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METODOLOGIA QUALITATIVA EM CIÊNCIAS SOCIAIS I

Nome: Bruna Karlla Andrade Simões

Resumo do artigo: Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades – Uma


revisão histórica dos principais autores e obras que refletem esta metodologia de
pesquisa em Ciências Sociais de Arilda Schimidt Godoy.

O artigo, escrito por Arilda Godoy, atualmente professora do Departamento de Educação


da UNESP, Rio Claro, graduada e pós-graduada na área de pedagogia, faz um apanhado
histórico e explicativo a respeito da pesquisa qualitativa. A autora explica inicialmente, as
principais diferenças da pesquisa qualitativa e quantitativa: ao contrário da quantitativa,
que busca definir claramente as variáveis a serem estudadas, obter precisão e
quantificação dos resultados, a qualitativa não emprega uso estatístico na análise dos
dados, partindo de focos de interesse amplos, que vão se definindo à medida que se
prossegue o estudo. A qualitativa vem se instalando como uma possibilidade de pesquisa
reconhecida só nos últimos 30 anos.

Os objetivos do artigo se dividem em 2 tópicos: no primeiro percorrer a história da


abordagem qualitativa, e no segundo, examinar as características que compõem um
estudo qualitativo. Na abordagem histórica, vemos que nos primórdios dos estudos
qualitativos, que surgiram na segunda metade do século 19, tivemos a contribuição de um
estudo sociológico de Fréderic Le Play, sobre as famílias da classe trabalhadora na
Europa, que é considerado como um dos primeiros trabalhos com observação direta da
realidade. Após esse estudo, a sociologia empírica dos EUA passou a incorporar a
metodologia qualitativa na Escola de Chicago, quando as massas de imigrantes pareciam
agravar os problemas sociais da época, decidiram estudar a respeito desses grupos
étinicos. A abordagem não foi bem aceita e compreendida na época, tendo registros
inclusive da revista Ciência Hoje de 1990, em que uma entrevista expõe a opinião de que
“não havia clareza metodológica na época, pois se inventavam métodos como coletar
autobiografias, analisar cartas e fazer entrevistas”.

Na antropologia, ao contrário do que observamos anteriormente, houve grande adesão da


pesquisa qualitativa a partir dos pioneiros Franz Boas e B. Malinowski. Estes clássicos da
antropologia cultural e social, respectivamente, foram capazes de fundar a pesquisa de
campo com participação direta e observação junto as populações nativas: Boas teve como
maior mérito a sistematização da descrição extensa na pesquisa, e a busca de
informações do ponto de vista dos nativos. Em paralelo, Malinowski foi um pioneiro da
fundação de uma antropologia que se dedicava a permanecer por longos períodos de
tempos com os nativos, vivendo suas vidas e criando a observação participante a partir
disso. Apesar deste reconhecimento expressivo na antropologia, a pesquisa qualitativa se
manteve distante da sociologia pela forte influência do positivismo de Durkheim, que
defendia uma sociologia próxima das ciências exatas.
Após um declínio dos estudos qualitativos entre a década de 1930 a 1960, a sociologia
compreensiva desenvolvida pela Escola de Chicago reviveu a importância desse método
pois suas teorias embasavam a necessidade de uma busca qualitativa por dar relevância
aos estudos dos indivíduos. O interacionismo simbólico de Blummer, entende que a
inter-relação entre indivíduo e sociedade é estreita, e a compreensão do comportamento
subjetivo humano é necessária para entender a sociedade. Outra variação da sociologia
compreensiva que se desenvolveu foi a etnometodologia de Garfinkel, que analisa as
atividades da vida cotidiana dos membros da comunidade para destacar os métodos que
as pessoas usam nos convívios diários e que constroem a realidade social. Muitos estudos
da sociologia compreensiva utilizam análise da interação, dos significados, símbolos, entre
outras nuances que só podem ser observadas e pesquisadas através de um estudo
qualitativo, o que acabou sendo sua principal linha teórica dentro da sociologia.

A partir dos anos 60, finalmente vemos a aderência da pesquisa qualitativa em toda
ciências sociais, inclusive o interesse de outras áreas pelo método. Este movimento
coincide com a crescente união dos métodos quantitativos e qualitativos nas pesquisas,
diminuindo a disputa entre as abordagens, e permitindo uma valorização integral da
pesquisa.

Após a compreensão histórica da abordagem qualitativa de pesquisa, Godoy descreve as


características únicas desse tipo de estudo. Essas são:

- Análise do mundo empírico em seu ambiente natural: ou seja, estudar a situação do tema
de pesquisa em seu próprio local, valorizando o contato direto e prolongado com os
estudados, podendo utilizar equipamentos como gravadores, fotografias, vídeos, desenhos
e anotações, sendo o pesquisador o próprio instrumento mais confiável.

- Descrição: A escrita ocupa um lugar de destaque nessa abordagem, desempenhando um


papel fundamental na obtenção dos dados, e divulgação dos resultados. O objetivo deve
ser a compreensão ampla dos fenômenos examinados, e o ambiente e as pessoas devem
ser olhados holisticamente, ou seja, como um todo, sem reduzir a variáveis.

- Foco principal no processo e não no resultado: O pesquisador qualitativo deve estar


preocupado em verificar como determinado fenômeno se manifesta na realidade, e nas
interações constantemente, como se da o processo de vivência daquela situação
estudada, não buscando responder objetivamente as respostas, ou seja, os resultados.

- O significado que as pessoas atribuem: Na metodologia qualitativa, o pesquisador tenta


compreender a situação estudada pela perspectiva dos participantes, considerando todos
os pontos de vista como importantes e analisar os significados que eles atribuem e o
entendimento que eles tem da situação, devendo assegurar que o investigador captou o
ponto de vista dos participantes.

- Utilização do enfoque indutivo: Como na qualitativa não partimos de um pressuposto bem


definido, não tem preocupação em buscar evidências que provem ou neguem a suposição,
ou seja, deve-se partir de focos amplos, que vão se tornando mais específicos a medida
que a pesquisa avança, assim como o desenvolvimento de alguma teoria (constrói ela aos
poucos, a medida que coleta os dados e examina.

Por fim, a autora deixa claro que a escolha da abordagem se da de acordo com o que será
estudado, em função da natureza do problema, e os objetivos que orientam a investigação.
Quando o estudo é de caráter descritivo, e se busca o entendimento do fenômeno como
um todo, sua complexidade, ou a investigação principal for a teia de relações sociais e
culturais do interior das organizações, o estudo qualitativo será o mais adequado para a
pesquisa. Assim, a definição da metodologia se faz só depois de definir o problema e
objetivos da pesquisa que será feita.

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