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Paradigmas de Investigação e sua aplicação nos diferentes campos do

saber

Mónica António Alage


Mestrando da UCM-Faculdade de Gestão de
Recursos Florestais e Faunísticos
Número de matrícula: 711220157
Disciplina de Metodologia de Investigação
Científica

Resumo

O presente artigo versa sobre os paradigmas da investigação científica que devem guiar
a escolha de estratégias de pesquisa em vários campos do saber, trazendo uma definição
geral dos principais paradigmas, e com incidência no paradigma sociocrítico
(fortemente orientado para mudanças) com objectivo de explicar a contribuição que o
mesmo trás na pesquisa, através da discussão de ideias de vários actores. Na sua
elaboração tem como base a revisão bibliográfica. A compreensão deste paradigma é
fundamental para a escolha de uma estratégia adequada de pesquisa; o artigo pretende
contribuir para esse entendimento por meio de uma discussão objectiva e didáctica.

Palavras-chave: Paradigmas, Investigação; Pesquisa.


Introdução

Antes de definirmos uma estratégia de pesquisa ou empregarmos um determinado


método de investigação, é fundamental compreendermos os diferentes paradigmas de
pesquisa que os embasam. Um paradigma de pesquisa está relacionado a determinadas
crenças e pressupostos que temos sobre a realidade, sobre como as coisas são
(ontologia) e sobre a forma como acreditamos que o conhecimento humano é construído
(epistemologia). O paradigma resultante dessas crenças e pressupostos é que deverá
guiar o método de pesquisa a ser adoptado, isto é, a estratégia ou desenho geral de
pesquisa que irá definir as técnicas de colecta e de análise dos dados a serem
empregadas pelo pesquisador (CROTTY, 1998; e BAROUDI, 1991). É essencial que
haja reflexão sobre a visão de mundo e de construção do conhecimento que embasa uma
pesquisa, pois só assim será possível avaliar a qualidade, a consistência e a coerência da
estratégia, do processo de pesquisa e da análise dos seus resultados. Isso implica
compreender e tornar clara a ontologia, a epistemologia e, consequentemente, o
paradigma de investigação que fundamentam o método de pesquisa utilizado.

Visando contribuir com o processo de ensino-aprendizagem em metodologia científica


em diversos campos do saber, este artigo busca utilizar uma linguagem simples e
acessível, discutindo os três principais paradigmas de pesquisa adoptados na área: o
positivismo, o interpretativíssimo e o sociocrítico.

Paradigmas da Investigação

Os paradigmas de investigação podem ser compreendidos como um conjunto


relacionado de postulados, teorias comuns, valores conhecidos e regras aceites por todos
os elementos de uma comunidade científica, num determinado momento histórico
(Coutinho, 2011).

É inevitável referir este conceito sem mencionar a definição dada por Kuhn, consoante
este autor (1982), o Paradigma pode ser definido como a maneira que uma comunidade
científica aborda os problemas, num determinado momento. O paradigma é então um
conjunto de pressupostos e/ou formulados interrelacionados sobre o mundo histórico ou
social e fornece um quadro filosófico e conceptual para o estudo organizado do mundo
histórico e social (apud Lukas & Santiago, 2004; Coutinho, 2011).
Este termo, devido ao seu carácter polissémico, gera alguma discussão, dado que nem
todos os investigadores concordam com a utilização que é fornecida sobre este conceito
nos casos de investigação em Ciências Sociais e Humanas.

Deste modo pode se afirmar que é possível abordar o estudo dos diversos campos do
saber, tanto Ciências Sociais assim como Humanas, através de diversos paradigmas.

Nirenberg, Brawerman e Ruiz (2000, cit. em Lukas & Santiago, 2004) referem que um
paradigma inclui crenças: ontológicas (diz respeito à natureza dos fenómenos sociais e
a seu grau de estruturação levantando a controvérsia se a realidade social é externa ao
sujeito ou se é algo criado do ponto de vista particular), epistemológicas (refere-se à
forma como o conhecimento é adquirido, podendo assumir uma posição externa,
assumindo objectividade ou uma posição de experiência compartilhada com os sujeitos
envolvidos, assumindo que o conhecimento é subjectivo) e metodológicas (como
apreendemos o mundo e avançámos no seu conhecimento, através de métodos que irão
resolver esses problemas).

Actualmente, considera-se a existência de três paradigmas na investigação em Ciências


Sociais e Humanas: o paradigma positivista ou quantitativo, o interpretativo ou
qualitativo e o sociocrítico ou emancipatório (Latorre et all., 1996; Bisquerra, 1989;
Morin, 1983, em Coutinho, 2011).

No entanto para o presente trabalho importa ressaltar o paradigma sócio crítico sobre o
qual iremos abordar com mais profundidade.

Paradigma positivista

O positivismo é uma escola filosófica, nascida do pensamento de Comte (1798-1857),


cujas suas origens remontam aos séculos XVIII e XIX. Baseia-se no axioma de que o
conhecimento só é considerado válido quando provém da experiência (Lukas &
Santiago 2003).

Tem como objectivo geral aumentar o conhecimento. Busca o conhecimento


sistemático, comprovável, medível e repetível (Lukas & Santiago, 2004).
Paradigma Interpretativo

Paradigma interpretativo também denominado de Qualitativo, humanista, etnográfico,


fenomenológico, hermenêutico ou já mais recentemente, construtivista (Cuba, 1990;
Creswell, 1994; Crotty, 1998, apud Coutinho, 2011; Lukas & Santiago, 2004).

Com origens no século passado, só na década de 60 é que os cientistas sociais


começaram a interessar-se por abordagens do tipo interpretativo, surgindo nos Estados
Unidos da América os primeiros estudos financiados por entidades oficiais utilizando
essas abordagens (Crotty, 1990; Meterns, 1998, citado em Coutinho, 2011).

Este paradigma engloba então um conjunto de correntes humanísticas-interpretativas


cujos interesses centram-se a compreender os significados das acções humanas para
diferentes pessoas envolvidas na acção social, buscando contributos da Antropologia e
da Sociologia e alguma fundamentação psicológica (Lukas & Santiago, 2004).

Paradigma sociocrítico

Paradigma sociocrítico, por vezes denominado emancipatório, investigação-acção,


ciência critica, orientado para a mudança, etc. (Coutinho, 2011; Lukas & Santiago,
2004).

Este paradigma vai buscar as suas origens e engloba princípios do neomarxismo, da


teoria crítica de Habbermas, dos trabalhos de Freire e mais recentemente (anos 80-90)
dos trabalhos de Apple e Giroux, opondo-se ao reducionismo do paradigma positivista e
ao conservadorismo do paradigma interpretativo, objectivando emancipação, a crítica e
a identificação de potenciais transformações, admitindo a possibilidade de uma Ciência
Social que não seja puramente empírica nem exclusivamente interpretativa (Gitlin,
Siegel & Boru, 1993; Marques, 1999, apud Coutinho, 2011; Mateo, 2000, mencionado
em Lukas & Santiago, 2004, Adrodomus, 2008). Como afirma Mertens (1998, citado
por Coutinho, 2011, p. 18) o paradigma interpretativo não foi uma solução porque “(…)
mudou as regras mas não a natureza do jogo”.

Segundo Arnal (1992) o paradigma sociocrítico adopta a ideia de que a teoria crítica é
uma ciência social não puramente empírica nem somente interpretativa; os seus
contributos advêm “dos estudos comunitários e da investigação dos participantes” (apud
Alvarado & Garcia, 2008, p. 190). Pretende-se então, fomentar modificações sociais,
dando resposta a problemas específicos presentes no seio das comunidades, com a
participação dos seus membros (Alvarado & Garcia, 2008).

Conforme Alvarado e Garcia (2008), o paradigma sociocrítico sustenta-se na crítica


social com um carácter auto-reflexivo; pretende a autonomia libertadora e racional do
ser humano, considera que o conhecimento se constrói sempre por interesse que provém
das necessidades dos grupos, e se consegue por meio da capacitação dos sujeitos para a
participação e transformação social. Utiliza o conhecimento interno e personalizado e a
auto-reflexão para que todos se conscientizem do seu papel dentro do grupo, propõe a
crítica ideológica e a aplicação de procedimentos de psicanálise que viabilizem a
compreensão da situação de cada individuo, descobrindo os seus interesses através da
crítica. O conhecimento desenvolve-se por um meio de um processo de construção e
reconstrução sucessiva da teoria e da prática.

Este paradigma alicerça-se nos seguintes princípios (Popkewitz, 1998, mencionado por
Alvarado & Garcia, 2008).

I. Conhecer e entender a realidade como praxis;

II. Unificar teoria e prática, integrando conhecimento, acção e valores;

III. Nortear o conhecimento em direcção a emancipação e libertação do ser humano;


e

IV. Propor a integração de todos partícipes, incluindo o investigador, em processos


de auto-reflexão e de tomada de decisões consensuais, as quais se assumem de
forma co-responsável (ambiente de colaboração total entre os investigadores e os
participantes (Lukas & Santiago, 2004).

Como características mais importantes deste paradigma, quando aplicadas no âmbito da


educação, podemos destacar as seguintes (Lukas & Santiago, 2004).

I. Adopção de uma visão global e dialéctica da realidade educativa;

II. Aceitação compartilhada de uma visão democrática do conhecimento assim


como dos processos implicados na sua elaboração; e

III. Suposição de uma visão particular da teoria do conhecimento e das suas


relações com a realidade e com a prática.
A comunidade é toda ela considerada como elemento imprescindível para o trabalho
social, dado que é nela onde os processos de participação são fomentados. A busca de
soluções consiste em estabelecer acções de nível comunitário com incidência
plurifactorial e multidisciplinar, ou seja, de todas as organizações politicas e de massas,
assim como de todos os representantes das instituições de cada esfera do conhecimento,
não só para resolver problemas, mas como para edificar a visão do futuro que
contribuirá para elevar a qualidade de vida dessas pessoas ou a qualidade do
desempenho delas no âmbito da sua acção particular, seja ela educativa, política, social,
geral, entre outras (ibidem).

Na óptica de Habermas (1986) o conhecimento nunca é produto de indivíduos ou


grupos de pessoas com preocupações muito distantes da vida quotidiana, pelo contrário,
baseia-se sempre em interesses que se desenvolvem a partir das necessidades naturais da
espécie humana e que foram moldadas por condições histórico-sociais.

Conclusão

Este artigo buscou tratar dos paradigmas de pesquisa que devem guiar a escolha das
estratégias e técnicas de pesquisa em diferentes campos do saber. Optamos por focar o
positivismo, o interpretativíssimo e o sociocrítico. Os demais paradigmas, tais como
Pós-Positivismo e o Pós-modernismo, guardam peculiaridades e contribuições
relevantes para os diversos campos, contudo, demandariam um amplo espaço para
discussão e análise. Os três paradigmas aqui tratados cobrem boa parte dos estudos
contemporâneos em vários campos. No entanto, deve-se considerar que nenhum
paradigma é melhor do que o outro. Os métodos e técnicas empregadas em coerência
com ambos os paradigmas geram conhecimentos válidos, iluminando, muitas vezes,
pontos de vista distintos em relação a um mesmo objecto ou foco de pesquisa. Nossa
intenção é a de contribuir para que se reconheça a importância de entender os
pressupostos básicos que deverão guiar a escolha de estratégias adequadas de
investigação. Por fim, o que importa é a geração de uma pesquisa de qualidade, de
acordo com os critérios que norteiam cada um dos paradigmas. Buscando uma síntese
do que foi tratado.
Referências bibliográficas

BENBASAT, I.; GOLDSTEIN, D.K.; MEAD, M. A estratégia de pesquisa de caso em


estudos de sistemas de informação.MIS Quarterly, v.11, n.3, p.369-386,. 1987.

Coutinho, C. (2011). Metodologia de investigação em Ciências Sociais e Humanas:


Teoria e Práctica. Lisboa: Edições Almedina.

CROTTY, M. Os fundamentos da pesquisa social: significado e perspectiva no processo


de pesquisa. London, 1998.
Lukas, J. K., & Santiago, K. (2004) Evolução educativa. Madrid: Alianza Editorial

Adrodomus. (2008, Junho 22). Paradigmas da investigação educacional. [Post em blog].


Disponível em http://adrodomus.blogspot.pt/2008/06/paradigmas-da-investigacao-
educacional.html

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