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ECODESIGN E MEIO

AMBIENTE
Elaboração

Carolina Bianque Galito / Nicolis Amaral de Araújo

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
CONCEITOS.............................................................................................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL.................................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
HISTÓRIA E POLÍTICA AMBIENTAL............................................................................................................................................................... 31

CAPÍTULO 3
CONCEITO DE ECODESIGN................................................................................................................................................. 37

UNIDADE II
SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE.................................................................................................................................................................................... 44

CAPÍTULO 1
EVOLUÇÃO PERCEPTIVA SOBRE NATUREZA E MEIO AMBIENTE.................................................................................................. 44

CAPÍTULO 2
CONSCIENTIZAÇÃO AMBIENTAL................................................................................................................................................................. 50

CAPÍTULO 3
SOCIEDADE DE CONSUMO, GLOBALIZAÇÃO E RECURSOS NATURAIS...................................................................................... 59

UNIDADE III
GESTÃO AMBIENTAL.......................................................................................................................................................................................................... 63

CAPÍTULO 1
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL................................................................................................................................................. 63

CAPÍTULO 2
DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS SUSTENTÁVEIS......................................................................................................................... 70

CAPÍTULO 3
NORMAS AMBIENTAIS...................................................................................................................................................................................... 87

UNIDADE IV
ESTUDO DE CASO................................................................................................................................................................................................................ 98

CAPÍTULO 1
ANÁLISE DE SITUAÇÕES DE PROJETO E DESENVOLVIMENTO...................................................................................................... 98

CAPÍTULO 2
ATUALIZAÇÕES E TENDÊNCIAS PARA A GESTÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS........................................... 124

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................... 130
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de
textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam
tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta
para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

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Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a
aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo
estudado.

6
INTRODUÇÃO

A relação entre o ser humano e o meio em que ele vive tem se tornado cada vez mais
uma questão recorrente nos debates das mais variadas esferas no mundo. Sob o viés
ambiental, o pensamento que envolve sustentabilidade tem sido pauta relevante no
cenário contemporâneo por influenciar diversas atividades socioeconômicas. Assim,
é importante entender o contexto histórico do ecodesign, bem como alguns conceitos
relacionados a essa área, na medida em que geram reflexão e proporcionam ações
positivas e efetivas em busca de um mundo mais saudável e equilibrado.

Procedimentos dos setores empresariais, governamentais e acadêmicos têm buscado


contornar a situação de degradação dos recursos naturais verificado em algumas
regiões do planeta. Tal situação tem sido agravada por alguns motivos, tais como:
o crescimento acelerado de alguns países emergentes; o estilo de vida de algumas
sociedades consumistas; o envelhecimento da população em países desenvolvidos; as
desigualdades entre regiões (por exemplo, o consumo de água de um norte-americano
é vinte vezes superior ao de um africano); e, por fim, o ciclo de vida de produtos cada
vez menor.

Em relação às propostas governamentais brasileiras, há a exigência de laudos de impacto


ambiental e a existência de uma legislação dura, que procura estabelecer e manter os
danos ambientais dentro de limites aceitáveis. No campo internacional, pode-se citar
o Protocolo de Kyoto, assinado em 1992, que buscou a limitação da emissão de CO2,
gás que provoca o efeito estufa.

Em se tratando das iniciativas empresariais, podemos citar as experiências de arranjos


produtivos locais, nos quais uma empresa usa os resíduos de suas vizinhas como
matéria-prima.

Já na área acadêmica, podemos citar que conceitos, como ecodesign e análise do ciclo de
vida (ACV), têm gerado uma releitura nas técnicas de concepção, projeto e produção
industrial de bens, produzindo a fundamentação teórica para diretivas de aplicação
em projeto de produto.

O ecodesign é um método de projeto de produto em que objetivos tradicionais, tais


como desempenho, custo da manufatura e confiabilidade, surgem paralelamente com
objetivos ambientais, como diminuição de riscos ambientais, diminuição da utilização
de recursos naturais, acréscimo da eficiência energética e aumento da reciclagem.

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O presente estudo aborda os aspectos que envolvem o design sustentável, suas definições
e aplicações, bem como o desenvolvimento de produtos que visam à preservação da
natureza, do meio ambiente e da qualidade de vida. Expõe ainda a gestão ambiental e
a responsabilidade social por meio de alguns estudos de caso.

Na Unidade I, os conceitos de sustentabilidade ambiental, o contexto histórico e a


política ambiental são apresentados de modo a embasar o conceito de ecodesign. Na
Unidade II, aborda-se a relação entre a sociedade e o meio ambiente a fim de traçar
uma narrativa evolutiva sobre a percepção da natureza por meio do homem e sua
conscientização. Desse modo, discutimos a questão do mundo globalizado, do excesso
de consumo e a escassez de recursos naturais.

Já na Unidade III, discutem-se as questões acerca da gestão ambiental e toda a


responsabilidade socioeconômica envolvida. Para isso, são apresentados os processos
de desenvolvimento de produtos sustentáveis e suas normas regulamentadoras. Estudos
de casos são apresentados na Unidade IV, de modo a exemplificar situações de projeto,
desenvolvimento e tendências na gestão de produtos.

Assim, o estudo, no geral, visa corroborar com ferramentas e métodos aplicados ao


ecodesign e oferecer um olhar crítico e reflexivo sobre o tema, bem como algumas
possibilidades de desenvolvimento e expansão em projetos voltados para o design
sustentável e para a inovação em sustentabilidade ambiental.

Objetivos
» Entender os principais conceitos sobre meio ambiente e sustentabilidade.

» Desenvolver a capacidade analítica sobre processos, materiais e produção


sustentável aplicados ao design.

» Organizar estudos e ferramentas para a gestão de projetos em ecodesign.


CONCEITOS UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Sustentabilidade Ambiental

Sustentabilidade é um termo que possui origem do termo latino “sustentare”, que


significa “sustentar, favorecer, manter, defender, apoiar e/ou cuidar”. A visão de
sustentabilidade atual teve princípio em Estocolmo, na Suécia, durante a Conferência
das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Unche), que ocorreu entre os
dias 5 e 16 de junho de 1972.

A Conferência de Estocolmo sobre meio ambiente, pioneira nesse assunto, foi


organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas) e se destacou internacionalmente
principalmente sobre as questões relacionadas à degradação ambiental e à poluição.

Logo após esse acontecimento, em 1992, na Conferência sobre Meio Ambiente e


Desenvolvimento (conhecida como Eco-92 ou Rio-92), que ocorreu no estado do Rio
de Janeiro, consolidou-se o conceito de desenvolvimento sustentável. Este passou a
ser compreendido como o desenvolvimento a longo prazo, de maneira que não sejam
exauridos os recursos naturais utilizados pela humanidade.

A Eco-92 também originou a Agenda 21, um documento que descreveu a importância


do comprometimento de todos os países com as soluções dos problemas socioambientais.
A Agenda 21 provocou reflexões sobre o planejamento participativo em nível global,
nacional e local. O seu objetivo era estimular a criação de uma nova organização
econômica e civilizatória.

A Agenda 21, exclusivamente do Brasil, tem como medidas prioritárias os programas


de inclusão social, abrangendo a distribuição de renda, o acesso à saúde e à educação,
o desenvolvimento sustentável, a sustentabilidade urbana e rural, a preservação dos
recursos naturais e minerais, a ética e política para o planejamento.

Essas medidas prioritárias foram firmadas em 2002, na Cúpula Mundial sobre


Desenvolvimento Sustentável de Joanesburgo, que recomendou a maior integração

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Unidade I | Conceitos

entre as dimensões social, econômica e ambiental por meio de programas e políticas


centrados nas questões sociais e, em especial, nos sistemas de proteção social.

A partir desse acontecimento, a sustentabilidade passou a ser descrita e inserida no


meio político, empresarial e nos meios de comunicação de massa de organizações da
sociedade civil.

No entanto, os que utilizam o termo “sustentabilidade” não demonstram compreender


as causas da insustentabilidade, e isso porque o desenvolvimento dos países continua a
ser mensurado por meio do crescimento perpétuo da produção, que ocorre por meio
da exploração dos recursos naturais.

Em contradição com essa referência, apareceu a proposta do decrescimento econômico.


Ao lado dessa discussão, outras opiniões competem para se posicionar com base na
sustentabilidade. Como exemplo disso, podemos mencionar as economias solidária,
circular, criativa e regenerativa.

Economia Solidária
A economia solidária é uma maneira autônoma de gerenciar os recursos humanos
e naturais de forma que as desigualdades sociais sejam reduzidas a médio e longo
prazo. A vantagem da economia solidária é que ela repensa a relação com o lucro,
transformando todo o trabalho produzido em benefício para a sociedade como um
todo, e não apenas para uma parte dela.

Já na economia capitalista, os vencedores armazenam vantagens, e os perdedores


armazenam desvantagens para as competições a longo prazo.

Para que se tornasse possível termos uma sociedade em que predominasse a igualdade
entre todos os membros, seria necessário que a economia fosse solidária no lugar de
competitiva. Isso representa que os participantes da atividade econômica deveriam
cooperar entre si em vez de competir.

A economia solidária só pode se fortalecer se for organizada de maneira igualitária


pelos que adentram para vender, fabricar, consumir ou poupar. A ideia dessa proposta
é a associação entre iguais, em vez do contrato entre desiguais. Na cooperativa de
produção, protótipo de empresa solidária, todos os sócios têm a mesma parcela do
capital e o mesmo direito de voto em todas as decisões. Essa é a ideia primordial da
economia solidária. Se a cooperativa precisa de diretores, eles são eleitos por todos e

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Conceitos | Unidade I

são responsáveis perante eles. Não existe perdedor ou vencedor entre os sócios e, se
a cooperativa progredir e somar capital, todos ganham por igual.

A ideia da economia solidária é gerar uma sociedade menos desigual. Porém,


mesmo que todas as cooperativas colaborassem entre si, seria inevitável que
umas se saírem pior e outras, melhor, em função do acaso e das diferenças de
habilidade e inclinação das pessoas que as compõem. Existiriam, portanto,
empresas ganhadoras e perdedoras. Suas vantagens e desvantagens teriam de
ser periodicamente igualadas para não se tornarem cumulativas, o que exige um
poder estatal que redistribua dinheiro das ganhadoras às perdedoras por meio
de impostos, subsídios ou crédito.

Na proposta de empresa solidária, os sócios não recebem salário, e sim fazem uma
retirada, que se modifica com base na receita gerada. Os sócios decidem coletivamente
em assembleia se as retiradas devem ser iguais ou diferenciadas. Muitas empresas
solidárias mantêm limites entre a menor e a maior retirada. Contudo, existe uma
tendência de as empresas solidárias pagarem mais por trabalho mental do que para
trabalho manual para não perderem a colaboração de trabalhadores mais qualificados.
Parte-se da ideia de que pagar melhor técnicos e administradores permite à cooperativa
alcançar ganhos maiores que beneficiam o conjunto dos sócios, inclusive os que têm
retiradas menores.

Aparentemente, não parece fazer muita diferença trabalhar em uma empresa solidária
ou em uma capitalista por causa da diferença de retiradas (ganhos). Porém, a diferença
principal é a forma de lidar com o lucro.

Na empresa capitalista, os salários são escalonados tendo em vista a maximização do


lucro, pois as decisões quanto a esse assunto são decididas por dirigentes que participam
nos lucros e cuja posição estará ameaçada se a empresa que dirigem obtiver taxa de lucro
menor que a média das empresas capitalistas. Na empresa solidária, o escalonamento
das retiradas é resolvido pelos sócios, que têm por objetivo manter retiradas boas para
todos e principalmente para grande parte que recebe as menores retiradas.

Nas cooperativas, as sobras têm seu destino resolvido pela assembleia de sócios. Uma
parte delas é direcionada num fundo de educação, sendo dos próprios sócios ou de
pessoas que podem vir a formar cooperativas. A outra é direcionada para fundos de
investimento, que podem ser divisíveis (repartíveis entre os sócios) ou indivisíveis
(não repartíveis entre os sócios), e o restante é distribuído em dinheiro aos sócios
por algum critério aprovado pela maioria: por igual, pelo tamanho da retirada, pela
contribuição dada à cooperativa, entre outros.

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Unidade I | Conceitos

O fundo divisível é utilizado para aumentar o patrimônio da cooperativa e é contabilizado


individualmente para cada sócio, ustilizando critérios semelhantes de repartição da
parcela das sobras pagas em dinheiro. Sobre o fundo divisível a cooperativa contabiliza
juros, sempre pela menor taxa no mercado. A partir do momento em que um sócio
se retira da cooperativa, ele tem o direito de receber sua parcela do fundo divisível
somado dos juros a ele creditados. O fundo indivisível não pertence aos sócios que o
acumularam, mas à cooperativa como um todo. Os cooperadores que se retiram nada
recebem dele.

Os recém-chegados à empresa solidária precisam passar por um teste comprobatório


para receberem os mesmos benefícios dos que já estão lá há mais tempo. Esse teste
costuma variar de seis meses a um ano. O fundo indivisível representa que a empresa
não está em função dos seus sócios atuais apenas, e sim em função da sociedade como
um todo, no presente e no futuro.

Economia Circular
O sistema de economia circular agregou vários conceitos gerados no último século,
como: design regenerativo, economia de performance, cradle to cradle (do berço ao berço),
ecologia industrial, biomimética, blue economy e biologia sintética para a obtenção de
um modelo estrutural para a melhor construção da sociedade.

A economia circular é uma proposta baseada na inteligência da natureza e que se opõe


ao processo produtivo da economia linear, no qual os resíduos são insumos para a
produção de novos produtos. No meio ambiente, restos de frutas consumidas por
animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é conhecido
como cradle to cradle, nele não existe a ideia de resíduo, e tudo serve continuamente
de nutriente para um novo ciclo.

A economia linear é uma maneira de organização da sociedade fundamentada na


extração crescente de recursos naturais, em que os produtos produzidos a partir
desses recursos são utilizados até serem descartados como resíduos. Nessa visão
de economia, a maximização do valor dos produtos ocorre pela maior quantidade
de extração e produção.

A economia linear tem sido considerada uma maneira de organização econômica


inviável porque, a longo prazo, os limites planetários terão chegado a um nível
insustentável de manutenção desse modelo.

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Conceitos | Unidade I

Levando essa proposta para a indústria de produtos, a cadeia produtiva seria dimensionada
para que peças de eletrodomésticos utilizadas, por exemplo, viessem a ser reprocessadas
e reintegradas à cadeia de produção como componentes ou materiais para a produção
de outros produtos eletrônicos.

A economia circular é a ciência que repensa as práticas econômicas, indo além daqueles
conhecidos três “Rs” (que significam: reduzir, reutilizar e reciclar), pois ela realiza a
união, pelo menos na teoria, do modelo sustentável com o ritmo tecnológico e comercial
do mundo moderno, que não pode ser ignorado.

Nos dias atuais, nosso sistema produtivo é realizado de forma linear, o que não é
sustentável por causa da exploração excessiva de recursos naturais e do enorme
acúmulo de resíduos. Nós exploramos a matéria-prima, produzimos bens e depois os
descartamos. A redução da vida útil programada gera resíduos que não recebem novas
utilizações e se acumulam exponencialmente. Comparando com os países da América
Latina, o Brasil é o campeão de geração de lixo, produzindo cerca de 541 mil toneladas
por dia, segundo dados da Organização das Nações Unidas.

Além dos resíduos produzidos, a ausência de matérias-primas também é uma enorme


preocupação. Segundo o relatório da Ellen MacArthur Foundation, que é a organização
que estuda e empolga a adoção da economia circular, aproximadamente 82 bilhões de
toneladas de matéria-prima são incorporadas no sistema produtivo mundial a cada ano.

Relatório Ellen MacArthur Foundation

Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/pt/act/make-fashion-


circular/relat%C3%B3rio.

E se, no lugar do modelo em que se descartam os materiais não biodegradáveis, como


máquinas de lavar roupa, smartphones e televisores, existisse outro em que esses materiais
retornassem ao ciclo produtivo? Esse é um questionamento para se pensar. Se esses
materiais fossem levados de volta às suas respectivas fábricas, desmontados, otimizados
e retornados para nós? A economia lucraria com a ausência de desperdício e o planeta
também. No lugar de uma reta final para os produtos, um novo ciclo, que transformaria
resíduos em insumos, em nova matéria-prima. Seriam novos “Rs” que entrariam: de
economia restaurativa e regenerativa. O que era fim é só um novo começo.

Para o desenvolvimento sustentável, deve-se ter o controle de estoques finitos e o


equilíbrio dos recursos renováveis. Uma primeira etapa é desmaterializar produtos e
serviços (sistema que valoriza a função, a utilidade e nem tanto o produto em si). Além

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Unidade I | Conceitos

disso, existe a necessidade de aprimorar a eficiência na fabricação de produtos e no


reaproveitamento de resíduos sólidos. Já na síntese, os produtos devem ser produzidos
com materiais facilmente recicláveis e não perigosos (substâncias puras, não tóxicas
e segregáveis). É primordial diminuir a contaminação para maximizar a circulação
dos materiais. Os objetos devem ser concebidos para a remanufatura, a reforma e a
reciclagem. Artigos com componentes e materiais no mais alto nível de utilidade, tanto
no ciclo técnico quanto no biológico, otimizam a produção de recursos. Dessa maneira,
componentes e materiais continuam circulando e contribuindo para a economia.

A economia circular direciona-se numa utilização racional dos recursos. Com a


utilização em cascata dos materiais, eles se mantêm durante o maior tempo possível na
economia. Quando um produto chega ao fim de seu ciclo para o primeiro consumidor,
ele pode ser compartilhado e ter seu uso aumentado. Posteriormente ao esgotamento
de reúso do artefato, ele pode ser material de upcycling (reaproveitamento), reformado,
remanufaturado e, como última etapa, ter a reciclagem, como mostra a Figura 1 abaixo.
As alternativas de reciclagem hoje em dia operam sobre bens de consumo que não
foram projetados com esse cuidado. A economia circular parte da ideia de desconstruir
o conceito de resíduo com a evolução de projetos e sistemas que privilegiem materiais
naturais que possam ser totalmente recuperados.

Figura 1. Conceito de Economia Circular já é Adotado por Diversos Países.

Fonte: GZH, 2021.

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Conceitos | Unidade I

Leitura da reportagem: “O plástico é realmente um vilão? Economia circular


pode provar que não”. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/economia/
conteudo-publicitario/2020/04/o-plastico-e-realmente-um-vilao-economia-
circular-pode-provar-que-nao-ck9n6fnn900bv015nq7dmhmdx.html.

O funcionamento desse sistema, no entanto, não possui dependência apenas das


empresas, e sim de todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto, que necessitam
compreender sua função nesse novo modelo. O consumo deve ser desacelerado e
consciente. Estamos em um mundo com relações de produção e comércio globalizadas,
por isso existe a necessidade de propagar os fundamentos de economia circular por
todo o mundo.

Diversos países conhecem a importância desse tema e estão progressivamente


implantando os conceitos. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), lei
implantada no Brasil em 2010, objetiva a garantia da responsabilidade compartilhada
pelo ciclo de vida dos produtos, a operação reversa e o acordo setorial. Dessa forma,
todos os agentes do ciclo produtivo, os consumidores e os serviços públicos devem
reduzir o volume de resíduos sólidos gerados e seguir práticas que assegurem que os
produtos sejam reintegrados ao ciclo produtivo. Na China, a economia circular faz
parte da Lei de Promoção da Produção Limpa, promulgada em 2002. Medidas como a
rotulagem ecológica de produtos, a difusão de informações sobre questões ambientais
na mídia e cursos oferecidos pelas instituições de ensino são imprescindíveis para
familiarizar a sociedade com a economia circular.

Muito divergente do Brasil, no restante do mundo existem sinais importantes de


que a visão de transição para a economia circular e suas práticas regenerativas
está avançando.

O Parlamento Europeu aprovou, há pouco tempo, uma classificação com base em


seis objetivos, que procura orientar investimentos públicos nos países do bloco que
necessitam atingir metas já estabelecidas nos acordos do clima, nas diretrizes contra a
poluição de rios, mares e nos compromissos internacionais em relação aos resíduos.

Com isso, espera-se que seja possível indicar as iniciativas que convergem para a
proteção e regeneração do meio ambiente; da mesma forma, espera-se não incentivar
negócios que são empacotados com greenwashing e marketing ecológico, mas que não
são comprometidos de fato com um futuro sustentável. Serão considerados sustentáveis

15
Unidade I | Conceitos

empresas e projetos que contribuam com ao menos um dos seis objetivos ambientais
contidos na classificação, como:

» a diminuição das alterações climáticas;

» a adaptação às modificações climáticas;

» o uso sustentável e proteção dos recursos hídricos;

» a modificação para uma economia circular;

» o aviso e o controle da poluição;

» a proteção e a restauração da biodiversidade e dos ecossistemas.

Explicando de forma mais abrangente a economia circular, temos que o regulamento


leva em consideração que uma atividade econômica contribui para a modificação ao
novo modelo, se:

» realizar o uso mais eficiente dos recursos naturais na produção, estando


inclusas matérias-primas obtidas de forma sustentável;

» acrescer a durabilidade, a reparabilidade, a atualização ou a reutilização dos


produtos, em especial no âmbito da concepção da fabricação;

» elevar a reciclabilidade dos produtos, incluindo a reciclabilidade dos seus


diferentes componentes materiais, por meio da modificação ou da redução
da utilização de produtos e materiais não recicláveis, em especial no âmbito
da concepção e da fabricação;

» reduzir consideravelmente o teor de substâncias perigosas e substituir as


substâncias que suscitam elevada preocupação nos materiais e produtos
ao longo de todo o seu ciclo de vida, em conformidade com os objetivos
estabelecidos no direito da União, alterando essas substâncias por alternativas
mais seguras e garantindo a rastreabilidade;

» aumentar a utilização de produtos, por meio da sua reutilização, tendo


em vista a longevidade, aproveitamento para outros fins, desmontagem,
refabricação, atualização e reparação, e partilha de produtos;

» aumentar a utilização de matérias-primas secundárias e melhorar a sua


qualidade, por meio de uma reciclagem de elevada qualidade dos resíduos;

16
Conceitos | Unidade I

» realizar a prevenção ou redução da produção de resíduos, visivelmente


a produção de resíduos no âmbito da extração de minerais e resíduos da
construção e demolição de edifícios;

» realizar a modificação da preparação para a reutilização e reciclagem de


resíduos;

» elevar o desenvolvimento das infraestruturas de gestão de resíduos necessárias


para a prevenção, a preparação para reutilização e a reciclagem, assegurando
simultaneamente que os materiais recuperados daí resultantes sejam reciclados
como matérias-primas secundárias de maior qualidade destinadas à produção,
evitando assim a conversão em produtos de qualidade inferior (downcycling);

» reduzir a incineração de resíduos e evitar a eliminação de resíduos, incluindo a


sua deposição em aterro, com base nos princípios da hierarquia dos resíduos;

» diminuir o lixo;

» destacar qualquer uma das atividades enumeradas nos itens anteriores.

Sugestão para aprofundamento: assista ao vídeo da Ellen MacArthur Foundation,


que demonstra de forma simples o que é economia circular. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=OWxy4PXq2pY.

Leitura do artigo: “Google quer inserir economia circular no dia a dia da empresa
para chegar ao lixo zero.” Disponível em: https://www.ecycle.com.br/google-quer-
inserir-economia-circular-no-dia-a-dia-da-empresa-para-chegar-ao-lixo-zero/.

Economia Criativa
A economia criativa é uma maneira nova de economia em crescimento no mundo
de atual. Como o nome já representa, ela diz respeito à geração de valor por meio
da criatividade. São bens e serviços baseados no capital intelectual e cultural e que
procuram melhorar, inovar ou resolver problemas.

Leitura do artigo: “Economia Criativa: você sabe o que é?” Disponível em: https://
www.politize.com.br/economia-criativa/.

17
Unidade I | Conceitos

O setor do varejo é o que tem elevado destaque e potencial na área, pois tem mais
liberdade para gerar diferentes soluções para cada tipo de público. A liberdade
é um dos pré-requisitos para que a criatividade se manifeste, viabilizando o
desenvolvimento de novos produtos em resposta a demandas ou interesses
específicos, com um maior cuidado e atenção aos recursos ambientais.

Vender experiências é um dos prenúncios da economia criativa, como explica


o pesquisador inglês John Howkins, um dos grandes especialistas no tema, no
vídeo abaixo.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PHx3shdQ9Sw.

A economia criativa se divide em quatro enormes ramos:

» consumo;

» mídias;

» cultura;

» tecnologia.

São negócios nas mais variadas áreas que estão agrupadas nessas categorias e que se
identificam com os movimentos e tendências da inovação e da criatividade. Podemos
citar como exemplos: grupos culturais, empresas de desenvolvimento de software e
videogames, artistas plásticos, escritórios de design, produtores de artesanato, restaurantes
e agências de turismo cultural.

No Brasil, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é


um dos grandes incentivadores do setor da economia criativa, que, no ano de 2015,
produziu uma riqueza de R$ 155,6 bilhões para a economia brasileira, segundo o
“Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil”, publicado pela Federação das Indústrias
do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) em dezembro de 2016. Esse valor equivale a 2,64%
do PIB nacional de 2015, com 851,2 mil profissionais formais alojados na chamada
indústria criativa. O Ministério da Cultura teve, entre 2012 e 2015, uma Secretaria de
Economia Criativa, que englobava diversas áreas culturais, criação de games e serviços
de comunicação e publicidade. A pasta atualmente se chama Secretaria de Economia
da Cultura e abarca oficialmente somente atividades culturais.

Desde o ano de 2008, a ONU publica alguns relatórios sobre essa temática. O Relatório
de Economia Criativa 2010, produzido pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento) em parceria com o PNUD, destaca que a economia

18
Conceitos | Unidade I

criativa se tornou um assunto recente da agenda econômica e de desenvolvimento


internacional durante esta década. Incentivada de maneira adequada, a criatividade
incentiva a cultura, infunde um desenvolvimento centrado no ser humano e congrega
o ingrediente chave para a criação de trabalho, inovação e comércio, ao mesmo
tempo em que possui favorecimento para a inclusão social, diversidade cultural e
sustentabilidade ambiental.

O relatório destaca, ainda, que o setor foi um dos menos atingidos pela crise econômica
mundial, pois tem como base novos fundamentos, adota relações de trabalho mais
igualitárias e políticas de consumo mais justas, sustentáveis e inclusivas. Alguns
conceitos, como valorização da identidade local, direta do produtor para o consumidor,
produção sob demanda e consumo de bens personalizados, são propósitos que fortalecem
o mercado criativo.

As médias e pequenas empresas são a maioria nesse setor, no entanto algumas grandes
companhias já seguem práticas, como liberar uma porcentagem do tempo do trabalhador
para ser voltada a projetos de inovação. Os bens e serviços comercializados, em
geral, têm um valor intangível, com base na venda de experiências, o que propõe aos
consumidores uma nova relação com os produtos. O objetivo é consumir menos para
consumir melhor, seja conhecendo as pessoas de quem você compra ou incentivando
negócios sustentáveis e com preocupação ambiental.

Para se aprofundar um pouco mais nesse tema, recomenda-se assistir o vídeo no


qual a especialista e pioneira no setor, Lala Deheinzelin, explica a relação entre
economia criativa e sustentabilidade.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=2&v=yvln_8J_


pXA&feature=emb_title.

O Sebrae tem atuação juntamente com organizações representativas da economia


criativa em âmbito nacional. As parcerias são negociadas e formalizadas com base
nos normativos internos da instituição e a metodologia de gestão de projetos.

O Sebrae está presente em todos os estados e, mesmo que ele não tenha projeto
específico no seu estado, existem ações voltadas para o atendimento de empresários
da economia criativa.

De acordo com essa mesma instituição, a economia criativa provoca a geração de


renda, origina empregos e arrecada receitas de exportação, enquanto promove
a diversidade cultural e o desenvolvimento humano. Nesse cenário, ela pode ser
considerada como um importante segmento para os países investidores.

19
Unidade I | Conceitos

Economia Regenerativa
A economia regenerativa pode ser definida como um agrupamento econômico que
valoriza o Sol e a Terra, considerados “bem de capital original”. Nessa linha de raciocínio,
diferentemente do que ocorre na economia padrão, a economia regenerativa reconhece
o valor real do meio ambiente, o sistema de suporte da vida humana.

A economia regenerativa é uma proposta teórica em associação com o sistema capitalista


vigente, mas que propõe mudanças na forma como as coisas são valorizadas. O que a
diferencia da economia padrão é que, enquanto na teoria econômica padrão, pode-se
regenerar os bens ou consumi-los até seu ponto de escassez, na economia regenerativa,
ao se considerar o valor econômico dos capitais originais, a Terra e o Sol, pode-se
restringir o acesso a esses bens de capital original de forma que sua escassez seja evitada.

A economia regenerativa, no âmbito teórico, parte da proposta de que os princípios


universais do cosmos, tais como ética, integridade, cuidado e compartilhamento, devem
ser utilizados como um modelo para o design do sistema econômico. Os apoiadores
dessa teoria são contrários aos princípios neoliberais e propõem, no lugar deste, que
o mercado se autorregule por meio de relações eficientes e transparentes, isso tudo
em conjunto com outros oito princípios-chave, que são:

Relacionamento
A teoria da economia regenerativa pressupõe que a humanidade é parte integrante de
uma teia interligada de vida em que não existe separação real entre “nós” e “eles”. De
acordo com essa teoria, a economia humana está completamente alojada na biosfera, onde
todos estão unidos uns aos outros e a todos os locais em nível global. Assim, problemas
causados a qualquer parte refletirão e prejudicarão as outras partes, manifestando-se
como uma onda.

Riqueza holística
A economia regenerativa considera que a verdadeira riqueza não é apenas o dinheiro
guardado no banco. Ela parte da ideia de que a riqueza é o bem-estar do conjunto, que
deve ser atingido por meio da harmonização de múltiplos tipos de riqueza ou capital,
inclusive culturais, sociais, vivos e experiencial. A riqueza deve ser estabelecida por
uma prosperidade amplamente compartilhada em todas as variadas formas de capital.

20
Conceitos | Unidade I

Inovação, adaptação, sensibilidade


O terceiro princípio da economia regenerativa relata que, em um mundo em que
a mudança está sempre presente, as qualidades de inovação e adaptabilidade são
primordiais para a saúde do todo. Essa afirmação é comparada à teoria de Charles
Darwin, que diz: “Na luta pela sobrevivência, a vitória do mais forte é à custa de seus
rivais”.

Participação
A teoria da economia regenerativa relata que, em um sistema interdependente, todas
as partes devem se relacionar com o todo, seja em se tratando das suas próprias
necessidades, mas também realizando contribuição para a saúde e o bem-estar dos
conjuntos maiores em que estão incorporadas.

Honra, comunidade e local


Cada comunidade humana, de acordo com a teoria da economia regenerativa, se baseia
em um mosaico único de tradições, povos, crenças e instituições, constituído pela
cultura, geografia, história, ambiente local e necessidades humanas. Dessa maneira,
deve-se nutrir comunidades e regiões saudáveis e resilientes com base na essência de
sua história.

Abundância do efeito de borda


A criatividade e a abundância, para os teóricos da economia regenerativa, florescem
conjuntamente nas beiradas de sistemas. Para exemplificar esse fundamento, realiza-se
uma analogia com a abundância de vida interdependente dos pântanos onde os rios
encontram o oceano, em que as oportunidades de inovação e fertilização cruzadas são
maiores. Partindo desse pressuposto, a economia regenerativa acredita que trabalhar de
forma colaborativa em todas as margens proporciona aprendizagem e desenvolvimento
contínuos provenientes da diversidade que existe nesses locais. Isso é transformador
tanto para as comunidades onde os intercâmbios estão acontecendo quanto para os
indivíduos envolvidos.

21
Unidade I | Conceitos

Fluxo circulatório robusto


Da mesma maneira que a saúde humana depende da circulação de nutrientes, oxigênio e
outros elementos necessários à vida, a saúde econômica depende de fluxos circulatórios
de dinheiro, recursos, informações, bens e serviços para manter o intercâmbio, a
descarga de toxinas e a nutrição de cada célula em todos os níveis das redes humanas.
Com base na economia regenerativa, a circulação da informação e do dinheiro, o uso
eficiente e a reutilização de materiais são particularmente importantes para indivíduos,
empresas e economias, e atingem o potencial regenerativo esperado dentro do modelo
regenerativo. Nesse foco, a economia regenerativa fica próxima de alguns exemplos de
uso eficaz e de reutilização de materiais, como a compostagem, a utilização de cisternas
e de outros produtos mais sustentáveis.

Equilíbrio
A economia regenerativa descreve que geralmente se deve atingir o equilíbrio entre:
diversidade e coerência, eficiência e resiliência, colaboração e competição, pequenas,
médias, grandes instituições e necessidades.

Preocupação com a Sustentabilidade


A preocupação com a sustentabilidade – em outras palavras, a utilização consciente
dos recursos naturais, novas alternativas e ações em relação ao planeta e as implicações
para o bem-estar coletivo estão em evidência como nunca. O tempo “distante”, tempo
em que sofreríamos as desvantagens da utilização não racional dos recursos naturais,
já é algo concreto e não mais enredo de livros de ficção científica. Agora, a situação
está presente em nosso cotidiano, em escolas, organizações, empresas e nas ruas de
nossas cidades.

O desequilíbrio provocado por uma inconsciência ambiental é um dano do presente,


contudo sua origem remonta à Idade Antiga. A pretendida superioridade de nossa
espécie e uma equivocada interpretação da cultura como algo superior à natureza é
uma das bases de nossa civilização e deve ser debatida para que seja possível pensarmos
novos caminhos para nossa economia, sociedade e cultura, de maneira que possamos
garantir a continuidade da existência de nossa espécie no planeta Terra.

Relatos da batalha da humanidade contra a natureza estão presentes desde as primeiras


civilizações. Citamos como exemplo a grande epopeia de Gilgamesh, texto da antiga

22
Conceitos | Unidade I

Mesopotâmia, datado de aproximadamente 4.700 a.C. Essa narrativa é indício do


surgimento do antagonismo da cisão entre civilização e natureza, em pleno surgimento
do pensamento ocidental.

A batalha de Gilgamesh contra Humbaba (o guardião da floresta) representa a suposta


“vitória” da humanidade contra o mundo natural, que perdurou por toda a nossa
história e ainda está na arquitetura de nossas cidades, nos nossos padrões de nutrição
e em nossas atividades cotidianas.

Nos primordios da Idade Contemporânea, a Revolução Industrial e os avanços


tecnológicos geraram a exploração de recursos naturais em escala jamais vista. Toda
a inovação gerada nesse período provocou a necessidade de extração de recursos como
petróleo e cobre de forma sistemática e em enorme quantidade.

Essa inovação tecnológica foi a causadora de melhorias de vida e crescimento


econômico, mas também gerou enormes problemas, advindos da ausência de noção
sobre responsabilidade sobre a necessidade de um crescimento ecologicamente viável
e socialmente equânime.

Aprofundados no raciocínio existente da época, os ingleses visualizavam a poluição


das fábricas como característica de uma civilização vitoriosa e próspera. Como diziam
na época da Segunda Revolução Industrial: “Onde existe poluição, existe progresso”.
Essa era uma proposta que não considerava os possíveis efeitos colaterais do modelo
industrial, fincado pela desigualdade social e pelas péssimas condições de vida dos
operários.

Entre os anos de 1960 a 1970, iniciaram-se maiores reflexões sobre os problemas


causados ao meio ambiente, provocando os primeiros esforços de uma consciência
ecológica. Com o passar do tempo, essa temática deixa de ser algo estranho de grupos
específicos e se torna desafio global. O livro “A Primavera Silenciosa” (1962), de Rachel
Carson, tornou-se um dos primeiros best-sellers sobre a questão ambiental e marca a
inovação do alerta sobre o uso indiscriminado de agrotóxicos.

Nessa mesma época, tem-se a primeira aparição do conceito de desenvolvimento


sustentável, seguida pela ECO 92 e suas 21 proposições. Esses acontecimentos
proporcionaram o avanço da discussão sobre a questão ambiental em diversas esferas
da sociedade.

23
Unidade I | Conceitos

Nova Definição de Sustentabilidade


No ano de 2020, uma equipe de pesquisadores liderada pelo Dr. Christoph Rupprecht,
do Instituto de Pesquisas para a Humanidade e a Natureza, em Quioto, no Japão,
propuseram um novo conceito de sustentabilidade que expande a ideia para espécies
não humanas e suas necessidades. Com essa nova definição, os pesquisadores abordaram
uma falha crítica no conceito original de sustentabilidade que acaba atrapalhando os
esforços de transformação global. O estudo foi publicado na revista Global Sustainability.

A equipe visualizou uma contradição no interior da definição de sustentabilidade: sua


abordagem de gestão de recursos ignora que o bem-estar e as necessidades de todos
os seres vivos são interdependentes, de forma ecologicamente complicada.

Para solucionar esse problema, eles combinaram os avanços recentes da etnografia


multiespécies com pesquisas realizadas por acadêmicos indígenas e percepções da
cibernética. Com base nesse trabalho, a equipe formulou um conjunto de seis princípios
e um novo conceito de sustentabilidade multiespécies, definido como “atender às
necessidades interdependentes dos seres vivos, ao mesmo tempo que eleva a capacidade
das gerações futuras de todas as espécies de atender às suas próprias necessidades”.

Os pesquisadores, então, mostraram aplicações potenciais que ajudam a faciltar a


coexistência humano-vida selvagem e repensar radicalmente a estrutura do espaço
verde urbano com base no microbioma recente e nos conhecimentos de saúde pública.

A equipe considerou que suas descobertas pudessem ser um ponto de partida para a
exploração e a discussão em torno do conceito. Desde questões sobre como as cidades
multiespécies devem ser até as implicações de um conceito de saúde pública que leve
em conta todas as espécies, muitas áreas poderão sofrer alterações fundamentais,
e para melhor, caso seja realizada uma abordagem multiespécies para a questão da
sustentabilidade.

Os problemas a serem resolvidos estão tanto nas ações empresariais e governamentais


quanto nas nossas escolhas do cotidiano. A sustentabilidade é um conceito relacionado
à vida em vários âmbitos, ou seja, é algo sistêmico. Está em questão a continuidade
da sociedade humana, suas atividades econômicas, seus aspectos culturais e sociais e,
é claro, ambientais.

Seguindo esse raciocínio, a definição de desenvolvimento sustentável sugere um novo


modo de vida. É uma nova forma de configurar a vida humana, em que se busca que
as sociedades possam satisfazer as necessidades e expressar seu potencial.
24
Conceitos | Unidade I

Muito provavelmente, a transição para esse novo modelo sustentável não acontecerá
tão rápido. Como mencionado anteriormente, foram anos de história até a formação
do sistema atual, o que provocou em nossa sociedade arraigados maus hábitos. Mas
não é preciso haver pessimismo: há quem diga que a adaptação gradual já está em
andamento.

O comportamento da sociedade de consumo pode deixar de ser predatório e


inconsequente para investir em soluções com base na inovação, como a tendência à
utilização do ecodesign, por exemplo. No entanto, é importante destacar que a mudança
de comportamento é a principal forma de contribuir com a sustentabilidade.

Sustentabilidade Ambiental
Ao se falar sobre sustentabilidade, entende-se a relação direta que existe com o meio
ambiente. Para nos aprofundarmos nos estudos acerca do tema sustentabilidade,
alguns conceitos precisam estar definidos de acordo com autores relevantes na área.
Embora alguns termos ainda sejam um tanto controversos, tentaremos defini-los a
fim de buscarmos um direcionamento no entendimento do tema.

Conforme afirmam Bursztyn et al. (2012, p. 43) “a abordagem do meio ambiente requer
conhecimento interdisciplinar”. Entretanto, “os estudos disciplinares formam uma
base necessária, ainda que não suficiente ao tratamento do tema”.
Em termos amplos, o meio ambiente agrega e transcende os elementos
do mundo natural, como a fauna, a flora, a atmosfera, o solo e os recursos
hídricos. Acrescenta, também, as relações entre as pessoas e o meio onde
vivem. Portanto, tratar a questão ambiental demanda conhecimentos sobre
os meios físico e biótico e a dimensão socioeconômica e cultural, tudo isso
agregado a um dado contexto político-institucional, onde aqueles aspectos
interagem (BURSZTYN et al., 2012, p. 42).

25
Unidade I | Conceitos

Figura 2. A Terra e a Humanidade.

Fonte: https://pixabay.com/pt/photos/natureza-terra-sustentabilidade-3289812/.

Portanto, os autores entendem que, para se estudar o meio ambiente, vários aspectos
deverão ser levados em conta, e não apenas os aspectos naturais, mas também os sociais
e culturais que englobam e influenciam o meio natural.

Bursztyn et al. (2012) reforçam a ideia de que o conceito de meio ambiente pode ser
analisado sob três enfoques. O primeiro deles seria objetivo e biocêntrico, ou seja, um
conjunto de objetos naturais (espécies, meios, ecossistemas etc.) em interação, e sua
conservação deve ser assegurada. O segundo enfoque é subjetivo e antropocêntrico,
a partir das relações dos humanos com o meio natural e com o meio construído por
eles. Já o terceiro se baseia no enfoque tecnocrático, no qual se consideram todas as
interações entre humanos e natureza.

Para o termo “sustentabilidade”, Bursztyn et al. (2012) entendem que existem três
esferas que constituem a sua base: biosfera (meio ambiente), sociosfera (impacto
social) e econosfera (economia). Já em relação ao desenvolvimento sustentável, eles
entendem que o conceito se dá na junção entre economia e ecologia, o que estimula
a interlocução entre ambas as áreas.

Para Veiga (2010), o termo “sustentabilidade” ainda não é preciso, uma vez que é
recente sua consolidação. Seu surgimento aconteceu em 1948, na Declaração Universal
dos Direitos Humanos pela Organização das Nações Unidas e, desde então, tem sido
debatido e analisado sob diversos ângulos. O autor reitera que, “Como dizia o pessimista
Schopenhauer, toda verdade passa por três estados: primeiro é ridicularizada, depois
violentamente combatida, e finalmente aceita como evidente. Com a sustentabilidade,
um ciclo semelhante completou-se em três décadas (2010, p. 13).

26
Conceitos | Unidade I

De acordo com o Instituto Akatu (organização não governamental sem fins lucrativos
que atua na sociedade para o consumo consciente), para que o mundo sofra menos
com os impactos causados pela ação humana, as pessoas precisam colocar em
prática os oito Rs da sustentabilidade: Refletir, Reutilizar, Reciclar, Respeitar,
Reparar, Responsabilizar-se e Repassar (RIESEMBERG, 2014).

No Brasil, o conceito de sustentabilidade ambiental teve seu desenvolvimento inicial


na área de administração na década de 1990, período em que foram publicados os
principais livros e relatórios internacionais sobre o tema.

Entre os principais escritos que se referiam à definição de sustentabilidade ambiental,


estão os apresentados na CMMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento) e na Agenda 21. Existe destaque também para a definição de que
sustentabilidade ambiental é a capacidade de os ecossistemas se manterem perante as
agressões humanas.

Em se tratando do desenvolvimento sustentável, a CMMAD considera que existem


princípios básicos a serem considerados, como: as necessidades básicas dos pobres de
todo o mundo devem ser atendidas como prioridade, e os recursos naturais devem ser
limitados para que possam atender às necessidades das gerações presentes e futuras.
Esses dois fundamentos, adicionados ao conceito de desenvolvimento econômico,
convergem para o desenvolvimento sustentável, que procura o fim da pobreza, a
diminuição da poluição ambiental e do desperdício no uso de recursos.

A partir desse ponto de vista, o termo “desenvolvimento sustentável” foi agregado


às dimensões ambiental, social e econômica, sem hierarquia e sobreposições entre
essas três vertentes da sustentabilidade. Diversos setores incorporaram os princípios
do desenvolvimento sustentável, que, até então, eram propostas alternativas ao
desenvolvimento econômico, e isso favoreceu novos campos do conhecimento como:
agricultura sustentável, turismo sustentável, sustentabilidade empresarial e inclusive
a sustentabilidade ambiental.

Nas instituições, essas temáticas ainda se subdividem em operações sustentáveis,


finanças sustentáveis e outros conceitos. A rigor, a gestão sustentável nas empresas e as
pesquisas na área de sustentabilidade devem abarcar as três dimensões para se justificar
a utilização do termo “sustentável”. No entanto, para cada uma das três dimensões da
sustentabilidade, existe uma definição específica.

27
Unidade I | Conceitos

Leitura do artigo: “O desenvolvimento sustentável ainda está longe de ser tornar


realidade”. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/desenvolvimento-sustentavel-
ainda-esta-distante-de-ser-realidade/.

Sustentabilidade Forte versus Sustentabilidade


Fraca
Ao considerarmos o meio ambiente como elemento fundamental entre as ações
socioeconômicas, de acordo com Bursztyn et al., entende-se que:
qualquer atividade produtiva – seja ela extrativa ou de transformação – implica
algum tipo de “tensão” sobre o mundo natural Extrair minerais, caçar ou
pescar, transformar paisagem natural em terras cultivadas, construir cidades
e infraestrutura, fabricar bens, tudo isso provoca algum impacto negativo
sobre o meio ambiente (2012, p. 49).

Nesse sentido, percebe-se que a busca pelo bem-estar da sociedade afeta diretamente
o meio natural, o que pode ser considerado contraditório ao termo “sustentabilidade”.
Assim, pensar em desenvolvimento sustentável é um contrassenso, “já que, para ser
desenvolvimento, não poderá ser sustentável” (BURSZTYN et al., p. 49). Os autores
afirmam que esse debate se desdobra em “sustentabilidade forte” e “sustentabilidade
fraca”.

A representação gráfica da sustentabilidade forte ajuda a explicar seu conceito, no qual


se apresentam as três esferas superpostas: biosfera (ou esfera da vida e da natureza)
que, por sua vez, engloba as demais. Dentro dela, encontra-se a sociosfera (ou esfera
da sociedade humana) que envolve, por fim, a econosfera (ou esfera da economia).

Figura 3. Modelo de Sustentabilidade Forte.

biosfera

sociosfera

econosfera

Fonte: Bursztyn et al., 2012.

28
Conceitos | Unidade I

Assim,
A proposta de sustentabilidade forte tem como prenúncio a afirmação
científica de que qualquer ação humana existe no âmbito dos limites do
planeta, ou da biosfera, onde a humanidade se localiza. Nisto estando incluso
a vida social em geral e as atividades econômicas em particular (ADAMS,
2006 apud BURSZTYN et al., 2012, p. 51).

Em contrapartida, ao analisarmos a representação gráfica da sustentabilidade fraca


na Figura 4, percebe-se que a simples harmonia entre as esferas não garante o caráter
sustentável a longo prazo, pois “só quando as três esferas se entrelaçam, de modo
coerente, que se configura o espaço da sustentabilidade” (BURSZTYN et al., 2012, p. 52).

Figura 4. Modelo Tripé da Sustentabilidade.

social

equidade
tolerável
susten-
tável

ambiental econômica

Fonte: Bursztyn et al., 2012.

Portanto,
o princípio de sustentabilidade fraca trata-se do equilíbrio entre as esferas,
econômica, social e ecológica. Pressupõe a possibilidade de compatibilizar
a dinâmica das atividades econômicas com a justiça social e o respeito às
condições do mundo natural, de modo a que estas se mantenham no longo
prazo (BURSZTYN et al., 2012, p. 52).

Entretanto, de acordo como os autores, alguns teóricos criticam fortemente o modelo


tripé da sustentabilidade por alegarem que esse esquema tende a sofrer uma relação
desproporcional entre as esferas e, assim, a esfera econômica acaba prevalecendo, o
que se desdobra no esquema “Mickey Mouse” do tripé.
29
Unidade I | Conceitos

Figura 5. Esquema “Mickey Mouse”.

ambiental
social

econômica

Fonte: Bursztyn et al., 2012.

Desse modo, faz-se necessário realizar a reflexão acerca do conceito geral sobre
desenvolvimento sustentável, uma vez que se entende que a humanidade se diferencia
das outras espécies do planeta pois não consome apenas o necessário para a sua
sobrevivência. Visto isso, “o passo seguinte é estabelecer os limites até onde é possível
usar, sem abusar da biosfera” (BURSZTYN et al., p. 53).
A sustentabilidade se constrói com a combinação de diferentes processos.
Educação molda mentalidades. Ciência, tecnologia e inovação ajudam
a produzir novos conhecimentos, a ética serve para orientar condutas
individuais, incutindo valores e princípios a serem seguidos mesmo quando
não se está sob o foco dos mecanismos formais de comando e controle.
Os saberes das populações tradicionais, resultantes de longos períodos de
convivência com o ambiente natural, podem ser inspiradores para práticas
ambientalmente mais apropriada (BURSZTYN et al., 2012, p. 64).

“Será que a permanência do crescimento econômico pode ser realmente


compatibilizada à exigência de sustentabilidade? Será que a prosperidade – ou
desenvolvimento – sempre vai depender do crescimento econômico?” (VEIGA,
2010, p. 14).

30
CAPÍTULO 2
História e Política Ambiental

O Meio Ambiente e o Homem


A busca do ser humano rumo à evolução é tão antiga quanto a própria civilização.
A natureza humana tende a ser dominadora, e, na medida em que avança, gera
consequências. De acordo com Bursztyn et al. (2012), dentre os exemplos dos avanços
mais notáveis na história da humanidade, estão: o fogo, a roda, a agricultura, a metalurgia,
a navegação, a pólvora, a escrita e a imprensa.

Tais descobertas foram de extrema importância para a evolução da espécie. Entretanto,


algumas delas propiciaram certos desequilíbrios no meio ambiente ao serem associadas
a outras atividades em larga escala. A ciência, por sua vez, “passou a ser direcionada
para dominar e controlar a natureza” (BURSZTYN et al., 2012, p. 70).
A continuidade de descobertas, de inventos e de conhecimento das leis da
natureza permitiu a ruptura e, em certos aspectos, até a inversão da relação
de determinação entre humanidade e natureza. O mundo natural determina o
clima, os movimentos sísmicos, o vulcanismo, as marés. Porém, a habilidade
humana alcança feitos notáveis, como reverter cursos de rios, combater
pragas, domesticar animais, remover florestas e até provocar mudança no
clima. A procura da dominação de alguns humanos por outros levou ao
desenvolvimento de artefatos que podem destruir todos (BURSTYN et al.,
2012, p. 27).

Figura 6. Evolução da Espécie Humana.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/evolu%C3%A7%C3%A3o-planeta-ecologia-natureza-2305142/.

Para o contexto sustentável, os autores (BURSZTYN et al., 2012, p. 55) afirmam que o
século XX foi o período na história da humanidade que mais expandiu as atividades “da

31
Unidade I | Conceitos

população, da produção, dos mercados, do consumo de matérias-primas, dos conflitos,


dos conhecimentos, da degradação ambiental”, o que, consequentemente, impactou
diretamente o planeta. Até então, o avanço da civilização não era considerado um
problema do ponto de vista da degradação, mesmo com todos os períodos das grandes
revoluções – desde a da navegação até a industrial.
Por mais que existisse certa preocupação com a proteção da vida selvagem
já existir na antiguidade e na Europa feudal, o surgimento das primeiras
regulamentações no âmbito internacional, bem como dos movimentos
de defesa da natureza se deu no final do século XIX. Sendo importante se
destacar que a preocupação reinante não era a proteção ambiental, num
sentido amplo e integral, mas sim gerir a natureza para evitar o esgotamento
de algum recurso natural com objetivos econômicos. Não existia uma
preocupação com a função dos ecossistemas no longo prazo (LAVIEILLE,
2004 apud BURSZTYN et al., 2012, p. 72).

A partir dos anos 1970, estudiosos e pesquisadores começaram a se voltar para a


questão ambiental e seus limites perante o crescimento da economia, como também
“para os problemas ambientais e para a necessidade de mudanças de paradigmas”
(BURSZTYN et al., 2012, p. 76). Dentre várias análises promovidas, destaca-se nesse
estudo o “Programa Bioeconômico de Georgescu-Roegen”, de 1976.

Tabela 1. Programa Bioeconômico Mínimo, de Georgescu-Roegen, proposto em 1976.

O Programa Bioeconômico Mínimo apresentava oito recomendações que deveriam orientar a sociedade humana na boa
direção:
1. O impedimento total da produção de armas, que passaria a liberar forças produtivas para propósitos mais
construtivos.
2. O auxílio rápido aos países subdesenvolvidos.
3. A gradual diminuição da população, para um nível que pudesse ser garantido apenas pela agricultura orgânica.
4. Evitar e, se possível, determinar restrições rigorosas ao desperdício de energia.
5. Desistir do vínculo ao consumismo extravagante.
6. Ausentar-se da moda.
7. Gerar bens mais duráveis e reparáveis.
8. Livrar-nos dos hábitos workaholic pela redistribuição do tempo gasto em trabalho e lazer, uma modificação que se
tornará evidente, na medida em que as demais mudanças se façam sentir.
Fonte: Bursztyn et al., 2012.

Conforme visto, a tarefa não era tão simples quanto sugeria o programa bioeconômico.
Percebeu-se que relação entre o desenvolvimento da economia e o aumento da degradação
do meio ambiente estavam relacionados ao poder aquisitivo de alguns grupos ou países
mais abastados. Para tanto, os autores (BURSZTYN et al., 2012) afirmam ter surgido

32
Conceitos | Unidade I

a necessidade de haver um instrumento que mensurasse a riqueza e levasse em conta


os aspectos sociais. Dessa forma, os autores relatam que:
[...] em 1990, Amartya Sen (Nobel de Economia) lança o IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano, que incorpora, além da renda, aspectos de
educação e saúde. O novo índice foi logo adotado pelo PNUD (Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento) e por vários governos (BURSZTYN
et al., 2012, p. 60).

Contudo, no final do século XX, observou-se a necessidade de se criar políticas


ambientais que regulamentassem certos avanços na economia mundial. No mundo
globalizado, “as regulações públicas condicionam as ações dos diversos setores das
sociedade complexas, por meio de normas, leis, instrumentos de incentivo e coerção”.
(BURSZTYN et al., 2012, p. 64). À medida que os países avançam, os limites físicos
entre eles diminuem, e, dessa forma, os problemas ambientais passam a ser enfretados
por todos, já que compartilham do mesmo planeta.

O mundo hoje debate. Grupos argumentam outros grupos apontando-


os como responsáveis pelo desgaste atual. Isto é perigoso. Não se
refere ao encontrarmos culpados e responsabilizarmos pelo caos
que se avista. Não é momento de desagregação, contudo sim de
agregação em torno de um objetivo comum e um desafio que teremos
que vencer: saber conviver, de maneira equilibrada, com o nosso meio
ambiente (VERLY, online).

Política Ambiental
Por definição, Bursztyn et al. (2012, p. 145) declaram que “política, do grego polis (cidade,
ou cidade-estado), diz respeito aos espaços coletivos e aos modos de regulação das
relações que se dão em tais contextos”. Dessa forma, entende-se que o termo “política”
refere-se à ação de administrar a sociedade como um todo e em amplo sentido. Para
o entendimento de políticas públicas, os autores (idem) afirmam ser
[...] um conceito mais contemporâneo, associado ao Estado moderno, em
que o poder público é entendido como instância sob cuja responsabilidade
são tomadas decisões em consonância com os princípios da democracia.
Trata-se se um conceito interdisciplinar, que reúne elementos de diversos
campos científicos, como a ciência política, a sociologia, o direito, a economia
e a psicologia social (BURSZTYN et al., 2012, p. 146).

Nesse sentido, pode-se considerar que política ambiental é um conjunto de práticas que
administram o meio ambiente a fim de se manter a preservação deste e o desenvolvimento

33
Unidade I | Conceitos

sustentável. Tais práticas levam em conta princípios e valores que valorizam o meio
natural, o planeta, e, com isso, consideram a sustentabilidade como principal agente
norteador. A importância dessas políticas se dá no sentido de minimizar os impactos e a
degradação ambiental por meio de mecanismos regulatórios. Porém, cabe ressaltar que:
Em uma sociedade com a nossa, no século XXI, cada um dos três setores
(governo, sociedade civil e empresas) tem função regulatória sobre os demais:
o Estado regula o mercado por meio de mecanismos do tipo comando e
controle, incentivos e outras maneiras de persuasão, e regula a sociedade
civil, por meio de leis; o mercado regula o Estado e a sociedade, estabelecendo
condutas ou demandando ações; e a sociedade civil regula o mercado e o
Estado, como opinião pública, consumidora e eleitora (BURSZTYN et al.,
2012, p. 144).

Dessa forma, entende-se que o interesse público e os bens coletivos nem sempre são
os mesmos. Quando se trata do meio ambiente, tais interesses se tornam ainda mais
complexos, uma vez que certas situações de conflitos podem surgir à medida que se
fragmentam os interesses e vontades individuais de grupos em prol do interesse público
geral. Os autores (idem) reiteram que:
[...] nem sempre o interesse de todos (a adição dos indivíduos de uma
comunidade) corresponde ao interesse público (o bem-estar geral da
sociedade). Essa é uma questão de extrema importância para a ciência política
e em particular para as políticas ambientais (BURSZTYN et al., 2012, p. 147).

Para tanto, quando há situações complexas envolvendo outras variáveis, Clark (2002
apud BURSZTYN et al., 2012, p. 147) propõe o “interesse especial”, pois “se refere a
situações em que apenas uma parte da comunidade se beneficia de alguma iniciativa,
em detrimento de outra parte”.

Desse modo,
compreende-se por política ambiental o conjunto de atitudes
governamentais coordenadas, agregando diferentes organismos e setores
de intervenção pública, em articulação com atores não governamentais e
produtivos, voltadas à proteção, conservação, uso sustentável e recomposição
dos recursos ambientais. O foco é não apenas o ambiente biofísico, assim
como a forma em como as populações e as atividades produtivas se relacionam
com os diferentes ecossistemas. O ambiente construído, que agrega cidades e
infraestruturas em geral, também faz parte do escopo das políticas ambientais
(BURSZTYN et al., 2012, p. 182).

34
Conceitos | Unidade I

Os autores (idem) reiteram que, ainda que possuam caráter público, tais políticas
ambientais, sejam elas nacionais ou internacionais, englobam diversos setores da
sociedade, e assim precisam atuar em diferentes atividades governamentais, como em
leis e regulações, na educação e em parcerias não governamentais, para que possam ter
seus objetivos atingidos de modo satisfatório, respeitando suas variações e demandas
em cada país. Apresenta-se a seguir, de modo esquemático, o encadeamento das fases
das políticas públicas em geral, que vale também para as políticas ambientais.

Figura 7. As Fases do Ciclo das Políticas Públicas.

demandas/
problemas

inclusão na
critérios
agenda política

processo de
decisão

implementação
instituições
consolidadas
impactos/
avaliação
Fonte: Bursztyn et al., 2012.

Outro conceito importante a ser entendido e explicitado no estudo sobre política


ambiental é o de governança. Sob uso bastante eclético e utilizado por diferentes
vertentes nas ciências sociais, o termo é bastante recente (BURSZTYN et al., 2012), e
segundo Rhodes (1996 apud BURSZTYN et al., 2012, p. 159), é usado com pelo menos
cinco tipos de significados. São eles:

» no âmbito do pensamento neoliberal, para dar suporte à noção de Estado-


mínimo;

» no âmbito das corporações, para diferenciar a governança corporativa das


formas tradicionais de gestão;

» no âmbito público, para qualificar uma maneira moderna de gestão pública


que engloba atores não governamentais;

35
Unidade I | Conceitos

» para o aumento da democratização do acesso e da difusão de informações,


com destaque para a Internet, utiliza-se o termo governança voltado à
cibernética social;

» para o universo das ONGs e dos movimentos sociais, pode-se utilizar o


principio com referência a redes auto-organizadas.

Por definição,

[...] governança é o conjunto das várias maneiras com base nas quais
os indivíduos e instituições, públicas e privadas, administram seus
assuntos comuns. É um processo contínuo, pelo qual interesses
conflitantes ou diversos podem ser acomodados e a ação cooperativa
pode ser efetivada. Inclui instituições formais e regimes com poderes
para fazer cumprir, bem como arranjos informais que as pessoas e
instituições tenham acordado ou entendem ser de seu interesse
(COMMISSION ON GLOBAL GOVERNANCE, 1995 apud BURSZTYN
et al., 2012, p. 159).

Assim,
A governança ambiental é um conjunto de práticas que agrega instituições
e interfaces de atores e interesses, focados para a conservação da qualidade
do ambiente natural e construído, em sintonia com os princípios da
sustentabilidade. Envolve regras estabelecidas (escritas ou não) e esferas
políticas mais amplas do que as estruturas de governo. Em sociedades
complexas, governança engloba, normalmente, um complexo jogo de pressões
e representações, onde os governos são (ou devem ser) parte ativa, mas outras
forças se manifestam, como os movimentos sociais, lobbies organizados,
setores econômicos, opinião pública, etc. (BURSZTYN et al., 2012, p. 166).

Conforme visto, o poder público tem o dever de atuar com políticas ambientais de forma
a exercer uma governança ambiental que proteja o meio ambiente de sua degradação,
previna danos futuros, preserve e restaure processos ecológicos essenciais para o
planeta. Com isso, reduzem-se os riscos de acidentes ambientais como também se passa
a utilizar melhor os recursos naturais, de maneira mais comprometida e responsável.

Uma questão a ser considerada no âmbito da globalização da


governança ambiental é: como esperar sucesso na proteção ambiental
sem assegurar prévia ou simultaneamente a proteção social? Esta
indagação pode ser ampliada ao comportamento dos indivíduos:
como supor que exista consciência ou expectativas sobre o futuro, de
pessoas que sequer têm certeza quanto a seu presente? (BURSZTYN
et al., 2012, p. 154)

36
CAPÍTULO 3
Conceito de Ecodesign

A Origem do Termo
Uma vez que Bursztyn et al. (2012, p. 153) declaram que “a proteção da natureza, a
preocupação com o meio ambiente e com a qualidade de vida da sociedade, de um modo
geral, são traços marcantes ao final do século XX”, a palavra ecodesign surge inspirada
pelas ideias de desenvolvimento sustentável no mesmo período. Entretanto, há algumas
pequenas diferenças sobre o conceito entre os autores. A seguir, apresentaremos alguns
desses conceitos de maneira a sustentar uma ideia ampla sobre o termo “ecodesign”.

De acordo com Naime et al. (2012, p. 1515), o termo ecodesign se amplia para o ciclo
de vida do produto e “passa a ganhar força e reconhecimento como uma atividade
imprescindível para a sustentabilidade do planeta”. Os autores (idem) reiteram que, a
grosso modo, a ideia de ecodesign ainda está associada ao reaproveitamento de materiais,
à utilização de resíduos e sobras e à reciclagem de materiais, o que não deixa de ser
uma das vertentes.
O termo ecodesign, apesar de subentender os elementos que o formam
(ecologia e design) dando ideia do seu significado, assim como o design,
está longe de apresentar uma definição precisa entre diversos autores. A
imprecisão e amplitude do termo nascem justamente da indeterminação dos
seus elementos formadores, o design e a ecologia (MARTIRANI, 2006). De
forma genérica e simplificada, define-se o ecodesign, ou design ecológico, como
um projeto relacionado para as questões ecológicas e de sustentabilidade
(NAIME et al., 2012, p. 1515).

De modo a resumir as principais ideias, Naime et al. (2012, p. 1511) apresentam um


conjunto de fatores que permitem uma aproximação para definir desenvolvimento
sustentável. São eles:

Para o nosso sustento, devemos estar envolvidos em empreendimentos incorporados


a contextos físicos e biológicos adequados.

Se for o caso, que existam noções de “ecodesign” dentro do processo, ou seja, deve
haver a possibilidade de que a utilização otimizada de matérias, da maneira que sejam
recicláveis, seja hegemônica.

37
Unidade I | Conceitos

Que ocorra respeito pelos fundamentos de sustentabilidade que envolvem utilizações


conservativas de recursos materiais, hídricos e energéticos.

Em situações nas quais seja necessário realizar tratamento de efluentes líquidos industriais,
gestão de resíduos sólidos e monitoramento ambiental de emissões atmosféricas, que
estes sejam executados dentro dos melhores conceitos e padrões técnicos, atingindo
níveis de elevada eficiência e eficácia.

Envolvimento em ações de educação ambiental relevantes e projetos comunitários


com finalidade ambiental.

Disposição e envolvimento social de maneira transparente, solidária, democrática e


de forma a que se pratique a justiça social.

Autores como Ryn e Cowan (2007 apud NAIME et al., 2012, p. 1515) definem design
ecológico como qualquer maneira de design que reduza os impactos destrutivos do meio
ambiente por meio da sua integração com o processo de viver e complementam ainda
que o design ecológico é uma área do design guiada pela integração e responsabilidade
ecológica.

Para Pêgo (2021, p. 146), “o Ecodesign tem como objetivo reduzir os impactos ambientais
negativos, advindos do ciclo de vida dos produtos, por meio da inserção de parâmetros
ambientais, mediante ferramentas específicas”. Nesse sentido, Saldanha e Rosa (2017)
entendem que o ecodesign é uma resposta possível para tentar equilibrar o meio ambiente
perante as produções de bens de consumo.
No ecodesign, a concepção, produção e comercialização dos produtos é pensada
e executada com a intenção de reduzir os impactos ambientais de todo ciclo
de vida do produto e preocupada com as fontes de energia, recursos naturais,
resíduos, descartes e emissões (SALDANHA; ROSA, 2017, online).

Para complementar a ideia, a figura apresentada pelas autoras (idem) ressalta o termo
ecodesign sob quatro pontos principais: reaproveitamento, escolha de materiais, eficiência
energética e durabilidade.

38
Conceitos | Unidade I

Figura 8. Entenda o Ecodesign.

ENTENDA O ECODESIGN

REAPROVEITAMENTO ESCOLHA DE MATERIAIS

Novos produtos podem ser feitos a partir do Materiais que tenham baixo impacto ambiental
reaproveitamento de outros produtos com compostos menos poluentes, durabilidade
ou biodegradáveis

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DURABILIDADE


Poupar energia durante o processo de O maior tempo de vida do produto contribui
fabricação para
causa menos impacto ambiental a diminuição do acúmulo de lixo

Fonte: http://centralsul.org/jornaleco/?p=452/.

Azevedo (2020, online) entende que “o ecodesign é uma ferramenta de gestão ambiental
centrada na fase de concepção dos produtos e dos seus respectivos processos de
produção, distribuição e utilização”. A autora define ainda como sendo todo o ciclo de
vida do produto, que, de alguma maneira, irá minimizar o impacto ambiental durante
seu transcurso. A fim de resumir tais conceitos, Azevedo destaca os princípios básicos
do ecodesign, conforme ilustra o quadro.

39
Unidade I | Conceitos

Tabela 2. Princípios do Ecodesign.

1. MATERIAIS DE BAIXO IMPACTO AMBIENTAL:


Fazer uso de materiais menos poluentes, que contenham uma produção sustentável, de preferência recicláveis ou
que precisem de menos energia para sua fabricação.
2. EFICIÊNCIA ENERGÉTICA:
Fazer uso de maneiras de fabricação que venham a consumir menos energia ou possuam uma fonte de energia
pouco agressiva ao meio ambiente.
3. QUALIDADE E DURABILIDADE:
Gerar produtos que tenham maior tempo de vida, com o objetivo de produzir menos lixo.
4. MODULARIDADE:
Desenvolver objetos nos quais as peças possam ser substituídas com facilidade em caso de defeito, evitando que o
produto seja substituído, produzindo menos lixo.
5. REUTILIZAÇÃO/REAPROVEITAMENTO:
Produzir objetos a partir do reaproveitamento e reutilização de outros.
Fonte: https://www.ecycle.com.br/8179-ecodesign.html.

Para entender mais sobre o assunto, assista ao vídeo “Ecodesign – O tempo


das coisas” do canal Design ao Vivo. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=3TJxCbPbw7M.

De modo geral, os autores entendem o termo “ecodesign” como um design que pensa
no ciclo de vida do produto como um todo, e não apenas no produto em si. Ponderar
questões como energia gasta para se fazer e desfazer o produto é bastante relevante
no ciclo do ecodesign, bem como a escolha de materiais que minimizem o impacto
ambiental, tanto na exploração da matéria-prima como também no descarte dos
resíduos no meio ambiente.

Vale ressaltar que esse conceito ainda está sendo discutido e que ainda poderá sofrer
mudanças em sua concepção no futuro, mas, via de regra, o olhar sobre o meio ambiente
não deixará de ser o ponto principal.

É preciso que os materiais retornem aos ciclos produtivos em uma


cadeia de circuito fechado, pois a enorme maioria das matérias-
primas são constituídas de recursos naturais não renováveis. Com este
propósito, os conceitos de design e ecodesign têm muito a auxiliar a
alteração dos paradigmas em procura de parâmetros holísticos de
ampla sustentabilidade (NAIME et al., 2012, p. 1518).

40
Conceitos | Unidade I

Usos e Aplicações
A aplicação dos conceitos em ecodesign para os produtos ainda não é satisfatório em
termos de desenvolvimento sustentável. Entretanto, Saldanha e Rosa (2017, online)
afirmam que, “ainda que muitas marcas utilizem o rótulo de sustentabilidade como
marketing verde, o ecodesign é uma tendência visível nas mais diversas áreas de produtos,
com projetos de viés sustentável”.
O “ecodesign” executa enorme investimento do marketing institucional
decorrente desta postura, em uma sociedade cada vez mais apta à inclusão
de responsabilidades ambientais na sua pauta de consumo e na sua própria
seleção de produtos responsáveis e comprometidos. Pelos quais está disposta
a oferecer maior remuneração na medida que atribui novos e relevantes
valores de comprometimento socioambiental (NAIME et al., 2012, p. 1512).

Em contrapartida, tem aumentado o número de consumidores conscientes e


exigentes em “relação aos impactos ambientais negativos e enxergam as empresas com
responsabilidades socioambientais de uma maneira mais positiva e com um diferencial”.
(COMARU, 2017, p. 5). O autor (idem) afirma, ainda, que pesquisas apontam que o
consumo responsável é um tendência a ser adotada nos próximos 20 anos.
O consumidor brasileiro está mais preocupado com a aquisição e o utilização
de produtos e serviços socioambientalmente sustentáveis. Além disso,
inúmeras leis de regulação ambiental têm sido geradas e estão colaborando
para maior conscientização da sociedade. […] Nesse contexto, o consumidor
desejará obter cada vez mais informações sobre os produtos oferecidos,
desde a compra de matérias-primas, passando pelo processo de fabricação,
até o destino final (MACROPLAN, 2012, p. 3, apud COMARU, 2017, p. 5).

Além dos benefícios que o ecodesign proporciona ao meio ambiente, ele também gera
inúmeros outros, como citado por Azevedo (n.d., online):

» Na economia – ao promover o racionamento e o uso inteligente de recursos,


tanto ambientais quanto financeiros.

» Como autoridade de mercado – ao adotar o ecodesign, uma empresa ou


profissional se destaca perante os demais, pois agrega valor sustentável à
sua marca.

» No atedimento à legislação ambiental – um dos avanços decorrentes de


conquistas do movimento ambientalista e de outros setores da sociedade é a
criação de leis e dispositivos de regulamentação ecológica. Ao empreender

41
Unidade I | Conceitos

projetos para uma construção sustentável, por exemplo, as ações não se


limitarão a uma lei, mas aos princípios que alicerçam o próprio ecodesign.

» Na ecoeficiência – refere-se, de forma direta, à performance e à eficiência


que um produto ou serviço fabricado segundo modelos do ecodesign deve
apresentar, a partir da otimização de recursos investidos e de sua economia.

» No diferencial competitivo – ao estabelecer diretrizes e meios de produção


ou qualquer projeto de ecodesign a partir de um conceito de gestão sustentável
e tornar seu trabalho e serviço diferenciado dos demais.

No Brasil, ainda são poucas as iniciativas que promovem o ecodesign em grandes


indústrias. A maioria dos designers que se destacam nessa área são estrangeiros, o que
deixa o país aquém do desenvolvimento sustentável perante o resto do mundo.

Entretanto, Azevedo (n.d., online) reitera que, atualmente, é possível destacar algumas
dessas aplicações do ecodesign na arquitetura e no design de interiores por meio da
fabricação de objetos ecologicamente otimizados e integrados a sistemas de automação
de ambientes. Já na engenharia e na construção civil, a aplicação do ecodesign caminha
rumo à escolha da matéria-prima, reutilização de recursos como a água, eficiência e
alternativas de energia e pós-uso.

Por sua vez, na moda, o ecodesign se dá em movimentos como o slow fashion, que, em
oposição ao fast fashion (ou moda rápida, de fabricação em massa), prioriza a artesania
das peças, e por isso, seu tempo de confecção é mais demorado. Azevedo (n.d., online), afirma que:
[...] esse movimento valoriza a diversidade; prioriza o local em relação ao
global; estabelece consciência socioambiental; contribui para a confiança
entre produtores e consumidores; pratica preços reais que agregam custos
sociais e ecológicos; e mantém sua produção entre pequena e média escalas
(AZEVEDO, n.d., online).

Berlim (2012) reitera que tal proposta aborda outro tipo de relação com o consumo –
o prazer vai para as esferas do criar, inventar e inovar ligados à consciência de quem
consome. O termo “slow fashion” teria “nascido do movimento ‘slow food’, criado em
1986 por Carlo Petrini, na Itália” (idem, 2012, p. 54).

A fim de exemplificar essa questão, apresentamos abaixo a marca de calçados Insecta


Shoes e seus sapatos veganos fabricados com borracha reciclada.

42
Conceitos | Unidade I

Figura 9. Modelo de Calçado da Marca Insecta Shoes.

CONTRAFORTE PALMILHA
& COURAÇA Sobras e resíduos da
produção reciclados em
Plástico reciclável formato de colmeia

CABEDAL
Tecido de garrafa PET
reciclada, algodão SOLA
reciclado, reúso e Borracha reciclada
roupas de brechó excedente da indústria
calçadista

Fonte: https://insectashoes.com/pages/sobre-nos/.

A marca de calçados, criada em 2014 no sul do país, apresenta o conceito do veganismo


em seus produtos ao não utilizar matéria-prima de origem animal. Como visto na Figura
9, a marca reaproveita peças de roupas de brechó e também garrafas PET recicladas
como base para os sapatos. Dessa forma, seu diferencial se dá na padronagem – ao
utilizar tecidos reaproveitados, os produtos se tornam únicos e exclusivos.

Contudo, cabe ressaltar os impactos positivos desse tipo de prática por meio de dados
numéricos a fim de se reforçar o exemplo aplicável na indústria da moda. Como afirma
o Relatório Socioambiental da marca (2019), a fabricação de cada sapato recicla cerca
de cinco garrafas PET. O relatório ainda afirma que, durante seis anos de existência, a
marca reciclou mais de 21.000 garrafas plásticas, quase uma tonelada de algodão, mais
de 6.800 quilos de borracha e mais de 1.600 quilos de caixa de papelão. Além disso,
ela reaproveitou mais de 2.000 metros de tecidos, e nenhum animal foi explorado
durante esse tempo.

Além disso, “desde 2014, mais de 600 sapatos já retornaram para o fechamento do
ciclo. Eles foram reciclados da forma certa. A sola se transformou em novas placas de
solado reciclado. O restante, em novas palmilhas” (INSECTA SHOES, 2019).

Para saber mais sobre o Relatório Socioambiental da marca e entender quais


atitudes e mudanças sociais ela promove, acesse: https://insectashoes.com/
pages/greenfriday2020.

43
SOCIEDADE E MEIO
AMBIENTE UNIDADE II

CAPÍTULO 1
Evolução Perceptiva sobre Natureza e
Meio Ambiente

Breve História
Conforme visto anteriormente, a consciência humana em relação aos problemas que
suas ações causam no meio ambiente começam a ser percebida com mais atenção a
partir da segunda metade do século XX. Entretanto,
Alguns autores vêm se dedicando ao aprofundamento do conhecimento a
respeito dos primórdios da ação degradadora da humanidade sobre o seu
ambiente. Alguns se atêm principalmente a visões temáticas, como a saúde,
as tecnologias, as migrações. Se prestarmos atenção no ocorrido no passado,
veremos que os elementos que atualmente ocupam o debate ambiental
estavam presentes na vida cotidiana e no legado das antigas civilizações
(BURSZTYN et al., 2012, p. 65).

Assim, conforme os autores (idem), entende-se que os problemas ambientais resultam


de ações milenares que a humanidade têm causado na natureza. Tais problemas podem
ser divididos em quatro períodos. São eles (BURSZTYN et al., 2012, p. 66-74):

1. A dependência da natureza – das origens da humanidade até a


revolução neolítica: desde o surgimento da humanidade, a exploração
em termos de caça, pesca e coleta foi necessária para a evolução da espécie.
Entretanto, o número baixo da população não causava impacto relevante
no meio natural em relação à degradação. Com o descobrimento do fogo,
os primeiros desmatamentos em larga escala começaram a surgir.

2. O início do poder sobre a natureza – de 10.000 a.C. até o fim do século


XV: com a revolução neolítica, que marca o início da civilização por volta

44
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

de 10.000 a.C., a ação dos homens sobre o meio natural se intensifica por
meio da criação de animais, irrigação, plantio e armazenamento, e com
isso, os povos que antes eram nômades se estabelecem, e o sedentarismo
se torna viável. A humanidade começa a execer um poder sobre a natureza,
na medida em que utiliza de seus recursos naturais em prol da produção
de excedentes.

3. A submissão da natureza – do século XVI ao século XIX: o período


mercantilista que se inicia a partir do século XVI intesifica o comércio, as
grandes navegações e amplia o uso dos recursos naturais, que passa a ser
um objeto de exploração e geração de riqueza a serviço da humanidade. A
ciência, por sua vez, é desenvolvida e direcionada como meio de dominação
e controle do meio ambiente, e o modo como a humanidade evoluiu é
marcado, entre outros motivos, pela apropriação dos recursos naturais.

4. Do domínio à preservação da natureza – séculos XIX e XX: alguns


setores da sociedade começaram a se conscientizar sobre a importância de
se preservar áreas consideradas selvagens ou menos alteradas, e com isso,
começou a valorização de áreas naturais e intactas. Visões antagônicas surgidas
nesse período sobre o modo como a humanidade deveria se relacionar com
a natureza se chocam – a visão antropocêntrica, na qual a humanidade seria
o foco da existência, é debatida pela visão biocêntrica, preconizada pelos
naturalistas de que todas as formas de vida são importantes e portanto, devem
ser respeitadas. No final do século XIX, surgem alguns instrumentos legais
de defesa e proteção ambiental, e vários tratados de âmbito internacional
começaram a ser esboçados. Porém, na primeira metade do século XX, a
preocupação com o meio ambiente foi deixada de lado em prol das guerras
mundiais, que causaram danos ambientais drásticos em escala nunca vistas,
tanto pela exploração dos recursos naturais quanto pelas bombas atômicas.
Com isso, a necessidade de se pensar em estratégias de conservação e proteção
da natureza a partir da segunda metade do século XX foi urgente e segue
sendo pauta indispensável nos dias de hoje.

45
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

Figura 10. Cooperação Mundial.

Fonte: https://brasilturis.com.br/parcerias-entre-destinos-turisticos/cooperation-1301790_1280/.

Para tanto, “a conferência científica das Nações Unidas sobre Conservação e Utilização
de Recursos Naturais [...] realizada em 1948, é considerada a primeira grande reunião
de caráter ambiental em escala internacional” (BURSZTYN et al., 2012, p. 75). A partir
disso, as preocupações acerca do tema cresceram e mobilizaram propostas e acordos
que se multiplicaram por meio de conferências internacionais.
Dentre elas, destacam-se a Conferência Mundial sobre os Parques Nacionais, em
1962, a criação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
em 1965, a Conferência sobre a Biosfera, em 1968, a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente Humano e a criação do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente (PNUMA), ambos em 1972, a Primeira Conferência das Nações
Unidas sobre Assentamentos Humanos, em 1976, a Conferência das Nações Unidas
sobre a Água, em 1977, a Conferência Mundial da Indústria sobre Gestão Ambiental,
em 1984, a Conferênia sobre o Clima Mundial, em 1988, e a Conferência sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992.
Muitos relatórios, documentos e publicações foram estabelecidos a partir dessas
reuniões entre os países a fim de se sugerir propostas e iniciativas em prol do meio
ambiente. Destacam-se a seguir, duas importantes publicações rumo ao desenvolvimento
sustentável para a sociedade mundial – o Relatório de Brundtland e a Carta da Terra.

Foi visto que foram precisos muitos milênios de pré-história e história


da humanidade – desde o surgimento do Homo Sapiens, viajando
pela sedentarização e pela revolução industrial – até que, muito
recentemente, por volta de 1970, acontecesse um debate público

46
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

sobre a vulnerabilidade da natureza. Depois disso, compreendeu-se


que, ademais da preocupação com a finitude dos humanos diante
de uma natureza incontrolável, existe o risco da finitude da própria
natureza diante de uma humanidade demasiadamente capaz (FITUSSI;
LAURENT, 2008, apud BURSZTYN et al., 2012, p. 81).

Relatório de Brundtland
Em 1987, foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
composta por políticos de diferentes países e presidida por Gro Harlem Brundtland,
primeira ministra da Noruega da época. Com três objetivos a serem atingidos – elaborar
um diagnóstico dos problemas ambientais e de desenvolvimento, propor modalidades
de abrangência internacional e incentivar uma atuação mais efetiva da comunidade
internacional – surgiu o relatório intitulado por Common Future, ou Relatório Brundtland.

As três partes desse relatório – preocupações comuns, problemas comuns e esforços


comuns – “propõem uma perspectiva de conciliação entre desenvolvimento e meio
ambiente, introduzindo oficialmente na agenda internacional a noção de desenvolvimento
sustentável” (BURSZTYN et al., 2012, p. 92).
O relatório possui muitos capítulos sobre questões setoriais que têm interface
com a questão ambiental: população, alimentação, agricultura, energia,
indústria, saúde, assentamentos humanos e relações internacionais. Contém
também capítulos que envolvem questões globais (qualidade ambiental
dos oceanos e mares, manutenção da biodiversidade e as vinculações entre
segurança e meio ambiente (BURSZTYN et al., 2012, p. 93).

Tabela 3. Relatório de Brundtland, proposto em 1987.

O Relatório Brundtland propõe uma série de medidas a serem tomadas pelos países. Entre elas:
1. restrição do crescimento populacional;
2. preservação de recursos básicos no longo prazo;
3. manutenção da biodiversidade e dos ecossistemas;
4. redução do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem a utilização de fontes energéticas
renováveis;
5. acréscimo da produção industrial nos países sem industrialização baseadas em tecnologias ecologicamente
adaptadas;
6. domínio da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores;
7. assistência às necessidades básicas (saúde, escola, moradia).
Em âmbito internacional, os objetivos propostos são:
1. utilização da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e instituições
internacionais de financiamento);
2. conservação de ecossistemas supranacionais, como a Antártica e os oceanos, pela comunidade internacional;
3. banimento das guerras;
4. aplicação de um programa de desenvolvimento sustentável pela ONU.
Fonte: Bursztyn et al., 2012.

47
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

O relatório serviu de base para outros documentos que vieram posteriormente,


porém com novos enfoques e novas projeções. Entretanto, as preocupações acerca do
desenvolvimento sustentável se manteve irrefutável, trazendo à tona a necessidade de
se construir uma nova relação entre o ser humano e o meio ambiente.

Carta da Terra
De acordo com Magalhães (n.d., online), “a Carta da Terra foi primeiramente idealizada
pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas,
em 1987”. Essa mesma comissão desenvolveu o Relatório de Brundtland. Entretanto,
foi só mais tarde, em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) realizada no Rio de Janeiro, também
conhecida por Rio 92 ou Eco-92, que foi elaborada a primeira versão da carta.

Conforme afirma a autora (idem), ainda que a carta tenha sido apresentada nesse evento,
ela só foi legitimada pela Unesco anos mais tarde, em 2000, com a adesão de mais de
4.500 organizações do mundo, incluindo o Brasil. Além de ser uma inspiração para a
busca de uma sociedade mais igualitária e justa, preza também pelo bem-estar mundial
ao tratar de temas éticos de suma importância para todos os cidadãos do século XXI.
A seguir, a Carta da Terra será exposta na íntegra, conforme o site da organização
(CARTA DA TERRA BRASIL, n. d., online) .

O caminho adiante
Como jamais visto na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo
começo. Tal renovação é a promessa destes princípios da Carta da Terra. Para executar
esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos
da Carta.

Isso necessita de uma modificação na mente e no coração. Precisa de um novo sentido


de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver
e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local,
nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e
diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão.
Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que gerou a Carta da Terra, porque
temos muito que aprender a partir da busca conjunta em andamento por verdade e
sabedoria.

48
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

A vida muitas vezes contém tensões entre valores importantes. Isto pode significar
escolhas difíceis. No entanto, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a
diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos
de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e
comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as
instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não
governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A
união entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade
efetiva.

Para criar uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem manter
seu compromisso com as Nações Unidas, exercer suas obrigações respeitando os
acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta
da Terra como um instrumento internacionalmente legalizado e contratual sobre o
ambiente e o desenvolvimento. Que o nosso tempo seja lembrado pelo acordar de uma
nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de atingir a sustentabilidade, a
intensificação dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida.

A gestão do meio natural sempre foi a base dos sistemas econômico,


social e político, e serviu de pano de fundo aos conflitos entre povos. A
capacidade natural e tecnológica de suprir as necessidades humanas
servia como fator condicionante do crescimento das populações e
da sua distribuição de território (BURSZTYN et al., 2012, p. 67).

49
CAPÍTULO 2
Conscientização Ambiental

Educação para a Sustentabilidade


Embora a preocupação dos países em se mobilizarem rumo ao desenvolvimento
sustentável tenha sido uma constante no atual século XXI, alguns problemas ainda
persistem e não foram superados. Dessa forma, Gadotti (2012) entende que é por meio
da educação que o desenvolvimento sustentável virá.

Figura 11. Educar para a Sustentabilidade.

Fonte: http://caapuaete.com.br/programa-de-educacao-ambiental/.

Conforme abordado anteriormente, a Carta da Terra é uma das iniciativas que apresenta
alguns princípios básicos sobre a preservação do meio ambiente, da sociedade e da
cultura como um todo. Assim, a carta traz ensinamentos de cunho global aos países a
fim de que a humanidade construa valores universais. Nesse sentido, Gadotti (2012,
p. 11) ressalta a ideia de que, “se não tivermos nada em comum, o que nos restará será
a guerra”, e portanto, faz-se necessário “realçar o que temos em comum como seres
humanos”.
A Carta da Terra tem um grande potencial educativo ainda que não
suficientemente explorado, tanto na educação formal, quanto na educação
não formal. Por meio de sua proposta de diálogo intertranscultural, pode

50
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

favorecer na superação do conflito civilizatório que vivemos hoje. Vivemos


uma crise de civilizações. A educação poderá ajudar a superá-la. Os princípios
e valores da Carta da Terra podem contribuir de base para a criação de um
sistema global de educação, uno e diverso, sob a coordenação da Unesco,
que poderá colocar uma base humanista comum para os sistemas nacionais
de educação (GADOTTI, 2012, p. 11)

Por esse viés, a ideia de que a educação é um meio pelo qual as sociedades globais
possam introduzir conhecimentos inovadores em seus sistemas surge como uma das
soluções viáveis por seu potencial transformador. Desse modo, constrói-se o conceito
de ecopedagogia “como pedagogia apropriada à Carta da Terra, à educação ambiental
e à educação para o desenvolvimento sustentável (EDS)” (idem, p. 14)
A ecopedagogia é uma pedagogia concentrada na vida: considera as pessoas, as
culturas, os modos de viver, o respeito à identidade e à diversidade. Estabelece
que o ser humano em movimento, como ser “incompleto e inacabado”, como
diz Paulo Freire (1997), em permanente formação, interagindo com os outros
e com o mundo. A pedagogia dominante objetiva-se na tradição, no que está
congelado, no que produz humilhação para o aprendente pela forma como
o aluno é avaliado. Na ecopedagogia, o educador deve acolher o aluno. A
acolhida, o cuidado, é a base da educação para a sustentabilidade promovida
desde 2002, pelas Nações Unidas, com a criação de uma “Década” dedicada a
ela. A ecopedagogia tem referência com a educação para a sustentabilidade
(GADOTTI, 2012, p. 16).

Em 2002, a ONU lançou a Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável,


no período entre anos de 2005 a 2014, programa em que enfatizava o papel da educação
na promoção da sustentabilidade. Gadotti (2012) afirma que a Unesco (Organização
das Nações Unidas para a Educação a Ciência e a Cultura) criou um grupo de referência
para subsidiar estudos e pesquisas para o desenvolvimento sustentável voltados para
a educação a fim de se incluir a sustentabilidade na matriz educacional para gerar
qualidade no processo de ensino-aprendizagem acerca do tema. Dentre as orientações
básicas, apresentam-se cinco estratégias. São elas (idem, p. 20):

1. determinar os princípios para uma maior união mundial pela sustentabilidade,


governamental e não governamental;

2. de fato, começar pela geração e acompanhamento dos trabalhos das comissões


nacionais da Década;

3. produzir centros de referência em diferentes partes do mundo para fomentar


a discussão, a pesquisa e a intervenção na EDS;

51
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

4. determinar estreita ligação com outras iniciativas e décadas da ONU, tais como:
Década da Alfabetização, Educação para Todos, HIV/Aids e os Objetivos do
Milênio;

5. firmar uma estratégia de comunicação e informação fortemente baseada nas


novas tecnologias e, principalmente, na Internet.

O autor (2012) afirma, ainda, que algumas dessas estratégias já foram estabelecidas e
atreladas a outras, como a Carta da Terra. “A Unesco, em sua Conferência Geral de
2003, reconheceu a Carta da Terra como um quadro de referência importante para o
desenvolvimento sustentável e, agora para a EDS” (GADOTTI, 2012, p. 20).

De modo geral, os continentes têm adotado estratégias de implementação da Década,


que variam de acordo com a situação financeira, interesses, necessidade, dentre outros
aspectos importantes para as regiões. No caso da América Latina, onde o Brasil está
localizado, conforme afirma Gadotti (2012), definiu-se a estratégia num encontro
latino-americano em Costa Rica, em 2006, e destacam-se:
[...] a articulação de esforços convergentes, a união e harmonização da
política educativa em cada país com a EDS, o fortalecimento de marcos
normativos e políticas públicas para o seu incremento, a comunicação e a
informação sobre o que é sustentabilidade e o fortalecimento da cooperação
e da associação estratégica entre os divergentes setores e agentes do âmbito
público, privado e da sociedade civil organizada (GADOTTI, 2012, p. 26).

Em suma, a importância da Década se dá em resgatar e por em prática “lutas por uma


cultura da sustentabilidade, desde Estocolmo (1972), passando pelo Nosso Futuro
em Comum (1987), pela Rio-92, pelo Fórum de Educação de Dakar (2000) e pelos
Objetivos do Milênio (2002)” (idem, p. 33)
[...] o foco maior da Década é integrar princípios, valores, e práticas de
desenvolvimento sustentável em todos os aspectos da educação e do ensino.
Esse esforço educacional deve encorajar modificações no comportamento para
gerar um futuro mais sustentável em termos da integridade do meio ambiente,
da viabilidade econômica, e de uma sociedade justa para as atuais e as futuras
gerações [...]. O programa Educação para o Desenvolvimento Sustentável
exige que se reexamine a política educacional, no sentido de reorientar a
educação desde o jardim da infância até a universidade e o aprendizado
constante na vida adulta, para que esteja claramente enfocado na aquisição
de conhecimentos, competências, perspectivas e valores relacionados com
a sustentabilidade (UNESCO, 2005a, p. 57 apud GADOTTI, 2012, p. 34).

52
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

Os objetivos específicos da Década, segundo a Unesco, são (GADOTTI, 2012, p. 34):

» favorecer as redes e os vínculos entre os ativistas que defendem a EDS;

» agregar o ensino e a aprendizagem da EDS;

» auxiliar os países na implementação dos Objetivos do Milênio, por meio


da EDS;

» ofertar aos países novas oportunidades para agregar a EDS nos seus esforços
de reforma educacional.

Como foi visto, a educação é um importante agente transformador do pensamento, da


mobilização, da atitude e do comportamento, e, dessa forma, “educação é um elemento
indispensável para que se atinja o desenvolvimento sustentável” (UNESCO, 2005a, p.
27 apud GADOTTI, 2012, p. 35).
A Terra é nossa grande educadora. Educar para um outro mundo possível
é também educar para localizar nosso lugar na história, no universo. É
educar para a paz, para os direitos humanos, para a justiça social e para a
diversidade cultural, contra o sexismo e o racismo. É educar para a consciência
planetária. É educar para que cada um de nós busque o seu lugar no mundo,
educar para participar de uma comunidade humana planetária, para sentir
profundamente o universo (GADOTTI, 2012, p. 107).

Videoaula “Ecopedagogia e Pedagogia da Terra” da Profa. Aline Hernandez.


Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-Q6-OVAS3MM.

Perspectivas para o Futuro


Conforme apresentado anteriormente, o futuro do planeta, em termos sustentáveis,
tem sido pauta urgente e necessária nas grandes conferências mundiais. Tais encontros
favorecem algumas condições internas nos países,
[...] como o fortalecimento institucional, a inserção de canais de participação,
maior atenção para com a educação, incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento
científico e tecnológico, condições obrigatórias à proteção ambiental e ao
desenvolvimento sustentável (BURSZTYN et al., 2012, p. 131).

Entretanto, na prática, entende-se que o processo ainda é lento em termos de mudanças


políticas e econômicas, que insistem em “seguir a lógica contábil de curto prazo” (idem,
p. 131). Países que não possuem um Estado forte e presente têm dificuldades de efetivar
os mecanismos de regulação pública.

53
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

A EDS é uma visão central do sistema educacional direcionado para o


futuro. Contudo, não é suficiente mudar o comportamento das pessoas;
nós necessitamos de iniciativas políticas. O sistema formal de educação,
geralmente, é baseado em princípios predatórios, em uma racionalidade
instrumental, reproduzindo valores insustentáveis. Para inserir uma cultura
da sustentabilidade nos sistemas educacionais, nós precisamos reeducar
o sistema. Ele faz parte do problema, não é somente parte da solução
(GADOTTI, 2012, p. 39).

Figura 12. Futuro Sustentável.

Fonte: https://blog.facens.br/tag/futuro-sustentavel/.

Nesse sentido, Gadotti (2012) afirma que é necessário suspender o paradigma educacional
que reafirma princípios insustentáveis pautados na economia. “A EDS precisa aproveitar-
se das contradições existentes no interior dos sistemas educativos e fazer avançar a
educação sustentável, [...] educar os sistemas para e pela educação” (GADOTTI, 2012,
p. 88).
Assim, entende-se que precisamos de uma proposta altermundista do
desenvolvimento sustentável, uma visão que não separa o econômico do
político e do social e da procura de uma existência sustentável. Dessa maneira,
educar para o desenvolvimento sustentável é educar para um estilo de vida
sustentável, muito mais do que educar para um molde de desenvolvimento
nos modelos capitalistas (GADOTTI, 2012, p. 92).

Portanto, Gadotti (2012) entende que é necessário que a Década seja incorporada
na vida das pessoas como um estilo e filosofia de vida, para que de fato faça parte
da mudança do planeta, em pequenos problemas vivenciados diariamente. Como

54
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

perspectivas para o futuro, o autor (idem, p. 97) apresenta os desafios para se alcançar
os objetivos da Década:

» Repensar os paradigmas: diálogo de saberes e ignorância (o que ignoro, o


que não sei e preciso saber), diálogo de civilizações.

» Reconstrução da ética não como parte da filosofia ou das religiões, mas da


ética do vivido.

» Uma visão teleológica da educação: para que educamos? Refundação dos


processos educativos com base na sustentabilidade. Se a educação não é
crítica, cedo ou tarde ela se torna treinamento.

» A educação ambiental é um movimento social e um campo do conhecimento.


Estudos e pesquisa são indispensáveis nesse campo para uma EDS. Temos
um amplo capital político e pedagógico que devemos apresentar à Década
da EDS.

Além disso, Braungart e McDounough (2013, apud PÊGO, 2021) oferecem novos
caminhos a serem percorridos pelo design contemporâneo no que tange ao seu “ciclo
de vida”. Em contraposição a “um sistema produtivo linear ‘do berço ao túmulo’, os
autores propõem um sistema produtivo circular ‘do berço ao berço’, no qual todos os
resíduos são considerados como ‘nutrientes’ de um novo ciclo” (PÊGO, 2021, p. 147).

Os autores entendem que “o lixo, a poluição, os produtos brutos e outros efeitos


negativos [...] não são resultado de corporações que fazem algo moralmente errado.
São consequências de um design obsoleto e pouco inteligente” (BRAUNGART;
McDONOUGH, 2013, p. 47 apud PÊGO, 2021, p. 147), e ressaltam, portanto, a
importância de se pensar em produtos como um todo, pensando em toda a sua cadeia,
“eliminando o emprego de materiais híbridos que inviabilizam a reutilização, reciclagem
ou incineração após o descarte” (idem, p. 147). Dessa forma, foi elaborada uma
metodologia de design sistêmico cuja estrutura não linear se opõe à visão mecanicista.
Na visão mecanicista, um fenômeno complexo é dividido em pequenas partes
para se entender o comportamento do todo, a partir das propriedades de suas
partes. Nesta conceito, o objetivo dos designers se restringe ao produto e/ou
serviço, ou à solução de um problema específico, pois tendem a responder
às demandas dos clientes sem questionamentos. Tal posicionamento os
impossibilita de perceber as relações que podem ser estabelecidas entre
as várias partes envolvidas, i.e., de maneira linear. Logo, o escopo de um
projeto no âmbito produtivo tradicional é o produto, do ponto de vista

55
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

clássico – aquele que será comercializado nos pontos de venda ou entregue


ao consumidor (PÊGO, 2021, p. 149).

Figura 13. Abordagem Linear (Tradicional).

Entrada

Atividade
Saída

Produto
comercial
Resíduos

Fonte: Pêgo, 2021.

Conforme visto na Figura 13, o produto comercial é o foco e não há preocupação


com os resíduos gerados durante o processo. Entretanto, na abordagem sistêmica, seu
funcionamento é pensando de maneira ampla e engloba o sistema como um todo. “Nesse
modelo, as várias atividades de vida e de produção coexistem de maneira participativa
e têm a sua função essencial no sistema, nenhuma prevalece sobre a outra, mas cada
uma existe graças a todas as outras” (idem, p. 151).
A essência do Design Sistêmico se baseia em um simples princípio, mas que
rompe definitivamente com nosso pensamento linear: os output (resíduos
ou descartes) de um sistema produtivo devem se modificar em entrada
(recursos: matéria ou energia) para outros sistemas, de maneira sistêmica
e contínua (BISTAGNINO, 2011). Em outras palavras, os ‘resíduos’ são
considerados como elementos dinâmicos nos processos produtivos, pois são
transformados em ‘matéria-prima’ produzindo valor, inclusive econômico
(PÊGO, 2021, p. 151).

56
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

Figura 14. Abordagem Sistêmica.

Entrada

Saída Atividade

Produto
comercial
Recursos
Fonte: Pêgo, 2021.

Dessa forma, cabe ao designer aplicar o design sistêmico (idem) de maneira a pensar o
contexto ao qual o produto ou serviço estarão inseridos. Sob essa ótica,
[...] o produto é o último dos valores a ser levado em consideração, pois a
produção de um objeto perde totalmente o sentido se não atende o que é
realmente necessário para a existência dos atores envolvidos, e se não for
levado em consideração, antecipadamente, os valores que são importantes
para a vida humana. Isto fornece estimulo aos valores correlatos ao ‘ser’,
e não ao ‘ter’, invertendo a prioridade das relações, além de favorecer o
atendimento das demandas sociais e produtivas (PÊGO, 2021, p. 152).

Dentre os objetivos do design sistêmico, Pêgo (2021, p. 153) afirma que é “promover
o reequilíbrio entre produção, ambiente e sociedade, por meio do desenvolvimento
de produtos, sistemas, serviços ou processos que tendem à emissão zero”. Para um
melhor entendimento, a metodologia foi dividida em quatro etapas:

1. Entender o território: investigação da localidade em questão nas dimensões


ambiental, social, cultural, comercial e produtiva, assim como suas relações –
relevo holístico.

2. Sistematizar e estudar os sistemas produtivos: apuração de todos os input


e output das atividades produtivas locais – esquema conceitual produtivo.

3. Realizar projetos: desenvolvimento dos fluxos de matéria e energia entre


os sistemas produtivos do território – esquema conceitual da rede de relações
entre os projetos.

4. Confrontar: comparação da abordagem atual (existente) com a sistêmica


(proposta) – comparativo qualiquantitativo.

57
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

Contudo, nenhuma grande mudança ainda foi efetivada, e o design


contemporâneo terá ainda muitos desafios pela frente em todos os sentidos.
Entretanto, conforme apresentadas no capítulos, pequenas mudanças de
hábitos podem gerar grandes mudanças futuras, e “esses comportamentos
são indispensáveis, mas essa mudança de comportamento, como vimos, deve
atingir a grande produção. O que importa é mudar o sistema” (GADOTTI,
2012, p. 103).

[…] Temos que reconhecer o dever de lutar pelos princípios éticos


primordiais como o respeito à vida dos seres humanos, à vida dos
outros animais, à vida dos pássaros, à vida dos rios e das florestas.
Não acredito na amorosidade entre mulheres e homens, entre os seres
humanos, se não nos tornarmos capazes de amar o mundo. A ecologia
ganha uma importância primordial neste fim de século. Ela tem que
estar presente em qualquer prática educativa de caráter radical,
crítico ou libertador […]. Neste sentido me parece uma contradição
lamentável fazer um discurso progressista, revolucionário, e ter uma
prática negadora da vida. Prática poluidora do mar, das águas, dos
campos, devastadora das matas, destruidora das árvores, ameaçadora
dos animais e das aves (FREIRE, 2000, pp. 66-67 apud GADOTTI,
2012, p. 15).

58
CAPÍTULO 3
Sociedade de Consumo, Globalização e
Recursos Naturais

Consumo e Sociedade
Consumo, por definição de Bezerra (n. d., online) “é o ato de utilizar um produto
ou serviço para satisfazer uma necessidade pessoal ou de um grupo”. Nesse sentido,
entende-se o termo como amplo, e se aplica nos atos de comer e vestir, por exemplo.
A autora (idem) classifica os tipos de consumo de acordo com as necessidades:

» Consumo essencial: diz respeito às necessidades fundamentais de cada


pessoa, como a alimentação, o vestuário e o lazer.

» Consumo supérfluo: refere-se a tudo aquilo que não é de extrema


necessidade à nossa existência.

» Consumo individual: é aquele executado por uma só pessoa, quando esta


adquire bens para uso exclusivo.

» Consumo coletivo: envolve os serviços que são utilizados por todos, como
saúde, educação e transportes.

» Consumo intermediário: trata do destino que terá um bem. Uma empresa


que adquire tecidos para produção de roupas é um exemplo de consumo
intermediário, pois o tecido ainda será transformado.

» Consumo final: quando alguém adquire uma roupa já pronta, por exemplo,
essa pessoa será o consumidor final.

» Consumo sustentável: refere-se ao que preserva o meio ambiente. O


consumidor tem uma função ativa, pois só vai adquirir itens que sejam
fabricados sem prejudicar a natureza.

Assim,
[...] se reduzido à maneira arquetípica do ciclo metabólico de ingestão,
digestão e excreção, o consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e
irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento indispensável

59
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

da sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os


outros organismos vivos. Enxergado dessa forma, o fenômeno do consumo
tem premissas tão antigas quanto os seres vivos – e com toda certeza é parte
permanente e integral de todas as formas de vida conhecidas a partir de
narrativas históricas e relatos etnográficos (BAUMAN, 2008, p. 37).

Já o consumismo “leva às pessoas a adquirirem mais bens do que necessitam ou a


comprarem por impulso bens que não tem nenhuma utilidade” (BEZERRA, n. d.,
online). A sociedade orientada para o consumismo passa a querer, desejar e ansiar
repetidas vezes, conforme Bauman (2008), e com isso, passa a sustentar a economia
e se torna um estilo de vida.
De forma divergente do consumo, que é basicamente uma característica
e uma ocupação dos seres humanos como indivíduos, o consumismo é
um atributo da sociedade. Para que uma sociedade adquira esse atributo, a
capacidade profundamente individual de querer, desejar e almejar deve ser,
tal como a capacidade de trabalho na sociedade de produtores, destacada
(“alienada”) dos indivíduos e reciclada/reificada numa força externa que
coloca a “sociedade de consumidores” em movimento e a mantém em curso
como uma maneira específica de convívio humano, enquanto ao mesmo
tempo estabelece parâmetros específicos para as estratégias individuais de
vida que são eficientes e manipula as probabilidades de escolha e conduta
individuais (BAUMAN, 2008, p. 41).

Figura 15. Mundo Consumista.

Fonte: https://educezimbra.wordpress.com/2018/01/04/educacao-para-o-consumismo/.

60
Sociedade e Meio Ambiente | Unidade II

Vídeo “Repensar o Consumo” com o jornalista André Trigueiro. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=_t223swPVlA.

Globalização econômica
Ao se falar de globalização econômica, é importante entender o que significa a palavra
globalização. Pena (n.d., online) a entende como sendo um termo oriundo da década
de 1980 que descreve a integração político-econômica entre os países. Tal integração
se deve ao fato de terem ocorrido avanços tecnológicos nos meios de comunicação e
transporte de massa. Entretanto, alguns autores consideram o início dessa interrelação
mundial a partir das grandes navegações e expansões coloniais que ocorreram no final
do século XV e início do século XVI.

No século XXI, “a globalização, impulsionada pela tecnologia, parece determinar


cada vez mais nossas vidas. […] Como fenômeno, como processo, a globalização é
irreversível” (GADOTTI, 2012, p. 29). Porém, tal qual como se conhece atualmente,
conforme afirma o autor (idem), a globalização capitalista, em que os países ricos
comandam e os países pobres sofrem seus efeitos, muitas vezes têm consequências
catastróficas, como, por exemplo, a exploração de recursos naturais ou a terceirização
de mão de obra a baixo custo, semelhantemente ao que acontecia no período colonial.

Ainda que a globalização contenha equívocos que precisam ser repensados, em termos
de cidadania (idem), ela vem sendo constituída num importante elemento de construção
da noção de pertencimento à humanidade no planeta Terra. Dessa forma, “qualquer
pedagogia, pensada fora da nova globalização e do movimento ecológico mundial, tem
hoje sérios problemas de contextualização” (GADOTTI, 2012, p. 30)
A visão de cidadania planetária (mundial) sustenta-se na proposta unificadora
do planeta e de uma sociedade mundial. Ela se estabelece em diferentes
expressões: “nossa humanidade comum”, “unidade na diversidade”, “nosso
futuro comum”, “nossa pátria comum”. Cidadania planetária é um termo
adotado para expressar um conjunto de princípios, valores, atitudes e
comportamentos que demonstram uma nova percepção da Terra como uma
única comunidade. Geralmente associada ao “desenvolvimento sustentável”,
ela é muito mais ampla do que essa relação com a economia. Refere-se de um
ponto de referência ético indissociável da civilização planetária e da ecologia.
A Terra é “Gaia”, um superorganismo vivo e em evolução. O que for feio a
ela repercutirá em todos os seus filhos (GADOTTI, 2012, pp. 30-31).

61
Unidade II | Sociedade e Meio Ambiente

Figura 16. Mundo Globalizado.

Fonte: https://pixabay.com/pt/illustrations/crian%C3%A7as-fam%C3%ADlia-rede-juntos-4685126/.

Dito isso, ao perceber que “a derubada da floresta amazônica, ou de qualquer floresta


do mundo, não é apenas um fato local. É um atentado contra a cidadania planetária”
(idem, p. 31). Porém, tal preocupação não pode apenas se restringir à dimensão
ambiental, mas também deve perpassar pelas esferas econômicas, sociais e culturais,
no que tange a diminuir as desigualdades e a propagar a cultura da “justipaz (a paz
como fruto da justiça)” (idem, p. 32).

Vídeo “Globalização” do canal Toda Matéria. Disponível em: https://www.youtube.


com/watch?v=CpkjTkCFOjQ.

62
GESTÃO AMBIENTAL UNIDADE III

CAPÍTULO 1
Responsabilidade Socioambiental

Por causa das enormes modificações globais que afetam o cotidiano das pessoas
começaram a surgir certos paradigmas, como a preocupação com a questão ambiental,
que se deve ao crescimento desenfreado das cidades e das indústrias.

Esses paradigmas fazem com que as pessoas modifiquem sua forma de agir e de pensar
– e não só as pessoas, como as empresas e principalmente o governo, que estão sendo
pressionados por novas condutas. A sociedade está reconhecendo a falta dos recursos
naturais, o que obriga as empresas a adotarem atitudes ambientais e mais com relação
à saúde e segurança de seus colaboradores, assumindo uma posição de responsável
socialmente e ética perante a sua comunidade.

A questão ambiental atualmente é cada vez mais visualizada como um fator primordial
no processo de gestão. Ao longo das décadas, seu conceito e aplicação foram expandindo-
se e aumentando a preocupação para o nível estratégico das empresas, que são apenas
questionadas pelo que fazem, mas especialmente pelo que deixam de fazer, como a
falta de participação, o descaso com problemas da sociedade, a pouca qualidade os
produtos e serviços. Em um passado pouco distante, as empresas eram encaradas
como fonte de progresso e riqueza, mas atualmente são analisadas pelo custo social
do desenvolvimento.

As práticas ambientais devem ser, nos próximos anos, a ajuda que faltava para as
empresas evoluírem. Como os consumidores estão com objetivo de comprar produtos
que não prejudiquem o meio ambiente, as empresas que não estiverem cuidando do
meio ambiente perderão espaço e dificilmente serão competitivas.

Esse tipo de investimento sugere uma nova forma de trabalho. As atividades exercidas
pelas empresas são revistas, procurando identificar os impactos que possam provocar

63
Unidade III | Gestão Ambiental

ao meio ambiente e como estes podem ser diminuídos ou, até mesmo, eliminados.
Não é só o meio ambiente que sai ganhado: as organizações também se beneficiam
com essa prática.

Com base nisso, este capítulo terá o foco no entendimento do que é responsabilidade
socioambiental e a sua importância para as empresas.

Há quem creia que a responsabilidade socioambiental se baseia na execução de leis e


normas interligadas à preservação do meio ambiente nas empresas. Contudo, não é
dessa forma que acontece. As organizações devem seguir as exigências legais sim, mas
a responsabilidade vai além disso.

A responsabilidade socioambiental é um compromisso. Uma modificação que deve


acontecer nas políticas da corporação e na cultura da empresa, refletindo na preservação
do meio ambiente e no mundo que será deixado para as gerações futuras. Portanto, é
necessário que exista uma modificação de postura dos gestores organizacionais e na
forma de executarem as tarefas diárias.

Nessa cultura, a organização necessita estabelecer um bom relacionamento com a


comunidade e os órgãos governamentais envolvidos ao meio ambiente. Também é
primordial a definição de práticas que demonstrem aos stakeholders o compromisso
da companhia com a sustentabilidade. A questão ambiental deve ser encarada como
um dos valores do negócio.

É bom ressaltar que uma política de responsabilidade socioambiental é um


compromisso da organização a ser executado, antes de tudo, com a sociedade.

Como mencionado anteriormente, a responsabilidade socioambiental não gera


benefícios apenas para o meio ambiente e para as pessoas, pois as empresas também
são beneficiadas com essa prática. Isso porque é possível fazer uso das ações executadas
como uma estratégia de marketing.

As instituições que investem em políticas sustentáveis relatam ao público que são


éticas e responsáveis. Com isso, conquistam um grupo de consumidores que prioriza
adquirir produtos de empresas com essa política, uma vez que também se preocupam
com o meio ambiente e com os aspectos sociais. São comumente conhecidos como os
“consumidores verdes”.

64
Gestão Ambiental | Unidade III

Além do que, a companhia melhora a sua imagem corporativa, principalmente se


investir em ações que melhoram a qualidade de vida das comunidades locais, seja
ambiental ou socialmente.

Dessa forma, os funcionários da empresa também são estimulados, pois existe certo
prazer pessoal em trabalhar em uma organização que preza pela conservação do meio
ambiente e pelo bem-estar da sociedade.

As práticas de responsabilidade socioambiental têm sido executadas por diversas


empresas. Muitas delas formaram comitês organizacionais responsáveis por propor
ações e mensurar os impactos socioambientais da companhia dentro e fora do ambiente
corporativo.

O envolvimento dos colaboradores nessas ações é algo bastante importante. É uma


maneira de fazer com que eles se sintam participativos e responsáveis. Eles devem
compreender o compromisso da empresa e entender, ainda, que a responsabilidade
socioambiental é uma tarefa de todos.

Uma boa opção é conservar o apoio de uma consultoria especializada, para que se
visualizem oportunidades de ação socioambiental, somando para a eficiência do trabalho
responsável. Tudo isso objetivando sempre a saúde do meio ambiente e da sociedade,
bem como o sucesso dos negócios da organização.

Leitura dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Autor: SESI (Serviço Social


da Indústria). Disponível em: https://www7.fiemg.com.br/sesi/produto/agenda-
2030---objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-.

Responsabilidade social
A responsabilidade social pode ser compreendida como o relacionamento ético da
empresa com todos os grupos de interesse que influenciam ou são impactados pelos
stakeholders (acionistas). Esse relacionamento das empresas com os stakeholders e o meio
ambiente deve estar relacionado com suas políticas, seus valores, cultura e estratégias.
Na medida em que a empresa está incorporada na sociedade, pode-se observar uma
relação de interdependência entre ambas, uma sinergia que pode ser qualificada como
responsabilidade social da empresa.

Até os anos 1930, as empresas não tinham conhecimento da responsabilidade social e


das informações empresariais. Mantinha-se segredo sobre o desempenho financeiro

65
Unidade III | Gestão Ambiental

da organização, a lei obrigava a divulgar somente algumas poucas informações das


empresas.

Isso se manteve até a metade dos anos 1960, quando os problemas ambientais começaram
a ser questionados internacionalmente. A partir dos anos 1980, com a globalização, as
modificações econômicas e socioculturais começaram a afetar a maneira de agir das
pessoas que estavam habituadas a se preocupar apenas com os lucros e não tinham de
prestar contas à sociedade.

A responsabilidade social praticada pelas empresas faz com que elas vejam os interesses
das partes, dos acionistas aos seus colaboradores, o meio ambiente e o governo,
incorporando-os às suas atividades e procurando atendê-los.

A sociedade atual procura uma redefinição do papel social da empresa, pois evoluiu a
conscientização de que não basta favorecer empregos, gerar produtos, oferecer benefícios
à sociedade, uma vez que as companhias também produzem resultados indesejáveis,
como poluição, degradação do meio ambiente, ou seja, problemas produzidos pela
empresa a terceiros (pessoas ou comunidade). Enfim, a empresa tem de demonstrar
sua utilidade social e sua contribuição para amenizar esses problemas, buscando o
bem comum.

A responsabilidade social é o foco social da empresa adicionado à sua atuação econômica,


sendo incorporada na sociedade não somente como agente econômico, e sim como
agente social, cumprindo deveres, procurando direitos em função do desenvolvimento
da sociedade, enfim, sendo uma empresa cidadã, que se preocupa com a qualidade de
vida do homem na sua totalidade.

A responsabilidade social permite praticar, de maneira coerente e racional, as estratégias


dos canais de relação entre a empresa, seu público, a sociedade, com base nos seguintes
princípios:

a. colaborar para o desenvolvimento do ser humano, respeitando sua cultura


e valores, e defendendo seu direito à liberdade de pensar e de se expressar;

b. certificar condições saudáveis de trabalho para os seus funcionários,


retribuição justa, capacitação profissional, realização pessoal, dando caminho
ao diálogo e à liberdade no processo de tomada de decisões;

c. exercer a liderança com transparência e ética, priorizando o interesse coletivo


na condução dos negócios;

66
Gestão Ambiental | Unidade III

d. favorecer a preservação do meio ambiente, levando em consideração a gestão


de recursos e a oferta de produtos ecologicamente corretos;

e. praticar a excelência na fabricação de produtos e na prestação de serviços,


associados à característica ética, com base no seu consumo ou utilização,
não acarretando prejuízo aos consumidores;

f. possibilitar projetos com vistas ao desenvolvimento cultural, científico,


esportivo, educacional e comunitário.

A responsabilidade social, quando interligada ao processo de gestão, deve ser visualizada


não apenas como uma prática, mas deve estar relacionada à filosofia do negócio, que
vai além da relação comercial/financeira das empresas e das decisões ou vontades das
autoridades da empresa, mas está incorporada no seu público, parceiros e na cultura
da empresa.

Não se pode confundir a responsabilidade social de uma empresa com um investimento


isolado. Esse tipo de investimento é admirável, contudo seu conceito é muito maior. A
responsabilidade social empresarial deve se iniciar com uma avaliação da importância
e do poder da empresa, que seria possuidora de influência, o que implica muita
responsabilidade.

O emprego da responsabilidade social pode gerar muitos benefícios às organizações


e também à sociedade. Alguns estudiosos condenam a utilização da responsabilidade
social como forma de promoção e publicidade, no entanto, uma empresa deve aliar
seus objetivos, como lucro e crescimento, à responsabilidade social, já que os primeiros
garantem a sobrevivência da empresa, e a segunda permite a perpetuação de sua
atividade.

É garantido que, para muitas empresas, o bem-estar ainda não é preponderante, contudo,
há procura por melhores negócios e lucratividade. Na responsabilidade social, existe
o lucro, é uma relação em que todos saem ganhando.

Responsabilidade social no Brasil


Pode ser considerada como origem da responsabilidade social no Brasil a criação da
Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), em 1960, que reconheceu
a função social da empresa associada.

67
Unidade III | Gestão Ambiental

No ano de 1982, a Câmara Americana do Comércio de São Paulo instituiu o prêmio


Eco de Cidadania Empresarial. Em 1984, a Nitrofértil destacou-se como a primeira
empresa brasileira a publicar seu balanço social, que era seu demonstrativo realizado
pelas empresas, para divulgar o montante e o destino de seu investimento social.

Em 1998, foi criado o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social pelo


empresário Oded Grajew, um dos fundadores da empresa Grow Jogos e Brinquedos.
O Instituto Ethos teve como função estabelecer uma ponte entre os empresários e
as causas sociais e tem como objetivo propagar as práticas de responsabilidade social
empresarial por meio de publicações, experiências e eventos.

Existe uma enorme discussão sobre responsabilidade social pelo mundo; no Brasil, já se
tem acompanhado bons resultados dessa nova conscientização, como a regulamentação
de uma norma ISO de responsabilidades sociais. Mas foi a partir dos anos 1990 que a
responsabilidade social teve grande significado pelo surgimento de movimentos para
adesão da responsabilidade social, das criações das organizações não governamentais e
discrepâncias sociais providas do crescimento econômico desenfreado dos anos 1980.

Enfim, outras conquistas, como as normas ISO e de qualidade ambiental, tornam-se


um aspecto muito notável e mostram o andamento das empresas para contribuir com
a melhoria da qualidade de vida da sociedade.

Questão ambiental
A preocupação com a proteção do meio ambiente está em crescimento no debate
mundial, traduzindo-se com inúmeros movimentos sociais, uma modificação de
cultura, que caracteriza uma nova postura do setor privado no lançamento de produtos
ou serviços e na sua revisão nos processos de produção com a fabricação de produtos
que não façam mal à natureza e não se tornem uma ameaça para as gerações futuras.

A primeira manifestação internacional organizada em benefício do meio ambiente foi


o Business Council for Sustentable Development, que era um grupo de trabalho formado
pela iniciativa privada mundial, participante da Conferência Internacional do Meio
Ambiente, realizada em 1992, no Rio de Janeiro. Esse grupo tinha o objetivo de
influenciar debates técnicos e políticos mostrando a opinião pública nas iniciativas
implementadas pelas empresas.

A empresa ambientalmente responsável investe em tecnologia antipoluição, recicla


produtos e lixo, produz áreas verdes, conserva um relacionamento ético com órgãos

68
Gestão Ambiental | Unidade III

de fiscalização e comunidade, é responsável pelo ciclo de vida de seus produtos e,


principalmente, propaga práticas de preservação do meio ambiente. A sua prática
irresponsável pode acarretar em multas e indenizações, que podem comprometer a
saúde da empresa.

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CAPÍTULO 2
Desenvolvimento de Produtos
Sustentáveis

Em um mundo no qual quase estamos chegando aos oito bilhões de habitantes, o antigo
padrão de comprar, usar e descartar da economia linear ficou ultrapassado e nos faz
caminhar para um futuro incerto. Nesse sentido é que surge o ecodesign, produtos
sustentáveis que incluem critérios ecológicos em todas as suas fases: concepção,
desenvolvimento, transporte e reciclagem.

O ecodesign é um método de desenvolvimento de produtos que visa à diminuição


do impacto ambiental e utiliza a criatividade para produzir produtos e processos
mais eficientes sob o ponto de vista da sustentabilidade. Ressalta-se a integração de
requisitos de aspectos ambientais aos requisitos usuais do projeto de produto, em que
predominavam, fundamentalmente, os aspectos técnicos e econômicos.

Eis o conceito de eco-concepção de produtos leves: antes, durante e após a utilização, a


manutenção do equilíbrio do produto com o meio ambiente é tão importante quanto
a possibilidade técnica, o controle de custos e a demanda de mercado relativa a esse
produto, como pode ser visto nas Figuras abaixo.

Figura 17. O Ecodesign cria Produtos e Serviços Ecológicos.

Fonte: IBERDROLA, 2021.

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Gestão Ambiental | Unidade III

Figura 18. Pratos e Talheres Ecológicos.

Fonte: IBERDROLA, 2021.

Figura 19. Utensílios de Decoração Ecológicos.

Fonte: IBERDROLA, 2021.

Figura 20. Vestimentas Ecológicos.

Fonte: IBERDROLA, 2021.

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Unidade III | Gestão Ambiental

No ecodesign, o projetista seleciona e procura soluções de projeto de acordo com seu


impacto no ciclo de vida do produto: fabricação, embalagem, utilização, substituição
de peças e fim de vida. O projetista visa a utilização do produto, pois este não é
independente nem homogêneo, e exige outros produtos e atores para a sua fabricação,
o transporte e utilização, em uma abordagem transversal e multidisciplinar.

A multidisciplinaridade do ecodesign, levando em consideração que o desenvolvimento


de um novo produto não é um processo linear e repetitivo, é algo complicado, pois
interações inesperadas entre o produto e o meio podem surgir, requerendo a utilização
de modelos não lineares para o seu teste.

Temos de realizar melhor a produção e com mais eficácia por uma razão evidente: as
matérias-primas e os recursos naturais não são infinitos e podem se esgotar se não
cuidarmos deles. Alguns deles, como a água, são primordiais para a vida, enquanto setores
fundamentais da economia, como, por exemplo, a indústria tecnológica, dependem
dos minerais. As coisas pioram para o planeta se a esses problemas adicionamos as
emissões de CO2 e o gasto energético dos centros de produção.

Estudo do desenvolvimento de produtos sustentáveis


(DPS)
Por definição, o desenvolvimento de produtos tem como conceito a execução de
uma variedade de atividades por meio da qual se busca, a partir das necessidades do
mercado e das possibilidades e restrições tecnológicas, e considerando as estratégias
competitivas e de produto da empresa, chegar às especificações de um produto e de
seu processo de produção, para que a manufatura seja capaz de fabricá-lo.

Esse processo se estende até o pós-lançamento do produto, visando à obtenção de


informações que melhorem o projeto de um dado produto e o processo produtivo que
é comum aos outros desenvolvimentos, o que fomenta a “aprendizagem pós-projeto”.
Nesse sentido, o desenvolvimento de produto é um dos processos organizacionais
mais complexos e se relaciona com praticamente todas as demais funções empresariais.

O desenvolvimento de produtos sustentáveis pode ser conceituado como a prática em


que questões ambientais são integradas ao processo de desenvolvimento de produto.
No entanto, os princípios recentes de desenvolvimento de produto em empresas
manufatureiras estão predominantemente relacionados nos modelos de lucratividade
existentes, objetivando-se a produção de mercadorias com alta qualidade, baixo custo
e elevada lucratividade.

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Gestão Ambiental | Unidade III

No aprofundamento desse raciocínio, a dimensão ambiental busca ser considerada


um custo adicional e sua inserção é necessária somente quando imprescindível.
Normalmente, os critérios ambientais são ponderados como secundários no processo
de desenvolvimento de produtos.

O desenvolvimento de um produto sustentável entende que esse tipo de produto


é aquele que engloba novas características ambientais do produto, que destacam o
potencial de melhorar sua qualidade geral perante as exigências dos consumidores.

O DPS é marcado pela projeção e produção de produtos não agressivos ao meio


ambiente, que sejam eficazes no consumo de energia e de recursos naturais e que
possam ser reciclados, reutilizados ou armazenados de forma segura, tendo em vista
que existem sinergias entre as definições a respeito do processo de desenvolvimento
de produtos sustentáveis, para os quais o DPS diz respeito à consideração sistemática
dos critérios ambientais durante todo o processo de desenvolvimento de produto,
inclusive o pós-desenvolvimento, isto é, o pós-consumo.

De uma forma geral, as exigências dos consumidores ambientalmente conscientes


pressionam a empresa a desenvolver um conhecimento ambiental a respeito das
perspectivas mercadológicas, de projeto do produto e de desenvolvimento de processos
produtivos, até o lançamento do produto. O uso do produto e consequentemente o seu
descarte favorecem dois fluxos: um, de materiais, a serem reutilizados ou reciclados
na fase de manufatura; e outro, com a análise das consequências ambientais de cada
fase, e que fomentam um maior conhecimento sobre o produto.

As escolhas mais importantes inerentes às propriedades ambientais de um dado produto


deve ser executadas durante o seu desenvolvimento. Dessa forma, melhorias ambientais
significativas podem ser alcançadas considerando-se as propriedades ambientais como
um parâmetro a ser otimizado, juntamente com funcionalidade, ergonomia e custos
de produção de um dado projeto.

O progresso de produtos sustentáveis é uma estratégia mais discutida na teoria do que


na prática cotidianamente na rotina organizacional, uma vez que muitas empresas
não possuem uma configuração organizacional sensível à gestão ambiental proativa.

Por isso, o DPS tende a acontecer em adhocracias, que são organizações orgânicas
e flexíveis, voltadas para a exploração de oportunidades contextuais emergentes, tal
como a dimensão ambiental.

73
Unidade III | Gestão Ambiental

Essas características organizacionais são importantes, visto que se acredita que o


potencial de melhoria ambiental do produto é estabelecido nas etapas iniciais de seu
desenvolvimento, mais do que nas etapas de processo de produção, logística e reciclagem,
quando o produto se encontra plenamente determinado e disponível no mercado.

Apesar da enorme vantagem que o DPS apresenta para as empresas e para a sociedade
como um todo, a exploração desse segmento encontra-se bastante limitada. Em termos
práticos a realidade norte-americana mostra que o surgimento de novos produtos
ambientalmente sustentáveis comparados com seus similares tradicionais passou de
uma proporção de 1,1% em 1986 para quase 15% no início da década de 1990, patamar
que é tido como insuficiente ante os desafios ambientais atuais.

Os benefícios ambientais da produção sustentável também alcançam a indústria


e a cidadania. A ONU defende que esse sistema é bom para todos porque gera
melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas, diminui a pobreza, eleva a
competitividade e diminui os custos econômicos, ambientais e sociais. Observar
e refletir sobre o infográfico dos benefícios do ecodesign.

Disponível: https://www.iberdrola.com/wcorp/gc/prod/pt_BR/comunicacion/docs/
Infografico_beneficios_ecodesign.pdf.

Não obstante, pouco se conhece sobre como as empresas estão agregando as questões
relacionadas à sustentabilidade ambiental em seu processo de desenvolvimento de
produto e quais fatores determinam a edificação de um DPS efetivo.

Nesse vazio, percebe-se que grande parte dos obstáculos que atrapalham a expansão
qualitativa e quantitativa de desenvolvimento de produtos sustentáveis é concedida
aos fatores de recursos humanos e às características da gestão de pessoas da empresa.
Por isso, o próximo capítulo relata as possíveis contribuições da gestão de pessoas
para o DPS.

A gestão dos recursos humanos no desenvolvimento


de produtos sustentáveis
A gestão de recursos humanos é a atribuição organizacional que se refere às pessoas,
aos funcionários. A função de recursos humanos, assim como suas atividades de gestão,
visa à utilização da mão de obra das pessoas para o alcance dos objetivos empresariais,
reconhecendo-se que a qualidade dessa gestão influencia diretamente a capacidade da
organização e de seus empregados em levar a cabo suas incumbências. As características

74
Gestão Ambiental | Unidade III

do modelo de administração de recursos humanos possuem implicações diretas para a


efetividade da gestão ambiental, uma vez que esta é intensiva em recursos humanos.

Apesar de inúmeras pesquisas internacionais reconhecerem a importância da gestão


de pessoas para a efetiva gestão ambiental, pouco se conhece sobre a dinâmica dessa
interação. Não obstante, a bibliografia nacional é pobre de abordagens teóricas e
práticas que abordem essas duas áreas de gestão.

Dessa forma, essa temática se desdobra como um debate predominantemente


internacional difundido nos fóruns pertinentes. Destaca-se que muitas dessas obras
não conduzem a reflexões profundas sobre essa interação, mas todas reconhecem sua
importância. Se, de uma maneira mais abrangente, é possível identificar uma lacuna
bibliográfica sobre as contribuições de recursos humanos para a gestão ambiental,
mais crítica ainda é essa lacuna à luz do debate sobre o desenvolvimento de produtos
sustentáveis.

A sinergia da administração de recursos humanos com o DPS é dada por meio do


alinhamento:

» dos aspectos funcionais de recursos humanos, isto é, incorporação de recursos


humanos, treinamento, avaliação de desempenho e recompensas;

» dos aspectos competitivos de recursos humanos, a conhecer, cultura


organizacional, articulação do trabalho em equipes e aprendizagem
organizacional.

Em um momento inicial, no qual o processo é mais explícito, as contribuições de


recursos humanos para o DPS englobam os seguintes elementos:

» Incorporação da administração de recursos humanos na formulação da


política ambiental da organização e a atuação da área de gestão de pessoas
como parceiro estratégico no DPS.

» Capacitação ambiental, com o objetivo de fornecer as competências


necessárias ao desenvolvimento de produtos sustentáveis. Destaca-se que
essa capacitação, entendida como o ato de elevar a perícia e o conhecimento
de um dado funcionário, deve ter suas necessidades levantadas junto a todos
os funcionários da empresa, principalmente aqueles que possuem potencial
de participar do processo de DPS.

75
Unidade III | Gestão Ambiental

» Mensuração de desempenho, que tem por objetivo a melhoria global do


desempenho e da produtividade das pessoas ao longo do tempo. Deve ser
um instrumento útil para mensurar a performance do funcionário no DPS,
gerando feedback que alimente a melhoria de sua participação.

» Premiações, que visam reforçar ou inibir comportamentos individuais


ocorridos durante o DPS.

Esses quatro incentivos de recursos humanos para a gestão ambiental são as melhores
práticas dessa interação (environmental human resource management best practices). Com
eles, a gestão efetiva possui reais contribuições ao desenvolvimento de produtos
sustentáveis.

Destaca-se que tentativas de gestão ambiental, e assim de DPS, tendem a ser não
verdadeiras sem o real engajamento da área de recursos humanos. Por isso, os
pressupostos da sustentabilidade ambiental tendem a se transformar em paradigmas
da gestão de pessoas nas empresas do futuro.

Além dessas quatro melhores formas de interação da gestão de pessoas com o processo
de desenvolvimento de produtos sustentáveis, também se propõe a participação da
administração de recursos humanos em: gestão da cultura organizacional ambiental;
interação de equipes ambientais para a participação no DPS; e apoio à aprendizagem
organizacional direcionado às questões ambientais.

A cultura organizacional é o respeito ao conjunto de princípios básicos que determinado


grupo inventou, descobriu ou desenvolveu em seu processo de aprendizagem, a fim de
lidar com problemas de adaptação externa e integração interna, e, caso esses pressupostos
sejam considerados válidos, eles são ensinados aos demais membros da organização,
como a maneira certa de se perceber, pensar e sentir em relação àqueles problemas.

Como consequência, a cultura organizacional chamada de “verde”, interligada ao


processo DPS, pode ser conceituada como o conjunto de valores, princípios, símbolos
e artefatos organizacionais que espelham o desejo ou a necessidade de a empresa operar
de maneira ambientalmente correta. À medida que a dimensão ambiental passa a ser
um valor da cultura organizacional, essas questões passam a ser inseridas no processo
de desenvolvimento de produtos da empresa.

A aprendizagem organizacional relaciona-se à renovação das competências profissionais


dos trabalhadores, que estão contidos na organização para encararem os desafios do
ambiente competitivo. A aprendizagem organizacional pode ser compreendida como

76
Gestão Ambiental | Unidade III

um processo em que ocorre interpretação, aquisição e distribuição de informações que


geram a memória organizacional.

As organizações que obtiverem sucesso em sua dinâmica de aprendizagem ambiental


e que desenvolverem competências ambientais em seus funcionários poderão explorar
mais rapidamente e com maior eficiência as oportunidades concernentes ao mercado
verde. Por isso, embora pouco discutida pela literatura, a metáfora da aprendizagem
organizacional dispara como oportuna na tentativa de se explicarem as características
e estratégias de gestão ambiental nas empresas

As empresas que visam inserir e manter um DPS devem possuir uma aprendizagem
organizacional efetiva. O conhecimento que os funcionários adquirem sobre gestão
ambiental e sua incorporação na geração de novos produtos está diretamente relacionado
às práticas de recursos humanos e pode ser explorado por meio de:

» levantamento direto da opinião dos trabalhadores no que diz respeito às


iniciativas de melhoria ambiental nos processos atuais de desenvolvimento
de produtos;

» autorização de autonomia ao trabalhador para fazer sugestões sobre melhorias


ambientais nos projetos de produtos;

» desenvolvimento de competências ambientais que serão estabelecidas durante


o desenrolar do DPS;

» documentação e retenção do conhecimento, com o objetivo de gerar a


permissão para a transferência e retenção de informações úteis aos DPS
vindouros.

Já a palavra “equipe” diz respeito a um pequeno grupo de pessoas, com conhecimentos


complementares, que buscam atingir metas e objetivos compartilhados, os quais
garantem a integração do grupo. O trabalho em equipe pressupõe reunião de pessoas
que possuem crenças e valores em comum.

A constituição de organizações fundamentadas em redes de equipes é um modelo


empresarial ideal para a efetiva gestão ambiental. Empresas que contém processos
capazes de incorporar o conhecimento dos funcionários e articulá-los em equipes de
trabalho provavelmente possuirão um desempenho superior no DPS, uma vez que
muitos projetos demandam a conjugação de diversos tipos de competências.

77
Unidade III | Gestão Ambiental

Dessa maneira, a constituição de equipes multifuncionais se apresenta como uma


tendência apropriada para a crescente incorporação da dimensão ambiental no processo
de desenvolvimento de produtos sustentáveis, geralmente considerados complexos e
interdisciplinares.

Equipes ambientais são usadas para produção de ideias, incrementam a aprendizagem


organizacional, constatam conflitos e focam atenção na resolução destes, perseguindo
sempre as melhores opções em visões de prática de gestão do meio ambiente.

Essas contribuições da gestão de recursos humanos, em conjunto com uma cultura


organizacional e com trabalho em equipe que valorizem o meio ambiente, fazem
com que os desenvolvedores de produtos escolham projetos com maior potencial de
sustentabilidade para serem desenvolvidos, desprezando-se aqueles não alinhados aos
pressupostos da sustentabilidade ambiental.

Essa seleção de projetos deve, também, ser levada ao pé da letra com base na estratégia
tecnológica, mercadológica e da empresa. A avaliação desse critério leva à seleção de
um projeto de DPS, que, ao mesmo tempo, confira a sustentabilidade econômica da
empresa e a ambiental para o planeta. Por fim, as lições aprendidas no processo de
DPS são difundidas, por meio de incentivos concernentes à gestão de pessoas.

Essa aprendizagem organizacional em matéria ambiental fortalecerá o próximo ciclo


de DPS, fornecendo uma resposta de retorno aos envolvidos e contribuindo com as
competências organizacionais de gestão ambiental.

A gestão ambiental na empresa é um processo complexo e multidisciplinar, que


necessita do engajamento dos diversos setores de gestão na prospecção das melhores
alternativas ambientais concernentes ao desenvolvimento de produtos sustentáveis.

No entanto, a revisão bibliográfica relatada neste capítulo evidencia que a interação entre
a gestão de pessoas e a gestão ambiental na empresa se mostra como um relacionamento
carente, tanto em termos práticos quanto teóricos. Essa carência se expõe como ainda
mais acentuada quando a perspectiva concerne às contribuições da gestão de recursos
humanos para o desenvolvimento de produtos sustentáveis (DPS).

De fato, apesar de o DPS ser apresentado mais teoricamente do que na realidade


empresarial, a tendência é que cada vez mais os processos de desenvolvimento de
produtos nas empresas estejam alinhados aos pressupostos da sustentabilidade ambiental.
Com base no que já foi mencionado, um dos maiores desafios para a consolidação

78
Gestão Ambiental | Unidade III

do DPS é garantir o engajamento dos funcionários nesse processo, o que possui


encadeamentos diretos para a gestão de pessoas.

Características do Design de Novos Produtos


Sustentáveis
Se formos refletir, estamos fazendo algo errado como sociedade quando precisamos
de 7.500 litros de água para confeccionar algumas peças de calças jeans, por exemplo.
Essa é a mesma quantidade de água que uma pessoa bebe em sete anos. Esse dado da
ONU de 2019 revela a ponta do iceberg de um problema que necessita de soluções
como o ecodesign.

Essa nova forma de pensar gera produtos sustentáveis do começo ao fim, em que a
produção, a distribuição e o consumo devem adquirir critérios ecológicos.

O ecodesign é uma parte de extrema importância dentro da economia circular, uma


estratégia que tenta aumentar constantemente o valor dos produtos, conservando-os
dentro de um circuito fechado e ausente de resíduos.

O design com materiais sustentáveis favorece que os bens da economia circular finalizem
sua vida útil em condições de terem novas funções, sendo bastante diferente da economia
linear, que se fundamenta no princípio de comprar/usar/descartar.

As características inerentes do design de novos produtos sustentáveis são inúmeras;


entre as mais importantes, destacam-se:

» Redução de material. Ao produzirmos, devemos otimizar a quantidade de


materiais e energia. Dessa maneira, é possível proteger os recursos e reduzir
as emissões.

» Reciclagem fácil. Devem ser evitados aspectos que atrasem a desmontagem e


fazer o uso de materiais que sejam fáceis de identificar, reutilizar ou reciclar.

» Utilização de materiais biológicos. É conveniente que o material seja de um


só tipo e biodegradável, sem importar se é natural ou derivado.

» Durabilidade. Os formatos e os materiais sustentáveis devem durar para


prolongar a vida útil do produto o máximo possível.

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Unidade III | Gestão Ambiental

» Multifuncionalidade, possibilidade de reutilização e de reciclagem. Os


produtos devem ser adequados para utilizações diversas e suscetíveis de
serem reutilizados e fabricados com materiais recicláveis.

» Redução das emissões. O tamanho adequado dos produtos poupa material


e consumo durante o transporte, reduzindo assim as emissões de CO2.

» Inovação. A inovação tecnológica pode ajudar a melhorar a eficiência e a


sustentabilidade dos produtos.

» Mensagem ecológica. O design sustentável difunde a sustentabilidade com


mensagens que fazem parte do mesmo produto.

Os exemplos de ecodesign englobam bens de consumo bastante variados, como móveis


biodegradáveis, xícaras de café comestíveis, louça de vidro reciclado, escovas de dentes
e óculos de sol de bambu, roupa e calçados feitos com plástico oceânico e até joias de
ouro ecológico.

Normalizações de design sustentável


O ecodesign tem regulamentos próprios, que qualificam a natureza sustentável dos
produtos comercializados no mercado. Existem três certificações:

» Cradle to Cradle (C2C): esse sistema confere e promove a inovação em


produtos sustentáveis com um método de avaliação que tem por base cinco
aspectos: saúde material, reutilização dos materiais, utilização de energias
renováveis, administração da água e responsabilidade social.

» ISO 14062: essa norma internacional de gestão ambiental confere a integração


dos aspectos ambientais no design e desenvolvimento do produto.

» ISO 14001: essa norma faz com que as empresas certifiquem seu compromisso
com a defesa do meio ambiente com a gestão dos riscos ecológicos próprios
da atividade que realizam.

Leitura do artigo: “Ecodesign: as últimas novidades do design sustentável. Autor:


Pensamento Verde”.

Disponível em: https://www.pensamentoverde.com.br/sustentabilidade/ecodesign-


ultimas-novidades-design-sustentavel/.

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Gestão Ambiental | Unidade III

Empresas investem no desenvolvimento sustentável


No ecodesign, o ciclo de vida do produto é uma das características analisadas no processo de
design, procurando-se, dessa forma, diminuir a carga ambiental total com fornecedores,
distribuidores, usuários, companhias de reciclagem e empresas de processamento.

Acredita-se que uma enorme parcela dos problemas ambientais foi gerada pelo design
convencional e pela indústria, pois eles não se importaram com os riscos e os impactos
ambientais durante a produção de bens e serviços.

Sintetizar produtos e serviços de qualidade, que consumam cada vez menos insumos e
matérias-primas, não é um desafio recente para as empresas. Ele existe há, pelo menos,
duas décadas. Algumas das principais organizações vêm buscando a ecoeficiência, a
fim de atender mercados.

Um exemplo de ecoeficiência foi praticado pela empresa alemã Basf, que criou uma
ferramenta de avaliação, a ACV (Avaliação de Ciclo de Vida), usada para analisar os
produtos a partir de 20 de duas referenciais e propor ecossoluções.

No caso da Basf, uma das consequências da aplicação da ACV foi a alteração das
embalagens cartonadas ou de vidro por embalagens plásticas. O vidro obteve a pior
avaliação, pelo fato de que sua produção exige exploração maior do solo e mais espaço
de armazenamento, além de oferecer maior risco de acidente. A embalagem cartonada
perdeu pontos por causa do alto custo do seu processo de reciclagem.

A ACV, utilizada na Alemanha desde 1996, e nos Estados Unidos, desde 2002, foi
disponibilizada no Brasil desde 2005. A partir dessa data, ocorreu o surgimento
de iniciativas para reciclar materiais e estender a vida útil de matérias-primas não
renováveis.

Por meio do Ministério da Ciência e Tecnologia, em conjunto com instituições de


ensino, órgãos oficiais e entidades empresariais, o Brasil iniciou o preparo do seu
próprio banco de dados para utilização em ACV.

Em paralelo, a indústria nacional vem produzindo produtos cada vez mais eficientes
e está deixando de lado matérias-primas antes utilizadas em larga escala, mas que
poluíam demais o meio ambiente.

Como exemplo de produtos cada vez mais eficientes da indústria nacional, pode-se
citar a criação de uma lavadora de roupas semiautomática. Para diminuir o custo do

81
Unidade III | Gestão Ambiental

transporte, a máquina pesa apenas 6,8 quilos e é desmontável, o que facilita que uma
de suas partes seja encaixada na outra. Ou seja, ela ocupa 50% do espaço necessário
para acomodar lavadoras convencionais em veículos e áreas de estoque.

Além disso, demanda metade do plástico usado em sua fabricação e, quando em operação,
consome um terço do volume de água usado nos outros modelos existentes. Acrescente-
se que todas as peças dessa máquina são identificadas com a simbologia internacional
da matéria-prima aplicada, facilitando dessa forma o processo de reciclagem.

Já existem também projetos de celulares sintetizados com materiais oriundos por


processos que respeitam o meio ambiente. Esses aparelhos apresentam o mínimo
necessário de funções e têm como foco o consumidor idoso.

Existe também um software que fornece jeans sob medida, o que permite eliminar o
desperdício de tecidos, e também chuveiros que reduzem o consumo de água, mas
mantendo o jato forte; torneiras que lançam água misturada com ar para poupar o
insumo, preservando a sensação de frescor, e bacias e válvulas sanitárias que demandam
o mínimo de água por descarga.

O grande objetivo de atuação do ecodesign, especialmente no Brasil, está no setor


automobilístico, no qual a cadeia automotiva continua sendo a principal indústria do
século XXI. Os veículos evoluíram muito nos últimos 20 anos, passaram a inserir motores
mais eficientes e com capacidade para operar com vários tipos de combustível, assim
como peças de plástico recicláveis que diminuíram significativamente o seu peso e vários
componentes passaram a ser produzidos a partir de fibras longas naturais biodegradáveis,
substituindo dessa forma as fibras de vidro, ou totalmente confeccionados em PET
reciclado, como carpetes e revestimentos.

A importância dada ao meio ambiente ainda é diferenciada bastante de empresa para


empresa, porém isto certamente se modificará à medida que o mercado adquirir maior
experiência. O ecodesign se tornará um dos elementos centrais em qualquer empresa,
juntamente com as áreas de pesquisa e desenvolvimento, inovação, marketing e política
de investimentos.

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Gestão Ambiental | Unidade III

Casos de iniciativas brasileiras que se destacam pelo


sua sustentabilidade

Insecta Shoes
Uma iniciativa surgida na cidade de Porto Alegre apresentou ao mercado criações
bastante sustentáveis. É a Insecta Shoes, marca de sapatos veganos, que não faz uso
de nenhuma matéria-prima de origem animal. São produtos ecológicos, produzidos
com peças de roupas usadas e garrafas plásticas (PET) recicladas.

Figura 21. Produto da Insecta Shoes Mencionado na Unidade I.

Fonte: Insecta Shoes, 2021.

A Insecta Shoes se orienta no reaproveitamento de materiais, elevando assim a vida


útil do que já é existente pelo mundo. Em dois anos, para a fabricação de seus produtos,
já foram reaproveitados 2.100 peças de roupas, 630kg de tecido e 1.000 garrafas PET.
O projeto se preocupa também com o fim do ciclo de vida do produto, realizando
estudos para reinserção ou reciclagem do seu sapato utilizado.

Zerezes
Uma outra empresa de destaque é a Zerezes, conhecida por ter inserido no mercado
carioca os óculos feitos de madeira. A marca cria óculos de sol com madeiras redescobertas,
ou seja, madeiras que foram descartadas em obras e encontradas em entulhos, caçambas
e marcenarias em geral. A produção também se dá a partir de lâminas de madeira
documentadas pelo Ibama.
83
Unidade III | Gestão Ambiental

Figura 22. Produto Zerezes.

Fonte: Zerezes, 2021.

Todo o processo de fabricação dos produtos é realizado manualmente pela própria


equipe, e cada peça leva cerca de dois meses para ser concluída. O resultado são modelos
incríveis, com acabamento impecável e, lógico, sustentáveis.

Revoada
Uma outra empresa do Rio Grande do Sul é a Revoada, que é um ótimo exemplo de
marca que pensa no ecodesign, pois utiliza materiais que, geralmente, são pouco ou nada
reaproveitados e vão para o lixo. Câmaras de pneu e náilon de guarda-chuva ganham
nova vida como matéria-prima para bolsas, mochilas e carteiras.

Figura 23. Produto da Revoada.

Fonte: Revoada, 2021.

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Gestão Ambiental | Unidade III

DaTribu
Falando agora um pouco da empresa DaTribu, eles possuem um projeto que incentiva
não só o reaproveitamento de materiais com longos períodos de decomposição, como
também o trabalho em comunidades de reciclagem, que realizam a triagem e o preparo
dos materiais. A empresa já reinventou oito toneladas de câmaras de pneu e 10 mil
unidades de guarda-chuva. O processo de logística reversa também é executado,
tornando o fim de cada processo um novo recomeço.

Figura 24. Produto DaTribu.

Fonte: DaTribu, 2021.

A DaTribu é uma iniciativa familiar que faz a produção de seus produtos de forma
artesanal – colares, pulseiras, anéis, brincos e outros itens. Suas coleções fazem passeios
que vão do crochê ao papel, do tecido ao látex. Desde a sua criação, o projeto mostra
que existe um caminho possível e palpável nas novas maneiras de organização, com
base na sociabilidade e no coletivo.

Figura 25. Produtos DaTribu.

Fonte: DaTribu, 2021.

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Unidade III | Gestão Ambiental

Com sua produção slow fashion, foi possível construir parcerias sustentáveis na cadeia
produtiva aberta e horizontal, gerando, de forma coletiva, acessórios com formas
orgânicas, livres e com cores pulsantes.

Papel Semente
Criada em 2009, a empresa Papel Semente fabrica papel artesanal e ecológico que
recebe sementes de flores ou temperos durante seu processo de fabricação.

Figura 26. Produto da Papel Semente.

Fonte: Papel Semente, 2021.

O processo de fabricação é iniciado com a reciclagem e a transformação do papel


utilizado e de aparas não usadas pela indústria tradicional, que são coletados por
cooperativas de catadores de papel certificadas. Logo depois, o produto é finalizado
com a incorporação de sementes. Dessa forma, após a sua utilização, o papel pode ser
plantado, gerando vida ao invés de lixo.

86
CAPÍTULO 3
Normas Ambientais

A conduta ética, que respeite as normas ambientais e tenha foco na responsabilidade


social, é uma preocupação das empresas no mundo inteiro. Cada vez mais o cuidado
com o meio ambiente é visualizado como um investimento de retorno, que contribui
não somente com a empresa, mas também com o crescimento econômico e a melhoria
da qualidade de vida da população.

A legislação ambiental brasileira é uma das melhores do mundo, contudo não funciona
de forma correta pela ausência de ética e de profissionalismo quando é necessário
aplicá-la.

É imprescindível que qualquer empresa, ao iniciar as atividades, esteja de acordo com


a legislação ambiental federal e municipal do local onde esteja situada.

A legislação ambiental brasileira é muito complexa e não é cumprida adequadamente


de maneira que se possa garantir a preservação, como foi mencionado anteriormente.
As principais leis são:

a. Lei da Ação Civil Pública (Lei n. 7.347/1985): com base nessa, deve ser
responsabilizado quem prejudicar o meio ambiente, o consumidor e o
patrimônio artístico, turístico e paisagístico.

b. Lei dos Agrotóxicos (Lei n. 7.802/1989): essa lei dispõe sobre desde a pesquisa
e fabricação do produto até a comercialização, a aplicação, o controle, a
fiscalização e o destino da embalagem.

c. Lei da Área de Proteção Ambiental (Lei n. 6.902/1981): com essa lei,


estabeleceu-se a criação de estações ecológicas que representem um
ecossistema. 90% da área da estação deve permanecer intocada, e os 10%
restantes são destinados a pesquisas científicas. Essas áreas podem conter
propriedades privadas, onde o governo limita suas atividades econômicas
para finalidades de proteção ambiental.

d. Lei das Atividades Nucleares (Lei n. 6.453/1977): lei que responsabiliza


civilmente os responsáveis por danos nucleares, e criminalmente os
responsáveis por atos relacionados com atividades nucleares.

87
Unidade III | Gestão Ambiental

e. Lei dos Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/1998): essa lei trata das infrações
e punições derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. A
punição pode ser extinta caso seja comprovada a recuperação do dano, e as
multas variam de R$ 50,00 a R$ 50.000.000,00.

f. Lei da Engenharia Genética (Lei n. 8.974/1995): regulamenta normas para


o uso de engenharia genética, desde o cultivo, a manipulação e o transporte
de organismos alterados, até a sua comercialização, consumo e liberação no
meio ambiente.

g. Lei da Exploração Ambiental (Lei n. 7.805/1989): determina sobre as


atividades garimpeiras e torna obrigatória a emissão de licença ambiental
prévia, concedida pelo Órgão Ambiental competente, para a exploração
desse tipo de atividade.

h. Lei da Fauna Silvestre (Lei n. 5.197/1967): segundo essa lei, considera-se


crime a utilização, a perseguição e a captura de animais silvestres, a caça
profissional, o comércio dessas espécies e produtos derivados desta, além
de proibir a criação de animais silvestres e a caça amadora sem autorização
do IBAMA, a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis em bruto.

i. Lei das Florestas (Lei n. 12.651/2012): protege florestas nativas e define como
área de preservação permanente uma faixa de 30 a 500 metros das margens
dos rios, lagos e reservatórios, topos de morros e encostas. Com a aplicação
dessa lei, exige-se das propriedades rurais da região sudeste a preservação
de 20% da área arbórea, e isso deve estar registrada em cartório de imóveis.

j. Lei do Gerenciamento Costeiro (Lei n. 10.019/1998): estabelece diretrizes


para o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e define zona costeira
como espaço geográfico da interação do ar, do mar e da terra, como recursos
naturais.

k. Lei de criação do IBAMA (Lei n. 7.732/1989): segundo essa lei, o IBAMA


(Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
tem o poder de executar a Política Nacional do Meio Ambiente e trabalha
para conservar, fiscalizar e controlar os recursos naturais.

l. Lei do Parcelamento do Solo Urbano (Lei n. 6.766/1979): determina regras


para loteamentos urbanos e visa proteger áreas de preservação ambiental.

88
Gestão Ambiental | Unidade III

m. Lei Brasileira de Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural (Decreto-Lei


n. 25/1937): acolhimento para o patrimônio histórico e artístico nacional,
como os bens etnográficos, arqueológicos, monumentos naturais, sítios e
paisagens naturais ou que se originou da imaginação humana.

n. Lei da Política Agrícola (Lei n. 8.171/1991): lei segundo a qual o Poder


Público disciplina e fiscaliza a utilização da água, do solo, da fauna e da
flora, controla uso de agroecológicos, desenvolve programas de educação
ambiental e distribuição de mudas de espécies nativas.

o. Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei n. 6.938/1981): é tida


como a mais importante, pois obriga o poluidor a indenizar os problemas
causados, independentemente da culpa que tenha em relação ao ocorrido.

p. Lei dos Recursos Hídricos (Lei n. 9.433/1997): cria o Sistema Nacional


de Gerenciamento de Recursos Hídricos para a coleta, tratamento,
armazenamento e a recuperação das informações e fatores intervenientes.

q. Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (Lei n.


6.803/1980): atribui aos municípios e estados o poder de determinar limites
e padrões para instalações e licenciamento das indústrias, exigindo o estudo
de Impacto Ambiental.

A legislação ambiental variará de acordo com o município. A gestão ambiental é


responsabilizada pela degradação do meio ambiente; por causa desse fator, é necessário
realizar um acompanhamento desses processos. Esse controle faz surgir nos municípios
as secretarias e os departamentos do meio ambiente, que encontram dificuldades,
como falta de pessoal qualificado e de objetivos pré-definidos (já que muitos deles só
são sintetizados para satisfazer a opinião pública), escassez de recursos financeiros e
ausência de integração do órgão com empresas privadas e ONGs.

O IBGE, em maio de 2005, realizou uma pesquisa com a qual verificou que há secretarias
de meio ambiente em 6% dos municípios, que 32% dessas localidades não têm nenhum
órgão para o meio ambiente e apenas 1,1% atua na área ambiental.

Protocolo de Kyoto
Uma das causas do efeito estufa é o aumento da temperatura do planeta, causadora de
alterações climáticas que afetam o mundo todo, que vem da excessiva concentração de

89
Unidade III | Gestão Ambiental

gases na atmosfera, os quais absorvem uma grande quantidade de radiação infravermelha,


elevando dessa forma a temperatura da Terra.

Os principais gases provocadores do efeito estufa são: o dióxido de carbono, o metano


e o óxido nitroso. O aumento desses gases na atmosfera vem, na maioria das vezes,
das indústrias, e estas estão em busca de diminuir a emissão desses gases.

A responsabilidade histórica desse acúmulo de gases vem dos países mais desenvolvidos;
em contrapartida, os países menos desenvolvidos em relação à indústria possuem
vegetação que absorve esses gases. O debate sobre o aquecimento global surgiu após o
depoimento do físico James Edward Hansen, da NASA, em 1988, ao congresso norte-
americano. Nesse depoimento, Hansen apontava evidências de que o ser humano
estava interferindo no clima global. Essa narrativa favoreceu bastante a evolução
de estudos e conferências sobre o tema e estimulou a criação da Conferência das
Partes, que determinou metas e objetivos para redução de gases. No entanto, pouco
aconteceu depois disso, e somente após a terceira conferência, realizada em Kyoto,
no Japão, em 1997, é que foi criado o Protocolo de Kyoto, assinado por 84 países que
se comprometeram em diminuir a emissão de gases de efeito estufa.

O maior país em emissão de gases poluentes são os Estados Unidos, que abriu mão
do acordo em 2001, alegando que colocá-lo em prática causaria queda no crescimento
econômico da nação por exigir altos investimentos ou a redução das atividades industriais.

O Protocolo de Kyoto visa à diminuição da emissão de gases, executa estudos para


conscientizar a sociedade a respeito desse tema e regulamenta o acesso ao bem público
como recurso comum, considerando a necessidade de reduzir as desigualdades sociais.

Os principais pontos do Protocolo são:

a. Os países desenvolvidos se comprometem a diminuir, entre os anos de


2008 e 2012, suas emissões abaixo do registrado no ano de 1990, data do
primeiro encontro. De forma conjunta, devem reduzir em 5,2% a emissão
de gases poluentes.

b. Os países poderão participar de sistemas de intercâmbio de direito de emissão


e, na medida do possível, devem realizar melhorias em seus sistemas de
informação e de inventário de emissão.

c. Os países devem elaborar programas para combater a mudança climática e


acabar com obstáculos que limitem a redução da emissão dos gases. Também

90
Gestão Ambiental | Unidade III

devem desenvolver o mecanismo para o desenvolvimento limpo, no qual


os países em desenvolvimento poderão receber investimentos dos países
desenvolvidos para abater a emissão de gases por meio de um mecanismo
de compensação.

d. O Protocolo entrará em aplicação em 90 dias depois que tenha sido ratificado


por pelo menos 55 países que representam pelo menos 55% das emissões
totais de gases poluentes.

O Protocolo de Kyoto determinou três mecanismos inovadores, conhecidos como


Comércio de Emissões, Implementação Conjunta e Mecanismos de Desenvolvimento
Limpo. O primeiro é um comércio de compra e venda de emissões de carbono. Com
ele, países que emitem menos gases poluentes do que o estabelecido podem vender
suas quotas não utilizadas aos países que não atingiram as suas metas. Alguns países
preferem comprar quotas a diminuir sua emissão de gases, por isso ser mais vantajoso
economicamente e competitivo.

Já com o Mecanismo de Implementação Conjunta, os países interessados em diminuir


a emissão de gases poluentes podem adquirir Unidades de Redução de Emissões de
outras nações que possuem projetos para reduzir a emissão dos gases e, dessa forma,
eles podem contabilizar suas quotas.

O Mecanismo para o Desenvolvimento Limpo (MDL) é uma colaboração entre os


países desenvolvidos para que estes executem suas metas, invistam e financiem projetos
para a diminuição de gases poluentes. Ele ficou mais conhecido como Crédito de
Carbono e é flexível, pois possibilita o ganho de créditos por esses investimentos, e
esses ganham projetos, auxílio na capacidade produtiva, tecnológico e desenvolvimento
socioeconômico.

Por meio do MDL, são desenvolvidos e executados os seguintes projetos:

a. aperfeiçoamento da infraestrutura de transportes;

b. projetos nacionais de reflorestamento;

c. autonormalização industrial;

d. progresso de projetos de geração de energia eólica, solar e uso de combustíveis


limpos e com eficiência energética;

e. estímulo à utilização de combustíveis renováveis, como álcool e biodiesel;

91
Unidade III | Gestão Ambiental

f. alteração de práticas agrícolas, como as queimadas das florestas para abrir


pastos ou a queima da cana de açúcar para facilitar a colheita;

g. programas de redução de poluição;

h. programas de geração de hidrelétricas;

i. aperfeiçoamento nos sistemas de iluminação, tornando-os mais eficientes.

O Protocolo de Kyoto, além de ajudar no aperfeiçoamento do planeta por meio do


Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, cria oportunidades para novos negócios aos
países em desenvolvimento, mostrando sua viabilidade e êxito.

A responsabilidade socioambiental passou a ser visualizada como uma procura para


melhorar o desempenho das empresas e como uma oportunidade de se gerar maior
lucratividade, pois a comunidade passou a se interessar mais pelos assuntos envolvidos
na preservação do meio ambiente e passaram a fazer uso de produtos e serviços
ecologicamente corretos. Dessa forma, as empresas que seguem a responsabilidade
socioambiental passaram a ter uma postura mais ética em relação à preservação do
meio ambiente.

As empresas, então, passaram a visualizar, nesse recente segmento, a oportunidade de


lucrar e de entrar nesse mercado em pleno crescimento. Contudo, além de executar
esse conceito, as empresas devem educar sua rede de relacionamento para que estas
sigam essa ideia e a exercitem. A responsabilidade deve vir dos mais altos cargos e deve
ir até a produção e àqueles que não têm relação direta com a empresa.

As recomendações para inserir o ecodesign


De acordo com os especialistas, o ecodesign pode ser conceituado como um método de
desenvolvimento de produtos que busca a diminuição do impacto ambiental e utiliza
a criatividade para sintetizar produtos e processos mais eficientes sob o ponto de
vista da sustentabilidade. Alguns pesquisadores sugerem a integração de requisitos de
aspectos ambientais aos requisitos usuais do projeto de produto em que predominavam,
essencialmente, os aspectos técnicos e econômicos.

No passado, houve a difusão do conceito de eco-concepção de produtos leves: antes,


durante e após a utilização, a manutenção do equilíbrio do produto com o meio ambiente
é tão importante quanto a viabilidade técnica, o controle de custos e a demanda de
mercado relativa ao produto.

92
Gestão Ambiental | Unidade III

A proposta do ecodesign teve origem na década de 1990, no momento em que a


indústria eletrônica dos EUA buscava reduzir os danos ao meio ambiente em virtude
de sua atividade. A American Electronics Association gerou uma força-tarefa para o
desenvolvimento de projetos com preocupação ambiental e para sintetizar uma base
conceitual que beneficiasse primeiramente os membros da associação. A partir desse
momento, o nível de interesse pelo assunto aumentou e os termos ecodesign e Design
for Environment passaram a ser utilizados em programas de gestão ambiental.

No ecodesign, o projetista escolhe e articula soluções de projeto de acordo com seu


impacto no ciclo de vida do produto: fabricação, embalagem, utilização, troca de peças
e fim de vida. O projetista objetiva o uso do produto, pois este não é independente
nem homogêneo e exige outros produtos e atores para ser fabricado, transportado e
utilizado (em uma abordagem transversal e multidisciplinar). A multidisciplinaridade
do ecodesign, considerando que o desenvolvimento de um novo produto não é um
processo linear e repetitivo, é complexa, pois interações inesperadas entre o produto
e o meio podem surgir, requerendo o uso de modelos não lineares para o seu teste.

Como fatores que influenciam a implementação do ecodesign, pode-se relatar que existem
influências econômicas internas, uma pressão externa de requisitos legais, percepção
e valorização do consumidor, assim como disponibilidade de novas tecnologias. O
uso de práticas do ecodesign pode auxiliar a estratégia de manufatura ao incorporar,
na gestão, aspectos relativos ao controle ambiental.

Seguindo essa ideia, cita-se, como exemplo, a estratégia de manufatura com base nos
princípios do Sistema Toyota de Produção, que favorece a preservação de recursos, uma
vez que visa acabar com as perdas dos processos produtivos e diminuir significativamente
todas as atividades que não agregam valor sob o ponto de vista do cliente.

A NBR (Norma Regulamentadora Brasileira) ISO 14006:2014 (Sistemas da Gestão


Ambiental – Diretrizes para Incorporar o Ecodesign) fornece as diretrizes para auxiliar as
organizações a estabelecerem, documentarem, implementarem, manterem e melhorarem
continuamente sua gestão do ecodesign como parte de um sistema de gestão ambiental
(SGA). Destina-se a ser utilizada por aquelas organizações que implementaram um SGA
com base na NBR ISO 14001, mas pode ajudar a integrar o ecodesign em outros sistemas
de gestão. As diretrizes são executáveis em qualquer organização, independentemente
de seu tamanho ou atividade.

Essa mesma NBR se aplica aos aspectos ambientais interligados ao produto que a
organização pode controlar e aos que ela pode influenciar. Não estabelece por si

93
Unidade III | Gestão Ambiental

própria os critérios específicos de desempenho ambiental e não é focada na finalidade


de certificação.

A preocupação global sobre os problemas relacionados ao meio ambiente, por exemplo,


sob a forma de mudanças climáticas, a depleção dos recursos e a poluição do ar, da
água e do solo, está incentivando as organizações a darem mais atenção à gestão dos
impactos ambientais de suas atividades e produtos, além de focar continuamente na
evolução de seu desempenho ambiental.

Com o objetivo de diminuir os efeitos prejudiciais no meio ambiente, um número cada


vez maior de organizações está reconhecendo a necessidade de inserir o desempenho
ambiental no projeto de seus produtos. O termo produto engloba tanto bens como
serviços.

O fato de a legislação que trata do impacto ambiental de produtos estar sendo


implementada em um movimento crescente no mundo inteiro também está incentivando
muitas organizações a melhorarem o desempenho ambiental de seus produtos. Tais
organizações necessitam de orientação sobre como aplicar seus esforços de uma forma
organizada, para que possam atingir objetivos ambientais e conservar a melhoria
contínua no desempenho ambiental de seus produtos, assim como de seus processos.

O ecodesign pode ser definido como um processo interligado relacionado ao projeto e


ao desenvolvimento de produto que busca diminuir impactos ambientais e melhorar
continuamente o desempenho ambiental dos produtos, durante todo o ciclo de vida
destes, desde a extração da matéria-prima até o fim da vida. Ele tem o objetivo de
beneficiar a organização e garantir que ela alcance seus objetivos ambientais; pretende-
se que o ecodesign seja realizado como parte integral das operações de negócio da
organização.

O ecodesign pode gerar consequências para todas as funções de uma organização.


A fim de executá-lo de uma forma sistemática e administrável, pretende-se que as
organizações implementem um processo apropriado e, então, tenham (ou tenham
o acesso à) a competência necessária para executar e controlar esse processo. Isso
necessita de suporte da alta direção.

Um processo de ecodesign acontece no setor de projeto e desenvolvimento da organização,


e é nesse ponto que o conhecimento requerido na execução e controle do ecodesign é
encontrado. Porém, quando se pretende que o ecodesign seja executado com o apoio de

94
Gestão Ambiental | Unidade III

um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), então a pessoa responsável pelo SGA precisa
ter conhecimento sobre o que é esse processo e como será administrado e controlado.

Dessa forma, a integridade do SGA não é ameaçada, e os objetivos ambientais para os


produtos podem ser alcançados. As áreas de conhecimento necessárias para incorporar
o ecodesign dentro de um SGA são as seguintes: avaliação do impacto dos produtos
no meio ambiente; identificação de medidas apropriadas no ecodesign para diminuir
os efeitos adversos de impactos ambientais; processo de projeto e desenvolvimento e
compreensão sobre como um processo de ecodesign e sua gestão se encaixam em um
SGA.

As duas primeiras áreas mencionadas são provavelmente localizadas dentro da área


de projeto e desenvolvimento, mas a terceira é claramente de maior significância
para a pessoa responsável pelo SGA. Essa norma relata principalmente a orientação
nessa terceira área, sendo a primeira a cobrir e a relacionar todas as três áreas do
conhecimento necessário para o ecodesign dentro de um SGA.

A NBR ISO 14001 interliga a gestão dos processos de uma organização aos impactos
ambientais, mas não inclui processos da gestão do projeto. A ABNT NBR ISO 9001 cobre
o processo da gestão do projeto, mas não engloba explicitamente impactos ambientais.
A ABNT ISO/TR 14062 e a NBR IEC 62430 ajudam na incorporação da avaliação de
aspectos e de impactos ambientais no processo de projeto e desenvolvimento, porém,
como tal, não explicam inteiramente as atividades envolvidas dentro de uma estrutura
de gestão ambiental e de negócio, como aquelas descritas na NBR ISO 14001.

A relação entre as normas brasileiras acima comentadas possui seu escopo de conhecimento
e sua relação com essa norma, que interliga todas as três áreas e documentos relacionados.
Essa norma agrega a informação necessária das outras normas brasileiras, de maneira
que os devidos processos e os procedimentos possam ser adequados para implementar
um ecodesign estruturado e gerenciado com o apoio de um SGA. Fazendo uso dessa
norma, as organizações podem construir em seus processos e competências da gestão
existentes sem ter de, necessariamente, implementar ou utilizar cada uma das normas
brasileiras relacionadas.

Relação entre as normas brasileiras


Aplicando essa norma, busca-se que uma organização utilize sempre seus processos
e procedimentos existentes como um ponto de partida e que utilize as diretrizes
dessa norma de uma forma maleável e prática. Ela fornece diretrizes para apoiar

95
Unidade III | Gestão Ambiental

as organizações no estabelecimento de uma abordagem sistemática e estruturada à


incorporação e à aplicação de um processo de ecodesign dentro de um SGA, como
aquele descrito na NBR ISO 14001. As diretrizes são aplicáveis a todas as organizações,
independentemente do tipo, do tamanho e do produto fornecido.

Ela contém três seções principais que oferecem orientação à pessoa responsável pelo
SGA. A Seção 4 trata do papel da alta direção; possui a explicação dos benefícios
potenciais do ecodesign e discute as questões estratégicas relevantes para o negócio e
para a gestão.

A Seção 5 da norma relata como um processo de ecodesign pode ser inserido e gerenciado
em um SGA. Fornece diretrizes para tratar o ecodesign como parte de um SGA
alinhado com a estrutura da NBR ISO 14001. Os requisitos da NBR ISO 14001:2004
são apresentados em caixas de texto e, para cada subseção, é dada uma orientação
específica sobre como ela se relaciona ao processo de ecodesign. As atividades de projeto
e desenvolvimento de produto de uma organização são o foco dos itens 5.4.6, que insere
o método descrito na NBR ISO 9001:2008, 7.3 (no qual os requisitos são apresentados
em caixas de texto), complementados pela orientação específica relativa ao ecodesign.

As atividades de projeto e desenvolvimento de produto de uma organização são o


objetivo de 5.4.6. Embora existam formas distintas de executar um processo de projeto
e desenvolvimento, essa norma segue o método descrito na NBR ISO 9001:2008, 7.3.

A Seção 6 relata como o ecodesign é tratado no processo de projeto e desenvolvimento.


O Anexo A complementa a Seção 4, fornecendo informações detalhadas sobre questões
estratégicas e sobre o papel da alta direção no ecodesign. O Anexo B apresenta como
essa norma pode se relacionar com as normas brasileiras existentes.

No entanto, em busca principalmente de organizações que têm um SGA tal como


aquele descrito na NBR ISO 14001, interligado ou não com um Sistema de Gestão da
Qualidade (SGQ), essa norma tem valor também para as organizações que somente
têm um SGQ.

Da mesma maneira, ela pode ser útil para outras organizações que não têm um SGA ou
um SGQ formalizado, mas que estão interessadas em diminuir os impactos ambientais
discordantes de seus produtos.

O foco do ecodesign é integrar aspectos ambientais no projeto e desenvolvimento de


produto para diminuir os impactos ambientais discrepantes dos produtos ao longo

96
Gestão Ambiental | Unidade III

de seus ciclos de vida. No esforço para alcançar esse objetivo, os benefícios múltiplos
podem ser atingidos para a organização, seus clientes e outras partes interessadas.

As vantagens potenciais podem incluir: vantagens econômicas (por exemplo, por meio do
acréscimo da competitividade, da diminuição de custo, da atratividade de financiamento
e dos investimentos); promoção da inovação e da criatividade, e identificação de novos
modelos de negócios; diminuição na responsabilidade legal, por meio da redução dos
impactos ambientais e da melhora do conhecimento produto; aperfeiçoamento da
imagem pública (tanto para a imagem quanto para a marca da organização); reforço
na motivação do empregado.

As organizações podem atingir esses benefícios do ecodesign, independentemente


da sua cultura, de seu tamanho, da complexidade de seus sistemas de gestão e de sua
localização geográfica. Por causa dessa diversidade, seu estilo da operação pode se
alterar substancialmente, mas não afetará os benefícios que podem potencialmente ser
obtidos. Nem todos esses benefícios serão necessariamente percebidos simultaneamente
ou em curto prazo, devido, por exemplo, às limitações financeiras e tecnológicas da
organização.

97
ESTUDO DE CASO UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
Análise de Situações de Projeto e
Desenvolvimento

Com a abertura dos mercados e a globalização, sobretudo com a Revolução Industrial e


as modificações nos padrões de consumo, a produção em larga escala fez com que, por
muito tempo, não existisse preocupação com os aspectos que, direta e indiretamente,
atingem o meio ambiente.

O ser humano necessita de recursos naturais para a sua sobrevivência. Alguns desses
recursos são renováveis, contudo precisam das condições ideais para que seu ciclo não
se finalize. O problema é que o modelo de produção que temos hoje não contribui
com essa renovação.

Isso nos leva a comentar novamente sobre o ecodesign, um conceito que atualmente não
é mais utilizado apenas na concepção de produtos, mas também serve para caracterizar
alternativas verdes para o planejamento de cidades.

Ecodesign nas Cidades


O consumo descontrolado e irresponsável já foi muito problematizado, tanto é que
hoje o cenário do mercado é de um público consumidor cada vez mais consciente de
seu papel na preservação do meio ambiente. A etapa seguinte é levar essa consciência
para uma visão maior.

Existem lugares que estão integrando o design das cidades e subúrbios com a
sustentabilidade ambiental, que estão se gerenciando em relação ao aquecimento global,
equilibrando o transporte, realizando melhorias no design e gerenciando o crescimento

98
Estudo de Caso | Unidade IV

urbano, conta Jonathan Barnett, professor emérito da University of Pennsylvania, no


vídeo de apresentação do curso Ecodesign for Cities and Suburbs.

Esse é o fundamento de ecodesign aplicado às cidades, que procura buscar um meio


termo entre natureza e desenvolvimento, atacando os problemas que tornam esses
locais disfuncionais, desagradáveis e prejudiciais ao meio ambiente.

O ecodesign, contudo, não tem como foco apenas o meio ambiente. Com ele, busca-se
utilizar melhor os recursos, com eficiência energética, mas também originar cidades
atrativas, boas de morar, com qualidade de vida.

Não faltam, pelo mundo, bons exemplos de iniciativas que fizeram uso dos conceitos
do ecodesign para tornar as cidades mais sustentáveis e agradáveis. Vamos conferir, a
seguir, alguns deles.

Conselho Colombiano de Construção Sustentável


(CCCS) – Cidade de Bogotá
A Colômbia tem sido um bom exemplo para a América Latina em relação à forma
como tem trabalhado para melhorar suas construções e elevar a eficiência energética,
e o CCCS lidera esses esforços. Desde 2009, o conselho participa do World Green
Building Council.

Nos dias atuais, Bogotá realiza o planejamento de seu novo plano diretor, para os
próximos 12 anos, com o objetivo de reduzir a emissão de gases do efeito estufa em
32% nas novas construções. Um projeto de ecodesign interessante em desenvolvimento
são os prédios do complexo Elementos, produzidos com material reciclado, painéis
solares e telhados verdes.

99
Unidade IV | Estudo de Caso

Figura 27. Prédio da cidade de Bogotá.

Fonte: Wikihaus, 2021.

Telhados e paredes verdes em São Paulo


É de opinião entre todos que residem ou já visitaram a maior metrópole do Brasil: São
Paulo é uma cidade bastante cinza e pouco verde.

Contudo, existem iniciativas ainda sem muito destaque que, embora não façam parte
de um plano maior de disseminação da sustentabilidade, devem ser mencionadas,
como os edifícios com telhados verdes e jardins verticais.

Essa cobertura vegetal facilita a purificação do ar notadamente poluído da capital


paulista. A maior vantagem, porém, é que ela funciona como um eficiente e natural
isolante térmico, que diminui o gasto de energia com aparelhos de ar-condicionado.

Um exemplo conhecido de telhado verde é o Edifício Conde Francisco Matarazzo, no


Vale do Anhangabaú (na região central). Também é possível encontrar prédios com
esse tipo de cobertura nas avenidas Faria Lima e Paulista, na Marginal Pinheiros e na
Vila Madalena.

100
Estudo de Caso | Unidade IV

Figura 28. Edifício Matarazzo, em São Paulo.

Fonte: Wikihaus, 2021.

Hammarby Sjöstad – Estocolmo


Hammarby Sjöstad é uma região no sul de Estocolmo, capital da Suécia, que está na
etapa de um projeto de desenvolvimento urbano. É um dos principais exemplos de
ecodesign em cidades da Europa e do mundo.

Tempos atrás, Hammarby Sjöstad era uma área industrial. Contudo, passou a ser
reconstruída como bairro sustentável em 1993 e, atualmente, é praticamente uma
ecocidade. O plano integrado da localidade tem regras para novas construções, coleta
de lixo, esgoto, uso da água e transporte. A meta da localidade é diminuir em 50% o
consumo de eletricidade.

101
Unidade IV | Estudo de Caso

Figura 29. Região no sul de Estocolmo.

Fonte: Wikihaus, 2021.

Battery Park City – Nova York


A Battery Park City é um espaço construído acima do rio Hudson que integra a ilha de
Manhattan, em Nova York. A área é conhecida pela visão do rio e por seus edifícios
sustentáveis. Um deles é o The Solaire, o primeiro enorme edifício residencial norte-
americano desenvolvido com critérios de sustentabilidade. Ele é equipado com sensores
de iluminação e climatização que facilitam a utilização mais inteligente de energia – o
prédio consome 35% menos de energia do que o máximo permitido pela lei.

Figura 30. Prédio The Solaire, em Manhattan.

Fonte: Wikihaus, 2021.

102
Estudo de Caso | Unidade IV

Com as moradias das zonas urbanas cada vez maiores e por causa do crescimento
descontrolado dessas regiões, cada vez mais se conferem zonas impermeabilizadas e
preenchidas de edificado e áreas verdes quase inexistentes na cidade.

Com isso, buscam-se alternativas, como as coberturas ajardinadas, para quando o espaço
ao nível do solo não é suficiente. Essas superfícies são uma tentativa de colmatar essas
falhas e fazem com que ocorra um aumento de espaços verdes e uma maior eficiência dos
edifícios. Entretanto, elas não podem ser visualizadas como uma forma de substituição
dos espaços abertos permeáveis, mas sim como um complemento quando já não é
possível que os espaços verdes sejam projetados em solo natural.

A implementação de novas soluções incorporadas no conceito de ecodesign nas cidades,


como as coberturas ajardinadas, tem um contributo real na modificação do paradigma
cultural que se assenta na dicotomia cidade/natureza e na procura de uma possível
integração entre as estruturas vivas e edificadas, permitindo, assim, que a sociedade
lide com a fragmentação, a descontinuidade e a incerteza da cidade contemporânea.

Baseado nesse paradigma, os benefícios dessas novas soluções fazem sentido. No


entanto, o meu principal medo continua a ser que, à custa da tomada de soluções
alternativas, as empresas continuem a realizar processos de urbanização sem critério
e a impermeabilizar o solo, pois há a hipótese (equivocada) de a estrutura ecológica ser
substituída pelas coberturas ajardinadas, o que, consequentemente, gera a destruição
de todo um sistema de paisagem pré-existente, por meio da modificação da topografia,
da anulação ou mesmo eliminação do sistema de drenagem natural e até ao apagar dos
registros culturais associados ao local.

Assistir ao vídeo: “ECODESIGN – JornalEco 2017/1”. Disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=kSfUKzcgq_o.

Indústria Eletrônica Automotiva – Um Estudo de


Caso
A ecologia industrial sugere que a antroposfera seja uma parcela da biosfera e que
esta somente pode existir em equilíbrio dinâmico com outros subsistemas: atmosfera,
hidrosfera e litosfera. A ecologia industrial é a base para o desenvolvimento de sistemas
industriais sustentáveis. Uma aplicação prática da ecologia industrial é a geração de

103
Unidade IV | Estudo de Caso

organismos industriais, em que uma unidade consome os resíduos de outra, produzindo


produtos e resíduos que serão utilizados em algum lugar como matérias-primas.

Uma proposta pode ser considerada sustentável quando:

I. é concentrada em recursos renováveis;

II. melhora a utilização dos recursos não renováveis, tais como água, ar, energia
e território;

III. não armazena resíduos que o ecossistema não seja possível de reabsorver; e

IV. faz com que indivíduos e comunidades das sociedades ricas se mantenham
nos limites de seu espaço ambiental e que indivíduos e comunidades das
sociedades pobres possam efetivamente usufruir do espaço ambiental ao
qual potencialmente têm direito.

No ecodesign, o projetista escolhe e manipula soluções de projeto com base no impacto


que este gerará no ciclo de vida do produto: fabricação, embalagem, uso, troca de peças
e fim de vida. O projetista objetiva o uso do produto, pois este não é independente
nem homogêneo e exige outros produtos e atores para a sua fabricação, transporte e
uso, em uma abordagem transversal e multidisciplinar.

Como fatores que influenciam a implementação do ecodesign, podemos citar:

I. pressão externa oriunda de exigências legais;

II. intervenções econômicas internas;

III. percepção e reconhecimento do consumidor; e

IV. flexibilidade de novas tecnologias.

A indústria automotiva exerce atividades em mercado competitivo, de alto valor


agregado, e com distribuição de produtos em nível mundial. Por causa dos requisitos
de segurança dessa área, a tolerância a falhas é pequena. De modo geral, veículos têm
apresentado balanço ambiental negativo. Na fase de produção, são deslocadas 15
toneladas de matéria-prima, 20 vezes o peso médio do produto final, e é necessário
utilizar 40.000 litros de água.

Na fase de utilização, existe o consumo de combustíveis e lubrificantes e consequentes


emissões de CO2 e SO2, gases interligados ao efeito estufa e à chuva ácida. Na etapa de

104
Estudo de Caso | Unidade IV

descarte, há problemas relacionados à destinação de pneus e à reciclagem de plásticos e


de resíduos eletroeletrônicos. Quanto aos metais, de forma geral, eles são aproveitados
como sucata metálica, a matéria-prima da indústria siderúrgica.

Os fabricantes automotivos minimizaram o uso de substâncias perigosas utilizando


as chamadas lista negra e lista cinza. Na primeira, estão mencionadas as substâncias
expressamente vedadas para qualquer tipo de utilização. Na segunda, estão listadas as
substâncias que podem ser utilizadas, mas em quantidades limitadas.

Para qualquer situação, o fornecedor da indústria automotiva deverá realizar a emissão


de uma declaração confirmando que seu produto está de acordo com as restrições
regulamentares. Caso não consiga atender às restrições, deve solicitar derroga temporária
à montadora, justificando o desvio e apresentando um plano de ação para regularizas
a situação. O fornecedor deve assinalar o produto na International Material Data System
(IMDS), um banco de dados com registros de todas as partes de itens automotivos
e suas composições químicas. O registro é comparado com as listas negras e cinzas,
demonstrando os desvios.

Em relação ao reaproveitamento e à reciclagem, um exemplo é a prática da FIAT do


Brasil de reaproveitar embalagens de motores para a produção de isolantes acústicos.
Outro exemplo foi desenvolvido pela MWM International, que faz uso de embalagens
plásticas retornáveis, em substituição às de madeira, para a exportação de cabeçotes
de motores a diesel.

É importante destacar que as normas do setor impedem que itens de segurança que
falharam possam ser retrabalhados ou recuperados. Entretanto, é possível alterar o
projeto, de forma que itens que apresentaram falhas possam ser facilmente desmontados,
e as suas partes, recicladas.

Atualmente, pode-se sugerir que a indústria automotiva tem consciência de seu


papel nas questões ambientais e tem trabalhado para diminuir o saldo negativo do
balanço. Podem ser mencionados como exemplos: o desenvolvimento de motores
de alto rendimento e que funcionam com energias alternativas, como a elétrica; a
fabricação de partes com reciclados; o desenvolvimento de lubrificantes sintéticos de
alta durabilidade; e a possibilidade de utilização de combustíveis renováveis.

Pesquisas empíricas demonstraram como principais motivadores para essas práticas


o retorno financeiro oferecido pela venda de produtos ditos verdes e a diminuição de
custos por redução de perdas em processos de fabricação e reaproveitamento físico de

105
Unidade IV | Estudo de Caso

materiais. Podemos mencionar também que as vantagens a longo prazo da melhoria


de desempenho ambiental não são suficientemente reconhecidas pelas empresas, a
ponto de justificarem e motivarem modificações na maneira de conduzir as operações
empresariais e de negócios.

Estratégias de Ecodesign Aplicáveis ao Projeto de


Mobiliário
Os impactos ambientais provenientes do ciclo de vida do mobiliário de mais destaque
estão concentrados nas etapas de manufatura e descarte. Na fase de manufatura, os
principais problemas estão relacionados com a toxicidade e a periculosidade das
substâncias utilizadas nos processos de pintura.

Na fase de descarte, o principal problema está relacionado à geração crescente de


desperdício, fruto da contínua substituição desnecessária do mobiliário de escritório
por causa da montagem de novos ambientes ou pela reconfiguração destes; o mobiliário
é substituído, em muitas situações, muito antes do final da vida útil deles.

As estratégias de ecodesign específicas do produto estão classificadas com base nas fases
do ciclo de vida que se pretende atender. As estratégias a serem tomadas durante a
seleção dos materiais estão estreitamente interligadas com estratégias a serem aplicadas
em outras etapas do ciclo de vida.

Podemos citar como exemplo a consideração na escolha de materiais sem se levar


em conta a desmontagem e a reciclagem pode resultar em problemas ambientais
inesperados. Igualmente, o design para desmontagem torna viáveis outras estratégias,
tais como a separação e a reciclagem dos materiais. Na etapa de transporte, pode-se
sugerir estratégias como a diminuição da quantidade de materiais e o design para
desmontagem, que podem reduzir os impactos ambientais provenientes da etapa de
transporte.

A consideração dos aspectos ambientais relacionados ao produto necessariamente


deve ser complementada com estratégias relativas ao sistema-produto, tais como a
oferta de serviços de manutenção e a recuperação dos móveis para logo depois haver
remanejamento por parte da empresa.

Os produtos verdes necessitam de sistemas também verdes. Sob essa ótica, pode-
se observar que várias empresas líderes mundiais na fabricação de móveis aplicam

106
Estudo de Caso | Unidade IV

estratégias de coleta do mobiliário no final do ciclo de vida deste e restauram ou


reaproveitam esses móveis para a produção de novas gerações de mobiliário.

É imprescindível destacar que estratégias como a recuperação de mobiliário usado e


posterior restauração ou remanufatura deste são iniciativas voluntárias por parte das
empresas, por enquanto. Tanto nos Estados Unidos quanto em países da Europa, regiões
onde hoje em dia se encontram os maiores produtores mundiais de móveis, ainda não
existe uma estrutura legislativa que garanta o recolhimento efetivo do mobiliário por
parte dos fabricantes. O futuro próximo tampouco parece ser muito promissor.

Os impactos ambientais mais representativos oriundos do mobiliário de escritório ao


longo do seu ciclo de vida são aqueles provocados durante a aquisição das matérias-
primas e o descarte do mobiliário inutilizado.

Como estratégias principais para lidar com esses impactos, há duas sugestões: a primeira
estratégia seria projetar o mobiliário de escritório de forma a torná-lo mais apropriado
para a reciclagem dos materiais; a segunda estratégia seria diminuir o consumo de
mobiliário de escritório, por exemplo, prolongando o ciclo de vida dele.

A estratégia de facilitar a reciclagem se baseia em projetar os móveis para que sejam


facilmente desmontados. Um problema para o sucesso dessa estratégia são os custos da
reciclagem: a seleção e a desmontagem do mobiliário não utilizado em conjunto com
os custos de transporte são muito caros; nas atuais condições, o custo da reciclagem
provavelmente ultrapassa a vantagem esperada.

O lucro dessa estratégia depende bastante do volume do mobiliário: quanto maior


o número de móveis transportados e desmontados ao mesmo tempo, maior será a
lucratividade desse processo.

A tática de prolongar o ciclo de vida dos móveis pode ser executada de várias maneiras,
por exemplo: projetar o mobiliário para que este seja mais durável, oferecer serviços
de manutenção, reutilizar partes dos móveis, remanufaturar mobiliário utilizado e
alugar ou arrendar os móveis (oferecendo um sistema produto-serviço por parte do
produtor).

Executar o projeto dos móveis para que sejam mais duráveis (design para durabilidade)
significa, por exemplo, utilizar medidas para elevar a resistência desse mobiliário,
medida que, de certa maneira, não combina com a constante renovação mobiliária
verificada nas empresas corporativas.

107
Unidade IV | Estudo de Caso

A oferta de serviços de manutenção e reparo dos móveis de maneira paralela à venda


destes parece ser uma estratégia mais viável, que, além de aumentar a vida dos móveis,
pode trazer benefícios adicionais à empresa.

Essa estratégia é comumente incluída no portfólio de fabricantes e representantes


comerciais. Fazer reúso de partes dos móveis significa voltar a utilizar peças duráveis,
como pilares e perfis de metal e estruturas de suporte na fabricação de novos móveis.

Para colocar essa ideia em prática, o fabricante deve elaborar um contrato com o cliente,
no qual haja a garantia de serviços de manutenção e reparo assim como a liberação de
partes utilizadas pelo cliente para a efetiva recolha destes.

Um dos problemas relacionados com essa iniciativa é o desenvolvimento de um sistema


de recolha que mantenha um fluxo constante de peças para a empresa. Remanufaturar
mobiliário usado se baseia em processar novamente partes e peças de móveis utilizados,
com o foco de colocar essas peças em estado de novo. Essa estratégia resultaria numa
importante diminuição de custos de fabricação, já que a maior parte dos custos associados
com a manufatura de móveis são os custos de matéria-prima.

A dificuldade dessa estratégia é, além dos problemas de recolha, a abertura de um


mercado de móveis com características que estejam de acordo com a compra ativa
de móveis remanufaturados. A estratégia de propor um sistema produto-serviço por
parte do produtor é uma outra opção que pode solucionar o problema principal da
estratégia de prolongar o ciclo de vida dos móveis.

Esse problema se firma em que fabricar móveis com um ciclo de vida mais longo
contraria o objetivo geral de toda empresa com fins lucrativos: vender a maior quantidade
de produtos possível; em efeito, aumentar a fase de uso dos móveis significaria uma
redução na quantidade de produtos vendidos.

Uma sugestão seria que o fabricante de móveis de escritório alugasse seus produtos em
vez de vendê-los. Com isso, o serviço incluiria manutenção, reparo e melhoramentos.

No final do período de serviço, o cliente devolveria o mobiliário e receberia os móveis


remanufaturados se quisesse continuar com o contrato do serviço. Os representantes
comerciais, empresas que geralmente atuam em parceria com os fabricantes de móveis,
poderiam se manter como mediadores entre o cliente e o produtor.

Esse caminho possibilitaria uma periódica preocupação do fabricante em manter e


prolongar a vida útil dos móveis, além de garantir a reutilização e remanufatura destes.

108
Estudo de Caso | Unidade IV

Redução na fonte significa qualquer modificação no design, manufatura, compra ou


utilização dos materiais ou produtos de maneira a reduzir o teor de toxicidade dos
resíduos. Essa estratégia pode ser implementada por meio de três medidas: redução
na fonte por meio do redesign, modificação de hábitos para diminuir a utilização de
materiais e reúso de produtos e embalagens.

A redução na fonte por meio do redesign pode inserir a substituição de materiais e


a extensão da vida dos produtos. Substituir materiais significa, por exemplo, trocar
materiais pesados, como vidro e aço, por materiais mais leves, como alumínio e plástico.
Assim mesmo, os produtos podem ser reprojetados de forma a que se reduza o volume
destes. Os materiais tóxicos podem ser alterados por materiais menos tóxicos, e assim
por diante.

Prolongar a vida do produto possibilita o adiamento da sua disposição final; a


responsabilidade por essa medida recai em parte no produtor (por exemplo, ele
deverá projetar móveis de longa durabilidade e de fácil manutenção) e em parte no
consumidor (por exemplo, ele terá de demandar móveis com essas características e
estar disposto a pagar um pouco mais pelo valor agregado ao produto).

A mudança de hábitos para diminuir o consumo de materiais pode ser executada de


várias formas, por exemplo: clientes podem comprar mobiliário de uma vez só para
gerarem ganhos como a diminuição de consumo de energia no transporte e a otimização
da utilização de embalagens; as empresas podem pensar na implementação de sistemas
de recolha para reúso e remanufatura dos produtos, entre outros.

Fazer reúso de produtos e embalagens, em se tratando dos móveis, se baseia em


possibilitar uma segunda, terceira ou mais fases de utilização após o período de utilização
constante do produto.

Os móveis bem conservados podem ser revendidos, doados, leiloados etc. A durabilidade
e os serviços de manutenção dos móveis executariam uma função bastante importante
nesse sentido.

Leitura do artigo: “O impacto do ecodesign no processo de desenvolvimento de


produtos. Revista Foco”.

Autor: Ricardo Oselame Schiochet. Disponível em: https://www.researchgate.


net/publication/331317387_O_impacto_do_ecodesign_no_processo_de_
desenvolvimento_de_produtos.

109
Unidade IV | Estudo de Caso

Leitura do artigo: “Ecodesign na perspectiva do desenvolvimento local e da


sustentabilidade”.

Autores: Lorene Almeida Tiburtino-Silva, Josemar de Campos Maciel, Reginaldo


Brito da Costa. Disponível em: https://www.scielo.br/j/inter/a/JYprLNcPvmgTX
9PcBWR7KJR/?format=pdf&lang=pt.

Leitura do artigo: “Aplicação das ferramentas de ecodesign no ciclo de vida dos


produtos para contribuir com a sustentabilidade ambiental”.

Autoras: Carla Busarello, Melissa Watanabe e Camila Bardini. Disponível em:


https://www.inovarse.org/sites/default/files/T16_090.pdf.

Pontos que Diferenciam a Produção mais Limpa e o


Ecodesign
Perante o momento que o planeta vive atualmente, no qual as grandes organizações
estão em uma procura incessante pela competitividade em qualquer situação, produzindo
inúmeros riscos para o meio ambiente e a sociedade, favorecendo um grande consumo
de recursos naturais não renováveis juntamente com a pressão do mercado por produtos
e serviços inovadores e competitivos e ao mesmo tempo buscando uma melhoria
de qualidade de vida, um número cada vez maior de organizações vêm inserindo o
conceito de sustentabilidade em suas estratégias.

Diante desse cenário, as organizações estão sendo visualizadas como agentes que
dispõem de recursos tecnológicos, financeiros e organizacionais para uma ação mais
decisiva e direta em busca da solução para os danos ambientais e sociais. Nessa situação,
as organizações e a sociedade começam a se preocupar cada vez mais com a extração
dos recursos naturais não renováveis.

A maior indagação que as organizações se fazem é: como podem realizar a aplicação e


a definição de uma estratégia que garanta seu desenvolvimento sustentável? Apesar de
ser uma questão aparentemente complicada, é possível responder esse questionamento
executando uma análise para o desenvolvimento sustentável por meio de sistemas que
auxiliam na coleta de dados e interpretação dos resultados.

Entre esses sistemas, há um bastante aplicado nas organizações, que é o “Produção mais
Limpa”, também conhecido como PmaisL, que se refere a análises e ações ambientais
preventivas, promovendo a economia de água, de energia e de matéria-prima. Ele
também está envolvido com a melhoria do desempenho econômico das organizações,
ao mesmo tempo em que busca diminuir impactos negativos sobre o meio ambiente.

110
Estudo de Caso | Unidade IV

O outro sistema é o ecodesign, já mencionado anteriormente, que defende a produção


de produtos e serviços que provoquem o menor impacto ambiental possível em todo
o ciclo de vida do produto.

O ecodesign é visto como parte do caminho que encaminha as empresas à sustentabilidade,


por meio da preocupação com todo o ciclo de vida dos produtos. Com isso, é possível
sintetizar estratégias para novas oportunidade de desenvolvimento e, assim, diminuir
custos, melhorar a imagem da companhia no mercado, a qualidade do produto e gerar
vantagens em relação à concorrência.

Adiante, nós nos aprofundaremos um pouco mais sobre a produção mais limpa e
exemplos de empresas que a praticam.

Produção mais Limpa


O objetivo da PmaisL é reduzir ou acabar com a geração de resíduos e poluentes na
sua origem, ou seja, no processo produtivo.

De acordo o Comitê Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável (CEBDS),


a PmaisL, com seus elementos fundamentais, segue uma visão preventiva, em resposta
à responsabilidade financeira adicional, buscada pelos custos de controle da poluição
e dos tratamentos de “fim de tubo”, assim como ajuda as empresas a seguirem práticas
de fabricação por meio de um novo conceito de produção e consumo, com o objetivo
de favorecer o desenvolvimento sustentável.

Também no Brasil, surgiu a Rede Brasileira de Produção mais Limpa, que possibilita
o conceito de ecoeficiência e a metodologia de PmaisL como meio para acrescer a
competitividade, a inovação e a responsabilidade ambiental no setor produtivo brasileiro.

O programa busca desenvolver uma nova consciência ambiental, destacando que a


preocupação com as questões ambientais é uma forma inteligente de ganhar dinheiro.
Ainda de acordo a Rede Brasileira de Produção mais Limpa, a PmaisL é uma estratégia
aplicada à produção com o objetivo de economizar e maximizar a eficiência da utilização
de energia, matérias-primas e água, e ainda, diminuir ou reaproveitar resíduos
produzidos.

O objetivo singular da PmaisL é que os poluentes e os desperdícios sejam destruídos


ou reduzidos onde são produzidos, ou seja, durante o processo de produção – acabam,
assim, os tratamentos de “fim de tubo”.

111
Unidade IV | Estudo de Caso

A metodologia da PmaisL engloba certas fases, e o SEBRAE as apresenta da seguinte


forma:

a. Elaboração e estruturação – comprometimento da direção e dos funcionários


e formação de equipes de trabalho.

b. Pré-avaliação e diagnóstico – determinação de metas para PmaisL e síntese


de fluxogramas, com avaliação de entradas e saídas.

c. Avaliação da PmaisL – reconhecer as ações que podem ser aplicadas


imediatamente e as que necessitam de análises adicionais mais detalhadas,
por meio de balanços materiais e de energia e informações das fontes e
causas da geração de resíduos e emissões.

d. Análise de viabilidade técnica, econômica e ambiental – ressaltar as


oportunidades viáveis e documentar os resultados esperados.

e. Execução e plano de continuidade – aplicar as opções escolhidas e garantir


atividades que conservem a PmaisL, monitorar e avaliar as oportunidades
implementadas, assim como organizar atividades que garantam a melhoria
contínua com a PmaisL.

Com isso, a PmaisL pode ir além de uma prática de gestão ambiental, maximização da
utilização de recursos e minimização de resíduos. Nos dias atuais, a PmaisL configura-
se também como uma prática de gestão econômica, pois os resíduos são considerados
produtos com valor negativo para empresa.

Resumindo, com base no aspecto ambiental, a PmaisL ocasiona uma redução significativa
dos impactos ambientais, um maior conhecimento dos riscos da empresa em relação
à natureza, além de condições favoráveis à saúde dos trabalhadores e da população.
Porém, no aspecto produtivo, a PmaisL pode ser considerada como uma forma de
produzir melhor, menos custosa, apesar de algumas ações exigirem investimentos
financeiros, mas que certamente ocasionarão retorno significativo.

Finalizando, do ponto de vista econômico, a PmaisL está relacionada à diminuição de


energia e de resíduos, como também evita possíveis multas ambientais que a empresa
poderia vir a receber, além de gerar uma melhoria da imagem pública da organização.

112
Estudo de Caso | Unidade IV

Empresas com responsabilidade socioambiental

Alcoa procura aplicar a sustentabilidade no setor de


mineração
A maior fabricante de alumínio do mundo, a norte-americana Alcoa, tem ganhado
destaque, também, quando se trata da sustentabilidade no mundo dos negócios.
Preocupada em relacionar desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente,
ela explora, há pouco mais de um ano, uma mina de bauxita no município de Juriti, no
coração da Floresta Amazônica, com técnicas que reduzem os impactos ambientais.

O foco da empresa é transformar Juriti em referência de atuação socioambiental no


setor de mineração. Para isso, a empresa criou um conselho especial para debater com
as comunidades locais e o poder público o desenvolvimento do município, além de
um fundo de financiamento de ações sociais na região. Com essas frentes de diálogo, a
Alcoa consegue diminuir seu impacto no meio ambiente e garantir benefícios sociais
duradouros nas regiões onde atua.

Figura 31. Atuação da empresa Alcoa.

Fonte: Exame, 2021.

Amanco investe em materiais de menor impacto


ambiental
Buscando matérias-primas menos poluentes, a Amanco, fabricante de tubos e conexões,
tem inovado na formulação de seus produtos com a utilização de tecnologias mais
limpas. Um destaque da empresa foi a modificação do solvente tolueno, que pode

113
Unidade IV | Estudo de Caso

causar dependência nos trabalhadores que inalam seu vapor, por outro de menor
impacto para a saúde das pessoas e para o meio ambiente.

Pela iniciativa, a empresa recebeu, em 2009, o selo Sustentax, que certifica produtos
sustentáveis. Com o passar do tempo, num esforço de engenharia de materiais, a empresa
também modificou a fórmula de outros de seus produtos, como os estabilizantes, que
deixaram de levar chumbo em sua composição, reduzindo riscos de intoxicação pelo
metal entre os funcionários.

Figura 32. Atuação da empresa Amanco.

Fonte: Exame, 2021.

Braskem é líder global na utilização de materiais


renováveis
A sustentabilidade vem ocupando o objetivo dos negócios da Braskem. Responsável
pela fabricação de “plástico verde” e uma das maiores petroquímicas do mundo, a
empresa tem como foco se tornar referência mundial na produção de matérias-primas
renováveis. Para alcançar esse objetivo, a Braskem investe fortemente em pesquisa e
em inovação – de seus 6,5 mil funcionários, 300 são cientistas.

Também não faltam investimentos para os centros de desenvolvimento de novas


tecnologias. A fábrica de “plástico verde”, no Rio Grande do Sul, recebeu investimento
de 500 milhões de reais. Com a fabricação de uma tonelada dessa matéria-prima
renovável, a empresa reduz a emissão de 2,5 toneladas de CO2.

114
Estudo de Caso | Unidade IV

Figura 33. Atuação da empresa Braskem.

Fonte: Exame, 2021.

Bunge fabrica embalagem biodegradável para


margarina
Com o passar de dois anos de profundas pesquisas na subsidiária brasileira da Bunge,
a empresa, uma das maiores empresas de alimentos e de fertilizantes do mundo,
desenvolveu uma embalagem produzida de material orgânico e biodegradável. A
intenção, bem-sucedida, deu origem a uma embalagem de pequeno impacto ambiental
utilizada por um dos produtos da empresa, a margarina Cyclus.

A empresa também tem trabalhado na diminuição de resíduos. Recentemente, reduziu


em 14% o volume de PET usado nas embalagens de óleo vegetal. Outro foco de atuação
é o incentivo à reciclagem. A Bunge mantém 60 postos de coleta de óleo em padarias
de toda a região metropolitana de São Paulo.

115
Unidade IV | Estudo de Caso

Figura 34. Atuação da empresa Bunge.

Fonte: Exame, 2021.

Natura orienta trabalhadores para extração de óleos


vegetais
O óleo de murumuru, utilizado em cosméticos, é extraído de uma planta amazônica
de difícil manipulação e que muitas vezes leva à prática de queimadas. Com uma ação
educativa executada pela Natura, 400 famílias que fornecem a matéria-prima à empresa
foram orientadas a não empregar mais essa técnica.

A ação resultou na conservação de mais de três mil palmeiras das quais o óleo é extraído.
Desde o lançamento da sua linha de produtos Ekos, há 10 anos, a Natura mantém uma
rede de fornecedores constituída por 26 comunidades em todo o Brasil. Só em 2009,
os negócios com o grupo, que engloba o pagamento pela matéria-prima e uma espécie
de royalty pelo conhecimento local sobre plantas, alcançaram 5,5 milhões de reais.

116
Estudo de Caso | Unidade IV

Figura 35. Atuação da empresa Natura.

Fonte: Exame, 2021.

CPFL procura possibilidades para geração de energia


elétrica
A CPFL Energia se lança à frente nos setores de energia pela produção mais limpa.
No ano de 2010, o maior grupo privado do setor elétrico brasileiro estabeleceu uma
termelétrica movida a biodiesel no interior paulista. Com potência instalada de 45
MW, a usina, que opera utilizando como combustível o bagaço de cana de açúcar, tem
capacidade de atender uma cidade de 200 mil habitantes. No Rio Grande do Norte, a
CPFL vem atuando na energia dos ventos, com a fabricação de oito parques eólicos.

Figura 36. Atuação da empresa CPFL.

Fonte: Click Petróleo e Gás, 2021.

117
Unidade IV | Estudo de Caso

EDP realiza investimento em postos para reabastecer


veículos elétricos
A contribuinte brasileira da EDP, holding de empresas de geração, distribuição e
comercialização de energia elétrica, promoveu 16 postos de abastecimentos de veículos
elétricos, distribuídos pelos estados de São Paulo, Vitória e Espírito Santo. Para
facilitar o desenvolvimento de um mercado brasileiro de carros movidos à eletricidade
e, também, o seu próprio negócio, a empresa procura destinar, anualmente, 100 mil
reais para propostas que possam ajudá-la a crescer na economia de baixo carbono.
Além disso, a EDP também faz investimentos em parques eólicos que contabilizam
13,8MW de capacidade instalada, energia suficiente para abastecer uma cidade de 40
mil habitantes.

Figura 37. Atuação da empresa EDP.

Fonte: Portugal Digital, 2021.

Fibria promove investimentos em sustentabilidade e


em geração de empregos
Movimentar as comunidades locais das regiões onde possui área de atuação é uma das
estratégias da fabricante de papel e celulose Fibria, que possui fábricas e plantações em
252 municípios em todo o Brasil. A empresa investiu 16 milhões de reais em ações
socioambientais nas regiões onde atua. O dinheiro para os investimentos em projetos
dessa natureza é inserido e definido no orçamento anual da companhia. Em 2010, a
Fibria começou a construção de uma unidade de plantio de mudas de eucalipto em
uma região carente no sul da Bahia. A expectativa é que a população seja inserida na
produção, que deve gerar 250 novos empregos.
118
Estudo de Caso | Unidade IV

Figura 38. Atuação da empresa Fibria.

Fonte: Jornal Empresarial, 2021.

HSBC busca “líderes ambientais” entre os seus


empregadores
O banco HSBC fundou um programa para motivar seus funcionários a disseminar
práticas sustentáveis. Nomeado de Climate Partnership, ele treina colaboradores do
banco interessados no tema e os estimula a ensinar a colegas de trabalho e a membros de
sua comunidade aquilo que aprenderam. Para o banco, o treinamento de funcionários
pode representar negócios no futuro. Até o momento, o programa já formou 80 líderes
ambientais no Brasil. Em 2009, o HSBC investiu 15,8 milhões de reais em 263 projetos
sociais e outros 3,5 milhões de reais em ações de conservação da Mata Atlântica.

Figura 39. Atuação do banco HSBC.

Fonte: CAUMT, 2021.

119
Unidade IV | Estudo de Caso

Itaú Unibanco lançou concurso de práticas


sustentáveis
O Itaú Unibanco inseriu a preocupação com o meio ambiente no cotidiano da organização
e, principalmente, no dia a dia dos empregados. O banco criou um concurso de ideias
sobre práticas sustentáveis há alguns. As melhores propostas, selecionadas com a
ajuda dos próprios funcionários, seriam premiadas. Além de fazer o estímulo à criação
coletiva de iniciativas verdes, o banco também conserva um programa interno de
coleta de lixo eletroeletrônico. Em 2009, foram recicladas 116 toneladas de aparelhos
descartados em toda a empresa.

Figura 40. Atuação do banco Itaú.

Fonte: Exame, 2021.

Masisa objetiva a diminuição de insumos durante a


produção
A fabricante de painéis de madeira Masisa busca, em seus empregadores, soluções
criativas para um enorme desafio: fabricar mais com a menor quantidade de insumos
possível. Desde a implantação de grupos de melhorias, em 2009, a utilização de resina
por metro cúbico de painéis produzidos diminuiu 10,5%. A empresa também conseguiu
diminuir em 16% o consumo de água na produção. Toda a economia alcançada pelas
sugestões “verdes”, que são inseridas no processo produtivo da empresa, volta aos
funcionários na forma de participação nos lucros.

120
Estudo de Caso | Unidade IV

Figura 41. Atuação da empresa Masisa.

Fonte: Exame, 2021.

Philips sugere lâmpadas econômicas para iluminação


pública
A eficiência energética tem sido a principal área de atuação da empresa Philips na busca
por tecnologias de menor impacto ambiental. Tanto que 7,7 % do faturamento da
empresa de eletroeletrônicos no Brasil são destinados ao desenvolvimento de produtos
considerados “verdes”. Com a produção de lâmpadas mais modernas, a empresa investe
em um projeto experimental em Santa Catarina, que obteve uma geração de uma
economia de 84% no consumo de energia elétrica. A Philips desenvolveu lâmpadas
de LED e as disponibilizou para a iluminação pública no município de Pedra Branca,
como se pode ver na Figura 42 abaixo.

121
Unidade IV | Estudo de Caso

Figura 42. Atuação da empresa Philips no município de Pedra Branca.

Fonte: Exame, 2021.

Promon promove o “sustentômetro” para a medição do


impacto socioambiental
A Promon, empresa especializada em projetos de infraestrutura, desenvolveu um
indicador para a medição do impacto socioambiental de seus projetos, chamado
de “sustentômetro”. A partir desse sistema, tornou-se fácil identificar as iniciativas
que não seguem aos critérios estabelecidos e melhorá-las. Mesmo anteriormente
ao desenvolvimento do “sustentômetro”, a empresa demonstrava preocupação em
reduzir seu impacto sobre o meio ambiente. Ao todo, já foram investidos 2,7 milhões
de reais em tecnologias para amenizar o impacto ambiental das obras, de onde 75%
dos resíduos seguem para a reciclagem.

122
Estudo de Caso | Unidade IV

Figura 43. Atuação da empresa Promon.

Fonte: Exame, 2021.

Esses são exemplos de algumas empresas brasileiras que têm compromisso com a
sustentabilidade.

123
CAPÍTULO 2
Atualizações e Tendências para
a Gestão de Desenvolvimento de
Produtos

O processo de desenvolvimento de produto (PDP) é considerado, cada vez mais, um


processo importante para a capacidade competitiva das empresas, tendo em vista
a necessidade, de uma forma geral, de renovação periódica das linhas de produtos,
redução dos custos e prazos de desenvolvimento, desenvolvimento de produtos mais
adequados às necessidades do mercado e, para empresas que participam de redes de
fornecimento de componentes e sistemas, capacitação para participar de estratégias
de desenvolvimento conjunto (co-design) com os clientes.

Com base nesse raciocínio, a inserção de estruturas organizacionais recomendadas e


de boas práticas de gestão para o PDP pode proporcionar melhores desempenhos para
o processo, sendo esse um ponto bastante crítico para a competitividade das empresas.

Para atingir benefícios competitivos com produtos diferenciados, além de uma


capacidade superior de produção (produção flexível com qualidade e produtividade),
as empresas precisam de um bom desempenho no PDP, o que é obtido, em enorme
parte, com uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo e com uma gestão
eficiente e eficiente desse processo. Além de ser a fonte da qualidade do produto e do
processo, o desenvolvimento de produto tem forte influência sobre outros fatores
de vantagem competitiva, como, por exemplo, custo, velocidade, confiabilidade de
entrega e flexibilidade.

No entanto, o comando do PDP é complexo devido à natureza dinâmica do


desenvolvimento de produto, à grande sinergia com as demais atividades da empresa
e à quantidade de informações de natureza econômica, tecnológica e de mercado que
são administradas.

A natureza dinâmica é consequência do ciclo iterativo do tipo projetar/construir/


testar, constante nas atividades típicas de desenvolvimento de produto, que englobam
periódicos ajustes e modificações, assim como interações entre etapas da cadeia de
produção. As modificações constantes nos ambientes econômico, tecnológico e
regulatório também contribuem para elevar a complexidade do PDP.

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Estudo de Caso | Unidade IV

A execução do PDP pode ser mensurada com base em indicadores de desempenho


relacionados à qualidade total do produto, aos custos ou à produtividade do processo
e ao tempo total de desenvolvimento.

Esse desempenho depende, obrigatoriamente, do modelo de organização e da maneira de


gestão adotados para o PDP. O modelo de gestão do PDP engloba diversas dimensões, as
quais agrupam ações diferentes com um objetivo comum e precisam ser administradas
adequadamente, a fim de que se atinja o desempenho desejado.

A primeira dimensão da gestão do PDP é a estratégica, que se preocupa principalmente


com a estratégia de produtos e de mercados, a gestão do portfólio de produtos e o
planejamento adicionado do conjunto de projetos. A dimensão organizacional engloba
como diferentes funções e departamentos podem ser envolvidos e integrados ao
PDP, particularmente durante a condução dos projetos, por meio da formação de
times de desenvolvimento e da valorização de determinadas formas de liderança e de
comportamento.

A dimensão atividade trata da delimitação e do gerenciamento das tarefas, sequenciais ou


simultâneas, a serem executadas ao longo do desenvolvimento. A dimensão informação
se preocupa com o conteúdo, o formato e a gestão das informações, as necessárias e
as produzidas, nesse processo e em particular na condução de suas tarefas. Por fim, a
dimensão recurso aborda técnicas, métodos, ferramentas, infraestrutura e sistemas,
operacionais ou gerenciais, empregados como apoio à realização das atividades e para
que as outras dimensões sejam eficientes e eficazes.

Essas medidas estruturam em práticas de gestão específicas, tais como: adoção de modelos
de referência para estruturação e gestão do PDP; adoção da estrutura organizacional
de times multifuncionais de projeto; desenvolvimento conjunto com os clientes e
fornecedores; uso de métodos e técnicas (CAD, FMEA, DOE, DFMA etc.); utilização
de stage gates como marcos de avaliação técnica e econômica do desenvolvimento do
projeto; aplicação de indicadores de desempenho para avaliação do processo e de suas
atividades; e atividades de auditoria e reflexão pós-projeto para registro das lições
compreendidas durante o processo de desenvolvimento.

Algumas práticas relacionadas a essas dimensões são apontadas, em pesquisas de campo,


como fatores importantes para o sucesso do PDP, tais como: multifuncionalidade
(importância do diálogo e da proximidade multifuncional na condução do projeto como
forma de acelerar o desenvolvimento do novo produto, o que ainda possibilita maior
qualidade e variedade de informação, aumentando, dessa maneira, a probabilidade

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Unidade IV | Estudo de Caso

de resolução de problemas logo no início do projeto); suporte da alta administração


(estabelecimento de uma direção estratégica, delimitação de tarefas e responsabilidades,
além de suporte financeiro ao projeto); análise dos requisitos e demandas do mercado
(análise adequada das necessidades do mercado).

Ao longo da cadeia de suprimentos do setor automobilístico, as empresas vêm sendo


incentivadas, por diversas maneiras e estratégias das montadoras, a seguir práticas de
gestão do PDP na busca de diminuição de prazos, custos e melhor gestão dos projetos.

O objetivo deste capítulo não é o desenvolvimento de uma nova teoria e nem o


estudo detalhado de uma abordagem ou sistemática adotada no PDP, e sim apresentar
soluções utilizadas quanto à utilização de práticas de gestão do PDP que aumentem o
conhecimento sobre como a indústria brasileira está tratando questões de gerenciamento
desse processo.

A Construção e a Visão de Marcas no Mercado e


sua Interface com Causas Sociais e Ambientais
As empresas estão constantemente buscando diferenciar sua oferta e reforçar sua marca
no mercado. A construção de uma marca pode ser caracterizada como um dos pontos
mais importantes na estratégia mercadológica para colocar um produto no mercado.

Quando se lança uma marca, o desafio é o de desenvolver associações positivas a seu


respeito. Nesse sentido, existe consenso entre as empresas quanto ao reconhecimento
de que a marca deve ter uma função maior do que identificar um produto e distingui-
lo dos concorrentes. A marca deve ter uma personalidade.

O estabelecimento de uma marca define a imagem da empresa perante seus consumidores.


O posicionamento não é o que você faz com o produto, e sim o que se faz com a mente
do consumidor. Dessa forma, o posicionamento de uma marca no mercado pressupõe
uma vantagem diferencial elaborada com base em qualquer aspecto forte que possa
ser oferecido pela empresa em relação à concorrência.

Em se tratando de estratégia mercadológica, não é nenhuma novidade a construção


de marcas e o posicionamento nos mercados relacionados a valores que num primeiro
momento voltavam-se mais para características racionais, como performance e qualidade,
passando posteriormente à utilização de valores emocionais, como amizade e confiança.
Atualmente, contudo, as estratégias de construção de marcas e de posicionamento

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Estudo de Caso | Unidade IV

estão contemplando cada vez mais a associação com valores vinculados a causas sociais
e ambientais.

Em relação a essa visão de estratégia de construção de marcas e de posicionamento no


mercado, não basta que os consumidores saibam o que um produto ou serviço faz, ou
que imagens eles transmitem ao comprador. Eles precisam conhecer em que a empresa
produtora dos produtos se inspira e que ações ela pratica em torno dessas causas. Nesse
sentido, cresce o número de empresas que, ao criarem uma marca, recorrem a ações
sociais e ambientais.

O esforço para estabelecer e aplicar estratégias de inovação se origina na busca por


diferenciações que tragam vantagens competitivas. Ao analisarem a utilização da
tecnologia, de uma perspectiva concorrencial, portanto, no contexto do ambiente
externo à empresa, estudiosos de estratégia competitiva investigam a utilização da
tecnologia relacionada às cinco forças que levam à competição industrial.

Com base nisso, dentre estratégias genéricas, selecionam aquela que pode ser usada
pela empresa. A força dessa abordagem está no entendimento do ambiente competitivo
no qual a empresa opera.

No entanto, essa abordagem não se refere aos aspectos tecnológicos e organizacionais


no interior da empresa; isto é, nesse contexto, pouco importa a relação entre recursos/
capacidades da empresa e a seleção estratégica.

Além disso, essa temática não considera as implicações do tamanho da empresa nas
estratégias tecnológicas, a influência da natureza do produto e de seus consumidores
na seleção entre custo/diferenciação dos produtos/serviços e os possíveis benefícios
das relações adversas entre compradores e fornecedores.

No entanto, essas duas abordagens não são excludentes, e sim, complementares, visto
que refletem fatores distintos que influenciam a dimensão da estratégia de inovação.
Portanto, é necessário não só analisar o ambiente competitivo que cerca a empresa,
mas também buscar conhecimentos sobre como gerenciar recursos e a capacidade da
empresa para a inovação no contexto de estratégias com esse objetivo. Esses fatores
caracterizam essa realidade ao identificarem que a inovação é resultado da interação
entre as oportunidades de mercado e a base de conhecimentos e capacitações da empresa.

A prioridade atribuída aos recursos e às capacidades da empresa na formulação de


estratégias de inovação não é um fato novo. Em 1959, a economista Edith Penrose já
preconizava um dos mais importantes estudos sobre o tema, The Theory of the Growth

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Unidade IV | Estudo de Caso

of the Firm. Não obstante, estudos mais atuais demonstram a importância dos recursos
e capacidades na condução de boas performances das empresas. Em todos os estudos
mencionados, os recursos e as capacidades internas da empresa são elementos-chave
para gerar competências tecnológicas e inovar com sucesso.

Os recursos são todos os ativos e funções disponíveis para uma empresa, englobando:
pesquisa e desenvolvimento, fábricas e instalações, ativos financeiros, recursos humanos,
redes às quais as empresas pertencem e rotinas seguidas por estas por meio de sua
atuação e práticas organizacionais.

Entretanto, eles são considerados conceitos estáticos, atribuindo-se às capacidades


inovativas da empresa a tarefa de processar/gerenciar (dinamizar) esses recursos, que,
por sua vez, englobam uma série de atividades para gerar mudanças nas tecnologias
e nos mercados.

Com essa perspectiva, a administração dos recursos e das capacidades de inovações


conduzem à competência para competir. Esses ativos somam valor, pois capacitam a
empresa para explorar oportunidades e/ou neutralizar ameaças ambientais. São eles:

» os raros (um número bem pequeno de empresas contém esse tipo de ativo
para que aconteça uma efetiva competição na indústria);

» os inimitáveis (devido à sua complexidade ou singularidade das condições


nas quais são inseridos);

» os insubstituíveis e intransferíveis (pois não existem maneiras alternativas


de atingir os mesmos resultados).

Vale destacar que o gerenciamento dos recursos e das capacidades para a inovação
que induzem a competências competitivas é de complicada repetição e transferência,
por serem estabelecidos nos arranjos e complementaridades dos processos e rotinas
organizacionais das empresas, com forte natureza tácita e de difícil replicação.

A caracterização das atividades que mensuram a capacidade de inovação são:

» previsão e avaliação;

» busca e seleção;

» aquisição e proteção;

» implementação;

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Estudo de Caso | Unidade IV

» coordenação e integração;

» alinhamento.

Leitura do artigo: “Desenvolvimento de novas competências e práticas de gestão


da inovação voltadas para o desenvolvimento sustentável: estudo exploratório
da Natura”.

Autores: Ana Patrícia Morales Vilha e Ruy de Quadros Carvalho. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/cebape/a/LDpSDTjVQbxZjhFDJnCqZBP/?lang=pt.

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FIGURA 39. Atuação do banco HSBC. Disponível em: https://www.caumt.gov.br/sustentabilidade-
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Referências

FIGURA 40. Atuação do banco Itaú. Disponível em: https://exame.com/negocios/itau-unibanco-


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FIGURA 41. Atuação da empresa Masisa. Disponível em: https://exame.com/negocios/as-20-
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FIGURA 42. Atuação da empresa Philips no município de Pedra Branca. Disponível em: https://
exame.com/negocios/as-20-empresas-modelo-em-responsabilidade-socioambiental/. Acesso em:
23 jul. 2021.
FIGURA 43. Atuação da empresa Promon. Disponível em: https://exame.com/negocios/as-20-
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