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Coleta Sanguínea, Anticoagulantes

e seu Transporte

Brasília-DF.
Elaboração

Wanessa de Cássia Martins Antunes de Melo

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade i
FISIOLOGIA DO SANGUE........................................................................................................................ 9

Capítulo 1
O sangue e seus componentes............................................................................................ 9

CAPÍTULO 2
Hemostasia e coagulação sanguínea............................................................................. 23

CAPÍTULO 3
Origem das células do sangue........................................................................................ 30

Unidade iI
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE...................................................... 36

CAPÍTULO 1
Infraestrutura e materiais necessários para coleta de sangue.................................... 36

CAPÍTULO 2
Orientações e preparo do profissional.......................................................................... 45

CAPÍTULO 3
Orientações para o paciente e minimizando erros na coleta...................................... 50

Unidade iII
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA........................................................................................ 56

CAPÍTULO 1
Coleta de sangue venoso................................................................................................. 56

CAPÍTULO 2
Problemas enfrentados na coleta de sangue................................................................ 66

CAPÍTULO 3
Coleta de sangue arterial................................................................................................. 72

CAPÍTULO 4
Coleta de sangue para testes rápidos.............................................................................. 77
CAPÍTULO 5
Hemocultura ...................................................................................................................... 87

CAPÍTULO 6
Coleta de testes de coagulação .................................................................................... 91

CAPÍTULO 7
Teste de tolerância oral à glicose e outras provas funcionais................................. 96

Unidade iV
ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE............................................................... 101

CAPÍTULO 1
Anticoagulantes............................................................................................................... 101

CAPÍTULO 2
Transporte da amostra de sangue................................................................................. 105

Para (não) Finalizar.................................................................................................................... 113

Referências................................................................................................................................. 115
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao
profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução
científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

6
Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

Este Caderno de Estudos e Pesquisa sobre “Coleta sanguínea, anticoagulantes e


seu transporte” foi elaborado com o objetivo de proporcionar a você, aluno(a),
conhecimentos básicos e aprofundados a respeito de todo o contexto inserido na
coleta de sangue.

Para tanto, serão apresentados, de forma concisa, abrangente e cuidadosamente


estruturada, todos os pontos envolvidos na coleta de sangue. Abrangendo assim
a infraestrutura do local a ser realizada a coleta; as orientações necessárias para
o profissional da saúde e para o paciente; o modo como se deve realizar a coleta
dependendo do tipo de exame a ser realizado, os anticoagulantes envolvidos, e por fim,
o transporte deste tipo de material biológico.

Assim, este Caderno lhe fornecerá uma visão detalhada dos fatores importantes antes
de se iniciar a coleta de sangue, dos diferentes procedimentos de coleta sanguínea, dos
anticoagulantes utilizados para coleta de sangue e o transporte da amostra.

Objetivos
»» Compreender quais são as orientações necessárias que o profissional
deve ter para realizar a coleta de sangue.

»» Compreender quais as orientações devem ser passadas para o paciente


antes de ser realizada a coleta de sangue.

»» Saber associar os tipos de coleta a ser realizado em relação ao exame


solicitado.

»» Estimular a reflexão crítica em cada etapa envolvida na coleta de sangue,


desde a infraestrutura do local até o transporte da amostra.

»» Entender o papel de cada anticoagulante para realização de diferentes


tipos de exames laboratoriais.

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FISIOLOGIA DO Unidade i
SANGUE

Capítulo 1
O sangue e seus componentes

O sangue pode ser chamado de tecido devido ao fato de ser composto por células que
exercem funções específicas, o que o torna complexo. A movimentação do sangue no
sistema circulatório permite a distribuição de oxigênio e de substâncias nutritivas,
hormônios, eletrólitos e água para todas as células do corpo, bem como, faz o
recolhimento das substâncias tóxicas que resultam do metabolismo celular. A fisiologia
do sangue estuda a atuação que este exerce nos demais tecidos do organismo.

O deslocamento do sangue no sistema circulatório depende da ação da bomba cardíaca


e da condução pelas artérias, veias e capilares. O sangue circula no organismo,
transportando oxigênio dos pulmões para os tecidos, onde é liberado nos capilares. Ao
retornar dos tecidos, o sangue conduz o dióxido de carbono e os demais resíduos do
metabolismo celular para eliminação através da respiração, do suor, da urina ou das
fezes (ZAGO et al, 2013).

O sangue desempenha funções muito importantes para o organismo, podendo destacar


o equilíbrio e a distribuição de água, controle da coagulação, defesa do organismo
contra invasão de microrganismos patogênicos, regulação do pH e da temperatura,
entre outros.

O sangue é composto de duas partes: plasma e elementos celulares ou figurados


(Figura 1). Cerca de 55% do volume do sangue é constituído de plasma. O plasma é
composto de água (90%), onde estão presentes sais minerais, proteínas, gorduras,
fatores de coagulação, hormônios e outras substâncias. O plasma contém também o
fibrinogênio, uma proteína importante no processo de coagulação do sangue. A outra
parte é formada de elementos celulares, que são os glóbulos vermelhos, os glóbulos
brancos e as plaquetas.

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UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Figura 1. Constituintes do sangue.

Plasma (55% do total do sangue)

Plaquetas + Glóbulos Brancos


(< 1% do total do sangue)
Glóbulos Vermelhos
(45% do total do sangue)

Figura adaptada de: Zago et al, 2013.

Plasma
O plasma é formado por água, em sua maioria, e elementos sólidos. Sua função é
transportar nutrientes, medicamentos e produtos tóxicos, entre outras substâncias
presentes no sangue.

Os principais elementos sólidos do plasma compreendem em proteínas, gorduras,


hidratos de carbono, eletrólitos, sais orgânicos e minerais, e hormônios. O plasma é um
líquido viscoso que contém 90% de água e 10% de sólidos (proteínas, lipídeos, glicose,
ácidos e sais, vitaminas, minerais, hormônios e enzimas). Vale enfatizar que em cada
litro de água possui aproximadamente 80 gramas de proteína, em especial albumina
e em menor proporção estão as globulinas, ambas responsáveis pela formação de
anticorpos para a defesa do organismo e o fibrinogênio (participa pelo processo de
coagulação do sangue).

Eletrólitos: O íon Na+ está mais abundante no sangue com 140 mil equivalentes por
litro, seguido pelo Cl- com 90 mil equivalentes por litro, HCO3– e K+ apresentam 25 mil
equivalente por litro cada um. O K+ possui um papel importante na eletrofisiologia das
membranas musculares e neurais.

Micronutrientes: Os micronutrientes circulam no sangue por meio de uma ligação


com as apolipoproteínas (parte proteica da lipoproteína). Os principais micronutrientes
presentes no sangue são: aminoácidos, pequenos peptídeos, glicose, lipídios, ácidos
graxos, fosfolipídios, triglicerídeos. As proteínas possuem densidade maior que a água
enquanto que os lipídios possuem densidade menor, assim há quatro tipos básicos de
lipoproteínas como o HDL (alta densidade), LDL (baixa densidade), VLDL (densidade

10
FiSiologiA do SAnguE │ unidAdE i

muito baixa) e quilomícron. Há uma maior quantidade de quilomícron na circulação


linfática do que na circulação sanguínea. Devido a essa diferença de densidade, o HDL
é considerado protetor para eventos cardiovasculares. Em alguns tipos de doença como
arterosclerose, o fato de a concentração de HDL ser maior proporciona uma maior
captação de colesterol do endotélio, o que o leva ao meio para ser metabolizado. Já o
aumento da concentração de LDL promove o desenvolvimento de arterosclerose, pois
ela tem o papel de distribuição do colesterol em direção ao endotélio.

Hormônios e excretas metabólicas: os hormônios podem ser proteicos (insulina,


tireoidiano) ou lipídicos, os quais são representados pelos hormônios sexuais e
suprarrenais. Há também excretas metabólicas como ureia e creatinina, as quais são
produtos do metabolismo da circulação renal e linfática. Moléculas no estado gasoso,
oxigênio e gás carbônico também estão presentes no sangue.

Proteínas: a albumina é uma importante proteína presente no sangue, a qual tem


como função transportar diferentes tipos de substância por meio deste. A albumina
é incapaz de penetrar nas paredes dos vasos, ficando assim presente na corrente
sanguínea ajudando a manter a pressão coloidosmótica dentro dos vasos sanguíneos.
Assim, pode-se afirmar que a albumina impede que a água vaze pelas paredes dos vasos,
pois a pressão é maior dentro deles do que nos tecidos à sua volta. Outras proteínas
de transporte também estão presentes no sangue, em especial no plasma que possui
anticorpos e os fatores de coagulação.

A centrifugação do sangue sem anticoagulante levará à coagulação do


centrifugado; durante este processo, há o consumo de fibrinogênio, assim como
todos os fatores envolvidos na coagulação, com liberação de substâncias que
se encontravam dentro das plaquetas; dessa forma, constitui-se o soro. Para a
obtenção do plasma, faz-se a centrifugação do sangue com o anticoagulante.
Observa-se, então, que o fibrinogênio não está presente no soro, pois este
foi utilizado para a formação de fibrina, ao contrário do plasma, que o possui.
Encontram-se no soro mediadores liberados pelas plaquetas, que não estão
presentes no plasma. Pode-se dizer que o soro é, basicamente, o plasma sem
o fibrinogênio. O plasma é a parte do sangue usada para produção de
medicamentos. (www.uff.br/)

glóbulos vermelhos
As células presentes em maior número no sangue humano são os glóbulos vermelhos,
também chamados hemácias ou eritrócitos (Figura 2). No seu interior, há grande

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unidAdE i │ FiSiologiA do SAnguE

quantidade de um pigmento vermelho chamado hemoglobina (Figura 2). A hemoglobina


é uma molécula constituída por quatro cadeias de aminoácidos e cada uma está ligada a
um grupamento químico, chamado heme, que contém átomos de ferro em sua estrutura.

A principal função dos glóbulos vermelhos é a de transportar a hemoglobina que, por


sua vez carreia o oxigênio desde os pulmões até os tecidos.

Figura 2. Hemácia e hemoglobina.

Figura disponível em robertocooper.com.

A quantidade de hemácias presente no sangue de um indivíduo normal é na ordem


de 3 a 4 milhões por decilitro de sangue. As hemácias possuem um tempo de vida de
120 dias e são anucleadas, ou seja, não se dividem. Após o tempo de vida das hemácias
sua membrana se torna mais rígida, e esta é incorporada por alguns sistemas como o
retículoendotelial, baço, fígado. Após serem incorporadas, seus componentes, como a
proteína hemoglobina, são aproveitados para a formação de novas hemácias. A hemácia
é considerada um “pacote” de hemoglobina, e sua morfologia é de um disco bicôncavo,
sendo preenchida por essa proteína. A hemoglobina possui duas unidades alfa e duas
beta, com radicais heme.

O número total de glóbulos vermelhos no sistema circulatório é regulado dentro de


limites muito estreitos, de modo que existe sempre um número adequado de células para
prover a adequada oxigenação dos tecidos, sem que, contudo, as células não estejam tão
concentradas que possam impedir o fluxo sanguíneo. Dessa forma, quando a pessoa fica
extremamente anêmica como resultado de hemorragia ou de outra condição qualquer,
a medula óssea imediatamente começa a produzir grande quantidade de hemácias. De
igual modo, nas altitudes elevadas, o oxigênio está em concentração muito reduzida no
ar, sendo transportado para os tecidos em quantidades insuficientes, o que provoca a

12
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

produção extremamente rápida de hemácias, em que aumenta seu número no sangue


circulante de forma considerável. O grau de atividade física desenvolvida por uma
pessoa também determina, até certo ponto, a intensidade de produção de seus glóbulos
vermelhos.

Hemoglobina
A proteína hemoglobina tem como principal função o transporte de oxigênio dos pulmões
para os tecidos, ao mesmo tempo que facilita a eliminação do CO2 em sentido inverso.
A parte proteica da molécula de hemoglobina (globina) é composta por quatro cadeias
polipeptídicas: duas cadeias α com 141 aminoácidos cada, e duas cadeias β com 146
aminoácidos. Embora as cadeias α e β tenham diferentes sequências de aminoácidos, a
sua estrutura tridimensional é muito semelhante. Cada uma destas cadeias contém um
grupo prostético heme que se liga ao oxigênio. O heme, anel porfirínico tetrapirrólico
cujo núcleo contém ferro sob a forma de Fe2+ (ferroso), é o pigmento que dá a cor
vermelha ao sangue.

A quantidade de oxigênio ligado à hemoglobina em determinado momento relaciona-


se com a concentração deste (ou melhor, com a pressão parcial de oxigênio, PO2 , visto
tratar-se de um gás; a pressão referida ao sangue arterial é expressa por PaO2). O número
de moléculas de oxigênio que se ligam aos grupos heme da hemoglobina aumenta à
medida que a concentração de oxigênio no meio sobe e, pelo contrário, diminui quando
a pressão parcial de oxigênio baixa.

A síntese de eritrócitos é um processo denominado por eritropoiese. A eritropoiese,


no adulto, ocorre na medula óssea a partir de uma célula estaminal pluripotente,
que também dá origem às outras células sanguíneas. Há progressiva acumulação de
hemoglobina no citoplasma da célula, ocorrendo depois a expulsão do núcleo e dos
restos de organitos citoplasmáticos, formando-se o glóbulo vermelho maduro (adulto).
O tempo médio de vida do glóbulo vermelho, quando entra em circulação, é de cerca
de 120 dias. As células velhas ou as células novas com danos são captadas pelo sistema
retículoendotelial e aí degradadas.

A eritropoiese em um feto não ocorre sempre no mesmo local. As primeiras células


com hemoglobina são produzidas no saco vitelino. Segue-se a ativação da eritropoiese
hepática, que é a fonte principal de eritrócitos durante o desenvolvimento fetal.
Mais tarde inicia-se a eritropoiese esplênica e medular. Cada um destes órgãos tem
preferência pela síntese de determinados tipos de cadeia. Durante o desenvolvimento
fetal há grande produção de globina α e γ (com predomínio da síntese de Hb F).
Progressivamente há incremento da síntese de cadeias β e diminuição das cadeias γ, o
13
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

que conduz ao aumento da percentagem de HbA. A existência de um tipo diferente de


hemoglobina no feto está relacionada com o fato de o sangue fetal ser oxigenado a partir
do sangue materno. Como nessa situação a pressão do oxigênio é baixa, é necessária
uma hemoglobina com afinidade maior para o oxigênio.

Hematócrito
O volume relativo ocupado pelos eritrócitos em uma amostra de sangue é quantificado
como hematócrito (ou volume celular condensado). O hematócrito é expresso em
porcentagem por volume. Quando se diz que uma pessoa tem o hematócrito de 40
significa que 40% do volume sanguíneo são células vermelhas e o restante corresponde
ao plasma. O hematócrito do homem normal varia de 40 a 45% (média de 42%), e o da
mulher normal oscila entre 38 e 42% (média de 40%). O hematócrito, na ausência de
anemia, tem correlação com a quantidade de hemoglobina existente no sangue.

O hematócrito é normalmente solicitado como parte do hemograma e é repetido em


intervalos regulares sob várias condições: para diagnóstico de anemia e policitemia;
para o monitoramento do tratamento da anemia; para verificar recuperação de uma
possível desidratação; para monitorar casos de sangramento e avaliar sua severidade;
e, principalmente, para decidir se uma transfusão sanguínea deve ser realizada nos
casos de anemias sintomáticas severas e monitorar a efetividade desta transfusão.

O hematócrito é determinado pela centrifugação de uma amostra de sangue em um


tubo capilar. Após 3 minutos de centrifugação, as hemácias, por sua maior densidade,
se depositarão no fundo do tubo. Sobre estas se depositará uma camada bem fina de
glóbulos brancos e de plaquetas, e no topo do tubo ficará o plasma. No sangue normal,
após a centrifugação, se para toda a coluna ocupada, atribuirmos o valor 100, teremos
45% ocupados pelas hemácias e 55% pelo plasma. Uma escala graduada permite a
leitura direta da percentagem de hemácias existentes no sangue. Se, em uma amostra de
sangue centrifugado, dividirmos o comprimento da coluna de glóbulos vermelhos pelo
comprimento total da amostra (glóbulos + plasma), teremos o valor do hematócrito
(Figura 3). Quando a quantidade de glóbulos vermelhos no sangue é inferior ao valor
normal, existe anemia e quando for superior ao valor normal, existe policitemia.

14
FiSiologiA do SAnguE │ unidAdE i

Figura 3. Hematócrito.

Normal Anemia Policitemia


Figura disponível em www.es.slideshare.net

Anemia: corresponde à redução do número de hemácias circulantes; pode ser


causada por hemorragia ou por deficiente produção de hemácias. Se a perda
de sangue é rápida, o indivíduo apresenta hipovolemia, que suscita a absorção
de líquidos do interstício para o sangue, diluindo os glóbulos vermelhos,
produzindo a anemia. A perda crônica ou lenta de sangue também resulta em
anemia, porque a formação de novas hemácias não é suficientemente rápida
para repor a perda continuada. Existem anemias causadas por incapacidade da
medula óssea em produzir as células vermelhas, como a anemia aplástica, por
exemplo, bem como anemias causadas por falta de componentes essenciais ao
metabolismo formador da hemoglobina, como o ferro, a vitamina B12, o fator
gástrico intrínseco e o ácido fólico. Outras anemias são causadas por excessiva
destruição das hemácias circulantes, como as anemias hemolíticas.

Anemias Hemolíticas: em consequência de diversas alterações, frequentemente


hereditárias, um organismo pode produzir hemácias com anomalias diversas,
inclusive da membrana celular, que as tornam particularmente frágeis e permitem
que se rompam com facilidade, ao passar pelos capilares. Nessas condições,
mesmo quando o número de eritrócitos é normal, pode ocorrer anemia, porque
o período de vida útil das hemácias é muito curto. Um exemplo dessas anemias
hemolíticas é a esferocitose hereditária, em que as hemácias têm a forma
esférica, ao invés de discoides. Essas células não têm a estrutura da membrana
normal dos discos bicôncavos e não podem ser comprimidas, rompendo-se com
muita facilidade. Outros exemplos seriam a talassemia ou anemia de Cooley e a
anemia falciforme, esta última de grande importância em nosso meio. (http://
www.ebah.com.br/content/ABAAABBqoAB/fisiologia-sangue?part=2)

15
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Policitemia: A policitemia é caracterizada pelo número excessivo de células


vermelhas no sangue, resultando em um aumento da viscosidade deste, o que
faz com que este ande mais lentamente dentro das veias, podendo provocar
dores de cabeça, tonturas e, até, infarto. A policitemia pode ser dividida em:
Policitemia primária também conhecida como policitemia neonatal ou
policitemia vera, acontece devido a alterações na produção de células sanguíneas
pela medula e Policitemia secundária que é resultado de outras doenças, como
tumores renais ou doença pulmonar obstrutiva crônica. (http://www.tuasaude.
com/policitemia/)

Glóbulos brancos
Os glóbulos brancos, também chamados de leucócitos, são células maiores que as
hemácias e possuem núcleo. Este tipo de célula possui formas variadas, no entanto
com funções sempre relacionadas à defesa do organismo. São células com o formato
arredondado e diâmetro de 10-30 µm. Alguns tipos têm protuberâncias semelhantes
a tentáculos. O tempo de vida médio de um leucócito é menor que o dos glóbulos
vermelhos, variando de algumas horas a uma semana.

Os leucócitos são geralmente encontrados fora da corrente sanguínea: nos tecidos,


pele e órgãos, onde ajudam o corpo a defender-se do ataque de microrganismos.
Quando encontrados na corrente sanguínea eles estão sendo transportados por todo o
organismo.

Além de defenderem o corpo, os glóbulos brancos também removem as células mortas.


E possuem uma característica final importante, pois reconhecem as células do próprio
corpo, distinguindo-as de microrganismos estranhos, característica fundamental que
os previne de atacá-las, prejudicando o organismo.

Os glóbulos brancos estão divididos em três grupos, de acordo com suas funções e
características: linfócitos, monócitos e granulócitos.

Linfócitos
Os linfócitos são as células responsáveis pelo sistema de defesa imunológica (Figura 4). A
defesa imunológica é o fenômeno no qual os linfócitos reagem quando um microrganismo
com uma superfície ou estrutura diferente daquela existente no próprio corpo aparece.
O linfócito passa por um processo de desenvolvimento formando a substância chamada
anticorpo, este reage contra o microrganismo de estrutura estranha, destruindo-o.

16
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

Os linfócitos são divididos entre linfócitos-T e B. O linfócito-T identifica ou indica


as células que foram invadidas pelos organismos estranhos. Há também linfócitos-T
especiais conhecidos como células assassinas (NK), as quais matam as células infectadas.
Um linfócito-B também forma anticorpo que reage com o algum tipo de organismo
estranho. Além disso, alguns são células memória que lembram ou reconhecem uma
infecção anterior, assim as defesas imunológicas são capazes de reagir mais rapidamente
e poderosamente, fazendo com que a infecção seja curada imediatamente.

Os linfócitos T e B após completarem sua maturação em órgãos linfoides primários,


vão para a corrente sanguínea, mas ainda não sofreram estimulação antigênica, sendo
denominadas como células virgens. Logo a seguir elas migram para os órgãos linfoides
secundários, como linfonodos e baço, estabelecendo-se em sítios específicos onde se
dá a estimulação antigênica. Ademais, os linfócitos virgens podem usar o sangue ou
canais linfáticos para trafegar entre diferentes tecidos linfoides secundários, fenômeno
conhecido como recirculação. Por outro lado, os linfócitos ativados por antígenos
recirculam para atingir sítios específicos extranodais, chamados de tecidos linfoides
terciários. Desta forma os linfócitos T de memória tendem a se acumular em áreas
associadas a epitélio.

Figura 4. Linfócito.

Figura disponível em www.flickr.com.

Monócitos
Os monócitos são tipos de glóbulos brancos que funcionam como “lixeiros” (Figura
5), e estão presentes tanto no sangue quanto nos tecidos, onde recolhem e destroem
microrganismos e células exauridas. No caso de uma infecção, um grande número de

17
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

monócitos entra no tecido e se transforma em macrófagos (células que fagocitam ou


digerem elementos estranhos ao corpo), capazes de inibir os microrganismos, esta
habilidade os torna uma parte importante da defesa do corpo contra as infecções.

Quanto a sua morfologia são células de tamanho entre 12 e 15µm de diâmetro, variando
bastante em forma, distinguíveis de outros leucócitos do sangue. O citoplasma é
abundante, de coloração cinza ou azul-claro acinzentado, com fina granulação. Esta
granulação com aspecto de fina poeira dá ao citoplasma uma aparência de vidro fosco. É
comum encontrar vacúolos citoplasmáticos nestas células. A relação núcleo citoplasma
é baixa e o núcleo é grande, oval ou indentado, posicionado no centro da célula e o
nucléolo não é visível em coloração usual. A cromatina é delicada, predominantemente
frouxa, com estreitos filamentos ligando pequenas áreas de cromatina mais densa.

Figura 5. Monócito.

Figura disponível em www.biomedicinapadrao.com.br.

Devido à presença de algumas substâncias os Granulócitos são capazes de recolher


tecidos destruídos e microrganismos e inutilizá-los (Figura 6). E são de três tipos:

Figura 6. Granulócitos.

Neutrófilo Eosinófilo Basófilo


Figura disponível em http://www.lb.ufs.br.

»» Neutrófilos: estão envolvidos na luta do corpo contra diferentes


infecções bacterianas. Quando o tecido está comprometido, os neutrófilos
correm para a área onde destroem e consomem os restos das células e
bactérias. No processo de destruição os próprios granulócitos perecerão,

18
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

produzindo um líquido amarelo (pus), que pode ser observado nos tecidos
em decomposição. Os neutrófilos têm núcleos formados por 2 e 5 lóbulos,
mais frequentemente por 3 lóbulos, ligados entre si por finas pontes de
cromatina. A célula muito jovem tem núcleo não segmentado em lóbulos,
sendo chamada de neutrófilo com núcleo em bastonete ou simplesmente
bastonete. Nessas células o núcleo tem a forma de um bastonete curvo.

»» Eosinófilos: possuem certos tipos de substâncias que são expelidas


durante reações alérgicas provocadas por parasitas, como por exemplo,
fungos. A substância intensifica a reação alérgica. Os eosinófilos
constituem apenas 2-3% do total de leucócitos sendo assim menos
numerosos do que os neutrófilos. Geralmente, o seu núcleo é bilobulado.
A principal característica para a identificação do eosinófilo é a presença
de granulações ovoides que se coram pela eosina (granulações
acidófilas). Essas granulações são maiores do que a dos neutrófilos. Ao
nível da microscopia eletrônica os eosinófilos apresentam uma unidade
de membrana. O citoplasma é quase que inteiramente ocupado pelos
grânulos específicos. O retículo endoplasmático, as mitocôndrias e o
Complexo do Golgi são pouco desenvolvidos. Os grânulos específicos
dos esinófilos são lisossomos, porque neles já detectadas as enzimas:
fosfatase ácida, peroxidase, beta-glicuronidase, sulfatase, ribonuclease e
desoxirribonuclease.

»» Basófilos: estão em menor quantidade e assim como os eosinófilos


contêm substâncias expelidas durante reações alérgicas, que dilatam
pequenos vasos sanguíneos, como os nasais. Os basófilos apresentam
um núcleo volumoso, com forma retorcida e irregular, geralmente com
o aspecto da letra S. O citoplasma dos basófilos é carregado de grânulos
maiores do que os dos outros granulócitos, fazendo com que muitas vezes
o núcleo fique obscuro. Constituem menos de 1% dos leucócitos do sangue,
sendo por isso, difíceis de encontrar no esfregaço sanguíneo. Os grânulos
são eletrondensos e estão envolvidos por uma membrana unitária. No
seu interior é possível observar filamentos ou partículas alongadas. Este
tipo de célula mede entre 0,15 a 0,5 µm de diâmetro. A membrana dos
basófilos possui receptores para a imunoglobulina E (Ig E).

19
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

O quadro 1 mostra um resumo dos glóbulos brancos, mostrando as diferenças entre


suas características morfológicas e suas funções:

Quadro 1. Resumo das características e funções dos glóbulos brancos (adaptado de www.slideplayer.com.br).

Glóbulos brancos Características Funções

Célula com diâmetro entre 10 e 14 mm; núcleo


Atuam ativamente na fagocitose de microrganismos
pouco volumoso, contendo 2 a 5 lóbulos, ligados
invasores, a partir da emissão de pseudópodes.
por pontes cromatínicas. Cerca de 55% a 65% dos
Constituem a primeira linha de defesa do sangue.
glóbulos brancos.

Célula com diâmetro entre 10 e 14 mm, núcleo


Células fagocitárias. Ativação em doenças alérgicas.
contendo dois lóbulos. Cerca de 2% a 3% do total
Abundantes na defesa contra diversos parasitas.
de leucócitos.

Célula com diâmetro entre 10 e 14 mm. Núcleo


volumoso em forma de S. Cerca de 0,5% do total Acredita-se que atuem em processos alérgicos.
de leucócitos.

Responsáveis pela defesa imunitária do organismo.


Célula com diâmetro entre 8 e 10 mm. Dois tipos
Linfócitos B diferenciam-se em plasmócitos –
básicos: T e B. Núcleo esférico. Cerca de 25% a
células produtoras de anticorpos. Linfócitos T
35% do total de glóbulos brancos.
amadurecem no timo (glândula localizada no tórax).

Acredita-se que atravessem as paredes dos


Célula com diâmetro entre 15 e 20 mm. Núcleo
capilares sanguíneos e, nos tecidos, diferenciam-
em forma de ferradura. Cerca de 10% do total dos
se em macrófagos ou osteoclastos, células
glóbulos brancos.
especializadas em fagocitose.

20
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

Plaquetas
As plaquetas, também denominadas de trombócitos, são fragmentos de células que se
formam na medula óssea vermelha a partir da fragmentação do citoplasma de glóbulos
brancos gigantes, denominados megacariócitos (Figura 7). Estas células são pequenas,
com o formato elipsoide e apresentando vários grânulos internos. Em cada gota de
sangue há cerca de 150.000 a 400.000 plaquetas.

Figura 7. Plaquetas (indicadas pela seta).

Figura disponível em www.griho2.udl.es.

As plaquetas protegem o organismo contra uma perda excessiva de sangue. Quando,


por exemplo, nos ferimos estas células se fixam nas áreas onde os vasos foram cortados
e então liberam a serotonina que está presente nos grânulos citoplasmáticos das
plaquetas. Logo, os vasos sanguíneos são retraídos (vasoconstrição), por causa da
serotonina, e assim diminui a perda de sangue. Em seguida, as plaquetas se unem
e fixam no local lesado, impedindo a saída do sangue. Além disso, ocorre também a
liberação de substâncias como algumas proteínas ativadoras de protrombina.

Quando a protrombina é ativada ela se transforma em trombina, que reage com o


fribrinogênio, outra proteína existente no plasma. Após essa reação o fribrinogênio se
transforma em fibrina, que forma uma rede insolúvel sobre o tampão constituído pelas
plaquetas dando origem ao coágulo (Figura 8).

21
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Figura 8.

Figura disponível em Guyton et al, 2011 .

Cerca de 30 a 60 minutos após a formação do coágulo, há eliminação de parte do líquido


do coágulo, que sai do soro, e assim ocorre a formação da “casca” da ferida. A única
diferença entre a composição do soro e do plasma sanguíneo é o fato do primeiro não
possuir mais fibrinogênio e os demais fatores coagulantes.

As plaquetas circulam no sangue por aproximadamente 5 dias e após este período,


estas células são retidas e destruídas pelo baço. Caso ocorra algum dano ao baço ou se
este é removido ocorre um aumento do número de plaquetas. Entretanto, pessoas com
hiperesplenismo, ou seja, com atividade aumentada do baço, ocorre uma diminuição
do número de plaquetas.

Uma pessoa normal apresenta como valores de referência de plaquetas de 150.000 e


400.000 mm³. O aumento das plaquetas provoca trombocitoce ou plaquetose. Já quando
há uma diminuição das plaquetas, ocorre uma trombocitopenia ou plaquetopenia.

Caso um paciente apresente qualquer tipo de problema nas plaquetas, este poderá
apresentar problemas de coagulação. As doenças mais comuns diretamente relacionadas
com as plaquetas são: Doença de von Willebrand, Síndrome Scott, Trombastenia de
Glanzmann e Síndrome de Bernard-Soulier.

22
CAPÍTULO 2
Hemostasia e coagulação sanguínea

A hemostasia geralmente é definida como uma variedade de fenômenos biológicos


complexos, a qual ocorre como resposta imediata de uma lesão a um vaso sanguíneo
para impedir uma possível hemorragia (Figura 9). O mecanismo hemostático
inclui três processos: hemostasia primária, coagulação (hemostasia secundária)
e fibrinólise. Esses processos têm em conjunto a finalidade de manter a fluidez
necessária do sangue, sem haver extravasamento pelos vasos ou obstrução do fluxo
pela presença de trombos. Tendo em vista a importância da hemostasia tanto para
processos onde há a perda descontrolada de sangue quanto para a progressão de
doenças tromboembólicas, neste capítulo será feito uma breve revisão a respeito da
hemostasia e da coagulação sanguínea.

Figura 9. Etapas da hemostasia.

Figura disponível em Berger et al, 2014 .

23
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Hemostasia primária
É o processo inicial da coagulação desencadeado pela lesão vascular. Imediatamente,
mecanismos locais produzem vasoconstrição, alteração da permeabilidade vascular
com produção de edema, vasodilatação dos vasos tributários da região em que ocorreu
a lesão e adesão das plaquetas. Assim, a vasoconstrição diminui o fluxo de sangue no
sítio de sangramento, tornando preferencial o fluxo pelos ramos colaterais dilatados.
Simultaneamente, a formação de edema intersticial diminui o gradiente de pressão entre
o interior do vaso lesado e a região adjacente, produzindo um tamponamento natural e
auxiliando a hemostasia. Em condições normais, os vasos sanguíneos devem constituir
um sistema tubular não trombogênico capaz de desencadear, por mecanismos locais, os
processos que iniciem a coagulação e que, após a recuperação da lesão anatômica, possam
remover o coágulo e restabelecer a circulação local (fibrinólise) (www.rca.fmrp.usp.br).

O endotélio é de singular importância no controle de vários aspectos da hemostasia


posto que, além da capacidade de secretar substâncias tais como a prostaciclina (PGI2),
um potente vasodilatador com atividade antiagregante plaquetária, é responsável pelas
características não trombogênicas da superfície interna dos vasos sanguíneos. De outra
forma, tanto a lesão anatômica quanto os distúrbios funcionais do endotélio aumentam
o risco de ocorrência de tromboses, com frequência variável, em qualquer segmento
da rede vascular. A remoção do endotélio, por qualquer mecanismo, expõe o sangue
ao contato com o colágeno da região subendotelial, o que por si só promove a adesão
das plaquetas na presença do fator vonWillebrand (VIII:vWF). Quando isto ocorre, as
plaquetas tornam-se ativas e liberam o conteúdo dos grânulos citoplasmáticos. Entre
outras substâncias, estes grânulos contêm adenosina-difosfato (ADP), serotonina e
tromboxane A2 (TXA2). O ADP é responsável pela ativação de outras plaquetas e pela
modificação da sua forma (www.fisiologia.ufc.br).

Estas plaquetas ativadas vão se agregar umas às outras formando um tampão que
fornecerá a superfície adequada ao processo de coagulação do sangue, produzindo
um coágulo resistente. Neste estágio, as plaquetas exteriorizam uma lipoproteína
denominada fator plaquetário 3 (PF3), a qual desempenha papel de superfície
fosfolipídica (superfície ativadora) que participa de inúmeras reações da cascata de
coagulação (Figura 10) (http://slideplayer.com.br/slide/47963/).

24
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

Figura 10. Cascata de coagulação.

Figura disponível em http://slideplayer.com.br/slide/47963/.

Hemostasia secundária
A hemostasia secundária consiste nas reações plasmáticas dos sistemas de coagulação,
anticoagulação e fibrinólise. Esses sistemas irão atuar no trombo para torná-lo estável.

Sistemas de coagulação
A coagulação sanguínea consiste na conversão de uma proteína solúvel do plasma, o
fibrinogênio, em um polímero insolúvel, a fibrina, por ação de uma enzima denominada
trombina. A fibrina forma uma rede de fibras elásticas que consolida o tampão plaquetário
e o transforma em tampão hemostático. A coagulação é uma série de reações químicas
entre várias proteínas que convertem pró-enzimas (zimógenos) em enzimas (proteases).

25
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Essas pró-enzimas e enzimas são denominadas fatores de coagulação. A ativação destes


fatores é, provavelmente, iniciada pelo endotélio ativado e finalizado na superfície das
plaquetas ativadas e tem como produto essencial a formação de trombina que promoverá
modificações na molécula de fibrinogênio liberando monômeros de fibrina na circulação.
Estes últimos vão unindo suas terminações e formando um polímero solúvel (fibrina S)
que, sob a ação do fator XIIIa (fator XIII ativado pela trombina) e íons cálcio, produz
o alicerce de fibras que mantêm estável o agregado de plaquetas previamente formado
(http://tede.biblioteca.ufpb.br/bitstream/tede/6946/1/arquivototal.pdf).

O modelo da cascata dividiu a sequência da coagulação em duas vias: a via intrínseca


na qual todos os componentes estão presentes no sangue e na via extrínseca em que é
necessária a presença da proteína da membrana celular subendotelial, o fator tecidual
(TF). Os eventos comuns da coagulação (via final comum) quer sejam iniciados pela via
extrínseca ou intrínseca, são a ativação do fator X(Xa), a conversão de trombina a partir
da protrombina pela ação do fator Xa, formação de fibrina estimulada pela trombina e
estabilização da fibrina pelo fator XIIIa (FRANCO, 2001).

»» Via intrínseca: também conhecida por fase de contato da coagulação.


Começa quando o FXII se une à fibrila de colágeno subendotelial que fica
exposta após uma lesão do vaso sanguíneo. Ao se unir com o colágeno
o FXII forma um complexo com o cininogênio de alto peso molecular
(CAPM) e com a pré-calícreína (PC) e se torna um fator ativado (FXIIa).
O FXIIa ativa o FXI que, por sua vez, ativa FIX (esse fator já pertence
à via comum). O FXIIa também fornece um ciclo de feedback positivo,
transformando a PC em calicreína e intensificando a ativação do FXII. É
importante ressaltar que essa via não é a mais importante para a ativação
do restante do mecanismo. A deficiência de fatores de contato não leva a
doenças hemorrágicas.

»» Via extrínseca: depende de um fator não circulante: o fator tecidual


(FT), também chamado de fator III (FIII). Ele é uma lipoproteína que
faz parte das membranas celulares e cuja expressão pode ser induzida
após lesão de superfície. Quando uma célula endotelial sofre lesão, expõe
o FT e ativa o FVII na presença de cálcio. O complexo FT-FVII possui
capacidade de produzir ativação do FX e FIX (ambos pertencentes à via
comum). Obs.: embora pacientes com deficiência hereditária moderada
do FVII (níveis cerca de 5 a 10% do normal) possam apresentar pouca ou
nenhuma hemorragia, pacientes com deficiência severa do FVII (menos
que 1% do normal) podem apresentar hemorragias tão sérias quanto

26
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

pacientes com hemofilia grave (http://www.uff.br/hematolab/pluginfile.


php/28/mod_folder/content/2/Hemostasia.pdf?forcedownload=1).

»» Via comum: essa reação é o ponto de convergência das duas reações


citadas acima. Nessa reação formam-se complexos onde os fatores IX e
X estão ligados pelo cálcio a fosfolipídios de membrana (de plaqueta, do
endotélio, de fibroblastos etc.), juntamente com seus cofatores (http://
www.uff.br/hematolab/pluginfile.php/28/mod_folder/content/2/
Hemostasia.pdf?forcedownload=1).

Sistema fibrinolítico
A Fibrinólise pode ser definida como a degradação da fibrina mediada pela plasmina.
O sistema fibrinolítico ou sistema plasminogênio/plasmina é composto por diversas
proteínas (proteases séricas e inibidores) que regulam a geração de plasmina, uma
enzima ativa produzida a partir de uma pro-enzima inativa (plasminogênio) que
tem por função degradar a fibrina e ativar metaloproteinases de matriz extracelular.
À parte do seu papel no sistema hemostático, nos últimos anos foram descobertas
numerosas funções do sistema plasminogênio/plasmina em outros processos, incluindo
remodelagem da matriz extracelular, crescimento e disseminação tumoral, cicatrização
e infecção, mas estes aspectos não serão aqui abordados (http://www.teses.usp.br/
teses/disponiveis/41/41135/tde-13072009-160524/publico/karen.pdf).

As enzimas do sistema fibrinolítico são todas serino-proteases, ao passo que os inibidores


da fibrinólise são membros da superfamília de proteínas designadas serpinas (inibidores
de proteases séricas). São conhecidos dois ativadores fisiológicos do plasminogênio: o
ativador do plasminogênio do tipo tecidual (t-PA, “tissue-type plasminogen activator”)
e o ativador do plasminogênio do tipo uroquinase (u-PA, “urokinase-type plasminogen
activator”). Os dois ativadores têm alta especificidade de ligação com seu substrato
(plasminogênio) e promovem hidrólise de uma única ponte peptídica (Arg560-Val561)
que resulta na formação de uma serino-protease ativa, a plasmina. Embora a plasmina
degrade não somente a fibrina mas também o fibrinogênio, fator V e fator VIII, em
condições fisiológicas a fibrinólise ocorre como processo que é altamente específico para a
fibrina, portanto de ativação localizada e restrita, e não sistêmica, cumprindo desta forma
sua função de remover o excesso de fibrina do intravascular de modo equilibrado. Esta
especificidade dependente de fibrina é resultado de interações moleculares específicas
entre os ativadores do plasminogênio, o plasminogênio, a fibrina, e os inibidores da
fibrinólise (http://www.fleury.com.br/medicos/educacao-medica/manuais/manual-
hematologia/pages/coagulacao-anticoagulacao-e-fibrinolise.aspx).

27
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Por exemplo, o t-PA exibe baixa afinidade pelo plasminogênio na ausência de fibrina
(KM = 65 mM), afinidade que é muito aumentada na presença de fibrina (KM = 0,15-
1,5 mM). Isto ocorre porque a fibrina representa uma superfície ideal para ligação do
t-PA ao plasminogênio, e nesta reação o plasminogênio liga-se à fibrina via resíduos
de aminoácido lisina (“lysine-binding sites”). Em contraste com esses mecanismos
fisiológicos, ativação mais extensa do sistema fibrinolítico ocorre quando da infusão
de agentes trombolíticos do tipo estreptoquinase e uroquinase, que não são específicos
para a presença de fibrina (http://www.fleury.com.br/medicos/educacao-medica/
manuais/manual-hematologia/pages/coagulacao-anticoagulacao-e-fibrinolise.aspx).

A inibição do sistema fibrinolítico ocorre em nível dos ativadores do plasminogênio


mediante ação de inibidores específicos (PAIs, “plasminogen activator inhibitors”), cujo
principal representante é o PAI-1, e diretamente sobre a plasmina, função inibitória
esta exercida pela a2-antiplasmina.

Recentemente, um novo componente do sistema fibrinolítico foi identificado e designado


TAFI (“thrombin-activatable fibrinolysis inhibitor”, inibidor da fibrinólise ativado pela
trombina, também denominado carboxipeptidase B plasmática, pro-carboxipeptidase
U ou pro-carboxipeptidase R). O TAFI é um zimogênio plasmático que ocupa importante
papel na hemostasia funcionando como um potente inibidor da fibrinólise. O TAFI é
ativado pela trombina, tripsina e plasmina, e na sua forma ativada é capaz de inibir a
fibrinólise por remover resíduos de lisina da molécula de fibrina durante o processo de
lise do coágulo, suprimindo assim as propriedades de cofator da fibrina parcialmente
degradada na ativação do plasminogênio. Curiosamente, a principal via de ativação do
TAFI é dependente da ligação do fator IIa (trombina) à trombomodulina (complexo
que tem também a função de ativar o sistema da proteína C). Desta forma, a molécula
do TAFI representa um ponto de conexão entre o sistema de coagulação e fibrinolítico
(http://revista.fmrp.usp.br/2001/vol34n3e4/fisiologia_coagulacao.pdf).

Figura 11. Sistema fibrinolítico e inibidores da fibrinólise.

Figura disponível em http://pt.slideshare.net/AnaCludiaFerreira1/coagulao-anticoagulao-e-fibrinlise.

28
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

Sistema anticoagulante
A anticoagulação conta com substâncias capazes de inativar as vias secundárias da
hemostasia, formadoras do trombo de fibrina (http://www.uff.br/hematolab/pluginfile.
php/28/mod_folder/content/2/Hemostasia.pdf?forcedownload=1).

»» Antitrombina III: inativa fatores II, IX, X e XI. Sua ação é potencializada
pela heparina.

»» Proteína C: inibe FV e FVIII.

»» Proteína S: cofator da proteína C. Mas também tem uma capacidade


independente de neutralizar FV, FVIII e FX.

»» Inibidor da via do fator tecidual: inibe a via extrínseca ao inibir o complexo


“fator tecidual – FVIIa”.

29
CAPÍTULO 3
Origem das células do sangue

No início da gravidez, o embrião retira os alimentos de que precisa das paredes do


útero materno. A partir da terceira semana, passa a alimentar-se por meio do sangue
materno. No final do primeiro mês, o feto já tem um coração rudimentar que bombeia
o sangue para o corpo em formação. Nas primeiras semanas de gestação, o embrião
humano é acompanhado de uma espécie de bolsa, chamada saco vitelino. A partir de
três semanas de gestação na parede externa do saco vitelino surgem pequenas massas
celulares, que vão se transformando em agrupamentos sanguíneos, chamados ilhotas
de Wolff (http://www.sogab.com.br/fisiologiadosanguecec.pdf).

As paredes dos primeiros vasos sanguíneos são formadas pelas células que contornam
as ilhotas e, aos poucos, o interior das ilhotas vai ficando vazio. As células mais internas
das ilhotas transformam-se em glóbulos vermelhos primitivos. No início do segundo
mês, o sangue já tem glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Os vasos
sanguíneos e glóbulos vermelhos se originam fora do organismo do embrião, ou seja,
são de origem extraembrionária (GUYNTON, 2011).

Após o terceiro mês de vida fetal, a formação do sangue se processa no fígado e no baço.
Esta fase é conhecida como fase hepática da fabricação do sangue fetal. Na metade
do período da vida fetal, a medula óssea começa a produzir o sangue, processo que se
continua durante toda a vida extrauterina (GUYNTON, 2011).

Após o nascimento, a grande maioria das células do sangue é produzida pela medula
óssea, o miolo gelatinoso que preenche o interior dos ossos longos e do esterno. Os
tecidos linfoides, localizados no baço, timo, amigdalas, gânglios linfáticos e placas de
Peyer no intestino, também colaboram nesta tarefa. A própria medula óssea contém
tecido linfoide e, em situações especiais, encarrega-se sozinha da produção de todas as
células do sangue (http://www.sogab.com.br/fisiologiadosanguecec.pdf).

A medula óssea de praticamente todos os ossos produz eritrócitos até os cinco anos de
idade. A partir daí, a medula dos ossos longos torna-se mais gordurosa, exceto o úmero
e a tíbia, e deixam de produzir células após os vinte anos de idade. Acima dos vinte anos,
a medula dos ossos membranosos, como as vértebras, as costelas, o esterno e a pelve
são os grandes produtores dos eritrócitos. A matriz celular, existente na medula óssea
e nos tecidos linfoides é a célula reticular primitiva, que aparece nas primeiras fases de
30
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

formação do embrião e funciona como uma fonte permanente de células sanguíneas


(www.ameo.org.br/home/conhecimento/168-quais-sao-as-celulas-do-sangue).

A célula reticular primitiva origina dois tipos distintos de células: as células


reticuloendoteliais, que desempenham funções protetoras, englobando partículas
estranhas e os hemocitoblastos, que são as células produtoras de sangue e que dão origem
às hemácias, alguns tipos de leucócitos e plaquetas. O hemocitoblasto é uma célula
volumosa que tem um núcleo ovoide. No interior da medula óssea os hemocitoblastos
dividem-se e originam células menores, os proeritroblastos. Estas outras células
também se dividem e originam os eritroblastos que sofrem diversas transformações
até que, no final se diferenciam nas células brancas neutrófilos, eosinófilos e basófilos.
Estes três tipos de leucócitos têm núcleos com dois ou mais lobos e, por essa razão, são
chamados de polimorfonucleares. Eles têm granulações no interior do seu citoplasma e
por isso são também chamados de granulócitos. O tecido linfoide, que forma a estrutura
básica do baço, do timo, dos gânglios linfáticos e de outros órgãos é o encarregado da
produção dos outros dois tipos de leucócitos, os monócitos e os linfócitos. Estas células
têm núcleo simples e não têm granulações no seu citoplasma (ZAGO, 2001).

Os leucócitos são as unidades móveis do sistema protetor do organismo. Após a sua


formação, os leucócitos são transportados pelo sangue, para as diferentes partes do
organismo, onde poderão atuar, promovendo a defesa rápida contra qualquer agente
invasor. Os hemocitoblastos também formam os megacariócitos, que, como o nome
indica, são células que apresentam núcleos caracteristicamente grandes. O citoplasma
do megacariócito fragmenta-se em diversas porções, que ficam totalmente envolvidas
por uma membrana. Quando o megacariócito se rompe, libera diversas plaquetas que
são lançadas na circulação (ZAGO, 2013).

As plaquetas, portanto, não são células e sim, elementos celulares, porque são
fragmentos de uma célula principal derivada da célula primitiva hemocitoblasto.
As células sanguíneas e as plaquetas têm origem comum nas células reticulares
primitivas. A sua produção é contínua durante toda a vida do indivíduo, e regulada
por diversos fatores que, em condições normais, mantêm a concentração adequada
de cada tipo celular, no sentido de otimizar as funções do sangue. Cada elemento
celular do sangue, hemácias, leucócitos e plaquetas desempenha funções específicas,
relacionadas ao transporte de gases, aos mecanismos de defesa do organismo e ao
sistema de hemostasia (ZAGO, 2001).

31
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

Hematopoiese
A hematopoiese (Figura 12) é o processo de renovação celular do sangue por meio de
processos mitóticos, pois estas células possuem vida muito curta. Esse processo ocorre
nos órgãos hemocitopoéticos (ou hematopoéticos).

Conforme salientado anteriormente, as primeiras células sanguíneas do embrião


surgem muito precocemente, no mesoderma do saco vitelínico. Posteriormente, o
fígado e o baço funcionam como órgãos hemocitopoéticos temporários. Entretanto, no
segundo mês de vida intrauterina, já é iniciado o processo de ossificação da clavícula e
tem início a formação da medula óssea, que se torna cada vez mais importante como
órgão hemocitopoético. Na vida pós-natal, os eritrócitos, granulócitos, linfócitos,
monócitos e plaquetas se originam a partir de células-tronco da medula óssea
vermelha. Conforme o tipo de glóbulo formado, o processo recebe os seguintes nomes:
eritropoese, granulocitopoese, linfocitopoese, monocitopoese e megacariocitopoese.
Muitos linfócitos são formados na medula óssea, porém existe proliferação dessas
células nos órgãos linfáticos, a partir de linfócitos originados na medula óssea. As células
sanguíneas passam por muitos estágios de diferenciação e maturação na medula óssea,
antes de passarem para o sangue (SILVEIRA, 2000).

Células-tronco: As células-tronco originam células filhas que seguem dois destinos


diferentes: uma permanece como células-tronco, mantendo a população destas células,
e outras se diferenciam em outros tipos celulares com características específicas. O pool
de células-tronco se mantém constante porque as que se diferenciam são substituídas
por células filhas que se mantêm nesse pool (OLIVEIRA, 2012).

Acredita-se que todas as células sanguíneas derivam de um único tipo celular da


medula óssea, por isso recebe o nome de célula-tronco pluripotente. Estas últimas
proliferam e originam duas linhagens: a das células linfoides, que vai dar origem aos
linfócitos, e a das células mieloides, que origina os eritrócitos, granulócitos, monócitos
e plaquetas. Durante sua diferenciação, os linfócitos são transportados pelo sangue
para os linfonodos, timo, baço e outros órgãos linfáticos, onde proliferam (OLIVEIRA,
2012).

A proliferação dessas células origina células-filhas com potencialidade mais baixa.


Essas células-filhas são células progenitoras uni- ou bipotentes que produzem as células
precursoras (blastos). É nessas células que as características morfológicas diferenciadas
das linhagens aparecem pela primeira vez, pois morfologicamente, as células-tronco
pluripotentes e as progenitoras são indistinguíveis morfologicamente (http://www.
infoescola.com/sangue/hematopoese).

32
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

As células-tronco pluripotentes se diferenciam apenas o necessário para manter


sua população, que é reduzida. A frequência das mitoses aumenta muito nas células
progenitoras e precursoras. As células progenitoras, quando se dividem, podem
originar outras células precursoras, mas as precursoras só originam células sanguíneas
(ZAGO, 2001).

A hematopoese resulta da proliferação e diferenciação simultâneas de células-tronco


que, à medida que se diferenciam, vão reduzindo sua potencialidade. As células-tronco
mieloides originam hemácias, granulócitos, monócitos e megacariócitos, aparecendo
todos esses tipos celulares na mesma colônia. As células-tronco linfoides originam
apenas linfócitos.

O processo de hematopoese depende de alguns fatores, como: um microambiente


adequado e da presença de fatores de crescimento. O microambiente é favorecido
pelas células do estroma dos órgãos hematopoéticos. Desde que haja o microambiente,
o desenvolvimento das células sanguíneas depende de fatores que influem sobre
a proliferação e diferenciação. Esses fatores são substâncias denominadas fatores
de crescimento ou fatores estimuladores de colônias, responsáveis por estimular a
proliferação e a diferenciação das células imaturas e a atividade funcional das células
maduras (OLIVEIRA, 2012).

Medula óssea: a medula óssea é um órgão difuso, porém volumoso e muito ativo.
Num adulto normal, produz por dia, cerca de 2,5 bilhões de eritrócitos, 2,5 bilhões de
plaquetas e 1,0 bilhão de granulócitos por kg de peso corporal.

Esse órgão está localizado dentro do canal medular dos ossos longos e nas cavidades
dos ossos esponjosos. Existem três tipos de medula óssea (www.inca.gov.br):

»» Medula óssea vermelha: nos recém-nascidos, esta medula é muito


ativa na produção de células sanguíneas. Com o avanço da idade, a maior
parte dessa medula transforma-se em medula óssea amarela, sendo que
no adulto, a vermelha é encontrada apenas no esterno, vértebras, costelas,
díploe dos ossos do crânio e, no adulto jovem, nas epífises proximais do
fêmur e do úmero.

»» Medula óssea hematógena: deve sua cor à presença de diversos


eritrócitos em diferentes estágios de maturação.

»» Medula óssea amarela: esta é rica em células adiposas e não produz


mais células sanguíneas, exceto em casos de hemorragias, onde a medula

33
UNIDADE I │ FISIOLOGIA DO SANGUE

óssea amarela pode transformar-se em medula óssea vermelha e voltar a


produzir células do sangue.

Diferenciação sanguínea: antigamente, no século XIX e XX, os pesquisadores


classificavam as células sanguíneas em duas categorias, de acordo com seu local de
origem: medula óssea ou órgãos linfoides (gânglios linfáticos, baço e timo). A hipótese
aceita atualmente é a de que todas derivam da medula óssea. A “estirpe mieloide”
diz respeitos aos eritrócitos, plaquetas, leucócitos granulares (neutrófilos, basófilos e
eosinófilos) e monócitos-macrófagos. O desenvolvimento dessas células recebe o nome
de mielopoiese. A “estirpe linfoide” diz respeito, unicamente, aos linfócitos, que podem
ser do tipo linfócito B e linfócito T, sendo conhecido por linfopoiese o desenvolvimento
dessas células (ZAGO, 2001 e http://www.infoescola.com/sangue/hematopoese).

»» Eritrocitopoiese: de acordo com o grau de maturação, as células


eritrocíticas são chamas de: proeritroblastos, eritroblastos basófilos,
eritroblastos policromáticos, eritroblastos ortocromáticos (ou acidófilos),
reticulócitos e hemácias.

»» Granulocitopoiese: o mieloblasto é a célula mais imatura já


determinada para formar exclusivamente os três tipos de granulócitos.
Quando surge nela granulações citoplasmáticas específicas, ela passa
a receber o nome de promielócito neutrófilo, eusinófilo ou basófilo, de
acordo com o tipo de granulação presente. Os estágios seguintes de
maturação são o mileócito, o metamielócito, o granulócito com núcleo
em bastão e o granulócito maduro (neutrófilo, eosinófilo e basófilo).

»» Monopoiese: as plaquetas se originam na medula óssea vermelha pela


fragmentação de pedaços do citoplasma dos megacariócitos. Este, por
sua vez, forma-se pela diferenciação dos megacarioblastos.

»» Linfocitopoiese: processo de formação dos linfócitos. A célula mais


jovem da linhagem é o linfoblasto, que forma o prolinfócito, formando
este, por sua vez o linfócito maduro. O linfócito B sai maduro da medula
óssea, enquanto que os linfócitos T migram para o timo para completarem
o processo de maturação.

34
FISIOLOGIA DO SANGUE │ UNIDADE I

Figura 12. Processo de hematopoiese de forma resumida.

Figura disponível em www.omundodapatologiaclinica.com

35
FAtorES
iMPortAntES
AntES dE SE unidAdE ii
iniCiAr A ColEtA
dE SAnguE

CAPítulo 1
infraestrutura e materiais necessários
para coleta de sangue

As amostras, para serem representativas, devem ter sua composição e integridade


mantidas durante as fases pré-analíticas de coleta, manuseio, transporte e
eventual armazenagem. A estabilidade de uma amostra sanguínea é definida
pela capacidade dos seus elementos se manterem nos valores iniciais, dentro de
limites de variação aceitáveis, por um determinado período de tempo. Portanto,
a medida da instabilidade pode ser definida como sendo a diferença absoluta
(variação dos valores inicial e final, expressa na unidade em que o determinado
parâmetro é medido); como um quociente (razão entre o valor obtido após
um determinado tempo e o valor obtido no momento em que a amostra foi
coletada), ou ainda como uma porcentagem de desvio (SUMITA, 2010).

A coleta de sangue com seringa e agulha é usada há muitos anos. Por ser a
técnica mais antiga desenvolvida para coleta de sangue venoso, enraizou-
se em algumas áreas de saúde, pois o mesmo processo é usado para infundir
medicamentos. No entanto, além de causar potenciais erros pré-analíticos, a
coleta com seringa e agulha é um procedimento de risco para o profissional de
saúde que, além de manusear o sangue, deve também descartar, de maneira
segura, o dispositivo perfurocortante em descartador adequado. De acordo com
a CLSI, a venopunção feita com seringa e agulha deve ser evitada por razões de
segurança (SUMITA, 2010). Você concorda com isso?

36
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

Os laboratórios de análises clínicas são destinados à coleta e ao processamento de


material biológico humano visando à realização de exames e testes laboratoriais. Estes
podem se apresentar como sedes próprias independentes ou podem estar anexados a
estabelecimentos assistenciais de saúde. Geralmente para que funcione um laboratório
em estabelecimentos assistências de saúde deve haver uma área específica para este, do
ponto de vista físico e funcional (Secretaria da Saúde: Coleta de Exames Laboratoriais
/ Secretaria da Saúde de SP, 2005).

A infraestrutura do ambiente onde é realizada a coleta de amostras é importante para


receber e acolher o paciente e auxiliar no bom desempenho do profissional. Assim,
neste capítulo um dos tópicos abordados são os requisitos mínimos de instalação e
infraestrutura do local para coleta de material biológico, mais especificadamente coleta
de sangue bem como a conservação e limpeza deste local.

Visando o conforto e segurança dos clientes e da equipe do laboratório, o ambiente de


coleta deve conter algumas especificações descritas na RESOLUÇÃO - RDC Nº 50, de 21
de fevereiro de 2002 as quais foram estabelecidas pela ANVISA e Ministério da saúde.
Eventualmente, as descrições podem não contemplar na íntegra todos os requisitos
legais exigidos pelos órgãos competentes de sua cidade ou estado. Isso faz com que seja
necessária uma consulta à legislação local e que seja aplicável para o cumprimento das
exigências previstas pela vigilância sanitária local.

De uma maneira geral o ambiente de coleta deve possuir janelas, ser arejado, com local
para o usuário deitar ou sentar e as superfícies devem ser laváveis. Neste local também
deve possuir pia para lavagem das mãos, mesa e bancada para apoiar o material para
coleta e o material coletado.

A demanda de usuários por hora do laboratório estabelece o espaço físico do Box de


coleta. Uma demanda de até 15 usuários por hora, por exemplo, o espaço físico para
a coleta pode ser constituído por uma única sala com área mínima de 3,6 m² e um
lavatório. Caso a demanda seja superior a 15 usuários por hora serão necessários boxes
adicionais de coleta com área mínima de 1,5 m² cada um. Uma observação é que deve
haver um lavatório para cada seis boxes.

Outras características importantes relacionadas à infraestrutura do ambiente de coleta


são (SUMITA, 2010):

»» pisos impermeáveis, laváveis e resistentes às soluções desinfetantes;

»» paredes lisas e resistentes ou divisórias constituídas de materiais que


sejam lisos, duráveis, impermeáveis, laváveis e resistentes às soluções
desinfetantes;

37
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

»» dispositivos de ventilação ambiental eficazes, naturais ou artificiais, de


modo a garantir conforto ao cliente e ao profissional;

»» iluminação que propicie a perfeita visualização e manuseio seguro dos


dispositivos de coleta;

»» portas e corredores com dimensões que permitam a passagem de cadeiras


de rodas, macas e o livre trânsito dos portadores de necessidades especiais;

»» instalação de pias com água corrente que possibilitem ao profissional


higienizar as mãos entre o atendimento dos pacientes. A lavagem das
mãos com água e sabão é recomendável. Onde não houver água disponível,
dispositivos específicos para álcool gel ou líquido com álcool podem ser
utilizados.

»» deve-se utilizar nas bancadas, sempre que possível, cantos arredondados


e materiais de baixa ou nenhuma porosidade.

»» as prateleiras deverão ser de material resistente e lavável e, quando


localizadas em altura acima da cabeça dos funcionários, deverão ser
fechadas com portas.

A sala de espera e recepção do local onde são realizadas a coleta também é regulamentada
pela Anvisa, sendo recomendável que o laboratório clínico possua, pelo menos, uma
sala de espera para pacientes e acompanhantes. Esta área pode ser compartilhada com
outras unidades diagnósticas, sendo necessária a instalação de sanitários para clientes
e acompanhantes (Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, 2010).

Vale ressaltar que, os laboratórios clínicos e os postos de coleta devem, portanto, seguir
as exigências legais vigentes quanto às especificações dos códigos de obras, a respeito da
arquitetura e padrões de segurança, tais como: espaço, construções resistentes ao fogo
(com isolamento de algumas áreas), número e local das saídas de emergência, largura
de portas e corredores, alarmes e proteção automática contra incêndio, iluminação e
abastecimento e drenagem de águas (FISCHBACH e FRANCES, 2007).

Além da infraestrutura do local de coleta, os equipamentos e acessórios necessários para


coleta de sangue também devem seguir normas conforme detalhado abaixo (Figura 13)
(Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, 2010):

»» Bancada com cantos arredondados e materiais de baixa ou nenhuma


porosidade.

38
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

»» Cadeira com braçadeira regulável ou suporte para braço. Recomenda-


se que a cadeira tenha apoio lateral para os braços, pois se o usuário
desmaiar sua queda será evitada.

»» Maca, em local acessível e próximo da sala de coleta.

»» Lixeira para lixo comum.

»» Lixeira para material potencialmente infectante e perfurocortantes.

Figura 13. Sala para coleta de sangue.

Figura disponível em: Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, Série TELELAB.

No que se diz respeito à relação de materiais utilizados para a coleta de sangue, deve-se
primeiramente determinar o tipo de coleta de sangue a ser realizada. Isso se deve ao
fato de que alguns materiais podem variar de acordo com o tipo de coleta de sangue a
ser realizado. A figura 14 representa os materiais comuns que devem ser utilizados em
qualquer tipo de coleta de sangue.

Figura 14. Materiais para coleta de sangue.

Figura disponível em: Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, Série TELELAB.

39
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

As figuras 15, 16 e 17 mostram, respectivamente, os materiais específicos para as coletas


a vácuo, com seringa e agulha e a por punção digital. O modo como se realiza estes tipos
de coleta serão descritos na Unidade 2 deste caderno de estudo.

Figura 15. Materiais para coleta a vácuo.

Figura disponível em: Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, Série TELELAB.

Figura 16. Materiais para coleta com seringa e agulha.

Figura disponível em: Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, Série TELELAB.

Figura 17. Materiais para por punção digital.

Figura disponível em: Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, Série TELELAB.

40
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

Para as coletas a vácuo ou com seringa, os tipos de tubos e de agulhas são importantes,
sendo necessário determiná-los previamente à coleta. O modo como ambos são
armazenados também é de extrema importância para minimizar erros durante a coleta
e análise do sangue.

Tipos de agulha
As agulhas possuem três partes que são o canhão, haste e bisel (Figura 19), para a coleta
de sangue a parte mais importante é o bisel que pode ser bifacetado ou trifacetado
e, além de poderem ser tratadas com silicones. Outra característica importante das
agulhas, mais especificadamente do bisel, é a unidade de medida os comprimentos e
diâmetros destes. Estas medidas podem ser expressas em milímetros (mm) ou calibre
nas unidades de Gauge (G).

Figura 18. Partes da agulha.

Figura disponível em: www.enfermagememfoco.com.br.

Os calibres das agulhas para coleta de sangue, tanto a vácuo quanto utilizando seringa,
devem ser escolhidos de acordo com a veia do paciente. Assim, pacientes com veias de
grosso calibre e que são facilmente visualizadas deve-se utilizar agulhas com 0,8 mm de
diâmetro ou 21G. Já pacientes que possuem veias com médio calibre com difícil acesso
venoso é recomendado utilizar agulhas com 0,7 mm de diâmetro ou 22G.

As agulhas para coleta a vácuo (Figura 19) apresentam especificações adicionais das
descritas anteriormente: as agulhas possuem em uma das extremidades o bisel que
irá penetrar na veia e na outra extremidade, coberto por uma borracha, se encontra o
local onde será encaixado o tubo e uma rosca para encaixe da agulha em um adaptador.
A função desta borracha é impedir que ocorra o vazamento de sangue para dentro do
adaptador durante a punção.

41
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

Figura 19. Agulhas para coleta a vácuo.

Figura disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br.

O escalpe é outro tipo de dispositivo que pode ser usado para coleta de sangue (Figura
20). Geralmente é indicado para pacientes com difícil acesso venoso ou para coleta de
sangue periférico (mãos e pés). As agulhas e os escalpes para coleta de sangue devem ter
um dispositivo de segurança, conforme definido pela NR 32/2005 e regulamentada pela
portaria GM no 939, de 18 de novembro de 2008, Ministério do Trabalho e Emprego.

Figura 20. Escalpe.

Figura disponível em: < http://bvsms.saude.gov.br/.

Tipos de tubos
De uma maneira geral, os tubos utilizados para coleta de sangue devem ser de vidro
ou plástico; suas tampas devem permitir a completa vedação da amostra bem como
devem ser seguras para não se desprender do tubo no momento da homogeneização ou
centrifugação da amostra. A proporção anticoagulante por volume de sangue (mL) deve
seguir o Manual Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI).
42
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

Os tubos para coleta a vácuo são padronizados internacionalmente pela Norma ISO
6710:1995, que além de determinar que os tubos devam ter as condições acima descritas
devem também ser fabricados com material que possua transparência suficiente, o
qual permita uma visão do seu conteúdo bem como suas características de superfície
interna; ser estéreis (para segurança da amostra e do usuário); ter espaço suficiente
para homogeneização mecânica ou manual da amostra; no rótulo de cada tubo também
há uma indicação do volume de amostra que deve ser coletada; e as tampas destes tubos
possuem cores diferentes para cada tipo de anticoagulante ou de tratamento que o tubo
recebeu (Quadro 2) (Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, 2010). Outro
ponto importante é a não reutilização dos tubos, uma vez que podem sobrar resíduos
do sabão utilizado em sua limpeza ou de outros resíduos que podem permanecer no seu
interior, podendo interferir no resultado dos exames.

Quadro 2. Relação de tubos utilizados na coleta de sangue a vácuo.

Cores da tampa Aditivos Mecanismos de ação Amostra obtida Principais aplicações

Citrato Liga cálcio Sangue total ou plasma Exames de coagulação

Com ou sem ativador


Exames sorológicos, bioquímicos e
de coágulo e sem gel O ativador acelera a coagulação. Soro
hormonais.
separador.

O ativador acelera a coagulação


Com ativador de coágulo Exames sorológicos bioquímicos e
e o gel mantém o soro e o Soro
e com gel separador. hormonais.
coagulo separados.

Heparina Inibe trombina Sangue total ou plasma. Exames bioquímicos.

Exames de hematologia, CD4+ /


EDTA Liga cálcio Sangue total ou plasma.
CD8+, carga viral e de genotipage.

Fluoreto/EDTA Inibe degradação de glicose. Plasma Exames de glicose e lactato.

Adaptado de Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, 2010.

43
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

No que se diz respeito ao armazenamento e conservação dos tubos e agulhas é necessário


seguir rigorosamente as instruções determinadas pelo fabricante. Principalmente os
tubos contendo aditivos, os quais devem ser armazenados ao abrigo da luz, em locais
secos e arejados em temperatura de 4° C ou 25°C dependendo do tipo de tubo. Nunca
se deve utilizar tubos ou produtos com prazo de validade vencido ou que apresentem
alterações em sua cor, forma ou características originais (http://telelab.aids.gov.br/
moodle/mod/resource/view.php?id=723).

44
CAPÍTULO 2
Orientações e preparo do profissional

Os profissionais que atuam na coleta e análise de sangue para atender bem ao


usuário, bem como se proteger, devem seguir as normas de Biossegurança e utilizar
os Equipamentos de Segurança Individual (EPIs) e Equipamento de Proteção Coletiva
(EPC).

Entende-se como incorporação do princípio da biossegurança a adoção de um conjunto


de medidas voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes
às atividades de prestação de serviços, produção, ensino, pesquisa e desenvolvimento
tecnológico, que possam comprometer a saúde do homem, o meio ambiente e, ainda,
a qualidade dos trabalhos desenvolvidos (http://pegasus.fmrp.usp.br/projeto/
legislacao/PORTARIA%20CVS%2013.pdf).

Os equipamentos de proteção individuais e coletivos são considerados elementos de


contenção primária ou barreiras primárias. Estes equipamentos são utilizados para
reduzir ou eliminar a exposição dos profissionais que trabalham no laboratório bem
como o ambiente laboratorial, aos agentes potencialmente perigosos.

Os EPIs necessários para coleta de sangue são basicamente (Agência Nacional de


Vigilância Sanitária, 2013):

»» Jaleco: é usado dentro da área técnica, mesmo quando não se esteja


executando algum trabalho, e em todos os trabalhos que envolvam os riscos
de contaminação. As mangas são longas, com elástico na extremidade. O
fechamento é frontal, com botões, preferencialmente de pressão. O jaleco
é confeccionado em tecido de algodão ou misto, não inflamável, e tem
comprimento abaixo dos joelhos. É usado permanentemente fechado.
Deve ser lavado sempre que sujar ou, no mínimo, uma vez por semana,
mesmo que apresente aspecto limpo.

»» Óculos de segurança: são usados em todas as atividades que possam


produzir salpicos, respingos e aerossóis, projeção de estilhaços pela
quebra de materiais que envolvam risco químico ou biológico, dando
proteção aos olhos. Deve-se lavar após o uso com água e sabão ou, no
trabalho com agentes biológicos, com solução desinfetante - hipoclorito
a 0,1% (o álcool prejudica o material com que são fabricados os óculos) e
guardá-los adequadamente.

45
unidAdE ii │ FAtorES iMPortAntES AntES dE SE iniCiAr A ColEtA dE SAnguE

» Máscaras: são usadas as do tipo cirúrgico, sem sistema de filtro, para


proteção do aparelho respiratório no manuseio de material biológico,
dependendo da sua classe de risco, assim como para proteção do produto
que está sendo manuseado.

» Gorro descartável: é usado para proteger os cabelos de aerossóis e


salpicos e o produto ou experimento de contaminações.

» Pro-pé: recomendado para a proteção dos calçados/pés, em áreas


contaminadas ou para trabalhar em áreas estéreis.

» Luvas: utilizadas para proteger as mãos. São de uso obrigatório na


manipulação de qualquer material biológico ou produto químico. São
fabricadas em diferentes materiais para atender às diversas atividades
laboratoriais.

› Modo de utilizar as luvas: as luvas devem ser colocadas com


cuidado para que não se rasguem e devem ficar bem apertadas à pele
do profissional para que este não perca a sensibilidade no momento
da realização da coleta. Uma observação importante é que as luvas
devem ficar sob as mangas do jaleco.

› Modo de retirar as luvas (http://www.unifesp.br/dmed/): para


remover as luvas deve-se seguir basicamente quatro passos (Figura
21). 1) Pegue na parte externa da luva e puxe em direção aos dedos
para retirar. 2) Feche a outra mão com a luva retirada. 3) Com a mão
sem luva pegue na parte interna da luva e puxe em direção aos dedos
para retirar. 4) Jogue a luva em recipiente para material infectante.

Figura 21. Orientações para remover as luvas.

Passo 2

Passo 1 Passo 3 Passo 4

Figura disponível em: http://www.unifesp.br/dmed/patologiaclinica/laboratorio-central/manuais/manual-de-


coleta-2014-2015/view

46
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

A higienização da mão antes e após a coleta de sangue também é muito importante


para proteção do paciente e do profissional. Assim, deve-se realizar a higienização com
sabão e água e depois com álcool 70% (Figuras 22 e 23).

Figura 22. Higienização das mãos com água e sabão.

Figura disponível em: www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos

47
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

Figura 23. Higienização das mãos com álcool 70%.

Figura disponível em: www.anvisa.gov.br/hotsite/higienizacao_maos

Os EPCs são equipamentos que possibilitam a proteção do trabalhador, do meio


ambiente e evita contaminação da amostra. No caso da coleta de sangue, os principais
EPC utilizados são descritos abaixo (www.bpl_biosseguranca.biof.ufrj.br):

48
FAtorES iMPortAntES AntES dE SE iniCiAr A ColEtA dE SAnguE │ unidAdE ii

» Limpeza e desinfecção da bancada de trabalho: realizar a limpeza


das bancadas com álcool a 70% no início e no término das atividades ou
sempre que houver necessidade.

» Descarte de materiais contaminados e perfurocortantes: agulhas,


seringas, tubos quebrados e tubos contendo material biológico devem ser
desprezados em recipientes de paredes rígidas com tampa e sinalizados
como “INFECTANTE” ou em caixas coletoras próprias para material
infectante, conforme Figura 25. Papéis contaminados, luvas, gaze, algodão
e outros, devem ser recolhidos em lixeiras com tampa, de preferência com
pedal, contendo saco para lixo específico para material infectante.

Figura 24. modelos de caixas coletoras de material perfurocortante.

Figura disponível em: WWW.bpl_biosseguranca.biof.ufrj.br

Para saber mais a respeito de Biossegurança e EPI, leia a NR 32 de 2005, no site


http://www.mte.gov.br

49
CAPÍTULO 3
Orientações para o paciente e
minimizando erros na coleta

Neste capítulo serão descritas as recomendações gerais de preparo dos usuários para
a coleta de exames laboratoriais, evitando-se interferências nos resultados. Assim é
importante, previamente ao exame, informar ao usuário (www.bpl_biosseguranca.
biof.ufrj.br):

»» Dia e horário de coleta da unidade.

»» Preparos importantes quanto à necessidade ou não de: jejum, dieta,


atividade física, medicamentos.

»» Caso esteja fazendo uso de medicamentos, o paciente deve relatar no


guichê de atendimento, no momento de cadastro da fatura.

»» A utilização ou suspensão de medicamentos deve seguir orientação do


médico que trata o paciente.

»» O paciente não deve deixar de beber água, ainda que tenha que fazer
exames que necessitem de jejum.

»» Para coletas de crianças e gestantes, a orientação quanto ao jejum deve


ser dada pelo médico.

»» Certificar-se de que o paciente entendeu as orientações. Se necessário


anexá-la ao pedido dos exames.

Exames como teste de tolerância oral à glicose e hemocultura que exigem um


preparo específico do paciente serão abordados logo mais.

Os pacientes devem seguir as orientações para se realizar um exame de sangue, uma


vez que não seguir essas recomendações pode provocar alteração nos resultados. A
seguir, iremos descrever, segundo Khavali e colaboradores, 2012, como algumas dessas
orientações podem estar relacionadas aos resultados dos exames:

»» Como a alimentação interfere nos resultados de exames:


habitualmente, é recomendado um período de jejum para a coleta
de sangue para exames laboratoriais. Após as refeições, a circulação
de certos elementos provenientes da alimentação pode interferir em

50
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

algumas metodologias laboratoriais e prejudicar a realização do exame.


Alguns exames sofrem influência da dieta diária prévia à coleta, mesmo
respeitando-se o período regulamentar de jejum, sendo exemplo bem
conhecido a dosagem de triglicérides que apresenta variações importantes
conforme a característica da dieta prévia. Por outro lado, o jejum muito
prolongado pode também alterar o resultado de exames. Segundo
recomendações da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina
Laboratorial (SBPC/ML) a coleta de sangue venoso deve ser evitada após
períodos de jejum acima de 16 horas.

»» Os exames que pedem jejum não têm de ser realizados somente


no período da manhã: Classicamente, a melhor condição para coleta
de sangue para realização de exames de rotina é o período da manhã, mas
não há contraindicação formal de coleta no período da tarde, com exceção
de alguns parâmetros que sofrem modificações significativas no decorrer
do dia como o cortisol. Assim, obedecendo-se ao tempo estipulado de
jejum, alguns exames podem ser colhidos à tarde. O horário em que foi
realizada a coleta deve ser informado ao médico no laudo.

»» O tipo de alimentação ingerida previamente ao jejum não


interfere nos resultados do exame: para alguns exames pode ser
sugerida uma dieta especial, mas para a maioria, o indivíduo não deve
alterar sua rotina alimentar, a menos que haja orientação médica. Apenas
deve-se respeitar o período de jejum recomendado para os exames que
irá realizar.

»» O uso de bebida alcoólica pode interferir nos resultados de


exames: mesmo o consumo esporádico de etanol, álcool encontrado
nas bebidas, pode causar alterações significativas e quase imediatas na
concentração plasmática de alguns metabólitos, por exemplo, glicose,
ácido láctico e triglicérides. O uso crônico é responsável pela elevação
da atividade da gama glutamiltransferase (GGT), entre outras alterações
importantes.

»» O fumo provoca alterações no exame: o fumo pode elevar a


concentração de substâncias como adrenalina, aldosterona, cortisol e
antígeno carcinoembrionário. O tabagismo também é causa de elevação
na concentração de hemoglobina, no número de leucócitos e de hemácias
e no volume corpuscular médio. E ainda, o fumo causa redução na
concentração de HDL-colesterol.

51
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

»» O paciente não deve suspender os medicamentos antes da


coleta de sangue: a suspensão de medicamentos somente pode ser
autorizada pelo médico assistente e seu uso deve ser mantido conforme
orientação deste. Alguns exames são realizados exatamente para avaliar o
efeito do uso do medicamento. Para drogas de monitorização terapêutica,
cuja coleta de sangue é sugerida imediatamente antes da próxima dose, é
conveniente o paciente trazer consigo o medicamento em uso, para evitar
ultrapassar o horário programado para a medicação. É necessário que o
paciente comunique o uso do medicamento, bem como, qual o tipo de
medicamento, previamente à realização do exame.

»» Não é recomendado fazer exames após ter realizado exercícios


físicos: o efeito da atividade física sobre alguns componentes do
sangue, em geral, é transitório e depende das variações nas necessidades
energéticas do metabolismo e da eventual modificação fisiológica que a
própria atividade física condiciona. Esta é a razão pela qual se prefere a
coleta de amostras com o paciente em condições basais, mais facilmente
reprodutíveis e padronizáveis. O esforço físico pode causar aumento da
atividade sérica de algumas enzimas, como a creatinoquinase, a aldolase
e a aspartatoaminotransferase. Esse aumento pode persistir por 12 a 24
horas após a realização de um exercício.

»» O ciclo menstrual influencia em alguns exames: é importante que


o médico saiba em que período do ciclo menstrual seu exame foi realizado,
especialmente para dosagens hormonais. Mesmo porque as alterações
hormonais típicas do ciclo menstrual também podem ser acompanhadas
de variações em outras substâncias.

»» Pacientes imunocomprometidos podem realizar exames:


alguns exames são solicitados exatamente para identificar a causa de
alguns sintomas, como febre, que o paciente apresenta. Porém, em
algumas circunstâncias, a doença responsável pela febre pode interferir
nos exames destinados a avaliar aspectos metabólicos e imunológicos.
Assim, é necessário que o paciente consulte o seu médico ou o laboratório
antes de fazer o exame.

O gênero, idade e posição em que foi realizada a coleta são importantes para o resultado
do exame. Assim:

Gênero: além das diferenças hormonais específicas e características de cada sexo,


alguns outros parâmetros sanguíneos e urinários se apresentam em concentrações

52
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

significativamente distintas entre homens e mulheres em decorrência das diferenças


metabólicas e da massa muscular, entre outros fatores. Em geral, os intervalos de
referência para estes parâmetros são específicos para cada gênero.

Idade: alguns parâmetros bioquímicos possuem concentração sérica dependendo


da idade do indivíduo. Essa dependência é resultante de diversos fatores, como
maturidade funcional dos órgãos e sistemas, conteúdo hídrico e massa corporal. Em
situações específicas, até os intervalos de referência devem considerar essas diferenças.
É importante lembrar que as mesmas causas de variações pré-analíticas que afetam os
resultados laboratoriais em indivíduos jovens interferem nos resultados dos exames
realizados em indivíduos idosos, mas a intensidade da variação tende a ser maior neste
grupo etário. Doenças subclínicas também são mais comuns nos idosos e precisam
ser consideradas na avaliação da variabilidade dos resultados, ainda que as próprias
variações biológicas e ambientais não devam ser subestimadas.

Posição: mudança rápida na postura corporal pode causar variações na concentração


de alguns componentes séricos. Quando o indivíduo se move da posição supina para a
posição ereta, por exemplo, ocorre um afluxo de água e substâncias filtráveis do espaço
intravascular para o intersticial. Substâncias não filtráveis, tais como as proteínas de
alto peso molecular e os elementos celulares terão sua concentração relativa elevada
até que o equilíbrio hídrico se restabeleça. Por essa razão, os níveis de albumina,
colesterol, triglicérides, hematócrito, hemoglobina, de drogas que se ligam às proteínas
e o número de leucócitos podem ser superestimados. Esse aumento pode ser de 8 a 10%
da concentração inicial.

O tempo em jejum que o paciente deve ficar é relacionado ao tipo de exame que será
realizado. A tabela 1 mostra o tempo em jejum para cada tipo de exame.

Tabela 1. Relação de exames conforme tempo de jejum necessário.

Jejum Exames
»» Ácido Fólico.
»» Ácido Úrico.
»» Ácido Valpróico.
»» Adenosina Deaminase.
»» Alanina Amino Transferase.
»» Fibrinogênio.
»» Fosfatase Ácida Prostática.
4 horas »» Fosfatase Ácida Total.
»» Fosfatase Alcalina.
»» Fósforo.
»» Albumina.
»» Aldolase.
»» Alfa-1 Antitripsina.
»» Alfa-1 Glicoproteína Ácida.
»» Alfa Fetoproteína.

53
UNIDADE II │ FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE

»» 17-Alfa Hidroxi Progesterona.


»» Amicacina.
»» Amilase.
»» Androstenediona.
»» Anticorpos Antiperoxidase.
»» Anticorpos Antitiroglobulina.
»» Anti DNA nativo (dupla hélice).
»» Anti ENA.
»» Antiestreptolisina O.
»» Antígeno Carcino Embrionário.
»» Anti-HBc Total – Anticorpos Totais contra Antígeno Central da Hepatite B.
»» Anti-HBe – Anticorpo contra Antígeno E da Hepatite B.
»» Hepatite A – Imunoglobulina G.
»» Hepatite A – Imunoglobulina M.
»» Hepatite B – Antícorpo Contra Antígeno de Superfície (Anti-HBs).
»» Hepatite B – Antícorpo Contra Antígeno E (Anti-HBe).
»» Hepatite B – Anticorpos Totais Contra Antígeno Central (Anti-HBc Total).
»» Hepatite B -Antígeno de Superfície (HBsAg).
»» Hepatite C · Hepatite C – Teste Confirmatório.
»» Anti-HBs – Anticorpo contra Antígeno de Superfícieda Hepatite B.
»» Antígeno Prostático Específico.
»» Antígeno Prostático Livre.
»» Aspartato Amino Transferase.
»» Beta-2 Microglobulina.
»» Bicarbonato.
»» Bilirrubina Direta · Bilirrubina Indireta · Bilirrubina Total.
»» C3 · C4 · CA 125 · CA 15-3 · CA 19-9.
4 horas »» Cálcio Ionizado · Cálcio Total.
»» Chagas.
4 horas »» Citomegalovírus IgG e IgM.
»» Herpes IgG e IgM.
»» Clearence de Creatinina.
»» Cloro.
»» Colesterol Total.
»» Cortisol.
»» Creatinina.
»» Creatinoquinase.
»» CreatinoquinaseIsoenzima MB.
»» Eletroforese de Hemoglobina.
»» Eletroforese de Proteínas.
»» Fator de Von Willebrand.
»» Fator Reumatoide.
»» Fator V · Fator VII · Fator VIII · Fator IX.
»» Fenitoína.
»» Fenobarbital.
»» Ferritina - Ferro.
»» Toxoplasmose Imunoglobulina G.
»» Toxoplasmose Imunoglobulina M.
»» Transferrina.
»» Ureia.
»» Vancomicina.
»» Varicella Zoster.
»» Vitamina B12.
»» Zinco.
»» T3 Livre - T4 Livre.
»» Teofilina.
»» Testosterona Livre · Testosterona Total.
»» Glicose.
»» Hormônio de crescimento (GH).
8 horas »» Hepatite B (Antígeno E).
»» Insulina.
»» Teste oral tolerância glicose (75g).

54
FATORES IMPORTANTES ANTES DE SE INICIAR A COLETA DE SANGUE │ UNIDADE II

»» Colesterol total e frações.


12 horas
»» Triglicérides.
»» Eritograma.
»» Falcização de hemácias.
»» Gasometria arterial.
»» Gasometria Venosa.
»» Glicose 6 fosfato desidrogenase.
»» Hematócrito.
»» Hemoglobina.
»» Hemograma.
»» HIV – teste rápido.
»» Lactato.
Sem jejum »» Leucograma.
»» Perfil metabólico.
»» Tempo de coagulação.
»» Tempo de protrombina.
»» Tempo de sangramento.
»» Tempo de tromboplastina parcial ativada.
»» Titulação de inibidor Fator VII.
»» Troponina I.
»» Velocidade de hemossedimentação.
»» Widal.
»» Teste de tolerância oral a glicose (50 g).

Fonte: http://www.unifesp.br/dmed

Além das orientações que o paciente deve seguir antes de realizar os exames, tem alguns
procedimentos que devem ser seguidos para minimizar os erros nos resultados dos
exames. Assim, alguns procedimentos básicos devem ser seguidos pelo profissional.

No caso de pacientes adultos e conscientes é necessário: que haja um cadastro


com o nome completo, número da identidade, ou data de nascimento e Comparar estas
informações com as constantes na requisição de exames.

Em relação a pacientes internados: geralmente nos hospitais fornecem etiquetas com


os dados de identificação necessários. Mesmo assim, deve-se verificar a identificação
no bracelete ou a identificação postada na entrada do quarto, quando disponível. O
número do leito nunca deve ser utilizado como critério de identificação.

Para pacientes muito jovens ou com algum tipo de dificuldade de


comunicação: o profissional deve valer-se de informações de algum acompanhante
ou da enfermagem, bem como os pacientes atendidos no pronto-socorro ou em salas
de emergência podem ser identificados pelo seu nome e número de entrada no cadastro
da unidade de emergência.
55
PROCEDIMENTOS
PARA COLETA Unidade iII
SANGUÍNEA

CAPÍTULO 1
Coleta de sangue venoso

Previamente a detalhar os passos para realizar a coleta do sangue venoso é necessário


compreender algumas recomendações adotadas pelo CLSI. Assim, quando uma
amostra de sangue for colhida, um profissional experiente deve seguir algumas etapas
(ANDRIOLO e colaboradores, 2008):

»» Verificar a solicitação do médico e o cadastro do pedido.

»» Apresentar-se ao paciente, estabelecendo comunicação e ganhando sua


confiança.

»» Explicar ao paciente ou ao seu responsável o procedimento ao qual o


paciente será submetido, seguindo a política institucional com habilidade,
para a obtenção de consentimento para o procedimento.

»» Fazer a assepsia das mãos entre o atendimento dos pacientes, conforme


recomendação do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) no
documento sobre “Diretriz para Higiene de Mãos” e também conforme o
documento do CLSI H3-A6, Procedures for the Collection of Diagnostic
Blood Specimens by Venipuncture; Approved Standard – 6th ed.

»» Realizar a identificação de pacientes.

»» Ordenar o material que será usado na coleta, em especial a ordem dos


tubos a ser recolhida a amostra que deve ser da seguinte maneira (Figura
25):

›› Inicie colhendo as amostras para testes de coagulação que utilizam


tubos com citrato de sódio (tampa azul);.

›› Na sequência, os tubos para obtenção de soro, ou seja, sem


56
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

anticoagulante (tampa vermelha) ou contendo gel separador com


ativador de coágulo (tampa amarela ou vermelha com anel amarelo).

›› Em seguida, se você for colher amostras em tubos plásticos que


contenham outros anticoagulantes, inicie pelo tubo que contém
heparina (tampa verde) e, na sequência, o tubo com EDTA (tampa
roxa) e por último o tubo com fluoreto de sódio/EDTA (tampa cinza).

Figura 25. Sequência dos tubos para coleta de sangue.

Figura disponível em: Manual Coleta de sangue do Ministério da Saúde, 2010.

A escolha do local para fazer a punção


venosa
Para se escolher uma veia a ser puncionada esta deve apresentar: bom calibre,
flexibilidade e integridade.

As veias variam de pessoa para pessoa, entretanto, há dois tipos comuns de regimes de
distribuição venosa: um com formato de H e outro se assemelhando a um M. O padrão
H foi assim denominado devido às veias que o compõem (cefálica, cubital mediana e
basílica) distribuírem-se como se fosse um H, ele representa cerca de 70% dos casos. No
padrão M, a distribuição das veias mais proeminentes (cefálica, cefálica mediana, basílica
mediana e basílica) assemelha-se à letra M (ANDRIOLO e colaboradores, 2008).

Embora qualquer veia do membro superior que apresente condições para coleta possa
ser puncionada, as veias mais utilizadas são a cubital mediana e a cefálica, ambas
localizadas na parte anterior do braço, próximo à dobra do cotovelo, conforme figura
26a. A punção na veia cubital mediana costuma ser a melhor opção, pois na punção da
veia cefálica existe maior risco de formação de hematomas (Manual Coleta de sangue
do Ministério da Saúde, 2010).

57
unidAdE iii │ ProCEdiMEntoS PArA ColEtA SAnguínEA

Quando as veias do membro superior não estão disponíveis ou são de difícil acesso, as
veias do dorso da mão também podem ser utilizadas para a venopunção (Figura 26b).
Entretanto, as veias na parte inferior do punho não devem ser utilizadas porque, assim
como elas, os nervos e tendões estão próximos à superfície da pele nessa área (Manual
Coleta de sangue do Ministério da Saúde, 2010).

Figura 26. Local para fazer a punção venosa.

A b

Figura disponível em: manual coleta de sangue do ministério da Saúde, 2010.

Para se escolher a veia a ser puncionada há algumas recomendações a serem utilizadas,


tais como (http://www.pmcg.ms.gov.br):

» O usuário deve manter o braço levemente inclinado para baixo e este


deve estar apoiado firmemente pelo descanso e o cotovelo não deve estar
dobrado.

» Observação de veias calibrosas.

» Movimentação: pedir para o paciente abaixar o braço e fazer movimentos


de abrir e fechar a mão. Os movimentos de abertura das mãos reduzem a
pressão venosa, com o relaxamento muscular.

» Massagens: massagear suavemente o braço do paciente, na direção do


punho para o cotovelo.

» Palpação: realizada com o dedo indicador do profissional. Não utilizar o


dedo polegar devido à baixa sensibilidade da percepção da pulsação. Esse
procedimento auxilia na distinção entre veias e artérias pela presença de
pulsação, devido à maior elasticidade e à maior espessura das paredes
dos vasos arteriais.

» Fixação das veias com os dedos, nos casos de flacidez.

58
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Algumas áreas não devem ser puncionadas, podendo causar danos ao paciente. Estas
áreas são (ANDRIOLO, 2008):

»» Áreas com terapia ou hidratação intravenosa de qualquer espécie.

»» Locais com cicatrizes de queimadura.

»» Membro superior próximo ao local onde foi realizada mastectomia,


cateterismo ou qualquer outro procedimento cirúrgico.

»» Áreas com hematomas podem gerar resultados errados de exames,


qualquer que seja o tamanho do hematoma. Se outra veia, em outro
local, não estiver disponível, a amostra deve ser colhida distalmente ao
hematoma.

»» Áreas da pele com ferimentos, abscessos e outras lesões.

»» Veias que já sofreram trombose porque são pouco flexíveis, com paredes
endurecidas.

»» Veias com múltiplas punções recentes.

»» Evite puncionar veias trombosadas. Essas veias são pouco elásticas,


assemelham-se a um cordão e têm paredes endurecidas.

Após escolha da veia a ser puncionada deve-se colocar o TORNIQUETE OU


GARROTE, conforme instruções a seguir (Manual Coleta de sangue do Ministério da
Saúde, 2010):

1. Posicione o garrote com o laço ou fecho para cima, cerca de 10 cm do local


que será puncionado, a fim de evitar a contaminação da área de punção.

2. Ao garrotear, pedir ao paciente que feche a mão para evidenciar a veia.

3. Não aperte intensamente o garrote, pois o fluxo arterial não deve ser
interrompido. Lembre-se que o pulso do usuário deve permanecer
palpável.

4. Não use o garrote por mais de 1 minuto. O resultado de alguns exames


laboratoriais pode sofrer alterações, pois, com o garroteamento ocorre
aumento da pressão nas veias e artérias, facilitando a saída de líquido
e de moléculas pequenas para o espaço intersticial – entre as células –,
gerando uma variação na concentração dos elementos do sangue.

59
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

5. Havendo lesões de pele no local pretendido, deve-se considerar a


possibilidade da utilização de um local alternativo ou aplicar o torniquete
sobre a roupa do paciente.

6. Não aplicar, no momento de seleção venosa, o procedimento de “bater


na veia com dois dedos”. Esse tipo de procedimento provoca hemólise
capilar e, portanto, altera o resultado de certos analitos.

7. Se o torniquete for usado para seleção preliminar da veia, fazê-lo apenas


por um breve momento, pedindo ao paciente para fechar a mão. Localizar
a veia e, em seguida, afrouxar o torniquete. Esperar 2 minutos para usá-
lo novamente.

8. O torniquete não deverá ser usado em alguns testes como lactato ou


cálcio, para evitar alteração no resultado.

9. Trocar o torniquete sempre que houver suspeita de contaminação.

Antissepsia do local da punção


O procedimento de venopunção deve ser precedido pela higienização do local para
prevenir a contaminação microbiana de cada paciente ou amostra.

Antissépticos utilizados: álcool isopropílico 70% ou álcool etílico, iodeto de povidona


1 a 10% ou gluconato de clorexidina para hemoculturas, substâncias de limpeza não
alcoólicas (como clorexidina, sabão neutro).

Procedimento (http://www.capital.ms.gov.br):

»» Recomenda-se usar uma gaze umedecida com solução de álcool


isopropílico ou etílico 70%, comercialmente preparado.

»» Limpar o local com um movimento circular do centro para fora.

»» Permitir a secagem da área por 30 segundos para prevenir hemólise da


amostra e reduzir a sensação de ardência na venopunção.

»» Não assoprar, não abanar e não colocar nada no local.

»» Não tocar novamente na região após a antissepsia.

60
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

»» Se a venopunção for difícil de ser obtida e a veia precisar ser palpada


novamente para efetuar a coleta, o local escolhido deve ser limpo
novamente.

COLETA (Figura 28)( http://www.saude.to.gov.br):

1. Conectar a agulha ao adaptador. Estar certo de que a agulha esteja firme


para assegurar que não solte durante o uso. Remover a capa superior da
agulha múltipla, mantendo o bisel voltado para cima.

2. O sistema agulha-adaptador deve ser apoiado na palma da mão e seguro


firmemente entre o indicador e o polegar.

3. No ato da punção, com o indicador ou polegar de uma das mãos esticar


a pele do paciente firmando a veia escolhida e com o sistema agulha-
adaptador na outra mão, puncionar a veia com precisão e rapidez
(movimento único).

4. O sistema agulha-adaptador deve estar em um ângulo de coleta de 15º em


relação ao braço do paciente.

5. Segurando firmemente o sistema agulha-adaptador com uma das


mãos, com a outra pegar o tubo de coleta a ser utilizado e conectá-lo ao
adaptador. Sempre que possível, a mão que estiver puncionando deverá
controlar o sistema, pois durante a coleta, a mudança de mão poderá
provocar alteração indevida na posição da agulha.

6. Com o tubo de coleta dentro do adaptador, pressione-o com o polegar,


até que a tampa tenha sido penetrada.

7. Tão logo o sangue flua para dentro do tubo coletor, o garrote deve ser
retirado. Porém, se a veia for muito fina o garrote poderá ser mantido.

8. Quando o tubo estiver cheio e o fluxo sanguíneo cessar, remova-o do


adaptador trocando-o pelo seguinte.

9. Acoplar o tubo subsequente em ordem específica a cada um dos exames


solicitados, sempre seguindo a sequência correta de coleta.

10. À medida que forem preenchidos os tubos, homogeneizá-los gentilmente


por inversão (4 a 6 vezes). Sempre, lembrando que não deve-se agitar
vigorosamente pois pode causar espuma ou hemólise, não homogeneizar
ou homogeneizar insuficientemente os tubos de sorologia pode resultar

61
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

em uma demora na coagulação e nos tubos com anticoagulante,


homogeneização inadequada pode resultar em agregação plaquetária e/
ou microcoágulos.

Figura 27. Homogeneização dos tubos após coleta de sangue.

Figura disponível em www.ebah.com.br

1. Tão logo termine a coleta do último tubo, retirar a agulha.

2. Com uma mecha de algodão exercer pressão sobre o local da punção, sem
dobrar o braço, até parar de sangrar.

3. Uma vez estancado o sangramento aplicar uma bandagem.

4. A agulha deve ser descartada em recipiente próprio para materiais infecto


contaminantes.

Figura 28. Procedimento coleta de sangue venoso.

Figura disponível em Manual de coleta, acondicionamento e transporte de amostras para exames laboratoriais

62
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Para a coleta de sangue com agulha e seringa deve-se seguir os passos do sistema a
vácuo, entretanto, tem alguns pontos a serem destacados como:

»» Após puncionar a veia deve-se aspirar o sangue em volume suficiente


para as análises desejadas.

»» Evite a formação de bolhas e espuma, aspirando lentamente o sangue da


veia.

»» Execute o procedimento com a maior agilidade possível, pois o processo


de coagulação do sangue é ativado desde o início da punção e, se a coleta
demorar, o sangue pode se coagular dentro da seringa.

»» Descarte imediatamente a agulha em recipiente apropriado para materiais


perfurocortantes, adotando todos os cuidados de biossegurança.

»» Abra a tampa do tubo e transfira o sangue da seringa, tomando o cuidado


de deixar o sangue escorrer lentamente pelas paredes do tubo, evitando
a hemólise.

Microcoleta de sangue capilar e venoso para


neonatos e bebês
(http://vacuette.com.br/download/Guia_de_Coleta_de_Sangue.pdf)

A microcoleta é um processo de escolha para obtenção de sangue venoso ou periférico,


especialmente em pacientes pediátricos, quando o volume a ser coletado é menor
que o obtido por meio de tubos a vácuo convencionais. O sangue obtido de punção
capilar é composto por uma mistura de sangue de arteríola e vênulas além de fluidos
intercelular e intersticial. O sangue capilar pode ser assim obtido: punção digital -
através de perfuração com lanceta na face palmar interna da falange distal do dedo
médio; punção de calcanhar - através de perfuração com lanceta na face lateral plantar
do calcanhar. Há uma relação linear entre o volume de sangue coletado e a profundidade
da perfuração no local da punção. Portanto, a lanceta, deverá ser selecionada de acordo
com o local a ser puncionado e a quantidade de sangue necessária. Em neonatos e bebês,
a profundidade da incisão é crítica, não devendo ultrapassar 2.4 mm, caso contrário,
haverá a possibilidade de causar sérias lesões no osso calcâneo e falange. Isto pode
ser evitado usando lancetas de aproximadamente 2 - 2.25 mm de profundidade, com
disparo semiautomático com dispositivo de segurança.

63
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

A coleta de sangue em bebês e neonatos é frequentemente problemática e difícil,


necessitando de um profissional experiente e capacitado. O sistema de microcoleta
facilita muito o trabalho, contribuindo para que a coleta possa ser mais fácil, segura e
eficiente. Dessa forma, é possível coletar sangue capilar e venoso. Desde que o método
tradicional para a coleta de sangue a vácuo não seja possível em neonatos e bebês,
deve-se recorrer ao sistema de microcoleta. A microcoleta pode ser realizada de várias
formas:

»» amostra capilar com microtubos e funil;

»» amostra capilar com microtubos e tubo capilar;

»» amostra venosa com escalpe (butterfly);

»» amostra venosa com cânula-Luer.

Antes de iniciar a punção deve-se:

»» Acoplar o microtubo ao tubo carregador ou de transporte.

»» Manter o microtubo conectado ao tubo carregador numa estante de


sustentação.

»» Introduzir o funil ou tubo capilar através da tampa de borracha.

Microcoleta (Figura 29)

1. Verificar quais os exames a serem realizados.

2. Aquecer a falange distal ou o calcanhar a ser puncionado usando uma


bolsa de água-quente ou friccionando o local da punção para estimular a
vascularização.

3. Lavar e secar as mãos.

4. Calçar luvas.

5. Fazer antissepsia do local com algodão embebido em álcool etílico a 70%.

6. Secar o local da punção com uma gaze estéril.

7. Selecionar a lanceta.

8. Segurar firmemente o neonato ou bebê, para evitar movimentos


imprevistos. No caso de punção digital deve-se posicionar o dedo e

64
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

introduzir a lanceta de forma perpendicular na face lateral interna da


falange. E na punção no calcanhar é necessário posicionar o calcanhar
entre o polegar e o indicador e introduzir a lanceta de forma perpendicular
na face lateral interna ou externa do calcanhar, evitando a região central.
Vale ressaltar que a punção deve ser feita perpendicularmente à superfície
da pele e não de outra forma, pois poderá causar inflamações.

9. Desprezar a primeira gota, por conter maior quantidade de fluidos


celulares do que sangue. Colher a amostra a partir da segunda gota.
Algumas vezes os neonatos não sangram imediatamente; se a gota de
sangue não fluir livremente, efetuar uma massagem leve para se obter
uma gota bem redonda (esta massagem no local da punção não deve ser
firme e nem causar pressão, pois pode ocorrer contaminação).

10. As gotas de sangue são captadas pelo funil ou tubo-capilar.

11. Quando o microtubo estiver com o seu volume completo, troque-o pelo
subsequente, na sequência correta de coleta.

12. Após a coleta do último microtubo, o funil ou tubo-capilar deve ser


removido e descartado. Agora o microtubo pode ser gentilmente
homogeneizado.

13. Após a coleta, pressionar o local da punção com gaze seca estéril até parar
o sangramento.

14. Descartar todo o material utilizado na coleta nos descartadores


apropriados.

Figura 29. Passo a passo da microcoleta.

Figura disponível em Manual de coleta, acondicionamento e transporte de amostras para exames laboratoriais.

65
CAPÍTULO 2
Problemas enfrentados na coleta de
sangue

Na coleta de sangue podem ocorrer alguns erros, durante e após a coleta, que irão
prejudicar os resultados dos exames.

Durante a punção da veia pode ocorrer os seguintes erros onde:

»» Mesmo após puncionar a veia o sangue não fluiu para o tubo. Esse fato
pode ocorrer devido a duas situações: a transfixação (30a) e erro na
direção da agulha 30b. Para que possa resolver estes problemas deve-se,
respectivamente, retroceder um pouco a agulha para que ela volte para
dentro da veia e localizar a veia com a sua mão livre redirecionando a
agulha.

Figura 30.

a. Transfixação b. Erro na direção da agulha.

Figura disponível em http://www.biomedicinabrasil.com/2012/04/problemas-na-coleta-de-sangue.html

»» Caso o fluxo sanguíneo foi interrompido, pode ter ocorrido, além dos
problemas acima já mencionados, uma estenose ou colabamento da
veia (Figura 31a) ou o bisel está encostando na parede superior da
veia (Figura 31b). Para resolver o problema de estenose deve-se remover
o garrote para permitir o restabelecimento da circulação. Tentar virar
lentamente o adaptador ou a seringa para que o bisel seja desobstruído e
permita a recomposição da veia. Se o tubo perder o vácuo, troque de tubo
e sempre identificando-o ao final do procedimento. Caso não se resolva
o problema é necessário que se retire a agulha e faça uma nova punção
em outro local. Já em relação ao bisel encostado na parede da veia é
necessário aumentar o ângulo da agulha em relação ao braço e depois
avance a agulha no interior da veia para permitir o fluxo sanguíneo.

66
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Figura 31.

a. Estenose b. Bisel encostado na parede superior da veia.

Figura disponível em http://www.biomedicinabrasil.com/2012/04/problemas-na-coleta-de-sangue.html

»» No caso de haver sangramento externo contínuo no local da punção


o bisel penetrou apenas parcialmente a veia (figura 32). Para
corrigir este problema é necessário introduzir a agulha corretamente na
veia. Caso o tubo perca o vácuo, troque de tubo e lembre-se de identificá-
lo ao final do procedimento.

Figura 32. Bisel penetrou apenas parcialmente a veia.

Figura disponível em http://www.biomedicinabrasil.com/2012/04/problemas-na-coleta-de-sangue.html

»» Pode ocorrer a formação de edema ou hematoma (Figura 33) após a


punção, devido à veia ter sido rompida ou ter ocorrido extravasamento
de sangue sob a pele. Quando ocorre este tipo de situação é necessário
interromper imediatamente a coleta, comprimir o local e aplicar uma
compressa de gelo.

Figura 33. Veia rompida.

Figura disponível em http://www.biomedicinabrasil.com/2012/04/problemas-na-coleta-de-sangue.html

67
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

Como já salientado anteriormente, alguns problemas que ocorrem durante a coleta


podem também provocar danos ao paciente bem como influenciar nos resultados dos
exames, estes problemas são principalmente: formação de hematomas, hemólise e
lipemia.

Hematomas
O hematoma pode ser definido como extravasamento do sangue para o tecido adjacente
ao vaso e a sua formação é bastante comum. O extravasamento de sangue é mais comum
em mulheres, idosos e crianças, pois são o que têm as veias mais finas e delicadas.
Pessoas que fazem uso de anticoagulantes ou têm veias com pressão interna alta são
mais propensas à formação de hematomas (ANDRIOLLO, 2008).

Diversas são as situações onde um hematoma pode ocorrer, podendo ressaltar (http://
www.oswaldocruz.com.br):
»» Quando as veias são mais finas do que a agulha.
»» Nas tentativas mal sucedidas como, por exemplo, uma segunda coleta na
mesma veia ou múltiplas tentativas de encontrar a veia redirecionando a
agulha.
»» Quando a agulha for retirada da veia antes de soltar o garrote.
»» Quando a manga da blusa do usuário estiver apertando o braço como um
garrote.
»» Quando, após a punção, a pressão no local for mantida por tempo inferior
a 3 minutos e/ou o local for esfregado.
»» Dobrar o braço ou carregar peso após a coleta de sangue. Grande parte
dessas situações pode ser evitada seguindo-se corretamente as orientações
deste manual.

É importante que, logo após a coleta, seja feita uma compressão no local perfurado,
pressionando por aproximadamente três minutos. Caso a punção tenha sido feita na
altura da dobra do braço, deve-se evitar flexioná-lo. Deve-se, também, observar se há
algum objeto, como relógio ou pulseiras, apertando o local. Se estas medidas não forem
tomadas ou se não surtirem efeito, algumas atitudes podem ser adotadas para eliminar
o hematoma mais rapidamente:

»» Aplicar gelo no local logo após a coleta de sangue.

»» Fazer compressas úmidas quentes 24 horas após o processo.

68
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

»» Usar cremes ou pomadas específicos, que facilitem a reabsorção de


hematomas, sempre com orientação médica.

Hemólise
A Hemólise se resulta do rompimento da membrana da hemácia, causando liberação
de hemoglobina. Além disso, a hemólise pode ser provocada por fatores interferentes
originados da lise de plaquetas e granulócitos, que pode ocorrer, por exemplo, quando o
sangue é armazenado em baixas temperaturas, e não em temperatura de congelamento
(GRANT, 2003).

Este fator é a principal causa para rejeição de amostras nos laboratórios e pode ser
identificada a olho nu, pela observação do aspecto avermelhado presente no soro ou
plasma (Figura 34).

Figura 34. Amostras com diferentes graus de hemólise.

Figura disponível em http://www.unifesp.br/dmed/patologiaclinica/laboratorio-central/manuais/manual


-de-coleta-2014-2015/view

Algumas precauções podem ser tomadas para prevenir a formação de hemólise


(Sociedade brasileira de patologia clínica medicina laboratorial, 2009):

»» Deixar o álcool secar antes de iniciar a punção.

»» Evitar usar agulhas de menor calibre. Usar esse tipo de material somente
quando a veia do paciente for fina ou em casos especiais.

»» Evitar colher o sangue de área com hematoma.

»» Em coletas a vácuo, puncionar a veia do paciente com o bisel voltado para


cima. Perfure a veia com a agulha a um ângulo oblíquo de inserção de 30
graus ou menos. Assim, evita-se que o sangue se choque com força na
parede do tubo, hemolisando a amostra, e previne-se também o refluxo
do sangue do tubo para a veia do paciente.

69
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

»» Tubos com volume de sangue insuficiente ou em excesso alteram a


proporção correta de sangue/aditivo, levando à hemólise e a resultados
incorretos.

»» Em coletas com seringa e agulha, verificar se a agulha está bem adaptada


à seringa, para evitar a formação de espuma.

»» Não puxar o êmbolo da seringa com muita força.

»» Ainda em coletas com seringa, descartar a agulha e passar o sangue


deslizando-o cuidadosamente pela parede do tubo, cuidando para que
não haja contaminação da extremidade da seringa com o anticoagulante
ou com o ativador de coágulo contido no tubo.

»» Não executar o procedimento de espetar a agulha na tampa de borracha


do tubo para a transferência do sangue da seringa para o tubo, pois
poderá criar uma pressão positiva, o que provoca, além da hemólise,
o deslocamento da rolha do tubo, levando à quebra da probe de
equipamentos.

Caso não sejam tomadas as devidas precauções acima mencionadas, devem ser
realizadas algumas ações de pós-coleta impedindo assim que ocorra hemólise (www.
unifesp.br/dmed):

»» Homogeneizar a amostra suavemente por inversão de 5 a 10 vezes, de


acordo com as instruções do fabricante e não chacoalhar o tubo.

»» Não deixar o sangue em contato direto com gelo, quando o analito a ser
dosado necessitar desta conservação.

»» Embalar e transportar o material de acordo com as determinações da


Vigilância Sanitária local, das instruções de uso do fabricante de tubos e
do fabricante do conjunto diagnóstico a ser analisado.

»» Usar, de preferência, um tubo primário; evitar a transferência de um


tubo para outro.

»» Não deixar o sangue armazenado por muito tempo refrigerado antes de


fazer os exames. Verificar as recomendações do fabricante do kit do teste.

»» Não centrifugar a amostra de sangue em tubo para obtenção de soro antes


do término da retração do coágulo, pois a formação do coágulo ainda não
está completa, o que pode levar à ruptura celular.

70
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

»» Quando utilizar um tubo primário (com gel separador), a centrifugação


e a separação do soro devem ser realizadas dentro de, no mínimo, 30
minutos e, no máximo, 2 horas após a coleta.

»» Não usar o freio da centrífuga com o intuito de interromper a centrifugação


dos tubos. Essa brusca interrupção pode provocar hemólise.

Lipemia
A lipemia é causada pela presença de grande quantidade de lipídios (gordura) no
sangue. Pode ser identificada a olho nu pela observação do aspecto turvo (leitoso)
do soro ou plasma (Figura 35). Alguns usuários em tratamento com antirretrovirais
para a infecção pelo HIV ou com outras enfermidades podem apresentar lipemia
permanente. Outros podem apresentar a lipemia transitória, comum após a ingestão
de alimentos gordurosos. Para prevenir a lipemia nos exames sorológicos deve-se
seguir as recomendações de jejum, definidas para cada tipo de exame, e evitar coletar
amostras quando o usuário tiver ingerido alimentos gordurosos a menos de quatro
horas (NIKOLAC, 2014).

Figura 35. Amostras com diferentes graus de lipemia.

Figura disponível em http://www.unifesp.br/dmed/patologiaclinica/laboratorio-central/manuais/manual-de-


coleta-2014-2015/view

71
CAPÍTULO 3
Coleta de sangue arterial

O principal objetivo da coleta de sangue arterial é analisar os gases (pO2 e pCO2) e pH


do sangue (gasometria). A gasometria é utilizada para avaliar doenças respiratórias
ou outros problemas que possam afetar os pulmões, além de determinar a eficiência
da oxigenioterapia. Através da determinação do componente ácido-base do exame
também é possível obter informações a respeito do funcionamento dos rins.

Na gasometria é possível avaliar alguns parâmetros como (http://www.sbpc.org.br).

»» pH: basicamente é um índice criado para representar a concentração de


íons hidrogênio (H+) existente em uma solução. No sangue, o pH tem
como valores normais entre 7,35 e 7,45. Quando o pH do sangue está
abaixo de 7,35 dizemos que há acidose. Ao contrário, quando o pH do
sangue está acima de 7,45 dizemos que há alcalose.

»» pO2 (pressão parcial de oxigênio): é a quantidade de pressão exercida


pela O2 dissolvido no sangue. Este parâmetro é utilizado para medir a
eficácia dos pulmões em oxigenar o sangue, ou seja, exprime a eficácia
das trocas de oxigênio entre os alvéolos e os capilares pulmonares. Seus
valores normais estão entre 80-100 mmHg. Caso um paciente apresente
um valor de pO2 menor que 80 mmHg pode-se dizer que ele apresenta
um caso de hipóxia. A hipóxia pode-se se apresentar de quatro maneiras
(VIEGAS, 2002):

›› Hipóxia hipoxêmica: a qual a deficiência de oxigênio no sangue


ocorre pela queda da pressão parcial de oxigênio alveolar. Alguns
exemplos são altitude, asma, pneumonia.

›› Hipóxia anêmica: ocorre uma deficiência na capacidade do sangue


em transportar o oxigênio dos tecidos. Algumas causas para este tipo
de hipóxia são contaminação pela inalação de monóxido de carbono
(CO), nitritos, sulfas.

›› Hipóxia estagnante: ocorre devido à deficiência circulatória.


Insuficiência cardíaca, espasmos nas artérias e tromboses são algumas
das causas que leva a este tipo de hipóxia.

›› Hipóxia histotóxica: ocorre devido à ação de toxinas sobre as

72
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

enzimas respiratórias. Alguns exemplos que possam causar este tipo


de hipóxia são o cianeto, álcool e outras substâncias tóxicas.

»» pCO2 (pressão parcial de gás carbônico): exprime a eficácia da


ventilação alveolar. Seus valores normais ficam entre 35-45 mmHg.
Caso o pCO2 esteja maior que 35 mmHg o paciente está hiperventilando
(pessoa começa a respirar muito rapidamente) isso ocorre porque há uma
rápida redução no dióxido de carbono no corpo. Algumas das causas da
hiperventilação são ansiedade, ataque de pânico, estresse, sangramento,
uso de estimulantes, gravidez, infecção nos pulmões ou algum tipo de
doença pulmonar.

»» Caso o pCO2 esteja maior que 45 mmHg o paciente está hipoventilando,


ou seja, há uma incompetência do aparelho respiratório para eliminar gás
carbônico na mesma proporção em que o gás chega aos pulmões. Várias são
as causas da hipoventilação podendo destacar acidente vascular encefálico,
neoplasia, infecção, hemorragia, poliomielite, hipotiroidismo, fibrotórax,
obesidade, asma, fibrose cística, entre outras.

»» HCO3- (equilíbrio ácido-básico sanguíneo): as alterações


na concentração de bicarbonato no plasma podem desencadear
desequilíbrios ácidos-básicos por distúrbios metabólicos. Os valores
normais estão entre 22-26 mEq/L. Paciente que apresente HCO3- maior
que 28 mEq/L com desvio do pH > 7,45 está em alcalose metabólica. Se o
HCO3- estiver menor que 22 mEq/L com desvio do pH < 7,35, o paciente
está em acidose metabólica.

»» SaO2 (saturação de oxigênio): relação entre o conteúdo de oxigênio


e a capacidade deste, expressa em percentual. O valor normal deste
parâmetro é maior que 95%.

Geralmente a gasometria é realizada a partir do sangue arterial, para realizar a coleta


deste tipo sangue são necessários os seguintes materiais (VIEGAS, 2002):

»» Luvas de procedimento.

»» Seringa de 3 mL (diferentemente da coleta de sangue venoso, a coleta de


sangue arterial somente pode ser realizada utilizando agulha e seringa).

»» Escalpe.

»» Agulha 40 x 12.

73
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

»» Anticoagulante (heparina).

»» Álcool a 70%.

»» Algodão.

»» Cuba rim.

»» Adesivo absorvente.

A coleta do sangue arterial deve ocorrer preferencialmente na artéria radial, braquial


ou a femoral. Devem ser evitados locais que contenham inflamação, irritação, fístula e
edema (Figura 36).

Figura 36. Local de punção para coleta sangue arterial.

Figura disponível em WWW. enfermagembydiogo.blogspot.com

O procedimento para coleta de sangue arterial ocorre da seguinte maneira:

»» Lavar as mãos.

»» Separar o material, colocando-os na cuba rim.

»» Heparinizar a seringa, para não formar coágulos.

»» Orientar o cliente e/ou o acompanhante sobre o que será feito.

»» Posicionar o cliente confortavelmente.

»» Caso o cliente esteja em oxigenioterapia, suspender por 20 minutos antes


de coletar (altera o resultado).

»» Observar a presença de “pulso” e as condições da artéria a ser puncionada.

74
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

»» Realizar a antissepsia com álcool a 70%.

»» Palpar a artéria com os dedos: indicador e médio, sentindo a pulsação e


abrir um espaço entre os dois, onde será realizada a punção.

»» Introduzir o bisel da agulha voltado para cima, em um ângulo de 90° em


relação à artéria, aprofundando a agulha até que se tenha um refluxo fácil
de sangue na seringa.

»» Após a coleta da amostra, comprimir o local por 5 a 10 minutos (no caso


da artéria femural comprimir por 20 minutos).

»» Colocar o adesivo absorvente.

»» Encaminhar a amostra ao laboratório o mais rápido possível para não


alterar a amostra e se ter um resultado mais preciso.

»» Anotar o procedimento em impresso próprio, no prontuário do cliente.

O Teste de Allen deve ser realizado caso ocorra espasmo de uma das artérias, a outra
produzirá perfusão sanguínea adequada para a mão. Para realizar este teste deve-se
comprimir com ambas as mãos as duas artérias do paciente (radial e ulnar), com forte
compressão com dedos indicador e médio, solicitando ao paciente para abrir e fechar
as mãos oito vezes. Interromper a compressão de uma artéria e verificar a coloração da
palma da mão, que deverá ser vermelha e não pálida. Repetir o procedimento com a
outra artéria (VIEGAS, 2010).

O Teste positivo (+) se dará quando houver uma vermelhidão, flush, até 15 segundos
indicando a presença da circulação colateral. Será Teste negativo (-) se em 15 segundos
não houver o flush, isso indica a inabilidade da artéria ulnar para suprir adequadamente
de sangue a mão. Este local não deve ser usado para coleta (VIEGAS, 2010).

Assim como no caso da coleta de sangue venoso há alguns erros na coleta e/ou amostra
que podem levar à alteração de resultados. Estes erros são:

»» Sangue proveniente de paciente errado no caso de identificação incorreta.

»» Sangue proveniente de pacientes durante trocas na terapia de ventilação


ou durante o período de hiperventilação induzida pelo estresse do
paciente.

»» O sangue coletado deve ficar no máximo 30 minutos no gelo.

»» A leitura da amostra não deve passar de 60 minutos.

75
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

»» Bolhas de ar na seringa ou seringa sem vedação da agulha pode provocar


um aumento no valor do pO2 em cerca de 11mmHg.

»» Quantidade excessiva de heparina pode reduzir o valor da pCO2 em cerca


de 40% e pode alterar o pH.

»» Volume insuficiente de sangue ou sangue coagulado.

Alguns interferentes também podem provocar alterações nos resultados de


gasometria, tais como:

»» Valores de bilirrubinas acima de 10mg/dL interferem nos resultados de


saturação da pO2.

»» Soluções lipídicas acima de 50 mg/dL interferem nos resultados de


saturação da pO2.

»» Amostras hemolisadas interferem nos resultados de saturação da pO2.

»» Amostras diluídas interferem nos resultados de saturação da pCO2.

76
CAPÍTULO 4
Coleta de sangue para testes rápidos

Os testes rápidos vêm sendo cada vez mais utilizados para o diagnóstico da infecção
pelo HIV e da sífilis porque possuem qualidade similar aos testes já utilizados na rotina
laboratorial, com a vantagem de apresentarem resultado em no máximo 30 minutos, e
leitura a olho nu, sem a necessidade de equipamentos especiais.

Estes testes rápidos e outras metodologias são indicados pela PORTARIA SVS/MS Nº
151, DE 14 DE OUTUBRO DE 2009.

O principal teste rápido utilizado é a coleta de sangue em papel filtro, a qual é semelhante
à microcoleta para bebês descrita no capítulo 4. Este teste é utilizado há muitos anos
nos estudos de triagem neonatal de doenças metabólicas congênitas e é bem sucedida
na triagem de várias infecções como, por exemplo, a infecção pelo HIV.

Em virtude da facilidade da coleta, do transporte, da estocagem e do processamento


este tipo de coleta vem cada vez mais sendo aplicada, em especial para programas de
triagem de doenças infecciosas e análises epidemiológicas de grande escala. Este tipo
de coleta apresenta principalmente duas vantagens:

»» É necessária somente uma pequena quantidade de sangue, obtida


facilmente por meio de uma picada no dedo, esta é suficiente para a
realização de vários exames.

»» As amostras secas em papel-filtro não exigem refrigeração, podem ser


encaminhadas, inclusive pelos Correios, reduzindo significativamente os
custos do transporte.

Os materiais necessários para realização desta coleta são:

»» Cartão de coleta com círculos demarcados em papel-filtro e área para


identificação da amostra.

»» Luvas.

»» Gaze ou algodão hidrófilo.

»» Álcool etílico 70 % (p/p).

»» Lanceta.

77
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

»» Recipiente com paredes rígidas para descarte de material perfurocortante.

»» Caneta esferográfica.

»» Suporte para secagem.

Procedimento da coleta:

A coleta deve ser procedida da seguinte maneira (Figura 38):

1. Antes de iniciar a coleta, pedir ao usuário que higienize as mãos com água
e sabão e posterior uso de álcool 70%.

2. Observe os dedos do usuário e escolha preferencialmente a ponta do dedo


médio, anelar ou indicador ou o dedo que tiver menos calosidade.

3. Se a mão do usuário estiver muito fria, o fluxo de sangue estará diminuído,


dificultando a coleta. Aqueça a mão do usuário massageando-a ativamente
ou, ainda, caso esteja disponível, utilize uma toalha umedecida em água
quente.

4. Posicione-se em frente ao usuário.

5. Segure a mão do usuário com o lado da palma para cima, numa altura
abaixo do cotovelo. Pressione levemente a mão na direção do punho para
o dedo no qual será realizada a coleta.

6. Faça a antissepsia no local de coleta do dedo com gaze ou algodão


embebidos em álcool 70% (p/p).

7. Deixe o álcool secar espontaneamente.

8. Posicione a lanceta na parte lateral da ponta do dedo.

9. Pressione firmemente a lanceta contra o dedo e perfure a pele.

10. Despreze a lanceta em recipiente para descarte de material perfurocortante.

11. Pressione o dedo do usuário próximo ao local da punção para promover


a formação da gota de sangue.

12. Mantenha a mão do usuário levemente inclinada para evitar que a gota
escorra.

78
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

13. Coloque o cartão de coleta próximo à área puncionada, sem tocar no dedo.
Faça uma leve pressão na base do dedo até que se forme uma grande gota.

14. Deixe pingar uma gota dentro do primeiro círculo impresso no cartão de
coleta. Não encoste o papel na gota. Você pode pingar mais uma gota caso
o círculo não tenha sido totalmente preenchido. Recomendação: Aplique
o sangue apenas em um lado do papel-filtro – o que contém o círculo
impresso.

15. Repita a leve pressão no dedo e aplique uma gota no segundo círculo,
impresso no cartão.

16. Preencha todos os círculos repetindo o procedimento acima: leve pressão


no dedo até a formação da gota e colocação no círculo no papel-filtro.

17. Após preencher todos os círculos, cubra com gaze ou algodão o local
puncionado no dedo e solicite que o usuário faça pressão no local.

18. Verifique se o fluxo de sangue cessou. Caso contrário, solicite que o


usuário mantenha a pressão por mais tempo.

Figura 37: Coleta de sangue em papel-filtro.

Figura disponível em Coleta de sangue: Diagnóstico e monitoramento das DST, Aids e Hepatites Virais,2010.

Há também um meio de realizar esta técnica por meio da coleta por punção venosa e
aplicação em papel-filtro. Para tanto, deve-se coletar sangue total em tubo contendo o
anticoagulante EDTA, podendo utilizar tanto a coleta com seringa e agulha quanto o
sistema a vácuo. Logo, deve-se homogeneizar cada tubo entre 5 e 10 vezes; e pipetar
50μL de sangue total no centro de cada círculo do cartão. Deve-se cuidar para que a
área do cartão contendo o sangue não toque em nada.

Após secagem das amostras, o papel-filtro contendo sangue deve ser armazenamento
em temperatura ambiente, desde que fique longe de fonte de luz solar direta e em baixa
umidade. Para reduzir a umidade, coloque no interior do envelope um ou mais sachês
dessecantes.

79
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

Caso seja necessário armazenar por períodos de até dois anos, as amostras devem
permanecer em geladeira. E o armazenamento por tempo superior a dois anos
pode ser realizado caso a amostra permaneça a -20ºC. Condições inadequadas de
armazenamento podem comprometer a integridade da amostra.

As amostras devem ser transportadas em temperatura ambiente. Envelopes contendo


amostras estocadas em geladeira ou a -20ºC devem permanecer fechados e colocados
em temperatura ambiente. Quando atingirem a temperatura ambiente, devem ser
abertos e o sachê dessecante substituído antes do seu envio. O envelope contendo os
cartões deve ser acondicionado em outro envelope mais espesso, endereçado e selado
com cola de boa qualidade e remetido para o laboratório que irá realizar as análises.

Após a coleta de sangue, alguns testes rápidos para determinação de anticorpos ou


antígenos podem ser realizados, entre eles estão: Testes por imunocromatografia
de fluxo lateral; Testes por imunocromatografia de dupla migração; Testes por
imunoconcentração; Testes por aglutinação e Testes por fase sólida.

Testes por imunocromatografia de fluxo lateral


Estes tipos de testes estão sendo amplamente aplicados a diferentes patógenos, por
permitir resultado rápido, baixo custo, estabilidade em longo prazo, facilidade de
aplicação e leitura dos resultados.

Para realização deste teste utiliza-se uma membrana de nitrocelulose que é dividida em
quatro áreas (Figura 38):

Figura 38: Ilustração do funcionamento de um teste rápido de fluxo lateral.

=
Figura disponível em http://telelab.aids.gov.br.

Área da amostra (A): onde a amostra é colocada e sobre esta, em seguida, é aplicada
a solução tampão.

Área intermediária (I): contém o conjugado, geralmente composto de ouro coloidal


ligado a anticorpos. Os anticorpos da amostra fluem lateralmente pela membrana e

80
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

passam por esta área iniciando a ligação com o conjugado prosseguindo em direção à
área de teste (T).

Área de teste (T): contém os antígenos fixados à membrana de nitrocelulose, assim o


complexo anticorpo-conjugado liga-se aos antígenos do agente infeccioso investigado e
forma uma banda colorida. Nesta área se lê o resultado da amostra testada.

Área de controle (C): nesta área o conjugado não ligado ao anticorpo continua a
migração ao longo da membrana de nitrocelulosee e é capturado por anticorpos anti-
imunoglobulina, formando outra banda. Esta área permite a validação do teste.

O resultado deste teste pode se apresentar das seguintes maneiras (quadro 3):

Quadro 3: Interpretação dos resultados do teste de imunocromatografia de fluxo lateral

(adaptado de http://telelab.aids.gov.br/).

Resultado Interpretação

Reagente ou positivo: formação de duas bandas (área de


teste - T e controle - C).

Não reagente ou negativo: formação apenas da banda de


controle (C).

Inválido: quando não houver linha colorida, na área de controle


(C).

Testes por imunocromatografia de dupla


migração
Estes tipos de testes, assim como os testes por imunocromatografia de fluxo
lateral, utilizam uma membrana de nitrocelulose com antígenos ligados a ela. Estes
testes são divididos em três áreas (Figura 39):

81
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

Figura 39: Ilustração do funcionamento do teste rápido Imunocromatografia de dupla migração.

Figura disponível em http://telelab.aids.gov.br.

Área 1: onde a amostra e o tampão são aplicados, logo, migram para área 3.

Área 2: onde se aplica o tampão para permitir a migração do conjugado (composto por
proteína A e partículas de ouro coloidal).

Área 3: contém os antígenos fixados e se houver anticorpos na amostra, eles irão se ligar
a esses antígenos. Área em que se faz a leitura do teste e do controle. Com a concentração
do ouro coloidal da área 2 é possível visualizar a presença de uma banda, de cor rosa ou
púrpura, que indica a presença de anticorpos na amostra. O conjugado continua o fluxo
até ligar-se ao reagente da área de controle, resultando no aparecimento de uma linha
rosa ou púrpura, indicando que o resultado é válido.

Basicamente a migração do conjugado ocorre perpendicularmente ao fluxo da amostra.


A proteína A do conjugado se liga às imunoglobulinas.

O quadro 4 mostra como é realizada a leitura de resultados deste teste.

82
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Quadro 4: Interpretação dos resultados do teste de Imunocromatografia de dupla migração

(adaptado de http://telelab.aids.gov.br/).

Resultado Interpretação

Reagente ou positivo: formação de duas bandas (área de teste - T e controle -


C).

Não reagente ou negativo: formação apenas da banda de controle (C).

Inválido: quando não houver linha colorida, na área de controle (C).

Testes por imunoconcentração


Estes testes utilizam um dispositivo contendo uma membrana de nitrocelulose ou de
náilon, na qual estão imobilizados antígenos do agente infeccioso investigado. Sob a
membrana de nitrocelulose ou de náilon há uma membrana absorvente (Figura 40).

83
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

Figura 40: Ilustração do funcionamento do teste rápido Imunoconcentração.

Figura disponível em http://telelab.aids.gov.br

Estes testes funcionam da seguinte maneira: primeiramente a amostra é colocada


sobre a membrana. Ao passarem pela área onde estão imobilizados os antígenos do
agente infeccioso investigado, os anticorpos da amostra, quando estão presentes,
ligam-se, formando um complexo. Em seguida, é adicionado o conjugado (proteína A
e ouro coloidal). A proteína A do conjugado vai se ligar aos anticorpos do complexo e a
concentração do ouro coloidal permitirá a visualização de um ponto colorido.

Resultados destes testes podem ser observados no quadro 5.

Quadro 5: Interpretação dos resultados do teste de Imunoconcentração (adaptado de http://telelab.aids.gov.br/).

Resultado Interpretação

Reagente ou positivo: formação de duas bandas (área de teste - T e controle - C).

Não reagente ou negativo: formação apenas da banda de controle (C).

Inválido: quando não houver linha colorida, na área de controle (C).

84
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Testes rápidos por fase sólida


Estes testes se baseiam no teste imunológico com revelação enzimática do tipo indireto
– ELISA (do inglês enzyme-linked immunosorbent assay), o qual basicamente o
conjugado é composto por uma anti-imunoglobulina humana ligada a uma enzima.

A fase sólida se apresenta na forma de um pente com 12 dentes que contém três áreas:
uma com anticorpos anti-imunoglobulina humana (para o controle da reação); uma
com antígenos; e alguns kits podem apresentar mais antígenos no pente (Figura 41).

Figura 41: Esquema ilustrativo do teste rápido por fase sólida.

Figura disponível em http://telelab.aids.gov.br

Este teste funciona da seguinte maneira: primeiramente os dentes do pente são


colocados em um recipiente que contenha a amostra de sangue. Logo as imunoglobulinas
da amostra vão se ligar às anti-imunoglobulinas da área de controle e formarão um
complexo. Se estiverem presentes, os anticorpos vão se ligar à área com antígeno,
formando um complexo. Em seguida, o pente deve ser colocado em outro recipiente com
o conjugado (anti-imunoglobulinas conjugadas com uma enzima), e haverá a ligação
das anti-imunoglobulinas do conjugado com os complexos formados na etapa anterior.
E por fim, o pente é colocado em um terceiro recipiente com o substrato (cromógeno +
H2O2). A presença dos anticorpos será revelada pela formação de círculos coloridos, na
área do controle e nas áreas que contêm anticorpos.

O quadro 6 ilustra os possíveis resultados relacionados com estes testes.

85
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

Quadro 6: Interpretação dos resultados do teste rápido por fase sólida (adaptado de http://telelab.aids.gov.br/).

Resultado Interpretação

Reagente para HIV-1: círculo colorido na área indicada para HIV-1 e na área de controle (C).

Reagente para HIV-2: círculo colorido na área indicada para HIV-2 e na área de controle (C).

Não regente: quando não houver linha colorida, na área de controle (C).

Inválido: quando não houver linha colorida, na área de controle (C).

86
CAPÍTULO 5
Hemocultura

A hemocultura é realizada em casos de suspeita de bacteremia ou fungemia, termos que


designam a indicação da presença de microrganismos viáveis na corrente sanguínea.
Idealmente, a coleta deve ser feita antes do início da antibioticoterapia de pacientes que
configurem quadro clínico sugestivo de infecção e suficiente para serem submetidos à
internação e que apresentem febre (> 38ºC) ou hipotermia (< 36ºC), leucocitose (>
10.000/ mm3, especialmente com desvio à esquerda) ou granulocitopenia absoluta (<
1000 leucócitos/mm3).

Para maior confiabilidade dos resultados recomenda-se coletar no mínimo duas


até quatro amostras por episódio infeccioso, o que permite o isolamento do agente
bacteriano ou fúngico em mais de 95% dos eventos. Vale salientar que uma amostra de
hemocultura corresponde a uma punção e cada punção corresponde a dois frascos para
adultos ou um frasco para pacientes pediátricos até 13kg.

Conforme descrito anteriormente é preferível que a coleta da hemocultura ocorra


antes do início da antibioticoterapia. Entretanto, caso o paciente esteja em vigência
de antimicrobianos, as hemoculturas devem ser obtidas imediatamente antes da
administração da próxima dose. Preferencialmente são coletadas por punção venosa,
tão logo se inicie o aumento de temperatura do paciente. A coleta de sangue arterial não
está associada com aumento da sensibilidade e não é recomendada, em princípio.

Cada amostra deve ser coletada de punções separadas e de sítios anatômicos diferentes.
Vários frascos com sangue de uma mesma punção são considerados uma mesma
amostra ou cultura de sangue. O estado clínico do paciente é que vai determinar o
momento e o intervalo entre as coletas. Em geral, nas infecções agudas, recomenda-se
a coleta de duas a três amostras (dois frascos por punção/amostra) em curto espaço de
tempo, ou seja, sequenciais ou dentro de 1 hora. A coleta de hemoculturas em intervalos
maiores de 1 a 2 horas entre as amostras pode ser recomendada para monitorar ou
documentar bacteriemia contínua em pacientes com suspeita de endocardite ou
infecção endovascular associada a dispositivos invasivos.

O volume de sangue é uma das variáveis mais críticas para a positividade do exame,
pois quanto maior o volume, maior será a chance de positividade. Todavia, é necessário
respeitar a idade do paciente (adulto ou criança) e o volume recomendado pelo

87
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

fabricante para os tipos de frascos utilizados, mantendo a proporção de sangue / caldo


de cultura de 1:5 a 1:10. Para adultos, coleta-se 5 a 10ml de sangue por frasco em cada
punção, totalizando 20ml, distribuídos pelo número de frascos indicados, ou seja, um
par de frascos por punção/amostra. O quadro 7 resume de forma adequada o volume
de sangue por amostra de hemocultura.

Quadro 7. Volume de sangue sugerido para hemocultura de acordo com peso do paciente (adaptado de

ARAUJO e colaboradores, 2012).

Peso Volemia Volume de sangue por Volume total de sangue


% da volemia
(kg) (mL) amostra (mL) p/ cultura (ml)

≤1 50-99 2 2 4
11-2 100-200 2 4 4
2-12,9 >200 4 6 3
13-36 >800 10 20 2,5
>36 >2,200 20-30 40-60 1,8-2,7

O tipo de frasco também é de extrema importância para a hemocultura. Tradicionalmente,


um par de hemoculturas compreende um frasco aeróbio e um anaeróbio. Caso ocorra
de a amostra obtida possuir volume total inferior ao preconizado por frasco, o maior
volume de sangue deve ser inoculado no frasco aeróbio para que não haja perda na
detecção de bacteriemias causadas por Pseudomonas aeruginosa ou Stenotrophomonas
maltophilia, que são aeróbios estritos. O menor volume restante deve ser inoculado no
frasco anaeróbio (Quadro 8).

Um ponto muito importante é ficar atento quando for coletada mais de uma amostra,
anotar nos respectivos frascos (aero e anaero) quais frascos são do mesmo local de
punção ou sítio anatômico.

Quadro 8. Tipos de frasco e volume de sangue sugerido por amostra de hemocultura

(adaptado de ARAUJO e colaboradores, 2012).

Crianças de 13 a
Crianças até 13 kg Crianças > 36 kg e adultos
36 kg
Frasco aeróbio 1 a 4 mL 5 mL 5 a 10 mL
Frasco anaeróbio - 5 mL 5 a 10 mL
Volume total/amostra 1 a 4 mL 10 mL 20 mL

88
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Coleta
Segundo, Araujo e colaboradores (2012), O procedimento de uma coleta para
hemocultura deve seguir os passos descritos a seguir (Figura 43):

1. Preparar o material, dispor a etiqueta de identificação no frasco, anotando


o nome do paciente, leito, data, hora e local de coleta (sítio anatômico),
imediatamente ao procedimento.

2. Limpar a tampa de borracha com algodão embebido em álcool 70%.


Manter o algodão sobre o frasco até o momento da punção ou proceder
conforme as instruções do fabricante.

3. Escolher o melhor local de punção para a coleta de sangue. Colocando o


garrote e apalpando livremente as veias do paciente para escolher a mais
calibrosa e menos móvel. Soltar o garrote.

4. Fazer a antissepsia com clorexidine alcoólico 0,5%, friccionando a pele


em círculos semiabertos a partir do ponto a ser puncionado. Secar por
30 segundos. Em seguida, aplicar novamente clorexidine alcoólico 0,5%
utilizando novo algodão ou gaze. Esperar cerca de 30 segundos para
secar, repetir o procedimento por mais uma vez e aguardar secar.

5. Colocar novamente o garrote e puncionar a veia com agulha e seringa ou


dispositivo para coleta a vácuo, sem tocar diretamente no local de punção.

6. Coletar de 5 a 10 mL de sangue (adultos) ou de 1 a 4 mL de sangue


(crianças) para cada frasco.

7. Ao retirar a agulha, fazer compressão local com algodão seco, sem


flexionar o braço.

8. Transferir a amostra para os frascos de hemocultura, colocando


primeiramente o sangue no frasco anaeróbio (sem troca de agulhas).
Se a coleta for realizada com escalpe e adaptador próprio (sistema de
coleta fechado a vácuo), inocular primeiro o frasco aeróbio. Importante
lembrar que, nesse caso, os frascos de hemocultura devem permanecer
em pé durante toda a etapa de coleta, para evitar refluxo para a veia do
paciente. Observar o volume correto verificando a guia de marcação na
etiqueta do próprio frasco, já que a maioria deles não tem volumes de
aspiração a vácuo calibrados. Utilizar um conjunto de seringa - agulha ou
dispositivo próprio de coleta a vácuo para cada punção/amostra.

89
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

9. Dispensar o material de punção em local apropriado (caixa de


perfurocortante).

Figura 42: Coleta de hemocultura e frascos para hemocultura.

Figura disponível em www.bd.com/

90
CAPÍTULO 6
Coleta de testes de coagulação

Para realizar a coleta para os testes de coagulação o documento CLSI H21-A5


recomenda que algumas informações sejam fornecidas para interpretação da análise
dos resultados, tais como: nome da medicação em uso, horário da última tomada da
medicação e horário da coleta.

Os testes de coagulação são separados conforme descrito no quadro 9.

Quadro 9. Testes de coagulação (adaptado de RENDRIK et al, 2001).

Avaliação da função plaquetária Avaliação da coagulação Avaliação da fibrinólise


1. Contagem de plaquetas. 1. Tempo de protrombina. 1. Tempo de lise do coágulo.
2. Retração do coágulo. 2. Tempo de tromboplastina. 2. Fibrin Plate Test.
3. Tempo de sangramento. 3. Tempo de trombina.
4. Tempo de coagulação do sangue total in vitro. 4. Determinaçãodo fibrinogênio.
5. Agregação plaquetária. 5. Determinação de produtos da degradação da
fibrina.
6. Adesividade plaquetária.
6. Determinação do antígeno do fator Von
Willebrand.

Independente do teste de coagulação a ser realizado, as amostras deverão ser coletadas


através da utilização de seringa e/ou sistema a vácuo que permita uma coleta rápida,
com tempo de garroteamento mínimo. A relação sangue x anticoagulante deve ser
respeitada, ou seja, a quantidade de sangue coletada deve preencher o tubo até a marca,
de acordo com orientação do fabricante, para que tenhamos uma proporção correta de
nove partes de sangue e uma de anticoagulante (citrato). As coletas devem ser feitas
sempre em tubos de vidro siliconizados ou tubos de poliestireno, pois tubos de vidro
ativam a coagulação (www.diagnosticosdobrasil.com.br/).

Centrifugar a amostra imediatamente após a coleta por 15 minutos a 3000 rpm. Em


seguida, separar o plasma cuidadosamente em um tubo de transporte. O processo de
centrifugação deve ser repetido e transferir novamente o sobrenadante para um tubo de
transporte. Esse procedimento deve ser realizado para obtenção de um plasma pobre
em plaquetas. As plaquetas interferem no resultado do exame, pois podem aumentar o
tempo de coagulação. Também não é recomendado o envio de sangue total congelado,
pois a estabilidade deste material para as provas de coagulação é muito baixa (RENDRIK
e colaboradores, 2001).

91
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

Alguns interferentes causam alterações nos resultados e por isso as amostras devem ser
descartadas. Estes interferentes são: amostra com hemólise, amostra lipêmica, amostra
Ictérica, amostra descongelada e amostra coletada com outro anticoagulante.

O tempo de retração do coágulo e tempo de sangramento serão abordados de


forma mais completa neste capítulo, uma vez que apresentam algumas especificidades
importantes.

Tempo de retração do coágulo


(http://docslide.com.br/documents/tcnicas-de-coagulao-apostila.html)

A retração é a fase final do processo de coagulação e está diretamente ligada à atividade


funcional adequada das plaquetas. O coágulo pode estar alterado em volume na presença
de plaquetopenia e nas anemias. A avaliação da retração tem sua maior utilidade na
avaliação de deficiências funcionais das plaquetas. É quando a retração se encontra
diminuída, mesmo na presença de um número normal de plaquetas. Esta técnica pode
ser influenciada pela quantidade de trombina e da fibrinogênio e por valores alterados
do hematócrito.

O princípio deste exame é basicamente: após a coagulação do sangue, que o coágulo


formado se retraísse ou mais precisamente, retraísse a rede de fibrina, retendo
os elementos figurados do sangue e liberando a parte líquida, o soro. A retração do
coágulo é devida à liberação de substâncias, pelas plaquetas localizadas nos pontos
de intersecção das malhas da rede de fibrina. O volume de soro liberado é expresso
percentualmente em relação ao volume inicial do sangue que se deixou coagular. A
retração de coágulo está relacionada diretamente ao número e à funcionalidade das
plaquetas e inversamente proporcional ao grau de anemia.

Para realização deste exame o paciente deve estar em jejum de 4 horas. A técnica deste
teste ocorre em quatro passos:

1. transferir cerca de 5 ml de sangue, sem anticoagulantes para um tubo


cônico graduado, cujas paredes foram previamente umedecidas com
solução fisiológica;

2. fechar o tubo com uma rolha provida de um fio de arame com a ponta
retorcida “em anzol”;

3. após a coagulação do sangue, colocar o tubo em banho a 37ºC por 1 hora;

92
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

4. ler, a seguir, o volume total (coágulo e soro). Com o auxílio do fio de


arame, retirar cuidadosamente o coágulo retraído; ler o volume final do
soro.

Tempo de sangramento
(HENRY, 2001)

Este teste é usado para medir a duração do sangramento após uma incisão de pele. O
tempo de sangramento é medido principalmente pelos métodos de Duke e Ivy. O tempo
de sangramento depende da elasticidade da parede do vaso sanguíneo ou da quantidade
e capacidade funcional das plaquetas. Apesar deste teste ser usualmente efetuado em
pacientes com histórias pessoais ou familiares de desordem de sangramento, ele também
é útil para rastreamento pré-operatório, junto com uma contagem de plaquetas. Ele
raramente é recomendado quando a contagem de plaquetas é < 75.000/microlitro.

Os objetivos deste teste são avaliar a função hemostática global bem como detectar
desordens congênitas e adquiridas de função plaquetária.

A coleta deste exame depende do tipo de método utilizado.

Método de Ivy (Figura 43) (GORINA, 1996):

1. Introduzir uma lâmina nova no molde (template).

2. Aplicar um esfigmomanômetro (aparelho de pressão) no braço do paciente


no qual nenhuma veia tenha sido puncionada. Selecionar uma área de
teste na superfície volar (anterior) do antebraço, 5 a 10 cm abaixo do
sulco do cotovelo, em que não haja lesões, pelos e nem veias superficiais.

3. Limpar com álcool 70% e deixar secar.

4. Inflar o esfigmomanômetro a 40 mmHg e manter essa pressão durante


todo o teste (verificar e corrigir amiúde).

5. Ter à mão o cronômetro. Numa rápida sucessão, fazer uma incisão no


local preparado, em ângulo reto com o eixo longitudinal do antebraço
(para minimizar o tamanho da cicatriz) e acionar o cronômetro.

6. A cada 30 segundos, absorver o sangue vertido da incisão, com papel de


filtro, mas sem esfregar o corte.

93
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

7. Parar o cronômetro quando o papel de filtro não apresentar mais nenhuma


nova mancha de sangue.

8. Afrouxar a pressão do esfigmomanômetro e removê-lo.

9. Fazer curativo com Band-aid ou similar.

10. Contar o número de gotas ou manchas de sangue do papel de filtro e


multiplicar por 30 segundos, obtendo assim, o tempo de sangramento
com precisão de 30 segundos.

Figura 43: Tempo de sangramento – método Ivy.

Figura disponível em http://images.slideplayer.com.br/

Método de Duke (Figura 44) (Manual de exames: Instituto de Patologia clínica


Hermes Pardini 2003/2004):

1. Desinfetar o lóbulo da orelha com álcool 70%.

2. Deixar secar e esperar que a região volte à sua temperatura normal.

3. Com um estilete descartável, puncionar o lóbulo e acionar o cronômetro.

4. A cada 30 segundos absorver a gota de sangue sem esfregar a incisão.

5. Parar o cronômetro quando o papel de filtro não absorver mais nenhuma


gotícula de sangue.

94
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

6. Contar o número de gotas de sangue no papel de filtro e multiplicar por


30 segundos, obtendo assim, o tempo de sangramento com precisão de
até 30 segundos. Limpar o lóbulo da orelha.

Figura 44: Tempo de sangramento – método Duke.

Figura disponível em lookfordiagnosis.com

95
CAPÍTULO 7
Teste de tolerância oral à glicose e
outras provas funcionais

Provas funcionais são aquelas em que o organismo do paciente é estimulado ou


suprimido, de alguma forma, antes da coleta do exame, por administração endovenosa
ou ingestão de medicamento ou substância, por meio de exercícios ou, até mesmo,
permanecendo por um período em repouso. Recomenda-se que estes testes tenham
acompanhamento médico e que o laboratório disponha de um local separado para sua
realização. Devido à particularidade de se fazer coleta seriada de sangue para as provas
funcionais, o uso de escalpe é o mais indicado e, em geral, o ideal é puncionar uma só
vez este paciente (SCHARF, 2013).

Para realização destes testes é usada a técnica de utilização do escalpe para provas
funcionais, para o sistema de coleta múltipla de glicose utiliza-se o escalpe com sistema
a vácuo e tubo fluoreto e para sistema para coleta múltipla de provas funcionais é
utilizado o escalpe com sistema a vácuo e o tubo gel separador.

Os materiais utilizados para estes testes são (HENRY, 2001):

»» Seringa descartável de 10,0 mL.

»» Solução fisiológica (ampola de 10,0 mL).

»» Tubo para coleta de sangue a vácuo, tampa vermelha, siliconizado de


10.0 mL, ou um tubo de descarte.

»» Tubos específicos para as provas a serem testadas.

»» Escalpe para coleta múltipla de sangue a vácuo, ou cateter.

»» Bandagem oclusiva. Em coletas de provas funcionais, na maioria das


vezes, é necessário manter o acesso venoso do paciente viável para as
coletas seriadas. Isto pode ser feito por meio da injeção de uma solução
de salina no escalpe, para evitar a formação de coágulos no tubo vinílico
do escalpe.

96
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

Teste oral de tolerância à glicose


O teste de tolerância à glicose é considerado um exame auxiliar para diagnóstico de
Diabetes mellitus e hipoglicemia.

Passo a passo da coleta


(Coleta de sangue: Diagnóstico e monitoramento das DST, Aids e Hepatites Virais, 2010)

1. Conferir o material a ser usado no paciente.

2. Informá-lo sobre o procedimento, recebendo-o de forma cortês.

3. Realizar a higienização das mãos.

4. Calçar as luvas de procedimentos.

5. Posicionar o braço do paciente, inclinando-o para baixo, na altura do


ombro.

6. Se o torniquete for usado para seleção preliminar da veia, pedir para que
o paciente abra e feche a mão, faça a escolha da veia a ser puncionada, e
afrouxe-o. Esperar 2 minutos para usá-lo novamente.

7. Fazer a antissepsia local.

8. Garrotear o braço do paciente.

9. Retirar o escalpe da embalagem.

10. Realizar a punção com o bisel da agulha voltado para cima, para melhor
visualizar a veia, esticar a pele com a outra mão. Colocar um esparadrapo/
micropore para prender o “butterfly” no braço do paciente.

11. Retirar o garrote do braço do paciente.

12. Realizar coleta do primeiro ponto (jejum) de glicemia.

13. Conectar a seringa de 10,0 mL no adaptador, injetar cuidadosamente a


solução salina até que a extensão do escalpe se apresente limpa (1,0 a 2,0
mL). É importante ter atenção e cuidado para não injetar a solução na
veia do paciente.

14. Administrar via oral o Glutol (300 mL) ao paciente, no caso de crianças
com até 42 kg de peso, deve-se administrar 7 mL/kg de peso, crianças
97
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

acima de 42 kg de peso administrar o frasco do Glutol. A administração


não deve exceder o tempo de 5 (cinco) minutos.

15. O profissional deve marcar o tempo da próxima coleta após o paciente


terminar de ingerir o glutol. Teste Oral de Tolerância à Glicose: 120
minutos após ingestão completa do Glutol Curva Glicêmica 3 horas:
tempos 30, 60, 90, 120 e 180 minutos após ingestão completa do Glutol.
Curva Glicêmica 5 horas: tempos 30, 60, 90, 120, 180, 240 e 300 minutos
após ingestão completa do Glutol.

16. Na próxima coleta, introduzir uma nova seringa e aspirar de 1,0 a 2,0
mL de sangue, com a finalidade de limpar toda a solução da extensão do
escalpe.

17. Realizar uma nova coleta de acordo com o horário.

18. Novamente, injetar cuidadosamente, a solução salina para manutenção


(caso seja necessário) até que a extensão do escalpe se apresente limpa
(1,0 a 2,0 mL), tomar cuidado para não injetar a solução na veia do
paciente, proceder assim até o final do teste.

Os valores de referência deste exame são mostrados no quadro 10.

Quadro 10: Valores de referência ao exame de tolerância à glicose (adaptado de Report of the Expert Comitte

on the Diagnosis and classification of Diabetes mellitus. Clinical recommendations)

Categoria Glicemia de jejum (mg/dl) 2h após ingestão de glutol


Normal < 100 < 140
Glicemia de jejum alterada 100 – 125 ------
Intolerância ao carboidrato ------ 140 – 199
Hipoglicemia ≤ 50 ------
Diabetes mellitus ≥ 126 ≥ 200

Passo a passo da coleta de provas funcionais


(http://www.unifesp.br/)

1. Conferir o material a ser usado no paciente.

2. Informá-lo sobre o procedimento.

3. Higienizar as mãos.

98
PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA │ UNIDADE III

4. Calçar as luvas.

5. Posicionar o braço do paciente, inclinando-o para baixo, na altura do


ombro.

6. Se o torniquete for usado para seleção preliminar da veia, pedir para que
o paciente abra e feche a mão, faça a escolha da veia a ser puncionada, e
afrouxe-o. Esperar 2 minutos para usá-lo novamente.

7. Fazer a antissepsia.

8. Garrotear o braço do paciente.

9. Retirar o escalpe para coleta múltipla de sangue a vácuo da embalagem e


rosqueá-lo no adaptador.

10. Fazer a punção com o bisel da agulha voltado para cima, se necessário,
para melhor visualizar a veia, esticar a pele com a outra mão. Colocar um
esparadrapo ou similar para prender o “butterfly” no braço do paciente.

11. Em geral, repouso de 30 minutos antes da coleta basal e da administração


de medicamento de estímulo ou supressão (início do teste funcional).

12. Inserir o tubo para a 1a amostra da prova e colher os exames basais.

13. Retirar o garrote do braço do paciente.

14. Conectar a seringa de 10,0 mL no adaptador, de forma que o bico da


seringa empurre a borracha da agulha, injetar cuidadosamente a solução
preparada até que a extensão do escalpe se apresente limpa (1 a 2,0 mL),
tomar cuidado para não injetar a solução na veia do paciente.

15. Desconectar e reservar a seringa.

16. Administrar a medicação ou substância específica à prova do paciente e


marcar o tempo.

17. Na próxima coleta, introduzir o tubo siliconizado e aspirar de 1,0 mL a


2,0 mL de sangue, com a finalidade de limpar a extensão do escalpe.

18. 18. Inserir o tubo para a 2a amostra da prova.

19. Novamente, injetar cuidadosamente a solução preparada para


manutenção da veia (quando for o caso) até que a extensão do escalpe se

99
UNIDADE III │ PROCEDIMENTOS PARA COLETA SANGUÍNEA

apresente limpa (1 a 2,0 mL), tomar cuidado para não injetar a solução
na veia do paciente, proceder assim até o final da prova.

20. Tanto a seringa quanto o tubo siliconizado (ou de descarte), devem ser
identificados e colocados numa cuba ou similar. Estes materiais serão
descartados ao final da prova.

100
ANTICOAGULANTES
E TRANPORTE Unidade iV
DA AMOSTRA DE
SANGUE

CAPÍTULO 1
Anticoagulantes

O sistema hemostático é composto por diversos componentes, entre os quais se


encontram as plaquetas, os vasos sanguíneos, as proteínas da coagulação do sangue, os
anticoagulantes naturais e o sistema de fibrinólise (ZAGO, 2001).

A coagulação é dependente de uma série complexa de interações, nas quais o sangue


perde as suas características de fluído, sendo convertido numa massa semissólida,
formando um coágulo irreversível. A formação do coágulo sanguíneo está dependente
de um conjunto de proteínas existentes no plasma, designados fatores de coagulação.
Normalmente estes fatores encontram-se inativos e não dão origem à coagulação, mas
se um tecido estiver lesado os fatores de coagulação são ativados, produzindo, desta
forma, coágulos (GUYNTON, 2011).

O sangue para prevenir a coagulação contém vários anticoagulantes, os quais impedem


os fatores de coagulação iniciar a formação de coágulos. Antitrombina, Heparina e
Prostaciclina são exemplos de anticoagulantes que atuam no sangue (ZAGO, 2013).

A coagulação in vitro envolve a transformação da fibrina em fibrinogênio. Os


anticoagulantes são também importantes fora do corpo evitando a coagulação do
sangue usado em exames laboratoriais e em transfusões sanguíneas. Heparina, EDTA
e o Citrato de Sódio são os principais exemplos de anticoagulantes in vitro (HENRY,
2001).

Os anticoagulantes são usados quando temos necessidade de obter sangue total ou


plasma. Não existe um anticoagulante ideal para todos os exames laboratoriais. Em
geral, os anticoagulantes têm como principal papel a interrupção da ativação da cascata
de coagulação, inibindo a formação da protrombina, impossibilitando a formação do
coágulo (HENRY, 2001).

101
UNIDADE IV │ ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE

Dependendo do estudo a análise poderá ser realizada em sangue total (ex.: Hemograma),
plasma (ex.: Glicose, Provas de coagulação) e soro (ex.: Bioquímicos e Sorológicos).
Quando a análise for realizada no soro, a colheita será feita em tubo sem anticoagulante,
para que ocorra o processo de coagulação. Quando se pretende fazer a análise no plasma,
a amostra deverá ser recolhida num tubo com anticoagulante específico (http://www.
acispes.com.br).

Quando o paciente tiver apenas exames de coagulação, deverá ser coletado primeiro
um tubo de descarte. Isso é devido ao fato de o primeiro fluxo de sangue coletado conter
os fatores de coagulação, principalmente a protrombina, o que altera os resultados
(http://www.ufrgs.br/lacvet).

Quando se pretende fazer análise de coagulação, deverá ser colhida uma amostra de
plasma. Esta será obtida através da coleta em tubo de citrato de sódio (tubo de tampa
azul). O citrato de sódio é um quelante de cálcio que reage com o cálcio livre do sangue
formando sais insolúveis. A ausência de cálcio livre impede a efetivação do mecanismo
de coagulação sanguínea. Após coleta, este tubo deve ser homegeinizado de 5 a 8 vezes
para evitar a formação de coágulos e hemólise (http://www.biomedicinabrasil.com).

Quando se pretende fazer análise bioquímica, gasometria ou outros exames, deverá ser
colhida uma amostra de plasma. Está será obtida através da coleta em tubo contendo
heparina (tubo de tampa verde). Após coleta de sangue, este tubo deve ser invertido
cuidadosamente por 8 a 10 vezes para evitar a formação de coágulos e hemólise
(RENDRIK, 2001).

A heparina interfere nas etapas finais da cascata da coagulação, impedindo conversão


da protrombina (fator II) em trombina, que, por sua vez, promove a conversão do
fibrinogênio (fator I) em fibrina, originando o coágulo. A trombina (fator II ativado),
por ação enzimática, converte o fibrinogênio em fibrina, além de ativar os cofatores
V e VIII, o que acentua a velocidade da formação do coágulo de fibrina através das
vias intrínseca e comum da coagulação. A ação enzimática da trombina é impedida por
uma glicoproteína do plasma, a antitrombina III. A heparina se une à antitrombina III,
tornando a sua molécula muito mais ativa em relação à inibição da trombina, o que
impede a conversão do fibrinogênio. A trombina também é responsável pela ativação
dos cofatores V e VIII da coagulação. A antitrombina III é um inibidor dos produtos
ativados dos fatores IX, X, XI e XII e, por estes mecanismos, a heparina também impede
a ação desses fatores, nos mecanismos da coagulação (RENDRIK, 2001 e ZAGO, 2013).

102
ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE │ UNIDADE IV

Para análise hematológica, deverá ser colhida uma amostra de sangue total. Esta será
obtida por meio da coleta em tubo contendo EDTA (tubo de tampa roxa). Este tubo
contém anticoagulante específico para evitar a coagulação. Após coleta, para se evitar a
formação de coágulos e hemólise, este tubo deve ser invertido por 5 a 8 vezes (http://
www.manualmerck.net/).

O EDTA atua como anticoagulante quelando o cálcio do sangue. O cálcio é necessário na


cascata de coagulação, e sua quelação inibe a série de eventos (intrínseca e extrínseca)
que causa a coagulação. A conversão da protrombina à trombina e consequentemente a
ação da trombina no fibrinogênio para formar a fibrina é inibida.

É o anticoagulante de escolha para exames hematológicos, pois preserva os componentes


celulares do sangue sem alterar sua morfologia. É usado nas formas de sais de sódio,
de potássio ou tripotássio, sendo que os dois últimos são mais solúveis. Atua na
concentração de 1 a 2 mg/mL de sangue. O excesso de EDTA altera a morfologia das
células vermelhas do sangue.

Para realizar análise de glicemia, deverá ser colhida uma amostra de plasma. Esta
será obtida através da coleta com tubo contendo fluoreto de sódio com EDTA
(tubo de tampa cinza). O sangue coletado na presença deste anticoagulante deve ser
homogeinizado logo após a coleta por 5 a 8 vezes, prevenindo assim a coagulação e a
hemólise deste (RENDRIK, 2001).

O fluoreto inibe a enzima enolase na via glicolítica e assim previne a degradação da


glicose. É um anticoagulante fraco e geralmente está associado ao oxalato ou ao EDTA.
Sua ação antiglicolítica ocorre na concentração de 2 a 3 mg/mL de sangue. Nas amostras
tratadas com antiglicolítico a concentração de glicose permanece estável por 8 horas a
25 °C e por 48 horas entre 2 a 8 °C. Sem um agente antiglicolítico a concentração de
glicose no sangue decresce em torno de 10 mg/dL por hora a 25 °C. O grau de decréscimo
é maior em recém-nascidos por causa do número elevado de hemácias e em pacientes
leucêmicos por causa da elevada atividade metabólica das células brancas. O fluoreto
é um potente inibidor de várias enzimas e em altas concentrações inibe a urease usada
em vários métodos para dosagem da ureia (http://www.manualmerck.net/).

A quadro 11 mostra um resumo da relação de quais anticoagulantes devem ser utilizados


para respectivas análises laboratoriais.

103
UNIDADE IV │ ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE

Quadro 11. Relação de anticoagulantes e exames a serem realizados (preparado pelo autor deste caderno).

Parte sangue para


Tubos de coleta Anticoagulante Setor Análises
ser analisado
»» Creatinina
»» Glicose
»» Ureia
Sem anticoagulante Bioquímica Soro
»» Colesterol
»» Pesquisa e identificação de
anticorpos e ou antígenos no soro.

»» Eritrograma
EDTA Hematologia »» Leucograma Sangue total
»» Plaquetas

»» Tempo de coagulação
Hematologia »» Retração de coágulo
Citrato de sódio Plasma
(coagulação) »» Tempo Parcial de tromboplastina.
»» Tempo de protrombina

»» Glicose
Fluoreto de sódio + EDTA Bioquímica Plasma
»» Lactato

»» Determinações especiais de
Heparina Bioquímica bioquímica (Zinco, Chumbo, Cobre). Sangue total
»» Gasometria

104
CAPÍTULO 2
Transporte da amostra de sangue

Transporte de Amostra é de grande importância para a coleta de sangue, uma vez que
pode vir a ser um fator de interferência pré-analítica.

Uma vez coletada e identificada adequadamente, a amostra deverá ser encaminhada


para o setor de processamento, que poderá estar localizado na mesma estrutura física
onde foi realizada a coleta, ou afastado a distâncias variadas.

Há diversas maneiras de se transportar amostras: entre unidades de um mesmo


laboratório, entre unidades diferentes na mesma cidade ou mesmo para unidades
do exterior. Em geral, o transporte ocorre rapidamente quando os laboratórios
estão próximos e não apresenta grandes dificuldades, desde que as amostras sejam
acondicionadas em maletas que ofereçam garantia de biossegurança no transporte
(Sociedade brasileira de patologia clínica medicina laboratorial, 2009).

O processamento inicial da amostra inclui etapas que vão da coleta até a realização
do exame e compreendem três fases distintas: pré-centrifugação, centrifugação e pós-
centrifugação. Quando os exames não forem realizados logo após a coleta, as amostras
devem ser processadas até o ponto em que possam aguardar as dosagens em condições
para que não haja interferência significativa em seus constituintes. O tempo entre a
coleta e centrifugação do sangue não deve exceder uma hora (portal.anvisa.gov.br/).

As amostras colhidas com anticoagulante, nas quais o exame será realizado em sangue
total, devem ser mantidas refrigeradas até o procedimento, em temperatura de 4 a
8ºC. Plasma, soro e sangue total podem ser usados para a realização de alguns exames,
embora os constituintes estejam distribuídos em concentrações diferentes entre estas
matrizes. Assim, resultados no sangue total são diferentes daqueles obtidos no plasma
ou soro em função da distribuição de água nas hemácias: um determinado volume de
plasma ou de soro contém 93% de água, enquanto o mesmo volume de sangue total
possui apenas 81% de água (portal.anvisa.gov.br/).

Os laboratórios podem utilizar empresas especializadas em estudo de cadeia fria para


melhor adequação de seus processos de transporte. Quando amostras de pacientes serão
enviadas a um laboratório distante, regras de biossegurança devem ser cumpridas.
Não se esquecendo de que a integridade da amostra deve ser garantida durante todo
o transporte a fim de que se tenha precisão nos resultados obtidos. Deve-se prevenir o

105
UNIDADE IV │ ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE

vazamento da amostra, protegê-la de choque e variações de pressão (www.hemocentro.


unicamp.br).

Há alguns tipos de embalagens que fazem parte do transporte de sangue (portal.anvisa.


gov.br/):

»» Embalagem primária: dotada de dispositivo que garanta vedação à


prova de vazamento e impermeável para amostras líquidas, e no caso
de amostras sólidas ou semissólidas, recipiente resistente dotado de
mecanismo de fechamento que impeça o extravasamento do material.
Exemplo deste tipo de embalagem são os tubos de coleta (Figura 45).

Figura 45: Embalagem primária.

Figura disponível em Guia para transporte de sangue e componentes, 2013.

»» Embalagem secundária: material resistente, impermeável e à


prova de vazamento, utilizado no acondicionamento da embalagem
primária. Sacos plásticos ou bolsas práticas são muito utilizados como
embalagem secundária (Figura 46). Para o transporte de sangue
total e hemocomponentes coletados. Para a fabricação destas bolsas
plásticas, vários testes são exigidos, inclusive o de pressão, conforme
regulamento da Anvisa: “Não deve ocorrer qualquer vazamento, quando
comprimida gradualmente entre duas superfícies planas (pratos)
revestidas com papel indicador, a uma pressão equivalente a 100 kPa
acima da pressão atmosférica alcançada em 1 minuto e mantida por 10
minutos à temperatura de (23± 2)° C”. Por precaução para o transporte
por via aérea, deve-se adotar o sistema de embalagem tripla (ANAC) ─
para que em casos de acidentes e rompimentos de bolsas com sangue e
hemocomponentes, não extravase material biológico para a embalagem
externa e compartimento de carga da aeronave.

106
ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE │ UNIDADE IV

Figura 46: Embalagens secundárias.

.
Figura disponível em Guia para transporte de sangue e componentes, 2013.

»» Embalagem terciária rígida: resistente, de tamanho adequado ao


material biológico transportado e dotada de dispositivo de fechamento,
observando-se que materiais laváveis e resistentes a desinfetantes podem
ser reutilizáveis. A embalagem externa deve ser rígida, protegendo seus
conteúdos de influências exteriores, tais como danos físicos e água
quando em trânsito (Figura 47). Dimensões mínimas desta embalagem
é 100 mm x 100 mm. Caixas plásticas (PVC), papelão, metal, tambores
ou outros materiais rígidos são exemplos de embalagens terciárias que
podem ser usadas até mesmo nos serviços de hemoterapia. O poliestireno
expandido (isopor), sacos plásticos e outros materiais sem rigidez,
resistência e impermeabilidade apropriadas não são permitidas como
embalagem externa para transporte de sangue e componentes.

Figura 47: Embalagens terciárias.

Figura disponível em Guia para transporte de sangue e componentes, 2013.

A figura 48 mostra um esquema básico do sistema de embalagem para o transporte


de sangue e componentes. Cada elemento e sua quantidade devem ser determinados
pelo serviço de hemoterapia remetente de acordo com os resultados do seu processo de
validação.

107
UNIDADE IV │ ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE

Figura 48: Esquema básico do sistema de embalagem para transporte de sangue.

Figura disponível em Guia para transporte de sangue e componentes, 2013.

Transporte de amostras, segundo Anvisa


(Guia para transporte de sangue e componentes, 2013)

Logo após a coleta, as amostras devem ser transportadas à temperatura ambiente, de


acordo com a política institucional e as medidas de biossegurança. O transportador deve
ser qualificado para esse tipo de transporte. Para cada amostra, recomenda-se registrar
a data de envio, a data de recebimento do material no laboratório e a temperatura
aproximada de recebimento do material no laboratório.

»» Para testes de hemostasia utilizando plasma, não se recomenda o uso de


gelo no transporte, devido à ativação que o frio faz do fator VII, perda do
fator de von Willebrand ao rompimento de plaquetas.

»» Alterações bruscas de temperatura devem ser evitadas durante o


transporte deste material.

»» O tempo ideal para este transporte é de uma hora após a coleta.


Dependendo do tipo de exame solicitado será definido o prazo de aceitação
da amostra a ser processada.

108
ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE │ UNIDADE IV

»» Na monitorização da terapia com heparina, devido a potencial


neutralização pelo fator IV plaquetário, a demora na centrifugação não
deve exceder uma hora, para amostras colhidas com citrato de sódio, ou 4
horas, à temperatura ambiente, para amostras colhidas em CTDA (citrato
contendo teofilina, adenosina e dipiridamol).

»» No uso de sistemas pneumáticos para o transporte das amostras, os tubos


devem ser protegidos das vibrações e choque, para evitar a desnaturação
proteica e a ativação plaquetária, através da formação de espuma nas
amostras.

»» Para resultados mais acurados em alguns testes de coagulação, algumas


amostras requerem um manuseio especial, tais como: resfriamento lento
e transporte à temperatura corporal (aproximadamente 37ºC).

É necessária a utilização de alguns parâmetros para que ocorra a validação do transporte.


Estes são:

1. Intervalo de Temperatura de Transporte influencia na qualidade da


amostra conforme pode ser observado no quadro 12.

Quadro 12. Intervalo de temperatura de transporte (adaptado Portaria 1353/11 e RDC Anvisa 57/2010).

Material biológico Intervalo de temperatura


1 a 10 (não produz plaquetas)
Sangue total
20 a 24 (produz plaquetas)

Concentrado de Hemácias 1 a 10

Concentrado de Plaquetas 20 a 24

≤ - 18 (para transfusão)
Plasma
≤ - 20 (insumo farmacêutico)

2. Temperatura ambiente: o Brasil apresenta amplitude térmica de grande


variação por cada região e período do ano. Este fator deve ser avaliado pelo
serviço de hemoterapia na definição de critérios de transporte, devendo
ser considerado no processo de validação do transporte. Amplitude
térmica, segundo o IBGE, significa a oscilação ou diferença entre as
temperaturas máximas e mínimas, ou entre temperaturas médias a mais
elevada e a mais baixa, no decorrer de um intervalo de tempo. Estudos
de validação de transporte desenvolvidos na Austrália pelo Australian
Red Cross Blood Service utilizaram temperatura ambiente variando de

109
UNIDADE IV │ ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE

2°C a 42°C. É recomendável que o serviço utilize temperaturas ambientes


extremas de acordo com a região em que se situe.

3. Eficácia do isolamento térmico: o isolante térmico é uma estrutura


ou material que dificulta a dissipação do calor mantendo resfriado
por tempo determinado a temperatura de conservação do material
transportado, devido a sua alta resistência térmica. Vários mecanismos
são utilizados como isolante térmico, por exemplo, o vácuo, lã de vidro,
poliestireno, poliuretano e outros. O serviço precisa avaliar de acordo
com a temperatura de conservação requerida dos materiais biológicos
que deve transportar, qual o mecanismo de embalagem que melhor
atende seu propósito. Desta forma, a validação do processo de transporte
deve levar em conta o tipo de isolante utilizado.

4. Tempo do transporte e a margem de segurança para atrasos: o tempo


de transporte de sangue e componentes é fator crucial devido ao caráter
biológico dos produtos transportados. Não existe um padrão para o tempo
de transporte de sangue e componentes. Cada serviço deve estabelecer
o tempo de transporte que atenda suas necessidades considerando
as margens de atraso para definir sua validação. O Ministério da
Saúde recomenda um tempo máximo de transporte de 24 horas para
hemocomponentes e de 18 horas para sangue total para procedimentos
de processamento.

Vale salientar alguns pontos importantes que devem ser levados em consideração no
transporte de amostra laboratorial.

Transporte interno
(http://portal.anvisa.gov.br)

›› Fluxo unidirecional de forma a evitar cruzamento de amostras com


doadores e pacientes.

›› Sistemas de embalagens duplas (recipiente/embalagem interna +


embalagem externa).

›› Recipiente (tubo primário) acondicionado de forma a se manter


fixado à embalagem externa durante o trânsito no ambiente do serviço
hemoterapia/ hospital.

110
ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE │ UNIDADE IV

›› Não é necessário utilização de caixas com isolante térmico em


ambientes com temperatura controlada (ambiente laboratorial).

Transporte externo
(http://portal.anvisa.gov.br)

›› O transporte de amostras biológicas para triagem laboratorial de


doadores em ambiente externo ao serviço de hemoterapia deve ser
realizado em sistema de embalagens triplas - primária, secundária,
externa (Material Biológico de Risco Mínimo – Material isento).

›› O transporte de amostras biológicas para triagem laboratorial de


receptores/pacientes em ambiente externo ao hospital deve ser
realizado em sistema de embalagens triplas - primária, secundária,
externa (Material Biológico de Risco Mínimo (isento) ou Categoria B).

›› Uso de embalagem com componente isolante térmico, quantidade


de material refrigerante suficiente para garantir a temperatura de
conservação das amostras pelo tempo de transporte previsto.

›› Não há temperatura padrão estabelecida para o transporte de amostras


laboratoriais.

›› O serviço de hemoterapia deve estabelecer temperatura de acordo com


as instruções dos fabricantes dos reagentes utilizadas para garantir
melhores práticas de acordo com cada processo analítico. Geralmente
a temperatura de transporte se dá em temperatura de ambiente
laboratorial (20° a 24°C), mas deve-se avaliar junto aos fabricantes
dos reagentes laboratoriais.

Estocagem de amostras
(Sociedade brasileira de patologia clínica medicina laboratorial, 2009)

»» Amostras para os ensaios Tempo de Protrombina podem ser mantidas


não centrifugadas ou centrifugadas com o plasma e os seus componentes
celulares, em tubo ainda fechado à temperatura ambiente por até 24
horas, a partir do momento da coleta. Esta integridade aumenta caso
a centrifugação ocorra imediatamente após a coleta do sangue. Não se
recomenda o resfriamento ou o congelamento destas amostras.

111
UNIDADE IV │ ANTICOAGULANTES E TRANPORTE DA AMOSTRA DE SANGUE

»» Amostras para a rotina de TTPA para pacientes não heparinizados podem


ser mantidas não centrifugadas ou centrifugadas com os componentes
celulares em tubo fechado à temperatura ambiente por até 4 horas após
a coleta.

»» Amostras para a rotina de TTPA para pacientes heparinizados devem ser


mantidas à temperatura ambiente, sendo centrifugadas dentro de uma
hora, após a coleta, e o plasma deve ser dosado em até 4 horas, a partir
do horário da coleta.

»» Amostras para outros ensaios (antifator Xa, tempo de trombina, proteína


C, fator V) devem ser conservadas à temperatura ambiente, centrifugadas,
com remoção do plasma e devem ser dosadas em até 4 horas após a coleta.

»» Amostras estocadas com sangue total e refrigeradas ou congeladas são


inaceitáveis para os seguintes testes: TP, TTPA, fator de von Willebrand
e fator VIII.

112
Para (não) Finalizar

doador de sangue: ser ou não ser?


Essa parte do caderno de estudos faz algumas considerações no que existe por trás de
ser um doador de sangue e aponta possíveis razões para que uma pessoa não o seja.

Ninguém está livre de precisar de uma transfusão de sangue. Ninguém


está livre de sofrer um acidente, de passar por uma cirurgia ou por
um procedimento médico em que a transfusão seja absolutamente
indispensável.

Como não existe sangue sintético produzido em laboratórios, quem


precisa de transfusão tem de contar com a boa vontade de doadores,
uma vez que nada substitui o sangue verdadeiro retirado das veias de
outro ser humano.

Todos sabemos que é importante doar sangue. Mas, quando chega a


nossa vez, sempre encontramos uma desculpa – Hoje está frio ou não
estou disposto; nesses últimos dias tenho trabalhado muito e ando
cansado; será que esse sangue não me vai fazer falta… – e vamos
adiando a doação que poderia salvar a vida de uma pessoa.
(DRAUZIO VARELLA)

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a porcentagem mínima de doadores


de sangue de um país deve ser de 3%. No Brasil, no entanto, apenas 1,7% a 1,8% da
população com idade entre 18 e 65 anos doa. Destes, 50% são doações de reposição,
feitas por familiares, amigos e conhecidos para pacientes específicos. Este valor é
insuficiente para cobrir toda a necessidade de sangue.

O conhecimento da necessidade de sangue é o primeiro passo para que uma pessoa se


torne doador. Sabe-se que a grande maioria das pessoas já escutou falar algo sobre a
doação de sangue, algumas até consideraram tornar-se doadoras, mas a maioria nunca
realmente chegou a fazê-lo. Existem algumas razões, emocionais e práticas, para isto
(DANTAS, 2002).

Emocionais: podem estar relacionadas com o desagrado de ir a um hospital (por


medo do contato com serviços hospitalares, medo de agulhas normalmente ligadas à

113
Para (Não) Finalizar

sensação de dor; ou ainda, medo de entrar em pânico ou perder o controle sobre si de


alguma forma durante a coleta). Ou com a sensação de que a contribuição feita é tão
pequena em relação ao tamanho do problema que não existe razão para fazê-la. Doador
ou não, a pessoa não sentiria uma mudança perceptível no quadro geral.

Práticas: como a impossibilidade de encontrar um horário conveniente, a distância do


banco de sangue, ou a falta de conhecimento dos locais e horários existentes.

Alguns dos motivos para ser um doador são morais, como por exemplo (DANTAS,
2002):

»» Doar sangue é uma boa causa porque ajuda a salvar vidas.

»» Altruísmo, ou seja, desejo de ajudar aos demais seres humanos.

Outras razões são mais pessoais, como (JUNQUEIRA e colaboradores, 2005):

»» Receber aprovação dos demais.

»» Garantir que sangue suficiente esteja disponível em caso de necessidade


(pessoal ou de uma pessoa querida).

»» Bem-estar físico e mental após a doação.

»» Reposição de sangue usado (pessoal ou por alguém conhecido).

No Brasil, onde 50% das doações são para repor o estoque usado pelos pacientes, é muito
comum que uma pessoa comece a doar sangue porque alguém conhecido precisou de
uma transfusão e depois continue a doar voluntariamente apenas para ajudar a outros
(a motivação passa de pessoal para moral) (JUNQUEIRA e colaboradores, 2005).

Entretanto, sabe-se que há algumas pessoas que não podem doar sangue, mas esta
pessoa pode ajudar de outra maneira como divulgando a causa para conhecidos e
participando de organizações sociais que promovem a causa. O trabalho voluntário
também é essencial para garantir a doação de sangue no Brasil (DANTAS, 2002).

Assim, a doação de sangue hoje em dia vem sendo um problema na área de saúde, uma
vez que não se tem a conscientização da população para o quanto este simples ato pode
salvar uma vida.

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