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ADORNO & HORKHEIMER E O PRECONCEITO

COMO BASE DE ATITUDES DISCRIMINATÓRIAS:


UMA REFLEXÃO PARA A FORMAÇÃO DOCENTE
Alexandre Souza Franco1

1. Considerações iniciais

Este breve estudo tem por finalidade entender o preconceito como suporte
para a prática de atos discriminatórios, na perspectiva da Teoria Crítica proposta
no texto: Elementos do anti-semitismo: limites do esclarecimento, de Max Horkheimer
(1895-1973) e Theodor Adorno (1906-1969).
O estudo aqui proposto advém das inquietações suscitadas a partir da
leitura dos textos apresentados, assim como percepção dos noticiários sobre
a conjuntura política atual. Deles, surgiu a motivação para as discussões aqui
apresentadas.
A partir desses pressupostos, o problema que se formula é o seguinte:
quais os elementos arraigados na atual sociedade que possibilitam condutas pre-
conceituosas e, consequentemente, discriminatórias?
Para essa análise, concorda-se com a perspectiva frankfurtiana que, no
essencial, considera os preconceitos fundamentados em estereótipos negativos2
e projeções irracionais, por isso, influenciam comportamentos discriminatórios.
Não obstante, considera-se que outras interpretações hermenêuticas são possíveis.
Dessa maneira, este escrito se justifica na medida em que permite, ao
leitor, refletir sobre o preconceito mediante a análise da perspectiva da Teoria
Crítica. Com isso, espera-se contribuir para a formação docente, bem como,
para o debate em torno da questão da discriminação que, aparentemente, encon-
tra-se imperceptível por ser, de certo modo, socialmente naturalizada.

1 Mestre em Educação pela UEM (Universidade Estadual de Maringá); Graduado e Licen-


ciado em Filosofia pela PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná). Especialis-
ta em Ensino de Filosofia pela UFPR (Universidade Federal do Paraná); Especialização
em Metodologia do Ensino de Sociologia e Filosofia pela FCE (Faculdade Campos Elíse-
os), e Membro do Grupo de Pesquisa Transformações Sociais e Pensamento Educacional.
E-mail: alejandre22@gmail.com.
2 CROCHICK, José Leon. Aula expositiva online. São Paulo, 20 de outubro de 2020. In-
formação verbal.

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2. As frustrações pessoais como base para o preconceito e a discriminação

Ao se falar sobre o preconceito como pressuposto para atitudes discrimi-


natórias, faz-se necessário, primeiramente, buscar defini-lo e compreender o seu
surgimento. Em outras palavras, é preciso nomeá-lo, pois é indispensável identi-
ficá-lo para compreender sua natureza e manifestação. Para isso, é fundamental
também que esse termo seja pensado na sua relação com a realidade concreta
das coisas, em particular, com o conceito de indústria cultural formulado por
Theodor Adorno3 e Max Horkheimer4.
Embora o conceito de indústria cultural “não seja o mesmo” pensado
pelos autores acima citados – isso porque quando eles formularam o conceito,
aproximadamente a oitenta anos atrás, quando o capitalismo não dispunha dos
mecanismos técnico-científico-informacionais da atualidade que potencializam
em dimensões globais suas influências, principalmente por meio das redes so-
ciais –, ela (indústria cultural) sempre manteve estreita relação com a sociedade
3 Theodor W. Adorno, nasceu em meio de uma família de musicistas judeus, em 1906, em
Frankfurt, na Alemanha. Graduou-se em Filosofia na mesma cidade e estudou composi-
ção musical em Viena, com Alban Berg, uma das principais figuras que contribuíram para
o desenvolvimento da música atonal. Seus estudos estéticos encontraram grande amparo
na música, e continuaram mesmo depois de ele ter se juntado ao Instituto de Pesquisa
Social em meados dos anos 1920. Doutorou-se pelo Instituto e assumiu a vaga de docente,
mas com a tomada do poder pelos nazistas, em 1933, migrou para a Inglaterra, onde pas-
sou a lecionar na universidade de Oxford. Em 1937, partiu para o exílio nos EUA e, um
ano mais tarde, publicou o famoso ensaio Sobre o Caráter Fetichista da Música e a Regressão da
Audição. É nesse período que publicou seus principais texto como a Filosofia da Nova Mú-
sica, e, em coautoria com Horkheimer, A Dialética do Esclarecimento (1947). Adorno foi uma
personalidade central na discussão estética do Instituto, cunhando o célebre e conceito de
“indústria cultural” para designar a exploração dos bens culturais para obtenção do lucro.
Com o fim da guerra, Adorno voltou a Frankfurt em 1950 e participou da reorganização
do Instituto, além de assumir sua direção após a aposentadoria de Horkheimer. Trabalhou
na Teoria Estética e concluiu a primeira versão do texto em 1968.Morreu prematuramente,
um ano mais tarde (ARÊAS, p. 40).
4 Max Horkheimer nasceu em Stuttgart na Alemanha, em 14 de fevereiro de 1895, no seio
de uma família de origem judaica. Seu pai, Mortitz Horkheimer, era um bem sucedido
fabricante têxtil; estava destinado a Max dar continuidade aos negócios da família. De
1916 a 1918 chegou a trabalhar na indústria do pai, mas logo optou pela vida acadêmica.
Estudou filosofia e Psicologia em Munique, Friburgo e finalmente em Frankfurt casou-se
com rosa em 1926. Em 1930 tornou-se professor na Universidade de Frankfurt, quando -
por intermédio de seu amigo pessoal Friedrich Pollock - se ligou ao Instituto de Pesquisa
Social. No mesmo ano substituiu Carl Grunberg na direção do Instituto, onde iria perma-
necer até sua aposentadoria em 1967. Diante da ameaça do governo nazista, Horkheimer
transferiu o Instituto para os EUA em Associação com a Columbia e Universiy. Publicou
no período de exílio o famoso ensaio Teoria Tradicional e Teoria Crítica, em 1937, que
posteriormente seria o marco da escola. Em 1947, ainda nos EUA, publicou suas duas
principais obras: Eclipse da Razão e Dialética do Esclarecimento, esta em coautoria com Ador-
no. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, conseguiu meios de viabilizar o retorno do
Instituto a Alemanha, que se concretizou em 1950. De 1951 a 1953, foi reitor da Universi-
dade de Frankfurt, aposentando-se em 1967, cuja vaga de diretor do Instituto foi assumida
por Adorno. Morreu em Nuremberg em 1973 (ARÊAS, p. 35).

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de sua época atingindo a todos, sem distinção de camada social, tampouco a pro-
dução artística deixou de ser mercadoria, para além, ela reduziu-se a um produ-
to como outro qualquer. Nessa perspectiva, dá-se a continuidade à análise acerca
do preconceito, na tentativa de defini-lo no interior do quadro apresentado.
A partir das reflexões oriundas do texto, é possível inferir que o precon-
ceito é a exteriorização da desumanização do indivíduo, sem bases racionais,
ou seja, assim como: “O anti-semitismo baseia-se numa falsa projecção [...]”
(HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 88), o preconceito também parte de fal-
sos julgamentos.
Para os frankfurtianos, os aspectos ideológicos, sociais, econômicos e re-
ligiosos ofuscam a racionalidade que, por si, não consegue fornecer argumentos
sólidos para entender a violenta perseguição sofrida pelos judeus.
A resposta encontrada pelos autores para o comportamento das pessoas
que deram origem ao nazifascismo está fundamentada no conceito de idiossin-
crasia como principal justificativa dos antissemitas.
A velha resposta de todos os anti-semitas é o apelo à idiossincrasia. A eman-
cipação da sociedade relativamente ao anti-semitismo depende da possibi-
lidade de elevar ao conceito o conteúdo da idiossincrasia e de tomar cons-
ciência de seu absurdo. A idiossincrasia, porém, apega-se ao particular. O
que se considera como natural é o universal, o que se encaixa no contexto
funcional da sociedade (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 85).

Em outros termos, ao se avaliar mais de perto essa expressão – idiossin-


crasia – os autores destacam, que o que se tomou por natural foi o resultado de
uma naturalização, ou seja, fruto de uma padronização na forma de pensar e,
por sua vez, na forma de agir.
Nesse caso, o preconceito disseminado em relação aos judeus, na verda-
de, foi a padronização de uma prática que se mostrou conveniente para uma
sociedade que estava mergulhada tanto no monopólio capitalista quanto no
nazifascismo.
Dessa forma, é interessante considerar que:
[...] Por mais correctas que sejam, as explicações e os contra argumentos
racionais, de natureza econômica e política, não conseguem fazê-lo, por-
que a racionalidade ligada à dominação está ela própria na base do sofri-
mento. Na medida em que agridem cegamente e cegamente se defendem,
perseguidores e vítimas pertencem ao mesmo circuito funesto. O compor-
tamento anti-semita é desencadeado em situações em que os indivíduos
obcecados e privados de sua subjectividade se vêem soltos enquanto sujei-
tos [...] (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 81).

Isso implica dizer que a “violência é o resultado do processo de

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desumanização da sociedade5”, nesse sentido, o preconceito – termo que se bus-


ca dar uma definição aqui neste texto –, é resultado de algo que foi naturalizado
por uma sociedade, ou seja, a atitude preconceituosa nunca é mimetizada, mas
representada, isto é, o objeto nunca é imitado, mas representado, reproduzido.
Uma vez que o preconceito é identificado como representação, como re-
produção sem bases racionais que expliquem a atitude do sujeito preconceituo-
so, antes de relacioná-lo com as atitudes discriminatórias, é preciso entender
como ele (o preconceito) é assimilado por determinados segmentos sociais.
Segundo o professor José Leon Crochick (2020), o “narcisismo individual
(resultado das frustrações pessoais) dá origem ao narcisismo coletivo, isto é, ao
sentimento de patriotismo”, para dizer que a base do preconceito, em muitos ca-
sos, é resultado de uma “natureza não conciliada”, conforme asseveram Adorno
e Horkheimer:
[...] Os homens obcecados pela civilização só se apercebem de seus pró-
prios traços miméticos, que se tornaram tabus, em certos gestos e compor-
tamentos que encontram nos outros e que se destacam em seu mundo ra-
cionalizado como resíduos isolados e traços rudimentares verdadeiramente
vergonhosos. O que repele por sua estranheza é, na verdade, demasiado
familiar [...] (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 86, negrito nosso).

Os filósofos apresentam, pode-se dizer, o ponto nevrálgico para se com-


preender que o preconceito, por um lado, é resultado das frustrações pessoais
que são projetadas no outro. Dito de outro modo, há uma espécie de pulsão
reprimida que é exteriorizada na figura do outro, mas é o resultado das frustra-
ções pessoais que encontram refúgio nos semelhantes que passam pelas mesmas
situações, pois:
Se o exterior se torna para a primeira o modelo ao qual o interior se ajusta,
o estranho tornando-se o familiar, a segunda transpõe o interior prestes a
saltar para o exterior e caracteriza o mais familiar como algo de hostil. Os
impulsos que o sujeito não admite como seus e que, no entanto, lhe per-
tencem são atribuídos ao objecto: a vítima em potencial. Para o paranoico
usual, sua escolha não é livre, mas obedece às leis de sua doença. No fas-
cismo, esse comportamento é adoptado pela política, o objecto da doença
é determinado realisticamente; o sistema alucinatório torna-se a norma
racional no mundo, e desvio a neurose. [...] (HORKHEIMER; ADORNO,
1985, p. 88).

Até aqui se verificou que pensar o preconceito a partir da análise da Teoria


Crítica não é tarefa simples, uma vez que já foi apontado que há elementos irra-
cionais, aspectos narcísicos, bem como frustrações e projeções oriundas de uma
natureza “não conciliada”.
5 GALUCH, Terezinha Bellanda. Aula expositiva online. Maringá, 29 de Setembro de
2020. Informação verbal.

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Para além dos fatores psicológicos apresentados, existe o aspecto políti-


co-ideológico de manipulação das massas via meios de comunicação. Esse é o
outro lado do ponto nevrálgico para compreender o que é preconceito na socie-
dade de indústria cultural. Mas o que é indústria cultural? A indústria cultural é
a “máquina” que o “sistema” utiliza para atingir sua funcionalidade. Ora, mas
o que é o “sistema”? É, ao mesmo tempo, criador e criatura de si, porque se vale
da razão instrumental para atingir os fins estabelecidos e controlados pelo poder
político e econômico.
Segundo os pensadores de Frankfurt, vive-se em uma sociedade adminis-
trada, na qual:
A naturalização dos homens hoje em dia não é dissociável do progresso so-
cial. O aumento da produtividade económica, que por um lado produz as
condições para um mundo mais justo, confere por outro lado ao aparelho
técnico e aos grupos sociais que o controlam uma superioridade imensa
sobre o resto da população. O indivíduo vê-se completamente anulado em
face dos poderes económicos. Ao mesmo tempo, estes elevam o poder da
sociedade sobre a natureza a um nível jamais imaginado. Desaparecendo
diante do aparelho a que serve, o indivíduo vê-se, ao mesmo tempo, me-
lhor do que nunca provido por ele. Numa situação injusta, a impotência
e a dirigibilidade da massa aumentam com a quantidade de bens a ela
destinados [...] (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 03).

Isso implica dizer que a indústria cultural, constituída essencialmente


pela mídia – televisão, rádio, cinema, publicidade, internet, redes sociais etc. –,
é usada como meio para que o poder econômico imponha valores e modos de
comportamentos, bem como “crie” e estabeleça novas linguagens.
A linguagem, os valores, as necessidades e os comportamentos são padro-
nizados na medida em que alcançam a todos, consequentemente geram falta de
criatividade e de criticidade.
É precisamente sob essa perspectiva que os valores propagados são disfor-
mes e não emancipam. Eles apequenam a autenticidade dos indivíduos, porque
estes se acostumam a receber passivamente as mensagens:
[...] A indústria cultural realizou maldosamente o homem como ser gené-
rico. Cada um é tão somente aquilo mediante o que pode substituir todos
os outros: ele é fungível, um mero exemplar. Ele próprio, enquanto indi-
víduo, é o absolutamente substituível, o puro nada [...] (HORKHEIMER;
ADORNO, 1985, p. 69, negrito nosso).

Para além, os “tentáculos” da indústria cultural alcançaram e “estrangu-


laram” o momento de lazer dos indivíduos, em que o divertimento não é mais o
tempo voltado para a recreação, tão pouco o momento da “liberdade”, da criati-
vidade, da alegria, do happy hour etc., Isso porque a indústria cultural fixa o ho-
rário, assim como, aquilo que é considerado diversão – haja vista a quantidade
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de espaços que são procurados para se realizar festas de aniversário e outras


comemorações, que depois da hora estipulada do uso do local, todos saem para
dar lugar a outros que já fizeram a reserva antecipada do respectivo ambiente.
Nesse sentido, o indivíduo se submete e se sujeita às regras do “tempo
livre”, que é o tempo estabelecido e programado pela indústria cultural, ou seja,
há uma “formação para a alienação na qual o sujeito só é feliz quando está
integrado ao sistema6”, pois “a heroificação do indivíduo mediano faz parte do
culto do barato [...]” (HORKHEIMER; ADORNO, 1985, p. 74). Dessa manei-
ra, a indústria cultural não veicula propriamente uma ideologia, ela é a própria
ideologia – a ideologia da aceitação, dos fins estabelecidos por “outros” –, ou
seja, pelo sistema.
A discussão até aqui apresentada permite compreender que o sujeito con-
trolado pela indústria cultural – o indivíduo idiossincrático –, se identifica com
o sistema “encarnado” na figura de um líder, pois “no rebanho sem pastor, a
necessidade de ser orientado continua, e é aí o momento no qual falsos líderes
aparecem7”, como foi no caso do nazifascismo.
O impulso recusado é permitido na medida em que o civilizado o desinfec-
ta através de sua identificação incondicional com a instância recusadora.
Passado o limiar, o riso aparece. É este o esquema da reação antissemita.
É para celebrar o instante da liberação autoritária do proibido que os an-
tissemitas se reúnem, só ele transforma-os numa colectividade, e constitui
a comunidade da espécie. Seu alarido é a gargalhada organizada. Quanto
mais medonhas as acusações e as ameaças, quanto maior a fúria, mais
compulsório o escárnio. A fúria, o escárnio e a imitação venenosa são
agora a mesma coisa [...] O fascismo também é totalitário na medida em
que se esforça por colocar directamente a serviço da dominação a própria
rebelião da natureza reprimida contra essa dominação.
Esse mecanismo precisa dos judeus. Sua visibilidade artificialmente au-
mentada age sobre o filho legítimo da civilização gentia, por assim dizer,
como um campo magnético. O facto de que o indivíduo que tem raízes
vê no que o diferencia do judeu a igualdade, o humano, induz nele o
sentimento de antagonismo e de estranheza. É assim que os impulsos
que são objecto de tabus e contrários ao trabalho em sua forma domi-
nante são convertidos em idiossincrasias conformistas (HORKHEIMER;
ADORNO, 1985, p. 87, negrito nosso).

Estabelecidas essas relações, não restam dúvidas para levantar a hipótese


de que o preconceito é a base para atitudes discriminatórias na medida em que
o corolário I) da “natureza não conciliada” do indivíduo; II) da falsa projeção;
III) da idiossincrasia; IV) e da dominação da indústria cultural são postos em

6 CROCHICK, José Leon. Aula expositiva online. São Paulo, 27 de Outubro de 2020.
Informação verbal.
7 Idem.

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comum, visto que, a adesão cega a um regime totalitário – ação elementar para
atitudes antissemitas – não é sustentada simplesmente pela absorção de valores
externos, mas pelo conjunto de fatores apresentados no corolário anterior. Essa
constatação permite entender uma série de atitudes discriminatórias, pois um
líder de Estado, ao se posicionar de formar hostil em relação aos seus adversá-
rios políticos, com declarações como “vamos fuzilar8”, arrasta consigo toda uma
população a vociferar de maneira semelhante.
Em face disso, criam-se espaços para o conflito, para as atitudes extremis-
tas, pois a natureza não conciliada, somada à indústria cultural, gera o precon-
ceito que culmina nos comportamentos discriminatórios.
É nesses termos que a falsa projeção apresentaria uma ausência de re-
flexão, já que, ao não refletir sobre o objeto, o antissemita não refletiria
mais sobre si mesmo, instituindo-se então a paranoia, que se apresentaria
como uma interpretação racionalizada do mundo que visaria atender às
necessidades do próprio paranoico (GAGNEBIN, 2006, apud CHAVES;
SOUZA, 2018).

Por sua vez, essa paranoia que leva ao desrespeito às instituições demo-
cráticas de direito, a ponto de elas serem alvos de vandalismo9 e hostilidade10 por
parte de sujeitos que fazem projeções irracionais.
A incapacidade de julgar, de refletir e de ponderar arrasta os sujeitos em
rebanho a assumirem comportamentos estereotipados, eliminando, assim, suas
próprias individualidades, o que culmina na intolerância típica dos tempos pre-
téritos do nazismo visivelmente replicados atualmente.

3. Considerações finais

Buscou-se apresentar neste breve texto elementos que permitem a reflexão


acerca do preconceito e da discriminação, assunto bastante circulado entre os
meios de comunicação. Com base no texto Elementos do anti-semitismo: limites do
esclarecimento, de Horkheimer e Adorno (1985), verificou-se que a adesão cega a
um regime totalitário é o elemento crucial para o preconceito que sustenta ati-
tudes discriminatórias. Isso ocorre com a participação da indústria cultural que

8 EXAME. “Vamos fuzilar a petralhada”, diz Bolsonaro em campanha no Acre. Dispo-


nível em: https://exame.com/brasil/vamos-fuzilar-a-petralhada-diz-bolsonaro-em-cam-
panha-no-acre/. Acesso em 27 de out. de 2020.
9 ISTOÉ. Com fogos de artifício, militantes bolsonaristas simulam ataque ao STF. Dispo-
nível em: https://istoe.com.br/com-fogos-de-artificio-militantes-bolsonaristas-simulam-a-
taque-ao-stf/. Acesso em: em 27 de out. de 2020.
10 CNN. Weintraub sugere mandar prender ministros do STF em vídeo de reunião minis-
terial. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/2020/05/22/weintraub-
-sugere-mandar-prender-ministros-do-stf-em-video-de-reuniao-ministerial. Acesso em: em
27 de out. de 2020.

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controla o comportamento por meio dos veículos midiáticos de informações de


massa, assim como, dos determinantes psicológicos – da natureza não concilia-
da –, resultados das experiências que cada sujeito traz consigo.
É precisamente sob essa perspectiva, que o preconceito é o resultado da
relação dialética entre indivíduo e sociedade, relação esta mediada pela indús-
tria cultural que estabelece valores e comportamentos, isso porque o preconceito
é cercado pelas características apontadas no percurso deste texto, a saber, o co-
rolário apresentado. Nesse sentido, as atitudes discriminatórias, fruto do precon-
ceito infundado e irracional, elegem a vítima por considerá-la frágil e a atacam
com a finalidade de eliminá-la.
Portanto, sem reflexão, ocorrem as projeções por parte do agressor. O
medo, a angústia e outros sentimentos reprimidos remetem àquilo que é familiar
e estranho ao mesmo tempo, o que sinaliza que as condições psicológicas, es-
truturais e ideológicas que possibilitaram a ascensão do nazifascismo não estão
totalmente superadas, pois é possível perceber, ainda nos dias atuais – como por
exemplo, a depredação dos prédios públicos em Brasília, resultado de uma “in-
surreição” e exteriorização da barbárie – comportamentos que rotulam este ou
aquele, característica típica do comportamento antissemítico.

Referências
ÁREAS, Joana Pinheiro Gomes. Uma escola do mundo: o instituto de pesqui-
sa social de Frankfurt reuniu alguns dos pensadores mais influentes do século
20. In: Discutindo FILOSOFIA. São Paulo: Ática, 2018 [?].
CNN. Weintraub sugere mandar prender ministros do STF em vídeo de
reunião ministerial. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/politi-
ca/2020/05/22/weintraub-sugere-mandar-prender-ministros-do-stf-em-video-
-de-reuniao-ministerial. Acesso em: em 27 de out. de 2020.
CHAVES, DENISE RAISSA LOBATO; SOUZA, MAURICIO RODRIGUES
DE. Bullyinge preconceito: a atualidade da barbárie. Revista Brasileira de
Educação, vol. 23, 2018 ANPEd - Associação Nacional de Pós-Graduação
e Pesquisa em EducaçãoDisponível em: http://www.redalyc.org/articulo.
oa?id=27554785023. Acesso em: em 19 de out. de 2020.
CROCHICK, José Leon. Aula expositiva online. São Paulo, 20/29 de Outu-
bro de 2020. Informação verbal.
EXAME. “Vamos fuzilar a petralhada”, diz Bolsonaro em campanha no
Acre. Disponível em: https://exame.com/brasil/vamos-fuzilar-a-petralhada-
-diz-bolsonaro-em-campanha-no-acre/. Acesso em 27 de out. de 2020.
GALUCH, Terezinha Bellanda. Aula expositiva online. Maringá, 29 de Se-
tembro de 2020. Informação verbal.

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