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6.

A MORTALIDADE

Objetivos

1.Conhecer a lógica e o processo de cálculo das taxas Brutas de Mortalidade


enquanto medida elementar da mortalidade geral e compreender as razões das
suas limitações enquanto instrumento de análise;

2. Compreender, saber calcular e interpretar as medidas de mortalidade (por


idades), mortalidade infantil e mortalidade por causas;

3. Perceber a metodologia de construção das tábuas de mortalidade e o


contributo na análise da mortalidade;

4. Compreender a construção e interpretar o indicador Esperança de vida;

5. Aplicar os conhecimentos adquiridos à resolução de alguns problemas


concretos;

6. Saber analisar a evolução global do fenómeno demográfico mortalidade e do


contributo das várias causas para esse valor total;

7. Ser capaz de relatar e interpretar a evolução dos vários componentes da


mortalidade estudados.

6.1. MORTALIDADE

A morte é o último evento demográfico da nossa vida.

Trata-se de um fenómeno demográfico que tal como a natalidade, fecundidade,


nupcialidade e divórcio carateriza-se por um evento (o óbito) que o demógrafo
contabiliza geralmente em períodos anuais.

A morte não ocorre da mesma forma para todas as pessoas; algumas morrem mais cedo
do que outras. O impacto da mortalidade varia significativamente de acordo com as
características sociais e demográficas dos indivíduos.

A principal característica da mortalidade durante o século XX foi o seu declínio. Mas esse
declínio não se fez observar em todos os países ao mesmo tempo, e nos países em que
isso aconteceu não declinou com a mesma velocidade nos diversos tipos de grupos que
integram as estruturas sociodemográficas.
Na realidade podemos afirmar que anteriormente à época contemporânea, a mortalidade
era bastante elevada por seis razões principais: fomes, subnutrição, guerras, epidemias,
pestes e ausência de condições sanitárias. (Nazareth, 2004, p. 188-189).

A identificação destes fatores permitiu uma imediata explicitação das principais causas
do declínio da mortalidade:

• Fatores educacionais (mais conhecimentos sobre alimentação, vestuário);

• Fatores sanitários (melhores condições sanitárias, de higiene e de habitação);

• Fatores médicos (mais prevenção, diagnóstico e cura de doenças);

• Fatores económicos (desenvolvimento das economias de mercado, redes de


comunicação, aumento dos níveis de bem-estar social e económico);

• Fatores sociais (melhores condições de habitação e no trabalho).

Estes fatores contribuíram para que a mortalidade declinasse de tal forma que a
esperança de vida mais do que duplicou. Mas esse declínio não foi igual em todo o
mundo. Daí a diversidade de situações que encontramos.

A razão dessa divergência deriva do facto de nos países desenvolvidos todos os fatores
enunciados anteriormente terem concorrido para o declínio da mortalidade, ao passo
que na maior parte dos países não desenvolvidos o declínio observado tem sido devido
a fatores médicos e sanitários (Nazareth, 2004, p. 189).

A mortalidade não é, assim, democrática. Existe uma enorme desigualdade perante a


morte. Mas a evolução tem sido muito positiva, sobretudo ao nível do declínio da
mortalidade infantil.

Em suma, para além das condições médico-sanitárias, a mortalidade varia em função de


vários fatores como o nível socioeconómico, as práticas alimentares, as condições de
habitação e no trabalho.

No contexto português, o estudo de Coelho e Catela Nunes (2015) mostra que desde
1950 assiste-se ao declínio global dos níveis de mortalidade em todas as idades, a uma
redução dramática da mortalidade infantil, ao aumento da sobrevivência até idades cada
vez mais avançadas, e a ganhos extraordinários na esperança de vida da população.
Portugal detém uma posição de relativa fragilidade comparativamente com os outros
países da Europa Ocidental, sobretudo na população masculina. A posição relativamente
desfavorável dos homens em algumas idades é um indicador de que ainda existe espaço
para melhorias na esperança de vida. A análise das taxas de declínio da mortalidade
sugere ainda que um grupo específico de indivíduos do sexo masculino não experienciou
melhorias na mortalidade e sofreu mesmo aumentos nos níveis de mortalidade ao longo
do tempo. Este comportamento específico pode ser devido a influências “específicas do
período” ou “específicas da geração” (Coelho e Catela Nunes, 2015).

6.2. MEDIR A MORTALIDADE

6.2.1. A Taxa Bruta de Mortalidade

A medição da mortalidade remonta a John Graunt (1620-1674) e as suas análises das


"Contas de Mortalidade".

A mortalidade refere-se à frequência relativa de morte numa população.

Os demógrafos usam dois conceitos diferentes quando se referem à mortalidade:

A Expectativa de vida, que é o "limite de idade da vida humana" numérico e a Esperança


de vida, que é o número médio esperado de anos de vida vividos por uma determinada
população num determinado momento.

Como primeira medida da análise da mortalidade calcula-se a Taxa Bruta de Mortalidade


(ou taxa de mortalidade).

As taxas Brutas são em geral utilizadas para caracterizar tendências conjunturais ou de


longo prazo. No caso da mortalidade, enquanto indicadores globais, servem para
sintetizar as condições sanitárias do momento (Leston Bandeira, 2004, p. 189).

Na prática consiste em dividir o total de óbitos num determinado período (um ano) pela
população existente nesse mesmo período.

Esta medida é conhecida como Taxa Bruta de Mortalidade e podemos representá-la por:
TBM.

Uma vez que a população total muda a cada instante no decorrer de um ano, surge a
dúvida sobre qual a população a considerar no denominador. Como a TBM é uma medida
de risco, teríamos que ter no denominador todas as pessoas submetidas a esse risco.

Se tomamos a população no início do ano, nela não estão incluídas as crianças que vão
nascer durante o ano. Por outro lado, aquelas pessoas que estão vivas no início do ano
e que vão falecer antes do fim do ano não poderão entrar com o mesmo peso do que
aquelas que vão sobreviver.

Se tomamos a população no final do ano, nela não estarão incluídas, por um lado,
aquelas pessoas que faleceram durante o ano e, por outro, estarão incluídas
integralmente as crianças que nasceram em diferentes momentos no decorrer do ano e
que não estiveram submetidas ao risco de morte durante todo o ano.

Idealmente, deveríamos contabilizar no denominador o número de pessoas/ano da


população em estudo. Isso significa que todo o indivíduo presente no início e no fim do
ano deveria ser contado como uma pessoa-ano; os indivíduos presentes no início e que
vierem a falecer nesse ano e todas as crianças nascidas durante o ano deveriam ser
contabilizados pela fração de ano vivido. Ainda que o conceito de pessoas/ano seja muito
simples, o seu cálculo exato é extremamente difícil.

Como uma aproximação para o total de pessoas/ano, adota-se a estimativa da população


total no meio do ano, na suposição de que os nascimentos e óbitos na população
ocorram uniformemente no decorrer do ano. Como se trata de um período curto (12
meses), tal suposição não introduz, de maneira geral, distorções significativas.

Ainda que o mais usual seja calcular a TBM referente ao ano calendário, ela também
pode ser obtida para qualquer conjunto de 12 meses consecutivos.

A Taxa Bruta de Mortalidade relaciona, assim, o número de óbitos durante um dado ano
com a população média desse ano.

A população média é a população no meio do ano que estimamos eventualmente como


média aritmética das populações nos dias 1 de janeiro que enquadram o ano. Trata-se,
de uma estimativa do número de pessoas que, durante um ano inteiro, correram o risco
de falecer (Rollet, 2007, p.60).

TBM = _____óbitos____ *1000

população total (média)

Usualmente esta taxa é representada pelo número de óbitos por mil habitantes, para
maior facilidade de interpretação.
Exemplo:

Em Portugal tivemos em 1990, 103 115 óbitos e a população média registada era de

9 883 400 habitantes. A taxa bruta de mortalidade em 1990 obtém-se do seguinte modo:

TBM (1990) = _103 115 _ *1000 = 10,43 por mil

9 883 400

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Então dizemos que a Taxa Bruta de Mortalidade de Portugal em 1990 era de 10,43 óbitos
por mil habitantes.

O nível da TBM dependerá de duas componentes básicas: a intensidade com que se


morre a cada idade (porque em diferentes idades as pessoas estão sujeitas a diferentes
riscos de morte) e a distribuição etária proporcional da população.

No que concerne a primeira componente, por exemplo, os recém-nascidos e os idosos


têm maior probabilidade de morrer do que os adolescentes. A segunda componente
decorre da primeira, pois se os riscos são diferenciados por idade, há de se levar em
conta o maior ou menor peso dos diversos grupos etários.

Assim, a Taxa Bruta de Mortalidade, na medida em que é influenciada pela estrutura


etária de cada população em cada momento, não mede efetivamente unicamente a
frequência da mortalidade podendo originar conclusões erradas quando se pretende
efetuar comparações (Leston Bandeira, 2004, p.189).

Por tratar-se, então, de um instrumento grosseiro que não tem em conta a estrutura
etária da população, devemos ter em conta algumas precauções: fazer coincidir a
população média com a população de um recenseamento.

Os dois fatores intervenientes nas taxas brutas são o modelo e as estruturas. A taxa
bruta é a soma dos produtos das estruturas relativas de cada idade pelas taxas nessas
mesmas idades. Como ao conjunto das taxas por idade se chama o modelo do fenómeno,
a taxa bruta pode ser redefinida como uma resultante da interação entre o modelo e a
estrutura (Nazareth, 2004, 190-191).

6.2.2. A mortalidade por idades e por grupos de idades

Um elemento evidente de diferenciação da mortalidade segundo os indivíduos é a idade.


Daí que se calculem as taxas por idade ou grupos de idades.
As taxas específicas enquanto instrumento de medida da análise demográfica são mais
fiáveis do que as taxas brutas.

O que diferencia estas taxas é o facto de que, enquanto as taxas brutas consideram
como população média de referência toda a população, as taxas específicas medem a
frequência dos fenómenos demográficos numa parte dessa população, definida pela
pertença ao mesmo grupo etário ou idade (Leston Bandeira, 2004).

Temos, deste modo, a Taxa Específica de Mortalidade (TEM), que se refere ao risco de
morte em cada idade ou em cada grupo etário. Corresponde ao quociente entre o total
de óbitos, num determinado ano, em cada idade ou grupo etário e a população
correspondente a esse grupo no meio do ano em análise (Pressat, 1980).

TEM por idade(s)

TEM = _____óbitos na_idade x___ *1000

população total idade x (média)

TEM por grupos etários

TEM = _____óbitos no grupo etário X-X+n___ *1000

população total no grupo etário X-X+n (média)

Onde x refere-se à idade limite inferior do grupo etário, n a amplitude do intervalo do


grupo.

A Taxa Bruta de Mortalidade é a média ponderada das taxas específicas de mortalidade,


cujos pesos são dados pela população em cada idade ou grupo etário. Demonstra-se,
assim, que a Taxa Bruta de Mortalidade depende da intensidade e da distribuição etária
proporcional (Pressat, 1980).

Do exposto, fica claro que duas populações com as mesmas Taxas Específicas de
Mortalidade podem gerar Taxas Brutas de Mortalidade distintas, por terem distribuições
etárias proporcionais diferentes.

Também outras situações podem ocorrer: imaginemos as populações A e B, onde em


qualquer idade, a TEM de A seja maior do que de B. Neste caso, podemos afirmar que
o nível de mortalidade de A é superior ao de B. No entanto, dependendo das distribuições
etárias proporcionais de cada um deles, a TBM de A pode ser menor do que de B.
Conclui-se que as Taxas Brutas de Mortalidade não são bons indicadores para se analisar
diferenciais de níveis de mortalidade entre populações diferentes, a não ser em casos
em que as populações tenham distribuições etárias proporcionais iguais (Nazareth,
2004).

O conceito de taxas específicas que usamos em relação à idade pode ser estendido para
outras variáveis que influenciam o risco de morrer. Assim, podemos definir taxas
específicas por sexo, por estado civil, causas de morte, por grupos socioeconómicos etc.

Do mesmo modo, calculam-se também as taxas por idade e por sexos separadamente.

A forma de cálculo deste tipo de taxas é a mesma que a da taxa bruta de mortalidade:
relacionam-se os óbitos de cada sexo ocorridos num dado ano na idade considerada,
com a população média desse mesmo sexo com essa idade durante esse ano (Leston
Bandeira, 2004).

6.3. A MORTALIDADE INFANTIL

A mortalidade infantil é objeto de atenção especial e de um modo de determinação


particular dado que diz respeito à mortalidade de crianças com menos de 1 ano.

Determina-se, geralmente, sem distinção de sexos pelo facto de que a diferença que
existe entre mortalidade masculina e feminina não é significativa, nessas idades.

O conceito de mortalidade infantil designa a relação entre o número de óbitos ocorridos


antes do primeiro aniversário e o número de nascimentos. Trata-se do risco que corre
um recém-nascido de morrer antes de completar o ano de idade (Rollet, 2007, p. 60).

A mortalidade infantil remete, assim, para o número de mortes de crianças com menos
de 1 ano, num dado ano X e numa dada população N, por cada 1.000 nascimentos nessa
população Y e nesse mesmo ano X.

Ela corresponde ao risco que um nado-vivo tem de vir a falecer antes de completar um
ano de idade. Está implícito neste conceito a ideia de probabilidade. Como as crianças
nascidas durante um ano, digamos A, só completarão um ano de idade no ano seguinte,
A + 1, a mortalidade infantil entre os nascidos num ano-calendário ocorrerá durante dois
anos consecutivos, A e A + 1.

No ano A ocorrerão óbitos infantis de nascidos em A - 1 e A, e em A + 1 ocorrerão óbitos


infantis de nascidos em A e A+ 1.

Seria necessário esperar dois anos para se poder calcular a Taxa de Mortalidade Infantil
(TMI) dos nascidos vivos num determinado ano, dada a dificuldade prática de separar-
se, em cada ano do calendário, do total de óbitos infantis aqueles referentes a crianças
nascidas no próprio ano e a crianças nascidas no ano anterior.

Este erro será normalmente pequeno, a não ser que haja entre dois anos consecutivos
grande diferença no número de nascimentos e/ou grande mudança na mortalidade de
crianças abaixo de um ano. Pode-se considerar, então, como uma boa medida de
mortalidade infantil e tomá-la como uma probabilidade. Deste modo, a mortalidade
infantil é usualmente medida pela taxa de mortalidade infantil (clássica) calculada a
partir de uma observação de acontecimentos produzidos durante um ano civil (Leston
Bandeira, 2004, p. 195).

Barreto e Correia (Coord., 2014) no estudo sobre a mortalidade infantil em Portugal,


analisaram a evolução dos indicadores e factores associados a esta entre 1988 e 2008.
Entre 1970 e 2008, Portugal registou uma diminuição de 94 (%) por cento na sua taxa
de mortalidade infantil. Não obstante a diminuição desta taxa constituir um fenómeno
generalizado em todo o mundo, Portugal foi um dos países que, em termos
comparativos, melhores resultados obteve. A excelente classificação que Portugal detém
neste indicador, criou um grande interesse pelo tema e procurou-se identificar as razões
e as boas práticas que ajudaram a este desempenho excepcional. Através da observação
da evolução dos indicadores da mortalidade infantil ao longo das últimas décadas, e da
análise dos fatores que poderão estar associados a essa redução. Ao longo dos tempos,
Portugal conseguiu atingir níveis de mortalidade infantil ao nível dos verificados na
generalidade dos seus congéneres europeus, tendo a partir do século xxi alcançado
níveis de mortalidade infantil inferiores aos da média da UE. Num espaço temporal de
quarenta anos, Portugal inverteu a sua posição, possui atualmente uma das taxas mais
baixas do mundo. Considerando o ranking da OCDE25, que inclui os trinta países
membros, Portugal apresentou uma subida notável, passando de vigésimo oitavo lugar
em 1960 para o oitavo lugar em 2006. Ao longo de três décadas consecutivas, Portugal
reduziu em 50 por cento a sua TMI, registando em 2008 uma taxa de 3,3 por mil,
colocando-se assim entre um dos países europeus com melhor desempenho neste
indicador (Barreto e Correia, (Coord., 2014).

Os factores associados a esta redução são os factores sociais, tais como o nascimento
fora do casamento sem coabitação, o nível de instrução da mãe, o emprego materno, a
idade da mãe, os factores de saúde (assistência ao parto, peso á nascença, recursos em
saúde (médicos por 100 mil habitantes; centros de saúde e hospitais por 100 mil
habitantes), os factores económicos. Portugal obteve uma redução de 74,66 por cento
da taxa de mortalidade infantil, passando de 13,06 por mil, em 1988, para 3,31 por mil,
em 2008. É provavelmente o indicador em que o país mais progrediu nesses 20 anos
(Barreto e Correia, (Coord., 2014).

6.3.1. A Taxa de Mortalidade Infantil Clássica

A taxa de mortalidade infantil é um dos principais e mais relevantes indicadores da


situação sanitária de uma população num dado momento, transmitindo assim o nível de
desenvolvimento global dessa população (Leston Bandeira, 2004, p. 196).

A taxa de mortalidade infantil clássica assume a configuração de uma taxa entre


aniversários. Tem a particularidade da população de referência, que figura no
denominador da taxa, não ser o efetivo médio da população com menos de 1 ano de
idade, mas o total de nados-vivos ocorridos durante o ano.

Agregando os resultados obtidos através desta taxa em sequência temporal, podemos


conhecer não só as condições de sobrevivência infantil do momento, mas também a sua
evolução ao longo do tempo, médio e longo prazo.

Fórmula TMI Clássica

TMI = __óbitos menos 1 ano no_ano x__ *1000

nados-vivos ano x

Exemplo: Portugal – mortalidade infantil em 1973

Nascimentos em 1973 – 172 324

Óbitos com menos de 1 ano em 1973 – 7726

Taxa de Mortalidade Infantil Clássica: 7726/172 324 X 1000 = 44, 83 por mil

A Taxa de Mortalidade infantil Portugal em 1973 era de 44,84 óbitos de crianças com
menos de 1 ano por cada mil nascimentos.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016


6.3.2. As componentes da mortalidade infantil

“Na produção da vida humana intervém uma multiplicidade de fatores que antecedem e
acompanham o ato de nascer e condicionam as possibilidades de sobrevivência de um
novo ser. (...)

Na luta pela sobrevivência, o tempo para o recém-nascido tem um significado particular,


medindo-se em unidades de dimensão diminuta, contado a partir do instante do chegar
à vida em minutos e depois, à medida que vai sobrevivendo, em horas, dias, semanas,
meses e, enfim, 1 ano. E à medida que o tempo passa e o capital-saúde se afirma,
aumentam as probabilidades de sobrevivência e o risco de mortalidade vai se
amenizando.” (Leston Bandeira, 2004, p. 200).

Por este facto, a mortalidade infantil deve ser abordada e analisada tomando por
referência duas fronteiras temporais muito precisas: no início, a formação do feto; no
fim, o primeiro aniversário. Entre estas duas fronteiras, o risco de mortalidade vai
mudando de natureza e de intensidade.

Deste modo, elaboram-se um conjunto de conceitos e instrumentos de medida centrados


em todas as componentes da mortalidade infantil, bem como na mortalidade fetal.

Assim, consoante a duração em que ocorre, o risco de mortalidade infantil decompõe-


se em: mortinatalidade, mortalidade neonatal e mortalidade pós-neonatal (Rollet, 2007,
p.61).

A mortinatalidade

Um nado-morto, geralmente designado aborto ou morte fetal, é um feto que não nasceu
vivo; assim, não é registado como morte porque não nasceu.

Um feto pode morrer antes do início do trabalho de parto, ou seja, no útero, devido a
complicações na gravidez ou por várias doenças maternas. Ou um feto pode estar vivo
no início do trabalho de parto, mas morrer durante o processo e, assim, nascer morto.

A mortinatalidade designa, assim, a mortalidade intrauterina dos fetos com uma


gestação superior a um determinado valor temporal mínimo (Leston Bandeira, 2004, p.
202).

As principais causas deste tipo de mortalidade são complicações (evitáveis) durante o


processo de parto, infeções maternas e distúrbios maternos, especialmente diabetes e
hipertensão.
A taxa de mortinatalidade mede a relação entre nados-mortos e nados-vivos, que se
exprime da seguinte forma:

TMN = nados-mortos / nados-vivos + nados-mortos

Taxa de mortalidade neonatal

Na mortalidade neonatal, que ocorre durante os primeiros 28 dias, temos de considerar


também a mortalidade neonatal precoce, que é a que acontece entre o nascimento e o
7º dia exato.

A taxa de mortalidade neonatal mede a frequência da mortalidade infantil até às


primeiras 4 semanas (28 dias):

TMNN = Óbitos (0,28 dias) / Nados-vivos

Para o cálculo da mortalidade neonatal precoce são considerados apenas os óbitos dos
7 primeiros dias de vida.

TMNP = Óbitos (0,7 dias) / Nados-vivos

Mortalidade Perinatal

Da soma da mortinatalidade com a mortalidade neonatal precoce resulta a mortalidade


perinatal que se refere a gravidezes que não resultaram em nascidos vivos (foram mortes
fetais) ou resultaram em nascidos vivos de bebés que viveram apenas sete dias ou
menos.

A mortalidade perinatal designa os efeitos do risco sofrido durante o período crucial que
vai do momento em que se perfaz a formação no útero ao nascimento e se conclui a
primeira semana de vida.

Taxa de mortalidade Pós Neonatal

Para o cálculo da taxa de mortalidade pós-neonatal são considerados os óbitos ocorridos


após o 28º dia.

TMPN = Óbitos (28, 365 dias) / Nados-vivos

Exemplo: Portugal ano de 1973.

Nascimentos para 1973 – 172 324


Óbitos com menos de 1 ano para 1973 – 7726

Óbitos com menos de 7 dias para 1973 - 2502

Óbitos com menos de 28 dias para 1973 – 3647

Óbitos com 28-365 dias para 1973 – 4079

População a ½ do ano de 1973 com menos de 1 ano – 165 300

Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal: 3647/172 324 X 1000 = 21,16 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Neonatal precoce: 2502/172 324 x 1000 = 14,52 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Pós Neonatal: 4079/172 324 X 1000 = 23, 67 por mil

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Apesar do numerador da TMI corresponder aos óbitos de crianças com idade abaixo de
um ano, a distribuição dos óbitos dentro deste intervalo não é uniforme e ocorre de
maneira desigual.

Para aquelas populações onde a taxa de mortalidade infantil é baixa, os óbitos


concentram-se nas primeiras semanas de vida das crianças, porque, neste caso, as
mortes são principalmente por causas genéticas e causas ligadas ao parto.

A mortalidade neonatal é, em suma, extremamente sensível às condições da gravidez e


do parto e às malformações (Rollet, p. 2007, p. 61).

Naquelas populações onde a TMI é alta, os óbitos são menos concentrados nas primeiras
semanas de vida, porque muitos dos óbitos infantis são devidos a fatores ligados ao
meio em que a criança vive, tais como as condições de saneamento, nutrição. A
mortalidade pós-neonatal mais sensível ao meio ambiente, aos comportamentos e às
doenças infeciosas, está intimamente associada às condições de vida (Rollet, 2007, p.
61).

Em populações com níveis de mortalidade infantil baixos, a mortalidade infantil neonatal


tem maior peso do que a mortalidade infantil pós-neonatal. Nessas populações, a
mortalidade infantil neonatal explica a quase totalidade da mortalidade infantil (do 1.º
ano de vida).

Podemos classificar as causas que originaram a mortalidade infantil em duas grandes


categorias: endógenas e exógenas.

As causas endógenas surgem devido a causas anteriores ao nascimento ou resultam do


próprio nascimento, sendo consequência de deformações congénitas (que nascem com
o indivíduo) de taras hereditárias ou de traumatismos causados pelo parto. Neste caso,
os óbitos ocorrem geralmente durante o primeiro mês de vida da criança, sobretudo nos
primeiros dias.

As causas exógenas por sua vez, estão associadas a causas exteriores (doenças
infeciosas, subalimentação, cuidados hospitalares insuficientes e acidentes diversos).
São deste modo resultado de condições sanitárias ou contextos sociais desfavoráveis à
sobrevivência da criança.

“O interesse principal desta distinção entre mortalidade infantil endógena e mortalidade infantil
exógena decorre dos ensinamentos quanto à melhoria das políticas sociais e de proteção à
infância e à maternidade, sendo adquirido que essa melhoria produzirá efeitos principalmente
sobre a redução dos fatores responsáveis pela mortalidade exógena”. (Leston Bandeira, 2004,
p. 204)

Para podermos separar os óbitos infantis por causas endógenas ou exógenas teremos
de ter acesso a estatísticas de óbitos por causas de morte.

No entanto, existe um método que permite obter essa separação sem termos a
informação dos óbitos por dias e idades. Trata-se, pois, de aumentar em 25% os óbitos
registados no intervalo 31-365 dias, ou aumentar em 22,8% os do intervalo 28-365 dias
e obtemos o total de óbitos exógenos.

Parte-se, então, do princípio de que os óbitos endógenos acontecem no primeiro mês


de vida e por sua vez, os exógenos ocorrem nos restantes meses. Dado que nem todos
os óbitos produzidos no primeiro mês de vida são endógenos, determina-se a
percentagem de óbitos exógenos por meio das regras anteriormente referidas.

Os óbitos exógenos obtêm-se calculando a diferença entre o total de óbitos infantis e os


óbitos endógenos.

A Taxa de Mortalidade Infantil Endógena calcula-se dividindo o total de óbitos endógenos


pelos nascimentos.

TMIend = __óbitos endógenos_ *1000

nados-vivos ano x
A Taxa de Mortalidade Infantil Exógena obtém-se dividindo o total de óbitos exógenos
pelos nascimentos.

TMIexo = __óbitos exógenos_ *1000

nados-vivos ano x

Por conseguinte, a Taxa de Mortalidade Infantil Clássica é igual à soma da Taxa de


Mortalidade Infantil Endógena com a Taxa de Mortalidade Infantil Exógena (Nazareth,
2004, p. 200).

Retomando o exemplo: Portugal ano de 1973.

Nascimentos para 1973 – 172 324

Óbitos com menos de 28 dias para 1973 – 3647

Óbitos com 28-365 dias para 1973 – 4079

População a ½ do ano de 1973 com menos de 1 ano – 165 300

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Para obter os óbitos exógenos somamos aos óbitos com 28-365 dias (4079) os óbitos
exógenos com menos de 28 dias, isto é, 4079 x 0,228 (22,8%) = 930

Logo:

óbitos exógenos: 930 + 4079 = 5009

óbitos endógenos: 7726 - 5009 = 2717

Taxa de Mortalidade Infantil Endógena: 2717/172 324 X 1000 = 15,77 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Exógena: 5009/172 324 x 1000 = 29,07 por mil

Taxa de Mortalidade Infantil Clássica: 15,77 + 29,07 = 44,84 por mil.

6.3.3. A mortalidade materna

A OMS define uma morte materna como a morte de uma mulher durante a gravidez ou
no prazo de 42 dias após a interrupção da gravidez, independentemente da duração ou
local da gravidez, de qualquer causa relacionada ou agravada pela gravidez ou seu
tratamento, mas não de causas acidentais ou incidentais (Poston & Bouvier, 2017).
A taxa de mortalidade materna (TMMR) é o número de mortes num ano de mulheres
que morrem resultado de complicações na gravidez, parto e puerpério (ou seja, a
condição da mulher imediatamente após o parto, geralmente terminando quando a
ovulação começa novamente), por 100.000 nascimentos ocorridos nesse ano.

Às vezes, as mortes (o numerador) são designadas de mortes por causas puerperais. A


fórmula de cálculo é:

TMMR = óbitos mulheres (grávidas ou no puerpério) / 100 000 nascimentos

Os dois fatores mais importantes que levam à morte materna são a idade e a paridade
(o número de vezes que uma mulher deu à luz; também se refere à ordem de
nascimento, por exemplo, um segundo filho, que seria um filho de segunda paridade).

Os riscos de morte por maternidade (durante a gravidez) são maiores para mulheres
muito jovens e mulheres mais velhas do que para mulheres na casa dos vinte e trinta
anos.

Mulheres com alta paridade e mulheres com intervalos curtos entre partos também estão
em alto risco devido a doenças crónicas e desnutrição, pobreza, gravidez indesejada,
cuidados pré-natais e obstétricos inadequados e falta de acesso a um hospital (Poston
& Bouvier, 2017).

6.4. A MORTALIDADE DIFERENCIAL. CAUSAS DE MORTALIDADE

A mortalidade por meses

De modo a compreender-se as relações da variável mortalidade (geral e infantil) com o


meio envolvente, analisam-se as suas variações pelos meses do ano. Os métodos mais
utilizados são o método das proporções (ou percentagens), método das taxas mensais
e o método dos números proporcionais.

O método das proporções corresponde à divisão dos óbitos registados em cada mês pelo
total de óbitos anuais, multiplicando o resultado obtido por 100 de modo a termos o
resultado em percentagem.

Contudo, dado que cada mês tem uma diferente amplitude, este método acaba por
originar distorções na análise dos dados obtidos. Assim, recorre-se ao método das taxas
mensais.

Com o método das taxas mensais convertem-se as taxas aos efetivos anuais dado que
se multiplica o número médio de óbitos mensais pelo número de dias do ano divididos
pela população média. Isto é:
(óbitos mensais / dias do mês) x (365 ou 366 / população média) x 1000

ou [(365 ou 366 / dias do mês) x óbitos mensais)] x população média x 1000

Finalmente, o método dos números proporcionais permite uma melhor comparação,


nomeadamente quando se representam os dados obtidos graficamente.

Este método assenta na mesma lógica que o anterior, no qual dividem-se os óbitos
mensais pelo número de dias do mês. Porém, os resultados obtidos são depois
substituídos por números proporcionais de modo a que o seu total seja igual a 1200.

Deste modo, cada mês fica representado por um número, independentemente da


duração do mês, de forma a que o seu desvio (positivo ou negativo) em relação a 100
identifique a particularidade de cada mês (Nazareth, 2004, p. 201-202).

“…a morte é provocada por uma ou uma combinação de uma grande variedade de
causas, ou doenças, e a compreensão da mortalidade requer uma compreensão das
tendências em cada uma das principais causas de morte” (Bogue, 1969, conforme
citado em Poston & Bouvier, 2017).

A maioria dos governos nacionais classifica as causas de mortes de acordo com a


Classificação Internacional de Doenças (CID), desenvolvida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS). Esta classificação passa por uma revisão periódica (Poston & Bouvier,
2017).

Na décima revisão da CID (adaptada em 1992), as causas de morte são classificadas em


vinte e duas categorias principais. Atualmente já está disponível o CID 11.10

A morte é um comportamento complexo. Existem milhares de maneiras diferentes de


morrer; algumas causas de morte ocorrem com mais frequência do que outras.

Nem todas as pessoas morrem pelas mesmas causas principais, e isso se deve em
grande parte aos níveis socioeconómicos dos países.

A mortalidade varia com a idade, mas as causas de morte também variam com a idade.

As principais causas estão associadas a doenças degenerativas e crónicas.

Os homens têm menos probabilidade de morrer de doenças degenerativas do que


mulheres em todas as idades, e essa diferença aumenta entre os mais velhos. As
mulheres vivem mais do que os homens e, portanto, têm maior probabilidade de morrer
de doenças crónicas e degenerativas (Poston & Bouvier, 2017).

10
https://www.who.int/classifications/classification-of-diseases
https://icd.who.int/browse11/l-m/en
Fomes

A fome foi considerada uma causa de morte. As populações dos tempos pré-industriais
tinham muito menos controlo sobre o suprimento de alimentos do que hoje em dia.
Houve declínios graves na população em grande parte da Europa durante os anos de
fome de 1315–1317. Na década de 1690, um sexto da população em algumas províncias
suecas morreu após graves quebras de produção de cereais (trigo, milho). A fome da
batata irlandesa de 1846-1851, conhecida na Irlanda como a Grande Fome, matou cerca
de um milhão de pessoas, embora algumas estimativas apontem para um número tão
alto quanto 1,5 milhão.

A última grande fome na Europa foi a fome finlandesa de 1868. Além disso, cerca de 19
milhões de pessoas provavelmente morreram na Índia entre 1891 e 1910 como resultado
da fome.

Uma das fomes mais destrutivas no registo demográfico ocorreu na China entre 1958 e
1961. Estima-se que entre 30 e 40 milhões de chineses morreram como resultado direto
da fome, com 12 milhões das mortes de pessoas menores de dez anos.

A principal causa da fome resultou do programa mal concebido e excessivamente


ambicioso do Grande Salto para a Frente, iniciado em 1958 por Mao Zedong e projetado
para "envolver uma luta revolucionária contra a natureza para realizar o grande potencial
da agricultura, maximizando as vantagens da economia coletiva” (Aird, 1972, conforme
citado em Poston & Bouvier, 2017, p.179).

Epidemias

Uma epidemia é um grande aumento ou aumento de uma doença infeciosa numa área
que resulta num grande número de mortes, seguido por um declínio. Muitas infeções e
doenças contagiosas se tornaram epidérmicas, incluindo escarlatina, sarampo, gripe e
cólera.

As epidemias geralmente começam a um nível local e, em seguida, espalham-se para


áreas próximas. Se uma epidemia atinge vários países ou continentes, é conhecida como
pandemia. As pandemias são muito mais perturbadoras demográfica, económica e
socialmente do que as epidemias.

As epidemias foram importantes para o desenvolvimento da demografia moderna,


especialmente no rastreamento das mortes de uma população. Por exemplo, a epidemia
de gripe espanhola resultou no estabelecimento do Sistema de Vigilância do Crescimento
pela Liga das Nações.
Uma das piores epidemias da Europa, a Peste Negra, resultou na morte de cerca de um
terço da população do continente. O número estimado de mortes causadas pela Peste
Negra varia de um mínimo de 25 milhões até um máximo de 60 a 75 milhões. Este é um
valor surpreendente, dado que toda a Europa no século 14 provavelmente contava com
cerca de 80 a 90 milhões de habitantes.

Uma epidemia recente foi a epidemia de gripe espanhola. Ela espalhou-se pela Europa
em 1918 e depois para o resto do mundo. Os epidemiologistas estimam que a epidemia
resultou na morte de cerca de 50 milhões de pessoas. A gripe espanhola pode muito
bem ter infetado quase mil milhões de pessoas, ou quase metade da população do
mundo naquela época (Poston & Bouvier, 2017).

O HIV Sida (síndrome da imunodeficiência adquirida) atinge o mundo há mais de trinta


e cinco anos. Poderá, em breve, ser responsável por mais mortes do que os 100 milhões
de vítimas da peste negra e das epidemias de gripe espanhola.

O vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a Sida, foi isolado em 1983 no
Instituto Pasteur em Paris.

No final da década de 1980 e início da década de 1990, o HIV Sida foi identificado em
todas as regiões do mundo.

No início do ano de 2014, a Organização Mundial da Saúde estimou que 74 milhões de


pessoas em todo o mundo foram infetadas desde que o vírus foi reconhecido pela
primeira vez em 1981; 39 milhões morreram, e a maioria dos 35 milhões que vivem com
HIV provavelmente morrerá de causas relacionadas ao HIV (Poston & Bouvier, 2017).

Guerras

As consequências demográficas da guerra em relação à mortalidade não são fáceis de


determinar. Alguns historiadores e arqueólogos militares definem a guerra como todos
os tipos de conflitos envolvendo mais de dois combatentes. Além das mortes militares
registadas, há também a questão das perdas civis que ocorrem em consequência da
guerra, incluindo a infeção por doenças transportadas pelos soldados, assassínios
associados a roubos, fome após a destruição de terras agrícolas e sofrimentos que
ocorrem como resultado de desorganização económica e social. Os dados de mortalidade
da guerra são mais bem documentados para atividades no século XX em comparação
com eras anteriores.
“O tamanho plausível do número de mortos de militares e civis seria de cerca de 8,5
milhões na Primeira Guerra Mundial e 40 milhões na Segunda Guerra Mundial”
(Etherington, 2003, conforme citado em Poston & Bouvier, 2017, p.186).

Frequentemente, o número de mortes de civis excede o número de mortes de militares.


É provável que, durante a Segunda Guerra Mundial na Rússia, 60% das mortes tenham
sido civis (Poston & Bouvier, 2017, p.186).

Medidas das causas de mortalidade

“O conhecimento dos padrões comparativos de mortalidade inclui o estudo das doenças


ou outros fatores que constituem as causas determinantes da mortalidade” (Leston
Bandeira, 2004, p. 229).

Para analisar as causas de mortalidade utilizamos os indicadores de medida


anteriormente apresentados.

Assim, a Taxa Bruta de Mortalidade por Causa é o mais imediato instrumento de medida
de que dispomos.

Obtém-se por meio do quociente entre o número de óbitos pela causa C e a população
total média (Leston Bandeira, 2004, p. 229).

TBMC = ____óbitos pela causa C__ *1000

População Total média

As taxas obtidas desta forma permitem efetuar comparações, pois sintetizam o peso
relativo de uma dada doença na estrutura de uma população. No entanto, os resultados
obtidos com as mesmas não permitem saber quais os tempos de maior ou menor
incidência do risco na vida dos indivíduos. Deste modo, será conveniente recorrer-se ao
cálculo de taxas de mortalidade segundo a causa e a idade. Podem calcular-se estas
taxas para todas as causas permitindo conhecer o peso relativo de cada grupo de causas
de mortalidade nas diferentes idades (Leston Bandeira, 2004, p. 233-234).

6.5. TÁBUA DE MORTALIDADE. A ESPERANÇA DE VIDA

Como vimos anteriormente, a Taxa Bruta de Mortalidade não é uma boa medida para se
comparar duas populações com estruturas etárias diferentes. Uma alternativa seria
analisar o conjunto das Taxas Específicas de Mortalidade.
Entretanto, dado o elevado número de Taxas Específicas de Mortalidade e a diversidade
de estruturas de mortalidade, segundo a idade, em duas ou mais populações, a
comparação entre Taxas Específicas de Mortalidade pode dificultar a análise dos níveis
de mortalidade (Pressat, 1980).

Um dos indicadores que têm a característica de ser uma medida-resumo e que não sofre
a influência da estrutura etária da população é a esperança de vida.

Na realidade, a esperança de vida, ao contrário da Taxa Bruta de Mortalidade, não


depende da estrutura etária das populações, mas apenas dos seus níveis de mortalidade.
Para além disso, o cálculo da esperança de vida possibilita comparar níveis de
mortalidade entre populações diferentes.

A esperança de vida é, deste modo, um indicador importantíssimo de mortalidade que


se caracteriza por ser um índice de síntese ou um indicador sintético da mortalidade
(Leston Bandeira, 2004).

A esperança de vida numa determinada idade pode ser interpretada como o número
médio de anos que um indivíduo viverá a partir daquela idade, considerando o nível e a
estrutura de mortalidade por idade observados naquela população.

A esperança média de vida à nascença representa, assim, o número médio de anos


vividos por uma geração (Rollet, 2007).

Por exemplo, a esperança de vida à nascença de 70 anos é o número médio de anos


que um indivíduo nascido num determinado momento do tempo pode viver, se as
condições de saúde observadas nesse momento não se alterarem ao longo do tempo.
Isto é, se forem mantidos os níveis de mortalidade verificados nas diferentes idades.

Em suma, nessa população com uma esperança de vida ao nascer de 70 anos, uma
criança que nasce viverá em média 70 anos.

No início dos anos 1950, a esperança de vida no mundo era de apenas 46 anos, mas
chegou a 69 anos em 2010. A ONU projetou que em 2050, a esperança de vida para o
mundo chegará a 76 anos e a 82 anos em 2100.

No entanto, a esperança de vida no mundo desenvolvido em 1950 já era de 65 anos,


em 2010 era de 77 anos, e a projeção é de 83 anos em 2050 e 89 anos em 2100 (Poston
& Bouvier, 2017, p.173).

A vida média na idade x, ou esperança de vida, resume as expetativas de sobrevivência


dos indivíduos numa geração ou no momento.
Dado que representa o número médio de anos vividos por uma geração, calcula-se
adicionando o número de anos vividos pelo conjunto da geração (ou gerações) durante
um ou mais anos, dividindo o resultado obtido pelos respetivos efetivos iniciais (Leston
Bandeira, 2004).

“Devemos partir do princípio que as pessoas falecidas entre dois aniversários são
distribuídas linearmente no tempo: assim, entre 0 e 1 ano, o número de anos vividos em
média é de 0,5 ano, entre 1 e 2 anos, de 1,5 ano, etc.” (Rollet, 2007, p. 67).

A esperança de vida à nascença obtém-se a partir da construção da tábua de


mortalidade.

A descrição dos fenómenos demográficos, numa tábua, incide sobre um grupo cuja
identidade é determinada por um mesmo acontecimento (acontecimento – origem).

No que toca à mortalidade, o acontecimento-origem é o facto de um grupo de pessoas


que nasceram no mesmo ano, constituírem uma geração. Ao longo das idades, as
pessoas são submetidas aos riscos de casar, procriar, divorciar-se, morre. A amplitude
destes riscos varia em função da idade.

Para medir a probabilidade de um dado acontecimento ocorrer numa geração entre duas
idades, utiliza-se o quociente. Este instrumento de medida constitui a medida chave na
construção de uma tábua.

O quociente de mortalidade, que ao contrário das taxas não tem uma dimensão anual,
mede o risco de alguém de idade X, pertencente à geração G, morrer antes de atingir o
aniversário X+a.

A probabilidade complementar a este risco mede o seu contrário, sendo que o


complemento a 1 do risco de mortalidade é a probabilidade de sobrevivência (Leston
Bandeira, 2004).

A tábua de mortalidade é constituída por três séries de base:

- a série dos sobreviventes {Sx}, que mede a lei de sobrevivência da geração,

- a série dos óbitos entre a idade x e a idade x+a; {O (x,x+a)}

- a série dos quocientes {aqx}

Toma-se como efetivo inicial da tábua um múltiplo de 10 (1 000, 10 000 ou 100 000),
denominado por Raiz da Tábua (S0). Conhecidos ou já calculados os quocientes,
multiplica-se esse efetivo inicial pelo quociente de mortalidade entre 0 e 1 ano (1q0),
obtendo-se deste modo o número de óbitos da tábua {O (0,1)}, ocorridos entre dois
aniversários. Subtraindo estes óbitos ao efetivo inicial, obtém-se o número de
sobreviventes no primeiro aniversário (S1).

Efetuam-se estas operações de forma sucessivas pelas várias classes de idades até à
extinção da série dos sobreviventes.

A construção de uma tábua de mortalidade possibilita descrever de forma subtil o destino


de uma geração: de que modo uma determinada geração percorreu as várias idades da
vida até acabar por desaparecer completamente após 100 anos. Traduz, pois, a
frequência do fenómeno mortalidade numa coorte, ao longo do tempo, ou seja, das
idades percorridas pelos indivíduos que compõem essa coorte.

A tábua de mortalidade descreve como desapareceram progressivamente os indivíduos


de uma geração, assim como sobreviveram nas idades sucessivas. Reconstitui deste
modo, de forma sintética, a progressão dos acontecimentos (neste caso, a morte) numa
geração.

A tábua de mortalidade pode ser apresentada de forma completa, tratando-se neste


caso de uma descrição exaustiva, ano a ano, das leis de sobrevivência e de mortalidade
da geração. Ou pode apresentar-se de forma resumida, agrupando as idades por grupos
quinquenais, a partir dos 5 anos.

Por outro lado, podemos falar de uma tábua bruta quando a mesma mede o risco de
mortalidade na ausência de migrações, ou de uma tábua líquida se na mesma forem
tidos em consideração os efeitos das migrações (Leston Bandeira, 2004).

As tábuas de mortalidade de geração, na perspetiva de uma análise longitudinal, são na


realidade hoje pouco utilizadas. O recuo progressivo da mortalidade nas sociedades
modernas e o facto de os dados disponíveis não permitirem facilmente a sua construção
reduziu a sua utilização.

Na verdade, “na maioria dos casos, interessa-nos muito mais observar as condições de
mortalidade existentes num determinado momento do que seguir uma geração durante umas
largas dezenas de anos. Por outras palavras, mesmo que os dados estejam disponíveis, é sempre
aconselhável construir uma tábua de mortalidade do momento ou em transversal” (Nazareth,
2004, p. 204).

As tábuas de mortalidade do momento possibilitando o conhecimento da mortalidade


numa dada época (um ou mais anos) permitem avaliar as condições sanitárias do
momento, assim como permitem através da comparação com tábuas de épocas
anteriores, acompanhar a evolução das tendências da mortalidade ao longo do tempo
(Leston Bandeira, 2004).
6.5.1. O Princípio da Translação: a construção das tábuas de
mortalidade

O princípio em que assenta a tábua de mortalidade do momento é o princípio da geração


ou coorte fictícia.

A tábua vai transformar a informação na transversal para uma informação na


longitudinal, ou seja, a transformação do que se observa num determinado momento do
tempo para uma coorte fictícia.

Consiste em submeter um grupo fictício de recém-nascidos à experiência de mortalidade


em cada idade, que é na verdade o risco calculado para um ano em estudo. Ou seja,
atribui-se toda uma sucessão de riscos a uma geração fictícia que na verdade foram
observados em gerações diferentes (Leston Bandeira, 2004).

Apresentam-se seguidamente as diversas funções de uma tábua de mortalidade


tomando por exemplo a tábua de mortalidade de Portugal, sexos reunidos, no período
2014/2016, com a designação atual das séries de base (quocientes, sobreviventes e
óbitos) utilizadas pelo INE e a nível internacional e com a introdução das séries derivadas
mais recorrentes. (Anexo 5 Tábua Completa de Mortalidade para Portugal 2014-2016
(Ambos os sexos) e Anexo 6 - Tábua Completa de Mortalidade para Portugal 2014-2016
(Homens)).

1. A primeira coluna é a das idades: as idades são apresentadas não sob a forma de
grupos etários, mas nos terminais das idades exatas (0, 1, 5, 10, 20, 25…);

2. Na segunda coluna temos a função nqx (ou aqx); são os quocientes de mortalidade,
isto é, a probabilidade de morte, entre a idade exata x e a idade exata x + n, onde n é
a amplitude dos grupos de idade.

3. Na terceira coluna temos Ix (ou Sx): os sobreviventes em cada idade exata x. Para
tornar possível as comparações temporais e espaciais, aplica-se a um mesmo efetivo
(normalmente a raíz da tábua l0 =100.000) a lei da mortalidade definida pelos nqx ou
de sobrevivência definida pelos npx. Sendo que npx = 1 – nqx.

4. Na quarta coluna temos ndx (ou O (x, x+a)): é a distribuição dos óbitos (tendo em
conta o efetivo inicial de 100.000) por idades ou grupos de idades, entre um grupo etário
e outro, por idades exatas: ndx = Ix-Ix+n

5. Na quinta coluna temos nLx: é o número de anos vividos pelos sobreviventes lx entre
as idades exatas x e x + n, ou seja, entre duas idades ou sobreviventes em anos
completos. Obtém-se multiplicando os efetivos médios entre idades exatas pelo número
de anos.

6. Na coluna seis temos Tx: é uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim
da tábua, soma-se de baixo para cima. É o total de anos vividos pela coorte (fictícia)
depois da idade x. Como nLx é o número de anos vividos entre as idades exatas x e x +
n, para obter o total de anos vividos basta somar os nLx.

7. A coluna sete é a esperança de vida. ex: é a esperança de vida na idade x, ou seja,


o número médio de anos que resta viver às pessoas que atingiram a idade x. Quando x
= 0, temos a esperança de vida à nascença, ou seja, o número total de anos vividos
desde o nascimento, dividido pelo efetivo inicial.

Ex=Tx / Ix ou E0 = T0 / I0

Vamos agora construir uma tábua de mortalidade:

O ponto de partida de uma tábua de mortalidade é o cálculo das taxas de mortalidade


por grupos etários e sexos separados.

É necessária a informação sobre óbitos por grupos etários, efetivos por sexos separados.

1º : Calcula-se as taxas de mortalidade por grupos de idade (nTx), ou seja as Taxas


Especificas de Mortalidade (TEM), mantendo 5 casas decimais - é o ponto de partida da
tábua de mortalidade.

2º: nqx. Quocientes de mortalidade, isto é, a probabilidade de morte (nqx), entre a


idade exata x e a idade exata x+n; no seu cálculo utiliza-se a seguinte fórmula:

nqx=2n * nTx

2+n*nTx

onde n é a amplitude dos grupos de idade.

Exemplos:

1q0= T.M.I.C.= óbitos - 1 ano 90/91

nascimentos 90/91
O 1q0 é a verdadeira Taxa de Mortalidade Infantil.

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

4q1= 2*4*0.00092

2+4*0.00092

Isto, se a taxa de mortalidade do grupo etário 1- 4 for 206(204+208/2)/223244


(população do censo de 91) = 0.00092.

5q5=2*5*0.00048 = 0.0048 = 0.0024

2+5*0.00048 2.0024

Isto, se a taxa de mortalidade do grupo etário 5 – 9 (5T5) for 0.00048

No caso do último grupo de idades, nqx é igual à unidade, uma vez que todas as pessoas
terão necessariamente que desaparecer.

3º lx

Sobreviventes em cada idade exata x. Para tornar possível as comparações temporais e


espaciais, aplica-se a um mesmo efetivo (normalmente a raiz da tábua l0 =100000) a
lei da mortalidade definida pelos nqx ou de sobrevivência definida pelos nPx.

Obtém-se assim os sobreviventes em cada idade exata x através da seguinte relação:

lx+n=1x*nPx

l0=100000

4l1= lx+n= lx*nPx

4º ndx

É a distribuição dos óbitos (tendo em conta o efetivo inicial de 100000) por idades ou
grupos de idades, entre um grupo etário e outro, por idades exatas: ndx=lx-lx+n
5º nLx

É o número de anos vividos pelos sobreviventes lx entre as idades exatas x e x+n, ou


seja entre duas idades ou sobreviventes em anos completos. Obtém-se multiplicando os
efetivos médios entre idades exatas pelo número de anos.

Exemplo:

Se tivermos 20 alunos no início do ano letivo e no final do ano, os mesmos 20 alunos,


viveram-se 20 anos: (20 (partida) + 20 (chegada)) *1=20

Se forem 5 anos, foram vividos 100 anos.

Se partirem 20 e chegarem 10, ao fim de um ano = 20+10/2=15*1=15

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

Ao nível dos primeiros anos de vida não se verifica a linearidade da função de


sobrevivência, obtendo-se uma aproximação mais exata através das seguintes
expressões:

1L0=K’’ l0 + K’ l1

4L1=K’’ l1 + K’ l5 , onde K’’= 0.05 e K’= 0.95

Para as restantes idades, excetuando a 1ª e a 2ª (0-1 e 1-4), se eu tenho L5 e L10 e


se quero saber o nº médio de anos vividos calculo

nLx = (lx+lx+n) * n (amplitude)

Os diversos nLx, ao serem considerados como o número de anos vividos pelos


sobreviventes entre as idades x e x+n, podem também ser considerados como os
sobreviventes em anos completos.

Quanto ao último nLx (l80+) obtém-se através da seguinte expressão:

Lk+ = Tk, L80+ = l80/T80+

6º Tx
É uma função anos de vida intermédia. Começa-se pelo fim da tábua, soma-se de baixo
para cima.

É o total de anos vividos pela coorte (fictícia) depois da idade x. Como nLx é o número
de anos vividos entre as idades exatas x e x+n, para obter o total de anos vividos basta
somar os nLx.

Assim temos:

𝑇𝑥 = ∑ 𝑛𝐿𝑥 O último Tx (ou Tk), que é igual a Lk+, obtém-se através da seguinte
expressão:

expressão:

𝑇𝑘 = onde mk+ é a taxa de mortalidade do último grupo de idades.

7º ex

É a esperança de vida na idade x, ou seja, o número médio de anos que resta viver às
pessoas que atingiram a idade x. Quando x=0, temos a esperança de vida à nascença,
ou seja, o número total de anos vividos desde o nascimento, dividido pelo efetivo inicial

e0= T0, ou seja, ex = Tx

l0 lx

Obtém-se assim o número médio de anos vividos desde o nascimento.


ATIVIDADES FORMATIVAS

Temos duas taxas brutas de mortalidade:

TBM (1950) = 102 915/8 441 315*1000 = 12,19 por mil

TBM (1990) = 103 115/9 883 400 *1000 = 10,43 por mil (Fonte : Nazareth, 1988b, 2004,
2016)

Segundo estes dois resultados, tivemos em 40 anos um declínio de apenas 14 %.


Comente este resultado e explique porque o resultado foi este.

1.Observe os seguintes dados para Portugal:

Óbitos Óbitos Grupos de População População


Grupos de idades
1949/52 1959/62 idades 1950 1960

1 19277 18106 1 174855 187739

1-4 9426 5956 1-4 714859 713671

5-9 1528 1012 5-9 798678 851145

10-14 928 599 10-14 799693 839400

15-19 1551 691 15-19 810964 747225

20-24 2279 920 20-24 761703 705209

25-29 2256 1102 25-29 681256 673194

30-34 1905 1324 30-34 541099 637452

35-39 2301 1593 35-39 567333 591184

40-44 2721 1734 40-44 524737 499411

45-49 3148 2585 45-49 460041 510724

50-54 3628 3584 50-54 390566 481429

55-59 4412 4649 55-59 331777 409026

60-64 5985 5984 60-64 294239 334019

65-69 7408 7949 65-69 229976 264150

70 + 34162 40056 70 + 359539 444419

Total 102915 97844 Total 8 441 315 8 889 397


Nota: 1949/52: Nascimentos 1949 =208712, Nascimentos 1952= 205163 1959/62:
Nascimentos 1959 =213062, Nascimentos 1962= 213895

Fonte : Nazareth, 1988b, 2004, 2016

a) Aprecie a evolução da mortalidade através das TBM no período 1950-1960.

b) Calcule a taxa de mortalidade infantil em 1950 e 1960.

2. Observe as tabelas dos anexo 5 Tábua Completa de Mortalidade para Portugal


2014-2016 (Ambos os sexos) e anexo 6 - Tábua Completa de Mortalidade para Portugal
2014-2016 (Homens)

a) Interprete a tábua de mortalidade

b) Descreva as seguintes colunas: nqx, lx, Tx.

c) Comente a esperança de vida ex

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