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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I

Aula 3 – A AP e o psicólogo
Os psicólogos e a avaliação psicológica
Existem variáveis/características pessoais referentes a cada psicólogo, que poderão
influenciar as avaliações psicológicas, dificultando-os em
 Trabalhar com temáticas específicas (e.g., abusos sexuais, psicopatologia, saúde, …);
 Ser demasiado objetivo;
 Interpretar resultados;
 Ver de um ponto de vista diferente;
 Abarcar e integrar diferentes pontos de vista;
 Ser curioso para procurar o máximo de informação possível;
 Cotar testes psicológicos;
 Identificar as melhores opções disponíveis;
 Encontrar crenças e valores morais muitos distintos dos meus;
 (…)
O psicólogo ocupa um lugar central no decorrer do processo de avaliação: a
informação recolhida depende tanto dos instrumentos como do psicólogo que os aplica;

Psicólogo
2 cenários possíveis:

Examinador Consultor *

Função orientada para Psicólogo considerado


a produção de como um instrumento
resultados/perfis clínico; ajuda a tomar
solicitados por um decisões e a encontrar
supervisor ou por alternativas para cada
outros profissionais; caso. Papel de maior
Papel passivo e responsabilidade e
secundário. interativo.

*Cenário mais correto.


Neste caso criou-se a palavra “information”, mas o filtro pode levar-nos a identificar
qualquer outra palavra! Por vezes, até, podemos incluir variáveis que não existem só para
dar o sentido que pretendemos (em que acreditamos)!
EXERCÍCIO PRÁTICO (consultar powerpoint aula 3)

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I

Mecanismos e mecânica da avaliação psicológica


Até aqui vimos que a Avaliação Psicológica é a aplicação científica da psicologia
com base em teorias já elaboradas;
Representa um processo de resolução de problemas que implica:
 Julgamento clínico;
 Tomada de decisões.
Com base em que elementos devemos tomar estas decisões? Será que o suporte
científico é suficiente para desenvolver um julgamento clínico?
Ambady, psicóloga social, constatou empiricamente que em apenas 6 segundos as
pessoas conseguem identificar algumas características da personalidade de
desconhecidos;
Como? Que
processo poderá
estar envolvido?

O ato ou processo de chegar ao


Intuição conhecimento ou a certezas sem
racionalidade ou inferências.

Intuição
Conhecimento não racional e não verificável empiricamente; Impossibilidade de
conceptualização consciente; diz respeito à capacidade para alcançar uma compreensão
decisiva de um problema mais rapidamente; Aspeto fundamental para a produção de
hipóteses;
Recurso a capacidades complexas, tais como (Tallent, 1992):
 Competências de avaliação psicológica (e.g., sensibilidade, aptidões de observação,
conhecimento da psicopatologia, princípios éticos);
 Conhecimento quotidiano que permite fazer aprendizagens acerca das pessoas.
Malcolm Gladwell é autor do livro “Blinker: The power of thinking without
thinking”. O autor considera que, muitas vezes, a definição de intuição está associada a
um pensamento mágico e místico, mas Gladwell considera que se trata de uma “cognição
rápida” (forma de pensamento pouco racional) que devemos levar a sério aquando da
toma de decisões;
Nas últimas décadas muitos psicólogos têm-se interessado por investigar a ciência
que está por trás da intuição;
 P.ex.: em 2002, David Myers publicou o livro “Intuition: It’s power and Perils”;

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I

 Myers refere que memórias implícitas, projeções, processamento emocional,


comunicação não-verbal, … são todos processos atualmente sob estudo e que estão
relacionados com a intuição.
As diversas investigações comprovam que os processos de pensamento inconscientes
influenciam e determinam de forma poderosa vários aspetos das nossas vidas:
 Desde a forma como percecionamos e reagimos perante os outros;
 Até às decisões morais que tomamos.
“Intuição diz respeito às coisas que aprendemos sem ter
consciência de que efetivamente aprendemos. Por vezes é
útil; outras vezes é mal adaptativo”.

A investigação diz que a


intuição é muito útil em No entanto, a intuição
determinadas
também nos pode conduzir
circunstâncias; a resultados enviesados…

Permitem-nos analisar e
posicionar no mundo social Estudo de Dawes (2001)
de forma mais rápida.

Dawes (2001) comprovou empiricamente que os empregadores de empresas


consideravam ser suficiente a realização de entrevistas para avaliar a performance laboral
de um candidato, descartando a obtenção de resultados estandardizados a partir de testes
criados para o efeito;
Outras investigações demonstraram que basear-se apenas na intuição, pode
trazer muitos efeitos negativos nesta mesma situação.
As associações automáticas e implícitas que temos em relação a grupos (p.ex.: étnicos
ou raciais), podem introduzir enviesamentos relativamente às nossas decisões.
 P.ex.: o programa “The Voice” é um bom exemplo de como se pode controlar o
efeito da intuição sobre o noso julgamento.
Sabendo que a intuição tem um lado positivo e um lado negativo, o que podemos fazer?
 EDUCAR as nossas intuições considerando o feedback que recebemos sobre as
decisões que tomamos;
 TOMAR CONSCIÊNCIA do momento em que a intuição controla os nossos
comportamentos e decisões.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I

Para além da intuição, o processo de julgamento em contexto de avaliação psicológica


está depende de outras qualidades complexas do psicólogo, tais como:

Profundidade Competência Subjetividade


psicológica inferencial

PROFUNDIDADE PSICOLÓGICA
Aptidão para apreender o significado e a motivação do comportamento, pensamentos
e sentimentos em si e nos outros. Esta capacidade apoia-se na introspeção e na empatia e
supõe uma mobilização integrada de todas as estruturas psíquicas:
 Características cognitivas (i.e., conhecimento intelectual);
 Características afetivas (que incluem uma componente que deve ser objeto de
controlo, os “sentimentos” pessoais);
 Intuição;
 Experiência pessoal.
COMPETÊNCIA INFERENCIAL
Subjacente ao conhecimento e ao trabalho de interpretação (análise de
probabilidades lógicas). A utilização de vários níveis de inferência aumenta a
possibilidade de ocorrência de erros de medida.
SUBJETIVIDADE
Dado que a AP não é ainda uma atividade completamente fundamentada em
procedimentos científicos ou totalmente objetiva, envolve uma componente subjetiva;
Porque…
 Implica a extração de significados diagnósticos a partir da história pessoal e dos
resultados dos testes;
 Os resultados dependem da pessoa que está a realizar a avaliação;
 Está presente no trabalho de reflexão sobre as várias hipóteses e na seleção dos
construtos a avaliar.
Desta forma, recomenda-se aos psicólogos que:
 Tenham consciência das suas características pessoais;
 Pratiquem a escuta ativa (AP = encontro interpessoal);
 Observem;
 Pensem/reflitam para a construção/elaboração de hipóteses;
 Adotem um espírito de curiosidade. Moulin (1992) refere que o diagnóstico
corresponde ao desenho de um retrato psicológico, não a uma análise exaustiva e
definitiva;
 Demonstrem tolerância à frustração e ao sofrimento dos outros;
 Respeitem o outro.

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AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA I

Conclusão
A objetividade ocupa um papel central na AP, no entanto, existem características
complexas do psicólogo que, por vezes, são mais importantes do que os resultados
dos testes;
Devem sempre ser complementados com o juízo clínico;
Entre os resultados da avaliação e o sujeito há um lugar para a “equação pessoal”
do psicólogo que deve controlar a totalidade do processo:
 As variáveis ou características psicológicas a examinar;
 A escolha das provas e métodos a usar;
 As decisões finais.
“Os resultados não substituem o pensamento psicológico.”
(Holt, 1968/1991)

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