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TOMADA DE DECISÃO
E INTUIÇÃO
2
1. Os decisores são totalmente informados sobre todas as opções
possíveis para as suas decisões e de todos os possíveis resultados das
suas opções de decisão. 2. Eles são infinitamente sensíveis às
distinções sutis entre as opções de decisão. 3. Eles são totalmente
racionais em relação à escolha de opções. (Sternberg; Sternberg, 2011,
p. 489)
3
Um modelo de estudo de tomada de decisão é a teoria de decisão
comportamental, na qual se observa a diferença entre as previsões obtidas por
modelos normativos e os julgamentos e decisões observáveis. O processo
normativo é aquele ideal, uma solução racional, enquanto a perspectiva descritiva
procura observar como a tomada de decisão realmente acontece (Souza, 2010).
A perspectiva da tomada de decisão por normas (normativo), com base na
razão, não contempla as tomadas de decisões intuitivas. Esse modelo racional
parte do princípio de que os tomadores de decisão estão de posse de todas as
informações sobre as alternativas, podendo avaliá-las quanto à sua utilidade,
escolhendo a mais útil (Souza, 2010).
Como observamos, a racionalidade é limitada, e o modelo proposto por
Simon indica esse limite em termos do processamento de informações. Sob
condições de incerteza, essas limitações levam a heurísticas, ou regras práticas:
4
1.1 Uma mente, dois sistemas?
Quadro 1 – Sistemas 1 e 2
Sistema 1 Sistema 2
Intuitivo ou experiencial Analítico, explícito ou deliberativo
Inconsciente Consciente
Automático, sem esforço consciente Controlável, com esforço consciente
Fonte: Elaborado com base em Souza, 2010, p. 48; Sadler-Smith, 2011, p. 15-6; 2008, p. 15-16.
5
o sistema 2 participa ou supervisiona a maioria das decisões? Claro que não! Nem
seria possível! Contudo, o sistema 1 é suficientemente bom para decidir sozinho,
na maior parte do tempo. Mas, em contrapartida, é o sistema em virtude do qual
mais erramos. Por isso o sistema 2 é mais indicado para decisões importantes em
nossas vidas (Souza, 2010).
De fato, os dois sistemas podem funcionar de forma integrada, mas,
mesmo quando trabalham juntos, o sistema 2 é fortemente influenciado pelo 1.
Assim, frequentemente o sistema 2 não consegue corrigir o 1, e as distorções
deste parecem mediar a maioria, senão todos os julgamentos e TDs (Khneman;
Frederick, citados por Souza, 2010).
Você percebeu que o sistema 1 está relacionado à intuição, correto?
Passemos então a refletir mais sobre ela; antes, que tal descobrir qual é a sua
preferência? 1
No geral, você prefere usar sua mente analítica ou intuitiva?
No quadro abaixo, leia cada um dos pares de x e y, e, sem refletir, muito
faça um círculo indicando sua preferência para cada uma das
alternativas [X ou Y, uma ou a outra, não marque duas para um tema].
Por exemplo, se você prefere ser “espontâneo” a ser “reservado” marque
o Y, no lado direito da tabela. (Sadler-Smith, 2011, p. 50)
Quadro 2 – Teste
X Y
1. Ser reservado Ser espontâneo X Y
2. Gratificação Gratificação posterior X Y
imediata
3. Fatos e números Impressões e hipóteses X Y
4. Pequenos detalhes Quadro geral X Y
5. Ser criativo Ser conservador X Y
6. Meus Meus sentimentos X Y
pensamentos
7. O futuro O presente X Y
8. Coisas concretas Coisas abstratas X Y
9. Realidade Possibilidades X Y
10. Ser convencional Romper com as X Y
convenções
Soma total:
1
O teste a seguir serve como referência básica para a observação da sua preferência sobre os
dois modos indicados. No entanto, não se trata de um teste acadêmico elaborado com metodologia
científica. Tampouco implica que o modelo no qual se baseia (dois sistemas) seja consenso
científico nas pesquisas sobre intuição. Ele serve como referência para autoconhecimento e
desenvolvimento pessoal, mas não deve ser usado para se tomar decisões de qualquer natureza.
6
Circule suas escolhas de x e y no Quadro 2, faça a soma de ambos, e
marque os resultados na Figura 1, traçando uma linha reta entre os dois extremos
X e Y.
X ....................................................,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,............. Y
1. .1
2. .2
Mente intuitiva
Mente analítica
3. .3
4. .4
5. .5
6. .6
7. .7
8. .8
9. .9
Escala de preferência de pensamento
Fonte: Elaborado com base em Sadler-Smith, 2011, p. 50.
TEMA 2 – INTUIÇÃO
7
serve como base para julgamentos e decisões (Plessner; Betsch; Betsch,
2008).
• É um reconhecimento ou julgamento involuntário e difícil de articular,
carregado de influência, baseado em aprendizado e experiências
prévias, que chega rapidamente, através de associações holísticas e sem
pensamento racional consciente ou deliberativo (Sadler-Smith, 2008, p.
31).
8
cursor no texto, na tela do computador, para o qual estou ditando as frases que
você está lendo neste momento. Se podemos perceber muitos estímulos à nossa
volta, ou mesmo distantes de nós, como ouvir o barulho de um avião passando, é
notório que há uma grande quantidade de estímulos que nos são imperceptíveis
conscientemente. De fato, a maior parte dos estímulos que sensibilizam nossos
sentidos sensoriais não são percebidos conscientemente.
Mesmo não sendo percebidos dessa forma, eles podem nos influenciar
(percepção implícita). Imagens agressivas e não agressivas foram mostradas
aleatoriamente para sujeitos de uma pesquisa. O tempo de exposição (5
milissegundos) foi mais rápido do que aquele necessário para a percepção
consciente; ou seja, os participantes não conseguiram identificar a imagem
mostrada. Logo após a exposição subliminar, era mostrada uma imagem neutra,
que deveriam avaliar. Os resultados indicaram que os julgamentos foram
enviesados pela exposição anterior, não consciente. Tal efeito ficou conhecido
como mera exposição, com estudos pioneiros tendo sido realizados por Robert B.
Zajonc (citado por Sadler-Smith, 2008). Outro exemplo, mais cotidiano, ocorre
quando estamos conversando com alguém em um ambiente barulhento, por
exemplo em uma festa, e algum assunto de nosso interesse nos chama a atenção.
Neste momento, focamos nossa atenção para ouvir mais daquela conversa. Até
antes desse momento, o estímulo não estava sendo percebido conscientemente,
mas ainda assim estava sendo avaliado, por nós, de forma implícita.
Tal como a percepção, a memória também pode ser implícita. Quando
pensamos em memória, podemos lembrar que ela pode ser entendida em termos
de curta e longa duração. Pode ser dividida em dois: a chamada explícita ou
memória declarativa, que inclui a memória episódica (de eventos) e a semântica
(fatos); e aquela conhecida como implícita ou não declarativa, que inclui a
memória de procedimentos, como habilidades cognitivas e motoras, e o sistema
de representação perceptual, como o prime (priming) perceptual.
10
Nadler e seus colegas realizaram um experimento utilizando mais de
cem participantes para comparar a eficácia de aprender a negociar por
observação e imitação com três outros métodos de treinamento (os
participantes foram divididos em quatro grupos experimentais de acordo
com o método de treinamento). O grupo de aprendizagem observacional
assistiu a um videotape de uma negociação "ganha-ganha" e, quando
testados, alcançaram os resultados mais altos de todos os grupos. No
entanto, eles foram incapazes de articular os princípios aprendidos que
estão envolvidos e que eles realmente praticaram na negociação bem-
sucedida. Eles adquiriram conhecimento implícito de como negociar com
sucesso pela observação do desempenho em vídeo, ajudou-os a ter um
bom desempenho, mas não conseguiram articular por que ou como.
Os aprendizes observacionais não apenas "sabiam mais do que
poderiam dizer", como não sabiam como aprenderam o que
aprenderam. O quadro que emerge dessa breve pesquisa de cognição
implícita está muito distante da visão convencional na administração e
em outros contextos profissionais do conhecimento como uma entidade
tangível e explícita, pensada como mais consciente e da aprendizagem
como um processo controlado e muitas vezes trabalhoso. A educação e
a formação em gestão convencional preocupam-se principalmente com
a aprendizagem explícita e em sala de aula, e tendem a fixar-se em
resultados tangíveis (Sadler-Smith, 2008, p. 143-4, tradução nossa).
11
outro lado, podemos ter processos de raciocínio não consciente quando
percebemos nossos sinais corporais, como as sensações intestinais, que
acompanham as comissões implícitas, e que podem, de forma consciente,
orientar o julgamento e a tomada de decisão. Porém, a “esperteza não consciente”
e os atalhos cognitivos de reduzido esforço têm também suas limitações em
determinados contextos (Sadler-Smith, 2008), como veremos adiante nesta
disciplina.
Para finalizar essa abordagem da intuição como percepção, memória e
aprendizado implícitas, apresentamos um quadro que sintetiza esses elementos.
Explícita Implícita
Percepção consciente em que o Experiência, pensamento e ação na
sujeito é capaz de discernir ausência de percepção consciente do
presença, localização, evento.
Percepção movimento, forma e outros. Ex. a imagem do sorriso ou da testa
atributos palpáveis do estímulo franzida exposta por 5 milissegundos
Ex. palavras na página à sua pode influenciar se o estímulo alvo
frente. subsequente é desejado / não apreciado
("preparo emocional subliminar").
Lembrança consciente ou Qualquer efeito no pensamento e ação da
reconhecimento de informações, experiência atribuível a eventos passados
regras ou eventos. na ausência de lembranças conscientes
Ex. memórias episódicas: lembrar desses eventos.
o que você estava fazendo no dia Ex. dirigindo para casa do trabalho em
Memória de Natal do ano passado. rota familiar. Memórias implícitas podem
estar disponíveis para a percepção
consciente (isto é, podem estar em
estado pré-consciente). Outras podem
estar indisponíveis para a percepção
consciente, mas podem afetar o
pensamento consciente e a ação.
Conhecimento e habilidade Conhecimento e habilidade adquiridos
adquiridos como resultado de independentemente de tentativas
eventos de que o sujeito está conscientes de aprender e na ausência
consciente e cujos resultados de conhecimento explícito sobre o que foi
Aprendizagem estão disponíveis em consciência. aprendido.
Ex. aquisição de regras Ex. reconhecer e usar regras de
processuais de aritmética, ou gramática em nossa língua nativa;
conhecimento de fatos. aprendendo por mera exposição ao
modelo
Fonte: Elaborado com base em Sadler-Smith, 2008, p. 132.
Jamais lhe ocorreu ser indagado sobre algo que você não consegue
responder, mas tem a sensação de que sabe? É como se você soubesse que tem
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a resposta e que, portanto, vale a pena procurar na memória. Esse sentimento de
saber, ou feeling of knowing – FOK, é justamente um estado intermediário de
recuperação. Em termos de pesquisa, duas perspectivas básicas são utilizadas:
os participantes são questionados sobre conhecimentos gerais e precisavam
indicar se sabiam ou não a resposta – quando não sabiam, se tinham um FOK da
resposta certa na presença de alternativas; participantes primeiro estudavam
certos conteúdos, nos quais posteriormente eram testados. Por exemplo, os
participantes precisavam codificar pares de palavras e posteriormente recuperar
esses pares, tendo somente uma das palavras de cada par como referência.
Sabemos assim que, mesmo que não seja possível lembrar, vale a pena
insistir.
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linhas de pesquisas da Psicologia Anomalística 2 sugerem que sim, que não
estaria restrita a informações do passado, integrando também informações do
futuro, de caráter extra-sensorial (Radin, 1997; 2006; 2008; 2011).
2
Psicologia Anomalística designa um campo área de pesquisa da psicologia que investiga evento
e experiências associadas com experiências humanas, que são difíceis de explicar dentro dos
parâmetros científicos vigente, as Experiências Anômalas (EAs). Elas incluem as experiências
fora-do-corpo, de quase morte, alucinatórias, sinestésicas, de sonhos lúcidos, relacionadas à psi,
de contato e/ou abdução por alienígenas, de curas anômalas, experiências místicas ou espirituais,
entre outras. A Psicologia Anomalística as estuda, sem considerar, a priori, que existam
fenômenos anômalos causais relacionados a elas. Segundo a Associação Psicológica Americana
(APA), anômalo não indica disfunção ou patologia, de modo que as EAs podem ocorrer sem
psicopatologia e mesmo ser indicadoras de saúde psicológica acima da média. Estudos em várias
culturas sugerem que cerca de 50% das pessoas relatam ter tido ao menos uma dessas
experiências na vida. No Brasil este índice sobe para a casa dos 85%, com uma amostra de cerca
de 1000 pessoas de SP, PR e SC. Ainda, a maior parte destas pessoas indica ter sido influenciada
pelas EAs em termos de suas atitudes, crenças e tomadas de decisões (Cardenã, Lynn, Krippner,
2013; Machado, 2009; 2010). Uma categoria específica, as EAs relacionadas à psi, sugere a
possibilidade de que a organismos interajam entre si ou com o seu meio sem o intermédio dos
sentidos sensoriais (trocando energia e/ou informação), ou que obtenham informações do futuro.
Essas e outras possibilidades têm sido avaliadas cientificamente, através de estudos de casos
espontâneos, levantamentos e, principalmente, laboratório (pesquisa experimental), mostrando
fortes evidências estatísticas para a existência dos fenômenos psi, tais como telepatia,
precognição e influência mental direta sobre sistemas físicos e biológicos (Radin, 1997; 2006;
2008).
3
Nos estudos de Damásio, a resistividade elétrica da pele é medida como indicador da influência
da emoção na tomada de decisão; nos estudos de pressentimento, essa medida fisiológica
também é utilizada, porém é dada atenção não somente para o momento posterior à apresentação
do estímulo (como no caso dos experimentos de Damásio), mas também aos momentos anteriores
a ele.
15
o mesmo efeito pressentimento, vindo a encontrá-lo em nível significativo. Ou
seja, nos estudos da influência da emoção na tomada de decisão (hipótese dos
marcadores somáticos) feitos por Damásio, há indícios significativos de que as
decisões mediadas pelas emoções (reações corporais) não foram apenas
influenciadas pelo passado, mas também pelo futuro! Assim, este e outros
pesquisadores sugerem que essa reação orgânica prévia poderia estar também
na base de certas emoções, sensações ou sentimentos associados a
pressentimentos-intuição, e que essas experiências orgânicas estariam afetando
a tomada de decisão (Borgeois; Palmer, 2003; Bierman, 2004; Radin, 2011). Isso
parece coerente com os relatos dos participantes de estudos psi Ganzfeld (Silva;
Pilato; Hiraoka, 2003; Silva, 2002), e também com a pesquisa de doutorado de
Silva (2014), sobre como o efeito hipotético antecipatório anômalo para estímulos
aparentemente imprevisíveis poderia afetar a tomada de decisão humana.
Com esta abertura para outras fontes de informação e influência no
processo da intuição, refletimos que os fenômenos psi (telepatia, clarividência,
precognição e ação direta da mente sobre sistemas físicos ou biológicos) têm sido
evidenciados em estudos de laboratório (incluindo pesquisas neurocientíficas),
como sendo amplamente não conscientes, ou sendo melhor observados em
reações orgânicas do que em percepções e descrições cognitivas (Radin, 1997,
2011). Em complemento, um estudo clássico de levantamento de experiências psi
(coleção de casos), feito pela doutora L. E. Rhine, com mais de 10.000 relatos,
verificou que, em 26% dos casos, a forma subjetiva pela qual a informação psi ou
extra-sensorial chega à consciência do experimentador é a impressão intuitiva, ou
um pressentimento ou conhecimento súbito sobre um evento distante (no tempo
ou no espaço) (Targ; Schlitz; Irvin, 2000).
Importante notar que a possibilidade de se obter informações ou
impressões (cognitivas ou fisiológicas) por vias extra-sensoriais do futuro,
passado ou presente (fenômenos anômalos relacionados a psi) não exclui a
influência daquelas pré-existentes no organismo; ou seja, as novas informações-
impressões terão que concorrer com as anteriores na influência dos processos de
tomada de decisão, julgamento e resolução de problemas, ou ainda de
direcionamento.
16
TEMA 5 – UMA ESTRUTURA INTEGRADA DE INTUIÇÃO
17
conscientes e não conscientes. Isso levanta questões sobre a
universalidade da intuição e os possíveis efeitos do condicionamento
social em seu uso. Infelizmente, falta uma visão cultural comparativa
sobre a intuição na literatura ocidental sobre administração. (Sinclair,
2011, p. 5)
(1) Ele pode ter uma rápida impressão desencadeada por experiências
anteriores (estilo associativo), que pressupõe processamento mínimo e
sua natureza associonística implica o envolvimento do sistema
experiencial. Ou (2) pode ser mais complexo, na medida em que
compara a situação atual com esquemas mentais armazenados e
procura uma correspondência ou uma anomalia (estilo de
correspondência). Isso requer um nível mais profundo de
processamento que poderia muito bem usar o sistema deliberativo
adequado para extrair inferências. (Sinclair, 2011, p. 5)
18
5.3 Modo de recepção (percepção) do resultado
Outra distinção deve ser feita entre a falta de consciência de como ocorre
a intuição e nossa capacidade de facilitar o processo conscientemente
ou até mesmo acioná-lo. Parece haver quatro níveis de consciência a
esse respeito, variando de uma situação não consciente acidental
(quando a intuição surge por capricho) a uma abordagem
conscientemente ativa (quando entramos em um estado mental relaxado
com uma clara intenção de intuir o resultado desejado) Parece, portanto,
que "podemos aprender a invocar a intuição à vontade sem saber como
isso gera a resposta". (Sinclair, 2011, p. 7)
19
Esse mecanismo pode ser atribuído a marcadores somáticos que são
memórias codificadas afetivamente reativadas em uma situação
congruente ao contexto [...]. O estilo associativo parece, portanto,
funcionar como uma "correspondência afetiva" simples entre o estímulo
recebido e sua contraparte no "banco somático". Curiosamente, os
estados somáticos parecem ativar diferentes partes do cérebro,
dependendo da proveniência do estímulo [...], o que implica que o
mecanismo subjacente pode ser menos direto do que parece à primeira
vista. (Sinclair, 2011, p. 8)
20
Outra perspectiva, usualmente negligenciada, diz respeito ao papel da
intuição nas interações interpessoais. São características não verbais dos
relacionamentos, como expressões faciais, gestos ou tom de voz, que podem ser
captadas de forma não consciente. Usualmente, são expressões do afeto
subjacente à interação em curso; ou seja, teríamos aqui uma intuição relacionada
à emoção (Sinclair, 2011). Aqui também cabe refletir sobre a possibilidade de
interações intuitivas não locais, ou anômalas entre pessoas, usualmente com
vínculos afetivos entre si. Estudos sobre a observação da distância de outra
pessoa, sem que ela saiba de tal observação, sugerem que aspectos fisiológicos
da pessoa observada são alterados durante os momentos de observação, em
contraste com os momentos de controle (Radin, 1997).
21
passado são integrados aos estímulos presentes, ou situacionais. Por outro lado,
os estudos relacionados ao empreendedorismo sugerem a possibilidade de
detectar o futuro, abrindo a possibilidade de percepção intuitiva não local, ou
anômala. Não se sabe ainda se essa previsão em Curitiba é mais bem explicada
pelo estilo construtivo – com base na experiência, identificam-se oportunidades –
ou pelo estilo criativo, que combina diferentes estilos ao longo do tempo (Sinclair,
2011).
Com relação ao tipo de informação ou à sua procedência, Sinclair (2011)
considera: (i) conhecimento específico de domínio; (ii) experiência geral; e (iii)
exposição superficial. O conhecimento específico diz respeito àquele de domínio
delimitado, como a química ou a física, por exemplo. A experiência geral inclui as
informações e experiências de vida acumuladas ao longo dos anos.
Complementarmente, a exposição superficial diz respeito à percepção não
consciente de estímulos, que podem catalisar processos criativos, por exemplo.
O processo da intuição seria então combinar diferentes conjuntos de informações
de profundidades variadas (Sinclair, 2011).
A autora também considera a aquisição de informações do tempo, ou
seja, o momento em que as informações processadas são integradas à nossa
estrutura de conhecimento. Como referência, Sinclair (2011) indica o passado,
integrando informações e experiências práticas vividas anteriormente,
armazenadas em esquemas ou marcadores somáticos em nosso cérebro e em
outras regiões corporais. As informações do presente também fazem parte dos
processos intuitivos, podendo se constituir na peça do quebra-cabeça que estava
faltando para desvendar, resolver ou criar algo. Por fim, considerando a
possibilidade da não localidade (ou, como preferimos, intuições anormais), a
pesquisadora inclui o futuro como fonte de informações.
Em termos de localização das informações, Sinclair (2011) também
trabalha com três categorias: (i) local interno, (ii) local externo e (iii) não local. A
primeira, talvez a principal, diz respeito ao nosso próprio sistema, considerando
que temos grandes quantidades de informações armazenadas. A segunda, o local
externo, inclui o ambiente no qual a experiência ocorre no momento presente. Ali
os estímulos externos são incorporados ao processamento intuitivo. Por fim,
Sinclair (2011) apresenta a possibilidade de obter informações que estão fora da
nossa presença física e mental, e ainda fora do ambiente que nos é acessível
pelos sentidos sensoriais. São estímulos de caráter não local.
22
Quadro 1 – Estrutura integrada da intuição: tentativa de categorização
Baixo a nenhum xx ? ?
Algum x x x
Dominante ? xx xx
Função principal
Tomada uma decisão xx x? x?
Solução de problemas x xx x?
Interação pessoal x ? x?
Tipo de resultado
Decisão sobre problema/dilema
xx x? n/a
existente
Solução para problemas
xx x n/a
existentes
Criação de novos conhecimentos ? xx x?
Impacto no relacionamento ? ? ?
Informações sobre o futuro ? ? xx
Domínio e / ou Criação Questões e/ou
Área de aplicação prática Inovação oportunidades
profissional Invenção futuras
Atenção
Complexidade
Antecedentes influentes Novidade etc. Apaixonada
etc.
?
Momento ahá
Atributos de resultado Velocidade etc. ?
etc.
Experiência Criação Previsão
intuitiva intuitiva intuitiva
xx = altamente provável; x = provavelmente; x? = talvez; ? = a ser determinado; ?? = a ser determinado, mas teorizado
23
Muito bom, chegamos ao término dessa primeira aula, durante a qual
apresentamos a você uma visão introdutória sobre a tomada de decisão e a
intuição. Como é possível observar, o tema é complexo e muito importante, visto
que essa forma de funcionar (intuitiva) é mais comum do que poderíamos supor.
Juntamente por implicar mecanismos usualmente não conscientes, não nos
damos conta dela, na maior parte do tempo. Não a percebemos e, possivelmente,
não a compreendemos, mas ela é muito importante, visto que está muito presente
quando tomamos decisões, resolvemos problemas e nos relacionamos com
outras pessoas. Não fosse isso suficiente, ela tem se evidenciado crucial na
prática profissional, na liderança e na gestão, na criação, no empreendedorismo
e na inovação (Parikh; Neubauer; Lank, 2003; Itice; Pianaro; Silva, 2011; Pillay,
2011; Sadler-Smith, 2011, 2010, 2008; Barros, 1998).
24
REFERÊNCIAS
25
LENT, R. Cem bilhões de neurônios. São Paulo: Atheneu, 2004.
_____. Intuition and the noetic. In: SINCLAIR, M. (Ed.). Handbook of intuition
research. Northampton: Edward Elgar, 2011.
_____. The conscious universe: the scientific truth of psychic phenomena. San
Francisco: Harper Edge, 1997.
_____. The intuitive manager: profiting from the power of your sixth Sense.
Cornwall: John Wiley & Sons, 2010.
26
SILVA, F. E. Estimulando a Percepção de Experiências Anômalas? Um Estudo
Exploratório com Grupos de Dinâmicas e Vivências In: ENCONTRO PSI:
IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES DE PSI, 3., 2006, Curitiba. Livro de registro de
trabalhos apresentados. Curitiba: Faculdades Integradas Espírita, 2006. p. 92-
101.
TARG, E.; SCHLITZ, M.; IRVIN, H. J. Psi related experiences. In: CARDENÃ, E.;
LYNN, S. J.; KRIPPNER, S. (Ed.). Varieties of anomalous experience:
examining the scientific evidence. Washington: APA, 2000. p. 219-251.
27
AULA 2
TOMADA DE DECISÃO
E INTUIÇÃO
3
Figura 1 – Estruturas cerebrais
5. Amígdala
9
9
1a 33
1 8
2 4 2
2a 7
5 6
1a 2 2
1a
2 2
9 9
3
3
2 8 4
2a 7
5 6 e) Vista medial mesclada com lateral –
várias estruturas prestando informações
para o CPF vm – contador – para que
possa fazer uma decisão
4
Em interação com as características acima citadas, uma função crucial do
córtex orbitofrontal é a representação do valor de recompensa e punição. Sim,
nessa função ocorre a “miopia de futuro”, ou seja, a incapacidade de escolher
baseado nas consequências de médio e longo prazo (Rodrigues; Oliveira, 2013).
Uma subárea do córtex orbitofrontal é o córtex pré-frontal ventromedial
(ou CPFvm), (vide Figuras 1 e 2), ele é considerado o contador no cérebro.
Recebe informações de várias regiões cerebrais, incluindo outros locais dos lobos
frontais e do sistema emocional ou límbico. Com base nesses dados, analisa o
risco-benefício para tomada de decisão. Sua sensibilidade ao risco e benefícios é
variável, por isso, precisa da comunicação e check-in com outras estruturas
(Pillay, 2011; Rodrigues; Oliveira, 2013).
Sob efeito do estresse ou exigência, o CPFvm pode se tornar disfuncional.
Seu funcionamento ideal considera risco, atraso, ambiguidade e avaliações de
valor das escolhas. Para isso, o CPFvm é estrategicamente localizado para
receber e gerenciar informações de muitos outros locais do cérebro. Precisa
dessas informações para funcionar de forma ótima. Essa estrutura tornou-se
famosa porque seu estudo foi um marco no início dos estudos neurológicos da TD
humana. A situação envolveu Phineas Gage, um operário da construção de
estradas de ferro nos E.U.A. Gage, considerado o mais capaz e eficiente entre os
empregados, chefiava uma grande quantidade de homens, na missão de assentar
os trilhos da ferrovia através de Vermont. No verão de 1948, quando preparava
explosivos para abrir caminho para a rodovia, ao calcar a pólvora com uma barra
de ferro, provoca uma explosão que, além de lançá-lo a 30 metros de distância,
rendeu uma perfuração na região do CPFVM (Figura 2) do cérebro, produzida
pela barra de metal que atravessou seu crânio.
Créditos: Van Horn JD, Irimia A, Torgerson CM, Chambers MC, Kikinis R, et al./Licença 2.5
5
Surpreendentemente não morreu e se recuperou rapidamente. Apesar de
aparentar não ter sofrido nenhuma sequela, seu comportamento social e
personalidade modificaram-se radicalmente, vindo a perder seu emprego. Gage
não conseguia mais fazer escolhas acertadas, ao contrário, eram desvantajosas.
Seu caráter degenerou-se, emergindo uma personalidade nefanda. Apesar disto,
manteve integridade de várias funções mentais, tal como atenção, percepção,
memória, linguagem e inteligência (Damásio, 2004).
Tal contraste entre o intelecto preservado (funções cognitivas) e uma
emoção defeituosa levou Damásio (2004, 2009) a refletir que, de alguma forma,
um sinal emocional poderia explicar as falhas na TD; ideia esta que é a base para
sua hipótese dos marcadores somáticos (MS), um ponto de partida para explorar
a função da emoção na TD.
Em síntese, os supostos MS antecipam as possíveis consequências de
uma decisão, atualizando a emoção relacionada aos efeitos de decisões
anteriores semelhantes. Assim, teriam a função de orientar para melhores
decisões (Damásio, 2004, 2009; Cardoso; Zimmermann; Carvalho, 2010).
Como indicado, a emoção tem função crucial na TD e a principal estrutura
relacionada são as amígdalas. Suas funções incluem o processamento da
memória e de reações emocionais. Elas são responsáveis por associar memórias
a eventos emocionais. Com base nessas memórias emocionais, elas atribuem
valor e processam as emoções por ordem de importância. O medo, por exemplo,
tem prioridade de processamento por ser uma emoção forte e muito importante
para a adaptação. São também consideradas como parte de um sistema de
impulsividade no processo de tomada de decisões, como reações emocionais
imediatas. Ainda participam de uma série de processos cognitivos, incluindo
aprendizagem, memória, atenção e percepção (Rodrigues; Oliveira, 2013; Pillay,
2011).
As amígdalas se relacionam com a memória. Outra estrutura que tem
função crucial na memória é o hipocampo, sua atividade envolve a memória de
longo prazo. Sua importância para os sentimentos é que as memórias têm seus
registros emocionais (Pillay, 2011). Não coincidentemente, essa estrutura está ao
lado da amígdala, como pode ser visto na Figura 1, o que significa que o
processamento emocional está intimamente ligado ao processo de consolidação
das memórias de longo prazo (Rodrigues, Oliveira, 2013).
6
O registro de valor relacionado à memória tem um componente adicional,
que é o sistema de recompensa do cérebro. Ele registra a recompensa (prazer)
ou perda quando tomamos decisões, é com base nesse registro que agimos.
Relaciona motivação e aprendizagem com feedback positivo. Está localizado em
sua maior parte no estriado ventral, que inclui o nucleus accumbens (NA) (veja
sua localização na Figura 1), relacionado ao neurotransmissor dopamina (Ghadiri;
Habermacher; Peters, 2012; Pillay; 2011; Rodrigues; Oliveira, 2013).
O sistema de recompensa e de emoções funcionam em conjunto. Com
base na memória emocional, a amígdala atribui valor e processa as emoções por
ordem de importância. O sistema de recompensa produz recompensas primárias,
ligadas diretamente às necessidades de sobrevivência (ex.: comida, bebida, sexo,
abrigo), secundárias, ligadas às necessidades de sobrevivência de forma indireta
(ex.: status social, reconhecimento, valor social, gratidão, confiança, informação,
contato físico, altruísmo) e, também, de caráter individual, ou seja, ligadas à
história de vida da pessoa. Juntos, esses dois sistemas são cruciais para o
processo de motivação, que leva a ação (prática) crucial ao aprendizado,
tornando-se determinante para a Tomada de Decisão (Pillay, 2011; Jensen,
2005), como sugerem Rodrigues e Oliveira (2013, p. 139):
E quando há dificuldades, erros, conflitos? Uma estrutura especial entra em
cena, o córtex cingulado anterior (ACC). Localizado internamente no cérebro,
como mostra a Figura 1, ele fiscaliza o conflito no cérebro, detectando erros e
insuficiências. Sua atividade pode ser observada quando uma pessoa comete um
erro de desempenho, mas não tem consciência de ter errado. Essa estrutura
avalia a magnitude de tais erros e seleciona as respostas adequadas para reparar
as falhas.
Quando uma ação feita para reparar o erro obtém sucesso, essa estrutura
também entra em funcionamento, produzindo uma regulação na qual a pessoa
manifesta um bem-estar emocional. É importante para o sistema de atenção
(mudança do foco da atenção), possibilitando mudar de ideia e perceber opções,
flexibilidade (mental) de adaptação às mudanças do meio, enfrentamento de
problemas/conflitos, previsão de eventos negativos (insegurança), antecipação de
recompensas e atividades cooperativas (empatia social).
Tem uma parte dorsal que se conecta com o córtex pré-frontal e uma
parte ventral que se conecta com a amígdala, ínsula e centros de recompensa do
cérebro, ou seja, é um eixo central das conexões do pensamento e da emoção.
7
Tem funções básicas também, como da regulação da pressão arterial e frequência
cardíaca. (Rodrigues; Oliveira, 2013; Pillay, 2011).
Para que as informações se mantenham na consciência por tempo
suficiente para que possam ser processadas durante uma TD, o córtex pré-
frontal dorsolateral (ou CPFDL), entra em ação. Ele é responsável pela
memória de curto prazo (de trabalho) e para a manutenção e manipulação de
memória recente na TD. Também está envolvido no autocontrole e na atenção
seletiva (Rodrigues; Oliveira, 2013; Rodrigues; Oliveira; Diogo, 2015; Pillay, 2011).
Tal como várias estruturas anteriores, a ínsula (Figura 1) mantém íntimo
contato como regiões do sistema das emoções, estando também envolvida na
coordenação dos processos emocionais. De fato, é um dos lobos corticais e tem
importante papel no processamento de informações visoperceptivas, tornando-as
conscientes; tais como as sensações intestinais, respiratórias e cardiovasculares.
É também crucial na percepção da gustação (paladar), temperatura, cócegas,
olfato, estimulação sexual e toque sensual, dor e seus aspectos emocionais. Ela
registra estímulos aversivos e tem sido implicada na previsão de resultados
aversivos ou negativos (Kapczinski et al, 2011; Pillay, 2011; Rodrigues; Oliveira,
2013).
8
pelo processamento de 10 milhões de bits por segundo, sendo que os demais
sistemas juntos integram 1 milhão de bits por segundo (Callegaro, 2011).
Num fenômeno conhecido como visão cega, pacientes com lesão no
córtex visual reagem a estímulos apresentados na parte cega do seu campo
visual, sugerindo um tipo de visão inconsciente. Os pacientes negam a
capacidade, mas decidem evidenciado tê-la. Eles não percebem a experiência da
informação, visto que a percepção ocorre na ausência da sensação (Gazzaniga;
Ivry; Mangun, 2019).
Um exemplo simples é a resolução do problema da Torre de Hanói (Figura
3), no qual é necessário transferir os anéis de uma torre para outra, sem colocar
um anel maior em cima de um menor e nem retirar mais de um anel por vez. A
tarefa não é difícil, porém quando os participantes são solicitados a descreverem
o método da resolução, suas explicações são bizarras, sugerindo que não
estavam cientes das estratégias utilizadas quando resolviam o problema
(Gazzaniga; Ivry; Mangun, 2006, 2019).
9
o rosto feliz e segurando o bolo (imagem A1, Figura 4), a avaliação tendia a ser
positiva, mas se a fotografia subliminar fosse negativa (imagem A2, Figura 4), o
julgamento também o era. Tal como este, vários experimentos evidenciam que a
percepção não consciente afeta julgamentos, pensamentos e comportamento.
(Gazzaniga; Ivry; Mangun, 2006).
10
explicações que vem ao encontro da perspectiva abordada nos parágrafos
precedentes (Gazzaniga, 2011, Gazzaniga; Ivry; Mangun, 2006, 2019).
Localizada no hemisfério esquerdo, trata-se de uma narrativa privada,
contínua, desenvolvida evolutivamente para lidar com desafios, organizando
nossa subjetividade, por vias não conscientes, de forma a gerar uma síntese
interpretativa que constitui a nossa própria história pessoal. Nossas experiências,
memórias e inclusive TD ganham significado, gerando o senso de unidade
consciente que temos. Contador de fábulas, criador de justificativas (Gazzaniga,
2011, Gazzaniga; Ivry; Mangun, 2006, 2019, Callegaro, 2011).
1Seccionado na região do corpo caloso, impedindo a comunicação entre os dois hemisférios por
essa via. O HD processa as informações do campo visual direito e vice-versa.
11
Figura 5 – Experimento com participantes com cérebro dividido
12
Todos os principais processos mentais podem operar automaticamente,
inclusive a perseguição inconsciente de metas... as principais diferenças
entre o inconsciente cognitivo e o novo modelo estão relacionadas à
ênfase na pesquisa do processamento inconsciente no afeto, na
motivação, na autorregulação, e mesmo no controle e na metamotivação
(Callegaro, 2011, p. 29).
13
deliberações e processos conscientes, também atribui grande valor àqueles não
mediados pela consciência.
Como você pode notar, nosso funcionamento geral e, em particular, a TD
são amplamente não conscientes. Sendo essa uma característica essencial da
intuição, podemos afirmar que, na maior parte do tempo, somos intuitivos(as) e
isso é muito bom! Pois isso é mais eficiente e eficaz que os processos ditos
controlados, racionais. Não que esses sejam menos importantes, apenas menos
frequentes, mas formam um continuum quase indissociável com aquela
contraparte mais poderosa e “silenciosa”.
Passemos agora a abordar, de forma muito breve, as principais estruturas
relacionadas aos processos intuitivos.
14
é designado a principal estrutura do processo intuitivo, essencial também ao
processo de TD em geral (Plessner; Betsch; Betsch, 2008; Pillay, 2011).
15
como as pessoas são influenciadas pela presença (real ou imaginária) dos outros”
(Fischer; Vauclair, 2011, p. 153).
A maioria de nós passa 75% do seu tempo em vigília com outras pessoas.
Precisamos de companhia e amor, buscamos apoio social, em particular quando
estamos ansiosos ou sozinhos. Nosso cérebro parece ter evoluído para resolver
problemas adaptativos e nosso maior desafio adaptativo é justamente lidar com
nossos semelhantes, ou seja, a nossa adaptação social (Gazzaniga; Heatherton;
Halpern, 2018).
Ficamos ansiosos quando isolados socialmente. Nossa natureza requer
contato frequente e estreito com outras pessoas. Temos necessidade
fundamental de pertencer, o que parece ter se desenvolvido por motivos
evolutivos. Viver em grupo aumenta nossas chances de sobreviver e passar
genes (facilitando a proteção, a obtenção de alimentos e o encontro de parceiros
sexuais). Essa necessidade é um motivo básico que afeta emoção, cognição e,
consequentemente, comportamento. Quando não satisfeita pode ter efeitos
nocivos, incluindo doença e morte prematura (Gazzaniga; Heatherton; Halpern,
2018).
Se, por um lado, temos essa extrema necessidade dos outros, da interação
social, por outro, somos também extremamente sensíveis ao contexto social (com
suas normas, padrões, valores). Ou seja, somos fortemente influenciados pelo
poder social. Nosso comportamento se modifica em função do grupo em que
estamos inseridos e com o qual nos identificamos (nossa identidade é construída
socialmente).
Exemplos dessa influência podem ser vistos em fenômenos grupais, como
a desindviduação, no qual pessoas aparentemente pouco autoconscientes
deixam de seguir seus padrões individuais para seguir os do grupo. Isto parece
ocorrer em tumultos de fãs, em saques após desastres ou outros eventos
coletivos, e com jogadores em cassinos lotados. Alta excitação, anonimato e
difusão de responsabilidade parecem facilitar tais comportamentos.
Uma consequência simples disso é que a TD em grupo frequentemente
produz piores ou más decisões. Tendem a ser mais arriscadas ou mais cautelosas
do que de forma individual. Podendo intensificar atitudes iniciais que alguns
membros do grupo que já concordavam entre si, num processo que ficou
conhecido por polarização grupal. Outros fenômenos incluem: a) facilitação
social, quando a presença dos outros faz melhorar o desempenho de pessoas,
16
na comparação com seus resultados quando sozinhas e b) vadiagem social, que,
em oposição ao fenômeno anterior, revela uma tendência de um esforço e
desempenho menores em grupo do que individual (Gazzaniga; Heatherton;
Halpern, 2018).
18
Figura 6 – O modelo da neurociência do consumidor de marca (branding),
mostrando as etapas cognitivas e emocionais relacionadas a efeitos de marca.
1) Representação e atenção
2) Valor previsto
Previsão do consumidor de
quanto gostará da marca
Atualização das associações com
4b) Aprendizagem
3) Valor experimentado
a marca
Memória do prazer/satisfação
com a marca: como isso é
codificado, consolidado e
relembrado
19
Da perspectiva do modelo do novo inconsciente, fazemos escolhas de
forma não consciente e posteriormente justificamos, construindo uma
narrativa para que tal escolha possa fazer sentido pela nossa perspectiva.
4a) Valor lembrado & 4b) Aprendizagem – Todas as escolhas nos trazem
consequências, mesmo aquelas que não nos levam a nada. Com isso, a
TD está intimamente relacionada com a aprendizagem e cada escolha irá
influenciar aquelas subsequentes.
Influências ambientais
Processos psicológicos
20
5.3 TD grupal
21
(3) Desenvolvimento de pressões à conformidade: Mudança no
comportamento ou crença, quando se faz parte de um grupo, como
resultado da pressão real ou imaginária que esse grupo exerce;
(4) Processos de comparação social: nessa necessidade que os
consumidores têm de avaliar suas crenças e capacidades por meio da
comparação com outras pessoas;
(5) Desenvolvimento da polarização do grupo: seleção de escolhas mais
conservadoras por parte de alguns elementos do grupo em
contraposição com escolhas de maior risco tomadas por outros
elementos do mesmo grupo. (Rodrigues; Oliveira, 2013, p. 143)
2
Black Mirror – É o nome de uma série televisa britânica de ficção científica que explora temas
“negativos” da sociedade atual/futura, com ênfase nas consequências ruins e imprevistas das
novas tecnologias.
22
REFERÊNCIAS
FISCHER, R.; VAUCLAIR, C.-M. Influência social. In: TORRES, C. V.; NEIVA, E.
R. (Orgs.). Psicologia social: principais temas e vertentes. Porto Alegre:
Artemed, 2011.
GAZZANIGA, M. S. Who's in charge? Free will and the science of the brain. New
York: Ecco, 2011.
_____. Cognitive neuroscience: the biology of the mind. 5. ed. New York: W. W.
Norton, 2019.
JENSEN, E. Teaching with the brain in mind. Association for Supervision &
Curriculum Deve, 2005.
23
KAPCZINSKI, F. et al. Bases biológicas dos transtornos psiquiátricos: uma
abordagem translacional. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
24
AULA 3
TOMADA DE DECISÃO
E INTUIÇÃO
Emoções fortes;
Estereótipos;
Influências grupais;
Expectativas que se auto confirmam;
Facilidade de lembrar o que nos engana;
Lógica irracional;
Âncoras imprecisas que precisamos;
Molduras (enquadramentos) que distorcem nossas telas perceptivas;
Otimismo que nos ajuda e atrapalha;
Perdas que valorizamos mais do que ganhos;
Posses que supervalorizamos;
Mudanças que evitamos.
1
Black Mirror - É o nome de uma série de TV britânica de ficção científica que explora temas
“negativos” da sociedade atual/futura, com ênfase nas consequências ruins e imprevisíveis das
novas tecnologias.
2
vamos usar todo esse conhecimento para nos engarmos ainda mais? Uma ilusão
sofisticada: percebendo-nos mais imunes (pelo conhecimento) e julgando os
demais.
Nova jornada começando, pronta (o) para ver a (sua) face escura da
intuição?
4
Para esse pesquisador (2010, 2011), a intuição se torna consciência na
forma de um rótulo que indica um sentimento bom ou ruim. Se esse rótulo for
negativo, o sentimento será de repulsa, mas se for positivo, o efeito será a atração.
Quando foi a última vez que eu estava com raiva e tomei uma decisão?
Qual é a intensidade dessa emoção?
Quanto tempo durou?
Qual foi o resultado da minha decisão?
5
nos gerar até reações descontroladas, inapropriados e, o que é pior, negativas,
em relação a essas pessoas ou grupos (Sadler-Smith, 2011).
Por falar em grupos, estes têm papel importante no processo dos
estereótipos. Com frequência, somos positivamente tendenciosos ao avaliar
meu/nosso grupo (in-group) e fazemos o contrário com outros grupos (grupos
externos - out-group), que potencialmente ou efetivamente se apresentam como
competidores em relação ao nosso (Sadler-Smith, 2010, 2011; Cosenza, 2016).
6
Esse efeito é não consciente e com base neurológica (programação
neurológica). Possivelmente, tem suas origens em processos evolutivos. Ter
pensado e feito o que a maioria do grupo estava fazendo e pensando deve ter
trazido vantagens em relação à nossa sobrevivência.
Esse viés é muito comum em nosso dia a dia e pode contribuir para a
manutenção de crenças equivocadas, por exemplo, os estereótipos comentados
acima. Se, por exemplo, acreditamos que as pessoas canhotas são mais
desastradas, tenderemos a observar mais isso entre elas do que na população de
destros, ainda que estes sejam a maioria (Cosenza, 2016). Nossas crenças
enviesam nossa percepção para confirmá-las.
Como pôde ser visto até o momento, e estamos apenas começando, não é
fácil distinguir nossas ilusões das verdadeiras intuições. Em complemento, é
importante lembrar que a mente intuitiva, apesar de funcionar de forma
rápida, aprende de forma lenta.
8
TEMA 2 – DISPONIBILIDADE, ERROS LÓGICOS, ÂNCORA
10
pois há muito mais bancárias do que bancárias que fazem parte de movimentos
feministas. É curioso, mas não surpreendente, notar que as pessoas com
conhecimentos matemáticos apresentam mais aptidão lógica para lidar com as
questões como a que foi apresentada, tal como ocorre com pessoas com alto QI
(Sadler-Smith, 2011).
Caso tenha optado pela alternativa 2, não se sinta mal com isso, visto que
é uma tendência natural da nossa mente intuitiva estimar probabilidades usando
protótipos que são de baixo custo energético, ou seja, pensamentos que não
exigem esforço. Em complemento, é difícil fazer um trabalho de introspecção e
identificar os motivos dos erros de nossas escolhas. Nossa mente intuitiva
trabalha com protótipos porque são mais funcionais do que probabilidade ao
resolver problemas cotidianos, ou seja, funcionam bem na maior parte do tempo
(Sadler-Smith, 2011).
Para auxiliar ainda mais, você se considera uma pessoa mais feliz ou mais
depressiva? Se você for uma pessoa mais feliz, terá maior confiança nas suas
intuições iniciais, o que pode dar mais chances de avaliar incorretamente as
situações. Pessoas mais tristes tendem a duvidar mais de suas impressões
iniciais, aumentando a chance de fazer avaliações mais corretas (Sadler-Smith,
2011).
11
Os sujeitos que tinham obtido o número 10 estimavam em média a
porcentagem como 25%, enquanto que os que tinham obtido o número
65 a estimavam em 45%, ou seja, apesar de um número observado na
roleta não ser informativo para a questão proposta, ainda assim, ele
atuava como uma Âncora a partir da qual os sujeitos faziam as suas
estimativas. (Cosenza, 2016, p. 39)
Sabe-se, por exemplo, que ofertas do tipo compras com limite de oito
itens por pessoa levam a um volume de vendas maior do que se a
chamada fosse compras com limite de quatro itens, ou, mesmo, se fosse
sem limite no número de itens. (Cosenza, 2016, p. 39)
12
se o parâmetro-âncora - então, eles vão ajustando a diferença de preço
buscando equilibrar os dois itens. Mas frequentemente, o produto de
melhor qualidade é um escolhido. Por quê? Psicólogos acreditam que
isso se deva ao fato de a mente intuitiva rapidamente criar um parâmetro-
âncora imperfeito a partir do item de maior qualidade, uma situação que
a mente analítica não consegue corrigir - o resultado é uma decisão
tendenciosa em relação ao produto mais caro. (Sadler-Smith, 2011, p.
146-7)
13
TEMA 3 – ENQUADRAMENTO E OTIMISMO
14
1. Assinatura on-line: $59,00;
2. Assinatura on-line e impressa: $125,00.
15
adoecimento, como sofrer um ataque cardíaco ou desenvolver um tumor
cancerígeno, são subestimadas, e a duração da própria vida,
superestimada. Além disso, as probabilidades de divórcio ou de gravidez
indesejada costumam ser depreciadas. (Cosenza, 2016 p. 63)
Mas não sejamos tão pessimistas com relação ao otimismo, já que se ele
foi selecionado pelo processo evolutivo, vantagens deve nos oferecer. De fato,
oferece. Otimistas tendem a se recuperar mais facilmente de doenças e viver por
mais tempo. Sofrem menos de estresse e ansiedade e são mais resistentes a
doenças infecciosas. São mais saudáveis, e quando adoecem, se empenham
para recuperar sua saúde. No âmbito profissional, acreditam mais em seu
sucesso, tendem ao empreendedorismo, ao qual se dedicam mais, aumentando
suas chances de realizarem sua expectativa otimista. Isso tudo é válido aos
moderadamente otimistas, visto que aqueles que exageram essa característica/
16
viés tendem a ter mais problemas, incluindo o comportamento de risco ligado à
sexualidade, drogas e gastos. Aqueles moderadamente otimistas são mais
prudentes, enquanto os exageradamente otimistas se envolvem em
comportamentos desastrados, chocando-se contra os limites evidentes.
“Otimismo é como um consumo de vinho: doses moderadas diárias são
claramente recomendáveis, enquanto que o excesso deve ser evitado” (Cosenza,
2016, p. 65). Se em relação ao futuro tendemos a ser mais otimistas, para o
presente o que mais nos impacta, ganhos ou perdas?
Qual é sua resposta para a questão do subtítulo acima? Bem, vamos testar
com mais perguntas. Observe os dois problemas abaixo, segundo Kahneman
(2012), adaptado ao nosso contexto por Cosenza (2016, p. 56), e faça sua escolha
em ambos.
17
razões evolutivas, as pessoas tendem a buscar segurança em termos de seus
ganhos, mas, quando se trata de perdas, elas optam por arriscar, em vez de ter
um prejuízo garantido (Kahneman, 2012; Cosenza, 2016).
Essa abordagem é parte da Teoria da Perspectiva proposta por Daniel
Kahneman e Amos Tversky (Kahneman, 2012). Segundo ela, em situações de
incerteza, as pessoas buscam um ponto de referência, a partir do qual conseguem
considerar ganhos ou perdas, sendo que estas estão muito mais valorizadas do
que aquelas:
Fato é que existe uma enorme aversão à perda, que parece estar
entranhada nos circuitos cerebrais encarregados da tomada de decisão.
É importante, para os animais, identificar e reagir a ameaças no
ambiente de forma mais sensível do que percebem as oportunidades,
pois as ameaças têm o potencial de pôr em xeque a sobrevivência e a
reprodução. Provavelmente por isso, desenvolveu-se nos nossos
cérebros um “aplicativo” que calcula as perdas de forma mais acentuada
do que calcula os ganhos. (Cosenza, 2016 p. 56-57)
Qual foi a sua resposta? Foi igual a de 63% das pessoas que consideraram
a primeira alternativa é injusta, e 22% que fizeram o mesmo com segunda
alternativa? Não é difícil notar que elas são equivalentes, mas a primeira enfatiza
a perda enquanto a segunda, a ausência do ganho. É a mesma razão pela qual
entendemos como injusto o pagamento extra pelo uso do cartão de crédito, mas
18
perfeitamente natural o desconto pelo pagamento em dinheiro. Entramos no modo
de defesa emocional quando percebemos a possibilidade da perda. (Cosenza,
2016).
Essa tendência, segundo a teoria da perspectiva de Kahneman (2012;
Cosenza, 2016), está também relacionada a dois efeitos complementares, o efeito
da aquisição e o viés de status quo, que veremos a seguir.
O próprio fato de selecionar o objeto que nos interessa, que desejamos ter,
já é suficiente para que comecemos a valorizá-lo mais do que outras opções, que
não nos interessam. Uma aplicação dessa tendência de valorizar o que
escolhemos pode ser aplicada para valorizar e conservar nossas relações
afetivas, sejam elas amorosas ou de amizade. Basta que reafirmemos
periodicamente as escolhas que fizemos antes, ou seja, que voltemos a escolher
aquele(s) relacionamento(s). Esse simples ato nos traz a consciência de que ele
é valoroso para nós (Cosenza, 2016). Isso pode também ser aplicado a bens
materiais, ou a qualquer situação que tenha implicado em decisão prévia.
19
referência, um ponto de estabilidade, previsibilidade, preferível ao risco da
mudança (Cosenza, 2016).
Agora que conhecemos algumas das muitas formas com as quais podemos
nos enganar, certamente estamos mais aptos a não cometer esses equívocos.
Estamos mais imunes e as pessoas que não conhecem esses vieses têm mais
chance de serem afetadas por eles. Você concorda com essas afirmações?
Talvez possa desconfiar delas, mas ainda assim não lhe soam agradáveis? Pois
bem, essa parece ser a nossa tendência natural. Temos um ponto cego para os
vieses (bias blind-spot) e conhecê-los é garantia nenhuma de que não os
utilizaremos. Talvez, ao contrário, aumentando nossa autoconfiança por conhecê-
los, fiquemos mais iludidos ainda.
Tendemos a nos ver de uma forma positiva, inclusive nos colocando acima
da média mesmo diante de fatos contrários. Resistimos a eles, selecionamos os
dados que confirmam nossas expectativas, convicções. Podemos até admitir de
forma genérica nossa suscetibilidade a erros, mas é mais difícil (e muito honroso)
fazer isso em relação a situações específicas. Tendemos a acreditar que nosso
envolvimento ou determinada situação é justamente o que nos permite ter maior
esclarecimento, mas em relação a outras pessoas é justamente o que provoca
nelas distorções perceptivas, ou vieses (Cosenza, 2016).
20
Emily Pronin (citado por Cosenza, 2016) sugere que a cegueira aos vieses
ocorre em função de dois fatores:
Seguem algumas dicas – ato arriscado, visto que ainda não existe base
científica suficiente para garantir que qualquer atividade produza um resultado
confiável quando se trata de intuição e vieses. Dessa forma, por um lado considere
21
nossas sugestões de forma crítica e, por outro, teste você mesmo(a), procurando
obter suas próprias conclusões.
Sadler-Smith (2010, p. 34) propõe que aprendamos sobre nossas intuições
a partir de duas perguntas: “as pedras angulares da intuição inteligente são as
perguntas ‘o que acontece quando intuo?’ e ‘o que aconteceu quando incluí no
passado?”.
Em nossos estudos, observamos que é importante observar esses
aspectos e também contrastá-los com aqueles que deram errado, ou seja, qual é
a diferença do que acontece comigo quando tenho uma intuição verdadeira, que
se mostra efetiva e eficaz em relação ao que acontece quando acredito ter tido
intuição, mas percebo que não era de fato uma (Silva, 2006, 2009).
Em adição, indico que o nível de confiança muito elevado pode ser um bom
alerta para uma falsa intuição ou ainda uma falsa memória.
Não que não devamos ter confiança em nossas intuições, a confiança
parece ser um fator importante para que possamos planejar e executar na direção
intuitiva obtida. No entanto, seu excesso pode ser prejudicial e até mesmo indicar
que não se trata de uma intuição. Excesso de confiança e/ou paixão sobre algo
pode cegar nossa percepção para falhas pessoais e para situações externar
perigosas ou mesmo desastrosas. Intuições falham ou, se preferir, podemos ter
falsas intuições acreditando que são verdadeiras (Sadler-Smith, 2010, 2011).
De algo não há dúvida: enganamo-nos muito, e usualmente não
percebemos (Callegaro, 2011; Cosenza, 2016).
Sadler-Smith (2010, p. 157, 162) também propõe regras básicas para o
julgamento intuitivo, buscando justamente reparar alguns de nossos vieses ou
intuições fracas:
22
Julgue as pessoas pelo caráter, nunca pelos seus preconceitos ou por
suas percepções primitivas. (Sadler-Smith, 2010, p. 157)
Muito bem, mais uma aula vai sendo concluída! Se você chegou até aqui,
parabéns. Talvez tenha ficado um pouco “balançado” com a quantidade de erros
que comentemos, como nossos vieses, intuições falhas. Se isso ocorreu,
parabéns novamente. Esse é o processo. E lembre-se: o que apresentamos é
uma parte pequena de nossos equívocos, ilusões e vieses cognitivos. Há muito
mais. Mas importante é treinar nossa percepção, questionar nossas certezas,
confianças. Sendo nosso cérebro plástico, o treino modifica seu funcionamento e,
se isso ocorrer, se você treinar sua atenção para os erros mais comuns, abrirá
uma janela para outro nível de consciência, para outra forma de lidar consigo e
com as pessoas à nossa volta. Ao lidar com nossas ilusões e perceber o quão
árdua é essa tarefa, tendemos a ser mais tolerantes com as falhas, com as ilusões
de outras pessoas. Se isso não ocorrer, ou se ocorrer o contrário, mais intolerante
e crítico você se tornará com os outros, a partir desses textos, fique alerta, talvez
esteja usando esses conhecimentos para se iludir mais ainda.
Decidir é crucial para a vida de todos nós e se baseia em nossa percepção,
julgamentos e perspectivas, como crenças, atitudes. Tudo isso ocorrendo em nível
pessoal e coletivo. A maior parte disso, em nível não consciente, intuitivo.
Conhecer e explorar esse nível, com seus acertos e erros, benefícios e riscos é
algo difícil e fantástico. Exige o treino da atenção (ex. Mindfulness) e o trabalho
com as emoções. Que bom que estamos nesse movimento. Aliás, creio que estar
23
nele é o melhor que podemos fazer para que outros também o façam. O exemplo
é a chave. Lembre-se: o que não percebemos de nossas falhas é percebido,
facilmente, pelos outros. Então, se lidarmos com elas, isso também é percebido
e, usualmente, produz positivo impacto.
24
REFERÊNCIAS
COSENZA, R. M. Por que não somos racionais. Porto Alegre: Artmed, 2016.
DENG, I.; DENG, P. S. Cognitive framing illusions and consumer rationality. The
Open Management Journal, v. 4, n. 1, p. 1-8, 2011.
_____. The intuitive manager: profiting from the power of your sixth Sense.
Cornwall: John Wiley & Sons, 2010.
25
TVERSKY, A.; KAHNEMAN, D. Judgment under uncertainty: Heuristics and
biases. Science, v. 185, n. 4157, p. 1124-1131, 1974.
26
AULA 4
TOMADA DE DECISÃO
E INTUIÇÃO
2
artificial (IA) está cada vez mais natural no nosso dia a dia e vai se tornar comum
nas demais tecnologias; a internet das coisas (IoT), na qual nossos objetos se
interconectam uns com os outros por meio da internet; as realidades virtual e
aumentada, transportando-nos para multiversos cibernéticos; a análise massiva
de dados (big data) produzida por toda essa interligação; as nano, bio e
neurotecnologias, que vão nos tornar híbridos com as máquinas (em certa medida
já o somos, smartphones são extensões de nosso cérebro, que é muito plástico)
e revolucionar vários campos; os sistemas inovadores de produção e
armazenamento de energia; drones, para as mais impensadas funções;
impressoras 3D, que imprimirão de tudo, seja físico ou biológico (uma das formas
da biologia sintética), micro ou macroscópico; a computação cognitiva e quântica;
e, como não poderia faltar, a robótica, presente na automação massiva das
indústrias (que reduzirá ao extremo seus quadros de funcionários) e nas mais
diferentes interfaces com humanos (Filatro et al., 2019; Fava, 2018; Perasso,
2016; Saiba..., 2019).
A 4ª Revolução Industrial está ainda nos seus primórdios, o que significa
que as principais mudanças ainda estão por vir. Entre elas, talvez a mais grave
seja a perda de milhões de vagas de trabalho, em especial nos países mais
industrializados. Muitos empregos vão se transformar, extinguir-se, mas outros
tantos surgirão. Assim, a requalificação profissional representa um grande desafio
e provavelmente vai fazer surgir outro tipo de desigualdade social, entre as
pessoas com baixa e elevada qualificação, esta essencial para a empregabilidade
nessa nova fase. Esse cenário de futuro cada vez mais presente, tem Volatilidade
intensa, Incertezas crescentes, Complexidade nunca vista e Ambiguidade
emergente (VUCA) e exigirá, de fato já está exigindo, novas habilidades e o
aprimoramento de inteligências aplicáveis a um contexto extremamente
novo (Fava, 2016; Época, 2019).
Fava (2016) fala das inteligências necessárias para o século XXI, dentre as
quais a inteligência cognitiva, ligada à nossa capacidade de raciocinar, planejar,
sintetizar, resolver problemas e tomar decisões, pensar de forma abstrata e
categorizar. Também, o que se faz cada vez mais necessário, aprender
rapidamente com a experiência, para se adaptar a um mundo novo e
aceleradamente mutável. Essa é uma área onde a inteligência artificial, a
inteligência cognitiva e a aprendizagem de máquinas vão atuar amplamente,
podendo substituir inúmeras atividades realizadas por seres humanos, os quais
3
precisam desenvolver suas habilidades cognitivas. Para isso, a educação precisa
se atualizar para contribuir com esse desenvolvimento.
Como estamos no plano das funções cognitivas, também conhecidas
como funções executivas, adicionamos uma habilidade crucial relacionada a essa
área, a atenção. Em meio à multiplicidade e à crescente quantidade de
estímulos/informações a que estamos submetidos (infoxicação), treinar a atenção
se faz crucial. Para que não nos percamos na ilusão da multitarefa, na dispersão
do foco e no fascínio absorvente das novas tecnologias, o treino estimula a
atenção, o centramento, e a presentificação se apresenta como necessidade
adaptativa atual, pois está relacionada tanto à percepção quanto ao controle ou
regulação emocional, o que inclui a gestão do stress e ansiedade, e
consequentemente a manutenção da própria saúde física, mental e emocional.
Neste tema, devemos destacar as técnicas de mindfulness, que têm sido
aplicadas nas mais diferentes áreas, tais como negócios, educação, segurança e
saúde (Marti; Garcia-Campayo; Demarzo, 2016; Loughton; Morden, 2015).
O treino estimula a atenção também se relaciona diretamente com a força
de vontade, que Fava (2018) nos indica como inteligência volitiva e inclui a
proatividade como elemento crucial para empregabilidade em tempo de mudança,
no qual atividades que não requerem criatividade, ou seja, que podem ser
repetidas facilmente, serão substituídas máquinas ou programas:
4
Como comentamos, o treino da atenção é a base para esse tipo de
inteligência, visto que a motivação é em grande parte dirigida por processos
afetivos, do tipo dow up, ou seja, de estruturas subcorticais (profundas no cérebro)
para estruturas corticais (na superfície do cérebro). Atenção reflexa, automática
também segue o mesmo processo, sendo definida de forma externa pela
qualidade dos estímulos, tal como ocorre com as reações emocionais. Mas a
atenção executiva segue o processo inverso (tipo top-dow), está relacionada à
vontade consciente e pode e de fato deve ser treinada.
Saiba mais
5
Por fim, Fava (2018) apresenta-nos a inteligência decernere, ou seja,
aquela ligada à capacidade de discernir, que influenciará diretamente a tomada
de decisão, particularmente em nosso ambiente VUCA.
Essa inteligência, como bem enfatiza o autor, não conta com pesquisas
acadêmicas, ao menos não com esse nome, mas, como você pode perceber, esse
é o tipo de inteligência que mais se aproxima dos processos intuitivos, os quais
têm como característica o funcionamento espontâneo e não consciente, por um
lado, e por outro, necessitam de processos racionais, cognitivos, para que possam
ser utilizados com eficiência e eficácia. Assim, reduz-se a infinidade de vieses e
processos de autoengano, naturais ao nosso processamento mental. Para que
possamos ter senso crítico em relação às informações externas, ou seja, ao nosso
julgamento em relação às informações do mundo, precisamos desenvolver o
senso de autocrítica, aquele pelo qual observamos nossos equívocos e nos
tornamos mais aptos para discernir, julgar, decidir e, consequentemente, agir,
visando mais eficiência e eficácia.
E, mais ainda, é crucial para que possamos equiparar nosso
desenvolvimento interior com aquele que acontece fora de nós. A maior parte da
pesquisa científica está dedicada ao domínio de tecnologias relacionadas ao
mundo exterior a nós mesmos(as). Há também muitos estudos sobre a nossa
fisiologia e, em particular, sobre nossos processos neuronais. Proporcionalmente,
é muito pequena a parcela de pesquisa dedicada a como desenvolvemos nossas
capacidades internas, emocionais, cognitivas e intuitivas. Esse contraste pode ser
perigoso. Parece que, se não cuidarmos de nós mesmos(as), de nosso
desenvolvimento interno, não cuidamos bem uns dos outros, não conquistamos
harmonia interpessoal, seja ela em nível local ou global. Tampouco conseguimos
harmonia com o meio ambiente.
Dentre as principais preocupações do Fórum Econômico Mundial de 2019,
estão as tensões geopolíticas, potencialmente criadoras de conflitos sociais,
econômicos e até mesmo bélicos. Também existe a preocupação com a
6
sustentabilidade de nosso planeta em função dos evidentes desequilíbrios
climáticos não apenas previstos, mas, em alguns casos, já em curso. Esse fórum,
naturalmente também dedica muito de seu foco à 4ª Revolução Industrial. Por
exemplo, como estimulá-la em diferentes situações geopolíticas nos países em
desenvolvimento, como o Brasil (Saiba..., 2019).
7
Como o mundo está mais transparente, para o mal e para o bem tanto
exsudando diariamente o que tem de ruim quanto multiplicando tudo que
há de bom - que não é pouco -, temos que eleger minuto a minuto o que
vamos impulsionar: egoísmo, etnocentrismo, utilitarismo, ódio, tribalismo
e nacionalismo ou compreensão, tolerância, amor, empatia, diversidade,
colaboratividade e globocentrismo. Na dinâmica da hiperconexão, na
lógica das conexões ecossistêmicas, cabe a nós, tão somente,
impulsionar problemas ou coedificar soluções. Mas Livres, mais
informados, mais conectados e mais conscientes, nossa
responsabilidade com toda a humanidade aumenta. Nossas ações
individuais se multiplicam com facilidade e contam agora mais do que
nunca. A liberdade conquistada, física ou digital, não é o território do
conforto como pensam alguns. É o território da decisão, onde o
pensamento, ao ser compartilhado, se torna ação massiva. (Marins,
2019, p. 31-32)
Em sua obra, Marins (2019) não se apresenta como otimista visionário, mas
mostra dados impressionantes, seja pela qualidade ou pela quantidade, que
suportam suas ideias. Esse processo ao qual se refere o autor é o movimento
transformador da liberdade, o movimento transformador da economia e o
movimento transformador da consciência. Em termos de liberdade, fala-nos sobre
o quanto foi conquistado em termos de nossas necessidades fisiológicas (física),
8
da equidade de raça e de gênero e da liberdade política (cívica) e religiosa
(espiritual).
A segunda dimensão, da economia, indica que nosso mercado capitalista
migra para uma nova fase, a do pós-capitalismo. As transformações profundas
que estão ocorrendo na forma de pensar e de agir, incluindo a dimensão da
inovação e as ferramentas tecnológicas para um novo futuro: “tinge a economia
estatal, privada e da ecologia, com movimentos de evolução dessa percepção e
a sua associação com empreendedorismo social e os novos designs econômicos”
(Marins, 2019, p. 38).
Por fim, o autor considera que a mais importante dimensão desse
movimento transformador massivo é aquela relacionada à consciência! A sua
evolução permite o aperfeiçoamento coletivo e a conquista de um nível de
liberdade pós-convencional. “Essa terceira subdimensão se dedica aos
movimentos de evolução que vão do egocentrismo, passam pelo etnocentrismo e
chegam ao globo-centrismo” (Marins, 2019, p. 38).
Para o autor, a descentralização, a exponencialidade e a inovação operam
tanto quanto pressupostos quanto na geração de resultados. Tem sido assim para
milhões de cidadãos que conquistam uma nova capacidade de pensar e de agir,
descentralizando decisões, soluções e o uso de recursos e informações. Estas,
que até bem pouco tempo estavam centralizadas pelo governos, corporações e
universidades, agora estão distribuídas em torno do planeta de forma exponencial
(Marins, 2019, p. 38):
9
1.3 A intuição na mudança de paradigma
Mudança Estabilidade
Intuição
Complexidade Simplicidade
A mudança global em curso pode ser vista como parte da evolução (da
consciência) humana. Passamos por várias revoluções, parece que estamos
agora nos dirigindo para a revolução da “consciência”, para conquistarmos mais
percepção de nosso mundo interior. Assim, a intuição é vista como um nível mais
profundo de consciência, associado a uma informação distinta, não acessível ao
nível dos sentidos. A 4ª Revolução Industrial é um processo coletivo fruto de nossa
evolução intelectiva e inventiva, é externa e traz impactos muito fortes, mas ainda
não conhecidos. O desenvolvimento da intuição, ou melhor, a conscientização e
seu aprimoramento podem ser considerads também uma revolução, mas
silenciosa, possivelmente essencial para que nos adaptemos de forma saudável
à revolução externa (Marins, 2019; Parikh; Neubauer; Lank, 2003).
Parece não ter permanecido nenhuma âncora! As ideologias foram
desconfiguradas, não cumpriram com suas promessas de padrões e qualidade de
vida. O mesmo ocorreu com os sistemas de valores materialistas e espiritualistas
(Parikh; Neubauer; Lank, 2003).
10
Mudança de paradigma – num nível profundo, a aceleração das mudanças
com a consequente perda das referências convencionais pode indicar a
transformação na visão da realidade, ou seja, na emergência de um novo
paradigma, no qual a perspectiva positivista, determinista, mecanicista,
materialista e reducionista dá lugar a um prisma mais subjetivista de uma visão
aproximada, holística, interligada, na forma de rede ordenada, semelhante a um
pensamento. Essa visão impacta as organizações e seus líderes. Observe tais
mudanças nas gravuras (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 48-49):
11
presidentes de empresas, estão admitindo o uso da intuição na tomada de decisão
(TD).
Sistemas computadorizados de apoio à TD: quando as informações são
disponíveis, a TD tem sido apoiada por sistemas computadorizados, porém a
dependência absoluta desses sistemas leva à paralisia de análise. Em cenários
em mutação, em áreas que não podem ser computadorizadas, no excesso ou na
falta de informação, quando as variáveis não são previsíveis com razoável grau
de certeza, enfim, quando o clima é de incerteza, o uso da intuição é essencial.
Falta de precedentes e problemas mal estruturados: um dos princípios da
TD é a confiança nos precedentes, porém muitas situações emergentes não têm
precedentes nem paralelos. De forma similar, problemas mal estruturados e que
não podem ser avaliados analiticamente (decisões ligadas a contratação de
executivos, aquisições, fusões) carecem da intuição.
Escolher entre alternativas equilibradas: quando as alternativas são quase
igualmente equilibradas, a intuição pode ser também necessária.
Outros itens incluem inovação e empreendedorismo, bem como liderança,
os quais serão considerados no próximo texto.
12
Sobreviver à prosperidade: pela inteligência a humanidade alcançou o
patamar presente; precisa agora da sabedoria para a próxima etapa, para
prosperar, libertando-se de seus temores ligados à sobrevivência, rumando para
uma visão compartilhada do mundo provedor. Com mente e coração superiores,
será possível construir um mundo melhor.
Questões existenciais: a intuição pode auxiliar na compreensão de 4
questões existenciais: necessidade de liberdade; causas do isolamento,
significado da vida e a natureza da morte.
13
poderá consistir-se numa orientação constante, num eixo que mantém um
equilíbrio dinâmico em meio às mudanças contínuas e cada vez mais aceleradas
(Parikh; Neubauer; Lank, 2003).
14
lógica-raciocínio em seu trabalho; 7,5% assinalaram usar mais a intuição do que
a razão, enquanto 38,9% responderam que faziam o contrário.
Os dados do Brasil indicaram que 53,5% dos administradores utilizam mais
a razão que a intuição, 42,1% utilizam em igual medida e apenas 4,4% utilizam
mais a intuição, portanto abaixo da média geral do estudo (7,5%). Um dado
interessante é que os países que mais relatam usar/valorizar a intuição são do
primeiro mundo: Suécia – 8,9%, Holanda – 8,7%, EUA – 8,9%, Reino Unido –
7,5% e Japão – 7,5%!
Esses dados indicam o valor dado à intuição no contexto organizacional.
Porém, cabe acrescentar que não valorizá-la (38,9%) não significa não utilizá-la,
visto que estudos indicam que a utilizamos inconscientemente praticamente o
tempo todo! Como fora comentado, processos intuitivos (de vários tipos) não
conscientes são parte essencial de nosso funcionamento mental e funcionam
involuntariamente quer os percebamos e valorizemos ou não!
Retornando ao levantamento indicado acima, as principais áreas que foram
consideradas relevantes para a aplicação da intuição foram:
a. inovação;
b. Criação de estratégias;
c. Tomada de decisões;
d. Resolução de problemas;
f. Elaboração de uma visão de futuro;
g. Valorização dos potenciais humanos;
h. Encontro/confirmação de sentido existencial;
i. Melhora na autoestima e autoconfiança;
j. Melhora no bem-estar subjetivo (felicidade);
k. Melhora nos relacionamentos interpessoais e
l. Vantagem competitiva (Parikh; Neubauer; Lank, 2003).
Esses dados sugerem que não apenas a intuição tem forte importância na
vida profissional de administradores como é utilizada voluntariamente por 61,5%
15
da amostra investigada. Além disso, é reconhecida como tendo valor em diversas
áreas a atividades.
16
os do comércio, 44% e os do campo de serviços, 41%. Na disposição por gênero,
a classificação é de 70% homens e 30% mulheres. 77% das empresas originaram-
se devido à iniciativa dos próprios donos. 23% das empresas foram adquiridas por
herança familiar. A diferença que se deseja conseguir com a origem da empresa,
se por legado ou por iniciativa do empresário, é analisar as atitudes do empresário
nas suas decisões, desde o momento em que este decide pelo comércio
escolhido. Por que optar por este em vez daquele? Como o empresário chegou a
uma decisão final e decidiu optar por um especifico ramo do comércio? Fatores
de escolha do ramo de atividade: a experiência anterior na atividade é
predominante com 50%, a intuição com 23% e a pesquisa de mercado com 12%.
Deve-se evidenciar a intuição, com um total de 23% de sugestão, como uma
opção de importância na história empresarial desde os primeiros tempos do
estabelecimento (Barros, 1998).
Dentre os resultados, as alternativas “Medito e encontro a solução” e “Uso
a minha intuição” pareceram indicar formas distintas de se referir ao mesmo
fenômeno. Isoladamente a opção “Uso a minha intuição” para resolver problemas
foi assinalada por 34% dos empresários pesquisados. A expressão “Medito e
encontro a solução”, se for analisada como um fator intuitivo, tem um percentual
que sobe para 46%. Verificou-se também que a expressão “Peço ajuda a
terceiros”, como consulta a esotéricos, foi pouco evidenciada pelos empresários
(Barros, 1998). Em termos da referência de acerto na resolução de problemas,
verificou-se que 2/3 dos empresários que relataram utilizar a intuição obtiveram
acertos na ordem de 75% ou mais. Os que optaram pela ajuda mística obtiveram
1/3 de acertos. Verifica-se também que 7% dos empresários afirmam acertar
sempre, ou seja, 100% das vezes. Os(as) entrevistados(as) alegam entender a
intuição como um sexto sentido, como algo que não vem do uso da razão, é uma
forma de percepção extrassensorial, um autoconhecimento adquirido por alguma
fonte que não se situa entre os sentidos clássicos, ficando assim bem clara a
intuição como um fenômeno paranormal (Barros, 1998).
Voltando ao contexto internacional, em um episódio clássico apresentado
pela Newark College of Engineering (Faculdade de Engenharia Newark), os
pesquisadores analisaram a habilidade de precognição entre empresários. Nesse
teste, os participantes criavam uma sequência de números binários de 100 dígitos.
Para verificar o acerto, 100 dígitos eram gerados por um computador, utilizando
técnicas de geração de números aleatórios, sendo então comparados com
17
aqueles criados pelos empresários. Os resultados mostraram que vários
participantes tinham a capacidade de obter escores para além das expectativas
do acaso e, o mais importante, os empresários mais bem-sucedidos (empresas
com mais sucesso financeiro) obtinham escores que excediam de maneira
significativa as probabilidades do acaso. Já os empresários cujo empreendimento
perdia dinheiro apresentaram números inferiores da média e se distanciaram
expressivamente dos níveis do acaso (Mihalasky, 2010).
Kasian (2006) da Akamai University, investigou os sonhos que pareceram
predizer vendas de propriedade. Dez participantes foram selecionados e, após
fornecer um relato de sonho escrito, os participantes foram entrevistados por
telefone. Aos dados da entrevista integraram-se os relatos dos sonhos para
responder à pergunta da pesquisa. Os relatos continham temas de amizade e de
familiaridade acima da norma, e agressão e negatividade abaixo da norma. Esses
sonhos pareceram informar, alertar, inspirar e acoplar o sonhador a perseguir
pessoalmente opções significativas de casas. Porque as imagens sonhadas se
assemelharam frequentemente à propriedade vendida. Junguianos considerariam
tal correspondência entre uma experiência interna e um evento exterior uma
sincronicidade. Na escala de absorção, os participantes marcaram 26 (p<0,02),
alto comparada ao normativo de 20, com um desvio padrão de 6. Os participantes
que terminaram a escala criativa da personalidade produziram uma contagem
média de 8.6 (p<0,02), alta comparada ao normativo de 3.6, com um desvio
padrão de 4.1. Nos testes de Torrance do pensar criativo, as contagens medianas
dos participantes, as figurais e as verbais caíram nos percentis 90 e 56,
respectivamente. O estudo autoriza pesquisa adicional a demonstrar como
maneiras sutis, anômalas do saber podem suplementar decisões lógicas,
racionais (Kasian, 2006).
Esse professor (Silva; Martins, 2020) realizou um estudo experimental,
desenvolvido numa empresa imobiliária de Curitiba, verificando se era possível
que 16 corretoras se utilizem de intuição-psi (clarividência e precognição) para
aumentar suas locações. O estudo foi conduzido no mês de junho e julho/2011. A
proposta teve como objetivo avaliar os escores de testes psi (clarividência e
precognição) das corretoras de imóveis e correlacioná-los com os níveis de
locações destes. Os resultados não são conclusivos, mas foram significativos.
Mais detalhes dessa pesquisa são apresentados posteriormente.
Esses poucos estudos indicam que a intuição-psi ou anômala
18
possivelmente faça parte das decisões profissionais, e ainda mais, talvez estejam
ligadas ao sucesso, à vantagem competitiva. Naturalmente, como se trata de uma
área nascente de pesquisa, os resultados precisam replicados e novas pesquisas
desenvolvidas em quantidade e qualidade considerável para que possamos ter
mais referências sobre esse tipo de intuição, se de fato existe e quais suas
características no contexto organizacional. De qualquer forma, é uma área muito
promissora e provavelmente relacionada às profundas mudanças atuais e ao
futuro do desenvolvimento da consciência humana.
Por volta das 23 horas, um bebê de sete meses acompanhado por sua babá
chegou sem nenhuma queixa específica. De repente, senti meu estômago
revirar. Avaliei os sinais básicos do bebê, não encontrei nada incomum e o
peguei e informei ao pediatra que eu o estava levando para a área de
ressuscitação. Quando perguntado por que, eu respondi que ele precisava estar
lá. O residente não teve escolha senão me seguir. Duas horas depois, o bebê foi
internado na sala de operações, necessitando de reparo de um grande defeito
do septo ventral não diagnosticado anteriormente. Mais tarde, o pediatra
perguntou como eu sabia sobre a insuficiência cardíaca. Não pude responder,
pois tinha a sensação de saber que algo estava seriamente errado. Essa
experiência me perturbou. (Lyneham et al. citados por Langan-Fox; Vranic, 2011,
p. 111)
19
a intuição é caracterizada como percepção direta, e como um fenômeno
lícito, observável e mensurável, potencialmente ensinável e parte
apropriada da ciência da enfermagem. (Effken, citado por Langan-Fox,
Vranic, 2011, p. 112)
4.2.1 Bombeiros
20
base em pouquíssimas informações. Essas decisões frequentemente podem
fazer a diferença entre a vida e a morte. Murgallis (citado por Langan-Fox; Vranic,
2011), num artigo da Harvard Business Review, afirma que a intuição é uma
habilidade crítica para os grupos de combate ao incêndio de alta
performance. Relata também que ela pode ser apreendida “por meio de
treinamento, leitura, resposta a emergências e conversas com veteranos” (Effken,
citado por Langan-Fox; Vranic, 2011, p. 113).
Buckman (citado por Langan-Fox, Vranic, 2011) é um treinador de
bombeiros. Ele enfatiza a importância dos “dois primeiros segundos” no combate
ao incêndio e que a intuição é muito relevante, ao ponto de que sua utilização
deva ser ensinada aos bombeiros, oficiais, chefes e comandantes de incidentes.
4.2.2 Exército
21
que deve, em última análise, guiá-lo na tomada de decisões eficaz.
(Handel citado por Langan-Fox; Vranic, 2011, p. 114).
Considere o que você estudou sobre intuição e responda, por favor: ela é
uma estratégia boa para o ensino?
Tradicionalmente, professores e professoras conduzem seus estudantes
passo a passo, explicando conteúdos e procedimentos para que eles(elas) os
dominem de forma explícita, sendo capazes de reproduzi-los prática e
teoricamente de forma deliberada, consciente, justificando as razões pelas quais
o fizeram (Iannello; Antonietti; Betsch, 2011). Estamos nos referindo ao sistema
2, analítico, consciente, liberado, dispendioso e lento. A intuição, por sua vez, está
mais relacionada ao sistema 1 (Intuitivo ou experiencial), no qual os processos
mentais ocorrem rapidamente, de forma não consciente, apresentando evidências
diretas, sem requerer raciocínio lógico, tampouco evidencia como chegou a
determinada conclusão (Kahneman, 2012). Assim, a docência não deve conduzir
aos processos intuitivos, ou seja, à compreensão de conceitos ou aplicação
procedimentos intuitivamente. Ao contrário, as concepções que os alunos
22
apreendem espontaneamente da realidade (intuições) geralmente estão erradas
e precisam ser estruturadas por meio dos conceitos acadêmicos. Nessa
perspectiva, a intuição pode ser igualada ao senso comum, usualmente ilusório,
ingênuo.
24
utilizem ambos os sistemas, conforme as necessidades (Iannello; Antonietti;
Betsch, 2011).
Um exemplo da importância desses estilos para a aprendizagem é
mostrado nos estudos em que o aprendizado se dá por meio de hipermídia. Nela,
os dispositivos institucionais mostram-se em vários formatos (ex.: textos, falas,
gráficos, figuras, filmes, entre outros). Além disso, os(as) estudantes podem
acessá-los na ordem que desejar, por exemplo, pulando de um conhecimento
para o outro com base em suas preferências pessoais. Essa flexibilidade é
considerada positiva, pois pode facilitar ambos os estilos cognitivos (Iannello;
Antonietti; Betsch, 2011, p. 173):
25
esse tipo de habilidade intuitiva. Por exemplo, em algumas aldeias
africanas, as crianças recolhem pedras em pequenas pilhas e adivinha
quantas pedras há em cada pilha: a criança que estimou com sucesso o
número de pedras à primeira vista é a vencedora. Da mesma forma, na
Europa durante o período renascentista, a capacidade de avaliar a
quantidade e / ou tamanho dos produtos a serem comprados foi muito
apreciada, uma vez que os comerciantes nem sempre eram capazes de
contá-los e medi-los; consequentemente, os aprendizes foram
incentivados a confiar em intuições desse tipo. Esses exemplos
etnográficos e históricos sugerem que a intuição pode desempenhar um
papel no ensino.
26
matemática, quanto nas organizações, em particular quando nos referimos à
inovação e ao empreendedorismo.
27
(experiências anômalas) em amostras brasileiras é muito alta, na ordem de 85%,
qual seria o papel ou a importância desse tipo de intuição no processo de ensino-
aprendizagem? Poderia esse tipo de intuição ser ensinada-aprendida? Poderia
auxiliar na resolução de problemas, na orientação, na tomada de decisão
relacionadas ao contexto escolar/acadêmico?
A produção de conhecimento científico é significativa e crescente nessas
áreas. Diante dela, deveríamos nos abrir para o novo, talvez para uma nova
educação?
Com todas essas dúvidas, que nos reportam à nossa fantástica ignorância,
por um lado, e imensas possibilidades ainda inexploradas por outro, concluímos
nosso texto. Parabéns por chegar até este ponto! Espero que tenha gostado, ou
ao menos se inquietado com a aventura.
28
REFERÊNCIAS
COSENZA, R. M. Por que não somos racionais. Porto Alegre: Artmed, 2016.
KASIAN, S. J. Dream homes: when dreams seem to predict real estate sales. III
Encontro Psi, p. 76 a 90, 2006.
29
LANGAN- FOX, J.; VRANIC, V. Life, death, and intuition in critical occupations. In.
SINCLAIR, M. (Ed.). Handbook of intuition research. Northampton: Edward
Elgar, 2011.
LOUGHTON, T.; MORDEN, J. Mindful nation UK: report by the mindfulness - All-
Party Parliamentary Group (MAPPG). London: Mindfulness Initiative, 2015.
MIHALASKY, J. Applied Esp: managing and problem solving with the aid of the aid
od the unconscious. Ultrmind, 2010. Disponível em:
<http://www.ultrmind.ws/esp_for_executives.htm>. Acesso em: 15 fev. 2020.
RADIN, D Intuition and the noetic. In: SINCLAIR, M. (Ed.). Handbook of intuition
research. Northampton: Edward Elgar, 2011.
30
WALLACE, B. A. A revolução da atenção: revelando o poder da mente focada,
Petrópolis/RJ: Vozes, 2018.
31
AULA 5
TOMADA DE DECISÃO
E INTUIÇÃO
Olá, bem-vindo(a) a mais uma nova experiência! Nela vamos nos aventurar
na intuição aplicada ao empreendedorismo. Você vai compreender os estilos
intuitivo e reflexivo da mente e descobrir, se ainda não sabe, que o melhor estilo
são os dois juntos, ou seja, uma mente ambidestra. Liderança e
empreendedorismo intuitivos também estão em nossa trilha. E, deixando o melhor
para o final, vamos conhecer um modelo de aplicação da intuição para visionar o
futuro. Onde sua empresa ou empreendimento pretende chegar em cinco, dez
anos? É possível antever e/ou criar uma visão de futuro integrando intuição e
razão? Qual o poder de uma visão, para uma empresa?
Relaxe seu corpo, prepare sua emoção, aguce sua razão e, principalmente,
libere sua intuição...
1.1 O empreendedor
2
que essas duas categorias são indissociáveis e devem ser estudadas em conjunto
para melhor se compreender tal comportamento (Nassif, 2014).
3
processos. A intuição empreendedora permite a identificação de oportunidades
viáveis quando outras pessoas nada percebem (Kickul; Gundry, 2011).
1. intuitiva: de 0 a 28 pontos;
2. quase intuitiva: de 29 a 38 pontos;
3. adaptativa: de 39 a 45 pontos;
4. quase analítica: de 46 a 52 pontos;
5. analítica: de 53 a 76 pontos.
6
Os participantes da pesquisa também consideraram a intuição
indispensável para realizar a interseção entre dados objetivos e subjetivos
(pessoas e informações) (Robson, 2015).
Uma utilidade especial da intuição é fazer julgamentos sobre pessoas,
porque estas são usualmente complexas, incertas e, dessa forma, imprevisíveis,
até enganosas e maquiavélicas. Por isso, os participantes da pesquisa revelaram
depositar uma alta prioridade nesse tipo de julgamento, visto que percebem as
pessoas diretamente relacionadas ao sucesso de todos os aspectos da estratégia
organizacional. A intuição é a única ferramenta para alcançar fatores intangíveis
e qualitativos, em uma tomada de decisão. Talvez seja, ainda, a única defesa
contra pessoas disfuncionais, enganosas, corruptas ou psicopatas
organizacionais (Robson, 2015):
7
[…] minha experiência como líder, na verdade, se aprofundou – evoluiu”
(Robson, 2015, p. 28, tradução nossa).
“Se minha intuição me dissesse que algo não iria funcionar da maneira
que as pessoas me apresentavam com base em evidências, eu não
ignoraria totalmente minha intuição. Eu não lançaria completamente um
plano de ação que negasse minha intuição. Eu provavelmente daria
algumas concessões e daria passos menores” [...]. Assim, em vez de
usar a intuição como um substituto da análise, os participantes usariam
a intuição de mãos dadas com a análise (Robson, 2015, p. 28, tradução
nossa).
Como pôde ser visto nesse último relato e também já deve ter ficado
evidente, pelos conteúdos anteriores, o uso da intuição não exclui o uso da razão
ou da análise. Ambas – intuição e razão – são falíveis e, portanto, podem
auxiliar mutuamente numa tomada de decisão. Vários participantes indicam que
verificam suas impressões intuitivas por meio de pesquisas e análises detalhadas,
quando isso é possível, o que está relacionado à natureza do problema, a se ele
é de ordem mais qualitativa ou quantitativa e ao seu contexto.
“Eu nunca diria que iria apenas com intuição. [...] Eu sempre tentava
entender cognitiva ou intelectualmente, usando as evidências
disponíveis, e tentava vincular isso ao que minha intuição está me
dizendo”. Consequentemente, quase todas as tomadas de decisão
foram percebidas como várias misturas de análises e intuição (Robson,
2015, p. 28-29, tradução nossa).
A Figura 1 indica uma matriz condicional elaborada com base nos dados
da pesquisa (Robson, 2015). Ela descreve as condições que suprem os cenários
de tomada de decisão que influenciam o modo cognitivo, se mais intuitivo ou
analítico. A tomada de decisão pode ser feita mais de um modo que de outro, com
mais intuição ou mais análise, mas praticamente nunca esses processos se
excluem um do outro.
Combinação
Natureza Contexto da
análise/
da decisão decisão
intuição
Quantitativa
9
necessários. Então, podemos pensar se existem caminhos para alcançar uma
mente ambidestra e também se seria benéfico aprender a trabalhar com pessoas
com modo diferente de pensar do nosso (Sadler-Smith, 2008, 2010, 2011).
Importante notar que existem quatro aspectos que influenciam a nossa
tendência e, por conseguinte, a nossa confiança na intuição ou no processo mais
analítico:
11
2. Gestores com mente intuitiva - inovadores por natureza - costumam
ser muito bons em ter ideias, mas sem ajuda de alguém que possa
planejá-las e implementá-las, suas mentes intuitivas não teriam grande
uso prático (Sadler-Smith, 2011, p. 48).
Ou seja:
Para que o negócio seja eficiente, é vital que ele, seus líderes e gestores
mesclem “clareza lógica e poderosa intuição”. Empresários e executivos
precisam conseguir inovar, criar estratégias e liderar, assim como
comunicar e enfatizar tudo isso junto às suas equipes; e, para ser
eficiente na imensa variedade de problemas enfrentados e decisões
tomadas no atual mundo dos negócios, é necessário ser cognitivamente
ambidestro (Sadler-Smith, 2011, p. 48).
Se, por um lado, podemos passar uma vida inteira sem nos incomodarmos
com a mão que mais utilizamos, se a direita ou a esquerda, o mesmo não é válido
para o mundo dos negócios, no qual não teremos sucesso se não desenvolvermos
ambos os lados de nossa mente (intuitivo e analítico). Isso ocorre porque “[...]
tanto na vida pessoal quanto profissional, e seguramente no mundo dos negócios
e da administração, é muito difícil alcançar o sucesso operando com a mente em
apenas um módulo” (Sadler-Smith, 2011, p. 48).
12
própria construção será feita sobre uma base de subjetividade. Também não é
interessante quando a listagem de prós e contras de uma determinada situação
pode se dar de forma indefinida. É igualmente inválido que os pesos dados a um
dos atributos não possam ser mensurados de forma objetiva, se aproximando
mais de uma opinião. Por fim, se esses pesos variarem de acordo com o estado
de espírito de quem os está avaliando ou ainda por força de novas informações
que podem emergir, o processo racional também não é o mais indicado, de forma
isolada.
Como processos mais racionais estão, a princípio, conectados àqueles de
caráter mais afetivo, uma boa prática para descobrir qual a propensão emocional
por detrás de uma determinada avaliação racional (quando isso não é evidente)
é, segundo Eugene Sadler-Smith (2009, 2011), o lançamento de uma moeda,
sendo que a cara e a coroa representarão escolhas para a situação em foco. Após
lançar a moeda e um dos resultados for identificado, o autor sugere que
observemos nosso corpo, ou melhor, nossa reação corporal diante do resultado.
Sentimo-nos aliviados ou desconfortáveis com o que se apresenta? Essa reação
instantânea surge sem nenhum controle e pode ser percebida, indicando qual
nossa preferência emocional diante de uma determinada a escolha, ou seja, o que
estamos querendo e do que estamos fugindo.
Perceber essa preferência pode ser muito útil para se evitar vieses não
conscientes na avaliação racional dos fatos. Em complemento, se estabelece uma
linha direta com nossos próprios sentimentos e também com a mente intuitiva.
14
b. holismo: ou a capacidade de perceber a situação na sua totalidade, sem
ficar preso às análises;
c. afetividade: ele reconhece e presta atenção nos sentimentos como
informações sutis que são tão importantes quanto aquelas obtidas pelos
fatores objetivos;
d. conhecimento de que é falível: gestores e gestoras intuitivos(as) sabem
que a intuição não acerta sempre; mesmo assim, com ela eles(as) obtêm
mais acertos do que erros;
e. capacidade de se manter informado: com anos de experiência, feedback
e aprendizado, gestores e gestoras intuitivos(as) sabem instintivamente o
que fazer, mesmo sem poder explicar de forma exata as razões desse
saber (Sadler-Smith, 2009, 2011).
15
5. prazo limitado para tomar uma decisão: diante de uma possibilidade,
é necessário decidir rápido; do contrário, um concorrente poderá
obter vantagem agindo antes que você (Sadler-Smith, 2011, p. 51).
16
quando isso acontece, temos nas mãos um grande problema (Sadler-
Smith, 2011, p. 63).
Contadores 82 54 -28
Atores 51 80 +29
Empreendedores 72 67 -5
17
preferido. Com exercício sistemático e avaliação dos resultados, é possível que
nos tornemos ambidestros cognitivos.
Que o melhor que se pode fazer é ter uma noção de direção a ser
seguida – uma intuição [de] onde estão as grandes oportunidades. Em
segundo lugar, desde o início, é preciso criar um “conflito controlado” de
modo a garantir que a intuição também faça parte do mix que compõe o
mecanismo do DNA do negócio. Mas não precisa ser uma intuição
compartilhada por todos – uma mentalidade crítica, que administra o
conflito entre o criativo e o construtivo é essencial na concepção de um
novo negócio (Sadler-Smith, 2011, p. 241).
18
3.2 Planejar ou simplesmente fazer?
19
4.1 Prontidão
Enxergar padrões que outros não percebem é como qualquer outro tipo
de especialização, e leva-se anos para desenvolver. Por exemplo, o
sucesso de Bill Gates pode ser atribuído a vários fatores, incluindo o seu
passado, sua personalidade, as circunstâncias em que vivia e as
motivações. Creditar o sucesso dele, ou de qualquer outro grande
empreendedor, a apenas um motivo (como a intuição) seria uma
simplificação grosseira (Sadler-Smith, 2011, p. 246).
20
4.2 Criatividade e expertise
Direção essa que pode contribuir com diferentes áreas. Como indicado, a
ciência é uma delas. William Shockley ganhou o Prêmio Nobel em Física em 1956,
por inventar o transmissor. Ele foi descrito por um colega como uma pessoa
extremamente intuitiva, como se pudesse enxergar os elétrons ou ter a
capacidade de sentir o que acontecia dentro do silício. Outra sumidade científica,
Albert Einstein, declarou que a única coisa que realmente tem valor é a intuição,
21
se referindo às descobertas científicas. Se é válido para a ciência, também o é
para a administração de negócios e para o empreendedorismo. A visão periférica
da intuição permite que empreendedores e empreendedoras sintam as tendências
antes que elas se tornem em foco (Sadler-Smith, 2009, 2011).
22
aspecto de motivação, implícito e explícito na visão de futuro, ocorre porque essa
visão integra as pessoas. Por exemplo: o que queremos criar juntos? Essas visões
têm o poder de, literalmente, “criar futuros”!
Em 1928, William Paley, na época com 27 anos, assume à frente da
CBS. Nesse momento a companhia estava tendo prejuízos, não tinha emissoras
de rádio próprias e tampouco estava entre as maiores do ramo. David Halberstam
(citado por Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 142) descreve que o que Paley
tinha desde o início era uma visão, uma percepção daquilo que poderia
ser. Era como se ele, em Nova York, sentado no pequeno escritório de
uma empresa quase falida pudesse ver não apenas a sua escrivaninha
e uma série de anunciantes em potencial, ao longo da avenida Madison,
milhões de americanos no interior, muitos deles em casas ainda sem
eletricidade, pessoas solitárias para as quais o rádio era praticamente a
única forma de diversão. O que tornou diferente foi a sua percepção, sua
confiança de que poderia chegar até elas e de que tinha algo para lhes
oferecer. Ele pode ver uma audiência onde, de fato, não havia
audiência alguma. Ele não apenas teve uma visão como também soube
aproveitá-la.
[...] Assim, nossa visão é de que uma revolução do software está agora
ocorrendo em faculdades e em cada campus universitário. Você não
pode dar a um estudante de biologia um laboratório de DNA
recombinante ao custo de cinco milhões de dólares; mas você pode
simular essas coisas, pode fazer isso no computador poderoso. Os
alunos não podem comprar essas máquinas, nem tampouco a maioria
dos professores universitários. Assim, se considerarmos aquilo que
melhor sabemos fazer, que é descobrir uma tecnologia realmente boa e
colocar lá no mercado a um preço que as pessoas possam pagar, e se
pudermos fazer o mesmo para esse tipo de computador, que poderá ser
dez vezes mais poderoso do que um computador pessoal, então acho
que poderíamos exercer uma influência significativa sobre a maneira
como as experiências de aprendizado vão ocorrer ao longo dos próximos
cinco anos. E é isso que estamos tentando fazer… Um de meus maiores
desejos é o de que possamos construir o NeXT. Eu também ficaria feliz
se as pessoas que estão pensando em trabalhar para nós, ou comprar
os nossos produtos, ou que querem nos vender algo, sentissem que
estamos fazendo isso com paixão. Fazemos isso porque realmente nos
importamos com a educação superior e não por dinheiro (Gates, citado
por Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 143).
23
poderosas são declarações de intenção que criam na empresa toda uma
obsessão pela vitória” (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 144).
E é interessante notar que esses visionários confiam em suas intuições
mesmo sem ter dados concretos, no momento que elas surgem. Quando Steve
Jobs tentou convencer empresas de computação a investir em sua ideia, de
viabilizar computadores a uma grande parcela da população, recebeu como
resposta, de muitas, que, com base em dados de pesquisa, não havia mercado
para computadores pessoais. Isso também exemplifica que essas visões e esses
visionários interpretam um ambiente de uma forma diversa daquela obtida pela
maioria e, por estarem submersos nessa visão, acreditando totalmente nela,
também se dispõem a correr os riscos e a experimentarem (Parikh; Neubauer;
Lank, 2003).
24
Figura 2 – Processo de construção da visão: o modelo PN
Oportunidades
no ambiente
Etapa 9
Visionamento Visão Visão Revisão
reflexiva reflexiva permanente
reflexivo
individual partilhada*
Etapa 6
Tensão
Planos de
Acentuamento
criativa ação
da intuição
Etapa 8
Realidade do
Visionamento Visão Visão momento
intuitivo intuitiva intuitiva
Etapa 7 Revisão
individual partilhada*
permanente
Aplicação da intuição Etapa 4 Etapa 5 Etapa 9
na construção de
visões
26
5. chapéu amarelo, pensamento que se opondo ao preto e representa o
pensamento lógico-positivo, cujo enfoque é otimista, construtivo, mas com
lógica e raciocínio;
6. chapéu azul, o primeiro e último chapéu, com o qual se representa a
estrutura, o equilíbrio, o autocontrole e a tranquilidade – por isso, as
práticas devem iniciar e terminar com ele (Bono, 2016; A técnica, 2018;
Edward, 2019).
28
contraponto aos turistas, que reduziram seu consumo em função da crise
(Albuquerque, 2011). Os autores acrescentam outras questões (Parikh;
Neubauer; Lank, 2003, p. 165-167):
29
especificidades representarem as divisões heterogêneas de uma empresa, o
processo prossegue no nível divisional, buscando-se chegar a uma visão
partilhada dessas unidades. Posteriormente, procura-se então a integração
dessas diversas visões numa perspectiva total para a empresa (Parikh; Neubauer;
Lank, 2003).
Como pode ser observado, as três primeiras etapas se situam no espaço
da racionalidade, ambiente com o qual os participantes estão familiarizados. Isso
facilita o início dessa jornada, permitindo-lhes conforto e confiança, antes que a
proposta de ruptura seja efetivada, mediante processos intuitivos não racionais,
que vão permitir o benefício total do processo de visionamento, segundo o modelo
de Parikh, Neubauer e Lank (2003).
Ela implica uma total ressonância com o que quer que o indivíduo queira
fazer na vida, com os impulsos básicos, quaisquer que sejam eles, e com
os seus sonhos interiores mais puros. Em outras palavras, depois de o
indivíduo estender ao máximo – intelectual, racional ou realisticamente
– sua imaginação no contexto das possibilidades do mundo real, isto é,
no desenvolvimento da visão reflexiva, ele deve passar para outro nível
de atividade mental – o nível intuitivo – e ganhar acesso ao seu mundo
interior através de alguns processos mentais para criar uma visão
intuitiva (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 168-169).
31
Figura 3 – O trabalho como visão tornada visível
Simbolização:
(a) vida pessoal:
Recebendo: depois de ser totalmente absorvido pelo seu próprio eu
interior, você começa a sonhar e a criar uma imagem daquilo que
realmente quer em sua vida pessoal, facilitar, em suas relações de
32
amizade e em outras atividades sociais. Deixe a mente pensar de forma
cognitiva a respeito de sua vida e, intuitivamente, criar imagens visuais.
Analisando: então, identifique os principais elementos dominantes
dessas imagens ou cenários com que você sonhou para sua vida
pessoal.
(b) vida profissional:
Recebendo: então, enquanto permanece nesse estado de profundo
relaxamento e numa espécie de zona de transição entre o consciente e
o subconsciente, comece a fazer perguntas sobre o tipo de atividade ou
trabalho que você gostaria de ocupar-se. Em outras palavras, responda
à pergunta: “o que eu realmente desejo fazer em minha vida pública e
profissional?” e desenvolva um sonho articulado na forma de uma visão:
uma imagem visual ou um símbolo.
Analisando: assim como foi feito para a vida pessoal, identifique os
elementos do cenário ou quadro com que se sonhou.
Verbalização: seguindo a mesma sequência, articule uma declaração
verbal que expressa uma visão que você tem de sua vida
profissional. (Parikh; Neubauer; Lank, 2003, p. 172-173, grifos do
original).
33
Figura 4 – Construção intuitiva da visão
34
5.8 Etapa 5: visão intuitiva partilhada
Na etapa 5, o grupo avança de uma visão intuitiva individual para uma
visão intuitiva partilhada ou consensual, que se completará com uma
declaração verbal que represente o máximo alcançado em um processo de
discussão e partilha grupal. Trata-se de um dos processos que mais
recompensam as pessoas e que mais eficazmente as aglutinam em torno do
processo organizacional. Isso é obtido com base na partilha das visões intuitivas
individuais harmonizadas quanto ao aspecto profissional e pessoal, de cada
participante, por meio de pequenos grupos, até que se alcancem instâncias mais
completas da organização.
No entanto, é raro que a visão seja partilhada em todas as partes da
organização, o que, inclusive não deve ser um objetivo essencial; é mais
corriqueiro que se atinja um consenso amplo e profundo sobre os principais
elementos da visão, bem como seu sentido. O processo é muito rico e divertido e
permite que as introvisões ressoem entre os colegas, mediante articulações
verbais. Como se tratam de elementos profundos e importantes de cada
participante, o resultado é uma sintonia grupal profunda e sutil, um tipo de
alinhamento das diversas forças e influências internas da organização,
permitindo-lher chegar a um direcionamento comum (Parikh; Neubauer; Lank,
2003).
35
desses limites, favorecendo um salto criativo. A integração entre esses dois níveis
é um grande desafio, visto se constituir em um contínuo aprendizado,
considerando-se que, usualmente, há preferências individuais e também culturais
(no caso da cultura ocidental, a preferência é pelo processo reflexivo). Inclui-se
nessa dificuldade o fato de que tal integração produz contínua tensão criativa, o
que também ocorre em outras integrações, como entre a visão intuitiva pessoal e
a profissional (Parikh; Neubauer; Lank, 2003).
36
Figura 5 – Construção de símbolos de transformação
Ressonância (sintonização)
Congruência (alinhamento)
Governação (delegação)
Desempenho (realização)
37
5.11 Etapa 8: planos de ação
A tensão criativa gerada pela união da visão partilhada integrada com a
realidade do momento produz um plano de ação, o qual deve discriminar de forma
detalhada o que deve ser feito, por quem, quando e com quais recursos, se
constituindo então na etapa mais importante, aquela na qual todas as ideias e
inspirações se convertem uma direção prática. É crucial que seja conduzida com
o máximo de participação e dedicação, em todos os níveis (Parikh, Neubauer,
Lank, 2003).
38
Num canteiro de obras, onde vários trabalhadores estavam cortando
pedra, um operário comum diria “estou portando pedra”; um outro
trabalhador, mais inteligente, mais bem treinado e mais especializado,
diria “estou convertendo a pedra em blocos com formas específicas”; um
trabalhador visionário diria “estou construindo uma catedral” (Parikh;
Neubauer; Lank, 2003, p. 182).
39
REFERÊNCIAS
_____. The cognitive style index: technical manual and user guide. Londres:
Pearson, 2012.
COOLS, E.; BROECK, H. van den. Development and validation of Cognitive Style
Indicator. Journal of Psychology: Interdisciplinary and Applied, v. 141, p. 359-
387, 2007.
40
EDWARD de Bono. Wikipedia: The Free Encyclopedia, 19 set. 2019. Disponível
em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Edward_de_Bono>. Acesso em: 15 nov. 2019.
MYERS, I. B. et al. MBTI Manual: a guide to the development and use of the
Myers-Briggs Type Indicator. Palo Alto: Consulting Psychologists Press, 2003.
O QUE são missão, visão e valores de uma empresa? eGestor, 28 out. 2019.
Disponível em: <https://blog.egestor.com.br/missao-visao-e-valores-de-uma-
empresa/>. Acesso em: 15 nov. 2019.
ROBSON, M. Feeling our way with intuition. In: LIEBOWITZ, J. (Ed.). Bursting
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CRC Press, 2015. p. 21-38.
_____. Mente intuitiva: o poder do sexto sentido no dia a dia e nos negócios. São
Paulo: Évora, 2011.
_____. The intuitive manager: profiting from the power of your sixth sense.
Cornwall: John Wiley & Sons, 2010.
WITKIN, H. A. A manual for the embedded figures tests. Palo Alto: Consulting
Psychologists Press, 1971.
42
AULA 6
TOMADA DE DECISÃO
E INTUIÇÃO
2
testar ou experimentar os procedimentos sugeridos (esperamos que o
faça), que não se apoie exclusivamente neles para fazer decisões
relevantes em sua vida. Imagine que o conhecimento atual possa estar
equivocado, incompleto ou impreciso. Em alguma medida, é muito provável
que esteja. Acreditamos que esta aula possa lhe ser útil, mas saiba que ela
expressa um estado muito inicial de compreensão científica sobre os temas
considerados.
2. Outro fato que merece nossa atenção é que, segundo o modelo do novo
inconsciente, a maior parte do nosso processamento mental passa longe
de nossa percepção consciente. Além disso, nosso principal tema é a
intuição, que se caracteriza essencialmente por ocorrer de forma não
consciente. Esses fatos não vão mudar, mesmo que você desenvolva
práticas indicadas adiante. Ou talvez mudem minimamente,
qualitativamente, e isso possa fazer muita diferença na sua forma de
decidir, mas seu processamento mental, tal como o meu, continuará a
funcionar amplamente de forma não consciente. Essa é a melhor forma de
ele funcionar, aquela que a natureza elaborou ao longo de milhões de anos.
Então, mesmo que as práticas o auxiliem nas tomadas de decisão
(esperamos que sim), sugerimos que mantenha uma postura de humildade,
de saudável reconhecimento de nossa profunda ignorância diante de nós
mesmos, o que inclui nossa fantástica capacidade de autoengano e
autoilusão. Parece-nos que, diante de tais experiências, capacidades e
fenômenos, somos apenas pequenos aprendizes, condição da qual
possivelmente nunca sairemos.
3. Em complemento aos dois primeiros alertas, é da nossa natureza evoluir.
Tem sido assim ao longo de milhões de anos e a única diferença que
observamos é a velocidade com a qual isso ocorre atualmente, mais rápido.
Então, se, por um lado, é saudável, de fato necessário, muita autocrítica e
cuidado ao lidarmos conosco e com os outros, por outro é muito bom que
continuemos a explorar nossas capacidades, aparentemente ainda muito
pouco desenvolvidas (a intuição talvez seja um bom exemplo disso).
3
estudos que observamos até agora se referem à nossa dificuldade de perceber a
intuição quando ela ocorre. Pode ter ficado implícito que a intuição usualmente
ocorre de forma não consciente, mas quando emerge é percebida
conscientemente. Esse aspecto parece ter sido pouco estudado na literatura. Erik
Dane (2011) é um pesquisador que desafia o pressuposto de que a intuição na
maior parte das vezes nos é óbvia. Esse autor presenta estudos psicológicos que
sugerem justamente o contrário, ou seja, que falhamos em percebê-las e que elas
podem retroceder ou dissipar-se antes que consigamos considerá-las
conscientemente. Dane (2011, p. 2017) questiona se é possível nos tornarmos
mais conscientemente atentos às nossas intuições:
Atenção
Alta Pouca ou nenhuma
Quadrante I – Exemplos
Emoções conscientes Quadrante II – Exemplos
Sim Objetivos conscientes Percepções visuais de fundo
Intuições atendidas Intuições não percebidas
Processamento conscientemente
consciente Quadrante III – Exemplos
Emoções inconscientes Quadrante IV – Exemplos
Não Objetivos perseguidos
Estímulos irrelevantes à meta
inconscientemente
Intuições suprimidas
Fonte: Dane, 2011, p. 219.
4
1.2.1 Quadrante I
1.2.2 Quadrante II
5
1.2.4 Quadrante IV
6
Considerando-se que nossa natureza mental é usualmente de inquietude,
e que o julgar é um processo natural e essencial à nossa adaptação (estamos
constantemente avaliando tudo o que muda para podermos agir de forma
adaptativa), o conceito de mindfulness pode parecer estranho, ou mesmo sugerir
algo intangível. Por essa razão, a compreensão do seu significado só pode ser
obtida na prática, ou melhor, por meio do treino sistemático, visto que não o
fazemos de forma espontânea. Trata-se de uma capacidade inata, porém
praticamente inexplorada e, no contexto contemporâneo, caracterizado por uma
multiplicidade de tarefas e estímulos. Desenvolver mindfulness é tanto um imenso
desafio quanto uma importante necessidade, haja vista que:
7
inconsciente de processamento. Por extensão, a atenção plena pode
sintonizar os indivíduos com suas intuições [...] - uma afirmação que
concorda com a observação de que a atenção plena permite que os
indivíduos atendam a uma ampla variedade de estímulos, incluindo
fenômenos cognitivos e emocionais [...]. Em suma, por meio da
crescente sintonização com os resultados de processos orientados
inconscientemente, a atenção plena pode aumentar o grau em que os
indivíduos atendem às suas intuições à medida que surgem.
8
Levar a atenção aos movimentos do corpo
Aumentar a consciência corporal.
Movimentos corporais com enquanto se realizar
atenção plena (mindful alongamentos. Costuma-se utilizar
Repetir a prática de dar-se conta,
movements) posturas ou asanas simples de yoga (Hata
observar e voltar o corpo.
Yoga)
Mindfulness é:
9
reconhecer o estilo de preferência para focar mais atenção ao menos
desenvolvido. A cultura ocidental ainda parece privilegiar o modo analítico,
apresentando-se como uma forma de moldar ou uniformizar a forma de
funcionamento. Mas o biológico é mais velho que a cultura e se apresenta como
tendência natural ao intuitivo. Assim, as dicas e as práticas que se seguirão
continuam a focar nesse aspecto não privilegiado culturalmente, a intuição. Mas
fica o alerta de que não estamos desvalorizando o processo analítico, do qual
tanto precisamos também, em equilíbrio com a intuição.
Hogarth
Selecionar/criar o ambiente certo para aprender (ou seja, adquirir
intuições corretas em ambientes apropriados)
Triagem de ações automáticas antes de segui-las (por exemplo,
imposição de 'disjuntores')
10
Buscando feedback e reconhecendo se um ambiente é gentil (o
feedback é crítico e funcional) ou malicioso (o feedback é defeituoso)
Reconhecer emoções como parte do sistema intuitivo e tratá-las como
dados
Explorar conexões usando narrativa, imagens e simulação mental
Aceitar conflitos na escolha (entre análise e intuição)
Tornar o método científico intuitivo (isto é, instrução e prática no
raciocínio científico, para que se torne tácito e possa ser implementado
automaticamente)
Sadler-Smith e Shefy
Refletir sobre experiências de intuição, nível de confiança depositada no
instinto, supressão de palpites e dissimulação da confiança no
pressentimento
Desenvolver uma apreciação cognitiva das diferenças entre instinto,
insight e intuição
Obter feedback confiável sobre julgamento intuitivo, construindo
confiança no instinto e estando em um ambiente no qual boas intuições
podem ser desenvolvidas
Fazer um benchmarking de quão confiável é o julgamento intuitivo e
identificar como o julgamento intuitivo pode ser melhorado
Usar imagens em vez de confiar exclusivamente em palavras (ou seja,
visualizar possíveis cenários futuros e refletir sobre as respostas
intuitivas)
Testar julgamentos intuitivos, levantando objeções, gerando contra-
argumentos e sondando a robustez do instinto aos desafios
Criar condições para a intuição, capturando intuições antes que elas
sejam censuradas pela 'mente analítica' e validando intuições
Sadler-Smith e Burke
Dissipar mitos sobre a intuição: reconhecendo as bases científicas da
intuição e contrastando a experiência intuitiva com a intuição mágica
Capturar e analisando intuições: desenvolvendo uma abordagem
sistemática para gravar, interpretar e articular intuições
Sadler-Smith e Burke
Examinar intuições e dando feedback: examinando a intuição usando
técnicas de questionamento apropriadas; identificar situações em que a
intuição funcionou e onde falhou
Estar ciente dos vieses: reconhecer e combater o viés de confirmação e
outras fontes de erro (por exemplo, representatividade, disponibilidade e
ancoragem)
Dar alívio à mente racional: praticando técnicas de relaxamento e
contemplação mental
Sadler-Smith e Shefy
Desenvolver expertise intuitiva (ou seja, conhecimento de um domínio)
Desenvolver entendimento intuitivo (ou seja, conhecimento da intuição)
Desenvolver autoconsciência intuitiva (ou seja, conhecimento da própria
mente intuitiva)
11
feedback, aquele no qual a crítica é feita de forma habilidosa e está voltada ao
processo de crescimento. Esses ambientes parecem fomentar as boas intuições,
ao passo que aqueles de caráter disfuncional, ambientes perversos, marcados por
comentários defeituosos e enganosos, parecem estimular as intuições ruins.
Compreender os acertos e os erros por meio de feedback pode ser uma chave
para construir a expertise intuitiva, trazendo confiabilidade. É importante lembrar
que essa expertise, como outras, acontece com o tempo, algo como ao menos 10
anos de trajetória em um domínio específico. Pode envolver rituais de passagem
e, ainda que possa ser acelerada por meio de métodos, é pelas experiências
concretas, fora da zona de conforto, sejam elas simuladas ou no ambiente da vida
real, que se constrói (Burke; Sadler-Smith, 2011).
12
Em complemento, lembramos que nossas emoções, em parceria com o
sistema de recompensa (prazer), representam a base para a maior parte de nosso
comportamento e decisões. Usualmente integradas ao nosso sistema cognitivo
(predominantemente mediado pelo córtex pré-frontal), nos garantem decisões
voltadas ao sucesso, no curto, médio e longo prazo. Mas nem sempre esse é o
caso, pois frequentemente também somos estimulados por recompensas de curto
prazo. Por exemplo, o prazer imediato de um doce em vez da manutenção de uma
dieta que conduziria a um prazer de médio e longo prazo. Nesse caso, e em
muitos outros, podemos utilizar de alguma justificativa e decidir/agir para
satisfação de um desejo.
Enfatizamos aqui a importância do treino da atenção, diretamente
relacionada com o treino da força de vontade. Sem que eu ou você consigamos
estar presentes no momento da “tentação”, nem a perceberemos
conscientemente. Mas, se a percebermos, precisaremos ter força de vontade para
resistir a ela. Lembre-se de que a intuição nem sempre vai na direção de nossos
desejos; muitas vezes ocorre exatamente o contrário. Nesse ponto, cabe lembrar
que o estado de atenção plena, acima indicado, pode ser determinante na
percepção e ação coerentes, e consequentemente na administração de nossos
vieses e ilusões inevitáveis.
14
O estudo que vamos apresentar questionou se é possível treinar pessoas
para estarem mais aptas para perceber e utilizar EAs relacionadas à psi
(fenômenos psi ou simplesmente psi) no contexto experimental, por meio de
experimentos controlados em laboratório. Também verificou se a manipulação de
certos fatores pode aumentar significativamente os escores de psi em laboratório.
Buscando respostas a essas questões, a pesquisa revisou a literatura científica
internacional sobre desenvolvimento psi. Esse estudo foi a base do mestrado
desse professor (Silva, 2009) junto ao Instituto de Psicologia, Departamento de
Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo, sob a orientação
do prof. Dr. Esdras Guerreiro Vasconcellos.
Tart (1975) sustenta que o aprendizado psi ocorreu quando sujeitos foram
hábeis para desenvolver estratégias para obter informação correta mediada por
15
PES a respeito do alvo, obter retroalimentação imediata sobre a efetividade
dessas estratégias, categorizar e relembrar dessas estratégias, e finalmente
desenvolver estratégias novas e mais efetivas após avaliar os resultados dos
ensaios prévios. As estratégias podem ser relacionadas a vários sinais internos,
tais como imaginação mental ou sensações fisiológicas, que podem acompanhar
a informação psi-mediada correta; ou as estratégias podem envolver tentativas de
controle dos sistemas internos de processamento de informação-psi para causar
o aparecimento de informações relevantes do alvo na mente consciente (Tart,
1975; Mishlove, 1983, p. 31).
a. o relaxamento físico;
b) a redução do processamento perceptivo ordinário (privação sensorial); e
c. um nível suficiente de estimulação cortical para sustentar uma atenção a
consciência (Honorton, 1994).
16
Honorton entendia que o cérebro fica muito ocupado processando os sinais
sensoriais normais e assim não registra os sinais da PES. Os sinais externos são
diminuídos, pela privação sensorial, buscando-se fortalecer os fracos sinais da
psi. Os Estados Alterados de Consciência ou Estados de Atenção Interna (sonho,
hipnose, meditação, etc.) favoreceriam a psi por reduzirem drasticamente os
sentidos normais (Eysenck; Sargent, 1993).
Saiba mais
Técnica Ganzfeld
Essa técnica se utiliza de meias bolinhas de ping-pong, recortadas de forma
anatômica e alocada sobre os olhos do participante (chamado de receptor), de
forma a cobri-los completamente. Sob essas bolinhas incide uma luz vermelha, a
qual, ao atravessar a superfície das bolinhas, produz uma sensação de cor
roseada. Como esse estímulo é constante e nossos sentidos estão voltados a
perceber as diferenças, ou seja, aquilo que muda, a cor deixa de ser percebida
em aproximadamente 3 minutos. A pessoa que estiver tendo essa experiência
pode não mais saber se está com os olhos abertos ou fechados, ainda que seja
solicitada a permanecer com eles abertos. Ela também usa fones de ouvido, por
meio dos quais houve, inicialmente, induções para relaxamento físico e mental.
Após essas instruções para relaxar, a pessoa passa a ouvir um chiado
homogêneo chamado de chiado branco, algo semelhante ao som da turbina de
um avião. Esse estímulo auditivo, também constante, deixa de ser percebido por
volta de 12 minutos.
O conjunto desses artefatos produz uma espécie de alucinação em vigília.
Imagens mentais, sons e sensações corpóreas podem ser sentidas, quase
caracterizando um sonho acordado. Durante esse período, o receptor fica
relatando em voz alta todas as suas percepções e, a distância, uma outra pessoa
(emissor) assiste um estímulo – usualmente um vídeo curto, de aproximadamente
um minuto. O objetivo da experiência é que a pessoa (receptor), em estado
modificado de consciência, ou estado Ganzfeld, possa captar as informações a
que a outra pessoa (emissor) está assistindo. Ao final do experimento o receptor
assiste a quatro vídeos e tenta, com base em sua experiência, descobrir qual teria
sido visto pelo emissor (Silva, 2009; Silva; Martins, 2020, no prelo). Essa técnica
tem sido considerada uma das técnicas mais promissoras, em termos de
evidenciar em contexto de laboratório a existência de fenômenos psi, ou de
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intuição-psi, nesse caso relacionada à experiência extrassensorial (Cardeña,
2018). Você pode assistir ao vídeo de um estudo que fizemos com essa técnica
acessando o link a seguir:
VÍDEO Documentário: Pesquisa Ganzfeld x não Ganzfeld. INeuropsi
Instituto, 24 nov. 2014. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=zgtZY_6c1kI>. Acesso em: 15 fev. 2020.
18
psi;
O uso do segredo
A ênfase resultados rápidos,
O valor que é atribuído para psi em si,
A ênfase em considerações éticas
A ênfase numa estrutura lógica para entender psi,
Ênfase sobre outras realidades ou dimensões do ser
A ênfase nos estados alterados de consciência para induzir psi,
Ênfase na psicocinesia,
Utilização de retroalimentação para o aprendizado psi,
Utilização de habilidades hipercognitivas como concentração e
meditação,
Utilização de exercícios físicos
Utilização de instrumentos e implementos para a ativação psi,
A ênfase na mudança e desenvolvimento da personalidade,
Utilização de dinâmicas de grupo no desenvolvimento psi,
Ênfase na verificação dos resultados psi.
Esses fatores podem relacionar-se uns com os outros e também com
subsistemas de estados de consciência.
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Tabela 3 – Síntese quantitativa geral dos dados dos artigos revisados
Não Número
Número Receberam Número de
de receberam
Tipo de estudo de
estudos críticas participantes
críticas ensaios
De manipulação de
87 14 16% 73 84% 8.114 687.538
variáveis psi-condutivas
Os dados a respeito do tipo de VPC indicam que 34% dos estudos que
expuseram os participantes a determinadas condições o fizeram com
relaxamento, o qual pode ser considerado como a forma mais simples de
modificação de consciência voluntária. Ele é seguido pelos estudos de hipnose,
meditação e grupos. Estes, tendo ficado em último lugar, podem refletir também
o pouco valor ou atenção que recebem dos pesquisadores psi, ainda que possam
se constituir em espaço privilegiado de produção e estudo qualitativo dos
fenômenos em foco. O individual parece ter supremacia em relação ao social, no
que diz respeito ao estudo desses fenômenos. Quando os participantes foram
selecionados por manifestarem determinadas características psi-condutivas,
destaca-se a criatividade e a disciplina mental (práticas de relaxamento
concentração meditação entre outros). Esses fatores psi-condutivos se
relacionaram principalmente aos estados modificados de consciência (77%) e
fatores ligados aos sujeitos experimentais (23%) (Silva, 2009).
20
deveriam mostrar significância. Isso não significa dizer que eles obtiveram
sucesso no treino psi, mas apenas que os resultados são muito interessantes.
55% dos estudos buscaram estimular o aprendizado de características
pessoais da psi por meio do processo da retroalimentação. 14% deles utilizaram
a visualização como foco de treinamento, 10% trabalharam com relaxamentos,
9% com crenças. Hipnose e meditação estiveram presentes cada uma em 5% dos
estudos. 14% dos estudos utilizaram mais de uma abordagem.
21
uma variedade de possibilidades, as quais não necessariamente se
excluem mutuamente, ainda que possa acontecer predominância de
alguma ou algumas delas. Se de fato existir uma forma pessoal de
funcionamento intuitivo (seja ele relacionado ou não à psi), o processo de
retroalimentação pode ser muito importante para o aprendizado, do que
estamos chamando de assinatura psi. Uma hipótese de trabalho que
utilizamos em nossos grupos de treinamento. Se existir
realmente assinatura provavelmente envolve aspectos somáticos,
emocionais, cognitivos e de modificação de consciência;
Hipnose e crenças – outro aspecto que se destaca nessa perspectiva de
treinamento da intuição é o fator crença, ou se a pessoa acredita ou não na
intuição-psi. Em síntese, é necessário uma crença moderada na
possibilidade. A descrença parece dificultar ou impossibilitar o processo.
Uma crença exagerada pode gerar ansiedade e ou fantasias, do tipo tudo,
ou quase tudo é intuição;
Criatividade – vários estudos experimentais vêm sugerindo que pessoas
criativas, em diferentes áreas, tendem a ter escores aplicativos de intuição-
psi. Considerada um dos fatores psi-condutivos, a criatividade é
mencionada em vários estudos nas diferentes áreas que estudam a
intuição, portanto sugere-se que esteja presente em qualquer tentativa de
estimular ou mesmo de treinar a intuição;
Disciplina mental (relaxamento, concentração, meditação,
visualização, entre outros) – o mesmo pode ser dito sobre as práticas de
disciplina mental, ou modificação de consciência. Parece que são a porta,
ou janela para a mente intuitiva. Assim, não podem faltar nas abordagens
de treinamento da intuição.
22
para autoconsciência), desenvolvido junto as Faculdades Integradas Espírita, em
Curitiba.
Figura 1 – Experimento
Figura 2 – Escores
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locações. O estudo foi conduzido no mês de junho e julho/2011. A proposta teve
como objetivo avaliar os escores de testes psi (clarividência e precognição) de
corretores de imóveis e correlacioná-los com os seus níveis de locações.
Participaram 16 corretoras, sendo os critérios de seleção que as voluntárias
estivessem empregados da empresa e desejassem participar do estudo.
Em termos de métodos, cada participante fez 120 ensaios, sendo metade
para o teste de precognição e metade para clarividência. Neles tentaram
adivinhar, de uma ficha com 60 imóveis, quais seriam locados por 5 pessoas,
sendo que cada pessoa locaria 3 imóveis (total de 15 alvos). Quando as
participantes conseguiam, no teste de clarividência a informação-alvo estava
próxima dos participantes, porém coberta por folhas opacas e lacrada em
envelope também opaco. No caso da precognição, a técnica é a mesma, porém a
informação dos alvos foi elaborada posteriormente. A aleatorização dos alvos foi
baseada numa tabela de números aleatórios e foi feita por um assistente externo.
Foram realizadas duas baterias de testes, uma antes e outra depois da
intervenção, a qual se constituiu em treinamento de habilidades interpessoais
(inteligência emocional) e intuitivas. Para as habilidades intuitivas,
desenvolveram-se técnicas de modificação de consciência e de percepção
corporal. Também se realizaram práticas com testes psi.
Quando as participantes conseguiam adivinhar corretamente os imóveis
que cada pessoa de forma individual locaria, havia um acerto direto (p= 0,05), mas
se acertasse dentro do conjunto dos 15 alvos (imóveis), independente de acertar
ou não a relação direta entre locadores e Imóveis alvo, considerou-se um acerto
indireto (p=0,25). Como pode ser observado no gráfico da Figura 2, os resultados
indiretas, que, teoricamente, deveriam ser mais fáceis, visto estarem associados
a uma probabilidade maior, tiveram um decréscimo entre o primeiro e o segundo
teste.
Curiosamente o contrário ocorreu com os acertos diretos, condição de
maior dificuldade. Os acertos subiram de 11 para 28 nesta condição direta. A
diferença é significativa, sugerindo que houve uma melhora nas habilidades se
dessas corretoras. A correlação entre os acertos psi e a quantidade de locações,
que se havia previsto, não gerou dados significativos em particular em função da
sazonalidade relacionada à área.
24
4.2 Grupos exploratórios de treinamento de intuição-psi
Esse estudo dentro de uma organização foi uma experiência nova para
nós. Mas vimos trabalhando com grupos com esse mesmo objetivo desde 1998.
Basicamente nos questionamos se seria possível treinar a intuição-psi, ou
a sua percepção. Para isso, desenvolvemos experiências em grupos exploratórios
em treinamento psi. Uma delas foi realizada de março de 2008 a dezembro de
2009, totalizando 68 sessões de 2 horas cada. Quatorze participantes
participaram dos grupos experimentais de vivências para autoconsciência nesse
período, mas apenas sete realizaram testes formais para psi, que foi o critério de
inclusão nesse estudo
Esses grupos visaram estimular:
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Figura 3 – Formulário utilizado no teste de clarividência chinesa. Parte deste
formulário, com a ordem aleatória que mostra os retângulos onde cada desenho
deve ser feito. Essa parte é cortada e somente a parte superior é dada aos juízes
independentes
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Figura 4 – Formulário utilizado de clarividência utilizando fotografias
27
Figura 5 – A sequência aleatória cortada de um desses formulários
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no qual a intuição se insere.
Esse modelo é pensado em torno de uma temática central, que é a
liderança, e para tanto se inspira nos conhecimentos do cérebro. Por isso, sua
temática abrangente é a neuroliderança, ou seja, como seria o processo da
liderança se os conhecimentos da neurociência fossem a ela aplicados.
Naturalmente não se restringe somente a essa área, pois inclui a psicologia
organizacional, social, anomalística (que estuda a intuição-psi), entre outras. Esse
modelo (inLead - Integral neuroleadership) vem sendo desenvolvido ao longo dos
anos pelo Instituto Neuropsi: pesquisa e ação inovadora em desenvolvimento
humano integral e, mais recentemente, temos desenvolvido cursos presenciais de
formação nessa área. O inLead considera uma base quaternária (corpo, emoção,
mente e intuição) para sua organização teórico-didática, tendo como inspiração a
psicologia junguiana, com destaque para seu modelo dos tipos psicológicos.
5.2.1 Energia
5.2.2 Emoção
5.2.3 Mente
5.2.4 Intuição
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pesquisadores, aquela que nos leve a um patamar mais elevado de consciência,
tanto no plano individual quanto coletivo. Talvez também nos leve a colaborar com
um movimento massivo de transformação, em curso em nosso planeta (Marins,
2019).
Esses quatro elementos podem ser trabalhados em atividades de
treinamento. Basicamente é isso que propõe o modelo de liderança integral
(inLead), o qual pode ser aplicado a profissionais de diferentes áreas, por
exemplo, educação, organizações, saúde, segurança e direito. Naturalmente que
muita pesquisa precisará ser desenvolvida até que uma abordagem como essa
possa ser referendada como eficiente e eficaz, o que não impede que as
experiências e cursos possam ser desenvolvidos, sempre deixando claro aos
participantes o status de conhecimento científico, que não permite qualquer
garantia ou previsão.
A apresentação muito rápida desse modelo tem como objetivo mostrar a
necessidade de uma abordagem integrada no que se refere à intuição. É preciso
também mostrar que iniciativas nesse sentido já estão sendo conduzidas, ou seja,
que é possível realizá-las. A seguir, há um esquema do modelo de neuroliderança
integral.
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Industrial em plena pós-modernidade). Habitamos a velocidade, a mudança
contínua, a incerteza e a complexidade. Estamos nos transformando sem muito
perceber o quanto e como ou para onde. Parece urgente que nos conectemos
mais e mais com nós mesmos(as); que encontremos referências internas seguras
e sábias sobre nossa situação e direção. A intuição pode ajudar! Mas conquistá-
la não parece ser algo fácil. Talvez, ao contrário, o que há de mais difícil, pois
implica uma jornada para dentro de nós mesmos(as). Isso é perigoso! Ao mesmo
tempo, incrível. E não implica apenas autoconhecimento e autotransformação.
Simultaneamente é uma jornada para contato mais profundo com os outros, com
o social, com nossas possibilidades colaborativas para a transformação do
mundo. E, todos podemos mudar o mundo! Trabalhar para desenvolver a intuição
é, talvez, emergir capacidades de liderança, de uso consciente de poder, é
empoderar-se e, naturalmente, assumir crescentes responsabilidades, desafios!
Parece evidente que temos muito mais capacidades do que aquelas que já
desenvolvemos. O momento é propício! Empenhemo-nos mais nessa imprevisível
aventura de nos tornarmos tudo aquilo que podemos ser!
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REFERÊNCIAS
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MARTI, A. C. I.; GARCIA-CAMPAYO, J.; DEMARZO, M. Mindfulness e ciência:
da tradição à modernidade. São Paulo: Palas Athena, 2016.
SADLER-SMITH, E.; SHEFY, E. Intuitive intelligence. In: GOLD, J.; THORPE, R.;
MUMFORD, A. (Eds.), The Gower handbook of management and leadership
development. 5. ed. Aldershot: Gower, 2010, p. 387-403.
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