Você está na página 1de 10

Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Metodologias de Investigação I

Paradigmas de Investigação
Aula 2
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Actualmente instituiu-se que a “forma mais eficaz e produtiva de gerar e testar


conhecimento (e produzir novos artefactos) é através da investigação científica
e tecnológica…. aparece assim como o instrumento mais eficiente, que hoje se
conhece, para transformar uma realidade” (Fortin, 2003, p.122).
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Investigação em educação

A investigação em educação pretende contribuir com o desenvolvimento e


sistematização de conhecimento que permita compreender factos e fenómenos
do contexto educativo e/ou associados ao domínio da educação; persegue o
objectivo, pelo menos num plano ideológico, de melhorar o sistema educativo
instituído, os seus princípios, modelos, mecanismos, processos, elementos
estruturais, práticas, acções e actores.

Paradigmas de Investigação

Paradigma aparece como um esquema fundamental que orienta e perspectiva


ao investigador o delineamento de uma estrutura para o seu estudo.
A selecção de determinado paradigma de investigação alicerça-se nas crenças,
valores do investigador, devendo ser orientado em torno do seu problema de
investigação e contribuindo para a definição da metodologia a utilizar.

Negando as tradicionais visões dualistas assentes a lógica „Empirismo versus


Racionalismo‟ ou mais frequentemente designado de „Estudos quantitativos
versus Estudos qualitativos‟, propõem-se actualmente visões mais
diversificadas dos paradigmas da investigação.
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Segundo, Creswell (2007) podem ser distinguidas 4 paradigmas de


investigação:

1- Paradigma pós-positivista 3- Paradigma socio-crítico


2- Paradigma Construtivista 4- Pragmatismo

1- Paradigma pós-positivista

O Positivismo decorre da perspectiva empirista de procurar o conhecimento


proposta por Francis Bacon e John Locke e defende que a verdade deve ser
verificável.
Na busca do conhecimento assume a necessidade de verificação empírica, a
certeza da verdade do conhecimento decorre da verificação da percepção
imediata dos sentidos.
Elege o método hipotético-indutivo como forma de desenvolver ciência. Seria o
estudo de um número considerável de casos particulares que conduziriam à
formulação de hipóteses e, eventualmente, pela confirmação das mesmas, à
generalização desses casos particulares em leis gerais.
Segundo Mouly (1978, cit. por Cohen, Manion & Morrison, 2000)
“His basic premise was that if one collected enough data
without any preconceived notion about theirs significance and
orientation -thus maintaining complete objectivity- inherent
relationships pertaining to the general case would emerge to be
seen by the alert observer” (p.4).
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Alicerça a Ciência no monismo metodológico: postulava a unidade do método,


o método a seguir deveria ser o mesmo das ciências naturais (exacto, preciso,
replicável) e este deveria servir às demais ciências.
A ciência constrói-se assim como livre de quaisquer prejuizos advindos das
interpretações erróneas ou distorções provocadas pelo investigador
relativamente ao facto estudado, alicerça-se na observação (livre de teorizações)
e na experimentação. A realidade objectiva deve sobrepor-se às crenças
subjectivas.
Prevalece a explicação causal que busca a formação de leis gerais: à ciência recai
a responsabilidade de encontrar as causas ou motivos fundamentais que
permitam explicar e predizer os fenómenos, através da verificação empirica dos
factos (Creswell, 2007).

O Pós-positivismos é apresentado como uma nova visão emergente do


Positivismo, que desafia a noção tradicional em que a Ciência busca o
conhecimento absoluto, reconhecendo que não se podem definir verdades
absolutas quando o objecto de estudo é o comportamento e acção humana.
Nega foi a visão determinista como organizadora da realidade, segundo a qual
certas causas provocariam determinados efeitos ou resultados.

Este paradigma é frequentemente indicado como a perspectiva metodológica


que tem governado a produção do conhecimento. Alicerça-se em metodologias
quantitativas de recolha e análise de dados.

Baseia-se na crença de que toda a realidade pode ser mensurável. Qualquer


construto pode ser organizado em padrões e estratificado em categoriais de
análise. Os dados, os testes e as provas são fundamentais e são o alicerce das
considerações racionais que produzem o conhecimento. Toda a investigação
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

deve ser orientada pela preocupação de cumprir padrões máximos de validade,


fidelidade e fiabilidade.

Segundo este paradigma a investigação alicerça-se na construção e análise de


hipóteses (sobre a relação entre variáveis), que são aceites ou rejeitadas, sendo
neste segundo caso, consequentemente substituídas por outras hipóteses mais
fortemente garantidas.

Nesta perspectiva, o investigador posiciona-se como não intreveniente,


assumindo uma postura objectiva.

2) Paradigma Construtivista

É também designado de paradigma interpretativo ou como paradigma


naturalista (Cohen, Manion & Morrison, 2000).
Esta perspectiva alicerça-se sobretudo em três escolas de pensamento da
Sociologia: a Fenomenologia, a Etnometodologia e o Interaccionismo simbólico.

Emerge com base na ideia de que os sujeitos tendem a entender o mundo de


forma individual, desenvolvendo significados próprios sobre as suas
experiências. Em consequência, o entendimento que apresentam do mundo
(objectal) é sempre múltiplo e subjectivo. O papel da investigação é procurar a
complexidade desses múltiplos significados, congregando-as e reduzindo-as a
um número menor de categorias ou ideias.

As situações e eventos são fluídos e mutáveis e não fixos ou estásticos, assim


necessitam de ser analisados longitudinalmente. O comportamento humano
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

necessita ser considerado de forma situada (“situated activities”). Descentra-se


de tentar descobrir e produzir generalizações úteis acerca do comportamento
humano.

Na análise dos significados, os quais são sempre colectivamente construídos, é


tido em consideração o contexto socio-cultural dos sujeitos bem como o
momento histórico vivido.

Liga-se a uma perspectiva qualitativa de recolha e análise de dados. Tais


processos ligam-se sobretudo a prática de diálogo, questionamento e interacção
com os participantes, numa metodologia iminentemente indutiva.

O investigador reconhece que o seu próprio significado da realidade exerce


influência sobre a investigação que desenvolve, logo posiciona-se no seu
interior. A ele cabe dar sentido e estrutura aos significados que os outros
sujeitos apresentam.

3) Paradigma socio-crítico

Também designado como perspectiva crítica ou participatória de investigação,


este paradigma decorre da Escola de Frankfurt (génese da Perspectiva marxista,
crescendo sobretudo nos anos 80/90 do século XX, por elementos que
consideravam o paradigma pós-positivista como impondo leis e teorias que
apenas incluiam e serviam os grupos privilegiados da sociedade e que não
abordavam e colocavam sob análise questões de justiça social. De igual modo,
critica o paradigma construtivista por entender que não defende
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

suficientemente a necessidade de uma agenda política e social que ajudasse os


grupos marginalizados.

Defende que a investigação está e deverá estar envolvida com a agenda política,
devendo assim definir orientações de acção para a reforma do sistema
económico assente na alienação social. O seu objectivo central é criar debate
político e discussão para promover a consciencialização da necessidade de
mudança societal.

Aborda na investigação que desenvolve-se sobretudo questões actuais


preocupantes, ligada sobretudo à distribuição de poder, à desigualdade,
opressão, dominação e alienação social.

Apresenta-se como uma perspectiva de investigação reformista, e dialéctica,


que pretende a mudança de teorias e práticas e da própria forma de entender a
investigação.

É considerada uma perspectiva de investigação emancipatória pois concentra-se


em ajudar os indivíduos a libertarem-se dos constrangimentos que a sociedade
impõe sobre as suas vidas, através dos média, das instituições educativas, das
organizações empresariais, do sistema político, etc. É, de igual modo,
denominada de colaborativa ou participatória, na medida em que a
investigação decorre com as pessoas e não “sobre” as pessoas. Os participantes
são activamente envolvidos na investigação, podem ajudar a definir as questões
de investigação, a recolha e análise de dados.

Entende que além do investigador não poder assumir-se como objectivo


aceitando a sua subjectividade, este deverá igualmente tomar consciência de
que nenhum teórico ou investigador é ideologica ou politicamente neutro.
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

4) Pragmatismo
. Aparece ligado à actual hegemonia económica e política e enaltece a
produtividade e o sentido prático da investigação. Defende a Liberdade e o
Pluralismo.

. A preocupação descentra-se do posicionamento numa determinada


perspectiva ou metodologia e liga-se antes à aplicação do conhecimento ao real.
O importante de eleger como metodologia e como métodos de recolha e análise
de dados é o que melhor funciona para responder ao problema que se elege.

O mundo não é entendimento como unidade absoluta, logo exige que se recorra
a técnicas múltiplas para recolher, analisar os dados e entender a realidade. A
investigação pragmática organiza-se sobretudo com base em metodologias
mistas, organizando-se com base num modelo multimétodo.

Concorda que a investigação, bem como toda a realidade, ocorre sempre num
determinado contexto, logo as suas esferas social, cultural, histórica e política
devem ser consideradas e entendidas na influência que exercem. A selecção de
determinadas perspectivas teóricas e de uma determinada metódologia e
técnicas de recolha e análise de dados assume sempre por detrás a carga
emocional e ideológica assumida pelo investigador.
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

Referências

Cohen, L., Manion, L., & Morrison, K. (2000). Research methods in education (5th
edition). London: Routledge Falmer.

Creswell, J. K. (2007). Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e


misto (2ª edição). Porto Alegre: Artmed Editora.

Fortin, M. F. (2003). O processo de investigação: da concepção à realização (3ª edição).


Loures: Lusociência.

Novembro 2010
Neuza Pedro
Instituto de Educação_Universidade de Lisboa

Você também pode gostar