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Capítulo I

A necessidade da Ciência Psicológica

Intuição – Um sentimento ou pensamento espontâneo, imediato e automático, em contraste com o raciocínio


consciente e explícito.

A intuição está presente em grande parte de nossas decisões cotidianamente: na seleção de talentos, na
jogada da mega sena, na escolha de investimentos, nas lideranças, etc. Sabe-se que nosso pensamento, memória
e atitudes funcionam em dois níveis - consciente e inconsciente – com a maior parte funcionando
automaticamente, nos bastidores.
“ O intelecto nu é um instrumento extraordinariamente impreciso” conforme Madeleine L’Engle. O viés
retrospectivo, o excesso de confiança e a nossa tendência a perceber padrões em eventos aleatórios – ilustram
por que não podemos confiar unicamente na intuição e no senso comum.

Suposição: Suposição:
Psicólogos descobriram que a Psicólogos descobriram que a
separação enfraquece a separação fortalece a atração
atração romantica. romantica.

“O que os olhos não veem, o “A gente só dá valor a algo depois


coração não sente”. que perde”.

Senso comum

Fica clara a necessidade de pesquisa psicológica quando informações contraditórias são explicadas pelo senso
comum. Ao perguntar as pessoas como e porque agiram ou sentiram de determinada maneira pode ser ilusório
pois descreve o que já aconteceu com mais facilidade do que o que está por vir. O viés retrospectivo é a tendência
de acreditar, depois de tomar conhecimento de determinado resultado, que poderia ter previsto (também
conhecido como o fenômeno do “eu já sabia”). Tudo parece muito simples depois de ser explicado. São como boas
ideias e grandes invenções: Uma vez criadas, parecem obvias. A confiança excessiva tem é outro ponto que nos
remete à necessidade da pesquisa psicológica uma vez que tendemos a achar que sabemos mais do que de fato
sabemos. Ao observar um anagrama resolvido nos parece tão simples, do que se formos resolvê-lo sem nenhuma
informação de antemão. Saber as respostas tende a nos deixar excessivamente confiantes. A Ordem dos Eventos
Aleatórios são a tendência de identificarmos padrões em eventos desconexos, aleatórios na certeza de termos a
explicação (sentido) no mundo para fenômenos/situações, Ex.: Enxergar rostos na lua.

Lembre-se de que: O viés retrospectivo, o excesso de confiança e a nossa tendência a perceber padrões em
eventos aleatórios em geral nos levam a superestimar a nossa intuição. Contudo a investigação científica pode nos
ajudar a separar a realidade da ilusão.

A atitude científica: Curiosa, Cética e Humilde


Subjacente a toda ciência, existe, em primeiro lugar, uma curiosidade obstinada, uma paixão por explorar
e entender sem enganar ou se deixar enganar deixando os fatos falarem por si. A fim de separar a realidade da
fantasia, o que tem sentido do que não tem, contudo é necessária uma atitude científica: ceticismo sem cinismo,
abertura sem ingenuidade.

O ceticismo científico indica uma atitude baseada no método científico, que pretende questionar a
verdade de uma hipótese ou tese científica, tentando apresentar argumentos que a comprovem ou
neguem.

Uma atitude científica requer não apenas curiosidade e ceticismo, mas também humildade (uma
consciência da nossa própria vulnerabilidade ao erro, abertura para surpresas e novas perspectivas). Se as pessoas
ou os outros animais não se comportam como nossas ideias previram, pior para nossas ideias (O rato tem sempre
razão).
A atitude científica combina: Curiosidade acerca do mundo a nossa volta; ceticismo em relação a
asserções e ideias sem comprovação, e humildade acerca do nosso próprio entendimento. Examinar evidencias,
avaliar conclusões e ponderar nossos próprios pressupostos são aspectos essenciais o pensamento crítico.

Pensamento crítico ou pensamento inteligente é a maneira de pensar que não aceita cegamente
argumentos e conclusões. Pelo contrário, examina suposições, avalia fontes, identifica valores ocultos,
analisa evidencias e pondera conclusões.
Pensadores críticos fazem perguntas: Como eles sabem disso? Quais são os interesses dessa pessoa nessa
questão? Essa conclusão se baseia em lugares comuns e palpites ou em evidências? As evidências neste caso,
justifica que se chegue a uma conclusão em termos de uma relação causal? Que outras explicações são possíveis?

A investigação crítica psicológica além de desmistificar muitos conceitos de senso comum, também podem
identificar políticas eficazes. Para reduzir a criminalidade, devemos investir recursos na ampliação das sentenças
ou em maior probabilidade de punição? Para ajudar alguém se recuperar de um trauma, o profissional que
acompanha a pessoa deve estimulá-la a reviver este trauma ou não? Para aumentar o comparecimento dos
eleitores nas votações, deve-se procurar conscientizá-los do problema da baixa participação do eleitorado, ou
enfatizar que seus pares votam?

Exercícios de Aprendizagem
1- Como o pensamento cotidiano às vezes nos conduz a uma conclusão equivocada?
Porque somos tentados a avaliar as situações sob a ótica do Viés de retrospectiva, excesso de confiança e
uma tendência a para perceber padrões em eventos aleatórios superestimando a nossa intuição. Embora
limitada pelas questões que podem ser testadas, a investigação científica pode nos ajudar a superar os
nossos vieses e atalhos intuitivos.
2- Qual a relação entre os três principais componentes da atitude científica e pensamento científico? O
pensamento científico é fruto da convergência das 3 principais atitudes científicas. Sem que haja
curiosidade, humildade e ceticismo o pensamento científico não se consolida através do exame de
suposições, avaliação das fontes, discernimento de valores ocultos, avaliação das evidencias e conclusões.
3- Defina Intuição, Viés retrospectivo e pensamento crítico
Intuição – sentimento ou pensamento imediato e automático voltado para resolução de alguma situação.
Viés retrospectivo – tendência para acreditar, após aprender um resultado, que nós o teríamos previsto.
Facilidade em compreender algo a partir do resultado, do fim e não a partir dos meios (de trás para
frente)
Pensamento crítico – pensamento que não aceita cegamente as respostas sem que se pese a análise, a
avaliação, a ponderação das conclusões.

Estratégias de Pesquisa: Como os psicólogos formulam perguntas e respostas

A atitude científica dos psicólogos é complementada pelo método científico – um processo auto ajustável
de avaliação de ideias mediante observação e análise. Para tanto, acolhe intuições e teorias que soem plausíveis e
as submetem à testes, se as previsões fracassam, a teoria será reavaliada ou rejeitada.

Teoria – uma explicação que usa um conjunto integrado de princípios que organiza observações e prediz
comportamentos ou eventos.
Hipótese - uma previsão verificável, em geral decorrente de uma teoria
Definição operacional- uma descrição minuciosa dos procedimentos exatos (operações) utilizados em uma
pesquisa. Por exemplo, a inteligência humana pode ser definida operacionalmente como a pontuação em um
teste de inteligência.
Replicação- repetição da essência de uma pesquisa, normalmente com participantes diferentes e em situações
distintas, para ver se a descoberta básica se aplica a outros participantes e circunstancias. Replicar é confirmar, é
o que permite a autocorreção científica.
O método científico explica comportamentos ou acontecimentos apresentando ideias que organizam aquilo que
observamos e, prevê comportamentos e eventos. Ao unir os fatos a princípios mais profundos, uma teoria oferece
um resumo útil. Ao organizar fatos isolados, vai emergir uma imagem coerente e, princípios mais profundos.
Ex.:
Pessoas com bons hábitos de sono tendem a responder perguntas corretamente e saem bem nas provas
(intuição), portanto dormir ajuda a memorizar (teoria) -> Hipóteses->Pesquisas e
Observações->Confirmar/Revisar ou refutar a Teoria.

Nossas teorias podem impor um viés à nossa observação a partir da ânsia de enxergar aquilo que corresponde às
nossas expectativas pré-estabelecidas (já esperadas). Expectativas pré-concebidas a respeito de uma teoria podem
nos levar a interpretações ambíguas de maneira a confirmar essa teoria. Para evitar esse tendencionismo, os
psicólogos relatam suas pesquisas com definições operacionais precisas de procedimentos e conceitos. As
definições operacionais também permitem que a pesquisa seja replicada em outros grupos, por outros
pesquisadores a fim de confirmar ou realizar a autocorreção científica.
A teoria será útil se:
1- Organizar uma série de observações e autor relatos;
2- Implicar previsões que qualquer um possa usar para pôr a teoria à prova ou para gerar aplicações práticas
3- Resultar uma teoria revisada capaz de predizer (dizer antecipadamente) nosso conhecimento.

Podemos testar nossas hipóteses e refinar nossas teorias usando:

Métodos descritivos – que descrevem comportamentos (não explicam, apenas descrevem). O ponto de partida
qualquer ciência é a descrição. Os psicólogos utilizam-se da descrição de maneira objetiva e sistemática, mediante:
 Estudos de caso: técnica descritiva na qual um indivíduo ou grupo é estudado em profundidade, na
esperança de revelar princípios universais e muitas vezes sugerem direções para estudos subsequentes.
Casos individuais atípicos, não representativos podem nos induzir a erro, a julgamentos equivocados e
falsas conclusões e, apesar de poder apontar para ideias frutíferas devem ser utilizados outros métodos
de pesquisa para identificar verdades gerais.
 Observação Naturalista: técnica descritiva de observação e registro do comportamento em situações que
ocorrem naturalmente, sem nenhuma tentativa de manipular e controlar a situação. É um método
simples, não requer grandes orçamentos nem grandes equipamentos. Contudo, a as novas tecnologias
vem propiciando maior avanço nessa modalidade de observação (de modo especial em larga escala)
através dos App em SmartPhones (localização e opiniões – sem interferência), sensores corporais, e as
redes sociais. Desvantagem da Observação naturalista: não se pode controlar todos os fatores/estímulos
que se encontram fora do laboratório.
 Levantamento: técnica descritiva menos profunda para obter auto relatos das atitudes ou
comportamentos de determinado grupo, habitualmente mediante perguntas feitas a uma amostra
aleatória e representativa do grupo.

Métodos correlacionais –pesquisa não experimental em que o pesquisador mede duas variáveis e avalia a relação
estatística (correlação) entre elas com pouco ou nenhum esforço para controlar variáveis estranhas.
Quando um traço ou comportamento está atrelado ao outro, há uma correlação entre os dois (correlação e
causalidade).
 Correlação e Causalidade: Correlação refere-se a uma relação entre duas variáveis distintas. Já a
causalidade expressa a relação entre duas variáveis distintas, sendo que uma ocorre por causa da outra.
Por isso talvez você já tenha ouvido por aí essa frase: correlação não implica em causalidade.

Métodos experimentais –  o pesquisador modifica uma variável que ele controla, denominada variável
independente, para observar as alterações em uma segunda variável, a variável dependente. Eles são chamados
de estudos de laboratório. Esse método tem a vantagem de ser objetivo, as idéias preconcebidas do pesquisador
têm pouco peso nos resultados e dificilmente geram vieses e por esse motivo, é o método por excelência se
quisermos obter dados seguros, confiáveis e precisos. “Felizes aqueles que descobriram a causas das coisas”,
assim os Psicologos utilizam estudos de causa e efeito para detectar causas através da experimentação.
 Grupo experimental: é o grupo exposto ao tratamento, ou seja, uma versão da variável independente.
 Grupo Controle: é o grupo que não é exposto ao tratamento; contrasta com o grupo experimental e serve
de elemento de comparação, a fim de avaliar o efeito do tratamento.
 Alocação Aleatória: alocar ao acaso os participantes dos grupos experiemental e de controle é um modo
de minimizar eventuais diferenças preexistentes entre os dois grupos.
Ex: Experimento de correlação entre Amamentação (leite Materno) X Inteligencia = o leite é melhor

Nenhum experimento é conclusivo por si só. Ao contratrio dos estudos correlacionais, que revelam relações que
ocorrem naturalmente, um experimento manipula um fator a fim de determinar seu efeito. Se por um lado a
alocação aleatória distribui os grupos de maneira imparcial, como fazer com os processos psicológicos? Como
poderiam ser avaliadas as intervenções terapeuticas? A resposta, procedimento duplo-cego- um grupo recebe
medicação, e outro recebe o placebo, sem que nem o paciente, nem os pesquisadores assistentes que
administram as substancias e realizam as coletas dos dados saibam qual o tratamento o paciente está recebendo.
Assim os pesquisadorem podem averiguar os efeitos reais de um tratamento, independente da crença, tanto dos
participantes quanto da propria equipe tornando o processo isento, imparcial. O simples fato do paciente achar
que está recebendo um tratamento pode levar a pessoa a se sentir mais animada, relaxar seu corpo e aliviar os
sitomas (efeito placebo). Esse efeito placebo é bem documentado na redução de dores, depressao e ansiedade.
Para saber se uma terapia é de fato eficaz, os pesquisadores precisam controlar um possível feito placebo.
Efeito placebo - resultados experimentais causados unicamente pelas expectativas; qualquer efeito sobre o
comportamento causado pela administração de uma substancia ou condição inerte, com o receptor pressupondo
tratar-se de um agente ativo.
Procedimento duplo-cego – procedimento experimental no qual tanto os participantes quanto a equipe de
pesquisa ignoram (estão “cegos”) se os primeiros receberam tratamento ou placebo. Muito usado em estudos de
avaliação de medicamentos a fim de afastar os viéses psicológicos sobre os efeitos (crença) do
tratamento/medicação.
Variável independente – é o fator que é manipulado; é a variável cujo efeito está sendo estudado (nutrição dos
bebês, inteligencia)
Variável de confundimento – é um fator distinto da variável independente qua também pode produzir algum
efeito.
Variável dependente – é o resultado mensurado; é a variável que pode sofrer alterações em resposta à
manipulação da variável independente.
Efeito placebo – (latim “eu devo agradar”) resultados experimentais causados unicamente pelas expectativas; O
efeito placebo é uma resposta psicobiológica a um suposto tratamento benéfico. Nesse contexto, os efeitos do
placebo são o resultado de processos psicobiológicos que são ativados durante o contexto do tratamento e podem
ser separados das propriedades físicas do próprio tratamento. Expectativas auto-realizáveis e condicionamento
clássico são os principais mecanismos psicológicos para os efeitos do placebo que foram examinados até agora.
Em termos de expectativas, o efeito placebo parece ser motivado pela crença de um indivíduo de que receber um
tratamento resultará em uma resposta ou resultado específico (Colloca, 2019). 
Ex.: Experimento com Viagra Pág. 31
Procedimento Duplo-
Cego

Alocação Aleatória

Grupo Experimental Variável


Confundimento Grupo de Controle

Comprimido dosagem Variável


Independente Comprimido dosagem Zero
Maxima

Variável
69% de resultado Dependente 22% de resultado Efeito Placebo

Os experimentos visam manipular as Variáveis Independentes, medir uma Variável Dependente e controlar uma
Variável de Confundimento. O objetivo de um experimento não é recriar os comportamentos exatos da vida
cotidiana, mas testar princípios teóricos. Nos estudos sobre agressão, decidir sobre pressionar um botão que
causa um choque pode não ser a mesma coisa que dar um tapa no rosto de alguém, mas o principio é o mesmo.
São os princípios resultantes que ajudam a explicar os comportamentos cotidianos.

Etica de pesquisa em Psicologia

Estudando e protegendo os animais – Querem compreender como, em diferentes espécies, se dão os processos
de aprendizagem, pensamento e comportamento. Os psicólogos também estudam animais para descobrir coisas
sobre as pessoas. Os experimentos com animais, portanto, contribuíram para tratamento de doenças humanas -
insulina para diabetes, vacinas para prevenção de Poliomielite e raiva, transplantes de órgãos. Do acalorado
debate entre os orgãos de defesa animal, e da ciência emergem dois aspectos: se é correto colocar o bem estar
humano acima do bem estar animal. As respostas, variam conforme a cultura. Nos EUA 60% consideram
moralmente aceito os testes com animais; na Inglaterra apenas 37% concordam com isso. Na maioria das
universidades dos EUA, as propostas de pesquisas sofrem uma avaliação passando pelo crivo do comitê de ética de
cuidado dos animais; laboratórios estão submetidos a regulamentações e inspeções. Em sua melhor forma, uma
psicologia preocupada com os humanos e sensível as necessidades dos animais atende ao bem-estar de ambos.
Estudando e protegendo humanos – Certos experimentos não funcionam se os participantes soubessem de tudo
de antemão, então, algumas vezes os pesquisadores de fato provocam estresse ou enganam as pessoas
temporariamente apenas para fins justificáveis, tal como entender e controlar um comportamento violento ou
estudar alterações de humor. Os códigos de ética da APA e da Britânica BPS exigem que os pesquisadores
obtenham o consentimento informado dos potenciais participantes antes do experimento; protejam-nos dos
danos e desconfortos; tratem confidencialmente as informações sobre os indivíduos participantes e façam o
debriefing completo (explicar inteiramente a pesquisa posteriormente).

Valores na PSI

Nossas preconcepções podem criar vieses em nossas observações e interpretações; as vezes vemos o que
queremos ou esperamos ver. Mesmo as palavras que usamos para descrever alguma coisa podem refletir nossos
valores. O propósito da psicologia é esclarecer, e por isso dialoga com muitos dos grandes problemas desse
mundo – guerra, superpopulação, preconceitos, crises familiares, crime – todos envolvendo atitudes e
comportamentos. Fala também aos nossos mais profundos anseios – por aconchego, amor, felicidade. Será que a
Psicologia poderia ser usada para manipular pessoas? O conhecimento, como todas formas de poder, pode ser
usado para o bem ou para o mal. A energia nuclear é usada para iluminar cidades – e para devastá-las. Todos os
dias os psicólogos pesquisam meios de aprimorar a aprendizagem, a criatividade e a compaixão.

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