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Resumo
A proposta do trabalho, de significar o ser professor na experiência de uma sala
de aula no século XXI dentro de concepção fenomenológica, optou pela abordagem
qualitativa justamente por permitir localizar uma variedade de assertos difíceis de
mensurar quantitativamente devido às particularidades temporais, sociais, psicológicas
não mensuráveis. Na consideração da concepção escolhida, a pesquisa qualitativa
também se mostrou opção destacada pela consideração do ambiente subjetivo do sujeito
participante.
Dentro dessa abordagem de pesquisa, a fenomenologia foi escolhida menos por
ser um procedimento de investigação ou uma metodologia e mais por ser considerada
uma atitude do pesquisador frente ao objeto de análise e o trato com os dados. Por
buscar o que é significativo para quem vivência (LIMA, 2014) ou a “realidade do
investigado” (BICUDO, 2011) e não a mera realidade externa ao sujeito, é que a
fenomenologia se mostrou eficaz para esse trabalho.
E no espaço teórico fenomenológico, o autor Alfred Schütz foi a escolha para
refletir a categoria Interiorização do Mundo Externo, resultante da análise nomotética,
por ter desenvolvido bases teóricas e bem fundamentadas dentro de uma sociologia que
dialoga com a fenomenologia. Assim, sua concepção de Significado, Mundo da Vida e
Estoque de Conhecimento foram importantes aportes teóricos para refletir e estabelecer
uma compreensão do que pode ser considerado ser professor dentro de uma sala de aula
no século XXI.
Introdução/Questão de pesquisa
A pesquisa descrita abaixo é um exercício prático resultante da disciplina
Pesquisa Qualitativa em Ensino de Ciências em uma Abordagem Fenomenológica, do
programa de Pós-Graduação Docência para a Educação Básica, ministrada pelo
professor Dr. José Bento Suart Junior e a professora Drª. Sílvia Regina Quijadas Aro
Zuliani no Campus da UNESP de Bauru no primeiro semestre de 2019. Os trinta alunos
da disciplina responderam a uma questão cujo objeto foi a captação de descrição onde o
sujeito externalize a essência de sua vivência particular do fenômeno em questão.
Os sujeitos envolvidos são todos da área da educação compartilhando de um
ambiente genérico ligado à prática educacional, mas não um ambiente específico porque
não têm uma mesma vivência cotidiana e sim uma ambientação social e técnica
compartilhada de mecanismos e vivências possíveis de um ambiente escolar. Desse
modo, seguindo as reflexões de Bicudo e Klüber (2013), a questão da pesquisa pode ser
refeita da seguinte forma: como você descreve sua experiência profissional, pessoal e
existencial como professor no interior da Escola do século XXI? O modo como a
resposta se deu também deve ser interrogada. Foi feita por meio de descrição.
Pedir uma descrição é considerar a capacidade de evidência que se elucida numa
narrativa feita pelo sujeito sobre um fenômeno vivenciado. Apesar de considerar que a
narrativa é uma (re) construção feita pelo próprio sujeito sobre seu passado, ela é de fato
um método capaz de recapitular em estruturas organizadas e numa sequência temporal
as experiências passadas (BASTOS; SANTOS, 2013) desse sujeito. Há também o fato
de que as narrativas é uma construção dialógica entre entrevistado e entrevistador. Se o
sujeito tem a oportunidade de reconstruir seu passado, também é importante o
pesquisador se debruçar sobre o porquê o sujeito optou por uma determinada
interpretação e não por outra ou pelo menos considerar esses limites ao se debruçar.
Metodologia
A pesquisa se dividiu em dois momentos. O primeiro teve uma reflexão da
literatura sobre as abordagens de pesquisa qualitativa e quantitativa para justificar a
opção qualitativa como metodologia para a temática em questão.
Para a coleta de dados utilizou-se da atitude fenomenológica, porém houve uma
preocupação em estabelecer o universo conceitual dessa forma de se comportar frente
ao sujeito, na consideração de primeiramente recolher os dados sem qualquer teoria a
priori, suspendendo preceitos científicos ou olhares teóricos que possam delinear
possíveis caminhos de análise pré-estabelecidos. Assim, foi de grande importância o
termo epoqué (MOREIRA, 2004). Posteriormente, realizou-se reduções
fenomenológicas na busca da essencial vivenciada. Houve duas reduções que geraram
três categorias, das quais optou-se por analisar apenas uma, a Interiorização do Mundo
externo. Tal análise se deu sob a sociologia schütziana, por aprofundar conceitualmente
a filosofia fenomenológica de Husserl.
Pesquisa qualitativa
Foi na Revolução Científica do século XV que a pesquisa metódica se livrou de
especulações e misticismo e com a abordagem quantitativa se beneficiou dessa
revolução. Seus traços metodológicos gerais (RICHARDSON, 2015) envolveu a
quantificação das modalidades, a generalização, coleta de informações e o tratamento
por meio de técnicas estatísticas na busca da objetividade para se chegar ao que
realmente é. O raciocínio matemático deu as garantias da lógica na condução da
pesquisa. A crença de que o universo estava escrito em línguas matemáticas
(CHIZZOTTI, 2006) explica a empolgação pela base do raciocínio matemático e
expectativa de buscar a lógica do fato numa generalização.
No século XVIII, se destacaram duas correntes filosóficas: os racionalistas e seu
método dedutivo na busca de leis universais e crença de que só a razão leva à verdade; e
os empiristas com seu método indutivo que parte da experimentação também em busca
da generalização (PRODANOV, 2013). Nesse momento se estabelece as bases técnicas
procedimentais da investigação das ciências naturais e físicas: objetivação, descrição,
mensuração classificação, estatísticas, generalização. E as ciências humanas e sociais,
atrás nessa corrida de garantias metodológicas se deixa induzir pela eficácia desse tipo
de investigação que as ciências naturais e físicas processavam.
Só no século XIX é que a área das Humanidades passaria a questionar se
realmente era possível o uso metodológico das ciências naturais e físicas nos fenômenos
sociais e humanos (LAKATOS, 2003). Isso foi fundamental para que essa área
refletisse sobre sua prática investigativa e suas bases conceituais. Assim, estabeleceu a
divisão clara e metodológica entre o que era chamado de ciências até então e o que
passaria a ser ciências humanas.
O grande ponto divisor a concordância de que o objeto das ciências humanas
tinha por característica uma complexidade contida nos fenômenos que orientam a
relação humana e que, por isso, o fenômeno estudado devesse ser delimitado no tempo,
espaço e numa diversidade cultural. Com isso o alcance do resultado nas pesquisas
obrigatoriamente seria limitado (CHIZZOTTI, 2018). Como consequências vieram
críticas do uso dos procedimentos quantitativos nos fenômenos humanos e uma
aproximação da abordagem qualitativa.
Destacam-se alguns intelectuais nesse ponto de inflexão de pressupostos.
Dilthey defendeu a impossibilidade do uso da abordagem quantitativa na pesquisa
histórica (CHIZZOTTI, 2006). Le Play usou a técnica de observação participante na
pesquisa sobre a classe trabalhadora francesa. A Escola de Chicago, fundada no século
XIX com bases investigativas na pesquisa qualitativa, estimulou métodos que
aproximasse mais observador e observado, além de considerar as relações sociais
cercadas de simbologias. Essas mudanças de posturas investigativas começaram à
processar um estilo metodológico diferente da pesquisa quantitativa. No entanto, esse
estilo não era geral nas ciências humanas, haviam correntes de investigação ainda na
década de 1930 que eram fiéis a pesquisa quantitativa, como o Historicismo e o
Positivismo.
Antonio Chizzotti (2006) resume a evolução histórica da pesquisa qualitativa em
cinco marcos por onde a forma de delimitar um problema, técnicas de coleta de dados,
método de análise e delimitação, fundamentação teórica e comportamento do
pesquisador frente ao sujeito investigado passam a ser mais freqüentes e escalaram os
degraus da confiança do círculo acadêmico e comunidade científica. Diversas correntes
das ciências humanas passaram a se orientar com a abordagem qualitativa ou pondo em
prática seus métodos.
Análise Nomotética
Por se tratar de um trabalho artesanal e denso, fica impossível colocar quadro na
íntegra. Assim, o quadro Ideográfico não estará dentro do corpo do texto. O primeiro
quadro, Quadro da Unidade de Sentido do Professor P1, é apenas um exemplo do
procedimento prático para resultar na primeira Redução.
histórico
Como a primeira redução gerou seis categorias, foi preciso executar uma
segunda redução. Veja o quadro abaixo.
Quadro da segunda Redução (R2)
REDUÇÃO CATEGORIAS CATEGORIAS DA R1
C1R2 Escola e sociedade C2R1, C6R1, C8R1, C3R1
C2R2 Interiorização do mundo externo C4R1, C5R1,
C3R2 Formação continuada C7R1, C1R1
Discussão
“Interiorização do mundo externo”.
Uma tarefa um tanto quanto conturbada, pois a sociedade atual está sofrendo
uma mudança muito grande e entrando em uma nova era, a era tecnológica
(US1P4)...
Sensações de comodismo (repetição de problemas, rotina diária) (US2P7)...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências
BASTOS, Liliana Cabral; SANTOS, William Soares dos (org). A entrevista na
pesquisa qualitativa. Rio de Janeiro: Quarter: Faperj, 2013.
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2008.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. 9ªed. São Paulo: Editora Cultrix, 2001.