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RESENHA CRÍTICA

Kaique Sampaio Santos

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à


teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora, 1994, p. 13-78.

Bogdan & Biklen inicialmente, nos remete que na investigação qualitativa os dados são
ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de complexo
tratamento estatístico. Este tipo de investigação privilegia essencialmente, a compreensão dos
comportamentos a partir da perspectiva dos sujeitos da investigação. As causas exteriores são
consideradas de importância secundária. Normalmente, neste tipo de investigação, os dados são
colhidos em função de um contato profundo com os indivíduos, nos seus contextos ecológicos
naturais. Para o autor, as estratégias mais representativas da investigação qualitativa são a
observação participante e a entrevista em profundidade.

Em educação, a investigação qualitativa é frequentemente designada por naturalista, por


que o investigador frequenta os locais em que naturalmente se verificam os fenômenos nos quais
estão interessados, incidindo dados recolhidos nos comportamentos naturais das pessoas. Bogdan
& Biklen ressaltam que embora a investigação qualitativa no campo da educação tenha sido
reconhecida recentemente, este tipo de investigação possui uma longa e rica tradição, para eles, os
levantamentos sociais têm uma importância particular para a compreensão da história da
investigação qualitativa em educação, dada a sua relação imediata com os problemas sociais e a
sua posição particular a meio caminho entre a narrativa e o estudo cientifico.

Os autores ainda refazem um caminho de desenvolvimento da antropologia, a sociologia


de Chicago e a sociologia da educação, sendo esta ultima recebeu contribuições de Willard
Waller, que defendia: “as crianças e os professores não constituem inteligências incorpóreas,
nem maquinas de ensino e de aprendizagem, mas sim seres humanos integrais, enlaçados num
labirinto complexo de interconexões sociais”. O seu objetivo era de auxiliar os professores a
tomarem consciência das realidades sociais da vida escolar, sentindo que para alcançar este
objetivo, tinha de ser realista e concreto. Posterior a isso, os autores Bogdan & Biklen discutem as
perspectivas das pesquisas em educação nas décadas do século XX.
Já os anos de 60, são marcados por diversas transformações sociais, na qual chamou-se
atenção para os problemas educativos, reavivando o interesse pela investigação qualitativa e
tornando os investigadores educacionais mais sensíveis a este tipo de abordagem. Neste período,
verificou-se que as próprias agencias estatais começaram a subsidiar a investigação que utilizava
métodos qualitativos em educação. Além disso, a atenção dos educadores neste período voltou-se
para a experiencia escolar das crianças pertencentes às minorias, queriam-se saber como eram as
colas para as crianças que não tinham rendimento, diante disso, os estudiosos procuraram captar as
essências da vida cotidiana das crianças que frequentavam o ambiente escolar.

Já nos anos setenta, tivemos a investigação qualitativa em educação com foco na


diversidade dos sujeitos que frequentam o ambiente escolar, ou seja, defendiam uma perspectiva
empática e simpática em face às pessoas estudadas. Nos anos oitenta e noventa, as questões
debatidas pelos investigadores educacionais estavam relacionadas com o avanço tecnológico,
principalmente em razão do surgimento do computador, e de temas relacionados ao feminismo. O
feminismo influenciou o tipo de sujeitos que os investigadores qualitativos (feministas) estudaram.
Os papeis psicossexuais emergiram como um tópico central em muitos estudos qualitativos de
investigação (Warren, 1988). As feministas tiveram um papel importante enquanto
impulsionadoras da investigação sobre as emoções e sentimentos.

Em relação as características das investigações qualitativas, Bogdan & Biklen defendem


que este tipo de investigação possui cinco características: a) na investigação qualitativa a fonte
direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal; b) a
investigação qualitativa é descritiva, ou seja, os dados recolhidos em forma de palavras ou
imagem, e não em números; c) os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo processo do
que simplesmente pelos resultados ou produtos; d) os investigadores qualitativos tendem a analisar
os seus dados de forma indutiva, ou seja, não recolhem dados ou provas com o objetivo de
confirmar ou infirmar hipóteses construídas previamente, ao invés disso, as abstrações são
construídas a medida que os dados particulares que foram recolhidos se vão agrupando, e e) o
significado é de importância vital na abordagem qualitativa, os investigadores que fazem uso deste
tipo de abordagem estão interessados no modo como diferentes pessoas dão sentido às suas vidas.

Os investigadores qualitativos em educação estão continuamente a questionar os sujeitos


de investigação, com o objetivo de perceber “aquilo que eles experimentam, o modo como eles
interpretam as suas experiencias e o modo colo eles próprios estruturam o mundo social em que
vivem” (Psathas, 1973). Os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos
que lhes permitem tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador.
Em relação aos fundamentos teóricos da investigação qualitativa, Bogdan & Biklen
destacam a abordagem fenomenológica, na qual os investigadores fenomenologistas tentam
compreender o significado que os acontecimentos e interações tem para pessoas vulgares em
situações particulares. Os autores destacam que embora existam diversas formas de investigação
qualitativa, todas partilham até certo ponto, do mesmo objetivo: compreender os sujeitos com base
nos seus pontos de vistas, sendo o “ponto de vista” uma construção de investigação.

Em seguida, Bogdan & Biklen enfatizam a interação simbólica como fundamento teórico
da investigação qualitativa, ressaltando que para esta abordagem, o significado que as pessoas
atribuem às suas experiências, bem como o processo de interpretação, são elementos essenciais e
constitutivos, não acidentais ou secundários àquilo que é a experiência. Nesta concepção, os
indivíduos interpretam com auxilio dos outros e os significados são construídos através de
interações.

Por fim, os autores ressaltam algumas questões frequentes referente a investigação


qualitativa: a) será possível a utilização conjunta da abordagem qualitativa e quantitativa? b) será
que a abordagem qualitativa é verdadeiramente cientifica?; c) em que a investigação qualitativa
difere daquilo que pessoas como os professores, jornalistas e artistas fazem?; d) será que os
resultados qualitativos são generalizáveis?; e) e os efeitos nos dados das opiniões, preconceitos e
outros enviesamentos do investigador?; f) será que a presença do investigador não vai modificar o
comportamento das pessoas que se pretende estudar?; g) será que dois investigadores que estudem
independente o mesmo local ou os mesmos sujeitos chegarão as mesmas conclusões?; h) qual o
objetivo da investigação qualitativa?; i) em que diferem a investigação qualitativa e quantitativa?

Em relação aos aspectos éticos da investigação qualitativa, os autores ressaltam a


necessidade de proteger a identidade dos sujeitos, para que a informação que o investigador
recolher não lhes cause qualquer tipo de prejuízos ou transtornos, defendem também que os
sujeitos devem ser tratados respeitosamente e de modo a obter a sua cooperação na investigação.
Ressaltam que ao negociar a autorização para realizarem um estudo, o investigador deve ser claro
e explicito com todos os intervenientes relativamente aos termos do acordo e devem respeita-los
até a conclusão do estudo, e por fim, ressaltam que o investigador tem por necessidade, ser
autentico ao escrever os resultados, ainda que as conclusões a quais chega, possa por razões
ideológicas não lhe agradar.

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