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1. Quais elementos
de linguagem você
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percebe nesse "e
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desenho?
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2. Como eles se juntam "
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para criar um "
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I 4. Que outros
signíficados você
atribui a essa obra?
Fototropismo. Christiana Moraes, 1998.
D A linguagem do desenho
o desenhoé uma das linguagens da arte, a mais antiga, a mais praticada, pois
todos nós já fizemos um desenho na vida. Não importa se desenhamos sobre a
superfície poeirenta de um carro sujo, sobre o vapor condensado no espelho do
banheiro, na areia da praia ou no chão de terra. Precisamos de muito pouco para
poder desenhar: uma superfície (que não precisa ser plana) e um instrumento que
trace linhas ou pontos sobre essa superfície. Essa possibilidade foi descoberta na
Pré-história por nossos antepassados, que fizeram inúmeros desenhos de animais,
de caçadas e de seres humanos, exercendo suas atividades rituais e de sobrevi-
vência, em fundos de abrigos ou sobre pedras ao relento. Como hoje se fazem os
grafitti nos muros da cidade.
Christiana Moraes, artista brasileira contemporâ- humanos são atraídos e se orientam não só pela luz,
nea, dedica-se ao desenho, além de outras formas de mas por toda a natureza.
arte visual. Esse desenho, da série Fototro ismo, foi
feito com bastão de óleo e lápis contésobre uma pran-
cha ultra mount. Para fazer o fundo negro, usou tinta 11 QUEM É?
látex. A obra mede 2,44 metros por 1,10metro, tendo, Christiana Moraes (1972).Nasceu
em São Paulo e cursou Artes
portanto, um impacto visual bastante grande.
Plásticas, com habilitacão em
Apresenta uma figura humana sentada, com um Gravura, na Escola de Co~urÍica-
buquê de flores entre as mãos; outras quatro flores ções e Artes da Universidade de
estão dispostas, verticalmente, dos dois lados da São Paulo, formando-se em 1993.
figura central. A metade inferior da obra tem fundo Nesse mesmo ano, ganhou o
Prêmio Exposição na VII Mostra Christiana
branco, com desenhos pretos; a metade superior tem
Universitária de Artes Plásticas da Moraes, artista
o fundo negro, com desenhos brancos. Por trás da Faculdade Santa Marcelina e, em plástica brasileira
cabeça da figura central, pode-se ver um braço e uma 1995,o Prêmio Viagem pelo Brasil, nascida em 1972.
mão, segurando a flor do lado superior esquerdo. do XV Salão Nacional de Artes Plásticas. Participou de
O desenho é figurativo, porém não é realista, isto é, várias exposições no Brasile algumas no exterior. Além
não pretende ser uma cópia fiel do real. Tanto que não disso,é pós-graduada em PráxisArtística eTerapêutica
pela Faculdade de Medicina da USP e, em 2004, fez
podemos dizer se a figura humana é um homem ou uma
outro curso de pós-graduação em Performance, noArt
mulher, uma vez que não há detalhes identificadores. Institute de Chicago, Estados Unidos.
A linha é contínua, nem muito grossa nerp fina. A
flor na parte inferior esquerda e o buquê foram dese-
nhados com linhas mais fortes, poderíamos dizer ner-
vosas, uma vez que percebemos o ir e vir do bastão de
fJ O que é uma linguagem?
óleo, num traço contínuo. Já as outras flores e a mão A linguagem é um instrumento que nos permite
que segura a flor são desenhados com linhas tão finas e pensar e comunicar o pensamento, estabelecer diá-
delicadas que é preciso observar o desenho com muita logos com nossos semelhantes e dar sentido à rea-
atenção para vê-los. O fundo preto dá um destaque lidade que nos cerca.
especial ao busto da figura humana, uma vez que ele Quando nos referimos à linguagem, a primeira da
continua em branco, com o preto ao seu redor. qual nos lembramos é a linguagem verbal, tanto a oral
O estilo é expressionista, ou seja, privilegia a quanto a escrita. Por meio dela, nomeamos objetos,
expressão da afetividade e do modo subjetivo com formamos conceitos e articulamos nosso pensamento
que a artista vê o mundo, mais que as questões de sobre o mundo, tanto o mundo subjetivo de sentimen-
exatidão da representação. A figura humana não é tos e desejos quanto o mundo objetivo exterior a nós.
simétrica e suas mãos são indicadas, mas não mos- A linguagem verbal, contudo, não é a primeira
tram todos os dedos. linguagem que aprendemos em nossa vida nem a
Mas se o desenho é uma linguagem, o que será única que usamos para dar significados ao mundo.
que esse desenho pode nos dizer? Que significados Desde bebês, conseguimos nos comunicar por meio
podemos atribuir a ele? do choro, de olhares, de gestos e de balbucios que
Ele nos fala da solidão do ser humano e de sua são compreendidos por todos aqueles que nos cer-
ligação com a natureza. O buquê de flores preenche cam e cuidam de nós.
todo o peito da figura humana, exatamente onde Mas será que todas as linguagens são estrutura-
se situa o coração, considerado simbolicamente das da mesma forma?
como a sede de nossos sentimentos e da afetivi-
dade. Interpretando a imagem a partir de seu título • Estrutura da linguagem
Fototropismo, podemos dizer que, assim como as Toda linguagem é um sistema de signos. O signo,
plantas seguem o movimento do sol (luz), os seres
segundo definição do filósofo Charles Sanders Peirce,
é uma coisa que está no lugar de outra sob algum
Fototropismo. Em biologia, designa a reação de aspecto.' Por exemplo, o choro de uma criança pode
aproximação ou afastamento de um organismo ao estar no lugar do aviso de desconforto, de fome, de frio
estímulo da luz; movimento de orientação realizado ou de dor; ou pode estar no lugar simplesmente da
pela planta sob a ação da luz.
frustração da criança que não conseguiu o que queria.
Toca do Baixão das Mulheres II, Complexo Serra Talhada. (Desenhos reproduzidos
em: VIDAL,Lux. Grafismo indígena. São Paulo: Studio NobellFapesp/Edusp, 1992. p. 27.)
Os desenhos rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, são em sua
maioria figurativos, embora esquemáticos, e às vezes são preenchidos pelo mesmo
tom negro usado para fazer as linhas de seu contorno. São, portanto, signos icônicos,
2 Na fala popular brasileira contemporânea, porém, vem sendo utilizada uma expressão criada por
Harry Truman, ex-presidente norte-americano: "Inclua-me fora disso", que é um franco desrespeito
a essa regra semântica.
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de cristalização social. Ao contrário, ela é ditada w
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~ PARA REFLETIR
Reflita sobre o funcionamento dos computadores
hoje. Em que medida as linguagens criadas espe-
cialmente para executar múltiplas funções nos aju-
dam e nos atrapalham? Eos programas específicos
que tornam essas linguagens aptas a trabalhar com
imagens e sons. Elesdão conta de tudo o que quere- Estudo para uma sibila. Michelangelo (1508-1512).
mos fazer em um computador? É possível "enganar"
uma linguagem ou um programa para que ele faça Observe a tridimensionalidade dessa
o que queremos? roupa, desenhada por Michelangelo, obtida
por meio do uso da perspectiva e do
sombreamento claro-escuro.
As linguagens artísticas constituem um meio-
-termo. Por um lado, respeitam a especificidade de
cada campo artístico; por outro, tendem a explo-
rar esse campo e as possibilidades de cada lingua-
gem até seu limite máximo. E é exatamente a essas
explorações que devemos o desenvolvimento e a QUEM É?
criação de novos estilos e técnicas. Em relação à lin- Michelangelo Buonar-
guagem do desenho, por exemplo: é possível dese- roti (1475-1564).Arquiteto, ~
nhar com cortes sobre uma tela, que seria o plano, escultor e pintor do
Renascimento italiano,
como faz o argentino Lúcio Fontana; com fios sobre
aluno de Ghirlandaio em
uma superfície; até mesmo com raios laser sobre as seu estúdio em Florença.
paredes de edifícios. Lorenzo de Mediei e o
É importante lembrar, neste ponto, que as lin- papa Júlio II foram seus
guagens só se desenvolvem em função de projetos. grandes patronos.Foi um
Michelangelo
grande gênio que domi-
As linguagens artísticas, por serem mais flexíveis, Buonarroti. Giuliano
nou o panorama artístico Bugiardinlrçzz.
podem se estruturar e reestruturar com base em do século XVI.Suas princi-
projetos específicos. No caso das artes visuais, as pais obras foram: na pintura, o teto da Capela Sistina,
regras da perspectiva só foram descobertas e usa- no Vatica no (Roma); na escultura, Davi (Academia, em
das na pintura porque o projeto do Renascimento Florença), a Pietá (Basilica de São Pedro, em Roma)
era o de retratar o mundo como ele é visto e, para e Moisés e os escravos para o túmulo do papa Júlio
11;na arquitetura, a cúpula da Basilica de São Pedro,
isso, era importante inventar uma técnica a fim de
a fachada da Igreja de São Lourenço, a Biblioteca
representar a tridimensionalidade (altura, largura Laurenciana e a Capela Medicea, em Florença, e o
e profundidade) sobre uma superfície bidimensio- Palácio Farnesiano.
nal (altura e largura).
SCHAFF, Adam. Introdução à semântica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968. p. 281-282.
SCHAFF, Adam. Linguagem e conhecimento. Coimbra: Almeida, 1974. p. 252 .
Do ponto de vista icônico, esta fotografianos encarregadas de zelar pelo bem-estar e pela
mostra uma cena ainda hoje familiar e cotidiana: segurança de crianças. Isso, somado ao contexto
uma mulher negra, adulta, sentada entre duas histórico do Brasil e ao fato de a mulher ser
crianças brancas, com o braço direito passado negra e as crianças brancas de cabelos claros,
ao redor do menino menor, enquanto a menina, nos permite concluir que não se trata de uma
mais velha, sorri para a câmera. Os bobes na família, e que a mulher é uma empregada que
cabeça da mulher, cobertos por um lenço, e o cuida das crianças. O local em que a foto foi
modelo dos vestidos dela e da menina revelam tirada, um quarto com cama de casal, sugere
que a foto foi tirada no inicio da década de 1960. a intimidade das relações entre crianças e
Do ponto de vista indicial, o próprio meio - a empregada. Por outro lado, essa foto é simbolo
fotografia - indica a existência dessas pessoas de um tipo de relação social, entre a "mãe preta"
em frente à câmera, no momento em que a foto e as crianças brancas, iniciada na época da
foi batida. Já o risco laranja que corta a foto escravidão, e que ainda persiste na sociedade
em diagonal indica a passagem do tempo: é brasileira contemporânea, especialmente na
uma quebra, uma rachadura na superfície da classe média.
foto, ocasionada provavelmente por condições Baseando-se no que vimos até aqui, reflita
climáticas e de mau acondicionamento. e responda: como a composição da imagem
Do ponto de vista simbólico, podemos fazer intervém em sua decodificação? Qual a principal
várias outras interpretações: a postura da função das fotos nos álbuns de família? Escreva
mulher abraçando o menino pequeno revela suas conclusões e aplique-as na prática,
uma atitude de proteção comum às pessoas fazendo a leitura de uma foto de sua família.
QUEM É?
Rosângela Rennó (1962).Nasceu em Belo Horizonte (MG), Appel Foundation, na Holanda; em
onde cursou a Escola de Arquitetura da Universidade 1996, apresentou a exposição A cica-
Federal de Minas Gerais (UFMG) e Artes Plásticas na triz, no Museum of Contemporary
EscolaGuignard, formando-se em 198]. Fezdoutorado em Art, de LosAngeles, Califórnia (EUA).
Artes na Escolade Comunicações e Artes da Universidade Em 2003, foi uma das artistas da
de SãoPaulo (ECA-USP).Desdeo início da carreira se devo- representação brasileira na Bienal
tou à fotografia, opera ndo intervenções sobre negativos deVeneza.
já existentes, montando objetos, usando fotos já pron- Em 1995, foi contemplada com
tas. Começou a expor individualmente em 1989,em Belo uma bolsa da Civitella Ranieri
Horizonte, com a mostra Anticinema - Veleidades foto- Foundation, sendo artista residente
gráficas. Em 1991-92 apresentou A identidade em jogo, em Umbertide (Itália). Ganhou
no Centro Cultural São Paulo; em 1994, Humorais e rea- . vários prêmios ao longo de sua carreira e tem obras em
lismo fantástico, no Rio de Janeiro; em 1995,expõs na De museus e coleções brasileiras e estrangeiras.
Papo-furado
"- Iminência ...
- Você quer dizer 'eminência'.
-o quê?
- Você disse 'iminência'. O certo é 'eminência'.
- Perdão. Sou um servo, um réptil, um nada. Uma
sujeira no seu sapato de cetim. Mas sei o que digo. E eu
quis dizer 'iminência'.
- Mas está errado! O tratamento correto é 'eminência'.
- Não duvido da sua eminência, monsenhor, mas o
senhor também é iminente. Ou uma eminência iminente.
- Em que sentido?
- No sentido filosófico.
- Você tem dois minutos para explicar, antes que
eu o excomungue.
- Somos todos iminentes, monsenhor. Vivemos num
eterno devir, sempre às vésperas de alguma coisa, nem
que seja só o próximo segundo. Na iminência do que virá,
seja o almoço ou a morte. À beira do nosso futuro como - É um emigrante quando sai de um país e um imi-
um precipício. A iminência é o nosso estado natural. Pois grante quando chega em outro, mas é a mesma pessoa.
o que somos nós, todos nós, se não expectativas? - Pois então? Muitas vezes a distância entre um 'e'
- Você, então, se acha igual a mim? e um 'i' pode ser um oceano. E garanto que você terá
- Nesse sentido, sim. Somos coiminentes. muitos problemas na vida se não souber diferenciar um
- Com uma diferença. Eu estou na iminência de ônus de um ânus.
mandar açoitá-Io por insolência, e você está na iminên- - Isso são conjunturas.
cia de apanhar. - Você quer dizer 'conjeturas'.
- O senhor tem esse direito hierárquico. Faz parte - Não, conjunturas.
da sua eminência. - Não é 'conjeturas' no sentido de especulações,
- Admita que você queria dizer 'eminência' e disse su posições, hi póteses?
'iminência". E recorreu à filosofia para esconder o erro. - Não. 'Conjunturas' no sentido de situações,
- Só a iminência do açoite me leva a admitir que momentos históricos.
errei. Se bem que ... - Você queria dizer 'conjeturas' mas se enganou.
- Se bem quê? Admita.
- Perdão. Sou um verme, uma meleca, menos que - Eu disse exatamente o que queria dizer, monse-
nada. Um cisco no seu santo olho, monsenhor. Mas é tão nhor.
pequena a diferença entre um 'e' e um 'i' que o protesto - Você errou.
de vossa iminência soa como prepotência. Eminência, - Não errei, iminência.
iminência, que diferença faz uma letra? - Eminência! Eminência."
-Ah, é? Ah, é? Uma letra pode mudar tudo. Um emi- VERISSIMO,Luis Fernando. o Estado de S. Paulo,19 jul. 2008.
grante não é um imigrante. Caderno D. p. 16.
~ Questões
11 Localize as falas que fazem uso da função meta- IJ A linguagem usada no texto está no registro culto
linguística e justifique suas escolhas. ou popular? Por quê?
IJ Existe alguma expressão com função fática no 11 Procure no texto os termos e as frases que indicam
texto? Explique por quê. a hierarquia entre os dois falantes.
II
linguagens de diferentes tipos?
f) quais as transformações pelas quais passou;
Para que elas servem?
g) suas influências na música popular contem-
11 Descreva o processo de significação.
porânea.
0 0 e s GJ observância
guagem.
da variedade padrão da lin-