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UNIDADE CURRICULAR: Metodologia das Ciências Sociais: Métodos

Qualitativos

CÓDIGO: 41038

TRABALHO / RESOLUÇÃO:

Optar por uma Metodologia Qualitativa é privilegiar uma abordagem mais dinâmica,
flexível e mais sensível do sujeito de estudo, daí ser uma opção mais acertada quando
se trata de ambientes culturais e sociais mais diversificados, relações sociais ou
modos/estilos de vida.
Os métodos qualitativos têm grande tradição nas Ciências Sociais, sobretudo em
áreas como a Psicologia e Sociologia. Embora tradicionalmente a Psicologia tenha
seguido o modelo rigoroso das Ciências da Natureza, pretendendo a criação de leis
gerais e procurando excluir a influência de investigador para assegurar objecividade,
na ânsia de cumprir escrupulosamente o método, os resultados apresentados não
resolviam os problemas quotidianos. Os métodos padronizadas e experimentais
utilizadas em Psicologia e Sociologia desde o início do Sec. XX, foram sendo
substituídos por abordagens mais flexíveis e questionaram-se os dogmas . A ciência
deixou de produzir verdades absolutas ( Flick,2005 ).
No artigo “ Do pessoal ao político: as metodologias de investigação qualitativa como
aliadas de ação” as autoras referem um desajuste entre os pressupostos positivistas
“tradicionais” e as pesquisas de inspiração feminista. Esta disfunção é salientada
pelos/as investigadores/as dos EMGF ( Estudos sobre as Mulheres, de Género e
Feministas ) que criticam uma conceção abstrata do objeto de estudo e uma certa
generalização de condições de vida das pessoas.
Já no final da década de 1960 , as perspetivas de inspiração feminista procuravam
uma conceção que desse voz aos excluídos e condenaram o fato de alguns cientistas
não terem incluído uma amostragem feminina nos seus estudos.

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Foi o caso na Psicologia com os trabalhos de Lawrence Kohlberg e Jean Piaget,
censurados por Carol Gilligan no livro da década de 1980 “ In a different voice” e em
Sociologia, quando Dorothy Smith chamou a atenção para a exclusão das mulheres
dos trabalhos de investigação.
Os argumentos apresentados por Sofia Bergaro E Cristina C. Vieira relativamente à
adequação da Metodologia Qualitativa à investigação e ao processo de conhecimento
nas diferentes áreas de científicas das Ciências Sociais são vários dos quais
destacamos os seguintes: o Método Qualitativo permite uma análise orientada para a
diversidade das pessoas e das suas vivências e contextos; favorece um conhecimento
baseado na singularidade e individualidade do sujeito; reflete de forma crítica sobre o
conhecimento produzido; dá visibilidade ao caso particular, em contexto próprio e voz
aos mais desprotegidos marginalizados , criando uma ciência mais humana e
sensível; por fim o Método Qualitativo acolhe a interpretação do conhecimento
científico como um saber mais democrático, que participa na construção de uma
sociedade mais justa e equitativa.
As pessoas “investigadas” veem-se envolvidas na investigação e reforçam a sua
identidade de sujeitos que participam na investigação e não como objetos de estudo.
O sujeito participa na investigação que deixa de ser sobre ele mas com ele. A
pesquisa torna-se num processo circular ente investigador e participante com partilha
de conhecimento. As realidades são analisadas valorizando a complexidade dos
contextos sociais e centrando o interesse da ciência na vivência das pessoas.
De seguida são enumeradas as características da investigação qualitativa e suas
limitações.
A investigação qualitativa permite uma adequação dos métodos e teorias: o objeto de
estudo determina a escolha do método, que deve ser ajustado à complexidade do
objeto de estudo; o objeto de estudo é estudado no seu contexto quotidiano; o objetivo
da investigação é descobrir teorias novas e o resultado obtido fundamenta-se no
material empírico.
Possibilita uma diversidade de perspetivas dos participantes: estudo de sujeitos de
contextos diversos, com diferentes histórias de vida, vivências e experiências.
Reconhece a contribuição da subjetividade do investigador para a produção do
conhecimento e como parte do processo de investigação; as impressões e
observações do investigador são considerados dados e fazem parte da interpretação.
A investigação qualitativa dispõe de uma variedade de abordagens e métodos que
devem ser escolhidos de acordo com o sujeito e a pesquisa.

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Este método tem como limitações o fato de não se conseguir garantir ideais de
objetividade, os resultados da investigação são influenciados pelo contexto social e
cultural dos participantes, certos sujeitos de estudo podem ser mais reservados na
partilha de informação ou tentarem ocultar algo que possa parecer “anormal”, pode ser
difícil para o investigador manter o distanciamento necessário para analisar os dados
ou não se deixar influenciar por preconceitos, sejam eles políticos, religiosos ou
outros.
Considerando as vantagens do método qualitativo parece-me adequada a posição
das autoras na escolha deste método na investigação e processo de construção de
conhecimento em algumas áreas das Ciências Sociais.
Os textos constantes no dossier temático “ Epistemologias, metodologias e produção
de conhecimento crítico de matriz qualitativa em Estudos sobre as Mulheres, de
Género e Feministas” demonstram a variedade de métodos que caracteriza a
metodologia qualitativa e a possibilidade de recorrer a estratégias que permitam
compreender a diversidade dos seus sujeitos de estudo.
São utilizados técnicas como a entrevista e os diários de campo ou a observação e a
preocupação é dar voz aos mais vulneráveis e incluir as suas vivências de forma a se
conseguir uma intervenção mais eficaz, no âmbito social, político ou de prestação de
cuidados de saúde.

Bibliografia
CARMO, Hermano; FERREIRA, Manuela Malheiro, 2008, Metodologia da
Investigação. 

FLICK, U, 2005, Métodos Qualitativos na Investigação Científica, Lisboa, Monitor


“Reforçar o sucesso e a excelência dos estudos de género em Portugal”
https://apem-estudos.org/pt/files/2017-08/recomenda-es-para-o-desenvolvimento-dos-
emgf-30junho2017.pdf

VIEIRA, Cristina C. e BERGANO, Sofia “Do pessoal ao político: as metodologias de


investigação qualitativa como aliadas da ação”
https://exaequo.apem-estudos.org/files/2020-08/03.do-pessoal-ao-politico.pdf

LISBOA, Teresa “Feminismos, Pesquisa e produção de conhecimento em serviço


social”

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https://nusserge.paginas.ufsc.br/files/2020/05/LISBOAT.-Feminismo-e-Produ
%C3%A7%C3%A3o-do-Connhecimento_2015.pdf

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