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A investigação sobre a mortalidade enquanto fenómeno social gravita em torno de 3 eixos.

Quais são esses eixos?

Esses eixos são:

• A caracterização do declínio observado na época contemporânea;


• O estudo dos fatores responsáveis por esse declínio;
• A identificação das diferenças observadas entre determinados grupos.

Tem sido demonstrado que o declínio da mortalidade é diferencial segundo a época. Os grupos
de idades e a área geográfica. Se no século XIX existiam elevados índices de mortalidade a
melhoria das condições sanitárias dos países desenvolvidos permitiu uma transição durante os
seculos XIX e XX para níveis baixos de mortalidade e aumento da esperança média de vida. No
entanto, esse modelo geral de declínio, observado nos países desenvolvidos não foi igual em
todos os países do mundo nem para todos os grupos de idades. Grande parte dos países apenas
conheceram um declínio significativo a partir do fim da II Guerra Mundial e os primeiros grupos
de idades foram mais beneficiados em particular os primeiros anos de vida.

A Demografia Histórica aponta como causas dos elevados níveis de mortalidade:

• A existência de frequentes períodos de fome, associados à ausência de técnicas de


armazenamento e de uma rede de transportes eficaz;
• Subnutrição nas classes sociais menos abastadas;
• Guerras;
• Epidemias (cólera, varíola, tifo);
• Pestes;
• Ausência de condições sanitárias.

A identificação destes fatores permitiu explicar as causas do declínio da mortalidade nos países
desenvolvidos e os que neste momento atuam no processo de declínio nos países menos
desenvolvidos, sendo assim possível globalizar a explicação sobre o declínio da mortalidade.

Os fatores mais relevantes para esse declínio são:

• Fatores educacionais (melhores conhecimentos sobre vestuário e alimentação);


• Fatores sanitários (melhores condições sanitárias e de higiene, nomeadamente a
canalização da água, a abertura de esgotos, a modificação das condições de habitação);
• Fatores ligados à medicina (melhores conhecimentos sobre prevenção, diagnostico e
cura de certas doenças);
• Fatores económicos (o desenvolvimento económico transformou as economias de
subsistência em economias de mercado, desenvolveu as redes de comunicação e
aumentou os níveis de bem-estar económico e social);
• Fatores sociais (melhoria nas condições de habitação e das condições de trabalho).

Como já foi referido o declínio da mortalidade não ocorrei com a mesma intensidade em todo o
planeta. Se nos países desenvolvidos os fatores anteriormente referidos contribuíram para o
declínio da mortalidade, nos países não desenvolvidos o declínio observado está mais
relacionado com a ajuda internacional e a rapidez na circulação da informação do que com um
processo de desenvolvimento endógeno.
Nos países desenvolvidos a eliminação da mortalidade diferencial é o principal objetivo a atingir
nas modernas políticas sanitárias e de saúde publica. Os dados apontam para que a mortalidade
varie com o nível socioeconómico, com a profissão, com o lugar de residência e com certas
características étnicas e religiosas. A eliminação das diferenças inter-países e entre-países
implica um melhor conhecimento dos comportamentos demográficos, dos fatores sociais e
ambientais, mas também aprofundar as técnicas de medição e caracterização da mortalidade.

Quais são as características fundamentais dos recenseamentos?

A simultaneidade da recolha é uma das características principais dos recenseamentos, estes


devem ser realizados num determinado ano e por referência a um determinado dia do mês.

Outra característica fundamental dos recenseamentos é a exaustividade, ou seja, é sempre


total da população que se procura conhecer e caracterizar.

Quanto aos dados a recolher, as Nações Unidas recomendam como fundamentais as seguintes
informações:

• Informações sobre a localização (inventariação exaustiva dos indivíduos, agregados


familiares, lugares, vilas e cidades existentes no momento do recenseamento);
• Informações demográficas (todos os recenseamentos devem conhecer com exatidão a
idade, o sexo, o estado civil da população bem como a composição dos diversos tipos
de família);
• Informações socioculturais (dados relativos à instrução, nacionalidade, pertença a uma
etnia e religião);
• Informações sociais e económicas (dados respeitantes à atividade económica e
profissão);
• Informações sobre a habitação (elementos diversos que variam de país para país e ao
longo do tempo sobre as condições de habitação).

Para que serve a ICNU?

O índice Combinado das Nações Unidas é um índice que permite medir a qualidade global da
informação recolhida num recenseamento.

Este combina dois indicadores de regularidade de idades (um para cada sexo) e um indicador de
regularidade de sexos.

Este Índice permite a realização de comparações no tempo e no espaço.

Deve, no entanto, ser usado com prudência visto que a existência de modificações anormais nas
variáveis micro demográficas (crises de mortalidade, migrações acentuadas) podem produzir
distorções consideráveis e misturarem-se assim distorções reais com erros de recenseamento.

Modelo de cálculo do ICNU:

• Preparam-se os dados para dispormos de uma distribuição da população por sexos e


grupos de idade quinquenais (não ultrapassando os 80 anos);
• Calculam-se as relações de masculinidade em cada grupo de idades; fazem-se as
diferenças sucessivas entre as diferenças relações de masculinidade obtidas, somam-se
em módulo e calcula-se a diferença média para se obter o índice de regularidade dos
sexos;
• Para cada sexo calcula-se um índice de regularidade das idades; este obtém-se dividindo
cada grupo de idades pela média aritmética dos dois grupos de idades que o
enquadram; posteriormente fazem-se as diferenças a 100 e faz-se a média das
diferenças absolutas.
• O ICNU obtém-se dando um coeficiente de 3 ao índice de regularidade de sexos e um
coeficiente 1 aos índices de regularidade das idades.
• Resultados abaixo dos 20 consideram-se os dados de boa qualidade, acima disso os
• dados são considerados de qualidade má ou muito má.

A repartição por idades é importante em Análise Demográfica, por duas razões


fundamentais. Quais são essas razões?

Essas duas razões são aquilo a que se chama de efeito idade e efeito geração.

Efeito Idade - Necessidade de analisar os efeitos específicos de cada idade; com o aumento da
idade muitos comportamentos e capacidades vão-se modificando.

Efeito Geração – Necessidade de comparar determinados aspetos nas fases fundamentais da


vida (início da socialização, ensino básico, puberdade, primeiro emprego, etc.) em pessoas com
diferentes idades. Se por volta do ano 2000 um individuo com 60 anos viveu a sua adolescência
entre 1940 e 1960, num individuo com 30 anos esse período situou-se entre 1970 e 1990. Assim
os acontecimentos ocorridos em cada fase da adolescência foram diferentes, condicionando o
seu comportamento.

Ambos estes efeitos devem ser analisados em cada um dos sexos.

Quais são as características e para que serve a Equação de Concordância?

A Equação de Concordância procura verificar se existe concordância entre os diversos sistemas


de informação disponíveis.

O princípio que preside à sua construção é bastante simples: durante um determinado período
(normalmente entre dois recenseamentos) a população de uma região aumenta ou diminui
devido a dois tipos de movimentos – o natural (nascimentos e óbitos) e o migratório (emigração
e imigração).

Assim calcula-se:

Px+n = Px + N – O + I – E

Ou

População no 2º Recenseamento = População no 1º Recenseamento + Crescimento Natural +


Crescimento Migratório

Se os dados obtidos nos dois recenseamentos, as estatísticas de estado civil e os dados


migratórios entre ambos os recenseamentos fossem 100% corretos, não existiria diferença, no
entanto, de forma geral não existe uma concordância exata entre os membros da equação,
sendo assim necessário perceber as hipóteses para o erro, que em princípio se deverá à má
qualidade dos dados. Imagine-se uma situação em que na Alemanha, finalizados os cálculos,
existe uma diferença em que faltam 33000 indivíduos à população esperada (nome dado ao
termo da equação). Sendo a Alemanha um dos países mais desenvolvidos do mundo, é pouco
provável que a causa desse diferencial se deva a um deficiente registo dos nascimento e/ou
óbitos o mesmo se passando com os recenseamentos. Sendo a Alemanha um país recetor de
mão de obra, provavelmente este diferencial deve-se a imigração clandestina, ou seja, deve-se
a uma má qualidade dos dados relativos aos movimentos migratórios.

Este tipo de análise tem sempre de ser elaborado para cada caso ainda que nem sempre seja
fácil.

Assim deve-se seguir as seguintes fases de raciocínio:

• Face às diferenças que não conseguimos explicar devem sempre ser formuladas todas
as hipóteses possíveis em função do sinal obtido;
• Em seguida, em função dos outros tipos de informação sobre a qualidade dos dados,
excluímos as hipóteses pouco plausíveis;
• Finalmente, como princípio geral, deve admitir-se que é mais frequente uma ausência
no registo de informação do que o fenómeno contrário, ou seja, existirem registos a
mais no sistema em análise.

Diga quais são as limitações, enquanto instrumento de análise, do cálculo da Taxa Bruta de
Mortalidade enquanto medida de análise da mortalidade.

O cálculo da taxa bruta de mortalidade, apresenta-se vantajoso do ponto de vista que esta
necessita de poucos dados para o seu cálculo tornando-se assim uma medida rápida de obter.
No entanto os seus resultados são grosseiros e que apenas muito rudimentarmente isola os
efeitos das estruturas. Assim é então necessário recorrer a outros métodos que isolem de uma
forma menos elementar o verdadeiro modelo do fenómeno.

Podemos definir uma taxa bruta como sendo uma soma dos produtos das estruturas relativas
em cada idade pelas taxas nessas mesmas idades. Como ao conjunto das taxas por idades se
chama modelo do fenómeno mortalidade. A taxa de mortalidade pode ser redefinida como uma
resultante da resultante da interação entre o modelo e a estrutura da mortalidade. Os
resultados obtidos pelo método simples ou pelo método mais complexo são os mesmos, no
entanto, neste último caso ficam visíveis os dois fatores intervenientes, o modelo e as
estruturas.

As diferenças entre verificadas podem provir dos modelos (tx) como das estruturas da
população (px) sendo que estas têm significados diferentes:

• Variações entre modelos – Existência de diferentes riscos de mortalidade (e


consequentemente diferenças nas condições gerais de saúde e higiene)
• Diferenças entre estruturas – Maior ou menor envelhecimento demográfico (são alheias
à análise demográfica).

De acordo com os princípios de análise demográfica e o diagrama de Lexis, diga o que


compreende sobre a utilidade e as funções de um diagrama de Lexis.

Este diagrama é um instrumento de trabalho imprescindível em análise demográfica na medida


em que permite repartir os acontecimentos demográficos por anos de observação, que pode
ser feita no seu estado puro que consiste na análise do acontecimento demográfico de forma
isolada dos outros fenómenos (por exemplo análise da mortalidade sem considerar as
migrações) ou no seu estado perturbado ou seja, quando um fenómeno interfere nas
manifestações de outro fenómeno, objeto principal do estudo.

Permite também visualizar os acontecimentos, que podem ser renováveis (que podem ser
vividos mais do que uma vez como por exemplo casamentos e divórcios) e acontecimentos não
renováveis (que apenas podem ocorrer uma vez pelo mesmo individuo ou coorte como por
exemplo, óbito). No entanto, com a introdução de alguns elementos analíticos, um
acontecimento renovável pode-se tornar num acontecimento não renovável (como por
exemplo no casamento, acontecimento renovável pode ser analisado de um ponto de vista do
1º casamento, não renovável) e permite também visualizar os efetivos, ou seja, o número de
indivíduos que fazem parte de um mesmo acontecimento.

Esta representação gráfica dos dados permite simultaneamente uma análise transversal e
longitudinal dos fenómenos demográficos. A análise transversal ou análise no momento
consiste em observar os acontecimentos demográficos num determinado período de tempo
(normalmente um ano civil). A análise longitudinal ou por coortes consiste na observação dos
acontecimentos ao longo da vida de uma coorte (conjunto de indivíduos submetidos ao mesmo
acontecimento de origem durante um mesmo período de tempo; se o acontecimento for o
nascimento tem a coorte tem o nome de geração e se o acontecimento for o casamento (ou
qualquer outro, a coorte passa a chamar-se promoção).

O Diagrama de Lexis permite-nos ler os acontecimentos através de dois tipos de duração, idades
exatas (duração expressa em unidades de tempo e em frações deste, por exemplo um individuo
nascido em 1 de junho de 1923 terá em 1 de novembro de 1978, 55 anos e 5 meses) ou em anos
completos (exemplo, no exemplo anterior o individuo terá 55 anos completos)

Devido á sua construção se estamos a observar os acontecimentos numa geração, durante um


ano civil, temos sempre 2 anos completos. Se estamos a observar os acontecimentos durante
um ano completo e durante um ano civil, tal implica a existência se duas gerações. E se estamos
a observar os acontecimentos numa geração, durante um ano completo, implica ser necessário
a observação durante dois anos civis.

O que significa e para que servem “os grupos funcionais” e os “Índices Resumo”?

Em análise demográfica, quando se quer ter uma visão rápida da evolução ou diversidade das
estruturas populacionais opta-se por compactar a informação segundo determinados critérios.
O critério mais importante é o da idade, ou seja, concentra-se num reduzido número de
grupos a totalidade da informação de modo a tornar mais funcional a análise. Daí o nome de
grupos funcionais.

Uma vez decomposta a estrutura demográfica em vários grupos funcionais (população em


idade pré-escolar (0-5 anos), população em idade escolar (5-18 anos) etc. dividindo-os ou não
por sexos) podemos proceder á sua manipulação no sentido de os transformar em indicadores
que resumam a abundância de informação existente numa repartição por sexos e idades são
os índices resumo.

Os índices resumo mais utilizados em análise demográfica são os que agrupam a informação
respeitante à população potencialmente ativa, os que aprofundam a análise do processo de
envelhecimento e os que procuram proceder a estimativas indiretas de determinados
parâmetros demográficos.
De acordo com a estrutura etária em demografia, o que significa “envelhecimento na base” e
“envelhecimento no topo”?

Existem dois tipos de envelhecimento:

Envelhecimento na base – ocorre quando a percentagem de jovens começa a diminuir de tal


forma que a base da pirâmide de idades fica bastante reduzida.

Envelhecimento no topo – ocorre quando a percentagem de idosos aumenta fazendo assim com
que a parte superior da pirâmide comece a alargar, em vez de se alongar.

Estes dois tipos de envelhecimento estão ligados entre si: a diminuição percentual dos jovens
implica um aumento proporcional dos outros dois grupos de pessoas com idades mais
avançadas.

Ao nível das causas pensou-se que a explosão demográfica da terceira idade, era consequência
do aumento da esperança de vida, no entanto esta hipótese não se confirmou. Na verdade, o
declínio da mortalidade atua dominantemente nos primeiros grupos de idades (devido ao
declínio da mortalidade infantil) fazendo aumentar a população em idade fértil.

O principal responsável pelo envelhecimento demográfico foi o declínio da natalidade. Uma


redução do número de nascimentos provoca uma diminuição progressiva dos efetivos jovens –
o envelhecimento na base – e consequentemente um aumento da importância relativa dos mais
idosos – envelhecimento no topo.

Mas o fenómeno do envelhecimento populacional não pode apenas ser explicado por fatores
naturais como a natalidade e a mortalidade. As migrações, sendo seletivas, produzem
necessariamente efeitos estruturais importantes.

País ou região recebedor de população: Aumento dos potencialmente ativos o que implica uma
diminuição proporcional no grupo de jovens e no grupo de idosos, ou seja, um envelhecimento
na base, mas um rejuvenescimento no topo. Assim o aumento da importância dos idosos diminui
sensivelmente.

País “exportador” de população: Inversamente a tendência para o aumento da importância da


população idosa é acentuada.

Assim a migração pode provocar um envelhecimento e rejuvenescimento populacionais.

Como anteriormente referido nascem mais homens que mulheres, mas esse fenómeno vai-se
invertendo com o avanço da geração. Se no final da pirâmide de idades a população feminina
representa em geral o dobro ou triplo dos idosos do sexo masculino. Esta situação pode
igualmente ser atenuada ou agravada com o efeito dos movimentos migratórios.

O último aspeto do envelhecimento demográfico diz respeito progressivo aumento dos efetivos
nas idades mais avançadas, sendo isto mais visível nos países onde a esperança de vida é
bastante elevada. Nos países em que a fecundidade atingiu valores muito baixos e onde o
processo do seu declínio começa a atenuar-se consideravelmente. A existência de progressos
na esperança de vida, reforça necessariamente o processo de envelhecimento e torna-o
universal e irreversível.

A universalidade do processo de envelhecimento obriga-nos a repensar o conceito de velho na


sociedade (uma coisa são os problemas económicos que resultam de se parar a atividade aos 60
ou 65 anos e outra são os problemas relacionados com a velhice e a dependência que ocorre
muito mais tarde) e o conceito de terceira idade.

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