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ARTIGOS

A violência a partir das teorias freudianas do sociali

Fernanda CanavêzI

A violência a partir das teorias freudianas do social

RESUMO

Este trabalho discute a violência nas teorias freudianas do social por meio da cons-
trução a posteriori da interlocução de Freud com teóricos de outros campos. Demons-
tra-se, no início do pensamento freudiano, uma perspectiva confiante na regulação
dos laços sociais devido à pretensa neutralização da agressividade. Freud estaria em
consonância com a aposta da ciência positivista no rumo progressista da civiliza-
ção. Mas essa não é a única concepção freudiana, pois há o deslocamento para uma
visada atenta à crueldade inerente às relações e à constituição subjetiva. Esta leitura
reconhece na psicanálise uma crítica à marcha civilizatória, em suas tentativas de
imunizar o sujeito do excesso que o constitui, além de demonstrar que o pensamento
de Freud extrapola as classificações comumente usadas nas ciências humanas sobre
a relação entre sujeito e civilização.

Palavras-chave: Violência; Psicanálise; Freud; Modernidade.

Violence after Freudian social theories

Abstract

This work discusses violence by means of the  a posteriori  construction of the dia-
logue between Freud and theorists from other fields of knowledge. We seek, at the
onset of Freudian thought, a perspective which is confident as for the regulation of
social bonds due to the alleged neutralization of aggressiviness. Thus, Freud would
be in line with the bet of positivist science on the progress of civilization. This is not
the only Freudian conception on the subject, since there is a change for a sight,
more   attentive to the cruelty, that pervades relations and the constitution of the
subject. This reading embed psychoanalysis in the wake of criticism addressed to the
march of civilization through its attempts to immunize the subject from the oversized
dimension that constitutes it, in addition to demonstrate that the Freudian thought
extrapolates usual classifications of the social sciences about subject and civilization.

Keywords: Violence; Psychoanalysis; Freud; Modernity.

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A violência a partir das teorias freudianas do social

La violencia desde las teorías sociales de Freud

Resumen

En este trabajo se analiza la violencia en las teorías sociales de Freud a través de


la construcción a posteriori del diálogo de Freud con teóricos de otras áreas del
conocimiento. Buscamos, a principios del pensamiento freudiano, una perspectiva
confiable en la regulación de las relaciones sociales debido a la supuesta elusión de
agresividad. Así, Freud estaría en línea con la apuesta de la ciencia positivista en el
curso progresivo de la civilización. Este no es el único diseño freudiano al respecto,
ya que hay un cambio para un objetivo más atento a la crueldad que permea las rela-
ciones y la constitución del sujeto. Esta lectura introduce el psicoanálisis en la estela
de las críticas dirigidas a la marcha de la civilización en sus intentos por inmunizar
el sujeto  de la dimensión excesiva que lo constituye, además de demostrar que el
pensamiento de Freud extrapola las clasificaciones utilizadas en Humanidades para
analizar la relación entre el sujeto y la civilización.

Palabras clave: Violencia; Psicoanálisis; Freud; Modernidad.

Introdução

O assunto violência faz parte das mais variadas disciplinas do campo das ciências
humanas, dentre as quais a Antropologia, a Sociologia e a Filosofia, de modo que os
discursos erigidos para abordá-la são igualmente múltiplos, não só de acordo com a
metodologia e os fundamentos epistemológicos utilizados, mas também no tocante
aos objetivos de tais abordagens. A título de exemplificação, cabe apresentar sucin-
tamente a corrente leitura que expõe dois grandes grupos de teóricos, diferenciados
de acordo com suas concepções acerca do estado de natureza e, por conseguinte,
da origem da violência: os partidários da violência fundadora e os adeptos das inter-
pretações antropológicas para a violência. Essa divisão faz parte de uma perspectiva
amplamente difundida, como evidenciam até mesmo os livros didáticos empregados
nos mais diferentes segmentos de escolarização, conforme explicita Chauí (2000).

No primeiro grupo podem ser inseridos os que entendem o ser humano a partir de
uma pretensa natureza violenta, o que exigiria da civilização a contenda de neutral-
ização das inclinações agressivas, cruéis e destrutivas, de modo a manter afastadas
as ameaças de dissolução e de aniquilação da espécie humana. Costuma-se inserir
nesse âmbito o discurso do inglês Thomas Hobbes (1983), para quem o Estado pos-
suía o dever de sanção da violência inerente aos homens. Já no segundo grupo
são passíveis de serem encontrados autores como o suíço Jean-Jacques Rousseau
(1755/1993, 1762/1989), para os quais a violência seria decorrente dos modelos
impostos pela sociedade ao homem, naturalmente bom e piedoso.

Um leitor interessado no tema da violência pode se deparar com esse tipo de classifi-
cação incontáveis vezes em seu percurso de pesquisa, cuja recorrência, por si só, já
justificaria a necessidade de pensar como seria a inclusão do pensamento freudiano
– se é que esta seria adequada – nos termos acima aludidos. O interesse pelo tema
torna-se ainda mais contundente quando a psicanálise se destaca enquanto discur-
sividade fundada para abordar o sofrimento psíquico, inserindo-a inequivocamente
entre as disciplinas afeitas ao tema da violência. É o que atesta a profusão de tra-
balhos e discussões dedicados à violência ou assuntos a ela relacionados – como

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mostram os trabalhos de Costa (1986), Birman (2009) e Herzog (2009), apenas para
citar autores brasileiros que abordaram o tema.

Cumpre destacar, no entanto, que a violência não adquire os contornos de um


conceito no pensamento freudiano, o que não impediu a produção de numerosos
trabalhos no movimento psicanalítico que tratam do assunto: das teorias sobre a
chamada violência psíquica, rastro inconteste da pulsão de morte circunscrito aos
limites de certa abordagem clínica, à aplicação do referencial psicanalítico para com-
preender o registro da política e de seus impasses, a psicanálise se mostra um instru-
mental importante no debate sobre a violência. Nos limites deste artigo, a violência
será compreendida, por um lado, em sua dimensão excessiva, como expressão da
inclinação agressiva do sujeito no cenário social, e, por outro, em sua vertente de
transgressão, no que expõe de possibilidade de subverter a ordem instituída.

É oportuno indicar que essa divisão desponta como recurso didático, tendo em vista
que o próprio Freud (1921/1976c) lançou luz sobre a problemática expectativa de
apartar o que seria individual do que estaria referido ao campo do social: “desde
o começo, a psicologia individual, nesse sentido ampliado, mas inteiramente jus-
tificável das palavras, é, ao mesmo tempo, também psicologia social” (p. 91). A
estratégia didática acolhe então os riscos da fragilidade dessa divisão para enaltecer
o potencial transgressivo da violência, no que expressa de ameaça à aposta progres-
sista em um ideal (moderno) de homem civilizado, capaz de conter suas paixões em
prol da marcha civilizatória.

Esclarecida a noção de violência aqui utilizada, vale ainda destacar que não há em
Freud uma teoria formalmente elaborada e dedicada à investigação da sociedade,
muito menos do Estado-nação, alvo dos contratualistas citados. A despeito dessa
inexistência, é possível depreender considerações freudianas contundentes sobre o
Estado, como será demonstrado adiante, assim como sobre a concepção do sujeito
em sua interface com o social, discussão operacionalizada pelo conceito de identifi-
cação (Freud, 1921/1976c). É especialmente por meio desse conceito que se pode
compreender a subversão freudiana entre as categorias de individual e de social,
uma vez que expõe uma perspectiva muito original sobre o sujeito, que contempla o
modo como este se constitui.

Segundo Freud, a instância do eu busca se conformar a um modelo, representado


pelo ideal do eu, uma modificação de parte do eu em decorrência de identificações
abandonadas. Em outras palavras, o ideal do eu é fruto do narcisismo do casal paren-
tal, tomado como referência para o eu, irrevogavelmente constituído pela alteridade:
“A criança concretizará os sonhos dourados que os pais jamais realizaram” (Freud,
1914/1974b, p. 108). Ao investigar a relação entre o eu e as massas, Freud apre-
senta o livre trânsito entre o que seria da ordem da psicologia individual e aquela
social, na medida em que afirma a substituição do ideal do eu pela figura do líder,
tomado então como modelo para o eu dos membros da massa. É como se o ideal do
eu conservasse a característica de uma dupla face que se dirige tanto para o individ-
ual quanto para o social, possibilitando as derivações de um campo ao outro ou, para
ser ainda mais fiel à originalidade freudiana, subvertendo a lógica que entende esses
campos como categorias estanques e impermeáveis.

Sendo assim, este artigo se ocupa do desafio de abordar o tema da violência na obra
de Freud a partir de seus chamados textos sociais, ainda que estejamos cientes de
que nenhum dos assuntos foi explicitamente abordado pelo fundador da psicanálise.
O objetivo é demonstrar que o pensamento freudiano não pode ser inteiramente
circunscrito aos grupos anteriormente elencados, uma vez que se opera um deslo-
camento de uma perspectiva mais confiante na possibilidade de expurgar o mal da
violência para outra, de caráter mais trágico, que destaca o imponderável em jogo
quando se pensa sobre a inclinação agressiva dos sujeitos.

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A violência a partir das teorias freudianas do social

Para a consecução desse objetivo, será feita uma revisão da leitura de Birman (2010)
a respeito de um debate a posteriori entre a obra freudiana e pensadores que com-
põem a filosofia política, como Rousseau (1755/1993, 1762/1989) e Hobbes (1983),
uma vez que a interlocução direta entre eles não se deu à época em que a obra
freudiana ganhava corpo. Como hipótese auxiliar, vale reiterar que se espera suste-
ntar a impossibilidade de Freud integrar um dos dois grupos – seja a tradição que
considera o caráter natural da violência que deve ser imunizado pela sociedade, seja
a que a compreende como decorrente do mal social infligido ao homem –, o que está
de acordo com a maneira como o sujeito pode ser compreendido em sua obra, em
permanente tensão entre as categorias forjadas de individual e de social.

Freud e a imunização da violência

Não parece demasiado repetitivo indicar que o pensamento freudiano não oferece um
estatuto conceitual para a violência, mas conceitos e noções a ela relacionados (Her-
zog, 2009), como a pulsão de morte, o par sadismo/masoquismo e o trauma. Em vez
de nortear a argumentação por essa trama conceitual stricto sensu, optar-se-á por
seguir os rastros de suas teorias a respeito do social – seja referente à constituição
deste ou à sua articulação com os sujeitos. As teorias foram enunciadas no plural,
pois não há uma única leitura freudiana sobre a civilização, o que evidencia descon-
tinuidades férteis para a problemática da violência. Assim, aposta-se na potência
de uma leitura diacrônica do pensamento freudiano, capaz de destacar os cortes e
transformações presentes em sua obra.

As vias de articulação entre sujeito e civilização estiveram presentes desde muito


cedo no discurso freudiano, conforme exemplifica o texto Moral sexual ‘civilizada’
e doença nervosa moderna (1908/1976a), em que é afirmado um incremento das
psiconeuroses devido à submissão à moral moderna exigida dos sujeitos no tocante
à sexualidade. A tônica do texto é a incontornável constatação de que as pulsões e
o processo civilizatório tomam caminhos opostos, sendo indispensável ao último que
o sujeito renuncie ao seu quinhão de satisfação para não se tornar um “outlaw”
(Freud, 1908/1976a, p. 192, grifo do autor) apartado da comunidade.

De acordo com Mezan (1985), descortina-se no ensaio em questão o caráter de um


projeto político, nos termos de uma aposta em uma espécie de reforma social, embora
Freud afirme que não caberia ao médico “propor reformas” (Freud, 1908/1976a, p.
208), o que não anula o tom de denúncia presente em seu trabalho. Tal denúncia
dirige-se ao peso da moral sexual que recai sobre os sujeitos e – o que parece ainda
mais importante – à descrença por parte da própria civilização em outorgar a referida
moral para alcançar seus objetivos.

Ora, trata-se do apontamento da lógica de uma dupla moral que perpassa o espaço
social, concernente à exigência de restringir o ato sexual à relação monogâmica
para fins de procriação. Em uma época anterior à consolidação dos resultados mais
expressivos do movimento feminista, Freud menciona que ao homem seria concedida
uma parcela de liberdade sexual, mesmo sob o jugo do mais severo código sexual,
enquanto à mulher não seria creditada essa possibilidade. E a moral sexual dupla
seria a prova inconteste de que “a própria sociedade não acredita que seus preceitos
possam ser obedecidos” (Freud, 1908/1976a, p. 200).

Foi, portanto, em tom de denúncia das premissas modernas que a problemática dos
sujeitos e da civilização – em última instância, das relações de poder – apareceu
no discurso freudiano. Além de apontar os malefícios das restrições impostas aos
sujeitos, também é evidenciado o caráter seletivo com o qual essas imposições são,
na prática, colocadas em marcha. Todavia, como uma primeira leitura poderia supor,

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a questão não é simples, nem tampouco ingênua, dado que a renúncia por parte
daqueles que compõem a civilização é indispensável à manutenção desta. Pulsões e
civilização são importantes oponentes, o que concorre para que o processo civiliza-
tório não cesse de prescrever a sublimação das primeiras, por mais disparatados e
paradoxais que possam ser os métodos empregados nessa tarefa.

Assim sendo, a questão do advento e da manutenção da comunidade dos homens,


como Freud a conheceu à época moderna, rapidamente se impôs em sua elaboração,
para a qual foi dada uma resposta no tão comentado texto Totem e tabu (Freud,
1913/1974a). Birman (2010) nos auxilia a fazer a passagem dos postulados sobre
a civilização encontrados no pensamento freudiano para uma teoria sobre a con-
stituição da sociedade e da democracia na modernidade, qual seja, a interpretação
freudiana das “condições de possibilidade para a conjuração da onipotência da
força pulsional” (p. 541, grifos do autor). Como seria então operada a passagem da
força ao contrato entre os homens? Freud se apoia no mito darwinista das origens,
segundo o qual teria existido uma horda primitiva governada por um pai detentor de
plenos poderes e, por conseguinte, o único possuidor do livre acesso às fêmeas. Uma
vez que um dos irmãos empreendesse a tentativa de desfrutar de suas benesses,
por almejar ocupar o lugar do pai e/ou por buscar a satisfação com uma fêmea, seria
veementemente retirado de cena pelo pai da horda. Ao se utilizar da interpretação
de Charles Darwin (1874), naturalista inglês do século XIX, Freud assume a relação
endogâmica como paradigma da sociedade primitiva, ilustrado pelo mito e a correlata
interdição das fêmeas aos demais machos, que, desse modo, são violentamente
combatidos.

Entretanto, em um dado momento, os irmãos vislumbram a possibilidade de derrubar


as exclusividades do pai devido à reunião de suas forças: se o pai era mais forte e,
assim, plenamente investido de poderes nesse grupo regulado pela força física, não
poderia resistir à união dos mais fracos, que então assassinam o outrora ocupante
do lugar da exceção. Contrariando as motivações iniciais dos irmãos, esses se viram
reféns do sentimento de culpa por conta do ato parricida que deu cabo do pai, tendo
colocado um totem em seu lugar. Aqui Freud vai além da contribuição de Darwin, já
que este não teria concebido os primórdios do totemismo e sua correlata ambivalên-
cia nos termos da concepção de “um pai violento e ciumento” (Freud, 1913/1974a,
p. 169). Ademais, é preciso ainda supor a refeição totêmica desse pai, que, uma vez
devorado, seria capaz de transmitir a força invejada pelos irmãos.

“O pai morto tornou-se mais forte do que o fora vivo” (Freud, 1913/1974a, p. 171),
pois se os filhos satisfizeram os impulsos agressivos a ele dirigidos, a admiração
que lhe era direcionada ficava agora marcada na forma do sentimento de culpa. Se
a culpa funcionava como veículo da memória do ato criminoso que derrubara o pai,
era também o operador da fraternidade de irmãos, pois ficava estabelecido que todo
aquele que desejasse o lugar antes ocupado pelo pai conheceria o mesmo destino, a
saber, a morte. Pode-se então supor, acompanhando Enriquez (1983), que a memória
da violência era garantidora dessa comunidade social, não mais estruturada por obe-
diência à tirania da força patriarcal, mas por um contrato acordado entre pares.

Freud chega assim a sua leitura sobre a constituição da sociedade democrática moderna,
caracterizada pela “ruptura violenta com a onipotência da força do um e pela consti-
tuição correlata da multiplicidade de forças, que passariam então a se confrontar em
posição de igualdade” (Birman, 2010, p. 542, grifos do autor). Se existissem diferenças
naturais, a guerra seria pacificada, ao passo que, dada a indiferenciação, todos são
inimigos de todos e tendem ao confronto. É interessante notar que a proposição de
Birman (2010) coloca em evidência a ideia da instauração de uma guerra decorrente
da igualdade, presente, por exemplo, na análise de Michel Foucault sobre o discurso de
Hobbes, que seria marcado pela guerra como “efeito imediato de uma não-diferença ou,
em todo caso, de diferenças insuficientes” (Foucault, 1997, p. 78, tradução nossa).

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A violência a partir das teorias freudianas do social

Segundo Birman (2010), a aproximação de Freud com o discurso de Hobbes dar-


se-ia em momento mais tardio da obra daquele, proposta que será doravante acom-
panhada para a problematização da inclusão de Freud em uma das tradições teóricas
que constam na introdução do presente artigo. Desse modo, quando a investigação
da horda primitiva está em pauta, o acento não recai no confronto direto de uns con-
tra os outros, mas na possibilidade de a culpa regular as inclinações agressivas que
perpassam a igualdade instaurada com o parricídio (Freud, 1913/1974a).

Essa discussão indica como a inserção de Freud em uma das tradições sobre a origem
da violência é problemática. Para sustentar essa afirmativa, é possível basear-nos na
proposta de Birman (2010) sobre a descontinuidade do pensamento freudiano entre
uma perspectiva confiante na culpa como reguladora social para outra mais afeita
à crueldade inerente ao sujeito. É também a proposta de Herzog e Farah (2005) ao
comentarem como Freud passa de uma visão normativa da modernidade para uma
noção de futuro vinculada à espera trágica, sob o signo da incerteza, no quadro do
segundo dualismo pulsional.

Nesse sentido, poder-se-ia tentar incluir um primeiro Freud na tradição da qual faz
parte Rousseau (1755/1993, 1762/1989), enquanto um segundo Freud estaria na
esteira dos postulados partilhados por Hobbes (1983). Entretanto, o preâmbulo da
guerra de todos contra todos que figura na obra de Hobbes (1983) já aparece como
indício em Totem e tabu (1913/1974a), de modo que é preciso entender, para além
das aproximações de Freud com outros teóricos, que essas podem se dar de modo
menos ou mais pregnante, a depender da perspectiva com a qual se interpreta o
texto. A proposta está de acordo com o modo como nos apropriamos dos textos
freudianos: assim como uma tela bicolor que pode evidenciar mais uma ou outra
tinta a depender da posição – e do ponto de vista – de que se observa (Canavêz,
2011). Feita essa pequena digressão, retornemos à perspectiva de Birman (2010).

Conforme antecipado, esse autor supõe, a partir da aposta de Freud (1913/1974a)


na culpa como operador da manutenção social, uma aproximação com a teoria do
contrato social de Rousseau (1762/1989), principalmente pelo lugar reservado à pie-
dade em suas formulações. Aclamado como o grande teórico da liberdade, Rousseau
(1762/1989) é um partidário do estado de natureza, de forma que o mal dos homens
seria a sociedade, responsável por aprisionar, colocar a ferros o homem que nasce
livre. A selvageria não seria um mal em si, pois “não é nem o desenvolvimento das
luzes, nem o freio da lei, mas a calma das paixões e a ignorância do vício que os
impedem [os selvagens] de fazer o mal” (Rousseau, 1755/1993, p. 252).

É importante não perder de vista a distinção entre selvagens e bárbaros, para a qual a
contribuição de Foucault (1997) também é profícua: o selvagem repousa sobre o fundo
da natureza ao qual pertence, enquanto o fundo que dá consistência ao bárbaro é aquele
da civilização, nem que seja para indicar o que desta escapa. De acordo com essa dis-
tinção, a piedade – aproximada do selvagem na perspectiva de Rousseau (1755/1993)
– faria parte da essência humana, um sentimento natural capaz de assegurar a conser-
vação da espécie, e não algo decorrente de uma lei exterior imposta para sancionar a
violência entre os homens, coordenada indispensável ao discurso de Hobbes.

Desse modo, a leitura de Birman (2010) sustenta que a culpa em Freud seria a reper-
cussão da visada inaugurada por Rousseau, que expunha a piedade como operador
capaz da neutralização da força e da constituição dos vínculos sociais, premissa que,
em termos freudianos, explica a transformação do sadismo originário em masoquismo.
Nessa perspectiva, a culpa é positivada enquanto propiciadora da conversão daquilo
que inviabilizaria a sociedade. Até esse momento do pensamento freudiano (Freud,
1913/1974a), é possível observar uma atitude mais confiante na mediação dos laços
sociais, mesmo após o declínio do poder monárquico e a subsequente instauração da
sociedade de inspiração democrática com a multiplicidade que lhe é correlata.

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Essa pretensão algo otimista não tarda, entretanto, perder força para um discurso
desiludido, como permite exemplificar o discurso de Reflexões para os tempos de
guerra e morte (Freud, 1915/1974d), trabalho que reúne dois ensaios freudianos
que vieram à tona meses depois da eclosão da Primeira Guerra Mundial. A análise
da situação de guerra versa sobre os temas da desilusão e da mudança da atitude
frente à morte. Em relação ao primeiro assunto, Freud comenta o desmantelamento
da crença na neutralização da força depositada nas sociedades ditas civilizadas, pois
a guerra mostrara não apenas que seria um mal necessário, mas também que fora
colocada em prática de maneira extremamente cruel, saindo do prumo do curso do
“desenvolvimento de relações éticas entre os componentes coletivos da humanidade”
(Freud, 1915/1974d, p. 315).

Dessa forma, a realidade evidenciada pela Primeira Guerra mostrou uma crueldade
sem precedentes na história da civilização moderna e a “baixa moralidade” (Freud,
1915/1974d, p. 317) atribuída a Estados que antes reservavam para si o título de
guardiões da moral e dos bons costumes: “o Estado proíbe ao indivíduo a prática do
mal, não porque deseja aboli-la, mas porque deseja monopolizá-la, tal como o sal e o
fumo. Um Estado beligerante permite-se todos os malefícios, todos os atos de violên-
cia que desgraçariam o indivíduo” (Freud, 1915/1974d, p. 316). Ainda que Freud não
tenha tomado o Estado-nação como objeto privilegiado de suas elaborações, essa
figura é evocada no texto em pauta como partidária da civilização, manifestando
em defesa desta com as sanções impostas às inclinações dos sujeitos que poderiam
colocar em xeque o contrato social.

Do mesmo modo, destaca-se uma discussão a respeito da exigência de monopólio


de violência por parte do Estado, pois este não poderia abrir mão da violência, “de
praticar o mal” (Freud, 1915/1974d, p. 316), sob o risco de se sujeitar aos caprichos
de inimigos em potencial. Mas também sublinha-se que os sujeitos estão em des-
vantagem devido à renúncia de satisfação que lhes é exigida, sem que, com isso,
recebam em troca a proteção desse Estado. Nos parâmetros do texto discutido, há a
possibilidade de alimentar a ilusão de que aquele poderia funcionar como instância de
proteção frente às inclinações agressivas de outrem, sob a condição de que o sujeito
se dispusesse a renunciar às suas próprias.

Se Freud (1913/1974a) chegou a se referir à dupla moral quando parecia acreditar na


regulação do potencial de destruição e crueldade pelo contrato social, agora a palavra
de ordem é a hipocrisia favorecida pela civilização moderna. Longe de se apresentar
como um homem civilizado, o moderno não passa de um “hipócrita cultural” (Freud,
1915/1974d, p. 321), que tem no Estado o mais fiel representante de sua hipocrisia:
em tempos de paz, preconiza a renúncia da violência, enquanto em tempos de guerra
nada mais faz do que incitá-la.

Quanto à atitude para com a morte, Freud identifica uma ruptura entre os civilizados
e aqueles povos primitivos dos quais se ocupara anteriormente (Freud, 1913/1974a),
sendo que não se trata de evocar os primitivos para colher os louros do progresso
civilizatório. Ao contrário, os primitivos demonstravam uma ética diante da morte –
ressaltando-se aqui a necessidade de expurgar o contato com a morte dos inimigos
em confrontos antes de retornarem à vida em família – que se mostrou enfraquecida
na modernidade habitada por Freud. A guerra “estigmatiza estranhos como inimigos,
cuja morte deve ser provocada ou desejada; diz-nos que desprezamos a morte
daqueles que amamos” (Freud, 1915/1974d, p. 338). Portanto, não poderia restar
nada além do fracasso para os que apostavam as fichas no processo civilizatório
como imunizador da barbárie.

Percebe-se o deslocamento de um Freud crente na culpa como reguladora dos laços


sociais e, como tal, de acordo com Birman (2010), mais próximo de Rousseau, para
um Freud de olhar mais atento à crueldade que perpassa as relações e da qual pode

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A violência a partir das teorias freudianas do social

se fazer representante o próprio Estado. A leitura do social que Birman (2010) identi-
fica nesse momento do pensamento freudiano rompe com a anteriormente evocada,
agora afinada com a teoria política hobbesiana, segundo a qual o homem seria o lobo
do homem, homo violens, nos termos de Dadoun (1993), cuja ferocidade deve ser
domesticada pelo Leviatã – a coisa pública ou o Estado –, figura que Hobbes (1983)
vai buscar no imaginário bíblico: o destemido rei dos soberbos.

Orientado por sua justiça, o Leviatã hobbesiano, chamado homem artificial, prima
pelo equilíbrio diante da guerra de todos: é o homem artificial em defesa do homem
natural (Hobbes, 1983), em que pese a necessidade de defesa contra a ameaça de
guerra civil, o maior dos males para Hobbes, ele próprio francamente atingido pela
Guerra Civil Inglesa, ocorrida no século XVII. Entretanto, Hobbes também não des-
considera que o Estado seja conduzido a fazer uso da violência – que, no caso, seria
a princípio considerada justa, dada a legitimidade conferida à soberania –, embora tal
uso seja uma artimanha perigosa que coloca em risco o próprio Estado.

A violência perpetrada pelo Estado acaba por favorecer a rebelião, na medida em


que dá margem ao questionamento da incapacidade estatal em assegurar a paz aos
seus protegidos (Limongi, 2009). Coloca-se em pauta o caráter transgressivo que a
noção de violência pode assumir: deslocada do monopólio do Estado para as mãos
dos demais, a violência o ameaça, impelindo à destruição da ordem formalmente
instituída. É assim que o tema da violência do lado do Estado aparece em Hobbes
(1983): com ares de precaução que se deve ter diante dos riscos que podem vir a
enfraquecê-lo ou diluí-lo.

Segundo Foucault (1997), o pensamento de Hobbes merece destaque no cenário


do século XVII por ter inserido a guerra como importante instrumento de análise
das relações de poder, cabe dizer, a guerra como ameaça permanente que anima
as relações. Frente a essa ameaça impõe-se o Leviatã, aquele imbuído de justiça,
responsável por conter o homo violens, de forma que o discurso hobbesiano nada
mais é do que aquele do contrato, da soberania, do Estado (Foucault, 1997). Por
conseguinte, seu projeto consiste na organização dos homens de forma a impossi-
bilitar o regresso ao estado natural (Monteiro, 2004), aspecto que se configura como
alvo de críticas por parte de Rousseau. Em última instância, Hobbes declara propõe
a disseminação da guerra para exaltar a potência do Leviatã diante dessa ameaça.

É preciso esclarecer um ponto fundamental a respeito da concepção de estado de natureza


em Hobbes e Rousseau, para o qual a afirmação de Ribeiro (2004) se mostra precisa:

em Rousseau o estado de natureza nega a própria sociedade, enquanto em Hobbes


nega sobretudo o Estado (que, claro, para ele é condição para haver sociedade). Daí
que o homem natural de Rousseau possa ser equilibrado, e seu homem social, depra-
vado – ao passo que em Hobbes é exatamente o contrário: o homem natural é o que
perdeu o controle, e com isso se degradou (p. 214).

Assim sendo, a revisão da hipótese de Birman (2010) nos conduziu a traçar as dif-
erenças entre Rousseau e Hobbes, tendo em vista que afirmam pressupostos dis-
tintos: no primeiro trata-se da confiança na piedade natural dos homens, que faz
recair na sociedade a parcela de violência negativizada que os aprisiona, ao passo
que no segundo há a concepção dos homens que correm o risco de se naturalizar,
como feras exclusivamente domesticáveis pela assunção do poder em determinados
moldes de soberania. De acordo com as leituras de Freud sobre o social, é possível
indicar uma aproximação inicial com o pensamento de Rousseau, embora as elabo-
rações alimentadas pelo testemunho freudiano da Primeira Guerra Mundial advoguem
a favor de certa predileção pela teoria hobbesiana. Entretanto, esta também deve
ser matizada, pois se esses contratualistas revelavam-se otimistas em relação à

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gestão da sociedade, independentemente dos caminhos que a sustentavam, o dis-


curso freudiano revela-se mais marcado pelo caráter trágico.

Estamos de acordo com a hipótese de Birman (2010), pois se trata de uma inflexão
marcante no pensamento de Freud, como corrobora até mesmo o solo teórico do
qual começou a lançar mão para construir seus referenciais. É o que exemplifica a
chamada virada conceitual de 1920, com a passagem do primeiro para o segundo
dualismo pulsional, responsável por trazer importantes interlocutores nos quais
Freud parece ter buscado os alicerces para uma perspectiva de cunho mais trágico.
Assim, as referências a Arthur Schopenhauer, filósofo alemão tido como pessimista,
anteriormente evocadas nos textos freudianos, agora se tornam ainda mais rele-
vantes, devido à consideração da morte como o verdadeiro propósito da vida (Freud,
1920/1976b). Além disso, contribui igualmente para a pertinência de tais teses a
constatação de que os laços sociais constituem uma realidade incontornável para a
espécie humana, embora não deixem de ser fonte de sofrimento e intolerância, teor
trágico ilustrado pelo famoso símile dos porcos-espinhos, tomado de empréstimo de
Schopenhauer (Freud, 1921/1976cc).

Também se faz presente a alusão ao filósofo grego Empédocles (Freud, 1937/1975),


por conta do destaque conferido à articulação entre amor, responsável pela união
dos elementos do universo, e ódio, que os separa, relação muito próxima da
descrição freudiana dos modos de funcionamento das pulsões de vida e de morte
(Freud, 1920/1976b), que se apresentam sempre amalgamados para gerar todos os
fenômenos da vida. A conceituação da pulsão de morte escancara o potencial destru-
tivo irredutível do psiquismo, de cuja teorização Freud não poderia mais se furtar
frente aos horrores de uma guerra em escala mundial.

Freud e o imponderável da violência

A hipótese de Birman (2010) é útil para demonstrar como Freud parece se alinhar no
início de seu percurso teórico com os que apostam na conjuração da violência – da
onipotência da força pulsional, em termos psicanalíticos –, no sentido progressista da
passagem do estado de natureza para a cultura. Dessa forma, o autor sugere uma
aproximação de Freud com contratualistas como Rousseau e Hobbes, embora essas
interlocuções forjadas a posteriori se deem de modos distintos. Enquanto a alusão
a Rosseau pode ser evocada no cenário de uma perspectiva evolucionista (Freud,
1913/1974a), Hobbes vem à baila quando os holofotes já estavam direcionados para
a irredutível crueldade, para a violência impreterivelmente infiltrada nos laços sociais,
compreensão a que se pode chegar pela agressividade irredutível inerente aos homens.

Assim sendo, Freud segue Hobbes em sua afirmação da guerra permanente entre os
homens, mas talvez não acompanhe inteiramente a ideia de que o contrato, a sobera-
nia e/ou o Estado poderiam assegurar a paz e, mais ainda, de que os sujeitos abririam
efetivamente mão de seu quinhão de destrutividade em nome do Estado. É também
por esse motivo que Birman (2010) indica que “Freud realizou uma leitura nuançada
e crítica de Hobbes” (p. 549). Vale lembrar que não há uma interlocução frontal e
explícita de Freud com os autores aqui abordados, o que só reforça a ideia de que em
nenhum momento ele assumiu inteiramente as interpretações dos referidos teóricos.

Esse movimento fica claro em Psicologia de grupo e análise do ego (Freud,


1921/1976c), onde Freud retoma expoentes estudos sobre grupos, dentre os quais o
do francês Gustave Le Bon, e tem a oportunidade de rever sua teoria anterior sobre o
social (Freud, 1913/1974a), agora à luz de suas formulações sobre a pulsão de morte
(Freud, 1920/1976b) e tomando como pano de fundo as consequências advindas de
seu contato com a realidade da guerra (Freud, 1915/1974d).

Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 66 (1): 33-48 41


A violência a partir das teorias freudianas do social

Ao retomar as características elencadas por Le Bon (1895/1995) a respeito dos gru-


pos, Freud evidencia aquela do laço com o líder, do qual o grupo exige “força ou
mesmo violência” e por quem deseja ser “dirigido, oprimido” (Freud, 1921/1976c, p.
102). O laço social depende daquele com o líder, objeto ideal a ser introjetado para
que a identificação com os pares se dê.

Em 1913, Freud apostava na eficácia do totem como lembrança do ato parricida, na


introjeção do interdito paterno após sua morte, na memória da violência que deve-
ria ser, desde então, suprimida em favor do convívio social. É como se, em 1921,
Freud estivesse afirmando que a figura do pai não se fortaleceu em absoluto com
sua morte, assim como os filhos buscam desesperadamente um substituto para o
mesmo, por meio do que seria possível empreender laços inibidos em sua finalidade
sexual, a identificação.

O homem é “de preferência um animal de horda, uma criatura individual numa horda
conduzida por um chefe” (Freud, 1921/1976c, p. 154), e não um animal predisposto
ao gregarismo. O diálogo é travado com o inglês Wilfred Trotter, autor do livro afirma-
tivo de um instinto gregário, obra que data de 1916 (Trotter, 1916/1953), segundo o
qual os sujeitos conservariam a tendência inata à reunião, à indiferenciação das mas-
sas. Segundo Freud (1921/1976c), longe de compor uma massa amorfa, os sujeitos
clamam pela figura de um líder que os possa conduzir, até mesmo com violência, e
proteger diante da destrutividade que perpassa as relações.

O terreno dessa afirmação tornou-se então propício para que fosse retomado o con-
ceito de narcisismo das pequenas diferenças, chave para a compreensão da hostili-
dade que faz com que os sujeitos se isolem dos – e rechacem os – demais em nome
de diferenças forjadas. Salvo exceção, trata-se de uma atitude que estabelece dif-
erenças entre o grupo do qual se escolhe fazer parte e os demais, atitude a resguardar
o próprio narcisismo. Levado ao extremo, o narcisismo das pequenas diferenças con-
corre para a intolerância em suas versões mais extremas, marca inconteste de siste-
mas totalitários, como o histórico da engrenagem nazista permite inferir.

Trata-se do auge, no pensamento freudiano, da guerra decorrente da igualdade,


como apontara Foucault (1997), guerra que Hobbes entende como perpétua. Assim,
o narcisismo das pequenas diferenças é o operador conceitual pelo qual Freud for-
mula sua interpretação a respeito do impasse político inaugurado pelas democracias
modernas, qual seja, o da intolerância às diferenças. Birman (2010) sublinha que o
imperativo da igualdade – como não deixa esquecer o lema Liberdade, Igualdade,
Fraternidade da Revolução Francesa – conduziu à disseminação da guerra diante
da diferença, sendo que “o ideário da multiplicidade triunfaria sobre o ideário da
unidade” (p. 549, grifos do autor), em que pese o caráter bélico que contamina essa
noção de multiplicidade. A vitória sobre a força onipotente do pai da horda, na versão
freudiana para a inauguração das democracias modernas (Freud, 1913/1974a), teria
dado a largada para a guerra das multiplicidades, as quais podem estar empenhadas
em impor a sua versão de tirania frente às demais diferenças.

Do ponto de vista dos processos de subjetivação, Freud faz uma torção que permite
incluir a realidade da guerra em seu aparato teórico-clínico: se o sadismo fora enun-
ciado como primário no quadro do primeiro dualismo pulsional (Freud, 1905/1972,
1915/1974c), agora não passa de uma derivação do masoquismo originário (Freud,
1924/1976d), permitindo a Freud confirmar a hipótese indicada desde suas for-
mulações sobre a pulsão de morte (Freud, 1920/1976b). O masoquismo refere-se
àquela parcela da pulsão de morte que “não compartilha dessa transposição para
fora” (Freud, 1924/1976d, p. 204) característica do sadismo, em que a destruição se
dirige aos demais como derivação desse masoquismo originário para deixar de ser
impingida ao próprio sujeito.

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Canavêz, F.

Antes de prosseguir, cabe fazer uma digressão a respeito das diferentes manifes-
tações da pulsão de morte. Segundo Freud, a pulsão de morte torna-se pulsão de
destruição quando é dirigida “para fora, para objetos” (Freud, 1933/1976e, p. 254),
embora também o eu possa ser tomado como objeto, no caso da autodestruição.
Não raras vezes, os termos pulsão de morte, de destruição e de agressão são
evocados de maneira sinonímica, como se observa nos trabalhos do próprio Freud
(1937/1975), que nem sempre se ocupou de discerni-los.

Conforme sugestão de Pereira (2006), cabe tomar as pulsões de destruição e de


agressão como modos de expressão das pulsões de morte não ligadas, passíveis de
serem parcialmente destacadas da função sexual, sendo que o acento no primeiro
caso recai na meta de aniquilar o objeto, enquanto a pulsão de agressão ressalta o
ataque a este. Cabe recordar que os movimentos de pulsão de vida e de morte se
encontram permanentemente fusionados, sendo que há fenômenos onde a ligação
predomina, ao passo que outros evidenciam mais o desligamento. As diferenças entre
as manifestações da pulsão de morte não serão privilegiadas nesta investigação,
pois, mais do que empreender uma discussão da metapsicologia stricto sensu dessa,
parece importante extrair as devidas consequências de sua formalização, etapa pre-
liminar para a compreensão de uma possível leitura freudiana sobre a violência.

No que diz respeito ao escopo deste artigo, é importante observar que o masoquismo
originário faz par com o narcisismo das pequenas diferenças, na medida em que o
último direciona o potencial destrutivo para outrem a fim de não colocar em risco o
próprio sujeito. Em seu estudo sobre o masoquismo, Freud (1924/1976d) enuncia
ainda outro tipo, o masoquismo moral, em que o laço com a sexualidade se revela
deveras frouxo, ao contrário do que ocorre nos masoquismos originário e erógeno.

O masoquismo moral é intimamente associado ao sentimento de culpa que busca


satisfação por intermédio da necessidade de punição. A relação entre masoquismo
moral e sentimento de culpa permite a Freud entender como a renúncia pulsional
pode “resultar em um sentimento de culpa, e como a consciência de uma pessoa
se torna mais severa e mais sensível, quanto mais se abstém da agressão contra os
outros” (Freud, 1924/1976d, p. 212). Abster-se da destrutividade dirigida a outrem
é conceder carta branca para que esta retorne sobre si, fomentando tanto o maso-
quismo do eu quanto o sadismo do supereu.

Se a pulsão de morte parcialmente voltada para fora é a garantia da manutenção


do sujeito, em última análise de sua vida – fio de prumo do sujeito na perspectiva
hobbesiana, que abre mão da violência em prol de sua perpetuação (Hobbes, 1983)
–, o sentimento de culpa é a garantia da manutenção da civilização. Portanto, os
sujeitos tentam se equilibrar nessa corda bamba que concorre para o mal-estar, tema
principal de O mal-estar na civilização (Freud, 1930/1974e), um dos mais comen-
tados ensaios freudianos, não só no campo psicanalítico como nas demais áreas das
ciências humanas.

Se, na ocasião da formalização da pulsão de morte, o fio norteador era o seu caráter
repetitivo (Freud, 1920/1976b), no ensaio sobre o mal-estar na modernidade a
agressividade e a destruição roubam a cena (Freud, 1930/1974e). Esse texto evi-
dencia como Freud pode ser aproximado do discurso de Hobbes, embora fique claro
que não aposta inteiramente na eficácia da renúncia pulsional em prol do Estado
ou do que quer que seja, conforme anteriormente demonstrado. Do mesmo modo,
a afinidade com o tema da função da piedade para Rousseau parece cada vez mais
distante, embora o sentimento de culpa seja novamente evocado, agora com res-
peito à manutenção da civilização. O mal-estar é colocado em pauta nos termos do
resultado do permanente antagonismo entre sujeito e civilização, pois esta preconiza
a renúncia pulsional jamais atingida inteiramente pelos sujeitos. Há uma espécie
de “natureza inconquistável” (Freud, 1930/1974e, p. 105), um quinhão de destru-

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A violência a partir das teorias freudianas do social

ição impossível de abdicar, como o movimento pendular entre as possibilidades de


autodestruição e de destruição do próximo permite inferir.

Desta feita, o homem civilizado esbarra em três obstáculos principais na sua busca
por felicidade: o sofrimento advindo do desgaste do corpo, aquele decorrente das
intempéries do mundo externo e, o mais penoso deles, o derivado dos relaciona-
mentos. Para fugir do último, o sujeito teria que se colocar à mercê dos outros dois,
pois não poderia contar com o auxílio dos demais em sua luta pela vida, sendo que
também faz parte dessa luta a expulsão da parcela de pulsão de morte que, de outra
forma, poderia voltar-se contra si mesmo.

Dessa maneira, o homem civilizado é um equilibrista social, na corda bamba entre a


defesa de si e a defesa do grupo, que, em última instância, não deixa de vir em aux-
ílio de sua própria defesa. Freud afirma que o “homem civilizado trocou uma parcela
de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança” (1930/1974e, p.
137), cabendo à civilização protegê-lo contra a natureza e regular os relacionamen-
tos. Perda de felicidade e incremento do sentimento de culpa: trata-se do preço a
pagar pelo “avanço” do processo civilizatório.

O que fica em evidência nessas pinceladas trágicas presentes no discurso freudiano é


a impossibilidade de dominar totalmente o colorido destrutivo com o qual os sujeitos
são pintados. O mandamento “Amarás a teu próximo como a ti mesmo” não parece
crível para um Freud cuja leitura se afina à perspectiva hobbesiana, mas absoluta-
mente descrente em relação a uma instância que pudesse expurgar a agressividade
que se manifesta como violência no cenário social: “Que poderoso obstáculo à civili-
zação a agressividade deve ser, se a defesa contra ela pode causar tanta infelicidade
quanto a própria agressividade!” (Freud, 1930/1974e, p. 137). Assim, embora a culpa
seja apresentada como indispensável para a manutenção da civilização, está longe
de ser considerada natural e eficaz na promessa de que os sujeitos não matarão uns
aos outros.

Diferente da piedade tal como Rousseau a compreendia, o sentimento de culpa na


perspectiva freudiana é resultado do medo da autoridade parental que preconiza a
renúncia pulsional e, por conseguinte, do medo do supereu que introjeta sua auto-
ridade. No primeiro caso teme-se a agressão passível de ser sofrida devido a uma
transgressão, bem como a perda do amor que equivale à proteção diante da ameaça
de punição; enquanto no segundo caso trata-se do medo internalizado, germe da
consciência moral (Freud, 1930/1974e). A culpa, dessa forma, está longe de ser
natural; ao contrário, trata-se de fonte de mal-estar colocada a serviço de Eros como
arma frente à ameaça de desintegração atualizada pelo movimento da pulsão de
morte, este sim primordial.

Com efeito, a questão que de fato importa à espécie humana é aquela de saber até
que ponto seria possível apostar no desenvolvimento da civilização para domesticar o
imponderável da violência, a perturbação da vida em sociedade causada pela pulsão
de “agressão e autodestruição” (Freud, 1930/1974e, p. 170). No que concerne ao
paradoxo de ponderar o imponderável, Freud, ao contrário de Rousseau e de Hobbes,
não encontra uma resposta definitiva, pois não é possível “prever com que sucesso
e com que resultado” (Freud, 1930/1974e, p. 171) Eros findará em sua tarefa de
dominar o apelo vociferado à destruição atrelado à pulsão de morte.

Essa perspectiva freudiana foi consolidada com o diálogo sobre a guerra travado com
Einstein a pedido do Comitê Permanente para a Literatura e as Artes da Liga das
Nações, organismo internacional criado após o fim da Primeira Guerra Mundial com
o objetivo de manter a paz e substituído pela Organização das Nações Unidas (ONU)
após a Segunda Guerra Mundial (Freud, 1933/1976e). Einstein escolhera Freud para
falar sobre os motivos que levariam à guerra e, mais especificamente, sobre um mét-

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Canavêz, F.

odo capaz de eliminá-la do processo civilizatório, ou seja, sobre a possibilidade de


exorcizar o mal da violência evidenciado pela cruel realidade da guerra.

Nas questões endereçadas a Freud, Einstein supõe a existência de uma inclinação


dos sujeitos para a destruição e se mostra incrédulo quanto à possibilidade de colocar
freios à guerra, pois as nações teriam que abrir mão de sua soberania em favor da
segurança internacional, questão cuja pertinência está longe de ser superada ainda
hoje. Desse modo, Freud é convidado a falar dos aspectos subjetivos implicados nas
dificuldades para a obtenção da paz mundial.

Antes de passar aos pontos elencados pelo importante físico, Freud propõe que o termo
poder seja substituído por violência, uma “palavra mais nua e crua” (1933/1976e,
Freud, p. 246), no intuito de ressaltar que a esfera do direito e aquela da violência
não são tão heterogêneas como se poderia supor. Freud concede sua versão sobre
a passagem da força bruta à lei, da sociedade regulada pela força bruta àquela em
que os interesses do conjunto podem se sobrepor à força do sujeito na consecução
de seus interesses exclusivos. A lei surge, portanto, como força da comunidade, mas:
“Ainda é violência, pronta a se voltar contra qualquer indivíduo que se lhe oponha”
(Freud, 1933/1976e, p. 247).

Se, no primeiro trabalho dedicado à problemática da guerra, Freud (1915/1974d)


ainda parecia conservar certa separação entre os registros desta e da política, agora
esses campos encontram-se embaralhados, tomados sempre em uma linha contínua:
a política, a paz e a lei nada mais são do que manifestações latentes – e resultados
– da guerra. Desse modo, o discurso freudiano mais tardio se aproxima da leitura
empreendida posteriormente por Foucault (1997) sobre a sociedade moderna, que
evidenciou como a política é uma guerra continuada por outros meios. Vale destacar,
portanto, não só que as fronteiras que antes separavam bárbaros de civilizados foram
implodidas no pensamento freudiano, mas também a correlata separação estanque
entre guerra e política.

Segundo essa visada, é possível evocar o ensaio anterior sobre grupos, em que
Freud ressaltara o papel dos laços inibidos em sua finalidade, as identificações, na
manutenção da sociedade (Freud, 1921/1976c). Na resposta a Einstein, ele salienta
a força de coerção da violência para a consecução desse objetivo. Descarta-se a
possibilidade de imunizar o direito, as leis ou a soberania (seja lá qual for a forma
assumida por esta) do mal da violência. Aliás, associar a violência a um mal é opor-
tuno para a discussão da referida carta, pois Freud explica a Einstein sua teoria das
pulsões à luz do segundo dualismo pulsional e faz questão de invalidar os esforços na
tentativa de classificar as duas classes de pulsões conforme os juízos “de bem e de
mal” (Freud, 1933/1976e, p. 252). Como vimos, ambas se apresentam amalgama-
das e são fundamentais para a realização de todos os fenômenos da vida: enquanto
Eros une, Thanatos ocupa-se do desligamento, da desfusão, tão essencial quanto o
primeiro movimento.

Contrariando as expectativas da carta remetida por Einstein (Freud, 1933/1976),


Freud nada mais fez do que demonstrar o imponderável da violência e sepultar o
anseio pela paz definitiva entre os povos e, em última instância, entre os sujeitos.
Mas isso não é suficiente para relegar sua teoria aos recônditos do pessimismo, pois
Freud afirma-se um pacifista, exatamente como Einstein, a engrossar os grupos que
se revoltam “tão violentamente contra guerra” (Freud, 1933/1976e, p. 256), embora
a vitória no embate não seja garantida.

Em contrapartida, há a indicação da impossibilidade de eliminar em absoluto a


ameaça de uma nova guerra, bem como livrar os laços sociais do estado de guerra
no qual estão ancorados. Cai por terra também a ilusão de uma figura capaz de se
tornar depositária da segurança dos homens, abalando a fortaleza da soberania tão

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A violência a partir das teorias freudianas do social

marcante à época de Freud. Na guerra contra a destruição não há métodos eficazes,


muito menos heróis, mas apenas “atalhos” (Freud, 1933/1976e, p. 259) pelos quais
os homens se aventuram tragicamente frente ao imponderável.

Nesse sentido, inserir Freud em um dos dois grupos de teóricos citados – os que
defendem a natureza violenta do homem e os que entendem a sociedade como o
mal do homem, que o faz violento – também não passaria de um mero atalho, um
recurso argumentativo apressado capaz de silenciar as especificidades de um para-
doxo produtivo que confere ao pensamento freudiano um movimento pendular entre
a expectativa de imunização da violência e a constatação de uma inclinação agressiva
irredutível, que fomenta as manifestações violentas no social.

Desse modo, a despeito da pertinente descontinuidade ilustrada por Birman (2010)


a partir da aproximação de Freud com os pensamentos de Rousseau e de Hobbes,
não é possível circunscrever sua obra no quadro da classificação a respeito das teo-
rias sobre a origem da violência, tão corrente no campo das ciências humanas. Essa
impossibilidade também ressoa no próprio modo como Freud compreende o sujeito,
marcado que é pela alteridade desde sua constituição e, como tal, muito distante da
proposta que o toma como fundamento apartado daquele da sociedade. Indivíduo
e sociedade não seriam campos distintos passíveis de serem eleitos para identificar
a origem da violência. Ao contrário, a concepção psicanalítica de sujeito subverte
essas categorias e, no que diz respeito ao tema proposto neste artigo, evidencia a
dimensão excessiva pronta a implodir qualquer ordem: seja a que se convencionou
chamar de social, seja a que se denomina individual.

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Submetido em: 15/02/2013


Revisto em: 30/09/2013
Aceito em: 20/11/2013

Endereço para correspondência

Fernanda Canavêz
fernandacanavez@gmail.com

I. Docente. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Seropédica. Rio


de Janeiro. Brasil.

i Artigo referido à tese da autora, “Violência, trauma e resistência: sobre o múltiplo


na psicanálise”, orientada pela Profa Dra Regina Herzog, no PPG Teoria Psicanalítica,
Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), defendida
em 2012, com o apoio da CAPES.

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