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Objetivos
INTRODUÇÃO
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Os elementos brutos da Demografia são os dados recolhidos nos Censos, em estudos e
nos registos dos vários sistemas de informação. Estes dados podem ser apresentados
de muitas maneiras, mas sobretudo, de duas formas fundamentais.
A primeira forma envolve os dados recolhidos através dos Censos da população ou dos
inquéritos semelhantes aos Censos. Os Censos produzem o registo das pessoas num
dado momento, ou seja, produzem uma informação “fotográfica” transversal da
população existente, o seu tamanho, a sua estrutura, como ela é observada no
momento da realização dos Censos. Estamos perante uma observação instantânea. As
comparações internas ou entre Censos, envolvem em geral números absolutos e o
cálculo de proporções.
De facto, poucos são os dados que são recolhidos principalmente com fins
demográficos. A maior parte deles são produzidos para, ou como, produto de
atividades administrativas levadas a cabo ou controladas pelos governos ou agências
internacionais e onde os demógrafos têm pouco controlo do modo preciso como eles
são recolhidos, agregados ou apresentados.
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Confrontados com a insuficiência, a má qualidade ou a inexistência de estatísticas,
muitos demógrafos têm adotado outras formas de observação, que se concretizam em
diversos tipos de inquérito. Mesmo a nível institucional, o próprio sistema clássico de
coleta de dados tem vindo a ser colocado em causa. A par da observação clássica
(instantânea e contínua) tem-se desenvolvido outras modalidades de observação como
a retrospetiva e a seguida (Bandeira, 2004).
3.1. OS RECENSEAMENTOS
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amostragem, cada pessoa é enumerada separadamente. Em terceiro lugar, ele não é
um exercício voluntário, tem que ter uma base legal para o tornar obrigatório e nele
ser incluída e fornecida a informação pretendida. Finalmente, é obrigatório ser referido
a um dado momento no tempo e não a um período.
Em Portugal, até 2021, ano da realização dos últimos censos, realizaram-se, segundo
as recomendações internacionais, 16 recenseamentos da população e 6
recenseamentos da habitação. Apesar de, em determinados momentos da história de
Portugal, terem ocorrido numeramentos, contagens e até recenseamentos, estas
operações não podem ser consideradas equivalentes à série de recenseamentos
iniciada em 1864. Com efeito, foi o Recenseamento Geral da População de 1864 o
primeiro cuja conceção e aplicação foram regidas pelas orientações internacionais do
Congresso Internacional de Estatística de Bruxelas de 1853. Pelo que, considera-se, no
caso de Portugal, este recenseamento como o primeiro da época moderna.
1
Sobre Censos, o que são, para que servem, Censos em Portugal, Censos no mundo:
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_sobre_censos&xpid=CENSOS21&xlang=pt
Ver anexo 1 : Quadro 1. Síntese das variáveis a observar nos Censos 2021 e as excluídas face
2
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=censos21_main&xpid=CENSOS21&xlang=pt
Censos - Resultados definitivos, Portugal - 2011:
https://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=ine_censos_publicacao_det&contexto
=pu&PUBLICACOESpub_boui=73212469&PUBLICACOESmodo=2&selTab=tab1&pcensos=6196
9554;
Ano da criação do Instituto Nacional de Estatística (INE).
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Como refere Nazareth (2004), o termo “Estado Civil” é aqui bastante ambíguo na medida em
remete simultaneamente para a situação de uma pessoa em relação ao seu nascimento, aos
laços familiares e de parentesco, à existência de casamento ou óbito, indicando igualmente o
serviço público encarregue de atestar esses factos.
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Os dados relativos aos efetivos da população, isto é, ao seu estado e estruturas, são
recolhidos e observados através de operações periodicamente organizadas para esse
efeito, os recenseamentos. Enquanto os dados relativos ao conjunto dos
acontecimentos demográficos – nascimentos, óbitos, migrações e casamentos – são
recolhidos e observados, no tempo, através, sobretudo, dos registos efetuados pelos
serviços do Registo Civil. É todo este volume de dados que fornece às estatísticas
demográficas6 uma quantidade importante de informações.
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107661&selTab=tab0&xlang=pt
Em Portugal, desde os anos 1960, com a emigração clandestina, que os dados, sobre este
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existem ou nem são explorados com fins demográficos. Isto explica porque os
objetivos do registo desta informação são essencialmente administrativos e legais e
não demográficos.
Para além de serem mais económicos, os inquéritos por amostragem podem ser
organizados e executados de forma relativamente rápida e podem recolher muito mais
detalhes que um censo, incluindo informação de comportamentos para os quais os
entrevistadores podem ser previamente preparados. A sua principal desvantagem é a
possibilidade da introdução de erros de amostragem e, por aí de medição. Se a
amostra tiver uma base adequada, estes erros podem ser considerados e assim
minimizados.
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causas e consequências da migração) e os retrospetivos que colocam questões acerca
de acontecimentos que ocorreram no passado. Este último tipo de inquéritos é
frequentemente aplicado nos países em desenvolvimento com o objetivo de reunir
informação que os sistemas institucionais deveriam fornecer.
Um Censo é mais ou menos essencial para fornecer uma base de dados sem a qual o
sistema de registo ou um inquérito por amostra é menos útil. Nos países em
desenvolvimento, os inquéritos por amostragem podem investigar determinados
aspetos deficientes nos Censos e dar mais fiabilidade à informação disponibilizada pela
má qualidade fornecida por esses Censos.
Com o forte e acelerado desenvolvimento das novas tecnologias e, por aí, da Internet,
tornou-se possível aceder, de forma rápida e segura, a informação demográfica
8
Ver exemplos de inquéritos em
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_estudos&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICACOEStipo=ea&PU
BLICACOEScoleccao=107773&selTab=tab0&xlang=pt;
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQUESdest_boui=415
655178&DESTAQUESmodo=2;
http://www.ine.gov.mz/operacoes-estatisticas/inqueritos/inquerito-demografico-e-de-saude
(IDS de Moçambique).
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disponibilizada online. Relativamente a sites de informação demográfica, para além do
site do Instituto Nacional de Estatística (INE)9, destacamos, a nível nacional, o
PORDATA e, a nível internacional10, o Eurostat.
PORDATA
A PORDATA assume-se como uma base de dados com estatísticas oficiais certificadas
sobre Portugal, abrangente em termos de diversidade de temas e de amplitude
temporal, já que inclui estatísticas, sempre que disponíveis, referentes ao período
entre 1960 e a atualidade. Nesta base de dados encontra-se disponibilizada informação
relevante e harmonizada relativa a doze temas distintos: População, Saúde, Educação,
Proteção Social, Emprego e Mercado de Trabalho, Empresas e Pessoal, Rendimentos e
Despesas Familiares, Habitação e Conforto, Justiça, Cultura, Contas Nacionais e Contas
do Estado.
Eurostat
https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_main
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3.4. QUALIDADE DOS DADOS – TESTES FUNDAMENTAIS À QUALIDADE
DOS DADOS
Estas incorreções sobre a idade devem-se sobretudo à atração dos números redondos
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(terminados em 0 ou em 5). Este erro pode ser contornado através de uma questão sobre a
data de nascimento (Bandeira, 2004).
Existem outros erros menos comuns associados a temas mais específicos como a atividade
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mesmo sendo obrigatório, por motivos que se prendem sobretudo com a distância a que se
encontram os locais de registo ou porque não encontram nenhuma vantagem nisso (Grupo Foz,
2021).
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A informação básica para iniciar uma descrição ou uma análise demográfica incide
sobre as variáveis sexo e idade. A partir da composição destas duas variáveis chega-se
à estrutura da população por sexo e idade (possibilitando a análise do estado da
população) e a partir da desagregação dos dados por sexo e idade chega-se ao cálculo
de todos os indicadores demográficos (possibilitando a análise das dinâmicas da
população). Deste modo, antes de proceder a qualquer estudo demográfico, importa
avaliar, em particular, a confiabilidade que os dados sobre sexo e idade possam ter
(Grupo Foz, 2021).
Ora, como funciona então este teste? Segundo informações recolhidas nas análises
feitas em países com boas estatísticas demográficas, sabe-se que a relação de
masculinidade dos nascimentos anda em torno de 105 (ou seja, por cada 100
nascimentos de bebés do sexo feminino nascem 105 do sexo masculino), desde que se
excluam as variações aleatórias (Nazareth, 2004). A existência de desvios acentuados
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Este indicador – Relação de Masculinidade – é também denominado por certos autores como
Razão de Masculinidade ou Razão de Sexos (Grupo Foz, 2021).
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em relação a este valor médio remete para a possibilidade de existirem erros na
recolha e registo dos dados dos nascimentos.
Contudo, não se pode, desde logo, concluir que a qualidade dos dados é má, dado que
existem as flutuações que se prendem com o número de ocorrências (Nazareth,2004).
Sendo assim, é necessário avaliar se os desvios identificados se prendem com a
dimensão da população ou com a má qualidade dos dados.
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É uma estimativa de um intervalo utilizado na estatística, que contém um parâmetro
populacional desconhecido. O intervalo de confiança é importante para indicar a margem de
incerteza (ou de imprecisão) frente a um cálculo efetuado (o termo foi introduzido pelo
matemático e estatístico Jerzy Neyman em 1937).
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limite inferior x 100
Rmnv(2022) = (918/782)*100
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Limite estatístico x = 0,53576
= [0,48824/(1-0,48824)] x 100
Perante dados referidos à estrutura de uma população recenseada por idades e sexos,
o cálculo deste índice processa-se da seguinte forma (Nazareth, 2004):
- O índice obtém-se através da divisão do total da segunda soma por 1 quinto (1/5) do
total da primeira soma e multiplicando o resultado por 100:
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IW (H) = [372/(703/5)] x 100
IW (H) = 265
No confronto entre este resultado e a tabela abaixo conclui-se que estamos perante
dados muito grosseiros, confirmando-se uma forte possibilidade de existir
concentração de declarações em idades terminadas em 0 e 5.
O IW pode variar entre 100 (ausência total de concentração) e 500 (caso limite em
que todas as pessoas se declaram em idades terminadas em 0 e 5). As Nações Unidas
apresentam uma tabela de base empírica que permite interpretar a validade dos
resultados obtidos:
Dados muito exatos < 105
Dados relativamente exatos 105-110
Dados aproximados 110-125
Dados grosseiros 125-175
Dados muito grosseiros > 175
Fonte (Nazareth, 2004)
De facto, é mais frequente haver uma atração pelo 0 do que pelo 5 e também são os
números pares que exercem maior atração (Nazareth, 2004).
Exemplo: medir a atração pelo número 7 nas idades referidas aos homens
7 anos – 27
17 anos – 11
27 anos – 13
37 anos – 11
47 anos – 9
57 anos – 4
Fonte: Nazareth, 2004
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De seguida recolhe-se os dados relativos às idades que enquadram as idades em
análise, como exemplo apresentamos então os dados referidos à idade 37:
35 anos – 20
36 anos – 35
37 anos – 11
38 anos – 18
39 anos – 5
Fonte: Nazareth, 2004
I(37) = 62
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Exemplo:
Grupo etário Sexo masculino Sexo feminino
0-4 388898 380729
5-9 387764 374444
10-14 329901 316366
15-19 338290 344489
(…) (…) (…)
65 e +anos 181246 255102
Fonte:Nazareth, 2004.
Exemplo:
Fonte: Nazareth,2004.
Exemplo:
DS (…) =…
Fonte: Nazareth,2004.
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- Para cada sexo calcula-se um Índice de Regularidade das Idades - IRI (H) e IRI (M).
Este índice constrói-se calculando, em primeiro lugar, as relações de regularidade,
através da divisão de cada grupo de idades pela média aritmética dos dois grupos
etários que o enquadram.
Exemplo:
(…)
Fonte: Nazareth,2004.
- A partir de IRI H e IRI M, fazer a diferença em cada grupo etário para 100.
Exemplo:
(…)
Fonte: Nazareth,2004.
D100Média H = 64,1/12=5,3
D100Média M= 67,7/12=5,6.
Fonte: Nazareth,2004.
- Por fim, para o cálculo do valor do ICNU, multiplicar por 3 a média de DS ou o índice
de regularidade dos sexos e somar a média de diferenças a 100 dos IRI(s) dos homens
e a das mulheres (o ICNU calcula-se dando um coeficiente 3 ao índice de regularidade
dos sexos e um coeficiente 1 aos dois índices de regularidade das idades):
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ICNU = (3 x 2,5) + 5,3 + 5,6
ICNU = 18,4
Fonte: Nazareth,2004.
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ATIVIDADE FORMATIVA
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