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Metodologia das Ciências Sociais:

Métodos Qualitativos
Tema 1 – A importância, características e história da investigação qualitativa

Ana Paula Cordeiro


Estes slides não
dispensam a leitura
complementar dos
manuais adotados para
a UC
A importância da investigação qualitativa FlicK, 2005

Mudança social acelerada

Individualização de universos de vida pluralidade de ambientes sociais e culturais

Inadequação da metodologia dedutiva tradicional, na qual as hipóteses e as questões de investigação derivam de


modelos teóricos e são submetidas ao trabalho empírico

É necessária uma nova sensibilidade para o estudo empírico das problemáticas sociais, tornando-se imperativo dar
lugar a narrativas confinadas a um tempo, um lugar e uma situação

O cientista tem de recorrer a estratégias indutivas, mobilizando para a sua investigação “conceitos sensibilizadores”
influenciados pelo conhecimento teórico existente. O conhecimento e a prática são estudados na sua dimensão
local, sendo o estudo dos significados subjetivos da experiência e da prática quotidianas tão importante como a
análise das narrativas. 3
A investigação qualitativa é particularmente adequada ao estudo de
Flick, 2005

Modos/ Padrões
Relações sociais
estilos de vida biográficos
A investigação qualitativa recorre a uma grande variedade de métodos
Flick, 2005

Cada um desses métodos:

• Parte de pressupostos diferentes

• Tem finalidades, objetivos, aplicações, potencialidades e limites diferenciados

• Apresenta uma ideia especifica sobre o objeto de estudo

• Não é independente do processo de investigação, estando diretamente enraizado nele

• Toma os diversos procedimentos metodológicos como fases de um mesmo processo.

Em função das várias alternativas o investigador deve escolher a estratégia metodológica mais apropriada ao objeto
e à problemática da sua pesquisa
Traços essenciais da investigação qualitativa (I)
Flick, 2005

 Adequação dos métodos e teorias

 É o objeto de estudo que determina a escolha do método

 Os métodos escolhidos e aplicados devem ser tão abertos que se ajustem à complexidade do objeto de estudo.

 Os objetos de estudo são estudados na sua globalidade, complexidade e integrados no seu contexto quotidiano

 O objetivo da investigação é descobrir teorias novas empiricamente enraizadas, mais do que testar aquelas que já se conhecem

 A validade do estudo é estabelecida com referência ao objeto de estudo, ou seja, os resultados obtidos fundamentam-se no material empírico

 A relevância dos resultados e a reflexão sobre os procedimentos são critérios adicionais

 Diversidade de perspetivas dos participantes

• Parte dos significados individuais e sociais do objeto e evidencia a diversidade das perspetivas sobre ele

• Estuda as práticas e os saberes dos participantes

• Analisa as interações num determinado espaço e contexto e explica-as em função deles

• Defende que no campo existem visões e práticas diferenciadas devido às diferentes perspetivas e backgrounds sociais dos sujeitos
6
Traços essenciais da investigação qualitativa (II)
Flick, 2005

 Reconhecimento do contributo da subjetividade do investigador na produção do saber

• A interação do investigador com o campo e com os seus membros é assumida como variável interveniente na construção do conhecimento

• A subjetividade do investigador e dos sujeitos estudados é tomada como parte integrante do processo de investigação

• As reflexões do investigador sobre as suas ações e observações no terreno, as suas impressões e sentimentos, são considerados dados que devem ser
registados no diário de investigação e nos protocolos de contexto, atendendo a que fazem parte da interpretação

 Variedade de abordagem e métodos

• Não se baseia numa única conceção teórica e metodológica, caracterizando-se a sua prática e análises pela articulação de diversas abordagens teóricas e
respetivos métodos

• As opiniões de cada sujeito são o ponto de partida

• Estuda a construção e desenvolvimento das interações

• Tenta reconstruir as estruturas do espaço social e o significado latente das práticas


7
Os limites da investigação qualitativa como ponto de partida
Flick, 2005

• Grande parte dos ideias de objetividade - tal como são preconizados pelo modelo metodológico das Ciências da
Natureza - não são alcançados nas Ciências Sociais
• Nesta abordagem a dimensão do mensurável, do padronizado, da exatidão e do rigor do método quantitativo, é
aplicada de forma parcelar e exige muitas vezes um esforço de reinterpretação
• O processo e os resultados deste tipo de investigação são influenciados pelos interesses e pelo background social
e cultural dos que nela participam
• Neste contexto a ciência não produz “verdades absolutas” passíveis de serem aplicadas acriticamente, ela
disponibiliza meios de interpretação condicionados, que podem ser utilizados de modo flexível na prática

“ (...) O que nos resta é a possibilidade de afirmações relacionadas com os sujeitos e as situações, que têm de ser
estabelecidas por um conceito de conhecimento sociologicamente articulado”
8
BonB e Hartmann (1985:21)
História da investigação qualitativa (I) Flick, 2005
Os métodos qualitativos têm grande tradição nas Ciências Sociais, desde o inicio do século XX, nomeadamente na:

• Psicologia – utilização de métodos de descrição, compreensão e experimentais

• Sociologia – utilização de métodos descritivos, biográficos e estudos de caso - tendência monográfica, orientada para a inferência, em paralelo com um perspetiva
empírica e estatística

Contudo, no percurso de consolidação destas ciências, as abordagens experimentais, padronizadas e quantificadas foram-se afirmando em contraponto às perspetivas
compreensivas, flexíveis e qualitativo-descritivas.

Apenas na década de 60 a crítica à investigação social quantitativa voltou a ganhar voz, alargando-se nos anos 70, vindo a dar lugar ao ressurgimento da investigação
qualitativa nas Ciências Sociais. Dos países onde este debate teve maior expressão destacam-se:

Alemanha

Habermas começou por identificar a mudança que se operou na Sociologia americana em torno da metodologia de pesquisa, a qual teve como principais protagonistas
Goffman, Garfinkel e Cicourel;

Glaser e Strauss criaram um modelo de processo de pesquisa que mobilizou significativa atenção, na expetativa de que o objeto de investigação pudesse ser tratado de
forma mais ajustada do que o era na investigação quantitativa. Neste contexto, preconizou-se o “princípio da abertura”, defendendo-se que a compreensão do objeto deve
ser uma questão prévia até ao fim da investigação, de modo a evitar o erro de criar um objeto de estudo resultante apenas dos métodos utilizados para o estudar. O
propósito maior desta corrente é o de captar a vida quotidiana, precisamente como ela se manifesta em cada caso.

Mais tarde este debate alargou-se incluindo questões relacionadas com: entrevista, suas aplicações e interpretação, entrevista narrativa, hermenêutica objetiva, validade e
generalização dos resultados, apresentação e transparência dos resultados etc.
9
História da investigação qualitativa (II)
Flick, 2005

Estados Unidos da América

• Período tradicional (1900-1945) – interesse pelo estranho, pelo estrangeiro, na sua descrição e interpretação mais ou menos objetivas

• Fase modernista (1945-1970) – tentativa de formalização da investigação qualitativa

• Confusão de géneros (até meados dos anos 80) – coexistência de vários modelos teóricos e explicações dos objetos e métodos que podem ser escolhidos, contrapostos ou
combinados, designadamente interacionismo simbólico, etnometodologia, fenomenologia, semiótica, feminismo etc.

• Crise da representação (a meio da década de 80) – transformação do processo de apresentação do conhecimento e dos resultados numa componente substancial do processo
de investigação. A investigação qualitativa torna-se um processo contínuo de construção de versões da realidade

• Quinto momento (anos 90) – o foco incide nas narrativas e teorias que se ajustam às situações e problemas específicos, históricos e localmente confinados

• Sexto momento (atualmente) – a escrita pós-experimental liga as questões da investigação qualitativa às políticas democráticas

• Sétimo momento – futuro da investigação qualitativa

Em suma

Na Alemanha o desenvolvimento da investigação qualitativa expressou-se essencialmente através de uma progressiva consolidação metodológica, incindindo de forma particular
em questões associadas aos procedimentos relacionados com a prática de investigação.

Nos Estados Unidos manifestou-se pelo questionamento dos “dogmas” dos diversos métodos, designadamente no que diz respeito ao papel da apresentação no processo de
pesquisa, à crise da representação, à relatividade do material apresentado, posição que debilitou as expetativas de formalizar métodos. A investigação qualitativa passa assim a
atribuir importância fulcral à práticas e políticas de interpretação, assumindo uma atitude baseada na abertura e na reflexão do investigador. 10
A investigação qualitativa nos finais da modernidade
Flick, 2005

A investigação qualitativa expressará as seguintes tendências:

• Regresso à oralidade, manifestado na propensão para a formulação de teorias e a realização de estudos empíricos

• Regresso ao particular, expresso na construção de teorias e na orientação de estudos empíricos, direcionados para a
abordagem de problemas concretos que ocorrem em situações específicas

• Regresso ao local, manifestado no cruzamento do estudo dos sistemas de conhecimento, práticas e experiências, no âmbito de
tradições locais e nos modos de viver em que elas se suportam

• Regresso ao conceito de oportunidade, descrevendo e posicionando os problemas estudados e as soluções sugeridas no seu
contexto histórico e temporal, explicando-os com base nele

“A investigação qualitativa está vocacionada para a análise de casos concretos, nas suas particularidades de tempo e de espaço,
partindo das manifestações e atividades das pessoas nos seus contextos próprios.”

Uwe Flick, 2005:13


Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 1 - A investigação qualitativa: importância, história, características
Bibliografia
FlicK, Uwe (2005), Métodos Qualitativos na Investigação Científica, Lisboa, Monitor
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 2 – Posições Teóricas

Ana Paula Cordeiro


Estes slides não
dispensam a leitura
complementar dos
manuais adotados para
a UC
Perspetivas de investigação no campo da investigação qualitativa

Interacionismo Modelos
Etnometodologia
Simbólico Estruturalistas

Diferentes hipóteses teóricas adotadas na perceção do objeto, diferentes perspetivas metodológicas aplicadas no seu estudo

3
Posições teóricas na investigação qualitativa

Flick; 2005: 27
4
Interacionismo Simbólico: o significado subjetivo

 Foca-se no “ponto de vista do sujeito”, atribuindo particular importância aos significados subjetivos e às atribuições individuais de sentido

 O ponto de partida empírico é o significado que os sujeitos atribuem às suas atividades e ao seu contexto

 O núcleo da investigação são os diversos modos do indivíduo investir de significado os objetos, acontecimentos, experiências, etc.

 O imperativo metodológico é reconstituir o ponto de vista do sujeito estudado em diversos aspetos, o que leva o investigador a olhar o mundo pelo ângulo desse
sujeito, tomando em linha de conta as teorias subjetivas de que as pessoas se servem para explicar o mundo a si próprios, narrativas auto-biográficas e trajetórias
biográficas reconstituídas do ponto de vista dos sujeitos

 A reconstituição dessas perceções subjetivas devem incluir as narrativas dos sujeitos sobre os contextos locais e temporais. Ela constitui o instrumento de análise
das realidades sociais

 Incide no processo de interação – ação social caracterizada por reciprocidade imediata – sublinhando a dimensão simbólica das ações sociais

Hipóteses fundamentais
Blumer
• Os seres humanos agem em relação às coisas, com base no significado que lhes atribuem
• Esse significado resulta da interação social entre o sujeito e os seus conhecidos
• Estes significados são transformados através de um processo interpretativo que o sujeito utiliza para lidar com as coisas que encontra
Thomas
• Quando uma pessoa define uma situação como real ela torna-se real nos seus efeitos
5
A Etnometodologia: a construção da realidade social
 Questiona o modo como as pessoas produzem a realidade social nos seus processos de interação

 Foca-se no modo como a interação se organiza e não no seu conteúdo ou significado para os intervenientes

 Centra-se no estudo dos métodos utilizados pelos indivíduos para a produção da realidade quotidiana

 Analisa as atividades do dia-a-dia, a sua execução e a construção do contexto de interação, localmente situado, onde as atividades têm lugar

 Estuda as rotinas da vida quotidiana, mais do que os acontecimentos marcantes, conscientemente entendidos e revestidos de significado

 Prossegue um programa de investigação que se materializa essencialmente através de pesquisas empíricas de análise de conversas

 Atribui especial importância ao papel do contexto em que as interações se processam e à demonstração empírica da sua relevância para os participantes

 Defende que o investigador deve abster-se de interpretações apriorísticas, bem como de adotar uma posição alinhada com qualquer um dos participantes

Hipóteses fundamentais

Heritage

• As interações organizam-se em estruturas - a interação é produzida de modo ordenado

• As interações são moldadas pelo contexto e também o renovam - o contexto é produzido em simultâneo com a interação e através dela

• As duas propriedades são inerentes aos detalhes das interações pelo que nenhum deles pode ser, à partida, ignorado ou tomado como casual, irrelevante ou desordenado – o
que é importante para os participantes na interação social só pode ser identificado através da análise dessa interação e nunca antes. 6
Enquadramento cultural da realidade social e subjetiva: modelos estruturalistas

 Concede particular relevância às normas implícitas e explicitas da ação

 Pressupõe que os sistemas culturais de significado (estruturas) estão subjacentes à perceção e construção da realidade subjetiva e social

 Utiliza diversos procedimentos metodológicos para analisar os significados “objetivos” e, assim, reconstituir as normas e as estruturas:
análises linguísticas, de expressões, de atividades, “suspensão calculada da atenção” do investigador

Hipóteses fundamentais

• Diferencia as experiências e atividades de superfície das estruturas de profundidade da ação

• A superfície é acessível ao indivíduo interventor, está associada às intenções e aos significados subjetivos da ação

• As estruturas de profundidade não são acessíveis à reflexão individual quotidiana, residem nos modelos culturais, nos padrões de
interpretação e nas estruturas de significado latentes, que existem ao nível inconsciente. Estas estruturas são geradoras e impulsionadoras das
atividades de superfície

7
Rivalidade dos paradigmas ou triangulação das perspetivas

Interacionismo simbólico Etnometodologia Modelos estruturalistas

Parte da interação que se Parte do interesse em escrutinar


Parte dos sujeitos envolvidos estabelece entre sujeitos, as normas (culturais)
na situação a estudar e dos estuda o seu discurso, subjacentes e inconscientes que
significados que essa situação prestando atenção ao modo impulsionam as ações visíveis, as
tem para eles. O contexto, as como ele se estrutura estruturas latentes que podem
interações, os significados formalmente e como os atores desencadear atividades
sociais e culturais são partilham os diferentes papéis. explícitas. Os processos de
reconstruídos a partir desses O contexto externo só adquire interação são tomados como
significados subjetivos. importância se for produzido meios de exposição e
ou continuado na interação. reconstituição dessas estruturas.

Posições perante os diferentes paradigmas:


• Opção por uma única perspetiva teórica
• Confronto e competição entre paradigmas
• Complementaridade e combinação /triangulação de perspetivas
8
Perspetivas na investigação qualitativa

Flick; 2005: 25

As diferentes correntes teóricas podem ser tomadas como recursos diferenciados que possibilitam o estudo de um mesmo fenómeno, permitindo
cada uma delas explorar uma segmento que o compõe. Nesta aceção as várias posições teóricas podem ser combinadas numa perspetiva de
complementaridade, ampliando e enriquecendo a visão sobre o fenómeno estudado no seu todo.
Traços comuns às diferentes posições

Independentemente das diferenças que apresentam, as diversas posições teóricas partilham os seguintes traços comuns:

A compreensão como princípio epistemológico - compreender os fenómenos a partir do seu interior, através do estudo
do ponto de vista dos sujeitos, da análise das situações e normas sociais e culturais relevantes em cada caso. A
metodologia escolhida para alcançar esse propósito varia segunda cada corrente teórica.

A reconstituição dos casos como ponto de partida - analisar as situações em estudo, de modo mais ou menos
consistente, antes de estabelecerem comparações ou generalizações. O tipo de situação escolhida para análise depende
da perspetiva teórica adotada.

A construção da realidade como base – a realidade estudada é criada, construída, pelos diversos atores em presença.
Aquele que é considerado fundamental para essa construção difere de acordo com cada posição teórica.

O texto como material empírico – o texto é a base da reconstituição e da interpretação. A relevância atribuída ao texto
diverge consoante a teoria seguida no estudo.
10
Traços da investigação qualitativa: lista completa

Flick; 2005: 27
11
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos

Tema 2 – Posições Teóricas

Bibliografia
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 3 – Construção e Compreensão do texto
Ana Paula Cordeiro
Estes slides não
dispensam a leitura
complementar dos
manuais adotados para
a UC
Construção e compreensão do texto

Na investigação qualitativa o texto desempenha três funções básicas:


sistematiza os dados fundamentais em que se baseia a descoberta
suporta a interpretação
veicula a apresentação e divulgação dos resultados

Após a recolha de dados procede-se à elaboração do texto que pretende ser um substituto da realidade e a base de interpretações
posteriores e das descobertas delas resultantes. O texto é o resultado da colecta de dados e o instrumento da sua interpretação.

Procura-se traduzir a realidade para o texto, efetuar uma retradução do texto para a realidade e, assim, realizar uma inferência da
realidade a partir do texto.

A investigação qualitativa proporciona a compreensão das realidades sociais através da interpretação de textos.

As Ciências Sociais transformaram-se necessariamente em ciências do texto, apoiando-se neles como meios de fixar e objetivar os seus
resultados.
3
O texto como construção da realidade: construções de primeira e segunda ordem

É impossível reduzir a relação entre texto e realidade a uma simples representação de factos e dados.

A representação da realidade tem limites

Dúvidas sobre a possibilidade do


Dupla crise de Os critérios clássicos de
investigador social captar
representação controle são rejeitados para a
diretamente a experiência vivida.
e de investigação qualitativa, o que
Esta é criada/traduzida por ele no
legitimidade se traduz na rejeição da
texto escrito, o que torna
possibilidade de legitimar o
problemática a ligação direta
conhecimento científico
entre a experiência e o texto.

Questiona-se a existência de uma realidade externa aos pontos de vista subjetivos socialmente partilhados, com base na qual
seja possível validar a sua representação nos textos
De acordo com o construtivismo social e o construcionismo, a realidade é ativamente produzida pelos atores por meio da
atribuição de significado a acontecimentos e objetos, sendo impossível fugir a essa circunstância quando se estuda a
realidade social. Assim sendo, não existem factos puros e simples, eles apenas se tornam relevantes na sequência da sua
seleção e interpretação. Neste contexto impõem-se colocar as seguintes questões:

O que é que os sujeitos tomam como real? Como o fazem? Em que condições?

Os pontos de partida da investigação qualitativa são, então, as ideias sobre acontecimentos sociais, coisas, factos, que se
encontram no campo social estudado, e o modo como essas ideias comunicam entre si.

As construções como ponto de partida

A realidade é socialmente construída através de diferentes tipos de conhecimento (do conhecimento comum até à ciência
e à arte), que constituem formas diferenciadas de construir a realidade.

Segundo Goodman e Schutz a investigação social consiste numa análise desses modos de construir a realidade e dos
esforços que os atores empreendem para o fazer no seu quotidiano. 5
Na perspetiva de Schutz os construtos das Ciências Sociais são de segundo nível, ou seja, são criados a partir dos construtos construídos pelos sujeitos sociais (nessa
aceção são construtos de construtos).

Neste contexto, o autor defende que a ação primordial da metodologia da Ciências Sociais é identificar os princípios gerais através dos quais os atores sociais
organizam as suas vivências diariamente. Nesta sequência, é com base nas perceções e no conhecimento comuns que o investigador social constrói uma versão mais
formal da realidade.

Reconhece-se então a existência de várias realidades, sendo a ciência apenas uma delas, construída com recurso aos princípios pelos quais se pauta a estruturação da
realidade quotidiana e, simultaneamente, por um conjunto de outros pressupostos.

Um dos principais problemas da investigação em Ciências Sociais consiste no facto do seu universo de estudo residir nas versões presentes no campo de estudo ou
nas que são elaboradas em conjunto ou em oposição pelos atores no âmbito da interação que estabelecem.

O conhecimento científico engloba assim vários processos de construção da realidade, designadamente os de natureza subjetiva desenvolvidos diariamente pelos
sujeitos estudados e os de carater cientifico levados a efeito pelos investigadores no tratamento, interpretação e apresentação dos dados. As experiências quotidianas
são transformadas em conhecimento pelos atores envolvidos na investigação e os relatos dessas experiências são traduzidos em texto pelos investigadores.
A construção da realidade no texto: a mimética
A mimética é a transformação da realidade em mundo simbólico, e nesse sentido, a representação das relações sociais ou naturais em textos. A mimética resulta do ato de criar
um mundo simbólico que integra elementos práticos e teóricos, sendo encarada também como um princípio geral que ilustra a compreensão que fazemos da realidade e do texto.

No âmbito da investigação qualitativa identificamos os elementos miméticos nos seguintes domínios:

Transformação da experiência em narrativa pelos sujeitos estudados

Elaboração de textos baseados na interpretação dessas narrativas pelos investigadores

Divulgação dessas interpretações

Neste contexto, ler e compreender textos constitui um processo ativo de construção da realidade no qual estão envolvidos o autor do texto mas igualmente aqueles que o leem e
interpretam.

Segundo Ricoeur, numa Ciência Social baseada em textos distinguem-se três formas de mimética:

• As interpretações de senso comum e as científicas são baseadas numa pré-conceção da atividade humana e dos acontecimentos naturais e sociais. A mimética 1 “ é esta pré-
conceção da natureza da ação humana, da sua semântica, do seu simbolismo, da sua temporalidade” (Flick,2005:34)

• A transformação ou tradução dos ambientes naturais ou sociais em textos é um processo construtivo que se posiciona entre o momento anterior e o momento posterior ao
texto, correspondendo à configuração da ação, a mimética 2.

• O processo de compreensão e interpretação do texto consubstancia a mimética 3, a qual designa o cruzamento entre o universo do texto e o do seu destinatário.

De acordo com o autor, no quadro das Ciências Sociais, a mimética resulta do entrosamento da construção e da interpretação da experiência, processo que se consuma nos atos
de elaboração, interpretação e compreensão dos textos.
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 3 – Construção e Compreensão do texto

Bibliografia
FlicK, Uwe (2005), Métodos Qualitativos na Investigação Científica, Lisboa, Monitor
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 4 - O papel da teoria na investigação qualitativa.
Métodos qualitativos
Estes slides não
dispensam a leitura
complementar dos
manuais adotados para
a UC
A investigação como
processo linear
• O ponto de partida do investigador é o conhecimento teórico
obtido na literatura ou através de resultados empíricos anteriores.
• Resultam hipóteses que se operacionalizam e testam face a novas
condições empíricas.
• O investigador tem como expetativa garantir a representatividade
dos dados e resultados obtidos.
• As teorias e os métodos são anteriores ao objeto de investigação;
são depois testadas e eventualmente estabelecida a sua
falsidade/veracidade.
• Se puderem ser generalizadas, são-no sob a forma de hipóteses
adicionais, por sua vez testadas novamente no plano empírico, e
assim sucessivamente.

Flick, 2005: 42

3
O conceito de processo de investigação na
teoria enraizada
• Prioriza os dados e ao campo de estudo, relativamente aos
pressupostos teóricos.
• O que determina o modo de seleção das pessoas para o
estudo é mais a sua importância para o tema do que a sua
representatividade.
• O objetivo não é reduzir a complexidade, mas antes
aumentá-la pela inclusão do contexto.
• A relação entre a teoria e o material empírico respeita o
principio da abertura o qual preconiza o adiamento da
estruturação do material estudado, até emergir a
estruturação da questão pelos próprios sujeitos estudados.
(Hoffmann-Rien, 1980; in Flick, 2005: 42).

JFialho 4
O conceito de processo de investigação na
teoria enraizada
• Este modo de entender a investigação qualitativa sugere que
o investigador deve adotar uma atitude de “suspensão
calculada da atenção”.
• O modelo de processo de investigação, na teoria enraizada,
engloba os seguintes aspetos principais: amostragem
teórica; codificação teórica; escrita da teoria.
• Postula como essencial a elaboração de teorias com base na
análise do material empírico.
• É uma abordagem fortemente orientada para a
interpretação dos dados em detrimento do método utilizado
na sua recolha.
Flick; 2005:43

JFialho 5
Linearidade e circularidade

• A circularidade das partes do processo ou do modelo de


investigação da teoria enraizada é uma característica
fundamental desta abordagem.
• A circularidade obriga o investigador a uma reflexão
permanente sobre o processo de investigação no seu
conjunto, e sobre a interligação de cada um dos passos entre
si.
• A circularidade levanta problemas, quando se utiliza o
modelo geral, linear de investigação (teoria, hipóteses,
operacionalização, amostragem, recolha de dados,
interpretação dos dados, validação) para avaliar a pesquisa.

Flick, 2005: 44

JFialho 6
Linearidade e circularidade

“A estreita ligação, inclusive no tempo, entre a colecta e


a interpretação dos dados, por um lado, e a seleção do
material empírico, por outro, permite ao investigador
(ao contrário do procedimento linear do método
tradicional) não só colocar repetidas vezes, mas também
responder, á seguinte questão: em que medida as
categorias, método e teorias utilizadas se ajustam ao
tema e aos dados?”

Flick, 2005: 44

JFialho 7
As teorias enquanto versões da realidade
• Função da teoria:
• São versões da realidade;

• O processo de investigação tem subjacente um pré-


conhecimento do assunto ou do campo a estudar;

• A relativa importância de ver as teorias como


versões a reformular do objeto torna mais séria a
construção da realidade no processo de pesquisa;

• A interpretação dos dados assume um lugar central


nesta abordagem.

JFialho 8
Flick, 2005: 45
JFialho 9
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 4 - O papel da teoria na investigação qualitativa.
Métodos qualitativos
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 5: A prática da investigação. As questões da investigação; a entrada
no terreno; estratégias de amostragem ou de seleção dos participantes
Estes slides não
dispensam a leitura
complementar dos
manuais adotados para
a UC
As questões de
investigação
• O modo de formular questões é um passo nuclear na
investigação qualitativa.
• Quanto menor for a clareza na formulação das questões, maior
é o risco do investigador ser confrontado com “montanhas” de
dados, para cuja interpretação se sentirá desamparado.
• A decisão sobre uma questão especifica depende dos
interesses práticos do investigador e do seu envolvimento num
ou noutro contexto histórico e social.
• A decisão sobre uma questão concreta está ligada à redução da
variedade e à estruturação do campo de estudo.
Flick, 2005

3
Delimitar o problema

• O resultado da formulação das questões de


investigação é a delimitação de uma área de
interesse especifica.
• É crucial que o campo e a questão da
investigação sejam, definidos de modo a que se
lhes possa responder com os recursos
disponíveis e derivar daí um plano de pesquisa
sólido.
Flick, 2005

JFialho 4
Conceitos-chave e
triangulação de perspetivas
• O investigador será confrontado com a decisão de quais os
aspetos a incluir (perspetiva essencial, manipulável, relevante,
etc.) e a excluir (secundária, menos relevante, etc.).

• Os conceitos-chave possibilitam um espectro tão amplo quanto


possível de processos relevantes num campo, podem servir como
ponto de partida da investigação.
Flick, 2005
Entrar no terreno
• A questão do acesso ao campo de estudo é mais importante na
investigação qualitativa que na quantitativa.
• O registo das conversas do dia-a-dia exige dos intervenientes um
grau de abertura sobre a sua vida quotidiana mais difícil de
controlar antecipadamente.
• O termo geral “terreno” ou “campo” significa uma determinada
instituição, sub-cultura, família, grupo, empresas, etc.

Flick, 2005
População ou universo

População ou universo é o conjunto de elementos abrangidos por uma mesma definição.


Esses elementos têm, obviamente, uma ou mais características comuns a todos eles,
características que os diferenciam de outros conjuntos de elementos.

A população deve ser definida em pormenor, de tal forma que um investigador possa
determinar se os resultados que se obtiveram ao estudar uma dada população podem ser
aplicados a outras populações com características idênticas.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 7
População ou universo

A técnica designada por amostragem (processo de seleção de um


amostra) conduz à seleção de uma parte ou subconjunto de uma dada
população ou universo que se denomina amostra, de tal maneira que
os elementos que constituem a amostra representam a população a
partir da qual foram selecionados.

O número de elementos que fazem parte de uma amostra designa-se


por dimensão ou grandeza da amostra e representa-se por n.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 8
Técnicas de
amostragem
A probabilística e a não probabilística.
Amostras probabilísticas são selecionadas de tal forma que
cada um dos elementos da população tenha uma probabilidade
real(conhecida e não nula) de ser incluído na amostra.
Amostras não probabilísticas são selecionadas de acordo com
um ou mais critérios julgados importantes pelo investigador
tendo em conta os objetivos do trabalho de investigação que
está a realizar (não está garantida uma probabilidade conhecida
e não nula de cada um dos elementos da população ser
selecionado para fazer parte da amostra).

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 9
Técnicas de
amostragem

Independentemente da técnica utilizada, ao realizar


uma amostragem devem ser dados os passos
seguintes:
- Definição da população;
- Determinação da dimensão ou grandeza da
amostra necessária;
- Seleção da amostra.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 10
Amostragens probabilísticas
As amostragens probabilísticas implicam que a seleção dos elementos que vão fazer parte da
amostra seja feita aleatoriamente. Procede-se à seleção de amostras probabilísticas com o
objetivo de poder generalizar à totalidade da população os resultados obtidos com o estudo
dos elementos constituintes da amostra, devendo assim ser estes representativos dessa
população.

Existem cinco técnicas básicas de amostragem probabilística.


Amostragem aleatória simples
Amostragem estratificada
Amostragem de “cachos” (clusters)
Amostragem por etapas múltiplas
Amostragem sistemática
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 11
Amostras não probabilísticas
As amostras não probabilísticas são utilizadas em muitos
projetos de investigação.
Amostras não probabilísticas podem ser selecionadas tendo
como base critérios de escolha intencional sistematicamente
utilizados com a finalidade de determinar as unidades da
população que fazem parte da amostra.
Muitas vezes são utilizadas para fazer estudos em
profundidade. A dimensão e os elementos escolhidos
dependem dos objetivos do estudo.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 12
Amostras não probabilísticas

Amostragem de conveniência utiliza-se um grupo de


indivíduos que esteja disponível ou um grupo de voluntários.
Poderá tratar-se de um estudo exploratório cujos resultados
obviamente não podem ser generalizados à população à
qual pertence o grupo de conveniência, mas do qual se
poderão obter informações preciosas, embora não as
utilizando sem as devidas cautelas e reserva.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 13
Amostras não probabilísticas
Amostragem de casos muito semelhantes ou muito diferentes
Nestes estudos os elementos selecionados são normalmente
em pequeno número e portanto os recursos necessários para
fazer o estudo são limitados, mas é evidente que se levanta o
problema querendo generalizar os resultados para além dos
casos estudados.
Tome-se como exemplo: querer selecionar estudantes de
Sociologia que obtêm boas classificações ou querer selecionar
simultaneamente estudantes que obtêm boas classificações e
estudantes que obtêm más classificações.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 14
Amostras não probabilísticas

Amostragem de casos extremos


Esta técnica de amostragem consiste em selecionar elementos em que
o fenómeno em estudo se manifesta em grau muito elevado.
A lógica que subjaz a este tipo de amostragem é a de que os resultados
obtidos ao estudar casos extremos possam contribuir para explicar
casos mais típicos.
Tome-se como exemplo: Selecionar os estudantes que obtêm as
melhores classificações, ou os que obtêm as piores classificações.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 15
Amostras não probabilísticas
Amostragem de casos típicos
Este tipo de amostragem é o melhor exemplo de técnica de amostragem utilizada quando
existem grandes limitações em tempo e nos recursos disponíveis, o que torna impossível
efetuar uma amostragem de tipo probabilístico.
O investigador seleciona intencionalmente alguns casos considerados como comuns.
Para aumentar a autenticidade do estudo, casos que sejam considerados únicos ou especiais
não serão, obviamente incluídos na amostra. Esta técnica de amostragem implica que o
investigador conheça bem a população em estudo de modo a poder selecionar casos que
considere como típicos.
A suspeita de que um ou mais deles não são típicos vai afetar o reconhecimento da
cientificidade quo o estudo reveste.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 16
Amostras não probabilísticas
Amostragem em bola de neve
Este tipo de amostragem implica que a partir de elementos da população já
conhecidos se identifiquem outros elementos da mesma população.
Os primeiros indicam os seguintes e assim sucessivamente.
A amostra cresce como uma bola de neve. Frequentemente esta forma de
selecionar a amostra é utilizada quando se torna impossível obter uma lista
completa dos elementos da população que se quer estudar.
Exemplo:
Identificar as “crianças da rua”. Umas crianças vão indicando outras até se chegar
a um número previamente definido e considerado como desejável.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 17
Amostras não probabilísticas
Amostragem por quotas
Pretende-se atingir um objetivo idêntico ao que se consegue na amostragem aleatória:
constituir uma amostra que seja um modelo reduzido da população.
Começa-se por se estabelecer um inventário das proporções estatísticas correspondentes à
combinação de diferentes modalidades dos caracteres retidos.
Deste modo a população é dividida em subgrupos, por exemplo grupos de homens e de
mulheres, definição de escalões de idade, enumeração de grupos étnicos de pertença, etc.
Seguidamente, tendo como base as percentagens de indivíduos necessários para a amostra
final, é indicada aos entrevistadores uma quota ou seja, o número de sujeitos pertencentes a
cada subgrupo que têm que selecionar e entrevistar.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 18
Utilidade das amostragens não
probabilísticas
Quando se estudam determinadas populações cuja listagem completa é
impossível de obter. Tome-se como exemplo: os “sem abrigo”, as “crianças da
rua”, os toxicodependentes.
A amostragem em bola de neve é quase a única técnica possível de ser aqui
utilizada com êxito em casos como os citados;
Quando o investigador está interessado em estudar apenas determinados
elementos pertencentes à população, de características bem recortadas;

Numa fase exploratória do processo de investigação, quando o investigador quer


averiguar se um problema é ou não relevante.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 19
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao propósito

Investigação básica - Na sua forma mais pura, a investigação básica tem


como propósito desenvolver a teoria e estabelecer princípios gerais.
A investigação básica fornece a teoria relevante para a resolução de
problemas sociais.

Investigação aplicada - Como o nome indica, é conduzida com o


propósito de aplicar ou testar a teoria e avaliar a sua utilidade na
resolução de problemas sociais.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 20
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Investigação histórica. A investigação histórica envolve o


estudo, a compreensão e a explicação de acontecimentos
passados.
O propósito da investigação histórica é testar hipóteses ou
responder a questões que digam respeito às causas, aos
efeitos ou às tendências de acontecimentos passados, que
possam ajudar a explicar acontecimentos atuais e a prever
acontecimentos futuros.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 21
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Investigação descritiva
Esta área de investigação implica estudar, compreender e explicar a
situação atual do objeto de investigação. Inclui a recolha de dados para
testar hipóteses ou responder a questões que lhe digam respeito.
Os dados numa investigação descritiva são normalmente recolhidos
mediante a administração de um questionário, a realização de
entrevistas ou recorrendo à observação da situação real.
A informação recolhida pode dizer respeito, por exemplo, a atitudes,
opiniões, dados demográficos, condições e procedimentos.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 22
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Estudo de Caso
O estudo de caso tem sido largamente usado em investigação em Ciências Sociais,
nomeadamente em Sociologia, Ciência Política, Antropologia, História, Geografia,
Economia e Ciências de Educação.
Definição - Yin (1988) define um estudo de caso como uma abordagem empírica que:
- investiga um fenómeno atual no seu contexto real; quando,
- os limites entre determinados fenómenos e o seu contexto não são claramente
evidentes; e no qual
- são utilizadas muitas fontes de dados.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 23
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Estudo Etnográfico
Em vários domínios das Ciências Sociais tem-se registado um crescente
interesse pelos estudos etnográficos, com a intenção de dar resposta a
problemas que os métodos tradicionais não têm vindo a resolver de forma
satisfatória.
Os estudos etnográficos pressupõem uma extensa recolha de dados durante
um período de tempo mais ou menos longo, de uma forma naturalística, isto
é, sem que o investigador interfira na situação que está a estudar.

Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 24
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Investigação correlacional
O propósito de um estudo correlacional consiste em averiguar se existe ou não relação
entre duas ou mais variáveis quantificáveis.
Variáveis cujo grau de correlação é forte podem estar na base de estudos causais
comparativos, experimentais ou quase-experimentais, estudos esses conduzidos com o
objetivo de verificar se as relações existentes entre variáveis são de natureza causal.
Pode haver um grau de correlação forte entre duas variáveis sem que uma das variáveis
seja a “causa” da outra pois neste caso, será uma terceira variável a “causa” das duas
variáveis que apresentam um grau de correlação forte.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 25
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Investigação experimental
O objetivo da investigação experimental é o estabelecimento
de relações causa-efeito.
Usualmente o método experimental é descrito como aquele
que é conduzido para rejeitar ou aceitar hipóteses relativas a
relações causa-efeito entre variáveis.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 26
A Prática de Investigação
Classificação quanto ao método

Investigação causal-comparativa (ex post facto)


Um investigador ao realizar uma investigação causal-
comparativa, tal como na investigação experimental, tenta
estabelecer relações causa-efeito procedendo à comparação de
grupos.
A maior diferença entre as duas é que na investigação
experimental a variável independente (a "causa”) é manipulada e
na investigação causal-comparativa não o é, porque já ocorreu.
Carmo & Ferreira, 2008

JFialho 27
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 5: A prática da investigação. As questões da investigação; a entrada
no terreno; estratégias de amostragem ou de seleção dos participantes
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 10 - Do texto à teoria: análise e interpretação – a análise de conteúdo
Catarina Moreira
• Compreender em que
consiste e proceder à
definição de análise de
Sumário conteúdo

• Saber identificar os diversos


tipos de análise de conteúdo,
identificando as suas etapas

• Conhecer o processo de
aplicação e os requisitos da
prática da análise de
conteúdo.
1. Em que consiste a análise de conteúdo

Para Berelson, a análise de conteúdo consiste numa «técnica de investigação que permite fazer uma
descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto das comunicações, tendo por
objetivo a sua interpretação» (in Carmo e Ferreira, 2015: 220).
Objetiva:
efetuada segundo certas
regras, obedecendo a Sistemática:
Quantitativa:
instruções claras e a totalidade do conteúdo
uma vez que poder-se-á
precisas para que deve ser ordenada e
calcular a frequência dos
pessoas diferentes, integrada em categorias
elementos considerados
trabalhando sobre o previamente escolhidas
significativos
mesmo conteúdo, em função dos objetivos
possam obter os mesmos a atingir
resultados
1. Em que consiste a análise de conteúdo

Bardin enfatiza que a «análise de conteúdo não deve ser utilizada apenas para se proceder a uma
descrição do conteúdo das mensagens, pois a sua principal finalidade é a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente de receção), com a ajuda de
indicadores (quantitativos ou não) (…) a análise de conteúdo pode considerar-se como a
articulação entre o texto, descrito e analisado (pelo menos em relação a certos dos seus elementos
caraterísticos), e os fatores que determinaram essas caraterísticas, deduzidos logicamente,
constituindo estes a especificidade da análise de conteúdo» (Carmo e Ferreira, 2015: 221).
1. Etapas da análise de conteúdo

1ª 2ª 3ª

Descrição Inferência Interpretação

Estas deduções lógicas


podem ser feitas sobre
Enumeração resumida a origem da mensagem
Significado atribuído às
após o tratamento das e, nalguns casos, sobre
caraterísticas do texto caraterísticas do texto
o/a próprio/a
destinatário/a da
comunicação

(Carmo e Ferreira, 2015: 220-221)


1. Aplicações da análise de conteúdo

Domínios possíveis de aplicação:

Suporte escrito (artigos de jornais/revistas; documentos institucionais;


diários; letras de música; notas de campo; transcrições de entrevistas;
questões abertas de um inquérito por questionário…)…

Imagem: fotografia (também as presentes no Instagram, Facebook…);


desenho; mapas…

Som…
2. Diversos tipos de análise de conteúdo

Com base em Madeleine Grawitz, eis os vários tipos possíveis de análise de conteúdo:

Análise de Exploração e
Análise de Verificação

Análise de exploração: tem como finalidade explorar

Análise de verificação: tem como finalidade a verificação de uma hipótese

(Carmo e Ferreira, 2015: 221)


2. Diversos tipos de análise de conteúdo

Análise Quantitativa e
Análise Qualitativa

Análise quantitativa: o mais importante é o que aparece com frequência, sendo


o número de vezes o critério utilizado

Análise qualitativa: o mais importante é a novidade, o interesse, o valor de um


tema

(Carmo e Ferreira, 2015: 221-222)


2. Diversos tipos de análise de conteúdo

Análise Direta e
Análise Indireta

Análise direta: estreitamente ligada à análise quantitativa; por exemplo, se se proceder à


comparação de 2 programas eleitorais no que diz respeito à política ambiental, «esta análise de
conteúdo pode incluir unicamente a comparação entre o número de vezes que certos temas,
palavras ou símbolos-chave referentes a essa política aparecem nesses programas»

Análise indireta: estreitamente ligada à análise qualitativa; «procura uma interpretação do que se
encontra latente sob a linguagem expressa»

(Carmo e Ferreira, 2015: 222)


2. Etapas da análise de conteúdo

• Definição dos objetivos e do quadro de referência teórico


• Constituição de um corpus
• Definição de categorias
• Definição de unidades de análise
• Quantificação (não obrigatória)
• Interpretação dos resultados obtidos.

(Carmo e Ferreira, 2015: 223-228)


2. Etapas da análise de conteúdo

Sobre as etapas da análise de conteúdo, algumas notas adicionais:


Constituição de um corpus
O corpus será o conjunto dos documentos escolhidos para se proceder posteriormente à análise de
conteúdo. A escolha deverá ser feita tendo em atenção certas regras:
• Exaustividade (o que implica considerar todos os elementos do conjunto)
• Representatividade (o que implica proceder à análise de uma parte dos documentos, devendo a
parte selecionada ser representativa do conjunto dos documentos)
• Homogeneidade (os documentos escolhidos devem obedecer a critérios de escolha rigorosos e
não apresentar demasiada singularidade relativamente a esses critérios de escolha)
• Pertinência (os documentos escolhidos devem ser adequados como fonte de informação para
corresponder ao objeto da análise que sobre eles irá recair
(Carmo e Ferreira, 2015: 224)
2. Etapas da análise de conteúdo

Definição de categorias
Segundo Grawitz, as categorias são rubricas significativas, em função das quais o conteúdo será
classificado e eventualmente quantificado. A definição das categorias pode ser feita a priori
(orientada para a verificação de hipóteses) ou a posteriori (procedimento exploratório). As
categorias devem ser:
• Exaustivas: todo o conteúdo que se tomou a decisão de classificar deve ser integralmente incluído
nas categorias consideradas. Porém, é possível, se de acordo com os objetivos, não considerar
alguns aspetos do conteúdo. Assim, é vital justificar por que razão esses aspetos não foram
considerados
• Exclusivas: os mesmos elementos devem pertencer a uma e não a várias categorias
• Objetivas: as caraterísticas de cada categoria devem ver explicitadas sem ambiguidade e de forma
suficientemente clara de modo a que diferentes pessoas classifiquem os diversos elementos, que
selecionaram dos conteúdos em análise, nas mesmas categorias
• Pertinentes: devem manter estreita relação com os objetivos e com o conteúdo que está a ser
classificado
(Carmo e Ferreira, 2015: 224-225)
2. Etapas da análise de conteúdo

Definição de unidades de análise


• Unidade de registo: corresponde ao segmento mínimo de conteúdo que se considera necessário
para proceder à análise. A escolha da unidade de registo depende dos objetivos estabelecidos e
do quadro teórico. Pode ser de natureza e de dimensões muito diversas. A distinção mais habitual
é entre: unidades formais (palavra, frase, personagem, etc.) e unidades semânticas (tema).
• Unidade de contexto: corresponde ao segmento mais longo de conteúdo que é considerado
quando se carateriza uma unidade de registo. Exemplo: se a palavra for considerada a unidade de
registo, a unidade de contexto poderá ser a frase. A unidade de contexto é importante para
assegurar a fidelidade e a validade da análise.
• Unidade de enumeração: unidade em função da qual se procede à quantificação; diz respeito ao
tempo e ao espaço (parágrafo, linha, centímetro, minutos de registo). Exemplo: num dado
discurso quando se pretende distinguir a importância que foi prestada a vários temas, a unidade
de registo será traduzida pelo número de vezes que aparece em cada um dos temas e a unidade
de enumeração o número de linhas dedicadas a cada um deles.
(Carmo e Ferreira, 2015: 226-227)
2. Etapas da análise de conteúdo

Quantificação (não obrigatória)

«Há uma grande variedade de técnicas de quantificação na análise de conteúdo; estas técnicas
evoluíram muito e diversificaram-se não só devido ao desenvolvimento da análise estatística
aplicada ao campo das Ciências Sociais como à utilização do próprio computador [que] permite
tratar o texto (análise linguística) e os resultados (análise numérica)» (Carmo e Ferreira, 2015: 228).

Programas a que é possível recorrer:


2. Etapas da análise de conteúdo

Interpretação dos resultados obtidos

«A interpretação dos resultados obtidos, feita à luz dos objetivos e do suporte teórico, é
fundamental. Além da descrição, a análise de conteúdo deverá não só possibilitar a compreensão
do fenómeno que constitui objeto de estudo, como fazer o investigador chegar à sua explicação e
podendo mesmo nalguns casos fazê-lo chegar a formas de previsão. No entanto, para assegurar a
validade de qualquer previsão que venha a ser feita, torna-se necessário fazer o cruzamento com os
resultados obtidos por outras técnicas» (Carmo e Ferreira, 2015: 228).
3. Requisitos da prática de análise de conteúdo

Fidelidade Validade

Os critérios de codificação usados têm de ser Uma análise de conteúdo será válida, quando a
devidamente explicitados de modo a haver descrição que se fornece sobre o conteúdo tem
coerência ao longo do trabalho, quer este seja significado para o problema em causa e
desenvolvido por um/a só investigador/a reproduz fielmente a realidade dos factos. Para
(fidelidade intra-codificador) ou por uma isso, é necessário que todas as etapas que
equipa (fidelidade inter-codificadores). No 1º integram o processo de análise sejam
caso, o/a investigador/a deve aplicar de forma corretamente executadas. A lógica de validação
igual os critérios de codificação; no 2º caso, há poderá passar pela saturação da informação;
que garantir que diferentes pessoas cheguem triangulação; descrição exaustiva..)
a resultados idênticos. Em ambos os casos os
critérios devem ser aplicados com rigor.
(Carmo e Ferreira, 2015: 228-229)
Bibliografia

Carmo, Hermano e Manuela Malheiro Ferreira (2015), Metodologia da Investigação: Guia para
Autoaprendizagem, Lisboa, Universidade Aberta.

Metodologia das Ciências Sociais


Métodos Qualitativos
Tema 10 - Do texto à teoria: análise e interpretação – a análise de conteúdo
Catarina Moreira
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 11 – Sobre as relações entre métodos qualitativos e quantitativos
Estes slides não
dispensam a leitura
complementar dos
manuais adotados para
a UC
Métodos e técnicas de
investigação em Ciências Sociais
Madeleine Grawitz (1993) menciona a extrema desordem que
existe neste domínio e refere várias definições de métodos. A
autora define métodos como um conjunto concertado de
operações que são realizadas para atingir um ou mais objetivos,
um corpo de princípios que presidem a toda a investigação
organizada, um conjunto de normas que permitem selecionar e
coordenar as técnicas. Os métodos constituem de maneira mais
ou menos abstracta ou concreta, precisa ou vaga, um plano de
trabalho em função de uma determinada finalidade.

Carmo & Ferreira, 2008: p.193

JFialho 3
Métodos e técnicas de
investigação em Ciências Sociais
As técnicas são procedimentos operatórios rigorosos,
bem definidos, transmissíveis, suscetíveis de serem
novamente aplicados nas mesmas condições,
adaptados ao tipo de problema e aos fenómenos em
causa. A escolha das técnicas depende do objetivo que
se quer atingir, o qual, por sua vez, está ligado ao
método de trabalho.

Carmo & Ferreira, 2008: p.193

JFialho 4
Métodos quantitativos e
métodos qualitativos
• A distinção entre paradigmas diz respeito à
produção do conhecimento e ao processo de
investigação e pressupõe existir uma
correspondência entre epistemologia, teoria e
método.

• Cada tipo de método está ligado a uma


perspetiva paradigmática distinta e única.
Carmo & Ferreira, 2008: p.193

JFialho 5
Paradigmas Quantitativo e
Qualitativo
• Embora muitos investigadores adiram a um paradigma e ao método que lhe
corresponde, outros combinam nos seus trabalhos de investigação os dois
métodos característicos de cada um dos paradigmas.

• Reichardt e Cook (1986) afirmam que um investigador para melhor resolver


um problema de pesquisa não tem que aderir rigidamente a um dos dois
paradigmas, podendo mesmo escolher uma combinação de atributos
pertencentes a cada um deles.

• O investigador também não é obrigado a optar pelo emprego exclusivo de


métodos quantitativos ou qualitativos e no caso da investigação assim o
exigir, poderá mesmo combinar o emprego dos dois tipos de métodos.

Carmo & Ferreira, 2008: p.194


Paradigmas Quantitativo e
Qualitativo
• Julia Brannen (1992), por exemplo, salienta que a utilização
conjunta de métodos quantitativos e de métodos qualitativos
tem implicações de natureza teórica, atendendo a que a
utilização de diferentes métodos de investigação tem também
como base diferentes pressupostos, entre outros, acerca da
realidade social e da natureza dos dados recolhidos.
Carmo & Ferreira, 2008: p.194
Paradigmas Quantitativo e
Qualitativo
• As relações entre os paradigmas podem ser definidas a
diferentes níveis:
• Epistemológico e metodológico;
• Planos de pesquisa que combinem e integrem a utilização de dados e
métodos qualitativos e quantitativos;
• Métodos de pesquisa que são simultaneamente qualitativos e quantitativos;
• Ligação das descobertas das pesquisas quantitativa e qualitativa;
• Generalização dos resultados;
• Avaliação da qualidade da investigação: aplicação de critérios quantitativos
à investigação qualitativa e vice-versa.

Flick, 2005: p.268


Paradigmas Quantitativo e
Qualitativo

Flick, 2005: p.270


Paradigmas
Quantitativo e
Qualitativo
Carmo & Ferreira, 2008: p.195

JFialho 10
Características dos métodos quantitativos
• A utilização de métodos quantitativos está essencialmente ligada à
investigação experimental ou quasi-experimental o que pressupõe a
observação de fenómenos, a formulação de hipóteses explicativas
desses mesmos fenómenos, o controlo de variáveis, a seleção
aleatória dos sujeitos de investigação (amostragem), a verificação
ou rejeição das hipóteses mediante uma recolha rigorosa de dados,
posteriormente sujeitos a uma análise estatística e uma utilização
de modelos matemáticos para testar essas mesmas hipóteses.
• O objetivo é a generalização dos resultados a uma determinada
população em estudo a partir da amostra, o estabelecimento de
relações causa-efeito e a previsão de fenómenos.
Carmo & Ferreira, 2008: p.196
JFialho 11
Características dos métodos quantitativos
• A investigação quantitativa implica que o investigador
antes de iniciar o trabalho elabore um plano de
investigação estruturado, no qual os objetivos e os
procedimentos de investigação estejam indicados
pormenorizadamente.

• Os objetivos da investigação quantitativa consistem


essencialmente em encontrar relações entre
variáveis, fazer descrições recorrendo ao tratamento
estatístico de dados recolhidos, testar teorias.
Carmo & Ferreira, 2008: p.196
JFialho 12
Características dos métodos quantitativos
• Quer se trate de uma investigação experimental,
quer se trate da caracterização estatística de uma
determinada população (por exemplo, mediante a
administração de um inquérito por questionário ou
por entrevista estruturada), procede-se à seleção de
uma amostra que deverá ser representativa da
população em estudo, para que os resultados
possam ser generalizados a essa mesma população,
o que implica a seleção aleatória dos sujeitos de
investigação.
Carmo & Ferreira, 2008: p.196
JFialho 13
Características dos métodos quantitativos
• Uma das principais limitações da utilização dos métodos
quantitativos em Ciências Sociais está ligada à própria
natureza dos fenómenos estudados: complexidade dos
seres humanos; estímulo que dá origem a diferentes
respostas de acordo com os sujeitos; grande número de
variáveis cujo controlo é difícil ou mesmo impossível;
subjetividade por parte do investigador; medição que é
muitas vezes indireta, como é por exemplo o caso das
atitudes; problema da validade e fiabilidade dos
instrumentos de medição.
Carmo & Ferreira, 2008: p.196

JFialho 14
Características dos métodos qualitativos
• Indutiva - Os investigadores tendem a analisar a
informação de uma “forma indutiva”. Desenvolvem
conceitos e chegam à compreensão dos fenómenos a
partir de padrões provenientes da recolha de dados.
• Não procuram a informação para verificar hipóteses. A
teoria é desenvolvida de “baixo para cima” (em vez de
cima para baixo), tendo como base os dados que
obtiveram e estão inter-relacionados. Esta teoria
designa-se por “teoria fundamentada” (Glaser e Strauss,
1967);
Carmo & Ferreira, 2008: p.197

JFialho 15
Características dos métodos qualitativos
Holística - Os investigadores têm em
conta a “realidade global”. Os
indivíduos, os grupos e as situações
não são reduzidos a variáveis mas
são vistos como um todo, sendo
estudado o passado e o presente
dos sujeitos de investigação;

Carmo & Ferreira, 2008: p.198

JFialho 16
Características dos métodos qualitativos
• Naturalista - A fonte directa de dados são as situações
consideradas “naturais”. Os investigadores interagem também
com os sujeitos de uma forma “natural” e, sobretudo,
discreta. Tentam “misturar-se” com eles até compreenderem
uma determinada situação, mas procuram minimizar ou
controlar os efeitos que provocam nos sujeitos de
investigação e tentam avaliá-los quando interpretam os dados
que recolheram;
• Os investigadores são “sensíveis ao contexto” - Os atos, as
palavras e os gestos só podem ser compreendidos no seu
contexto;
Carmo & Ferreira, 2008: p.198

17
Características dos métodos qualitativos
• O “significado” tem uma grande importância - Os
investigadores procuram compreender os sujeitos a partir
dos “quadros de referência” desses mesmos sujeitos.
Tentam viver a realidade da mesma maneira que eles,
demonstram empatia e identificam-se com eles para
tentar compreender como encaram a realidade. Procuram
compreender as perspetivas daqueles que estão a estudar,
de todos na sua globalidade e não apenas de alguns. O
investigador deve “abandonar”, “deixar de lado” as suas
próprias perspetivas e convicções;
Carmo & Ferreira, 2008: p.198

JFialho 18
Características dos métodos qualitativos
A investigação qualitativa é “descritiva”. A
descrição deve ser rigorosa e resultar
diretamente dos dados recolhidos. Os dados
incluem transcrições de entrevistas, registos
de observações, documentos escritos
(pessoais e oficiais), fotografias e gravações
vídeo. Os investigadores analisam as notas
tomadas em trabalho de campo, os dados
recolhidos, respeitando, tanto quanto possível,
a forma segundo a qual foram registados ou
transcritos; Carmo & Ferreira, 2008: p.198

JFialho 19
Características dos métodos qualitativos
Em investigação qualitativa “a
preocupação central não é a de saber
se os resultados são suscetíveis de
generalização, mas sim a de que
outros contextos e sujeitos a eles
podem ser generalizados”
(Bogdan e Biklen, 1994).

Carmo & Ferreira, 2008: p.199

JFialho 20
Tradições teóricas em investigação qualitativa
Patton (1990)

JFialho 21
Tradições teóricas em investigação qualitativa
Patton (1990)

JFialho 22
Possibilidade de utilizar uma combinação de métodos
quantitativos e qualitativos

Patton (1990) afirma que uma forma de tornar um


plano de investigação mais “sólido” é através da
triangulação, isto é, da combinação de metodologias
no estudo dos mesmos fenómenos ou programas.
Tal significa, de acordo com o mesmo autor, utilizar
diferentes métodos ou dados, incluindo a
combinação de abordagens quantitativas e
qualitativas. O autor cita Denzin (1978) que
identificou quatro grandes tipos de triangulação:

JFialho 23
Possibilidade de utilizar uma combinação de métodos
quantitativos e qualitativos

Flick, 2005: p.271


JFialho 24
Possibilidade de utilizar uma combinação de
métodos quantitativos e qualitativos
1 - triangulação de dados - o uso de uma
variedade de fontes num mesmo estudo;
2 - triangulação de investigadores - o uso
de vários investigadores ou avaliadores;
3 - triangulação de teorias - o uso de várias
perspetivas para interpretar um mesmo
conjunto de dados;
4 - triangulação metodológica - o uso de
diferentes métodos para estudar um dado
problema ou programa. Carmo & Ferreira, 2008: pp.201-202
JFialho 25
Possibilidade de utilizar uma combinação de
métodos quantitativos e qualitativos

1 - triangulação de dados - o uso de uma variedade


de fontes num mesmo estudo;
2 - triangulação de investigadores - o uso de vários
investigadores ou avaliadores;
3 - triangulação de teorias - o uso de várias
perspetivas para interpretar um mesmo conjunto de
dados;

JFialho 26
Metodologia das Ciências Sociais
Métodos Qualitativos
Tema 11 – Sobre as relações entre métodos qualitativos e quantitativos

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