédio da elite que buscava instrução na Europa, chamado de Germanismo reconhecido na figura de Tobias Barreto
mas não somente em Portugal, também na França. A respeito desta e depois com a escola teuto-sergipana e Sílvio Romero; da mesma
transição das idéias portuguesas para as francesas uma gama maior forma, “o monismo e o evolucionismo, inspirados nas obras de Darwin,
de possibilidades se abre à colonia além-mar: de Moleschott, de Spencer e de Haeckel”103, aportaram aqui e tiveram
Herdeiros da cultura portuguesa, plantado aqui o bacelo da certa repercussão.
inteligência européia, portuguesa, nela enxertamos, desde então,
numa ininterrupta tentativa de novas e variadas experiências,
O ecletismo através de Mont’ Alverne “marca o momento de
garfos novos de outras visões do mundo. A história das transição entre o pensamento colonial e o do Brasil independente”104,
vicissitudes da longa importação de idéias e de doutrinas que se e “correspondeu às necessidades ideológicas do regime imperial”105.
fará, a seguir, ao longo do século XIX, será, assim, uma curiosa
série de contradições e, ao mesmo tempo, um incessante esforço, Todavia, Mont’ Alverne foi responsável por difundir uma mescla das
que nos impele à procura do sentido das nossas idéias. Marcada idéias de Locke e de Condillac:
pela europeização, a inteligência brasileira voltava-se para os
diferentes mercados da Europa onde se supria. (...) Proclamada Um Locke conhecido através de traduções francesas – aparece
a Independência, entrariam a circular no Brasil as mais variadas no medíocre Compêndio de Filosofia, do vaidoso frade, mais
doutrinas. É, porém, principalmente de Paris ou através de Paris, orador que pensador. Mais eloqüente que profunda, a filosofia de
que nos chegariam às idéias filosóficas. 102 Condillac – e mais tarde, também a de Victor Cousin – prestava-
se à eloqüência do frade e, correspondia às necessidades da
Partindo desta afirmação, a sistematização das idéias ou das burguesia da Restauração, que a “aristocracia” de nosso país, por
conveniência política, imitou. Em Mont’ Alverne encontra-se ainda
filosofias, que tiveram repercussão no Brasil do século XIX está, além o eco das idéias de Laromiguière e as de Cousin. Este, para o fadre,
de em Contribuição à História das Idéias no Brasil, em outros de seus era “um desses gênios nascidos para revelar os prodígios da razão”
Vibrante e retórico – e a oratória exerceu, e talvez ainda exerça
textos, em alguns de forma mais explícita e também sistemática e
influência em nosso país – Mont’ Alverne marcou, no entanto, uma
em outros aparecem mais sutilmente. As ideias que aqui aportam e data histórica filosófica brasileira, até então submetida a um ensino
ganham espaço estão sistematizadas em seu artigo de 1958, escrito que se resumia a uma amálgama de Storkenau e de Genovesi e,

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 443 | História | 2010


sob este aspecto, podemos considerá-lo, ainda que medíocre, Dos três livros referidos acima, dois deles, Contribuição à
como renovador dos estudos filosóficos no Brasil.106
História das Idéias no Brasil e O positivismo na República, servirão
Corrente que “propunha a todos os sistemas filosóficos um a seguir como referências principais para uma possível reconstrução
tratado de paz” , o ecletismo introduzido inicialmente por Vitor
107 desta doutrina segundo a ótica de nosso autor, já que, o positivismo,
Cousin, também está ligado ao nome de Domingos José Gonçalves segundo Cruz Costa, pode ser percebido desde meados do século XIX
de Magalhães (Visconde de Araguaia), introdutor do romantismo no e encontra eco nos posicionamentos de seus representantes no início
Brasil, foi, segundo Cruz Costa, “o verdadeiro introdutor do ecletismo do século XX sobre a grande guerra, considerando que “a filosofia
no Brasil”108. Ainda, assim, “a obra filosófica de Gonçalves Magalhães, positiva e o positivismo constituirão a primeira tentativa de renovação
é farfalhante, sem nenhuma originalidade, uma mistura aborrecida de das idéias”113, no Brasil no fim do século XIX.
espiritualismo eclético, com ontologismo” 109
e possuidora “somente de O advento do positivismo está diretamente atrelado ao surgimento
valor histórico” .
110 da burguesia no início da segunda metade do século XIX, o que

Esta solução filosófica apresentava conseqüências políticas muito


colabora para o posicionamento intelectual desta nova burguesia. “É
importantes e, no nosso meio, correspondeu a uma necessidade dessa burguesia, formada por militares, médicos e engenheiros – mais
do período histórico agitado que vai da abdicação de Pedro I até a próximos das ciências positivas, graças à índole de suas profissões
Maioridade. Convinha essa filosofia ao interesse dos moderados.
“Nada de excessos. Queremos a Constituição, não a revolução” – que irá surgir o movimento positivista no Brasil”114. “É esta nova
escrevia Evaristo da Veiga. (...) Havia necessidade premente burguesia que irá atuar no fim do século XIX e será ela que utilizará um
de paz, de conciliação. E a filosofia eclética, apesar das suas
novo instrumental de idéias”115
ambigüidades, apresentava, para a época, uma solução. 111
Todavia, as primeiras notícias do positivismo no Brasil datam antes
Sobre a influência do ecletismo e seu enraizamento no Brasil, de 1850; a partir de “1844 em diante, há referências, em livros e teses,
afirma Cruz Costa, ser esta “no Brasil, a filosofia que mais extensas à doutrina de Augusto Comte, mas estas primeiras manifestações
e profundas raízes encontrou na alma brasileira e ainda no fim do positivistas não tiveram influência sobre a vida política do país”116.
Império, ela tinha vigência ...”112.
Em 1865, Francisco Brandão Júnior publicava em Bruxelas um
Uma das grandes pesquisas elaboradas por João Cruz Costa foi sobre as opúsculo, A Escravatura no Brasil, com um apêndice relativo à
doutrinas positivistas no Brasil. No livro Contribuição à História das Idéias agricultura e a colonização da Província do Maranhão, sua terra
natal, que, apesar de imperfeitamente traduzir os ensinos de
no Brasil, mais de trinta por cento são reflexões acerca do positivismo. Augusto Comte, constitui a primeira manifestação social do
Entre seus livros, dois são inteiramente dedicados à doutrina: Augusto positivismo ente nós.
Comte e as origens do Positivismo de 1951 e O positivismo na
Em 1868, o Positivismo aparecera no norte do país, em referência
República: notas sobre a história do Positivismo no Brasil de 1956.
rápida que Tobias Barreto fizera às idéias de Comte em seus

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 444 | História | 2010


artigos. Mas, quando Benjamin Constant Botelho e Magalhães Em 1874, dois grupos de positivistas existem. O grupo littreísta
(1836 – 1891) entrara para a escola Militar, ali já encontrara um
do qual faziam parte Miguel Lemos e Teixeira Mendes e um outro
meio influenciado pelas idéias positivistas. Aliás, a este oficial do
exercito, mais professor que militar, estaria reservado um papel grupo limitado a recomendar o estudo das obras de Augusto Comte
importante, não só de propagandistas do Positivismo, como das sem nenhuma preocupação com sua aplicação política, social ou
idéias republicanas.117
religiosa123. Os dois grupos eram adeptos da doutrina de Comte,
O nome de Pereira Barreto é, para Cruz Costa, a primeira tentativa talvez, “o fato de ficarem muito de perto adstritos à doutrina tenha
de encontrar nas idéias de Comte, uma nova diretriz para a política sido a causa, precisamente do declínio da influência positivista no
nacional. Mas, a característica pragmática de nossa cultura, como Brasil”124, e complementa Cruz Costa, “A razão sofre sempre quando
afirma nosso autor, nos revela, esta tentativa de Pereira Barreto, fica submissa a qualquer autoridade, ainda quando não seja a de um
“marcada pelo anseio de reforma prática, e a filosofia positiva servindo homem”125.
de guia à renovação dos padrões da cultura nacional”118. Contudo, esta Uma transformação nos rumos do positivismo brasileiro ocorre
mesma tentativa é perpassada por uma “preocupação em encontrar através da viagem de Miguel Lemos e Teixeira Mendes à Paris. Sobre
na ciência e na cultura motivos para melhor compreender, para dar esta viagem João Cruz Costa afirma:
solução aos problemas de seu país”119. Por sua vez, em Pereira Barreto Em 1877 seguiam, Miguel Lemos e Teixeira Mendes para Paris,
“via-se a Filosofia Positiva como uma doutrina capaz de substituir, viagem que determinaria profunda modificação nos destinos,
no sentido da propaganda positivista e importante capítulo do
com vantagem, a tutela que a Igreja mantinha sobre a inteligência
positivismo religioso no Brasil. Ligados, inicialmente, a Émile
brasileira”120. Littré – que Miguel Lemos, então, considerava como um chefe de
escola, ardente e incansável em promover a regeneração universal,
Mais preocupado com os problemas políticos e sociais do que
mas que, muito rapidamente, se lhe afiguraria como um erudito
com a religião da humanidade, a posição de Pereira Barreto na
seco, sem nenhuma ação social (...) ocupando os ócios da velhice
história do positivismo – onde tem lugar destacado de precursor
adiantada em renegar tudo quanto aprendera na convivência
– é esta: a de um espírito relativista para o qual as fórmulas têm
do grande construtor, passou, Lemos, do vazio de Littréismo ao
pouca importância e em que os fatos, – sempre mutáveis – tudo
grupo de discípulos fiéis a Comte, chefiado por Pierre Laffite, que
dominam.121
antes julgara como composto de cérebros acanhados por um novo
liturgismo, produto da pretendida decadência do mestre.126
No momento em que as obras de Pereira Barreto são publicadas,
dois nomes destacam-se, o de Miguel Lemos e de Teixeira Mendes, Esta mudança de liderança e perspectiva teórica levaria Miguel
ao entrar em contato com a filosofia positiva através da matemática Lemos ao aprofundamento nas obras de Comte e:
e das ciências. Ambos republicanos, Miguel Lemos e Teixeira Mendes, Em pouco se transformaria em discípulo ortodoxíssimo da Religião
“entreviam na ciência fundada por Augusto Comte, as bases de uma da Humanidade. Não demoraria, de volta ao Brasil, ligado a seu
amigo Teixeira Mendes, que fundassem o Apostolado Positivista do
política racional”122.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 445 | História | 2010


Brasil. Ia agora ter início a fase do positivismo religioso em nosso Os adeptos do positivismo só aderiram “à República dois dias
país.127.
depois que ela foi proclamada”132, e em 21 de novembro ofereceram
O que fora antes a Sociedade Positivista do Rio de Janeiro, indicações urgentes para o desenvolvimento da recém criada
transforma-se, com a direção de Miguel Lemos, em Igreja Positivista República. Entre estas indicações, a manutenção definitiva da ditadura
do Brasil e pretendia “formar crentes e modificar a opinião por meio de republicana; a elaboração de um projeto de constituição, que combine
intervenções oportunas nos negócios públicos”128. os princípios da ditadura republicana com a liberdade espiritual, o
A adesão dos positivistas ao movimento republicano é bem particular. que, por sua vez, caracterizaria uma separação entre o Estado e a
O Manifesto Republicano, de 1870, foi uma declaração publicada pelos Igreja; e a “criação de uma única câmara geral, de eleição popular,
membros dissidentes do Partido Liberal com o ideário de derrubada da pouco numerosa e dedicada apenas aos problemas orçamentários e
Monarquia e o estabelecimento da República no país. destinada à fiscalização dos dinheiros públicos”133.
Todavia, afirma Cruz Costa, os positivistas “eram republicanos Sobre o grau de influência moral do positivismo, João Cruz Costa
mas o eram ao seu modo” . 129 conclui seu trabalho de 1971 afirmando que:

Embora concordando com os outros na superioridade da forma


O prestígio da doutrina fora ocasional, efêmero. As exigências da
republicana de governo, diferiam deles profundamente em muitos adesão religiosa impunham obrigações duras demais para as elites
pontos essenciais; em certos pontos estavam em completo criadas numa atmosfera voltariana. O positvismo-religião falhou,
antagonismo com os signatários do Manifesto de 1870. Em boa
verdade, estes eram antes de tudo democratas, e os positivistas, no embora um certo positivismo difuso, pragmático, se tenha mantido,
idealizarem a sua organização republicana, não eram propriamente e talvez prolongado o seu espírito em certas aventuras políticas do
isto, não pareciam cortejar com o elemento democrático; pelo
nosso tempo ... 134
menos, no tipo de governo que concebiam a Democracia não
ocupava um grande lugar; pode-se mesmo dizer que tinha pouco O positivismo difuso ou “um certo cientismo é uma marca
que fazer.130 característica do espírito do século XIX”135. Este tipo de positivismo
O nome de Benjamin Constant está ligado a uma influência do possui um sentido prático, do útil e do imediato, voltado para a ação,
positivismo no movimento da Proclamação da República. Desligado “correspondendo à índole de nosso espírito, deixou a sua marca na
do Apostolado, “não fez um sacerdócio do positivismo como religião. nossa cultura”136. Colaborando com este raciocínio ainda afirma em
Divulgou-o apenas, mais interessado propriamente no ensino do 1956: “Se o positivismo é ainda, como as outras doutrinas, produto
positivismo de A. Comte como filosofia” . A influência exercida por
131 de importação, nela há, no entanto, traços que revelam a sua mais
Benjamin Constant e por outros positivistas não exerceu influência perfeita adequação às condições de nossa formação, as realidade
determinante na prática, já que, a atmosfera política que vinha do império profundas do nosso espírito”137.
manteve-se a mesma no mínimo na década que seguiu a república. Concorriam ao lado do ecletismo e do positivismo a doutrina ou a

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filosofia católica ou ainda, a filosofia da Igreja. Estas três nomenclaturas nem a importância nem o alcance que obteriam o ecletismo e o
positivismo. 141
remetem aos textos de Cruz Costa a que mais ele dedica o assunto,
“História da Filosofia no Brasil” de 1945, “O pensamento Brasileiro sob Para Cruz Costa outras correntes de ideias estiveram presentes
o império” de 1958, “Panorama da História da Filosofia no Brasil” de no Brasil no século XIX, mas não com a mesma intensidade que o
1959 e “Introdução ao Estudo do Pensamento Brasileiro” de 1971. ecletismo, o positivismo, e a doutrina católica, todavia, é neste período
A filosofia da Igreja, desde o descobrimento, marcou que o positivismo declina e abre espaço para outras doutrinas com o
significativamente o pensamento brasileiro. Sobre a influência do materialismo e o evolucionismo.
pensamento deste período João Cruz Costa descreve: O cientismo que deixou sua marca no século XIX possibilitou o
O clero encontrava-se em decadência, a ponto do bispo D. Vidal desenvolvimento do evolucionismo, já que este também, “oferecia uma
haver escrito que a questão religiosa “havia feito um bem inaudito perspectiva positiva desta tendência filosófica”142 e proporcionaria
à fé entre nós ... os sacerdotes haviam sentido a necessidade de
mudar de vida, para poder erguer a fronte pura diante dos fiéis e “uma grande síntese do saber e, essas sínteses, parece, atraem o
diante dos inimigos de Deus”. Foi, cremos, precisamente, a famosa interesse dos que não passaram por uma autêntica formação crítica”143.
Questão Religiosa que reafirmou o interesse e deu nova orientação
A elite brasileira do momento, formada para o exercício da profissão,
à filosofia católica, no Brasil do século XIX. 138
viu nesta doutrina “justificativa para a sua atitude política, social e até
Os representantes desta corrente inserem-se no mesmo quadro de religiosa”144.
importação de idéias européias, destaque é dado para “José Soriano
Estes materialistas, autodidatas pouco afeitos ao trato das
de Souza que possuía sua filosofia ligada a corrente neotomista”139. ciências, fundamentavam suas idéias num cientismo bastante
Todavia: vulgar, desprovido de senso crítico. Tinham pela ciência um
verdadeiro culto e nesta julgavam encontrar uma espécie de nova
Numa sociedade em que era ainda vigente a escravidão, em que Summa, definitiva do saber. Discípulos filosofantes de Moleschott,
classes ricas e eruditas seguiam um confuso ecletismo pragmático, de Büchner, de Vogt, de Haeckel, houve-os às dúzias nas chamadas
com tinturas voltarianas, o catolicismo, religião do Estado, reduzia- profissões liberais, espécie de nova fidalguia burguesa constituída
se apenas às necessidades praticas da vida social.140 de bacharéis em Direito, doutores em Medicina ou em ciências
físicas e naturais ... Desprovidos, em geral, de uma formação
E em artigo anterior afirmava Cruz Costa: filosófica adequada, os doutores autodidatas, sôfregos de
respostas definidas e definitivas sobre os problemas do universo e
Marcando nossa história com a sua presença, o catolicismo não
do homem, voltaram-se logo para as novas idéias que a Alemanha –
se salientou, pois, no século XIX, pela sua espiritualidade nem
tida então como a própria sede da Sabedoria – nos enviava.
pelo elevado nível intelectual de seu clero que, conformado
ao regalismo, viveu em paz com o povo, acariciando-lhe as
As ideias alemãs presentes nas obras de Silvestre Pinheiro Ferreira,
superstições porque delas também estava impregnado. As elites,
voltarianas, eram falsamente devotas (...). Assim, as correntes Antônio Feijó, Martin Francisco Ribeiro de Andrada são bem resumidas
filosóficas aconselhadas ou seguidas pela Igreja não tiveram por João Cruz Costa em Panorama da História da Filosofia no Brasil:

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Quando nos referimos a Silvestre Pinheiro Ferreira, que as idéias autor que seria completamente desconhecido para as novas
da filosofia alemã já eram vagamente conhecidas no Brasil em gerações.148
1813. Discutiu-se também se Diogo Antonio Feijó, (1784-1843),
grande figura da política do Império, foi um kantiano. De fato, Feijó, Deste momento que culmina com a instauração da república, e das
quando esteve em Itu, ali fez cursos de Filosofia, ensinando por idéias que percorreram o século XIX, ficam marcadas pela figura de
umas apostilas suas, o seu compendio “extraído de autoridades ate
dois tipos de letrados. “O erudito que nos deu a glosa, quase sempre
então desconhecidas”. Eugenio Egas publicou em 1912 as Noções
Preliminares de Filosofia, de Diogo Antonio Feijó, assim coma imperfeita de algumas correntes filosóficas do século XIX e o que se
a sua lógica e, no primeiro destes trabalhos, há uma referencia voltava para a ação, tentando, com as idéias importadas, justificar ou
a Emmanuel Kant. Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-
transformar a conduta social e política do país”149.
1844), irmão de Jose Bonifácio, também parece haver dado aulas
de “filosofia eclética com ressaibos de Kant” e, Spix e Martius, nas
suas Viagens no Brasil, nos Anos de 1817-1820, referem-se também
2.3 A transição entre o século XIX e XX e
a um certo Antonio Ildefonso Ferreira, professor de Filosofia em algumas considerações sobre o século XX
São Paulo que, na opinião deles, estava “bem informado sobre os
sistemas dos filósofos do Norte”. Haviam sido eles - escrevem - A instauração do modelo republicano no Brasil decorre da influência
“muito agradavelmente surpreendidos ao acharem as idéias da do processo republicano iniciado no fim do século XVIII, em especial
escola alemã naturalizadas em terras americanas”. Supomos que
as primeiras manifestações de germanismo chegaram ao Brasil na França e com o advento do republicanismo no Estado Unidos da
através das obras dos ideólogos e dos ecléticos, principalmente América. O império perdeu o apoio econômico, militar e social e era o
através dos livros de Victor Cousin145. único país na América do Sul que mantinha a monarquia como forma de
O movimento denominado germanismo vê na Faculdade de Direito do governo. O período caracterizado entre a instauração da República e o
Recife e na figura de Tobias Barreto sua afirmação doutrinária no Brasil. início do século XX, tem como figuras centrais, para Cruz Costa, Silvio
Tobias Barreto se afirmaria, segundo Cruz Costa, na história intelectual Romero e Raimundo de Farias Brito. Também o declinio do positivismo
brasileira “porque apresentava novas idéias, porque nos punha em aparece neste momento, e que ja foi referido anteriormente.
contato com outros aspectos da cultura européia, porque pregava uma Sílvio Romero “se parece muito com as cousas brasileiras: é um
reforma e o momento era propício à pregação de reformas”146. tumultuar de contrastes, de esperança, de desilusões, um misto de
O materialismo que influenciara o grupo germanista não seria o simplicidade e de complicação, de erros tremendos e de boa vontade
“de Büchner, de Vogt ou de Haeckel, como não seria também a filosofia em acertar”150. Buscava compreender as ideias, tanto alemãs, quanto
de um Kant, de um Schelling, de um Fichte, ou de um Hegel”147. francesas ou inglesa, “procurando entender a tradição portuguesa e as
transformações que esta sofreu no contacto com o meio novo da terra,
O que animou principalmente o entusiasmo dos alemanistas da
escola teuto-sergipana e dos seus discípulos foi, um germanismo mergulhando nas raízes do próprio Brasil, não fez da cultura européia o
de segunda ordem no qual tem posição destacada Ludwig Noiré, isolador que tem sido para tantos letrados brasileiros”151.

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Ele não considerava a filosofia como qualquer dessas Já o apontava desta maneira quanto nas suas conclusões sobre o
monstruosas construções fantasistas, abstratas e arbritárias,
século XIX na Filosofia no Brasil descrevia as obras de Farias Brito como
que tinham o nome de sistemas e a pretensão de dar a chave
do enigma de todas as coisas, e que só deve ter na conta uma fórmula tenebrosa da qual “a nossa terra esta longe: Farias Brito
de filósofos os autores de tais fábricas ciclópicas e seus é, com certeza, a expressão mais seca da história intelectual brasileira.
discípulos confessos. Os sistemas filosóficos eram, para ele,
apenas momentos da história da inteligência. Bem brasileiro É a última expressão do nosso filosofismo do século XIX. O que não é,
na desconfiança pelas doutrinas, na suspeição das construções certamente, é o interprete da nossa consciência nacional”155.
ideológicas, criticava com desenvoltura as cosmogonias,
A interpretação da consciência nacional apareceria com mais
fisiofilias, psicofilias, fisiogenias e quejadas que ele chamava
de patacoadas. Em suma, a filosofia não era, para ele, um feixe força após a primeira Guerra, já que, o republicanismo não marcou
de fórmulas.152 definitivamente uma alteração na característica intelectual do Brasil;
o Positivismo obteve seu ápice no momento em que a Constituinte de
Também discípulo de Tobias Barreto, Fausto Cardoso, não
1891 é elaborada e cairia em declínio posteriormente; a filosofia da
apresentava nenhuma originalidade em sua obra, esta é influenciada
Igreja Católica crescia dada a emancipação que o Estado empreendera,
por Lange e Von Ihering. Ao lado deste, “Tito Lívio de Castro, Oliveira
por fim, o germanismo, cada vez mais, ganhava espaço. “Podemos,
Fausto, Júlio Trajano de Moura, Marcolino Fragoso constituem um
pois, dizer que, ate 1922, esta foi, mais ou menos, a situação da
grupo de evolucionistas nos quais se nota, sobretudo, interesse pelas
filosofia no Brasil”156.
questões antropológicas e etnográficas”153.
João Cruz Costa afirmava em 1945 que “seria temerário querer
Farias Brito é normalmente vinculado a Escola de Recife, todavia,
examinar as correntes de pensamento existentes, entre nós, no
sua formação passou pelos conhecidos professores da Escola, formou-
decorrer do século XX”157, já que, até o momento, segundo ele, “falta-
se em direito na Faculdade de Direito de Recife, onde foi aluno de Tobias
nos ainda para isso suficiente perspectiva. As tendências manifestadas
Barreto. Transfere-se para o Pará e começa a lecionar na faculdade de
neste nosso século estão ainda à espera que o tempo lhes dê a
direito deste estado. Terminou sua vida no Rio de Janeiro ministrando
necessária estratificação”158. Todavia, este exame começa a esboçar-
a cátedra de lógica no Colégio Pedro II. Ao analisar o autor, Cruz Costa
se em suas obras, com mais segurança, a partir de 1956, em especial
define sua obra como:
com a publicação de “Contribuição à História das Idéias no Brasil”,
folhuda, monótona, eterno comentário, nunca terminado, das onde transita entre as primeiras publicações do início do século até a
mais diversas tendências, sugeridas por leituras que traduzem
as vicissitudes da importação cultural, do aparecimento, nas “revolução” de 1930 sem problema algum.
livrarias, das novidades européias e que, frequentemente, Em 1958, em artigo publicado na Revista Brasiliense, intitulado
levam filósofos a mudar de rota, sem o afastar – é justo que
“O pensamento brasileiro na primeira fase do século XX”, ressalta a
se ajunte – da sua preocupação de reforma ou de regeneração
moral.154 permanência das tendências de pensamentos que vinham de meados do

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século XIX, mas acrescenta algumas figuras ao quadro do pensamento lamentaram, pois viam o desenvolvimento da guerra como resultado
brasileiro. Euclides da Cunha, com Os sertões, revelaria como sugere da evolução tardia da propaganda positivista nos países envolvidos
nosso autor: no conflito.
Através das páginas de seu livro, às elites do litoral, mergulhadas Caio Prado Júnior, importante pensador do período, lançaria as
no transoceanismo a que se referia Capistrano de Abreu e que se bases do materialismo histórico aplicado ao pensamento e a história
abismavam na nostalgia paradoxal e pasmada por uma cultura para
cujo processo não havia colaborado e da qual elas eram apenas
brasileira, com o conhecido livro Evolução Política do Brasil (1933).
meras consumidoras, todo o ridículo de sua situação. (...) Somente Todavia, em 1942, com Formação do Brasil Contemporâneo, Caio
Euclides da Cunha tivera coragem de dar o grito de alarma que é
Prado Júnior inseria-se no quadro intelectual brasileiro com importante
Os Sertões, contra os que porfiavam em construir para o Brasil
uma fachada européia.159 influência.
Com a fundação do Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF), no
No mesmo artigo, a influência da Primeira Guerra Mundial aparece
fim da década de 1940, os intelectuais que congregavam com esta
como determinante na percepção ou na perspectiva aberta a outras
instituição constituem um grupo específico de divulgação das idéias no
idéias. O maximalismo iria colaborar na constituição do Partido
Brasil. Com o lançamento da Revista Brasileira de Filosofia (RBF), em
Comunista e o movimento modernista, ambos se estabeleceriam como
1951, um espaço de divulgação efetiva é criado e nele se reproduzem
correntes de muita influência no decorrer do século. Ao maximalismo
assuntos de variados temas filosóficos.
o nome de Astrogildo Pereira e ao modernismo Graça Aranha, são
Em 1955, o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) é
os nomes que Cruz Costa coloca em evidência, este pelo papel de
criado e se torna um centro de discussão sobre o desenvolvimentismo
“elo entre o passado recente e o espírito de mocidade”160, aquele por
com extrema influência do Estado sobre o mandato de Kubitschek.
“constituir o núcleo essencial do Partido Comunista”161.
O parágrafo de conclusão desta listagem de nomes aponta para o
No ano seguinte, 1959, em Panorama da História da Filosofia no
grande número de filosofantes que existem no Brasil, “mas infelizmente
Brasil publica, basicamente, uma síntese de Contribuição à História das
o intercâmbio entre os estudiosos de Filosofia, assim como a bibliografia
Idéias no Brasil, todavia, o período do século XX é uma listagem dos
filosófica no Brasil, são quase, senão mesmo nulos”163.
nomes e obras. Partindo em especial de Jackson Figueiredo passando
Em 1962, também em artigo para a Revista Brasiliense, “As
por Leonel Franca e por fim Alceu de Amoroso Lima com uma intenção
transformações do pensamento brasileiro no século XX e o nacionalismo”,
nacionalista católica, que apareceram “no movimento de idéias ou nas
obras dos intelectuais brasileiros que escrevem principalmente a partir constrói um elo, entre a ruptura com as ideias herdeiras do passado

da primeira guerra mundial”162. colonial e monárquico e o nacionalismo. Considerando que:

Da mesma forma, os positivistas, ainda atuantes, manifestaram-se


sobre a Grande Guerra fundamentados no ensinamento de Comte, e

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O que se dá hoje é diferente. Há nos nossos dias um conteúdo do Pensamento Brasileiro”, de 1971, destaca a fundação da Faculdade
revolucionário inequívoco nos movimentos pela emancipação e
de Filosofia e Letras em 1908, de orientação neotomista e ligada ao
as verdadeiras elites intelectuais, progressivamente libertadas
da submissão que as prendia à classe senhorial, e também ao mosteiro de São Bento. E a fundação, em 1934 da Universidade de
fascínio – àquele enlevo por tudo quanto nos vinha do estrangeiro São Paulo e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Outros fatores
que Capistrano de Abreu chamou de transoceanismo – voltam-se
agora, de preferência, para a realidade histórica que lhes vai em são abordados pelo autor, mas já os demos destaque.
redor, para os problemas da Nação. Daí o interesse e a importância Como já foi apontado, a experiência das ideias no Brasil é, para
que o nacionalismo assume no Brasil atual.164
João Cruz Costa, experimentada por dois modelos de colonizadores:
Colaborando com uma conclusão elaborada anteriormente em que o aventureiro, que abrirá caminhos e construirá cidades; e ao jesuíta,
afirmava: que modelará a inteligência brasileira. O contraste entre estes dois
modelos constituiria uma característica do brasileiro e de suas idéias.
Ao transoceanismo saudosista de uns, e ao nacionalismo afoito
de outros, iria suceder uma geração na qual aparecem homens “É seu condicionalismo histórico que dá sentido ao seu pensamento,
dotados de uma formação nova e de uma técnica intelectual mais (...) para nós, a filosofia autêntica sempre esteve ligada à ação”168.
adequada à compreensão dos problemas universais da cultura e,
talvez por isso mesmo, a uma compreensão mais exata do País e de Em um de seus últimos trabalhos, João Cruz Costa reforça esta
sua apaixonante história. Tal foi, assim nos parece, um dos aspectos ideias, em sua apostila a Introdução ao estudo do pensamento brasileiro,
do pensamento brasileiro nesta primeira metade do século.165
apoiado em Mario de Andrade afirma que “o nosso pensamento foi
Depois de quase uma década publicaria “Pequena História da uma exposição sedentária de doutrinas alheias [...] falta, no exame das
República”, em 1968. Neste livro, sua análise se volta para a desestruturação idéias filosóficas, mais uma perspectiva: a que resulta do impacto dos
da monarquia e culmina nos eventos de 1964, passando detalhadamente sistemas importados com a nossa dimensão histórica”169.
pela “revolução” de 1930, as fases do governo Vargas até o plebiscito entre Desta maneira, seria indispensável “que a técnica seja perfeita no
parlamentarismo ou presidencialismo de 1963 e a fuga de João Goulart aprendizado e no trabalho filosófico, mas é mister também colocar a
em 1964, mas com a mesma recomendação de 1945. “É cedo ainda para filosofia em face da nossa experiência histórica”170, considerando que
examinar o que se passou neste quase ano e meio”166. “não devemos, nem podemos separar a filosofia das condições sociais,
Devemos também destacar que ao terminar os apontamentos econômicas, políticas e religiosas, em suma, de tudo que acompanha,
sobre a filosofia até a década de 30, João Cruz Costa, “nota um grande que esclarece o aparecimento e o evolver do pensamento filosófico”171.
interesse pelos problemas filosóficos, o que talvez coincide com um Somente com a filosofia pensada sobre nossa experiência histórica,
progresso da consciência no Brasil” . 167 um sentido mais preciso de nossa própria história será adquirido,
Em seu último escrito, produzido para um curso ministrado no permitindo um horizonte de expectativa que, por sua vez, novas
Instituto de Estudos Brasileiros, sobre o título de “Introdução ao Estudo perspectivas históricas e mesmo historiográficas.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 451 | História | 2010


3 OS CRÍTICOS DA OBRA DE eram oferecidos. Para justificar esta afirmação, recorre a um artigo
JOÃO CRUZ COSTA de avaliação dos cursos oferecidos no primeiro semestre escrito por
Miguel Reale. Neste artigo, além de levantamento dos números de
Toda formulação epistemológica, pertença ela a qualquer área do freqüentadores dos cursos, Reale afirma:
pensamento humano, tende a sofrer críticas e questionamentos que
Ao mesmo tempo o instituto, visando fins que ultrapassam os
implicam, por sua vez, adesão ou rejeição por parte de seus críticos. estreitos limites de uma doutrina ou de um ensino de escola, abre
O que pretendemos com este último capítulo é analisar dois blocos de suas portas a todos os amantes desinteressados da filosofia, sejam
quais forem suas tendências. Somente num clima de irrestrita
críticas desenvolvidas à filosofia que João Cruz Costa desenvolveu ao
liberdade de pensamento é possível viver e respirar as idéias
longo de sua vida e em suas obras. Para isto, dividimos o capítulo em filosóficas.172
duas partes: em primeiro lugar de que maneira o Instituto Brasileiro
A partir desta afirmação, percebemos uma proposta do IBF,
de Filosofia (IBF) e alguns de seus colaboradores construíram a sua
a saber, pretendiam marcaram um posicionamento diferente dos
crítica sobre Cruz Costa; em um segundo tópico, se buscará perceber
elaborados acerca da filosofia, principalmente pelos estudos filosóficos
de que maneira a contribuição de Cruz Costa para a história das idéias
desenvolvidos pela Faculdade de Filosofia Ciência e Letras (FFCL) de
no Brasil foi revista e resignificada por Bento Prado Júnior e Paulo
São Paulo.
Eduardo Arantes.
Este repensar proposto pelo IBF encontra na matriz culturalista
3.1 O Instituto brasileiro de filosofia (IBF) seus fundamentos. Das diferentes correntes do pensamento filosófico,
a corrente culturalista foi presença constante durante todo o período
Fundado em São Paulo no final dos anos de 1949, o IBF possuía
de produção da Revista Brasileira de Filosofia (RBF)173 e a crítica a
na figura de Miguel Reale seu fundador e presidente, cargo este que
João Cruz Costa, consequentemente, possui características desta
exerceu até sua morte em 2006. O instituto promovia seminários,
matriz filosófica.
conferências, congressos e cursos de filosofia com professores e
A corrente culturalista, através do IBF, se tornou a grande animadora
filósofos brasileiros e estrangeiros, enfim ocupavam-se de propostas
do movimento filosófico no país por ter logrado congregar o maior
comuns a institutos de filosofia, ou seja, promover debates filosóficos
número possível de tendências filosóficas. Segundo Jorge Jaime, a
em diversas instâncias e níveis.
corrente culturalista “cuida de desenvolver a temática neokantiana”174.
Segundo Elisabete Matallo Marchesini de Pádua, em sua tese
A filosofia contemporânea ao IBF se formou precisamente como uma
de doutoramento, defendida em 1998, na Faculdade de Educação
reação antipositivista que não se limitava a criticá-lo, mas se lançava
da USP, o projeto filosófico do Instituto e sua intencionalidade para
à tarefa de renovar esta própria filosofia. Segundo Jorge Jaime o
como a filosofia era de manter um caráter pluralista nos cursos que
caminho mais fértil pelo qual o pensamento brasileiro enfrentou tal

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 452 | História | 2010


problema consistiu em explorar a hipótese de considerar o homem atenção aos resultados destes novos ciclos que são perceptíveis na
como consciência. figura de Cruz Costa, segundo Paim, e intitulado “a versão positiva
A corrente culturalista recebia especial difusão pelo IBF, e a do marxismo”.
presença da temática culturalista durante todo o período de produção A primeira consideração a ser feita sobre Antonio Paim, no que diz
da Revista Brasileira de Filosofia (RBF) é também importante, pois, respeito à Cruz Costa, é a afirmação de que este haveria retomado
ela mesma – a corrente culturalista – deu origem ao Instituto Brasileiro e refinado as premissas do pensamento de Leônidas de Rezende. A
de Filosofia.175 saber, de que a imagem de Comte e a filosofia positiva deveriam ser
A RBF tem sido publicada com periodicidade trimestral pelo preservadas sem a devida preocupação em minimizar as limitações
IBF desde 1951, sendo um órgão de divulgação deste instituto. A deste filósofo e de sua filosofia.
apresentação do primeiro fascículo, elaborada por Miguel Reale, Afirmar que João Cruz Costa retoma as considerações de Leônidas
trata dos propósitos e princípios desta Revista. Ela teria a “finalidade de Rezende sobre uma possível problematização da relação entre
primordial de reunir, em uma obra impessoal e objetiva, os esforços marxismo e comtismo visava, simplesmente, confirmar sua tese acerca
criadores de quantos, em nossa terra, se dedicam aos problemas da do o marxismo acadêmico178, necessária para o desenvolvimento da
Filosofia” . Considerando a expectativa em torno da revista e tendo
176
sua História das Idéias Filosóficas no Brasil, ao menos no que diz
em vista o espaço de experiência vigente Antonio Paim, historiador respeito ao positivismo e ao marxismo.179
e filósofo das idéias no Brasil, colaborador da RBF e pertencente ao Percebemos nas leituras das fontes, ou seja, da obra de
grupo do IBF, afirma que “não é possível fazer-se uma idéia de nossa João Cruz Costa, que em nenhum momento este faz referência a
evolução filosófica neste pós-guerra sem o concurso da Revista Leônidas declarando afiliações ou retomadas de pensamentos. Uma
Brasileira de Filosofia”177. possibilidade de investigação seria analisar os textos de Cruz Costa e
Não sem intenção, alocamos o nome de Antonio Paim ao fim do os de Leônidas de Rezende tentando identificar semelhanças textuais
parágrafo anterior pretendendo traçar sua crítica como representante, ou ideológicas ou ainda doutrinais, trabalho que não foi possível de
mesmo que não oficialmente, das perspectivas filosóficas do IBF. se realizar dada falta das fontes relacionadas a Leônidas de Rezende.
Pensaremos as considerações desenvolvidas por Antonio Paim sobre Ora, não encontramos motivos claros para que João Cruz Costa
João Cruz Costa que aparecem no livro “História das Idéias Filosóficas omitisse tal referência. A título de justificação e exemplo, citamos
no Brasil” de Antonio Paim escrito em 1967. Para isto usaremos a alguns números. Em Contribuição à História das Idéias no Brasil, seu
quarta edição revisada e aumentada publicada em 1987. principal texto, João Cruz Costa se utiliza aproximadamente de 1300
Antonio Paim enquadra João Cruz Costa dentro do que ele chamou citações. Destas, percebemos além do aparato teórico ao qual ele se
de “os ciclos positivistas e marxistas do cientificismo” dando especial ampara, podemos afirmar sua preocupação com as questões sobre as

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quais escrevia, em especial com livros ou artigos escritos a respeito Em particular, um comentário que Vita faz sobre o positivismo,
dos mesmos temas. revela a perspectiva que João Cruz Costa tem das ideias e em especial
Damos especial atenção a esta problemática posta por Antônio do positivismo, segue o comentário em questão:
Paim sobre Leônidas de Resende, pois consideramos que esta Partindo da experiência, o positivismo acabou por confluir numa
questão, além de permear a sua obra visando justificar sua perspectiva visão unitária e universalista da realidade: unidade da natureza
física em suas leis, e unidade da sociedade humana realizada pelas
da História das Idéias no Brasil, o que não concordamos, produziu uma
próprias leis. Isto explica porque o positivismo, muito mais que
perspectiva da história da filosofia sobre esta questão que foi sendo mero método ou doutrina filosófica, foi uma forma mentis, ou seja:
reproduzido sem a devida crítica. qualquer que seja o objeto de investigação, é preciso considerar
a experiência como o único critério da verdade, instaurando não
Postas estas questões que Antonio Paim elabora sobre Cruz Costa, apenas uma síntese filosófica, mas principalmente uma “ordem
consideraremos a partir de agora as resenhas escritas por outros filosófica” que engloba ciência e história.183
autores sobre alguns textos de Cruz Costa e que foram editadas na
Como já foi descrito, a filosofia para João Cruz Costa possui
RBF. São cinco resenhas escritas para a revista: três delas escritas por
características pragmáticas. Esta consideração de Vita somente
Luís Washington Vita, a primeira de 1959 sobre o livro “Augusto Comte
reforça esta ideia e reflete a perspectiva sobre as ideias do nosso
e as origens do positivismo”, a segunda de 1960 sobre “Panorama da
autor.
história da filosofia no Brasil”, e a terceira de 1968 sobre “Contribuição
As resenhas seguintes são sobre o “Panorama da historia da
à história das idéias do Brasil”180; uma escrita por Miguel Reale, em
filosofia no Brasil”, nestas, seus dois autores, Vita e Reale, parecem
1961, também sobre “Panorama da história da filosofia no Brasil”181;
complementarem-se ou mesmo sobrepor-se. Em especial, a resenha
e uma última resenha escrita por Ivan Lins em 1967 sobre o livro
elaborada por Miguel Reale, reflete com muita clareza a ideologia
“Contribuição à história das idéias do Brasil”182.
proposta pelo IBF, enquanto Luis Washington Vita procura resenhar
A primeira resenha de Vita sobre o texto de Cruz Costa acerca do
efetivamente o texto de Cruz Costa.
positivismo, suas origens e de seu fundador é, na verdade, um comentário
O texto escrito por Vita, em final de 1960, dá especial atenção à
sobre o próprio positivismo tendo como referência o texto de Cruz Costa
preocupação que Cruz Costa desenvolve sobre o caráter nacional e
não elaborando crítica alguma à obra referida. Ao contrário disto, tece
volta a pontuar a respeito da experiência da coletividade humana como
comentários e elogios sobre o texto de João Cruz Costa pensando a
elemento determinante na composição e compreensão da filosofia
contribuição positiva deste através da percepção de que a experiência
nacional. Vita, em conclusão da resenha, cita um longo trecho da
deve ser compreendida e percebida como critério para obtenção de
introdução do texto de Cruz Costa:
dada verdade e que permitiria a instalação de uma síntese filosófica que
O tempo e a terra – a História – criam condições e conceitos, já
englobaria, além da própria filosofia, a ciência e a história. dizia o velho Fernão de Oliveira. Este nacional (um possível caráter

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nacional) é o que estaria na base da reinterpretação que fazemos tendências do pensamento brasileiro em suas diversas manifestações.
dos modelos europeus e o que impediria uma total identificação
Defendia esta perspectiva tendo em vista o forte academicismo que
nossa com o sentido da problemática do pensamento europeu
que nos foi e ainda é transmitido. Assim, no processo de nossa dominava as pesquisas e investigações filosóficas e que ele chamou
identificação com tais problemas, há uma reinterpretação destes, em suas memórias de “senhores exclusivos da pesquisa filosófica”.
da qual resulta o modelo passar por uma deformação na qual já
aponta uma certa originalidade que se verificaria no sentido que
As resenhas que serão comentadas a seguir possuem características
assumem, para nós, os valores e suas aplicações.184 bastante diferentes. A resenha escrita por Ivan Lins foi elaborada
efetivamente pensando o texto enquanto uma contribuição, como lhe
Esta citação é tributária da tentativa de caracterizar a filosofia
sugere o título. Diferentemente Vita escreve sua resenha buscando
nacional como particular, produzida em nosso país, mesmo que em uma
defender o posicionamento do IBF e de sua própria perspectiva
instância interpretativa. Vita é altamente cordial em suas considerações
filosófica.
sobre a obra, mantém a crítica em um nível elevado, mesmo quando
As seguintes resenhas escritas versam sobre “Contribuição
discorre sobre a posição de Cruz Costa sobre filósofos e filosofantes185.
à história das idéias no Brasil”. O texto de 1967 é de Ivan Lins
Cruz Costa considera a produção intelectual filosófica brasileira como glosa
possui um tom defensivo e elogioso. Diferente das outras resenhas,
sobre as grandes matrizes filosóficas europeias, diferente de Vita, Paim, Reale
Ivan Lins busca perceber o texto como produto de um filosofante,
e do IBF que acreditam e defendem uma produção filosófica estritamente
preocupado com a história das idéias e não como um filósofo que
nacional, ou seja, produzida por filósofos.
Sobre o mesmo texto Miguel Reale, diferente de Vita, escreve pretende formulações teóricas. Esta abordagem de Lins permite um

uma resenha quase apologética em favor dos filósofos nacionais. Os contraponto, em especial à resenha elaborada por Reale. Apesar de

parágrafos iniciais compõem uma justificativa do porquê de escrever não resenharem a mesma obra o que aparece é esta oposição entre
uma resenha sobre o mesmo texto que Vita havia resenhado meses metafísica e material, filósofo e filosofante. Uma afirmação de Lins
atrás, ou melhor, na edição anterior da Revista Brasileira de Filosofia. permite que vislumbremos este debate implícito. Afirmava Lins:
O tom desta justificativa se esclarece nas linhas seguintes do Quando em 1956, saiu a primeira edição do livro do Professor Cruz
Costa, ouvi um destacado mentor do ISEB fazer-lhe restrições
texto. Duas questões são levantadas por Reale. A primeira diz respeito
por ter muitas notas. Não me contive e ponderei-lhe: “o senhor
à suposta negação de Cruz Costa à metafísica e a outra gira em torno confunde livro de história e cultura com livro de imaginação e
de provável preconceito desenvolvido pelo professor da USP sobre os poesia. O professor Cruz Costa não fêz uma “novela” ou um
“poema” sobre as idéias no Brasil, mas uma história, e sendo assim
bacharéis que vivem a diletar sobre filosofia. não podia deixar de documentar suas afirmativas”.186
Da mesma maneira que Vita, porém mais incisivo, Reale procura
defender a perspectiva do IBF, que tomaria a filosofia como pensamento Seguindo nesta perspectiva, a última resenha, escrita por Luís
desvinculado de perspectivas políticas e ideológicas e aberto as Washington Vita em 1968, também sobre “Contribuição à história das

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idéias no Brasil”, trazia exposta a ideia de que haveria em Cruz Costa professores do próprio departamento de Filosofia da USP, no início da
uma retomada e um refinamento das elaborações positivas-marxistas década de 1980, é que as obras de João Cruz Costa são reavaliadas
do pensamento de Leônidas de Rezende. Sistematizado, Vita aponta a evidenciando seus méritos e deméritos. O seguinte tópico discorre
seguinte perspectiva: marxismo/comtismo procedido pela criação do sobre esta reavaliação.
partido comunista e por Luiz Carlos Prestes, tendo neste um expoente
3.2 Bento Prado Júnior e
do maximalismo, que foi retomado por Leônidas de Rezende do qual
Paulo Eduardo Arantes
Cruz Costa seria tributário. Além disto, a alusão a Clóvis Beviláqua
pretende estabelecer o debate em torno da negação à metafísica a Os nomes de Bento Prado Júnior e Paulo Eduardo Arantes
qual Miguel Reale se referia em resenha anterior. Clóvis Beviláqua aparecem aqui com a intenção de apontar uma retomada crítica sobre
afirmava que se em algum momento da trajetória intelectual brasileira a obra de João Cruz Costa, no início da década de 1980.
alcançássemos um grau significativo de produções filosóficas estas Dois artigos escritos por Pedro Leão da Costa Neto e uma
não surgiriam da metafísica. Outra consideração que se liga a esta dissertação de mestrado escrita por Tânia Gonçalves nos levaram
é a questão pragmática da filosofia que João Cruz Costa considera a considerar os nomes de Bento Prado e Paulo Eduardo relevante
determinante para a compreensão da história das ideias no Brasil, para a compreensão desta revisão de Cruz Costa. Os dois primeiros
todavia, Vita tece o seguinte comentário a respeito disto: artigos escritos são de Pedro Leão, o primeiro, de 1999, escrito para
é esta posição doutrinária que levará Cruz Costa a adotar, o “Dicionário de educadores no Brasil: da colônia aos dias atuais” é
metodologicamente o binário do evolver político e econômico como um verbete intitulado João Cruz Costa. Neste verbete, o professor
condicionador da filosofia no Brasil, defluindo daí uma estranha
história das com predominância daquela (história) e mera presença afirma que João Cruz Costa, ao ser lembrado pelos críticos que
destas (idéias) que só adquirem alguma significação quando elencamos no tópico anterior, não sofreu uma retomada crítica da sua
engajadas.187
obra. Em seguida, “podemos afirmar que somente com os artigos a
Deste debate em torno do pragmático, de filosofias nacionais, dos ele (Cruz Costa) dedicado por Bento Prado Jr. na década de 80 e por
filósofos e filosofantes, da negação ou aceitação da metafísica, da Paulo Eduardo Arantes é que lhe foi restituída a verdadeira dimensão
filosofia acadêmica supostamente engajada política e ideologicamente crítica”188. Em artigo posterior, escrito na Revista da Sociedade
contra uma filosofia “pura” praticada pelo IBF é que estes debates Brasileira de Pesquisa Histórica, em 2002, intitulado João Cruz Costa:
sobre a filosofia no Brasil se desenvolvem, ao menos em São Paulo. historiador das idéias no Brasil, a mesma questão é retomada por
Estas brigas filosóficas acabaram por afastar João Cruz Costa Pedro Leão.
dos dois grupos, o grupo em torno do IBF e o grupo de professores Ainda a título de justificativa retomamos a discussão sobre
e acadêmicos da FFCL. Somente com a retomada, por parte dos esta questão da revisão da obra de Cruz Costa elaborada por Tânia

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Gonçalves em dissertação de mestrado apresentada ao departamento de seu livro “Um departamento francês de ultramar: estudos sobre a
de educação da USP sobre o título “João Cruz Costa educador: formação da cultura filosófica uspiana (uma experiência nos anos 60)”
contribuição ao debate sobre a filosofia como formação cultural”. Nesta de 1994. Paulo Eduardo Arantes contribui com um capitulo para a
tese, ela afirma que “o departamento de filosofia deixou a obra de publicação “A filosofia e seu ensino” com o título “Cruz Costa, Bento
Cruz Costa marginalizada até os anos oitenta, quando ele é retomado Prado Jr. e o problema da Filosofia no Brasil – uma digressão”. Por fim,
e revalidado pelos professores do próprio departamento”189. este mesmo autor traça algumas considerações sobre Cruz Costa em
Segundo a própria Tânia Gonçalves, os méritos da obra de Cruz “O Fio da meada: uma conversa e quatro entrevistas sobre filosofia e
Costa elaboradas por estes dois professores, Bento Prado Júnior vida nacional” de 1996. Todavia, os textos anteriores aprofundam com
e Paulo Eduardo Arantes, estão na sua desconfiança em relação à mais precisão as questões em torno de Cruz Costa.
insuficiência da produção filosófica ligada aos departamentos de Postas estas questões pontuais sobre as fontes utilizadas neste
filosofia das universidades, insuficiências entendida aqui em dupla momento do texto, passamos para a análise das revisões elaboradas
perspectiva, no sentido de qualidade intelectual e na quantidade de por estes dois professores, um dos quais foi aluno de João Cruz Costa,
produção de material. Bento Prado Jr., e outro professor do departamento de filosofia da
Devemos destacar que as considerações de Bento Prado Jr. USP, Paulo Eduardo Arantes.
possuem dois momentos distintos. O primeiro momento é a elaboração Em seu artigo “O problema da filosofia no Brasil”, Bento Prado
do texto “O problema da filosofia no Brasil” escrito em 1968 no qual, afirma que João Cruz Costa pretendia com sua obra responder a
segundo ele mesmo, era uma crítica que não havia sido bem escrita, questão sobre o que era e como se articulavam a filosofia ou filosofias
como João Cruz Costa a elogiara. “Quando ele dizia que a minha crítica no Brasil. Para isto, recorre à necessidade de reconhecer em Cruz
a ele era muito bem escrita, muito bem pensada, ele estava errado, e só Costa o caráter historicista191, mesmo as críticas dos grupos do ISEB
vim a descobrir depois [...]” . O segundo momento é a reavaliação de
190
e do IBF deveriam, afirma Bento Prado Jr, perceber que qualquer
suas considerações sobre a obra de Cruz Costa feitas em 1968. Esta tentativa de remontar ou traçar características particulares sobre as
reavaliação é escrita em 1986 e está na obra “Inteligência Brasileira”, formas do pensamento brasileiro, ou ainda, “o perfil atual – destas
com o título do artigo, “Cruz Costa e a História das Idéias no Brasil”. filosofias – só é possível, nessa perspectiva, através da recuperação
No mesmo momento em que Bento Prado Jr. escreve seu texto, de sua origem”192. Dentro da perspectiva historicista, é que a obra
Paulo Eduardo Arantes retoma a importância da obra de Cruz Costa de João Cruz Costa deve ser revista, segundo Bento Prado Jr que
para os estudos da filosofia brasileira, ou seja, no inicio dos anos de afirma:
1980. Escreve “Cruz Costa e herdeiros nos idos de 60” publicado pela
Revista Filosofia e Política em 1985 e aparecendo como capítulo do

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Na obra de João Cruz Costa não encontramos a exposição de uma É um sentido de ambigüidade; ao mesmo tempo em que ele tinha
metafísica assim discutível e sim minuciosa historia das idéias. um sentido muito realista da nossa paisagem cultural e do oco
Mas nem por isso essa historia deixa de implicar uma série de que atravessava normalmente o discurso filosófico, tinha respeito
pressupostos de natureza filosófica. E é precisamente a natureza excessivo pela tradição filosófica, principalmente a francesa [...].
dessa filosofia implícita – do historicismo a que já aludimos – que O que a de rico em Cruz Costa é justamente esta maleabilidade,
deve ser analisada e discutida.193 para usar uma linguagem pouco filosófica, um jogo de cintura de
reconhecer a ambigüidade e a precariedade de nossa experiência
Pretendemos com esta duas citações alocar a necessidade de cultural [...].195
uma crítica ser elaborada pensando o momento de sua produção e em
É interessante perceber as afirmações de Paulo Eduardo Arantes
especial as opções teóricas do elemento a ser criticado, por mais que
sobre João Cruz Costa, já que este também considera a autocrítica de
esta não fosse a intenção de Bento Prado Jr. As críticas elaboradas
elaborada Bento Prado Jr. relevantes na constituição de um novo olhar
sobre a obra de João Cruz Costa pareciam, até o momento das
sobre a obra de Cruz Costa.
considerações feitas por Bento Prado Jr., em 1968, críticas superficiais.
Paulo Eduardo Arantes reforça o interesse de Cruz Costa pelo
Por exemplo, a resposta de Miguel Reale em resenha à “Panorama da
passado das idéias brasileiras e justifica seu posicionamento contra as
história da filosofia no Brasil” desculpava-se ironicamente, por conta de
declarações de um passado filosófico apagado.
sua formação bacharelesca, a imprecisão em um problema histórico.
João Cruz Costa passou a vida justamente folheando obras-primas
Miguel Reale pontua: “deixo-lhe aqui (para Cruz Costa) o meu muito
de gratuidade filosófica. Daí a obsessão pelo assunto relevante,
obrigado, pois todos, especialmente os não licenciados em Filosofia e que o levava a esquadrinhar a mediocridade do nosso passado
História, corremos os riscos de não dar por erros banais [...]”194. filosófico à procura dos sinais de nascença que lhe permitissem
identifica-lo e, sem dúvida, prescreve-lo.197
Ainda pensando a perspectiva de revisão e contribuição sobre a
obra de Cruz Costa, Bento Prado Jr., escreveu em outro artigo em 1985, Ao repensar a obra de Cruz Costa, Paulo Eduardo Arantes
que segundo ele mesmo é uma autocrítica de suas afirmações sobre esclarece algumas questões de cunho teórico-metodológico. Explana
Cruz Costa elaboradas em 1968. A introdução do texto esta repleta sobre as considerações de Cruz Costa acerca do nacionalismo, tema
de desculpas e de afirmações de uma suposta imaturidade intelectual em voga durante o período de algumas produções textuais de nosso
de Bento Prado Jr. ao analisar a obra a primeira vez. Todavia, estas autor. João Cruz Costa entendia o nacionalismo, afirmava Arantes,
desculpas dão espaço a uma análise apurada de João Cruz Costa. como um antídoto para o transoceanismo, percebido sempre na sua
Deixando de lado questões que são por demais conhecidas, como dualidade.
os debates sobre filosofantes, metafísicas e assim por diante, Bento
Prado Jr. chama a atenção para que nos atentemos a percepção de um
sentido ambíguo que Cruz Costa possuía:

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Para Cruz Costa, nacionalismo não era muito mais (uma vaga e de 1975. Da mesa maneira que afirma não ser positivista, responde a
muito datada “teoria” culturalista do caráter pragmático, terra à
pergunta sobre a influência do nacionalismo em sua obra e de como
terra, da civilização luso-brasileira) do que um antídoto polêmico
para o transoceanismo de todo letrado brasileiro, “abismado em percebia a produção do ISEB. Sua resposta: “não, o nacionalismo não
grotesca e pasmada nostalgia” de sentimentos, idéias e normas com teve influência em meu trabalho. Quanto à produção isebiana, em
cujos pressupostos não chegavam a atinar com propriedade.197
parte, ela foi muito proveitosa”.199
Com esta afirmação Paulo Eduardo Arantes pretendia mostrar Estes novos olhares sobre a obra de João Cruz Costa parecem nos
que Cruz Costa assegurou, em meio a influências das mudanças de remeter ao que ele certa vez afirmou ao escrever sobre as filosofias
correntes de pensamento que ocorriam na Europa e nos Estados nacionais para a Enciclopédia Delta – Larousse. No texto em questão,
Unidos, uma tentativa de manter uma linha que conduzisse a um modo ele afirmava que o historicismo do qual ele era adepto não pretendia
de filosofar sobre o Brasil e o fez, pois desconfiava das abstrações prender-se e nem permitira um história das ideias que ficasse pressa
metafísicas e das teorias inatingíveis decorrentes destas ações. aos grandes sistemas de pensamentos e as vinculações de maneira
No texto de Paulo Eduardo Arantes “Cruz Costa e herdeiros nos abstrata, mas pensados em suas condições e vinculações concretas.
idos de 60”, escrito originalmente em 1985 e publicado em 1994 como Apesar das críticas que foram aqui elencadas a obra de João Cruz
capítulo no livro “Um departamento francês de ultramar”, percebemos a Costa parece ter sido esquecida e pouco referenciada nas elaborações
clareza de uma crítica elaborada por conta do processo que caracterizou posteriores acerca da filosofia e de sua história em nosso país. Uma
o esquecimento da obra de Cruz Costa: questão que pode ser a resposta para esta questão decorre das
Precipitado, aliás, pelo recente fiasco político do nacionalismo, diferenças entre as políticas de ensino da filosofia em São Paulo, e
em cuja órbita elástica a obra de Cruz Costa também gravitara mais que isto, das tendências políticas das instituições de ensino.
– refere-se aqui a Contribuição à História das Idéias no Brasil – é
verdade que numa esfera historiográfica muito diversa do nacional CONSIDERAÇÕES FINAIS
–existencialismo dos seus confrades isebianos. Com a derrocada de
1964 ruíra também a falsa expectativa de uma “filosofia braileira”
Antonio Gramsci em seu texto Os intelectuais e a formação da
– alusão ao grupo culturalista em torno do IBF. Tomada ao pé da
letra não se pode dizer que Cruz Costa a tenha alimentado. Pelo Cultura, afirma que “todo o homem, participa de uma concepção de
contrário, sempre descartou a “pretensão ingênua de fazer filosofia mundo, [...] contribui assim para manter ou para modificá-la, isto é,
brasileira”, até porque (por simples definição) a universalidade do
saber filosófico não admitiria tamanha restrição.198 promover novas maneiras de pensar”200. Por outro lado, José Carlos
Reis na introdução de seu conhecido livro “Identidades do Brasil”, já
Paulo Eduardo Arantes busca esclarecer o posicionamento que usado na introdução e no primeiro capítulo desta monografia, afirma
Cruz Costa possui acerca do nacionalismo. Este posicionamento que a data de uma obra “diz muito sobre ela, é a sua definição, pois
aparece em resposta à entrevista dada para a Revista Transformações revela o mundo histórico em que é produzida [...] desta maneira nossa

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hipótese é de que não há autores superados, desde que lidos em sua anos de 1930 até o golpe militar em 1964. Segundo Astor Antônio
época”201. Diehl, este período as discussões giram em torno do “conceito de
Estas referências nos permitem entender João Cruz Costa da ideologia vinculado às experiências da modernidade e de cultura [...]
seguinte maneira: contribuinte de uma concepção de mundo inscrito tematizando algumas obras de repercussão teórica sobre a questão do
em sua época e debatedor dos problemas em torno da filosofia no nacionalismo, o caráter racional e a formação intelectual brasileira”204.
Brasil durante toda a sua vida. De que maneira estas perspectivas contribuíram para o parcial
Uma importante questão pode ainda ser levantada. A questão que esquecimento da obra de João Cruz Costa e correspondem às
gira em torno do processo do esquecimento da obra de João Cruz abordagens que propusemos nos três capítulos deste trabalho?
Costa e que podem ser atreladas às últimas questões levantadas no Três textos que tratam diretamente de Cruz Costa podem nos
capitulo anterior. A saber, a críticas do IBF e de seus colaboradores e ajudar a responder a estas questões. O primeiro escrito em 1954, por
as retomadas críticas de Bento Prado Jr e Paulo Eduardo Arantes após Dante Morreira Leite, Uma filosofia brasileira205 incluído em seu livro O
a morte de Cruz Costa. É do conjunto das críticas elaboradas pelo IBF, caráter nacional brasileiro de 1969. O segundo de Lídia Acerboni sobre
pelos culturalistas e mesmo pela retomada crítica da sua obra nos anos o título Cruz Costa e a História das Idéias206. E um terceiro texto escrito
de 1980 que pretendemos identificar de que forma este esquecimento em 1973 por Fernando Azevedo, Como um barco na praia ... (Estudos
se processou. sobre João Cruz Costa)207, que é uma coletânea de artigos intitulada
Para dar conta deste processo de esquecimento, elencamos algumas Figuras de meu convívio. Por fim, um outro autor que nos sustentará
questões colocadas por Pedro Leão da Costa Neto que determinaram nas analise é Astor Antonio Diehl, que apesar de não escrever
não só a sua recepção, mas também o esquecimento da obra.202 especificamente sobre Cruz Costa elabora um quadro de significativa
A primeira diz respeito à formação intelectual de João Cruz Costa. referência para o período que estamos estudando.
Esta formação estaria marcada por um autodidatismo combinado com Em comum, estes textos possuem a preocupação com a história
diletantismo e estudo superiores formais tardios em filosofia na recém das ideias no Brasil, em especial de que maneira que João Cruz Costa
formada USP no departamento comandado pela missão francesa de fez parte e contribui para esta história. Mas nestas considerações,
1934. Tânia Gonçalves, em sua dissertação, afirma que “a formação aparecem alguns traços do que levou ao seu esquecimento.
filosófica de Cruz Costa não pode ser resumida a sua experiência na Fernando Azevedo afirma que a ordem e o rigor na construção dos
universidade uma vez que seu ingresso se deu após os trinta anos de livros de Cruz Costa não constituíam a parte forte de seu trabalho.
vida e já com certo percurso de estudos filosóficos”203. Ora, em tempos de institucionalização do saber, no momento “em
A segunda consideração nos remete ao nível que as produções que se assiste à substituição da qualificação intelectual pela função
históricas e sociais sobre o passado alcançaram no Brasil entre os intelectual”208, João Cruz Costa produz textos, amparado em seu

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vasto conhecimento, todavia, marcados “pela reflexão pessoal, livre, Cremos que com estas considerações demos conta da primeira
independente”209. Esta produção era considerada, em especial pelo propostas acerca do esquecimento da obra, a saber, da formação dos
departamento de Filosofia da USP, muito ensaística. desdobramentos desta em Cruz Costa. Pensar a conjuntura brasileira
Ao aceitaramos estas considerações, consequentemente, de 1930 até o golpe de 1964 implica inserir no problema as questões
admitimos que João Cruz Costa produziu uma filosofia peculiar, por culturais que permeavam a nossa sociedade e desdobraram-se na
mais que se intitulasse como um filosofante – que pensa e discute sobre produção intelectual nacional.
filosofia – e não um filósofo – que produz sistemas de pensamentos. Para dar conta desta perspectiva, nos apoiamos na estrutura e
Nas palavras de Dante Moreira Leite, João Cruz Costa produziu nos períodos da cultura historiográfica brasileira exposta por Diehl em
mais um programa de investigação que um sistema de pensamento, A cultura historiográfica brasileira: década de 1930 aos anos de 1970.
o que corresponde à proposta de Cruz Costa. Aqui, outro problema Diehl propõem seis fases da historiografia brasileira. Ocuparemos-
é alocado: se a filosofia proposta por Cruz Costa foi um programa de nos das cinco primeiras, pois a última se preocupa com a produção
investigação, a filosofia poderia caminhar em várias direções, “algumas historiográfica nos anos de 1980. Optamos por esta sistematização,
das quais imprevisíveis [...] inclusive a de que a aceitação do sistema pois ela dialoga com as questões além da historiografia e que são
filosófico, pelo pensador brasileiro, era mais ilusória que real”210. significantes na produção desta. As fases são as seguintes:
Sua teoria – a de Cruz Costa – escapa ao que aqui se denomina a 1. Fase do redescobrimento do Brasil – Fase do redescobrimento
ideologia do caráter nacional, pois esta é sempre uma explicação do Brasil; momento das interpretações das grandes
pessimista para a vida brasileira. [...] supõem-se uma tendência sínteses; obras de difícil classificação dentro dos moldes
básica que pode, em certos momentos históricos, ser sufocada, convencionais da ciência histórica; discussão fortemente
e substituída por tendências estranhas ao caráter do povo; no influenciada pela revolução de 1930. Retorno aos grandes
entanto, este só se encontra e sé se exprime realmente quando temas historiográficos brasileiros por Gilberto Freyre, Sergio
volta à suas inclinações autenticas.211 Buarque de Holanda e Prado Jr.

Esta consideração de Dante Moreira Leite nos aproxima e prepara


2. Fase da criação da universidade e seus primeiros frutos
para uma compreensão do texto de Lídia Acerboni, que mesmo – Com o início do Estado Novo (1937), apresentam-se
apontando como positivo o rigorismo de Cruz Costa afirma que: duas frentes: uma voltada para o passado, para o ideal
aristocrático da cultura brasileira; outra voltada para o futuro,
Esta distinção, em seu rigorismo, não pode deixar de fazer nascer a caracterizada pelo pensamento radical da classe média
suspeita, de resto amplamente confirmada pela leitura das obras do urbana. Os primeiros frutos da universidade manifestaram-
autor, de que a justa exigência de uma valorização da experiência se num processo de institucionalização do saber. Assiste-
se identifique com uma desqualificação do pensamento, com um se à substituição da qualificação intelectual pela função
deter-se no plano pragmático, tanto é verdade que os valores, em intelectual. Nota-se uma influencia de professores franceses
sua origem e fecundidade, estão ligados ao tipo de vida que os no Brasil. Nas duas frentes, existem pontos comuns: ambas
origina. 212 procuram libertar-se da perspectiva mitológica tipificadora dos

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institutos históricos e do positivismo ingênuo; a perspectiva de novos temas e métodos de pesquisa nas ciências humanas, a
rural torna-se central na discussão numa época em que, no
nova perspectiva educacional no ensino superior que chegava com
plano da ideologia das elites, a modernização esbarrava nas
estruturas do Brasil arcaico (rural, feudal, tradicional), dando a influencia norte-americana a preocupação com a cultura popular
origem às explicações dualistas da realidade brasileira. brasileira, a ruptura com estruturas historicistas na historiografia e o
questionamento da ciência como fator de mudança social.
3. Era da revisão reformista – Período de grande efervescência
nas ciências sociais. A institucionalização do saber na Postas todas estas questões, acreditamos que o esquecimento da
universidade provoca o engajamento nas perspectivas obra de João Cruz Costa é decorrente de seu posicionamento pessoal
nacional-desenvolvimentista. O nacionalismo como ideologia
acerca da filosofia brasileira, ou melhor, da filosofia no Brasil, unido às
prevalece nos diagnósticos de desenvolvimento. As
formulações críticas a este modelo surgem no final da década conjunturas políticas e educacionais que perceberam nele um problema
de 1950, radicalizando-se na fase posterior. O aspecto central dado ao seu não enquadramento as moldes tradicionais que estavam
desse período é o reformismo.
em formação.
4. Revisões radicais – Os diagnósticos radicais rompem com a
era desenvolvimentista; combate ao reformismo populista; as
pesquisas voltam-se às classes e estruturas sociais; debate
intensivo sobre a dependência da economia e da cultura
brasileira.

5. Impasses da dependência – Corte nas linhas de produção


anteriores, especialmente com as analises dualistas; novos
temas são introduzidos no debate: a dependência vinculada
aos regimes totalitários na América Latina; a reestruturação
da universidade (do modelo francês ao norte-americano);
massificação da cultura popular brasileira – ruptura com as
estruturas historicistas na historiografia; questionamento da
ciência como fator de mudança social. Aumento considerável
da produção cientifica acadêmica (mestrado e doutorado).213

João Cruz Costa e a escrita de sua obra, passaram efetivamente


por todas estas fases. Da influência dos grandes intelectuais pelas fases
condicionadas pelo Estado Novo, pelas revisões desenvolvimentistas,
pelo combate ao reformismo e por fim, as novas questões em voga
nos anos de 1970. A ruptura com as análises dualistas, a introdução

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 462 | História | 2010


Notas de rodapé
1
COSTA, João Cruz. Sobre o trabalho teórico. In: Trans/form/ações. Revista de Filosofia. Faculdade de Filosofia, ciência e letras de Assis.
Publicação anual do Departamento de Filosofia. n. 2, Assis, 1975. p.91.
2
GONÇALVES, Tânia. João Cruz Costa educador: Contribuição ao debate sobre a filosofia como formação cultural. 2004. 119 p. Dissertação
de mestrado. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. p.39.
3
CÂNDIDO, Antônio. Prefácio. In: COSTA, João Cruz. Pequena história da república. 3.ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989. p.II.
4
COSTA, op. cit., 1976, p.166.
5
id. ibid.
6
O redescobrimento do Brasil, na historiografia, como aponta José Carlos Reis, refere-se ao período que a história é escrita priorizando “a
mudança em relação à continuidade, variando a ênfase, preferem a ruptura com o passado, preferem o brasileiro ao português, o Brasil moderno
ao tradicional, colonial”, remontando o período que vai dos anos de 1930 até 1970. REIS, José Carlos. As identidades do Brasil 1: De Varnhagen
a FHC. 9. ed .rev. e amp. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007. p. 17.
7
DIEHL, Astor Antônio. Cultura historiográfica brasileira: década de 1930 aos anos de 1970. Passo Fundo: UPF Editora, 1999. p.26.
8
id. ibid.
9
id. ibid.
10
id. ibid.
11
REIS, op. cit., 2007, p.14.
12
DUBY, Georges. A história cultural. In: RIOUX, Jean – Pierre; SIRINELLI, Jean-François. Para uma história cultural. Lisboa: Estampa, 1998.
p. 405.
13
MASSARÃO, Leila Maria. Michel de Certeau e a Pós-Modernidade:

ensaio sobre pós-modernidade, História e impacto acadêmico. Disponível em http://www.klepsidra.net/klepsidra24/certeau.htm. Acesso em


03 jun. 2007.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 463 | História | 2010


14
COSTA, João Cruz. Panorama da história da filosofia no Brasil. São Paulo: Cutrix, 1959 . p. 13.
15
COSTA, João Cruz. Contribuição à história das idéias no Brasil. Rio de Janeiro: José Oympio, 1956 . p. 7.
16
id. ibid., p.10.
17
Os conceitos como objeto de pesquisa histórica tem sua problematização sendo desenvolvida recentemente. Dois enfoques dados aos conceitos
podem ser descritos. O alemão, a chamada Begriffsgeschichte que tem em Reinhart Koselleck seu representante mais significativo, pretende um
projeto que pense a relação entre os conceitos e os outros campos de reflexão histórica e que subsidie teórica e metodologicamente a história.
E o inglês, chamado collingwoodiano que tem nas figuras de John G. A. Pocock e Quentin Skinner seus maiores representantes, dedicam-se
a instrumentalização conceitual a partir e visando uma perspectiva da história política. JASMIN, Marcelo Gantus; JÚNIOR, João Feres (org.).
História dos conceitos: Debates e perspectivas. Rio de Janeiro: Editora PUC - RIO: Edições Loyola: IUPERJ, 2006.
18
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto / Ed. PUC – Rio, 2006. p.109.
19
COSTA, João Cruz. O sentido da filosofia. Revista Kriterion, n.7-8. Belo Horizonte, 1949, p.190. b).
20
COSTA, João Cruz. Contribuição à História das Idéias no Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1956, p.13. a).
21
KOSELLECK, op. cit, 2006, p. 309.
22
id ibid., p. 309.
23
COSTA, op. cit., 1949, p.191. b).
24
KOSELLECK, op. cit.., 2006, p. 310.
25
Id Ibid. p. 310.
26
COSTA, op. cit., 1956, p.21. a).
27
DIEHL, op. cit., 1999, p.26.
28
COSTA, op. cit., 1956, p.21. a).
29
REIS, José Carlos. A Escola dos Analles: A inovação em História. 2. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004. p.94.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 464 | História | 2010


30
id. ibid.
31
COSTA, op. cit., 1956, p.21. a).
32
COSTA, João Cruz. Prefácio. In: FRANCOVICH, Guillermo. Filósofos brasileiros. São Paulo: Editora Flama S/A, 1947. p.8.
33
COSTA, João Cruz. Experiência intelectual Brasileira. Boletim do Instituto Cultural Brasileiro Alemão, n.2, Porto Alegre, 1957. p.11.
34
COSTA, João Cruz. História das idéias e valores. Revista Brasileira de Filosofia. São Paulo, fasc. 4, 1960. p. 529.
35
KOSELLECK, op. cit., 2006, p.326.
36
id ibid., p. 314.
37
COSTA, op. cit., 1956, p. 24. a).
38
id. ibid., 1956, p. 17. a).
39
COSTA, op. cit., 1949, p.180. b).
40
COSTA, op. cit., 1956, p. 14. a).
41
KOSELLECK, op. cit., 2006, p.306.
42
REIS, op. cit., 2007, p.13.
43
COSTA, João Cruz. A filosofia no Brasil - ensaios. Porto Alegre: Editora Globo, 1945. p. 90. a).
44
ELIAS, Norbert. O processo civilizador. Uma história dos costumes. V.1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994. p. 14.
45
id. ibid. p.23.
46
id. ibid. p.49.
47
COSTA, op. cit., 1957, p.9.
48
COSTA, op. cit., 1947, p.9.
49
KOSELLECK, op. cit., 2006, p.308.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 465 | História | 2010


50
COSTA, João Cruz. Prefácio. In: MOTA, Carlos Guilherme (org.). Brasil em perspectiva. 20. ed. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 1995. p.7. b).
51
COSTA, João Cruz. Um aspecto da Filosofia América in: Revista Kriterion, nº37/38, Belo Horizonte 1956, p.291. c).
52
id. ibid, p.293. c).
53
DOSSE, François. O império dos sentidos: a humanização das Ciências humanas. Bauru: EDUSC, 2003. p.228.
54
COSTA, op. cit., 1956, p.295. c).
55
COSTA, op. cit., 1960, p.527.
56
COSTA, op. cit., 1949, p.183. b).
57
COSTA NETO, Pedro Leão da. João Cruz Costa: Historiador das idéias no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Pesquisa histórica. São
Paulo, n. 23, 2002. p. 5.
58
COSTA, op. cit., 1957, p.12.
59
A obra em questão é a conhecida Raízes do Brasil que possui um capitulo intitulado Trabalho & Aventura que aparece como determinante nas
considerações de Cruz Costa. Ainda o capitulo seguinte, O semeador e O ladrilhador, podem ser considerados na perspectiva dualista proposta
por Cruz Costa.
60
COSTA, op. cit., 1956, p.17. c).
61
id. ibid.
62
id. ibid.
63
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de análise do discurso. Verbete dialética. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
p. 159.
64
id. ibid.
65
REIS, op. cit., 2007, p.122.
66
Apropriação deve ser entendida aqui no sentido proposto por Chartier, ou seja, a história das interpretações remetidas para suas determinações

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 466 | História | 2010


fundamentais que são o social, o institucional e, sobretudo, o cultural e estão inscritas nas práticas específicas que as produzem. CHARTIER,
Roger. Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: _____. A historia cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Editora
Betrand, 1990. p. 26.
67
DOSSE, op. cit., 2003, p.190.
68
COSTA, op. cit., 1956, p.373-374. c).
69
COSTA, João Cruz. Panorama da história da filosofia no Brasil. São Paulo: Cutrix, 1959. p.72. b).
70
COSTA, João Cruz. apud. op.cit., 2004, p.76.
71
KOSELLECK, apud. REIS, op. cit., 2007, p.10.
72
id. ibid.
73
COSTA, João Cruz. Ensaios sobre a vida e a obra do filósofo Francisco Sanchez. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da
Universidade de São Paulo, São Paulo, v.29, n.1, 1942. p.38.
74
COSTA, op.cit., 1945, p.25. a).
75
COSTA, João Cruz. A História da filosofia no Brasil: in Enciclopédia Delta Larousse, Rio de Janeiro 1964. p.1945.
76
COSTA, op.cit.,1956, p.291. c).
77
COSTA, op.cit., 1956, p.30. a).
78
COSTA, op. cit., 1959, p.21. b).
79
COSTA, op. cit., 1956, p.34. a).
80
COSTA, op. cit., 1945, p.37. a).
81
COSTA, op. cit., 1957, p.12.
82
COSTA, op. cit., 1959, p.25. b).
83
COSTA, op. cit., 1956, p.56. a).

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 467 | História | 2010


84
COSTA, op.c it., 1945, p.23. a).
85
COSTA, João Cruz. A universidade latino-americana: suas possibilidades. Contribuição brasileira ao estudo do problema. Revista História, São
Paulo, n.46, 1961, p.376.
86
id. ibid., p. 377.
87
COSTA, op. cit., 1956, p.59. a).
88
id. ibid. p.56.
89
id. ibid. p.59.
90
COSTA, João Cruz. Introdução ao estudo do pensamento brasileiro. In: Encontro Internacional de Estudos Brasileiros e I Seminário de Estudos
Brasileiros – Universidade de São Paulo, setembro de 1971. p.7.
91
COSTA, João Cruz. As novas idéias. In: HOLANDA, Sergio Buarque de. História geral da civilização brasileira. II. O Brasil monárquico. 1.O
processo de emancipação. 6.ed. São Paulo: Bertrand Brasil S/A, 1993. p.180.
92
COSTA, op.c it., 1945, p.40. a).
93
id ibid., p. 41. a)
94
COSTA, op. cit., 1961, p.396.
95
COSTA, op. cit., 1993, p.182.
96
id. ibid.
97
COSTA, op. cit., 1959, p.32. b).
98
COSTA, op. cit., 1993, p.183.
99
COSTA, op. cit., 1971, p.7.
100
COSTA, op. cit., 1956, p.64. a).
101
COSTA, op.c it., 1945, p.46. a).

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 468 | História | 2010


102
COSTA, op. cit., 1956, p.81. a).
103
COSTA, João Cruz. O pensamento brasileiro sobre o império. In: HOLANDA, Sergio Buarque de. História geral da civilização brasileira. II. O
Brasil monárquico. 3.Relações e transações. 6.ed. São Paulo: Bertrand Brasil S/A, 1987. p.337. d).
104
COSTA, op.cit., 1964, p.1943.
105
COSTA, op. cit., 1959, p.34. b).
106
COSTA, op. cit., 1971, p.8.
107
COSTA, op. cit., 1956, p.87. a).
108
COSTA, op.cit., 1964, p.1944.
109
COSTA, op. cit., 1987, p.326. d).
110
COSTA, op.cit., 1964, p.1945.
111
COSTA, op. cit., 1956, p.87. a).
112
COSTA, op. cit., 1987, p.327. d).
113
COSTA, op. cit., 1971, p.11.
114
COSTA, op. cit., 1956, p.142. a).
115
COSTA, op. cit., 1971, p.12.
116
COSTA, op. cit., 1987, p.331. d).
117
COSTA, op. cit., 1959, p. 42. b).
118
COSTA, op. cit., 1971, p.13.
119
COSTA, op. cit., 1987, p.332. d).
120
COSTA, op. cit., 1959, p.43. b).

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 469 | História | 2010


121
COSTA, op. cit., 1956, p.158. a).
122
COSTA, op. cit., 1971, p.13.
123
As diferenças entre estes grupos são decorrentes da adesão à doutrina positivista de Augusto Comte. Um representado por Émile Littré
que renegava a religião da humanidade e não buscava uma aplicação social das doutrinas positivistas, ou seja, a última fase do pensamento
de Comte, os chamados Litterísta. E o grupo fiel às doutrinas de Comte, inclusive a religião da humanidade, representado por Pierre Laffite,
pensador ao qual, aderiram posteriormente Miguel Lemos e Teixeira Mendes.
124
COSTA, op.cit., 1964, p.1949.
125
id. ibid.
126
COSTA, op. cit., 1971, p.14.
127
id. ibid.
128
COSTA, op. cit., 1956, p.183. a).
129
COSTA, op. cit., 1987, p.336. d).
130
COSTA, op. cit., 1959, p.47. b).
131
COSTA, op. cit., 1956, p.241. a).
132
COSTA, op. cit., 1956, p.248. a).
133
COSTA, op. cit., 1956, p.250. a).
134
COSTA, op. cit., 1971, p.15.
135
COSTA, op. cit., 1987, p.337. d).
136
id. ibid.
137
COSTA, op. cit., 1956, p.296. a).

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 470 | História | 2010


138
COSTA, op. cit., 1959, p.37. b).
139
COSTA, op. cit., 1971, p.11.
140
id. ibid.
141
COSTA, op. cit., 1987, p.330. d).
142
COSTA, op. cit., 1959, p.49. b).
143
COSTA, op. cit., 1971, p.15.
144
id. ibid. p.16.
145
COSTA, op. cit., 1959, p.51. b).
146
COSTA, op.c it., 1945, p.64. a).
147
COSTA, op. cit., 1956, p.302. a).
148
id. ibid., p.304. a).
149
COSTA, op. cit., 1987, p.341. d).
150
COSTA, op. cit., 1971, p.21.
151
COSTA, op. cit., 1959, p.59. b).
152
COSTA, op. cit., 1971, p.21.
153
id. ibid.
154
COSTA, op.cit., 1964, p.1951.
155
COSTA, op.c it., 1945, p.68. a).
156
COSTA, op. cit., 1959, p.68. b).

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 471 | História | 2010


157
COSTA, op.c it., 1945, p.68. a).
158
id. ibid.
159
COSTA, João Cruz. O pensamento brasileiro na primeira fase do século XX. in: Revista Brasiliense nº 15, São Paulo 1958, p.137. c).
160
id. ibid. p.141. c).
161
id. ibid. p.140. c).
162
COSTA, op. cit., 1956, p.420. a).
163
COSTA, op.cit., 1959, p. 82. b).
164
COSTA, João Cruz. As transformações do pensamento brasileiro no século XX e o nacionalismo. Revista Brasiliense, São Paulo, n.40, 1962,
p.53. a).
165
COSTA, op. cit., 1958, p.143. c).
166
COSTA, João Cruz. Pequena história da república. 3.ed. São Paulo: Brasiliense, 1989. p.144. a).
167
COSTA, op.cit., 1964, p.1954.
168
COSTA, op. cit., 1956, p.442. a).
169
COSTA, op. cit., 1971, p. 30.
170
id. ibid.
171
id. ibid.
172
REALE, Miguel. apud. PÁDUA, Elisabete Matallo Marchesini de. Ideologia e filosofia no Brasil: O Instituto Brasileiro de Filosofia e a Revista
Brasileira de Filosofia. 1998 152p. Tese de doutorado. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998. p.22.
173
Quem primeiramente teceu considerações acerca do culturalismo no Brasil foi Tobias Barreto de Menezes, fundador da Escola de Recife.
Protagonista das idéias de Tobias Barreto, Sílvio Romero encaminhou tais idéias para o culturalismo sociológico. Esta vertente fez na História da
Filosofia no Brasil a ponte entre o Culturalismo Filosófico iniciado por Tobias Barreto e o Culturalismo que se desenvolveu entre grande parte dos

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 472 | História | 2010


pensadores que integraram a Revista Brasileira de Filosofia.
174
JAIME, Jorge. História da filosofia no Brasil: volume IV. Editora Vozes: São Paulo, 2002. p.36.
175
O apontamento realizado sobre o culturalismo tem como base o trabalho executado e apresentado à Pró-reitoria de Pós-graduação, pesquisa
e extensão (PROPE) da Universidade Tuiuti do Paraná do programa de Iniciação Científica de 2007. O trabalho em questão foi escrito sob o título
Os sentidos da história: reflexões sobre a historiografia na Revista Brasileira de Filosofia (1951- 1973), pelos acadêmicos Johnny Roberto Rosa
e Rodrigo Schlenker sobre a orientação do professor Erivan Cassiano Karvat.
176
REALE, Miguel. Nota apresentação da Revista Brasileira de Filosofia. Revista Brasileira de Filosofia. São Paulo, fasc. 1 e 2, 1951 p. 1.
177
PAIM, Antonio. Documentário de Filosofia no Brasil. In: Revista Brasileira de Filosofia. Publicado no Correio da Manhã do rio de Janeiro, edição
de 27/12/1967.
178
Marxismo acadêmico é um termo denominado por Antônio Paim para determinar um grupo seleto de acadêmicos que se estabelecem em
universidades de prestígio no Brasil na década de 60 e 70 como a USP e a UNB. De cunho marxista, suas teorias, segundo Paim, “estabelecem
um nível de discussão do marxismo que se tem revelado capaz até mesmo de, por vezes, permear a pregação de representantes dos profissionais
da política”, já que, “a adesão à doutrina marxista – neste caso – estava dissociada da agremiação que se intitulava comunista”. In: PAIM,
Antônio. História das Idéias Filosóficas no Brasil. 4. ed. rev. e aum. São Paulo: Convívio; 1987.p. 485. Ainda sobre o marxismo acadêmico,
consideramos a posição de Paulo Eduardo Arantes como expressiva, aonde, o que Paim chama de marxismo acadêmico, é, para Paulo Eduardo
Arantes, o avatar entre a filosofia universitária francesa, até então determinante e influente na formação universitária, principalmente uspiana e
o marxismo, o que “representa na verdade um dos episódios mais notáveis daquele processo de aclimatação”. In: ARANTES, Paulo Eduardo. Um
Departamento Francês de Ultramar: estudos sobre a formação da cultura filosófica uspiana. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1994. p. 43.
179
Outra questão a ser considerada é a do esclarecimento que João Cruz Costa dá em entrevista a Revista Transformações em 1975 de seu
interesse pelo positivismo e não da sua adesão à esta corrente. Afirmou Cruz Costa em resposta a pergunta de qual era o seu interesse pelo
positivismo: “como vocês sabem, não sou positivista. Mas atraiu-me o “fenômeno” positivista no Brasil”. COSTA, op.cit., 1975, p.92.
180
VITA, Washington. 1) Resenha da obra de Cruz Costa, Augusto Comte e as origens do Positivismo. Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo,
n.34, 1959. p.274 – 276. 2) Resenha da obra de Cruz Costa, Panorama da história da Filosofia no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, São
Paulo, n.40, 1960. p. 584 – 586. 3) Resenha da obra de Cruz Costa, Contribuição à história das idéias no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia,
São Paulo, n.70, 1968. p.233 – 236.

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 473 | História | 2010


181
REALE, Miguel. Resenha da obra de Cruz Costa, Panorama de Filosofia no Brasil, Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo, n.41, 1961.
p.123 – 126.
182
LINS, Ivan. Resenha da obra de João Cruz Costa. Contribuição à História das Idéias no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia. São Paulo,
n.67,1967. p.363 – 366.
183
VITA, Washington. Resenha da obra de Cruz Costa, Augusto Comte e as origens do Positivismo. Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo,
n.34, 1959. p. 276.
184
VITA, Luís Washington. Resenha de Cruz Costa, Contribuição à história das idéias no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo, n.70,
1968. p.586
185
As referências à filosofantes e filósofos deve ser entendida em conjunto ao problema de uma filosofia no Brasil ou de uma filosofia brasileira.
Os filosofantes são os que estudam filosofias no Brasil, os desdobramentos das produções exteriores dentro do país. Enquanto os filósofos
seriam responsáveis por produzir uma filosofia brasileira, ou seja, elaborar arcabouços epistêmicos estritamente nacionais.
186
LINS, Ivan. Resenha de João Cruz Costa. Contribuição à História das Idéias no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia. São Paulo, n.67,1967.
p.366.
187
VITA, Washington. Resenha de Cruz Costa, Contribuição à história das idéias no Brasil. Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo, n.70, 1968.
p.234.
188
COSTA NETO, Pedro Leão da. João Cruz Costa. In: FÁVERO, M. de Lourdes de A. & BRITTO, Jader de M. (orgs.). Dicionário dos educadores
no Brasil: da colônia aos dias atuais. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ; Brasília: INEP, 2002. p.535.
189
GONÇALVES, Tânia. João Cruz Costa educador: Contribuição ao debate sobre a filosofia como formação cultural. 2004. 119 p. Dissertação
de mestrado. Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. p.83.
190
PRADO JR, Bento. Cruz Costa e a história das idéias no Brasil. In: MORAES, Reginaldo (org); ANTUNES, Ricardo; FERRANTE, Vera B.
Inteligência Brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 102.
191
O historicismo a qual fazemos referência e do qual Cruz Costa era tributário é o elaborado a partir da perspectiva de Benedetto Croce. Este
filósofo retoma as considerações de Hegel sobre o historicismo, que, por sua vez, afirma ser este a consciência entre finito e infinito, entre o

Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná 474 | História | 2010


mundo e deus, e considera a historia como realização de deus, também chamado de historicismo absoluto. Uma possível definição é a da doutrina
segundo a qual a realidade é historia (desenvolvimento, racionalidade e necessidade) e que todo o conhecimento é conhecimento histórico. Esta
definição foi escrita considerando o verbete Historicismo do Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano.
192
PRADO JR, Bento. O problema da filosofia no Brasil. In: Ensaios. São Paulo: Max limonad, 1985. p. 177.
193
id. ibid., p.190.
194
REALE, Miguel. Resenha de Cruz Costa, Panorama de Filosofia no Brasil, Revista Brasileira de Filosofia, São Paulo, n.41, 1961. p.125.
195
PRADO JR, op.cit., 1986, p. 113.
196
ARANTES, Paulo Eduardo. Cruz Costa, Bento Prado Jr e o problema da filosofia no Brasil – uma digressão. In: ____________; FABRINI,
Ricardo; FAVARETTO, Ricardo; MUCHAIL, Salma; SILVA, Franklin Leopoldo e. A filosofia e seu ensino. 2.ed. Co-editado – Petrópolis: Vozes; São
Paulo: Educ Editora da PUC-SP, 1996. p.29.
197
id. ibid., p.34.
198
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