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3.

AS FONTES DE INFORMAÇÃO DEMOGRÁFICA E OS


TESTES À QUALIDADE DOS DADOS

Objetivos

1.Conhecer as características fundamentais e o conteúdo dos principais sistemas


de informação existentes;

2. Identificar as vantagens e os inconvenientes de cada um dos sistemas de


informação demográfica, tendo em consideração as necessidades de dados de
uma investigação em análise demográfica;

3. Conhecer as principais técnicas de análise da qualidade dos dados


demográficos, e aprender a escolher essas técnicas em função dos sistemas de
informação utilizados.

INTRODUÇÃO

Os dados em Demografia são principalmente gerados pelas atividades dos governos


centrais e suas agências ou por organizações internacionais. A quantidade e a qualidade
dos dados que se obtêm dependem, em parte, da existência de boas organizações e
ainda dos seus objetivos, embora também dependam das atitudes sociais em relação à
recolha desses mesmos dados.

À medida que as civilizações crescem e as nações se desenvolvem, os governos


constroem sistemas para reunir informações sobre o seu povo. No mínimo desejam saber
quantos somos, de que tipo somos e onde estamos. O atual sistema padrão de recolha
de dados, tem como base o recenseamento por décadas. No entanto, um recenseamento
(ou Censos) remete apenas para um determinado momento no tempo. Neste sistema,
os Censos são complementados pelo registo de outros eventos populacionais
(nascimentos, óbitos) e/ou por sondagens ou inquéritos por amostragem. Com o evoluir
da tecnologia nas sociedades modernas, há um enorme potencial inexplorado para medir
os dados digitais deixados pelos utilizadores da Internet e telemóveis, tornando-se este
um método emergente de recolha de dados num futuro próximo (Palmer et al., 2013;
Watts, 2007), usando fontes comummente chamadas de “big data”. No entanto, mesmo
com a mais sofisticada combinação desses elementos, ainda permanecerão lacunas que
devem ser preenchidas por estimativa.
Os elementos brutos da Demografia são os dados recolhidos nos Censos, em estudos,
nos registos dos vários sistemas. Estes dados podem ser apresentados de muitas
maneiras, mas sobretudo, de duas formas fundamentais.

Em primeiro lugar, os dados recolhidos dos Censos da população ou inquéritos


semelhantes aos Censos. Os Censos produzem o registo das pessoas num dado
momento, ou seja, produz uma informação “fotográfica” transversal da população
existente, o seu tamanho, a sua estrutura, como ela é observada no momento dos
Censos. As comparações internas ou entre Censos, envolvem em geral números
absolutos e o cálculo de proporções.

Segundo, existem dados normalmente recolhidos pelos registos dos diferentes sistemas.
Os dados produzidos são o registo dos acontecimentos durante um determinado
intervalo de tempo, em geral um ano. Os dados são essencialmente dinâmicos na sua
natureza, porque fornecem informação no decorrer do tempo.

O número de nascimentos, óbitos, movimentos da população, ou outros acontecimentos,


ocorrem durante um período e são afetados pelo número de pessoas “em risco”, de ser
“um nascimento”, um “óbito”, uma “migração”. Neste contexto é comum serem
calculadas taxas de ocorrências, permitindo comparações de níveis de mortalidade,
fecundidade ou mobilidade, em vez de somente o número de nascimentos, de óbitos ou
de migrações.

Tendo em conta que alguns desses dados podem conduzir a enviesamentos, a recolha
de dados demográficos tem de ser hierarquizada e explicitada, pois podem influenciar
os modos de análise restringindo as possibilidades de algumas análises.

Poucos são os dados que são recolhidos principalmente com fins demográficos. A maior
parte deles são produzidos para, ou como, produto de atividades administrativas levadas
a cabo ou controladas pelos governos ou agências internacionais e onde os demógrafos
têm pouco controlo do modo preciso como eles são recolhidos, agregados ou
apresentados. Contudo estes dados são utilizados por geralmente serem os que estão
disponíveis.

3.1. OS DADOS EM DEMOGRAFIA

As estatísticas usadas para manusear os dados são em geral taxas, razões e


proporções. Elas constituem os maiores instrumentos básicos da Demografia formal.
Permitem fundamentalmente comparações eliminando diferenças devido a tamanhos
diferentes de população.
As taxas são o instrumento de medida mais usado em análise demográfica. Por definição,
uma taxa mede a frequência de um fenómeno numa população durante um período de
tempo determinado. Qualquer que seja a duração do período, uma taxa tem sempre
uma dimensão anual.

Uma taxa é simplesmente qualquer número dividido por qualquer outro número.

Exemplo: a taxa de mulheres é a relação da população total de mulheres (numa dada


população) a dividir pelo total da população. Geralmente a fórmula é
mulheres/população total x 100. Outro exemplo: a taxa de mulheres em relação aos
homens será o número de mulheres a dividir pelo número de homens numa dada
população. Geralmente a fórmula é mulheres/homens x 100.

Na perspetiva do estabelecimento do balanço demográfico anual, o instrumento de


medida utilizado é a taxa bruta. A taxa bruta de mortalidade, por exemplo, mede a
frequência anual da mortalidade, a qual exprime também o risco médio anual de morte
para cada mil habitantes. Qualquer taxa bruta resulta do quociente entre o número de
acontecimentos (nascimentos, óbitos, migrações, casamentos) produzidos durante um
determinado período e a população média desse mesmo período. Como todas as taxas,
a taxa bruta tem uma dimensão anual, o que significa que os acontecimentos, mesmo
quando relativos a períodos inferiores ou superiores a um ano – devem sempre ser
reduzidos a essa unidade temporal.

Uma razão é usada livremente em Demografia, como em outras situações similares, e


pode causar alguma confusão. Em sentido estrito o numerador da razão é o número de
acontecimentos, tais como nascimentos ou óbitos, que ocorrem num determinado
período de tempo. Aqui o denominador é o número de “pessoas ano expostas ao
fenómeno considerado” durante o período em causa. O aspeto mais importante a
considerar é que o período de tempo tem que ser aqui especificado. As razões em
Demografia são usadas a maior parte das vezes por períodos de um ano. Isto significa
que o número de pessoas ano expostas ao fenómeno pode geralmente ser aproximado
à população existente a meio do ano.

Assim a média da população será normalmente aproximada à população total no meio


do ano. Isto explica porque é que as estatísticas que os serviços produzem anualmente
são calculadas em relação ao meio do ano em vez do início do ano.

Devemos ainda chamar a atenção que muitas medidas que são comummente designadas
como frações em Demografia são estritamente taxas, proporções ou outros índices. Ex:
uma “fração de literacia” será a proporção da população que é letrada enquanto a “taxa
bruta de nascimento” é realmente uma taxa porque inclui no seu denominador os idosos,
as crianças e homens, nenhum deles em risco de dar à luz uma criança.

Uma proporção será um tipo especial de taxa na qual o numerador está incluído no
denominador, isto é: Proporção = (x/ x + y). Por exemplo a proporção da população do
sexo feminino será o número de mulheres dividido pelo total de homens e mulheres em
conjunto. A proporção pode variar entre 0,0 e 1,0 e é, em geral, expressa em
percentagem que se obtém multiplicando o valor obtido por cem.

3.2. OS RECENSEAMENTOS

Um recenseamento é um conjunto de operações baseadas em registos individuais, que


permitem conhecer todo (universalidade) o efetivo populacional de um território numa
data precisa (simultaneidade), com detalhes sobre a repartição dessa população por
unidades administrativas e segundo um número mais ou menos vasto de características
(sexo, idade, residência, profissão).

Devem respeitar uma determinada periodicidade (de 10 em 10 anos no caso de


Portugal).

Os Censos existem fundamentalmente para apoiar o planeamento, especialmente o


aprovisionamento e regulamentação dos serviços básicos (água, vias de comunicação e
outros serviços, por exemplo). Na maior parte dos países democráticos a distribuição da
população, dada pelos Censos, também determina o nível de representação eleitoral e a
alocação de recursos do governo central. Muitas das intervenções do governo, no campo
da saúde e da segurança social, produzem dados demográficos, que em geral resultam
de dados do programa de avaliação dessas intervenções.

Determinados inquéritos, muitas vezes orientados com um objetivo bem definido,


também são fonte de dados demográficos mais ou menos independentes do sistema
convencional.

As principais características de um Censos, e que o diferencia de um inquérito, é que em


primeiro lugar ele é um registo global do total da população dentro de uma determinada
área geográfica definida. Em segundo lugar, como não envolve amostragem, cada
pessoa é enumerada separadamente. Em terceiro lugar, ele não é um exercício
voluntário e tem que ter uma base legal para o tornar obrigatório e nele ser incluída e
fornecida a informação pretendida. Finalmente, é obrigatório ser relacionado com um
dado momento no tempo e não num período.
Um Censos é uma recolha de dados sobre a população levada a cabo de uma só vez
num dado país e envolve: formulação de um questionário, planeamento e organização
de uma equipa, processamento e análise dos dados e divulgação dos resultados.

Censos: Sobre Censos, o que são, para que servem, Censos em Portugal, Censos no
mundo, ver Censos 2021 em
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_sobre_censos&xpid=CENSOS21&
xlang=pt

Ver Recenseamento (Censos) de 2011 em


https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=ine_censos_publicacao_det
&contexto=pu&PUBLICACOESpub_boui=73212469&PUBLICACOESmodo=2&selTab=ta
b1&pcensos=61969554, dados gerais do Censos – Resultados definitivos. Portugal –
2011 e outros resultados dos Censos 2011:
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_apresentacao

Ver Censos 2021 em


https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_main&xpid=CENSOS21&xlang=pt
e em https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21&xpid=CENSOS21&xlang=pt

O quadro 1 (anexo 1) apresenta uma síntese das variáveis a observar nos Censos 2021
e as excluídas face aos Censos 20112. (ver o anexo 1 – Quadro 1. Síntese das variáveis
a observar nos Censos 2021 e excluídas face aos Censos 2011).

3.3. AS ESTATÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DE ESTADO CIVIL

São o conjunto de informações sobre os nascimentos, óbitos, casamentos, divórcios e


separações judiciais, saídas ou entradas, ocorridas num território durante um
determinado período (normalmente um ano), baseadas nos boletins de registo civil
desses acontecimentos, com detalhes sobre a sua repartição por unidade administrativa
e segundo um número mais ou menos vasto de características (sexo, idade, etc.).

O sistema de registos vitais e os controlos de migração existem acima de tudo por


questões legais: a produção de certificados de nascimento e de óbito, passaportes,
cartões de identidade, certificados de autorização de trabalho, autorização de residência
e de cidadania.

2
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=censos_historia_portugal
Na maioria dos países desenvolvidos o sistema de registo dos acontecimentos vitais
fornece a maior parte da informação dos nascimentos, casamentos, óbitos e por vezes
os dados de migração. Nos países em desenvolvimento, estes sistemas de recolha de
informação são na maior parte das vezes incompletos e por vezes nem existem, nem
são explorados com fins demográficos. Isto explica porque os objetivos do registo desta
informação são essencialmente administrativos e legais e não demográficos3.

3.4. OUTRAS FONTES DEMOGRÁFICAS

Os inquéritos demográficos são inquéritos por amostragem baseando-se na recolha de


informações, com base numa amostra representativa do universo da população em
análise, visando aprofundar o estudo sobre uma questão demográfica particular (Ex:
inquérito português à fecundidade, que inclui variáveis como “o uso de métodos
contracetivos, o número de filhos desejado, local de residência na infância”, etc.).

Os inquéritos por amostragem usados em Demografia podem ter uma variedade de


aspetos, mas o aspeto essencial é que envolvem uma amostra da população. A
vantagem da amostra é que ela reduz o esforço referido e por consequência o custo,
quando comparado com um Censos. No entanto, podem surgir erros de medição. Se a
amostra tiver uma base adequada, este erro pode ser medido e assim minimizado.

Os inquéritos por amostragem são, contudo, fontes importantes de dados demográficos


atendendo aos problemas acima mencionados do Censos e do registo da informação -
por ex: a impossibilidade de fazer muitas perguntas ou perguntas complexas e,
especialmente nos países em desenvolvimento, a pobre qualidade dos dados que
produzem. A vantagem dos inquéritos por amostragem, para além de serem mais
económicos, é que podem ser organizados e executados de forma relativamente rápida
e podem recolher muito mais detalhes que um censo, incluindo informação de
comportamentos para os quais os entrevistadores podem ser treinados.

A sua principal desvantagem é a introdução de erros de amostragem. Isto significa que


são necessários grandes números para produzir resultados fiáveis. Do ponto de vista dos
inquéritos demográficos, a unidade de observação é o domicílio, não o indivíduo, e esta
ajuda a reduzir custos e especialmente complexidade administrativa.

3
Ver estatísticas demográficas em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107661&selTab=tab0&xlang=pt eas Estatisticas demográficas de 2019 em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOESpub_boui=7
1882686&PUBLICACOESmodo=2
Existem vários tipos de inquéritos por amostragem em Demografia:

Primeiro, existem informações dos Censos tipo, o que talvez substitua um Censos
completo ou simplesmente o existente, fazendo uma ampla distribuição de questões
numa amostra da população envolvida. Os inquéritos designados para investigar alguns
tópicos particulares, como o uso de contracetivos, emprego das mulheres, ou causas e
consequências da migração também caem nesta categoria de exemplos.

Segundo, existem inquéritos retrospetivos, assim designados pois fazem perguntas


acerca de acontecimentos que ocorreram no passado, normalmente nos países em
desenvolvimento. Estes inquéritos são inicialmente utilizados para reunir informação que
os sistemas normas forneceriam.

As perguntas retrospetivas, normalmente usadas pelos demógrafos, são por ordem de


importância: número total de crianças que nasceram vivas, número de crianças que
vivem em casa, número de crianças que saíram e morreram (usado para conferir o
número e para fazer uma estimativa da mortalidade infantil), tempo decorrido desde o
último nascimento (usado principalmente para determinar os nascimentos no último
ano), se a mãe é viva, se o pai é vivo, se o primeiro marido é vivo.

Existe ainda uma larga gama de técnicas indiretas sofisticadas, que podem servir para a
recolha de dados sobre questões específicas que deverão ser formuladas e utilizadas de
acordo com o objetivo e o grau de precisão que se pretende obter.

Outras fontes a salientar são as estatísticas de saúde e os anuários estatísticos.

Em conclusão, poderemos dizer que existem três grandes fontes para a recolha de dados
em Demografia (informação dos censos tipo, inquéritos por amostragem, técnicas
indiretas de perguntas por questões específicas) que não são alternativas umas das
outras, embora uma possa, eventualmente, ser usada na ausência ou deficiência da
outra.

Um Censos é mais ou menos essencial para fornecer uma base de dados sem a qual o
sistema de registo ou um inquérito por amostra é menos útil. Nos países em
desenvolvimento, os inquéritos por amostragem podem investigar determinados aspetos
deficientes nos Censos e dar mais fiabilidade à informação disponibilizada pela má
qualidade fornecida por esses Censos.

Os Censos, ou inquéritos dos Censos tipo, geralmente produzem informação da


população existente num determinado momento no tempo; enquanto os sistemas de
registos vitais produzem informação em fluxos, números ou acontecimentos que
ocorrem ao longo do tempo. Estes últimos podem também ser obtidos indiretamente
através de perguntas retrospetivas em inquéritos e censos ou por inquéritos prospetivos.
Ambos os tipos de dados são largamente usados, frequentemente em combinação e em
análise demográfica4.

Outros sítios de informação demográfica


Eurostat

O Eurostat produz estatísticas europeias em parceria com os institutos nacionais de


estatística e outras autoridades nacionais dos Estados-Membros da UE. Esta parceria é
conhecida como Sistema Estatístico Europeu (ESS). Também inclui as autoridades
estatísticas dos países do Espaço Económico Europeu (EEE) e da Suíça.

O Eurostat, autoridade estatística da União Europeia, foi criado em 1953 e é atualmente


uma Direcção-Geral (DG) da Comissão Europeia que tem como papel fundamental
fornecer estatísticas à Comissão e às outras instituições europeias para que possam ser
definidas, implementadas e analisadas as políticas comunitárias5.

PORDATA

A PORDATA é uma abrangente e diversificada base de dados com estatísticas oficiais


certificadas sobre Portugal. Disponibiliza a todos os cidadãos informação rigorosa e
isenta que permite aprofundar o conhecimento e enriquecer o debate público sobre os
grandes temas nacionais. A PORDATA assume-se como uma base de dados portuguesa
abrangente em termos de diversidade de temas e de amplitude temporal, já que inclui
estatísticas, sempre que disponíveis, referentes ao período entre 1960 e a atualidade,
reunindo informação relevante e harmonizada relativa a doze temas distintos:
População, Saúde, Educação, Proteção Social, Emprego e Mercado de Trabalho,
Empresas e Pessoal, Rendimentos e Despesas Familiares, Habitação e Conforto, Justiça,
Cultura, Contas Nacionais e Contas do Estado6.

4
Ver exemplos de inquèritos em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_estudos&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107773&selTab=tab0&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=415
655178&DESTAQUESmodo=2;
http://www.ine.gov.mz/operacoes-estatisticas/inqueritos/inquerito-demografico-e-de-saude
(IDS de Moçambique).
5
https://ec.europa.eu/info/departments/eurostat-european-statistics_pt
6
PORDATA: www.pordata.pt
3.5. QUALIDADE DOS DADOS – TESTES FUNDAMENTAIS À QUALIDADE
DOS DADOS

Nenhum sistema estatístico é inteiramente livre de distorções. No caso dos Censos, os


erros mais comuns são os de subenumeração, sobreenumeração e classificação errónea.
O primeiro, que normalmente atrai mais atenção, surge quando uma parcela da
população não é contada, por omissões na organização do Censos ou por vontade
própria, por exemplo no caso de imigrantes clandestinos ou outros indivíduos com
motivos para evitar a enumeração. Normalmente, erros deste tipo podem ser detetados
através de um levantamento por amostra, executado logo depois do Censos, que serve
para avaliar a sua qualidade e definir fatores de correção.

Depois de termos analisado as principais fontes demográficas, vejamos agora a questão


da qualidade dos dados.

3.5.1. A Relação de Masculinidade dos nascimentos

A relação de masculinidade dos nascimentos permite testar a qualidade das estatísticas


de estado civil. Inicialmente concebido para avaliar a qualidade de registo dos
nascimentos, este teste revelou-se um bom indicador da qualidade global dos dados
estatísticos demográficos.

Este indicador relaciona o número de nascimentos masculinos por cada 100 nascimentos
femininos, ou seja

(nascimentos masculinos/ nascimentos femininos) x 100

É a relação dos nados-vivos masculinos com os nados-vivos femininos realizados num


determinado período. Permite ver se existem ou não erros ao nível dos registos dos
nascimentos (desequilíbrios ao nível dos registos dos sexos).

Como funciona este teste? Segundo informações recolhidas nas análises feitas em países
com boas estatísticas demográficas sabe-se que a relação de masculinidade dos
nascimentos anda em torno de 105 (ou seja, por cada 100 raparigas nascem 105
rapazes), desde que se excluam as variações aleatórias.

A existência de desvios acentuados em relação a este valor médio traduz a existência de


erros na recolha e registo dos dados em torno dos sexos dos nados-vivos.
Não podemos concluir logo que a qualidade dos dados é má. Existem as flutuações que
têm a ver com o número de ocorrências.

É necessário ver se se deve à dimensão da população ou à má qualidade dos dados.

Em função do número de nascimentos observados é, no entanto, possível precisar o


intervalo de variação deste erro, que é devido à existência de populações pouco
numerosas. Existe uma fórmula para se encontrar o intervalo de confiança dentro do
qual os nascimentos masculinos podem variar:

Para um total de 1000 nascimentos temos, em teoria, 512 nascimentos masculinos e


488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção de 0,512.

Os limites do intervalo de confiança a 95% são determinados pela fórmula:

IC = 0,512 + - 1,96 √ ((0,512 x 0,488) / n), onde n é o número total de nascimentos

Depois calcula-se x / (1- x) × 100 e y / (1- y) × 100, para encontrar os limites do


intervalo de confiança. Se o valor encontrado no cálculo das relações de masculinidade
dos nascimentos estiver incluído no intervalo de confiança, podemos afirmar que a
qualidade de registo de nascimentos é boa. Se o valor encontrado no cálculo das relações
de masculinidade dos nascimentos não estiver incluído no intervalo de confiança pode
dever-se a:

• má qualidade dos dados;

• sobreregisto de nascimentos masculinos;

• subregisto de nascimentos femininos.

Exemplo: Ano 2000 Nados-Vivos H 62262 M 57809 HM 120071

RMN = Nados-Vivos Masculinos / Nados-Vivos Femininos *100

RMN = (62262 / 57809) × 100

RMN = 107,7 (superior a 105)

De modo a analisar a qualidade dos dados, necessitamos encontrar o intervalo de


confiança dentro do qual, em princípio, os nascimentos masculinos podem variar, sem
colocar em causa a qualidade dos dados.
Intervalo de confiança: para um total de 1000 nascimentos convencionou-se a existência
de 512 nascimentos masculinos e 488 nascimentos femininos, ou seja, uma proporção
de 0,512.

Intervalo de confiança (IC) = 0,512 ± 1,96 (0,512 × 0,488)/120071

0,512 ± 0,0028

- 0,512 é a probabilidade dos nascimentos masculinos;

- 0,488 é a probabilidade dos nascimentos femininos;

- 1,96 é uma constante do teste para uma margem de erro de 5%;

- 120071 é a totalidade dos nascimentos;

- 0,0028 é o intervalo de confiança calculado.

Limite estatístico x

0,512 + 0,0028 = 0,5148

Limite estatístico y

0,512 ̶ 0,0028= 0,5092

Limites de confiança

[0,5148 / (1 - 0,5148)] × 100 = 106,10

[0,5092 / (1 - 0,5092)] × 100 = 103,75

O valor da relação de masculinidade ao nascimento para o ano de 2000 (107,7) não está
contido no intervalo de confiança, logo a qualidade dos dados é duvidosa.

A preocupação de rigor que caracteriza a Demografia e o uso frequente de estatísticas


de qualidade muito duvidosa, faz com que o demógrafo sinta a obrigação constante,
antes de iniciar qualquer análise demográfica, de testar a qualidade dos dados que vai
trabalhar e se possível corrigi-los.

Os métodos para testar dados incompletos e incorretos são inúmeros, sendo os mais
importantes, divididos em duas categorias: Índice de Irregularidade das idades e o Índice
de Whipple.
3.5.2. Índice de Irregularidade das idades

Se o método anterior se destina a analisar a qualidade dos dados das estatísticas de


estado civil, este tem por fim analisar a qualidade dos dados dos recenseamentos.

Este teste serve para provar se existe ou não concentração em determinadas idades.

Trabalha-se com sexos separados.

A sua elaboração é bastante simples:

• Colocam-se os efetivos das idades cuja atração se pretende medir em numerador


(por exemplo, se pretendemos medir a atração pelo 6, os numeradores serão efetivos
com 6, 16, 26, 36, 46, 56, 66, 76, … anos);

• No denominador, colocam-se as médias aritméticas dos efetivos dos 5 anos que


enquadram essas idades. (por exemplo, no caso dos 6 anos, soma-se a população com
4, 5, 6, 7, 8 anos e divide-se por cinco, no caso dos 16 anos, soma-se a população com
14, 15, 16, 17, 18 e divide-se por cinco, e assim sucessivamente);

• Partindo do princípio que as idades centrais correspondem à média dos efetivos


de 5 anos que enquadram essas idades, divide-se o numerador pelo denominador em
cada caso e multiplica-se o resultado por 100;

• Obtêm-se assim diversos índices (no exemplo dado I6, I16, …) que são
representados graficamente; quando os índices obtidos têm um valor superior a 100
existe atração; quando os índices obtidos têm um valor inferior a 100 existe repulsa.

A relação entre o efetivo real e o efetivo teórico fornece-nos um índice, que à medida
que se afasta da unidade (ou de 100 se multiplicarmos por este número) demonstra a
força do arredondamento.

Exemplo: selecionar todas as idades terminadas em 6 e aplicar a fórmula:

⇒ Numerador- todos os indivíduos que declararam ter idades terminadas em 6 e de um


dos sexos.

⇒ Denominador para a idade 36 = vou buscar 2 idades antes (34, 35) e 2 depois (37,
38), vou adicionar todas e dividir por 5.

Resultados possíveis:

Atração máxima – se todos dizem que têm 36 (total de 500).

Repulsa máxima – se ninguém tem 36 (dá-nos um total de 0).

Se os valores andarem à volta de 100 podemos assumir que a qualidade é boa.


3.5.3. O Índice de Whipple

Existe o Índice de Whipple que também pode ser utilizado para testar a qualidade dos
recenseamentos. Os demógrafos usam dados de anos de idade para determinar se há
irregularidades ou inconsistências nos dados (Nazareth., 2004).

Procura demonstrar se uma população tende a relatar certas idades (digamos, aquelas
que terminam em 0 ou 5) em detrimento de outras idades.

Têm sido identificados diversos tipos de atrações pelo número 0 e 5 em detrimento de


outros números, ou pelos pares em detrimento dos ímpares, mas o índice de Whipple
mede a atração por 0 e 5.

O cálculo processa-se da seguinte forma:

- Somar o número de pessoas que têm entre 23 e 62 anos inclusive;

- Somam-se as pessoas que no intervalo considerado têm idades que terminam em 0 e


5;

- O índice é obtido fazendo a relação entre a segunda soma e 1/5 da primeira soma.

Este índice pode variar entre 100 (ausência total de concentração) e 500 (caso limite em
que todas as pessoas se declaram em idades terminadas em 0 e 5).

As Nações Unidas elaboraram uma tabela de base empírica que permite interpretar a
validade dos resultados obtidos:

Dados muito exatos < 105

Dados relativamente exatos 105-110

Dados aproximados 110-125

Dados grosseiros 125-175

Dados muito grosseiros > 175

3.5.4. O Índice Combinado das Nações Unidas (ICNU)

Este indicador, em vez de medir a atração por determinadas idades, mede a qualidade
global de um recenseamento. Trata-se de um instrumento muito cómodo de calcular e
que possibilita a realização de comparações interessantes no tempo e no espaço.

Em termos práticos, o ICNU calcula-se da seguinte forma:


1) Preparam-se os dados de modo a termos uma distribuição da população por
sexos e grupos de idades quinquenais (não convém ultrapassar os 80 anos de idade);

2) Calculam-se as relações de masculinidade em cada grupo etário dividindo os


efetivos masculinos pelos efetivos femininos e multiplicando o resultado por 100.
Exemplo 5-9 anos: RM = (275199 / 262322) × 100 = 104,91;

3) Fazem-se as diferenças sucessivas entre as diversas relações de masculinidade


obtidas, somam-se em módulo e calcula-se a diferença média para se obter o índice de
regularidade dos sexos.

Exemplo 5-9 anos: DS = 104,91-104,72 = 0,2 - calcular para todos os grupos. O primeiro
grupo 0-4 anos exclui-se por não ter informação anterior e o último, 75-79 anos, também
se excluí por não ter informação (posterior) para o cálculo do Índice de Regularidade
das Idades;

4) Soma-se todas as diferenças (DS) e divide-se pelo número de grupos etários (no
caso 14): Média = 28,7 / 14 = 2 (arredondado);

5) Para cada sexo calcula-se um índice de regularidade das idades; este índice
constrói-se calculando, em primeiro lugar, as relações de regularidade dividindo cada
grupo de idades pela média aritmética dos dois grupos que o enquadram;
posteriormente fazem-se as diferenças a 100 e faz-se a média das diferenças absolutas;
Exemplo: IRI H e IRI M, dividindo cada grupo pela média dos dois que o "rodeiam" -
exemplo 5-9 anos (IRI H): 275199 / (( 275969 + 296385 ) / 2 ) = 0,96 × 100 = 96,2
arredondado às décimas;

6) A partir de IRI H e IRI M, fazer a diferença em cada grupo etário para 100 –
exemplo para 5-9 (IRI M): D100 = 100 – 96 = 4; somar estas diferenças para cada sexo
e calcular a média (dividir pelo número de grupos etários, neste caso 14);

7) Por fim, para o cálculo do valor do ICNU, multiplicar por 3 a média de DS e somar
a média de diferenças dos IRI(s) dos homens e a das mulheres.

O ICNU calcula-se dando um coeficiente 3 ao índice de regularidade dos sexos e um


coeficiente 1 aos dois índices de regularidade das idades.

De forma a facilitar a interpretação as Nações Unidas, sugerem uma grelha classificativa:

<20 – Bom

20-40 – Mau

> 40 – Muito Mau


ATIVIDADES FORMATIVAS

1.Veja os dados das estatísticas demográficas para 2001 (Nascimentos) e do


recenseamento de 20017 e quadros 2, 3 e 4 em anexo.

a). Aprecie a qualidade dos dados das estatísticas demográficas para 2001.

b). Calcule o Índice Combinado das Nações Unidas no ano de 2001.

Como considera estes dados?

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ver em www.ine.pt

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