O documento discute três paradigmas nas ciências sociais:
1) Construtivismo Social enfatiza as percepções individuais e que a realidade é construída socialmente;
2) Pós-positivismo defende o método científico para produzir conhecimento confiável, mas reconhece a influência da teoria na observação;
3) Teoria Crítica busca a transformação social revelando relações de poder.
O documento discute três paradigmas nas ciências sociais:
1) Construtivismo Social enfatiza as percepções individuais e que a realidade é construída socialmente;
2) Pós-positivismo defende o método científico para produzir conhecimento confiável, mas reconhece a influência da teoria na observação;
3) Teoria Crítica busca a transformação social revelando relações de poder.
O documento discute três paradigmas nas ciências sociais:
1) Construtivismo Social enfatiza as percepções individuais e que a realidade é construída socialmente;
2) Pós-positivismo defende o método científico para produzir conhecimento confiável, mas reconhece a influência da teoria na observação;
3) Teoria Crítica busca a transformação social revelando relações de poder.
paradigmas Alda Judith Alves-Mazzotti Introdução • A “crise dos paradigmas” teve seu auge nos anos 1960 (questionamentos de Kuhn e da Escola de Frankfurt)
• Reações opostas às críticas de Kuhn à impossibilidade de
avaliação objetiva de teorias científicas:
– Relativismo: “vale tudo” de Feyerabend e construtivismo social da
Sociologia do Conhecimento; – Críticas aos argumentos de Kuhn, apontando exageros e afirmando a possibilidade de uma ciência que busque a objetividade, não confundindo objetividade com certeza
• Por sua vez, muitos cientistas sociais buscavam caminhos para a
efetivação de uma ciência comprometida com a transformação social Introdução • Nesse contexto, ganharam força, nas Ciências Sociais, os modelos “alternativos” ao positivismo, reunidos sob o rótulo de “paradigma qualitativo” (falsa oposição qualitativo- quantitativo e ilusão de homogeneidade interna)
• Discutiremos aqui as tendências atuais dos paradigmas mais
comumente apontados como sucessores do positivismo O “paradigma qualitativo” nos anos 1980 • Críticas a um positivismo ingênuo que vê o conhecimento científico como fotografia do real, objetiva e neutra, e que corresponde ao único conhecimento infalível e verdadeiro (será que isto existiu?)
• Ao se definirem por oposição ao positivismo, os “qualitativos” caem
numa negação indeterminada, juntando em um mesmo “paradigma” uma vasta gama de tradições, com pressupostos e metodologias inconciliáveis (fenomenologia, interacionismo simbólico, behaviorismo naturalista, etnometodologia, psicologia ecológica, conforme Patton, 1986) ou doutrinas, disciplinas e métodos (etologia, observação participante e não-participante, jornalismo investigativo, connoisseurship – trabalho do crítico de arte -, fenomenologia, estudo de caso, história oral, história natural antropológica, trabalho de campo, etnometodologia, etnografia da comunicação, etografia e etnologia, conforme Wolcott, 1982) O “paradigma qualitativo” nos anos 1980 • Lincoln e Guba (1985): caracterizam o novo paradigma como naturalista e, depois, construtivista, também sendo chamado de qualitativo, pós- positivista, etnográfico, fenomenológico, subjetivista, estudo de caso, hermenêutico e humanístico, as quais corresponderiam a diferentes “doutrinas”
• Há 21 definições de paradigma na obra de Kuhn, segundo Masterman
(1979)
• Principal característica das pesquisas qualitativas é seguirem a tradição
“compreensiva” ou interpretativa (Patton, 1986), partindo do pressuposto que as pessoas agem em função de suas crenças, percepções, sentimentos e valores e que seu comportamento tem sempre um sentido, um significado que não se dá a conhecer de modo imediato, precisando ser desvelado
• Três características essenciais aos estudos qualitativos: visão holística,
abordagem indutivista e investigação naturalística O “paradigma qualitativo” nos anos 1980 • Visão holística: compreensão do significado de um comportamento ou evento só é possível em função da compreensão das inter-relações que emergem em um dado contexto
• Abordagem indutiva: pesquisador parte de observações mais
livres, deixando que dimensões e categorias de interesse emerjam progressivamente durante os processos de coleta e análise de dados
• Investigação naturalística: aquela em que a intervenção do
pesquisador no contexto observado é reduzida ao mínimo O “paradigma qualitativo” nos anos 1980 • Pesquisador como principal instrumento de investigação
• Necessidade de contato direto e prolongado com o campo
para captar os significados com os comportamentos observados
• Natureza predominante dos dados qualitativos: “descrições
detalhadas de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos observados; citações literais do que as pessoas falam sobre suas experiências, atitudes, crenças e pensamentos; trechos ou íntegras de documentos, correspondências, atas ou relatórios de casos” (Patton, 1986, p. 22) Panorama atual • Diferenças no “paradigma qualitativo”: posição referente à natureza do real, o campo de objetos apropriados ao tipo de pesquisa, crenças sobre os méritos dos diferentes métodos e técnicas, forma de apresentar os resultados e critérios para julgar a qualidade dos estudos
• Três paradigmas são então apresentados como sucessores do
positivismo: construtivismo social, pós-positivismo e teoria crítica
• Paradigma: “conjunto básico de crenças que orienta a
ação[“investigação disciplinada]” (Guba, 1990)
• Caracterização destes paradigmas nas dimensões ontológica (natureza
do objeto a ser conhecida), epistemológica (relação entre conhecedor e conhecido), epistemológica (processo de construção do conhecimento pelo pesquisador) Construtivismo Social • Foi influenciado pela fenomenologia e pelo relativismo
• Tal como a fenomenologia:
– Enfatiza a intencionalidade dos atos humanos e o “mundo vivido” pelos sujeitos, privilegiando as percepções dos atores – Método parece “colocar entre parêntese” as crenças e proposições sobre o mundo para melhor apreendê-lo – Nenhuma teoria a priori é capaz de abarcar as “múltiplas realidades” que emergem em uma investigação, acrescentando que “acreditar é ver” e por isso o pesquisador construtivista “quer iniciar suas transações com os respondentes do modo mais neutro possível” (Lincoln e Guba, 1985, p. 41) – Afinados com a perspectiva de Schultz (1967): estudo do comportamento social interpretando seu significado subjetivo através das intenções dos indivíduos e das maneiras pelas quais atribuem significado aos fenômenos sociais Construtivismo Social • Tal como os relativistas: – Descartam qualquer possibilidade de objetividade no conhecimento – Contrapõem com o conceito de imparcialidade – Afirmam que a ideia de objetividade supõe que existe apenas uma perspectiva verdadeira sobre um dado fenômeno, correndo-se o risco de desconsiderar outras perspectivas possíveis – O critério de imparcialidade seria de ouvir as perspectivas de ambas as partes procurando chegar a um ponto de equilíbrio, a uma posição que seja justa com ambas as partes (tal como um juiz) Construtivismo Social • Pressupostos básicos (Guba, 1990): 1. Ontologia relativista: as realidades existem sob forma de múltiplas construções mentais, locais e específicas, fundadas na experiência social de quem as formula 2. Epistemologia subjetivista: resultados são sempre criados pela interação pesquisador/pesquisado 3. Metodologia hermenêutica-dialética: as construções individuais são provocadas e refinadas através da hermenêutica (“teoria da interpretação”) e confrontadas dialeticamente, com o objetivo de gerar uma ou mais construções sobre as quais haja um significativo consenso entre os respondentes Pós-positivismo • Enfatiza o uso do método científico como a única forma válida de produzir conhecimentos confiáveis
• Defende a adoção deste método também para as Ciências Sociais
• Preferência por modelos experimentais e quase-experimentais
com teste de hipóteses, tendo como objetivo último a formulação de teorias explicativas de relações causais (Green, 1990; Le Compte, 1990; Schwandt, 1990)
• Alguns autores consideram que esta abordagem se trata de uma
forma disfarçada do positivismo Pós-positivismo • Seus adeptos afirmam que esta não é uma continuação do positivismo, já que e “nova filosofia da ciência”, há muito, descartou os princípios básicos do positivismo
• Ao contrário dos positivistas, os pós-positivistas se recusam a considerar
a observação como, ao mesmo tempo, fundamento e arbítrio do conhecimento científico, o que exigiria que todos os conceitos teóricos fossem traduzidos em termos observacionais
• Admitem a subdeterminação da teoria (desenvolvimento de uma nova
teoria referente aos mesmos fenômenos), mas consideram que há critérios racionais que permitam escolher entre duas teorias rivais
• Admitem que a teoria adotada influencia a observação do fenômeno,
mas isto não é razão para que se abandone o uso de teorias a priori no processo de investigação, como sugerem os construtivistas Pós-positivismo • Argumentam que pesquisadores partindo de diferentes referenciais teóricos podem chegar a resultados consistentes entre si e, quando isso não ocorre, seus resultados podem ser discutidos e avaliados com base nos procedimentos utilizados (Phillips, 1990)
• Questão central: afirmação da possibilidade da objetividade
nas Ciências Sociais: “a noção de objetividade, como a noção de verdade, é um ideal regulatório subjacente a qualquer investigação. (...) Se abandonarmos essas noções, não tem sentido fazer pesquisa” (Phillips, 1990, p. 43) Pós-positivismo • Argumentam que a ideia de que pesquisas qualitativas não podem ser objetivas parece se basear em uma noção ingênua de objetividade, como se ser objetivo significasse conhecer a realidade em seu “estado puro”
• Ser “objetivo” significa atender a critérios de qualidade, a padrões
de procedimentos, embora a objetividade não garanta certeza quanto aos resultados
• Apenas significa que essas investigações estão livres de erros
grosseiros
• O questionamento da noção da objetividade tem suas raízes na
queda do fundacionalismo (crença de que o conhecimento era construído sobre – ou justificado por – algum fundamento sólido e inquestionável - razão ou experiência Pós-positivismo • Abandonar o fundacionalismo significa abandonar a certeza de que sabemos de algo quando encontramos a verdade, mas não se deve confundir objetividade com certeza, pois todo conhecimento é sempre tentativo
• O que é crucial para a objetividade de qualquer pesquisa é a
aceitação da “tradição crítica” (aberta à análise, à crítica, ao questionamento da comunidade científica para que erros grosseiros e tendenciosidades do pesquisador sejam eliminados) Pós-positivismo • Pressupostos básicos (Guba, 1990): 1. Ontologia crítico-realista: existência de uma realidade externa ao sujeito que é regida por leis naturais, embora estas nunca possam ser totalmente apreendidas (precariedade dos mecanismos sensoriais e intelectivos do homem) 2. Epistemologia objetivista-modificada: objetividade como um “ideal regulatório”, mas admite que o pesquisador dela se pode apenas aproximar, guardando a tradição crítica (exigência de clareza no relato da investigação e consistência com a tradição na área)e a comunidade crítica (julgamento dos pares) 3. Metodologia experimental/manipulativa modificada: enfatiza o “multiplismo crítico” (triangulação que recorre a várias fontes de dados e procura corrigir os desequilíbrios anteriormente mencionados, usando mais métodos qualitativos e mais teorias fundamentadas e reintroduzindo a descoberta no processo de investigação Teoria Crítica • Sentidos de “crítica”: 1. Crítica interna, análise rigorosa da argumentação e do método, buscando dar consistência lógica entre argumentos, procedimentos e linguagem
2. Ênfase nas condições de regulação social,
desigualdade e poder; papel da ciência na transformação da sociedade Teoria Crítica • A diferença básica com as demais abordagens qualitativas está na motivação política dos pesquisadores e nas questões sobre desigualdade e dominação que, em consequência, permeiam seus trabalhos (Carspecken e Apple, 1992)
• Abordagem crítica é essencialmente relacional: (1) investiga os
grupos de instituições relacionando as ações humanas com a cultura e as estruturas sociais e políticas, tentando compreender como as redes de poder são produzidas, mediadas e transformadas; (2) pressuposto de que nenhum processo social pode ser compreendido de forma isolada, como uma instância neutra acima dos conflitos ideológicos da sociedade, pois estão sempre vinculados às desigualdades culturais, econômicas e políticas da sociedade Teoria Crítica • Questionam a dicotomia objetivo/subjetivo, pois confunde
• Subjetividade não como o que ocorre “na cabeça das pessoas”
• Reconhecem a subjetividade como assimétrica, sendo
determinada por múltiplas relações de poder e interesses de classe, raça, gênero, idade e orientação sexual
• Ser objetivo “é considerar os padrões socialmente formados
impostos sobre nossa vida cotidiana (...) porque essas condições são historicamente formadas através das lutas humanas, [considerar] que esses padrões são dinâmicos e mutáveis” (Popkewitz, 1990, p. 56) Teoria Crítica • Popkewitz: quando esses dois conceitos são aplicados aos fenômenos do mundo, não é fácil distinguir o que pertence à individualidade de cada um e o que é resultado de regras e padrões sociais inconscientemente assimilados
• Teoria Crítica é inadequado para enquadrar todas as
• Ao invés, sugere o termo “investigação ideologicamente
orientada” (Guba, 1990, p. 23): pesquisa como ato político Teoria Crítica • Pressupostos básicos: 1. Ontologia crítico-realista: crença em uma realidade objetiva que deve ser desvelada (“falsa-consciência”). Tarefa do pesquisador fazer com que os sujeitos (oprimidos) atinjam o nível da “consciência verdadeira”, necessária à transformação do mundo 2. Epistemologia subjetivista: valores do pesquisador estão presentes em todo o processo de investigação 3. Metodologia dialógica, transformadora: coerente com o objetivo de aumentar o nível de consciência dos sujeitos, com vistas à transformação social Avanços e perspectivas • Ao se livrarem da polarização quantitativo/qualitativo e estabelecer diferenciações internas às abordagens “qualitativas”, os pesquisadores voltaram sua atenção para a análise dessas diferenças e das possibilidades de diálogo entre eles
• A diferença entre as três posições está na ênfase
atribuída ao papel da teoria, dos valores e da interação pesquisador/pesquisado na configuração dos “fatos” e a subdeterminação da teoria, além das consequências derivadas delas Avanços e perspectivas • Para os construtivistas sociais, a aceitação da construção social da realidade desemboca necessariamente no relativismo
• Para os pós-positivistas e teórico-críticos, o
fato de que a realidade é socialmente construída constitui um dado importante a ser incorporado à análise, mas não traz como consequência o relativismo Avanços e perspectivas • Ponto central das divergências: questão da objetividade e da acumulação do conhecimento – Construtivistas: relativismo radical – Pós-positivistas: repudiam explicitamente o relativismo – Teórico-críticos: repudiam o relativismo
• Papel atribuído à pesquisa
– Se o pesquisador se propõe a compreender os significados atribuídos pelos atores às situações e eventos dos quais participam, se tenta entender a “cultura” de um grupo ou organização, no qual existem diferentes visões correspondentes aos subgrupos que os compõem (construtivismo social), o relativismo não constitui problema – Se o pesquisador se propõe à construção de teorias (pós-positivismo) ou à transformação social (teoria crítica), a qual exige acordo em torno de decisões ou princípios que possibilitem a ação conjunta, o relativismo passa a ser um problema Avanços e perspectivas • Passagem de um debate em termos de “tudo ou nada” do período anterior para uma discussão em torno das ênfases levou a uma maior elaboração de conceitos para distinções mais rigorosas e explicitação dos pressupostos
• Acomodação entre paradigmas (possibilidade de
compatibilizar aspectos de diferentes paradigmas): ciências sociais são multiparadigmáticas (competem vários paradigmas) – Compatibilistas – Não-compatibilistas Avanços e perspectivas • Três diferentes níveis de acomodação de paradigmas (Austin, 1990): – Nível filosófico (é possível chegar a um acordo em termos de questões de fundo?) – Nível de comunicação social (podemos utilizar conhecimentos gerados por outros paradigmas?) – Nível pessoal (posso eu, como investigador individual, me valer de diferentes paradigmas com o objetivo de dar conta de problemas específicos?)
• Considera que há uma tendência a considerar que
algum tipo de acomodação seja possível (mais às duas últimas instâncias) Avanços e perspectivas • Não-compatibilistas entre paradigmas: – Argumentam que resultaria no encerramento de um debate provocativo sobre problemas essenciais, não resolvidos pela pesquisa (Smith e Heshusius, 1986)
Resenha Crítica Do Capítulo Iii - o Marxismo Ou o Desafio Do "Principio Da Carruagem" Do Livro As Aventuras de Karl Marx Contra o Barão de Munchhausen, de Michel Löwy.