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MEDICINAL PARA
O TRATAMENTO DE
TRANSTORNOS DO SISTEMA
NERVOSO CENTRAL
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 5
INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 8
UNIDADE I
CANNABIS MEDICINAL EM TRANSTORNOS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC)....................................................................... 13
CAPÍTULO 1
SISTEMA ENDOCANABINOIDE E SUAS AÇÕES NO SNC.................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 2
INVESTIGAÇÃO TRANSLACIONAL DO POTENCIAL TERAPÊUTICO DO CANABIDIOL (CBD): EM DIREÇÃO A UMA
NOVA ERA................................................................................................................................................................................................................ 29
CAPÍTULO 3
USO TERAPÊUTICO DOS CANABINOIDES EM PSIQUIATRIA............................................................................................................ 44
UNIDADE II
CANNABIS MEDICINAL NA NEUROLOGIA............................................................................................................................................................... 58
CAPÍTULO 1
O POTENCIAL TERAPÊUTICO DOS CANABINOIDES PARA DISTÚRBIOS DO MOVIMENTO............................................... 58
CAPÍTULO 2
O USO DA CANNABIS EM TRATAMENTO DE ENXAQUECA............................................................................................................... 64
CAPÍTULO 3
EXPLORAÇÃO TERAPÊUTICA DA CANNABIS NA ESCLEROSE MÚLTIPLA................................................................................. 70
CAPÍTULO 4
A BASE FARMACOLÓGICA DA TERAPIA DE EPILEPSIA COM CANNABIS................................................................................... 89
CAPÍTULO 5
CANABIDIOL EM CRIANÇAS COM ENCEFALOPATIA EPILÉPTICA REFRATÁRIA..................................................................... 98
CAPÍTULO 6
CANABINOIDES NA DOENÇA DE PARKINSON..................................................................................................................................... 103
CAPÍTULO 7
EFEITOS DOS CANABINOIDES NA ESCLEROSE LATERAL AMIOTRÓFICA (ELA).................................................................. 115
UNIDADE III
CANNABIS MEDICINAL EM PSIQUIATRIA............................................................................................................................................................... 120
CAPÍTULO 1
CANNABIS NO TRATAMENTO DE TRANSTORNO DE ANSIEDADE E SÍNDROME DO PÂNICO.......................................... 120
CAPÍTULO 2
CANABINOIDES EM TRANSTORNOS DEPRESSIVOS........................................................................................................................ 126
CAPÍTULO 3
CANNABIS NA ESQUIZOFRENIA.................................................................................................................................................................. 131
CAPÍTULO 4
CANNABIS NO TRATAMENTO DE TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE.................................. 133
CAPÍTULO 5
CANNABIS E TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO................................................................................................................. 136
CAPÍTULO 6
CANNABIS NO TRATAMENTO DE SÍNDROME DE TOURETTE......................................................................................................... 139
UNIDADE IV
CANNABIS MEDICINAL NA NEUROPSIQUIATRIA................................................................................................................................................. 141
CAPÍTULO 1
CANNABIS NO AUTISMO.................................................................................................................................................................................. 141
CAPÍTULO 2
CANNABIS EM DEMÊNCIAS.......................................................................................................................................................................... 149
UNIDADE V
CANNABIS EM OUTROS TRANSTORNOS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL......................................................................................... 161
CAPÍTULO 1
CANNABIS MEDICINAL EM CRIANÇAS..................................................................................................................................................... 161
CAPÍTULO 2
CANNABIS MEDICINAL E O FUTURO DA NEUROLOGIA.................................................................................................................... 170
CAPÍTULO 3
CANNABIS MEDICINAL E DOENÇAS RARAS......................................................................................................................................... 177
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................................ 181
APRESENTAÇÃO
Caro aluno
Conselho Editorial
5
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.
6
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
7
INTRODUÇÃO
Leis de vários países retratam essa visão sobre a Cannabis, como é o caso da Lei
N.º 6368, de 1976, do Brasil.
Nos Estados Unidos, muitos estados trocaram a pena de prisão, para usuários, por
sanções administrativas, como prestação de serviços sociais e multas. Ainda assim, as
8
Introdução
leis nos demais estados e a lei federal são severas. A verificação de que vários jovens
e adultos foram detidos na década de 1970 não alterou a situação e a pena de prisão
continua, apesar das discussões acaloradas nas últimas décadas. Os resultados dessa
situação podem ser confirmados pelos seguintes fatos:
Segundo o relatório mundial sobre drogas, elaborado pela United Nations Office on
Drugs and Crime (UNODC), em 2016, a maconha é a droga ilícita mais consumida em
todo o mundo (182,5 milhões de pessoas em 2014). Em se tratando de apreensões,
as Américas representam cerca de 3/4 de toda a erva de Cannabis mundial. A maior
quantidade apreendida da erva foi na América do Norte (37%), seguida da América
do Sul (24%), e os menores índices de apreensão ficaram na África (14%), no Caribe
(13%), na Europa e na Oceania, ambas com seis porcento (6%).
Agonista GPR18
Agonista GPR55
Anticonvulsivante Ligante CB 1
Analgésico Ligante CB 2
Potenciador α 3 Gly
Antagonista GPR55
Potenciador 5-HT 1A
Ativador PPAR-γ
Inibidor de recaptação
de adenosina
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Introdução
O “uso na vida” (“lifetime use”) é critério utilizado no mundo para avaliar o contato
com drogas (ao menos uma vez na vida). Refere-se, assim, à experimentação e não à
dependência.
É importante salientar, porém, que o instrumento usado pelo CEBRID, para avaliar
o que se denominou de dependência, levou como base critérios americanos, os quais
são muito menos rigorosos que os critérios utilizados internacionalmente, como o
Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM).
Até 2019, não existia um conjunto regulatório que autorizasse clarear o ambiente
para o cultivo e a produção da maconha com finalidade medicinais. Devido a isso, as
reivindicações para a regulamentação do registro desses medicamentos tornaram-se
cada vez mais preeminentes.
Na Unidade II, falaremos sobre algumas patologias neurológicas que atingem o sistema
nervoso central e que podem ser tratadas com a Cannabis medicinal.
Objetivos
» Atualizar os conhecimentos dos profissionais atuantes na área de utilização
da Cannabis medicinal para o tratamento de transtornos do sistema nervoso
central (SNC).
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CANNABIS MEDICINAL
EM TRANSTORNOS DO
SISTEMA NERVOSO UNIDADE I
CENTRAL (SNC)
CAPÍTULO 1
Sistema endocanabinoide e suas ações
no SNC
Os canabinoides contêm:
13
Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Na década de 1980, foi desenvolvida a hipótese de que os canabinoides teriam ação nos
organismos vivos por meio de um conjunto de diferentes receptores. Os receptores
canabinoides, localizados em lugares específicos nos neurônios, apresentariam
a função de receber o princípio ativo e apresentar ações no sistema nervoso.
Os receptores canabinoides foram chamados pela União Internacional de Farmacologia
Básica e Clínica (International Union of Basic & Clinical Pharmacology – IUPHAR), de
acordo com sua ordem de descoberta, como receptores CB1 e CB2. Os receptores
canabinoides pertencem à superfamília dos receptores de membrana acoplados à
proteína G, porque foi mostrado, em 1986, por Howlett, que o Δ9-THC inibia a
enzima intracelular adenilato ciclase e que essa inibição só acontecia na presença
de um complexo de proteínas G.
Anandamida 2-araquidonoilglicerol
Fonte: Sousa (2017).
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Figura 3. Receptores canabinoides CB1 e os efeitos da interação com endocanabinoides e Δ9-THC.12 Ach = acetilcolina; Glu =
glutamato; GABA = ácido gama-aminobutírico; NA = noradrenalina; e 5-HT = serotonina.
AEA
Dopamina
Ach, Glu 2-AG
Δ9-THC GABA, NA, 5-HT
Transportador de
canabinoides
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Canabinoides
Médio extracelular
Membrana
plasmática
Médio intracelular
Efeitos Biológicos
Canabinoides endógenos
Esses estudos revelaram ainda que existem muitos compostos com diferentes estruturas
químicas que ativam os receptores canabinoides, porém os mecanismos de interação
entre esses compostos e os receptores canabinoides ainda não estão conhecidos
completamente.
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Anandamida
O primeiro canabinoide endógeno descoberto foi o araquidoniletanolamina, conhecido
como anandamida, cuja palavra deriva do sânscrito ananda, que quer dizer “felicidade,
prazer”. Quando comparada com o Δ9-THC, a anandamida apresenta uma afinidade
de quatro a vinte vezes menor pelo receptor canabinoide CB1 que o Δ9-THC, sendo
mais rapidamente metabolizada, pelas amidases, por hidrólise.
Mesmo que a anandamida possa ser sintetizada de muitas formas, a sua biossíntese é
resultado da clivagem por enzimas do N-araquidonil-fosfatidil-etanolamina (NAPE),
que produz o ácido fosfatídico e a anandamida.
Com relação aos estudos da presença de anandamida no organismo humano, ela foi
localizada em muitas regiões do cérebro humano (hipocampo, estriado e cerebelo) em
que os receptores CB1 são abundantes. Fatos estes que explicam a função fisiológica
dos canabinoides endógenos nas funções do cérebro, as quais são controladas por tais
zonas do cérebro, principalmente a memória, o alívio da fome e da dor e os padrões do
sono. Ainda é possível encontrar a anandamida no tálamo, porém em concentrações
mais baixas.
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Fosfolipase D
Fosfolipase A2
Fosfatidate fosfohidrolase
PE
Diacilglicerídeo (DAG)
Diacilglicerídeo lipase
Etanolamina
Anandamida NAPE
(NAPE)=N-acilfosfatidiletanolamina, PE=(fosfatidiletanolamina)
Fonte: Ribeiro (2014).
Composto Propriedades
Agonistas
Derivados de plantas
Δ9-THC
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Composto Propriedades
Δ8-THC
11-OH-Δ9-THC
Encontrados em animais
Anandamida
Nabilone
Fonte: Ribeiro (2014).
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Composto Propriedades
Antagonistas
SR 141716A
SR 144528
Fonte: Ribeiro (2014).
Receptores canabinoides
O sistema canabinoide é formado por dois subtipos de receptores canabinoides que
foram classificados como CB1 (cerebrais) e de CB2 (periféricos).
A proteína G é composta por 3 subunidades: alfa (α), beta (β) e gama (γ) (Figura 6).
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Figura 6. Proteína G e as respetivas subunidades: alfa (α)-amarelo, beta (β)-azul e gama (γ)-vermelho.
Ligante
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Neurônio pré-sináptico
Ca2+k-
ANA NT
mR
Precursor iR
Ca2+
FAAH
Neurônio pós-sináptico
Fonte: Ribeiro (2014).
Os receptores canabinoides CB1 e CB2 são bastante similares, mas não tão similares
quanto outros membros de muitas famílias de receptores.
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
As diferenças entre CB1 e CB2 indicam que deveriam existir substâncias terapêuticas
seletivas para atuarem somente sobre um ou outro receptor e, assim, ativarem ou
bloquearem um receptor canabinoide específico. Contudo, as diferenças entre os
receptores canabinoides CB1 e CB2 são pequenas, permitindo que a maioria dos
compostos canabinoides interaja com ambos os receptores.
Os receptores canabinoides CB1 e CB2 são particularmente abundantes em algumas
áreas do cérebro, como hipotálamo, gânglios basais, amígdala, córtex cerebral, cerebelo
e espinha dorsal. Acredita-se que os dois receptores canabinoides, CB1 e CB2, são os
responsáveis por muitos efeitos bioquímicos e farmacológicos produzidos pela maioria
dos compostos canabinoides.
A biologia e o comportamento associados às áreas do cérebro, como hipotálamo, gânglios
basais, amígdala, córtex cerebral, cerebelo e espinha dorsal, são consistentes com os efeitos
comportamentais produzidos pelos canabinoides, conforme apresentado na Tabela 4.
Os receptores CB1 também são abundantes no cerebelo, região responsável pela
coordenação dos movimentos do corpo; no hipocampo, responsável pela aprendizagem,
memória e resposta ao estresse; no córtex cerebral, responsável pelas funções cognitivas;
e nos gânglios basais, responsáveis pela coordenação motora (Tabela 4).
Assim, as células do organismo podem responder de diversas formas quando um
ligante interage com o receptor canabinoide.
Tabela 4. Regiões do cérebro em que os receptores canabinoides se encontram em concentrações abundantes ou
moderadas e suas respetivas funções associadas a essas áreas.
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Existem vários estudos cujos objetivos são identificar compostos com a capacidade de
se ligarem seletivamente a um dos receptores canabinoides. Dessa forma, seria possível
obter efeitos farmacológicos específicos.
Terpenos
São mais de trinta mil terpenos descobertos na natureza e mais de cem já foram
identificados na Cannabis. Cada variedade tem uma composição única de terpenos, o
que torna especial cada strain. Os terpenos mais conhecidos na Cannabis são:
Alfa e Betapineno
Com o aroma de pinho, o pineno é encontrado em strains como Bubba Kush, Chemdawg
91 e Trainwrech, bem como em plantas como o alecrim e o manjericão.
Linalol
A fragrância doce, usada em perfumes icônicos como o Chanel 5, pode ser encontrada
em grande variedade como a Lavender.
Cariofileno
Beta-mirceno
Conheça os compostos responsáveis por muito mais que o aroma e o sabor da Cannabis:
Flavonoides
Os flavonoides são a principal razão do sabor e do cheiro da Cannabis e podem
ser encontrados em muitas plantas diferentes. Os flavonoides mais peculiares são
chamados de canaflavins, com aroma e sabor único. O canaflavin A possui efeito
anti-inflamatório mais potente que a aspirina, por exemplo. Sua principal função
é regular como nosso corpo reage ao consumo de canabinoides. Os pacientes
se beneficiam da interação dos canabinoides e de outras substâncias, como os
flavonoides, por meio do efeito entourage da Cannabis, que afetam as células nos
órgãos doentes.
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Sendo os canabinoides mais voláteis que o resto dos compostos da Cannabis, estes
últimos não são facilmente libertados por vaporização.
Administrado por via oral, o Δ9-THC tem uma biodisponibilidade que varia entre 5-20%
em ambientes controlados. No entanto, in vivo, a biodisponibilidade é muitas vezes
inferior devido à presença do meio ácido do estômago, que favorece a metabolização.
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CAPÍTULO 2
Investigação translacional do potencial
terapêutico do canabidiol (CBD):
em direção a uma nova era
Desde a década de 1970, vários estudos publicaram uma série de artigos científicos
mostrando os potenciais efeitos terapêuticos do CBD em diferentes modelos animais
de transtornos neuropsiquiátricos, bem como em ensaios clínicos com humanos.
Alguns demonstraram os efeitos ansiolíticos e antipsicóticos do CBD em animais,
nas décadas de 1970 e 1980, e, posteriormente, em humanos, com resultados bastante
promissores. Além das pesquisas em ansiedade e psicose, foram realizadas pesquisas
básicas e clínicas sobre outras possibilidades terapêuticas da Cannabis. Além disso,
análogos sintéticos patenteáveis do CBD, com forte potencial de transferência de
conhecimento para o setor produtivo, estão sendo desenvolvidos para oferecer benefícios
a pacientes com diversas condições de saúde.
Ação ansiolítica
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Após trabalho inicial, vários estudos confirmaram que o CBD diminui a ansiedade em
roedores após administração única ou repetida.
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Para descobrir os possíveis locais subjacentes aos efeitos do CBD, uma série de estudos
foi realizada em roedores por meio da administração intracerebral de drogas em áreas do
cérebro relacionadas às respostas defensivas, como o córtex pré-frontal medial (mPFC),
a área cinzenta periaquedutal dorsal (dPAG), o núcleo leito da estria terminal (BNST), a
amígdala e o hipocampo. O CBD induziu efeitos ansiolíticos agudos quando injetado no
dPAG e no BNST. O CBD também modificou comportamentos semelhantes à ansiedade
no mPFC, evitando a expressão de condicionamento de medo contextual. No entanto,
quando o CBD foi testado no EPM, o quadro se mostrou mais complicado, pois a droga
produziu efeitos opostos quando injetada nas regiões pré-límbica ou infralímbica do
mPFC. Nessas regiões, os efeitos relatados variaram de acordo não apenas com o modelo
animal empregado, mas também com a experiência anterior de estresse. Resultados
inconsistentes foram encontrados na amígdala após a administração de CBD (dados
não publicados). Com relação ao hipocampo, embora o efeito agudo do CBD sobre essa
estrutura ainda seja desconhecido, a administração repetida da droga preveniu o efeito
ansiogênico do estresse crônico por facilitar a neurogênese hipocampal.
Os efeitos antiestresse agudos do CBD também envolvem o BNST, enquanto sua ação
antidepressiva poderia ser mediada pelo hipocampo e pelo mPFC.
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Estudos humanos
O potencial efeito ansiolítico do CBD foi estudado pela primeira vez em voluntários
saudáveis, por meio do teste simulado de fala em público (SPST). Nesse modelo, os
indivíduos são solicitados a falar por alguns minutos na frente de uma câmera de vídeo
enquanto o estado subjetivo de ansiedade e seus concomitantes fisiológicos (frequência
cardíaca, pressão arterial, condutância da pele) são registrados. O SPST demonstrou
ser eficaz na indução de ansiedade e sensível a muitos compostos ansiogênicos e
ansiolíticos. Por meio desse teste, os efeitos do CBD (300 mg) foram comparados aos
produzidos por dois compostos ansiolíticos, ipsapirona (5 mg) e diazepam (10 mg), em
um procedimento duplo-cego controlado por placebo. Os resultados demonstraram que o
CBD e os dois outros compostos ansiolíticos atenuaram a ansiedade induzida pelo SPST.
Figura 12. Foco de rCBF significativamente aumentado (amarelo) e reduzido (azul) na área do hipocampo esquerdo em indivíduos
saudáveis (A) e em indivíduos com transtorno de ansiedade social (SAD; B) após a administração de CBD versus placebo.
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Juntos, esses resultados mostram que os efeitos modulatórios do CBD nas áreas límbica
e paralímbica são compatíveis com os efeitos dos compostos ansiolíticos em indivíduos
saudáveis e em pacientes com transtornos de ansiedade.
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Foi observado que o CBD produzia um padrão de ativação neuronal (medido pela
expressão do proto-oncogene cFos) semelhante ao da clozapina, mas distinto do
haloperidol. Enquanto as três drogas aumentaram a ativação em áreas límbicas,
apenas o CBD e a clozapina aumentaram a ativação no mPFC. O haloperidol, por
outro lado, induziu um aumento significativo na expressão de cFos, no corpo estriado.
Confirmando o envolvimento de locais límbicos em seus efeitos antipsicóticos, o CBD
bloqueou o comprometimento do PPI induzido pela anfetamina após injeção direta
no núcleo accumbens.
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Estudos humanos
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
A visão de que o CBD poderia ter efeitos antipsicóticos foi ainda apoiada por estudos
em indivíduos humanos saudáveis com psicose induzida artificialmente. Em um
ensaio duplo-cego controlado por placebo, CBD (600 mg) demonstrou atenuar os
sintomas de despersonalização induzidos pelo antagonista do receptor N-metil-D-
aspartato (NMDA) cetamina, que aumenta a liberação de glutamato em baixas doses.
Esse efeito sobre os sintomas dissociativos também levantou hipóteses de potenciais
usos terapêuticos do CBD em condições como TEPT, intoxicação por Cannabis e
alguns transtornos de personalidade.
Em uma série de estudos colaborativos com fMRI, os efeitos do CBD foram investigados
no comportamento e na atividade cerebral regional em várias áreas, fornecendo pistas
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
iniciais sobre seus mecanismos e locais de ação. Curiosamente, foram observados padrões
de ativação cerebral opostos após a administração de CBD (600 mg) e Δ9-THC (10
mg). Em contraste com o placebo, os efeitos semelhantes aos da psicose, provocados
pelo Δ9-THC, foram associados à diminuição da ativação de:
I. o estriado dorsal durante o processamento de estímulos “bizarros”;
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Ação antiepiléptica
Ainda na década de 1980, os efeitos anticonvulsivantes do CBD foram uma das primeiras
propriedades farmacológicas descritas tanto em animais quanto em ensaio clínico
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Distúrbios do sono
Um dos efeitos mais comumente observados do CBD em doses mais altas é a sedação.
O distúrbio comportamental do sono REM (RBD) é uma parassonia caracterizada por
falhas na atonia muscular durante o sono REM, associada ao comportamento ativo
durante sonhos e pesadelos. Atualmente, as opções para o manejo farmacológico da
RBD são limitadas. Com isso em mente, foi realizado um ensaio aberto envolvendo
quatro pacientes com doença de Parkinson com RBD, que é considerado um problema
comum nesse distúrbio do movimento. Todos os pacientes tiveram uma redução
eficiente e substancial na frequência de eventos relacionados a RBD.
Estabilização de humor
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Em conclusão, o uso experimental e clínico do CBD, composto que não produz os efeitos
subjetivos típicos da maconha, os quais são induzidos pelo Δ9-THC, tem demonstrado
claramente propriedades ansiolíticas, antiepilépticas e antipsicóticas, entre outros efeitos.
Desde a década de 1970, foram publicados vários artigos científicos que mostram os
potenciais efeitos terapêuticos do CBD em diferentes modelos animais de transtornos
neuropsiquiátricos e em alguns ensaios clínicos. Surgiram investigações recentes
sobre os novos efeitos do CBD e de seus análogos sintéticos e sobre a compreensão
dos mecanismos de ação desses compostos. Consequentemente, foi possível obter
um melhor entendimento do sistema endocanabinoide. No entanto, novas questões
surgiram em relação às propriedades do CBD e de seus análogos sintéticos que estão
atualmente sob investigação, como a segurança e as faixas de dosagem precisas para
cada transtorno.
43
CAPÍTULO 3
Uso terapêutico dos canabinoides
em psiquiatria
A planta Cannabis sativa é utilizada para fins medicinais há milhares de anos, por
vários povos e em muitas culturas, embora atualmente se conheçam também seus
efeitos adversos. Existem indicações da utilização da planta na China, anteriormente
à Era Cristã, para tratamento de várias condições de saúde, como dores, malária,
constipação intestinal, expectoração, tuberculose, epilepsia, entre outras. Da mesma
forma, é sabido que a Cannabis vem também sendo utilizada para o alívio de sintomas
psiquiátricos há muito tempo. Na Índia, existem descrições da sua utilidade há mais de
1.000 anos antes de Cristo, como hipnótico e tranquilizante no tratamento de mania,
ansiedade e histeria. Os assírios também inalavam a Cannabis para melhorar sintomas de
depressão. Algum tempo depois, no início do século XX, extratos de Cannabis passaram
a ser comercializados para tratar transtornos mentais, usados especialmente como
hipnóticos (em insônia, delirium tremens, manias, “melancolia”, entre outros) e sedativos.
Porém, depois da terceira década do último século, houve uma diminuição da utilização da
droga no âmbito médico, de forma geral, e, particularmente, no contexto da psiquiatria.
Isso aconteceu por vários motivos relacionados ao fato de que, na época, os princípios
ativos encontrados na Cannabis ainda não tinham sido isolados e os extratos variavam
de potência e de composição, de modo que geravam efeitos inconsistentes e causavam
diversos efeitos indesejáveis. E novas substâncias foram sintetizadas como hipnóticos e
sedativos, como o hidrato de cloral, o paraldeído e os barbitúricos. Ainda, as restrições
impostas pela determinação posterior do estado ilegal da planta limitaram mais ainda
o uso da Cannabis como medicamento em psiquiatria. No entanto, na década de 1960,
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Canabidiol (CBD)
Desde o início da década de 1970, é descrito que outros canabinoides interferem
nos efeitos do ∆9-THC, particularmente o CBD, presente em grande quantidade na
Cannabis sativa e destituído de efeitos típicos da planta. Em voluntários saudáveis, o
CBD (1mg/kg) administrado por via oral, simultaneamente com uma dose elevada de
∆9-THC (0,5mg/kg), atenuou significantemente a ansiedade e os sintomas psicóticos
induzidos pelo ∆9-THC. Assim, esses resultados sugeriram um efeito ansiolítico e/ou
antipsicótico próprio do CBD.
Efeito ansiolítico
Estudos em animais
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
O CBD (20mg/kg) também demonstrou ser capaz de reverter a redução de interação social
em ratos produzida por baixas doses do ∆9-THC. Foi demonstrado em camundongos
que o uso crônico do CBD também produz ação ansiolítica.
Assim, o conjunto desses dados em animais sugere que doses baixas do CBD apresentam
efeito ansiolítico.
Estudo em humanos
A administração aguda de CBD (via oral, inalatória ou endovenosa) ou crônica, por via
oral em voluntários saudáveis e em diversas outras condições, não produziu qualquer
efeito adverso significativo. Assim, confirmando estudos prévios em animais, o CBD
mostrou-se um composto seguro para a administração em seres humanos, numa ampla
faixa de dosagem.
O teste de SFP tem validade aparente para o transtorno de ansiedade social (TAS),
uma vez que o medo de falar em público e seus concomitantes fisiológicos são
considerados como aspectos essenciais nessa condição. Com base no fato de não
existirem até então pesquisas que procuraram investigar os efeitos ansiolíticos do CBD
na ansiedade patológica, investigamos essa questão em pacientes com TAS (n = 24),
que foram comparados a um grupo de controles saudáveis submetidos ao teste de SFP.
Doze pacientes com TAS receberam CBD (600mg); outros 12, placebo; e o mesmo
número de controles saudáveis realizou o teste sem receber nenhuma medicação.
O grupo de pacientes com TAS que recebeu CBD, quando comparado com o grupo
com TAS que recebeu placebo, apresentou menores níveis de ansiedade nas fases
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Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Em estudo anterior, foram avaliados os efeitos do CBD sobre fluxo sanguíneo cerebral
regional em voluntários saudáveis, por meio da tomografia, mediante emissão de fóton
único (SPECT). Nesse estudo, os indivíduos receberam CBD (400mg) ou placebo
em duas sessões experimentais, com intervalo de uma semana, num procedimento
cruzado, duplo-cego. Em cada sessão experimental, uma hora após receberem
CBD ou placebo, era inserido, em uma veia do braço dos voluntários, um cateter
que recebia o tecnécio marcado para o estudo do SPECT. A ansiedade subjetiva
foi medida por escalas de autoavaliação aplicadas antes de os pacientes receberem
as drogas e imediatamente antes da inserção do cateter e da tomografia. Todo o
procedimento mostrou-se ansiogênico, o que permitiu evidenciar o efeito ansiolítico
do CBD. Os resultados do SPECT evidenciaram um aumento de atividade no giro
para-hipocampal esquerdo e uma diminuição de atividade no complexo amígdala-
hipocampo esquerdo, estendendo-se até o hipotálamo e o córtex cingulado posterior
esquerdo. Esse padrão de atividade cerebral induzido pelo CBD é compatível com
uma atividade ansiolítica.
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Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Efeito antipsicótico
Estudos em animais
Estudos em humanos
clínicos com pacientes. Um dos modelos utilizados para avaliar um possível efeito
antipsicótico do CBD foi o da inversão da percepção de profundidade binocular
(Binocular depth inversion − BDI). Nesse modelo, o CBD diminuiu o prejuízo no relato de
imagens ilusórias produzido pela nabilona, um canabinoide sintético análogo ao
∆9-THC. Esse fato sugeriu um efeito semelhante ao dos antipsicóticos em pacientes
com esquizofrenia.
Psicose
Esquizofrenia +++
Associada ao Parkinson ++
Associada à epilepsia ?
Ansiedade
Saudáveis ++
49
Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
Transtorno do pânico ?
Transtornos do humor
Depressão +
Síndrome de abstinência
Cannabis ++
Heroína +
Tabaco ?
Outras drogas ?
Distúrbio do sono
Insônia ++
50
Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
Vinte e oito pacientes foram avaliados por meio do Stroop Color Word Test (SCWT)
em duas sessões experimentais. Na primeira, não houve administração de drogas e,
na segunda, os pacientes foram divididos em três grupos que receberam dose única de
CBD 300mg, CBD 600mg ou placebo. Verificou-se que a administração aguda de CBD
em dose única não demonstrou ter efeitos benéficos sobre o desempenho de pacientes
com esquizofrenia no SCWT, embora esses dados não sejam suficientes para refutar
a hipótese de que a administração continuada de CBD possa resultar em melhora no
funcionamento cognitivo em esquizofrenia.
51
Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
de resposta no outro pode estar relacionada ao fato de esses dois pacientes terem sido
considerados resistentes aos antipsicóticos, uma vez que um deles teve uma resposta
parcial, apenas com a clozapina, e o outro não respondeu a esse antipsicótico. Nenhum
dos pacientes apresentou efeitos adversos durante o uso do CBD.
II. o uso adicional dos antipsicóticos convencionais pode piorar ainda mais o
quadro motor;
52
Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
o tratamento com o CBD e não houve piora dos sintomas cognitivos. Esses resultados
preliminares sugerem que o CBD pode ter um efeito benéfico na DP.
Um dos primeiros efeitos observados com o CBD foi sua ação sedativa. Observou-se
que esse canabinoide reduzia ambulação e comportamento operante em ratos.
Posteriormente, efeitos indutores e de aumento total do sono em ratos foram descritos.
Em um estudo, humanos voluntários, com queixa de insônia e sem outros distúrbios
físicos ou psiquiátricos, receberam CBD em três doses (40, 80 e 160mg), placebo
e nitrazepam (5mg). Cada tratamento foi realizado durante uma semana, em um
procedimento duplo-cego em ordem randomizada. Quando comparado ao placebo, o
CBD (160mg) aumentou significantemente o número de voluntários que mantiveram
o sono por sete ou mais horas. Consistente com esse achado, verificamos que vários dos
indivíduos incluídos no estudo do CBD, em pacientes com DP, descrito previamente,
relataram melhora da qualidade do sono, o que é considerado um problema comum
nesse transtorno do movimento.
Considerando-se que os efeitos ansiolíticos do CBD possam ser mediados pela ativação
dos receptores 5-HT1A e que essa modulação poderia induzir efeitos antidepressivos,
tal hipótese foi avaliada por meio do teste do nado forçado em camundongos.
Os autores verificaram que, assim como o antidepressivo padrão imipramina (30mg/
kg), o CBD (30mg/kg) diminuiu o tempo de imobilidade dos animais submetidos
53
Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
ao teste do nado forçado. Esses efeitos do CBD foram bloqueados pelo tratamento
prévio com um antagonista do receptor 5-HT1A, o que sugere, de fato, que o efeito
antidepressivo seja mediado pela ativação desses receptores.
54
Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
A mesma situação tem sido descrita em relação à depressão, uma vez que o ∆9-THC
pode induzir euforia em certas doses. Em pacientes com esclerose múltipla, esse
canabinoide demonstrou melhora do humor, provavelmente pela melhora da sensação
dolorosa que geralmente é acompanhada de sintomas depressivos. Em contraste com
as observações acima, em indivíduos vulneráveis a doses habituais, tem sido relatado
que o uso de altas doses de maconha pode provocar uma forma aguda e temporária
de ansiedade induzida, muitas vezes parecida com um ataque de pânico. Isso tem
sido consistentemente bem descrito em estudos experimentais em humanos e em
vários relatos de casos. Assim como para a maioria dos canabinoides, esses achados
paradoxais em relação ao ∆9-THC poderiam ser explicados pela observação de que os
seus efeitos sobre a ansiedade e o humor parecem ser dose-dependentes, com baixas
55
Unidade I | Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC)
56
Cannabis medicinal em transtornos do Sistema Nervoso Central (SNC) | Unidade I
57
CANNABIS MEDICINAL
NA NEUROLOGIA UNIDADE II
CAPÍTULO 1
O potencial terapêutico dos
canabinoides para distúrbios
do movimento
58
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Vários estudos em modelos animais de Parkinson e Huntington (DP e DH) sugerem que
as terapias baseadas em canabinoides podem atenuar a neurodegeneração. De fato, em 7
de outubro de 2003, a US Health and Human Services recebeu a patente US 6630507, que
lista o uso de canabinoides, encontrados na planta Cannabis sativa, em certas doenças
neurodegenerativas, como DP, doença de Alzheimer e demência causada pelo vírus da
imunodeficiência humana. Os canabinoides podem oferecer neuroproteção por meio de
mecanismos mediados por receptor e independentes de receptor. Os canabinoides são
capazes de reduzir o dano oxidativo e agem como eliminadores de espécies reativas de
oxigênio (ROS), além de aumentar as defesas antioxidantes endógenas. Essa propriedade
parece ser independente de CB1 e CB2, por modulação do receptor e restrito a certos
canabinoides, incluindo CBD, THC, canabinol, CP55,940 e o análogo de anandamida
59
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Mal de Parkinson
Os agonistas CB1 inibem a liberação de dopamina nos gânglios basais e espera-se que
sejam ineficazes no alívio dos sintomas motores da DP. De fato, foi demonstrado que
os agonistas CB1 exacerbam a bradicinesia em primatas lesionados por 1-metil-4-fenil-
1,2,3,6-tetra-hidropiridina (MPTP). No entanto, também foi relatado que os agonistas
CB1 melhoram as deficiências motoras, possivelmente por meio de mecanismos não
dopaminérgicos, incluindo interações com receptores A2A de adenosina. Estudos de
antagonistas CB1 são mais consistentes quanto à melhora dos sintomas motores sem
aumentar as discinesias. Esses efeitos parecem envolver mecanismos não dopaminérgicos,
incluindo liberação aumentada de glutamato estriatal, e podem ser maiores em animais
com degeneração nigroestriatal mais grave. As possíveis explicações para a variabilidade
terapêutica dos compostos baseados em CB incluem diferenças na gravidade da lesão,
no desenho do estudo, na dose e no gênero. Diferentes moduladores CB1 também
podem exibir seletividade funcional para diferentes proteínas G ou subpopulações de
receptores CB1; um fenômeno conhecido como agonismo tendencioso.
Embora os receptores CB1 e CB2 estejam diminuídos nos gânglios da base de animais
discinéticos, não se sabe se isso é compensatório ou causal. Estudos em animais
sugerem que as terapias baseadas em canabinoides podem melhorar a LID (discinesias
induzidas por levodopa) sem piorar o controle motor. Curiosamente, esses efeitos
60
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
são relatados tanto para agonistas CB1 quanto antagonistas, embora esses efeitos
não sejam observados em todos os estudos e as doses mais elevadas de agonistas CB1
podem prejudicar a função motora. Isso sugere que os efeitos do agonista CB1 sobre
LID estão relacionados aos efeitos de supressão motora geral. Outros receptores CB
também podem estar envolvidos no LID, como URB597 (um inibidor FAAH que
aumenta os níveis de anandamida), o qual não afetou o LID como monoterapia, mas
melhorou o LID quando coadministrado com um antagonista de TRPV1. Tal fato
sugere que TRPV1 e CB1 podem ter efeitos opostos.
Dona Edna foi diagnosticada com Parkinson. Quando estava no auge da doença,
ela não conseguia mais conversar e não tinha coordenação motora. Faltava-lhe
forças até para segurar o telefone na mão. Ela fazia tratamento com remédios
convencionais, mas estes tinham pouco eficácia e os efeitos colaterais, como a
incontinência urinária, eram péssimos.
O neto de Edna conheceu o neurocirurgião Pedro Antonio Pierro Neto, por meio
da Santa Cannabis – Associação Brasileira de Cannabis Medicinal, que passou a
receitar o óleo de CBD e THC para o tratamento da senhora. Ela tomava as gotas,
via oral, de manhã, de tarde e de noite. A medicação começou a dar resultados
em menos de uma semana.
61
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Dona Edna conta que pintava tela, fazia crochê e era bastante ativa antes da
doença. O canabidiol possibilitou ela fizesse tudo novamente!
Segundo Pedro Pierro Neto, a Cannabis pode ser usada por pessoas de qualquer
idade, e para a maioria das doenças, desde que os tratamentos convencionais
não tenham apresentado resultado clínico satisfatório e que o óleo da Cannabis
medicinal seja permitido.
Doença de Huntington
Distonia e tremor
Foi especulado que os agonistas CB1 reduzem a hiperatividade do globus pallidus interna
(GPi), melhoram a distonia e diminuem a recaptação de GABA. Em apoio a essa ideia,
o agonista de CB1 e CB2 WIN55,212-2 produz efeitos antidistônicos em um modelo de
distonia, em hamster mutante, aumenta a eficácia antidistônica dos benzodiazepínicos e
é revertido pelo rimonabanto, um antagonista CB1 seletivo. Modelos animais sugerem
que os canabinoides podem reduzir o tremor relacionado à esclerose múltipla, um
efeito que parece ser mediado seletivamente por receptores CB1.
62
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
63
CAPÍTULO 2
O uso da Cannabis em tratamento
de enxaqueca
64
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Uma extensa lista de outros distúrbios citados anteriormente, que podem se enquadrar
na rubrica DEC, incluiu insuficiência neonatal de crescimento, fibrose cística, causalgia,
plexopatia braquial, dor em membro fantasma, cólica infantil, glaucoma, dismenorreia,
hiperêmese gravídica, desperdício fetal inexplicável (abortos repetitivos), TEPT,
doença bipolar e possivelmente muitos outros. Todos apresentam características
fisiopatológicas ainda insondáveis e permanecem resistentes ao tratamento.
A possível relação da enxaqueca com o SEC é destacada por vários achados. A anandamida
produziu respostas no receptor de serotonina e consiste em 89% de potenciação de
65
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
5-HT 1A e 36% de inibição de 5-HT 2A, achados estes que foram associados a perfis de
intervenções farmacológicas eficazes para a enxaqueca e que parecem apoiar a atividade
na enxaqueca aguda e crônica, respectivamente. Os epifenômenos da enxaqueca de
fotofobia e fonofobia sugerem uma hiperalgesia sensorial hiperativa, exatamente o tipo
de desequilíbrio homeostático que o SEC tende a corrigir no funcionamento do SNC.
A substância cinzenta periaquedutal é um possível gerador de enxaqueca no qual AEA
é tonicamente ativa e produz analgesia quando administrado ou hiperalgesia quando
CB1 é farmacologicamente bloqueado.
66
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
prévio do TRPV1 pela capsazepina. Esses achados apoiam a possível aplicação clínica
dos agonistas CB1 na enxaqueca e na cefaleia em salvas, embora os autores tenham
alertado sobre efeitos psicoativos de agentes como o THC.
Vários estudos na Itália enfocaram a relação etiológica das plaquetas com a enxaqueca
em pacientes afetados. Em um dos estudos, o aumento da função no transportador de
membrana de AEA e da FAAH em plaquetas de mulheres com enxaqueca sem aura
foi observado em comparação com pacientes com tensão episódica e dor de cabeça ou
controles sem dores de cabeça. Curiosamente, não houve diferenças na densidade do
receptor CB1 nos grupos, mas a FAAH estava elevada nas plaquetas de quem sofre de
enxaqueca. A consequente diminuição dos níveis séricos de AEA poderia, teoricamente,
diminuir o limiar de dor em tais pacientes.
67
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Até recentemente, apenas relatos de casos e pesquisas sobre o uso de THC e Cannabis
e seus efeitos sobre a enxaqueca foram publicados, mas um ensaio observacional mais
formal foi relatado em uma clínica voltada para a Cannabis, no estado do Colorado.
Entre 120 adultos com enxaqueca, para os quais a profilaxia de Cannabis foi recomendada,
e dos quais 67,8% dos participantes haviam usado Cannabis anteriormente, a frequência
da dor de cabeça diminuiu de 10,4 para 4,6 ataques por mês (p <0,0001). No geral,
85,1% relataram que a frequência da enxaqueca havia diminuído, com 39,7% relatando
efeitos positivos: prevenção ou redução da frequência da dor de cabeça (19,8%) ou
dor de cabeça abortada (11,6%) nessa população selecionada e não controlada. Foi
empregada uma mistura de técnicas de administração com conteúdo não analisado,
mas presumivelmente alta de THC.
68
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
69
CAPÍTULO 3
Exploração terapêutica da Cannabis
na esclerose múltipla
Embora o sistema nervoso central (SNC) tenha sido considerado um local com
privilégios imunes, principalmente devido à presença da barreira hematoencefálica
(BBB), as atividades imunológicas ocorrem e são, às vezes, necessárias para a função
neuronal e a defesa do hospedeiro. Qualquer insulto do cérebro está associado à
inflamação aguda, caracterizada por ativação das células endoteliais, edema tecidual
70
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
71
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
72
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
B cell
Células plasmáticas
T cell
B cell Dendrito
s Neurônio
Astrocito
CD8 CD8
Th1
Th17 Th1
T cell
Th17
Citocinas
Quimiocinas
Microglia
Antígenos
Anticorpos
Os ataques mediados pelo sistema imunológico são dirigidos principalmente por células
de imunidade adaptativa, ou seja, células T CD8 e CD4 autorreativas e específicas
de mielina (T-helper 1 e T-helper 17), com uma importante contribuição das células
B, que produzem altos níveis de autoanticorpos e que recentemente demonstraram
contribuir para a neurodegeneração e desmielinização cortical, especialmente para
folículos ectópicos meníngeos de células B.
Durante esses ataques, a bainha de mielina é danificada, o que prejudica a condução axonal
e a comunicação correta entre diferentes partes do sistema nervoso. Esses processos
são sustentados por um recrutamento subsequente de células da imunidade inata da
periferia, que amplificam ainda mais a ativação de células T patogênicas e a destruição
de neurônios e oligodendrócitos. Além disso, há uma ativação permanente de micróglias
e astrócitos residentes que potencializam ainda mais a resposta neuroinflamatória por
meio da produção de mediadores pró-inflamatórios (Figura 20).
74
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
De qualquer forma, todos esses efeitos nocivos parecem estar causando atrofia
generalizada, cortical e subcortical da substância cinzenta desde os estágios iniciais
da doença, conforme observado por RM e análise de amostras de pacientes com EM
post mortem. A neurodegeneração leva à incapacidade permanente e crescente, com
espasticidade e dor como características importantes da doença.
75
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Nessa linha, as evidências ex vivo acumuladas mostraram uma grande alteração dos
CB1 e CB2 em vários modelos experimentais de EM e em pacientes afetados por
diferentes formas clínicas da doença. Essa observação sugere fortemente um papel
funcional dos receptores canabinoides na patologia da EM e estimulou estudos
pré-clínicos direcionados a modular sua atividade pela administração in vivo de
canabinoides vegetais, agonistas ou antagonistas sintéticos.
Esse cenário sugeriu que a ativação do CB2 nas células T, causada por eCBs, foi
suficiente para controlar a inflamação autoimune e possivelmente para retardar a
progressão da doença. Esses estudos indicam o envolvimento de CB1 e CB2 na eficácia
terapêutica da modulação do sistema eCB. Eles também sugerem um papel diferencial
desempenhado por esses dois subtipos de receptores, em que o controle da espasticidade
é principalmente mediado pelo CB1, enquanto o CB2 parece modular respostas imunes
hiperativas e exacerbadas.
76
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Da mesma forma que CB1 e CB2, as enzimas metabólicas dos eCBs foram
significativamente alteradas em ambos os pacientes com EM e em modelos animais da
doença. Essas alterações dos eCBs e de seu metabolismo ainda são um tanto controversas,
provavelmente devido a diferentes modelos experimentais utilizados e variações no
recrutamento e na estratificação dos pacientes com EM. Apesar dessas controvérsias,
o papel anti-inflamatório e neuroprotetor dos eCBs é amplamente documentado em
experimentos in vivo e ex vivo, em células obtidas de modelos experimentais de EM
ou de pacientes com EM autênticos.
A administração exógena de eCBs melhorou o controle da espasticidade e protegeram
os neurônios contra danos inflamatórios, possivelmente envolvendo os receptores CB
nas células microgliais. Além disso, a inibição da captação endógena de AEA e de sua
degradação pela FAAH demonstrou melhora dos sintomas motores. Essa melhora foi
associada a respostas inflamatórias reduzidas na medula espinhal, juntamente com a
regulação negativa da função dos macrófagos e das microglias.
Em um modelo de EM induzido por vírus, a AEA inibiu a ativação microglial e diminuiu
a interleucina (IL)-23 e a liberação de IL-12, IL-1β e IL-6. A inibição das duas últimas
citocinas pró-inflamatórias foi mediada por um mecanismo que envolve a recuperação
de CB2 pelo receptor da interação entre CD200 (expresso em neurônios) e seu receptor
(expresso em macrófagos/microglia). Essa interação parece ser interrompida na
EM, expondo os neurônios à neurotoxicidade, induzida por macrófagos/microglia e
liberação de citocinas.
Recentemente, foi demonstrado que o papel anti-inflamatório da AEA na EM é
específico para o tipo celular, uma vez que inibe a produção de citocinas apenas no
mieloide de células dendríticas. Em vez disso, as células dendríticas plasmocitoides
não responderam à AEA devido a uma significativa regulação positiva da FAAH em
comparação com indivíduos saudáveis.
Curiosamente, a inibição crônica e a longo prazo da FAAH (via ablação genética)
resultou em remissão clínica e melhorou o resultado a longo prazo em camundongos
EAE. Além disso, a fase aguda da EM foi melhorada pelo aumento dos níveis de
2-AG, que inibiam a espasticidade quando administrados a 10 mg/kg e causavam um
atraso no início de modelos de EAE agudos e crônicos quando administrados por via
intraperitoneal a 100 μg. O último efeito foi provavelmente mediado pelo recrutamento
de macrófagos anti-inflamatórios.
Com base nessas ações neuroprotetoras mediadas por eCB, inibidores seletivos de
FAAH e MAGL, que degradam AEA e 2-AG, respectivamente, foram utilizados in
77
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
vivo para aumentar o tônus e, assim, potencializar os efeitos desses eCBs. O bloqueio
da degradação da AEA, por vários inibidores potentes e seletivos da FAAH, foi de
fato capaz de controlar a espasticidade em camundongos Biozzi ABH; outro modelo
de camundongo da EM que reproduz tanto o curso recorrente-remitente quanto os
aspectos neurológicos progressivos secundários. Da mesma forma, os inibidores da
MAGL controlaram a espasticidade e preservaram a integridade da mielina, de modo
que suprimiram a excitotoxicidade dos oligodendrócitos e a ativação microglial, além
de retardarem a progressão clínica da EAE.
Além disso, a IL-1β inibe as sinapses de GABA e esse efeito contribui ainda mais para
o dano excitotóxico dos neurônios durante EAE e MS. De acordo com seu papel
homeostático nos distúrbios neuroinflamatórios, o CB1, nos terminais nervosos
GABAérgicos, é regulado de maneira seletiva no estriado de camundongos EAE, de
modo que os níveis aumentados de eCB, nesses animais, apenas reduzem a transmissão
excitatória sem afetar a sinalização GABA.
Por outro lado, a AEA também pode se ligar ao canal de íons vaniloide potencial
1 do receptor transitório (TRPV1), cuja ativação pode impactar negativamente a
sobrevivência neuronal. O TRPV1 também modula os efeitos sinápticos do TNF-α e
78
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Embora ainda não esteja claro qual é o principal tipo de célula que responde à inflamação
central por meio da liberação do eCB, as células precursoras neurais parecem boas
candidatas, porque respondem a estímulos inflamatórios e a receptores TRPV1
sensibilizados. Ademais, limitam a sináptica inflamatória dos danos causados pela
liberação do AEA. Os mecanismos pelos quais esses elementos do sistema eCB modulam
as perturbações pré-sinápticas e pós-sinápticas induzidas pela inflamação são mostrados
na figura a seguir:
TRPV1
Receptor CB1
Mitocôndria
Terminal
GABAérgico
Site
pós-sináptico
sEPSC
sIPSC
79
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Esse efeito foi atribuído à ativação do THC dos receptores CB1 e não ao CBD no modelo
EAE, enquanto, no modelo viral, tanto o THC quanto o CBD foram eficazes. No entanto,
o CBD, canabinoide desprovido de atividade psicoativa e potencialmente seguro,
também foi investigado como uma alternativa eficaz para aliviar a neuroinflamação
e a neurodegeneração.
80
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Provavelmente, isso se deve a uma conversa cruzada entre a via PI3K / Akt / mTOR
induzida pelo CBD e à regulação positiva do PPARγ de ligação à PEA. Os efeitos mais
reconhecidos do CBD são os imunorreguladores:
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Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
resultados dos estudos clínicos incomparáveis e contribui para evidências inconclusivas
da eficácia do canabinoide na maioria dos estudos clínicos.
A depressão foi a única condição clínica em que o placebo foi relatado como mais
eficaz que os nabiximóis, em três estudos clínicos. Contudo, os medicamentos à base
de Cannabis foram confirmados como sendo mais eficazes que o placebo nos resultados
primários dos estudos selecionados em condições como espasticidade devido a múltiplas
escleroses ou paraplegia, dor neuropática, dor de câncer, anorexia secundária ao HIV/
AIDS, náusea e vômito devido à quimioterapia, distúrbios do sono, ansiedade, psicose
e síndrome de Tourette.
Apesar das limitações e da baixa qualidade da maioria dos ensaios clínicos, os resultados
positivos de alguns estudos clínicos rigorosamente conduzidos e os efeitos colaterais
aceitáveis da maioria das preparações canabinoides (os efeitos adversos mais comuns
são tonturas, sonolência e desorientação) levaram à aprovação do Nabiximol como
o único medicamento à base de Cannabis disponível no Canadá, na Nova Zelândia e
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Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
em vários países europeus e asiáticos (mas ainda não nos EUA) para o controle da
espasticidade e dor neuropática associada à EM.
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Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
segurança favorável nos ensaios clínicos de fase 1 e 2, mas foi ineficaz no tratamento
da dor em pacientes com osteoartrite. Atualmente, o composto está sendo avaliado
para o tratamento da síndrome de Tourette, de respostas ao medo e de abstinência
de maconha.
Fonte: https://www.cannabisesaude.com.br/como-a-cannabis-mudou-a-vida-de-um-paciente-com-esclerose-
multipla/. Acesso em: 05 dez. 2020.
Aos 26 anos, Gilberto Castro perdeu toda a sensibilidade do pescoço para baixo.
Eram os primeiros sinais da esclerose múltipla. Os médicos disseram que ele teria
mais cinco anos de vida saudável e que, aos poucos, perderia os movimentos e
parte da visão.
84
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
“Era remédio para controle da irritabilidade, outro para amenizar a fadiga, um para
tontura, outro para insônia, e outros para controle da dor. As dores neurológicas
vêm com a sensação de choque ou queimação, ou de dor muscular mesmo. Você
toma um remédio para um tipo de dor, depois para outra e outra. E os efeitos
podem ser terríveis. Se você ler a bula, você nem toma”, relata Gilberto Castro.
Quando soube das perspectivas negativas do futuro, Gilberto se voltou aos estudos
da doença e encontrou relatos e pesquisas sobre os benefícios da Cannabis em
pacientes com EM. Levou a descoberta aos médicos, os quais não se mostraram
favoráveis, já os neurologistas o apoiavam.
O papel do sistema eCB nesses distúrbios foi extensivamente revisado em artigos recentes.
Da mesma forma que na EM, foram relatadas perturbações de diferentes componentes
do sistema eCB. Os níveis de CB1, CB2 e eCB aumentaram ou diminuíram em diferentes
áreas do cérebro (especialmente para CB1), tipos celulares específicos ou estágios da
85
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
86
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
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Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Notavelmente, elementos distintos do sistema eCB podem ser biomarcadores úteis para
fins de diagnóstico e capazes de prever a evolução da doença em pacientes com EM.
Por exemplo, os níveis de AEA, no líquido cefalorraquidiano, são surpreendentemente
indicativos de fases ativas da EM, mesmo assintomáticas, associadas à ruptura aguda
da barreira hematoencefálica e à infiltração de linfócitos. No entanto, protocolos
padronizados e otimizados para a determinação dos níveis de eCB, em fluidos biológicos
e biópsias humanas, são necessários para minimizar a variabilidade na determinação
de seu conteúdo.
88
CAPÍTULO 4
A base farmacológica da terapia
de epilepsia com Cannabis
89
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
(50%), também conhecida como epilepsia adquirida, pode resultar de uma série de
condições, incluindo neurotoxicidade, lesão cerebral traumática, anorexia, desequilíbrios
metabólicos, convulsões prolongadas atribuíveis à abstinência de drogas, tumores ou
encefalite.
As pessoas portadoras de epilepsia do tipo refratária devem ter seu ritmo de aprendizagem
e sua adaptação social adequados às suas condições de saúde. A sua inserção no contexto
social é importante para a superação das dificuldades diárias.
A maioria dos novos diagnósticos de epilepsia ocorre com mais frequência em crianças
e idosos.
Pessoas com epilepsia, cujas convulsões não podem ser controladas por meio de
medicamentos, têm ainda a opção de realizar uma ressecção cirúrgica ou neuroestimulação.
“Vencer o estigma da epilepsia é o primeiro passo para o paciente ter uma
vida próxima do normal” (doutor Li Min. - FCM/UNICAMP)
Há uma grande necessidade não atendida de novas terapias que forneçam controle
eficaz da epilepsia resistente a medicamentos ou refratária e não interfiram na função
normal. Essa tarefa é mais desafiadora em certos tipos de epilepsia, como as de Lennox-
Gastaut, Doose, Dravet, CDKL5, Rett, West, Ohtahara, Landau-Kleffner, entre outras.
Nas encefalopatias epilépticas, a atividade epiléptica é tão intensa que contribui para
o comprometimento cognitivo e comportamental.
Tipos de
encefalopatias Características
epilépticas
• Início no primeiro mês de vida (até 3 meses).
• EEG: surto-supressão.
Encefalopatia
• Prognóstico ruim, crises refratárias, atraso do DNPM.
mioclônica precoce
• Muita mioclonia, crises focais e tônicas.
• Associada a erros inatos do metabolismo (hiperglicinemia não cetótica).
90
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
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Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
• “Afasia adquirida”.
• Início entre 2 e 8 anos.
Síndrome de Landau-
Kleffner • Criança previamente normal. Começam as crises epilépticas e a dificuldade de linguagem
(agnosia auditiva).
• EEG: piora no sono, com atividade epiléptica contínua.
Fonte: https://sechat.com.br/entidades-e-agentes-do-setor-canabico-prestam-homenagens-a-charlotte-figi/.
Acesso em: 05 dez. 2020.
Charlotte Figi (18 de outubro de 2006 - 7 de abril de 2020) foi uma menina
estadunidense com síndrome de Dravet, um tipo de epilepsia refratária de difícil
controle, mesmo com uso de medicamentos halopáticos. Ela e sua irmã gêmea
nasceram em 2006. Charlotte teve sua primeira convulsão aos três meses de
idade e, aos cinco anos de idade, andava de cadeira de rodas para se locomover.
Tinha até trezentas convulsões por semana e problemas na fala.
Em 2012, Paige, mãe de Charlotte Figi, descobriu o óleo de maconha CBD para
o tratamento de sua filha. Paige começou a retirar o óleo da planta de maconha,
chamada “Hippie’s Disappointment”, que continha baixo nível de THC. Mais tarde,
esse óleo foi batizado de “Charlotte´s Web”, em homenagem a Charlotte Figi, sua filha.
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Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Fonte: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2019/12/06/mae-que-foi-pioneira-em-trazer-canabidiol-ao-
pais-festeja-decisao-da-anvisa.htm. Acesso em: 05 dez. 2020.
Segundo o pai de Anny, o canabidiol salvou a vida de sua filha, e sem ele seria
difícil que sua filha estivesse viva. A história de Anny foi uma de tantas outras
que marcou a luta pela maconha medicinal no Brasil.
Fonte: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2017/03/12/nos-submetemos-ao-trafico-
para-aliviar-a-dor.htm. Acesso em: 05 dez. 2020.
93
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Sofia tem a Síndrome CDKL5; um tipo de epilepsia grave e que não tem cura. Quando
sua mãe, Margarete Brito, descobriu a doença da filha, buscou tratamentos médicos.
Dos tratamentos experimentados, o mais eficiente foi o processo terapêutico com
o óleo extraído da Cannabis sativa.
Sofia faz o tratamento com remédios tradicionais e com o óleo do canabidiol, que
ajuda ao poder terapêutico, pois age no cognitivo e controle parcial das convulsões.
E deu certo! Aos poucos, mesmo que lentamente, as famílias vão recebendo
autorizações judiciais para o cultivo no Brasil. Os juízes estão reconhecendo que
é possível plantar e fazer o próprio remédio para tratamento.
94
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Flor de Cannabis
canabidiol
Δ9-tetrahidrocannabinol
Antioxidante neuroprotetor
Neuroprotetor Agonista CB2 Anticonvulsivante
Anticonvulsivante Anti-inflamatório Antineoplásico
Relaxante muscular
Antibiótico/antiacne
Pró-microbiome Β-caryophyllene Agonista PPARƔ
Agosnista PPARƔ
Fonte: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fnint.2018.00051/full. Acesso em: 06 dez. 2020.
três vezes maiores para aqueles que relataram> 50% de resposta. Estudos observacionais
mais cuidadosos com um extrato oral de canabidiol padronizado com THC removido
(Epidiolex®) forneceu resultados mais convincentes com uma redução média de 55% nas
convulsões em pacientes com Dravet e síndrome de Lennox-Gastaut (LGS) em altas
doses. Os resultados subsequentes da Fase III, na síndrome de Dravet, com CBD 20 mg/
kg/d mostraram forte significância estatística na frequência das crises e na Impressão
Global de Mudança do Cuidador. Estudos mais recentes reforçaram as evidências de
segurança e eficácia da preparação em ambas as condições. Como resultado, recebeu
a aprovação da Food and Drug Administration, dos EUA, em junho de 2018.
96
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Agosnistas CB2 específicos são sugeridos como possíveis alvos terapêuticos para o
tratamento da inflamação e da dor, especialmente a dor neuropática. Um estudo
revelou que os agonistas canabinoides sintéticos dos receptores CB2 exibem alterações
nos níveis de cAMP e causam inibição da sinalização das células T. Descobriu-se que
o agonista CB2 JWH-015 ativa macrófagos para remover a proteína β- amiloide de
tecidos humanos congelados. Essa evidência sugere que os receptores CB2 também
podem ter potencial terapêutico para doenças neurodegenerativas, como a doença de
Alzheimer.
97
CAPÍTULO 5
Canabidiol em crianças com
encefalopatia epiléptica refratária
No estudo, a maioria das crianças que tiveram uma resposta positiva ao CBD estava
tomando uma dose que variava de 8 a 14 mg/kg/dia. Outros pesquisadores usaram uma
dose de 20 mg/kg/dia em seus participantes randomizados para receber o medicamento
do estudo, mas a substância era CBD purificado com concentrações desprezíveis de
Δ9-THC. Os participantes de um outro estudo receberam uma dose de CBD de <10
mg/k/dia ou 10–20 mg/kg/dia fornecida na forma de extrato de Cannabis rico em CBD.
99
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
em cada visita, é centrifugado (10 min a 1500 rpm), o plasma aliquotado em tubos de
microcentrífuga claramente rotulados e colocados a -80°C até a análise. As concentrações
plasmáticas de THC, CBD e THC-OH (11-hidroxi-THC) nas amostras de plasma
dos participantes foram determinadas por análise LC-MS/MS. Resumidamente,
soluções estoque (1 mg mL - 1) de canabinoides e seus respectivos padrões internos
marcados com isótopos estáveis (Cerilliant Corp., Round Rock, TX) foram preparados
em metanol e armazenados a -20°C. As soluções de trabalho foram preparadas por
diluição, em série da solução estoque em plasma humano em branco, para produzir
curvas de calibração padrão apropriadas. Os critérios de aceitação para cada corrida
analítica foram baseados em padrões de controle de qualidade (CQ) de baixa, média
e alta concentrações. Amostras de calibração e CQ eram preparadas em cada dia de
análise de amostra. Uma análise de regressão de mínimos quadrados linear, usando 1/
X2 como fator de ponderação, foi conduzida para determinar a linearidade da curva de
calibração. A extração da amostra de plasma envolveu a adição de 10 μL da solução de
trabalho do padrão interno e 600 μL de acetonitrila fria a 200 μL de plasma, seguido
por mistura em vórtice e centrifugação a 20.000 g por 10 min a 4 ° C. 700 μL de
sobrenadante e, por fim, secos sob ar filtrado por 15 min a 37°C. As amostras foram
reconstituídas por meio de fase móvel de 200 μL. O sobrenadante era transferido
para inserções de HPLC e 5 μL injetados em uma coluna de proteção Zorbax Eclipse
XDB-C18 de furo estreito 2,1 × 12,5 mm 5 μm e coluna de guarda Zorbax Eclipse XDB-C8
de furo estreito 2,1 × 12,5 mm 5 μm com temperatura da coluna mantida em 30°C.
Os canabinoides eram separados por intermédio de uma bomba binária Agilent série
1290 (Agilent Technologies, Mississauga, ON, Canadá) com um desgaseificador on-line
e amostrador automático ajustado em 4° e uma fase móvel de 80% de metanol e 20%
de solução B (0,1 mM de formato de amônio ) a uma taxa de fluxo de 250 μL/min. As
injeções ocorreram em intervalos de 13,5 min e incluíram gradientes lineares para
90% de metanol 10% de solução B em 3,5 min a 10 min e retorno para 80% de metanol:
solução B a 20% de 10 min a 10,5 min.
101
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
itens. A maioria dos itens foi afirmada de forma positiva, causando menos sofrimento
por parte de quem completou a medida.
102
CAPÍTULO 6
Canabinoides na doença de Parkinson
Uma pesquisa cuidadosamente elaborada com 339 pacientes tchecos, que usaram folhas
de Cannabis orais, relatou alívios significativos de vários sintomas, particularmente
aqueles indivíduos que usaram o tratamento por três ou mais meses. Houve melhora na
função geral (p <0,001), em repouso tremor (p <0,01), bradicinesia (p <0,01) e rigidez
(p <0,01), com poucos efeitos colaterais.
que eCBs podem atuar como efetores a jusante de receptores D2. Consequentemente,
os receptores D2 e CB1
são expressos nos terminais GABA do corpo estriado.
A complexa interação entre a dopamina e os eCBs (Figura 30) explica bem a reorganização
desses sistemas, tanto na DP idiopática quanto na experimental. Estudos anteriores em
DP experimental mostraram atividade aumentada de eCBs nos gânglios da base, incluindo
níveis aumentados de mRNA de CB1, atividade de CB1, níveis de AEA e diminuição da
depuração de CB. Consequentemente, o nível aumentado de AEA foi demonstrado no
líquido cefalorraquidiano de pacientes com DP não tratados. Além disso, foi relatado aumento
da expressão de receptores CB1 nos gânglios da base. Essas alterações estão associadas à
supressão do movimento e podem ser revertidas pelo tratamento crônico com levodopa.
Figura 30. Mecanismos esquemáticos das interações entre o sistema canabinoide e a transmissão dopaminérgica no âmbito
dos gânglios basais.
GABA
DARPP-32 Glu
GABA
DARPP-32
DA
GABA A1
5HT
A2A
SNC
Glu
GABA
106
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Estudos pré-clínicos
Estudos de antagonistas CB1 mostraram de forma mais consistente uma melhora dos
sintomas motores. Bloqueio de CB1R com rimonabanto ou com outros antagonistas
reduziu a acinesia e o comprometimento motor em modelos experimentais de DP,
embora alguns outros estudos tenham mostrado resultados conflitantes. Além disso, o
rimonabanto foi mais eficaz quando usado em doses baixas e em fases muito avançadas
da doença, que são caracterizadas por dano grave à substancia negra. Esses efeitos
parecem envolver mecanismos não dopaminérgicos, incluindo aumento da liberação
de glutamato estriatal.
O SEC pode estar envolvido em LIDs, mas os resultados são controversos. Embora esse
sistema seja modulado em diferentes modelos experimentais de DP e em resposta ao
tratamento crônico com levodopa, não se sabe se essas alterações são compensatórias ou
causais. Estudos pré-clínicos mostraram que tanto os agonistas quanto os antagonistas
do CB1R representam agentes antidiscinéticos potencialmente úteis.
Os efeitos antidiscinéticos dos agonistas CBR são mediados por uma normalização da
sinalização de cAMP/PKA e estão associados a uma fosforilação DARPP-32 aumentada.
No entanto, como doses mais altas de agonistas CB1 podem prejudicar a função
motora, foi sugerido que os efeitos nos LIDs podem estar relacionados a uma inibição
motora global. Em um estudo, os inibidores FAAH falharam em reproduzir os efeitos
benéficos dos agonistas CB quando administrados isoladamente. Como os inibidores
de FAAH mostraram propriedades antidiscinéticas apenas quando combinados com
um antagonista do receptor TRPV1, é concebível que os receptores CB1 e TRPV1
operem em direções opostas para controlar os LIDs. Um estudo recente acrescentou
mais complexidade ao sugerir que certos eCBs (por exemplo, AEA) podem reduzir
LIDs quando ativam o PPAR-γ. Efeitos benéficos também foram relatados para o
108
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Estudos clínicos
Estudos observacionais sugerem que os CBs podem melhorar alguns sintomas motores
e não motores associados à DP. Em duas pesquisas publicadas com pacientes com DP,
foi relatado que a Cannabis fumada produzia algum benefício nos sintomas motores
e não motores, embora esses estudos apresentem várias limitações que podem ter
influenciado os resultados. Uma pequena série de casos não mostrou benefícios para o
tremor após uma única administração de Cannabis fumada. Em contraste, um pequeno
estudo aberto, que avaliou o exame motor 30 minutos após a Cannabis ser fumada,
relatou melhora em tremor, rigidez, bradicinesia, dor e sono. Com relação aos sintomas
não motores, um pequeno estudo aberto de 4 semanas com CBD para psicose em DP
encontrou melhora na Escala de Avaliação Psiquiátrica Breve e no Questionário de
Psicose de Parkinson, e outra pequena série de casos relatou benefícios para o distúrbio
comportamental do sono REM.
Poucos estudos clínicos controlados exploraram os efeitos dos CBs nos sintomas
motores e não motores em pacientes com DP. Um pequeno ensaio randomizado
cruzado, duplo-cego, controlado por placebo (Classe III) e avaliando a eficácia em
LIDs com nabilona (CB1 e agonista CB2) mostrou redução da Escala de Discinesia
Rush e do tempo LID total. Um pequeno estudo cruzado duplo-cego randomizado de
4 semanas (Classe I) explorou o efeito de Cannador® (extrato de Cannabis oral: 1,25
mg de CBD e 2,5 mg de THC) nas LIDs. A Cannabis não conseguiu melhorar os LIDs.
Além disso, nenhuma mudança significativa foi observada para outros resultados
secundários, incluindo sintomas motores (Escala Unificada de Avaliação da Doença de
Parkinson [UPDRS-III]), qualidade de vida (Questionário da Doença de Parkinson-39
[PDQ-39]) ou sono. Porém, deve-se considerar novamente que algumas questões
comprometeram os resultados (ou seja, 71% de identificação correta do tratamento).
Mais recentemente, 21 pacientes com DP foram randomizados para receber placebo,
CBD 75 mg/dia ou CBD 300 mg/dia em um ensaio de 6 semanas. Embora nenhuma
mudança significativa tenha sido encontrada para o UPDRS total, alguma melhora
foi observada no grupo de CBD 300 mg/dia, no que diz respeito à qualidade de vida
(pontuação PDQ-39 total e subescores de atividades da vida diária).
Os dados de alguns estudos sugerem que alguns sintomas motores na DP, em particular
os LIDs, podem responder às terapias à base de Cannabis. De fato, vários fatores (isto
109
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Nos últimos anos, um crescente corpo de literatura abordou o papel dos CBs em
condições fisiológicas e patológicas. Em distúrbios do movimento, os estudos
pré-clínicos contribuíram fortemente para aumentar o conhecimento da interação
entre CBs, DA e outras vias de sinalização, o que adicionou novos insights sobre
fisiopatologia e contribuiu para identificar novos alvos farmacológicos.
110
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Os dados de base (idade e sexo, duração da doença, pontuação Hoehn e Yahr) foram
derivados dos arquivos médicos. No dia do estudo, os pacientes foram instruídos a
tomar seus medicamentos antiParkinson em casa, normalmente, e a consumir 1 g da
maconha prescrita na clínica. A dose do composto ativo foi uma aproximação, pois
os pacientes estavam recebendo diferentes cepas de Cannabis, de diferentes safras, e o
composto ativo não é monitorado pelo controle de qualidade farmacêutica.
Para o teste sensorial, um termodo de contato foi anexado à eminência tenar, com
pequenas modificações, de acordo com a anatomia do participante para garantir o
contato ideal. O método dos limites foi aplicado por meio de um estímulo de 32°C que
foi então diminuído/aumentado sucessivamente a uma taxa de 1°C/s. A temperatura
mínima foi de 0°C e a máxima, 50°C. Foram geradas quatro categorias de estímulos:
111
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
sensação de calor e sensação de frio (quatro estímulos sucessivos cada) e dor de calor
nociva e dor de frio nociva (três estímulos sucessivos cada). Os pacientes foram
instruídos a pressionar um botão com a mão não testada no ponto em que a sensação
de calor/frio/dor fosse alcançada e o resultado fosse registrado. O limite final foi
calculado como o valor médio de todos os testes para cada categoria em cada mão.
Para o presente estudo, os resultados foram organizados de acordo com o membro mais e
menos afetado. O membro mais afetado foi definido como o lado do início da doença.
Para validar as duas medições consecutivas do QST, duas séries do teste foram realizadas
em um intervalo de 30 minutos, em 12 pacientes com DP, os quais nunca haviam sido
tratados com Cannabis.
Os questionários de dor e QST foram repetidos no grupo de estudo após, pelo menos,
10 semanas de uso continuado de Cannabis. O intuito era avaliar o efeito, em longo
prazo, da exposição à Cannabis. Durante esse período, os pacientes foram orientados
a tomar uma dose diária de 1 g de Cannabis (fumar ou inalar).
Resultados
A idade média dos pacientes tratados com Cannabis foi de 62,4 ± 9 anos (variação de 43-
78). A duração média da doença foi de 6,8 ± 3,5 anos (intervalo de 2–14) e a pontuação
média de Hoehn e Yahr foi de 2,2 ± 0,8 (intervalo de 1–4). Quatorze dos vinte pacientes
foram tratados com preparações de levodopa, com uma dose equivalente de levodopa
média de 608 ± 410 mg (intervalo de 250-1000). Cinco pacientes foram tratados com
agentes anticolinérgicos; seis, com agonistas da dopamina; três, com amantadina; e cinco,
com rasagilina. Seis pacientes apresentaram flutuações motoras. Nenhum dos pacientes
teve uma pontuação <24 no mini exame do estado mental durante o ano anterior ao
estudo. No grupo de controle, a idade média dos pacientes foi de 70 ± 7,2 anos (variação
de 59–82) e a duração média da doença, de 6 ± 2,6 anos (variação de 2–12). Onze dos doze
pacientes foram tratados com levodopa, com uma dose média equivalente de levodopa
de 477 ± 143 mg (intervalo 300–625). Dois pacientes apresentaram flutuações motoras.
O estudo sugere que o tratamento com Cannabis pode diminuir os sintomas motores e
a dor subjetiva em pacientes com DP e dor parkinsoniana central. A melhora no escore
motor UPDRS pode ser explicada pela abundância de receptores canabinoides (CB1)
no globo pálido e na substância negra. O tremor também melhorou, talvez porque
os canabinoides induzem uma diminuição na acetilcolina, pelo menos em modelos
animais. Esses resultados estão de acordo com um estudo anterior de pacientes com
DP, em que UPDRS e escores de dor (PPI e VAS) diminuíram após o tratamento com
Cannabis. A análise quantitativa mostrou uma diminuição no limiar da dor causa pelo frio
no membro mais afetado após a exposição imediata à Cannabis e diminuição no limiar
da dor causada pelo calor no membro mais afetado após a exposição de longo prazo.
1) O calor e a dor causados pelo frio são regulados de forma diferente após o uso
imediato ou crônico de Cannabis. Há rápida ativação dos receptores Aδ, daí o efeito
imediato na sensação de frio, que causa hipoalgesia ao frio, e um efeito tardio nos
receptores de fibra C, que são responsáveis pela dor causada pelo calor.
2) Diferentes receptores estão envolvidos na dor causada pelo calor e pelo frio: os
receptores CB1 são responsáveis pela transdução da dor ocasionada pelo frio e os
receptores TRPV1 são responsáveis pela transdução da dor provocada pelo calor. Pode
ser que, após o uso crônico, a Cannabis cause uma liberação de substância P mediada
por TRPV1 e proteína relacionada ao gene da calcitonina (CGRP), que leva à excitação
dos neurônios ganglionares da raiz.
A dor é uma sensação complexa, afetada por fatores fisiológicos, psicológicos, ambientais
e genéticos. Estudos demonstraram uma correlação entre certos polimorfismos de
113
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
114
CAPÍTULO 7
Efeitos dos canabinoides na esclerose
lateral amiotrófica (ELA)
O CBD modula a ativação de CBRs e amplia sua janela terapêutica, o que pode
afetar a melhora significativa da sobrevida e desaceleração da progressão da ELA.
Existem também benefícios conhecidos do CBD, como propriedades anti‐inflamatórias,
neuroprotetoras e ansiolíticas. Com base nessas evidências, pode-se argumentar que
um ensaio clínico com uma combinação de Δ9‐THC baixo e alto CBD é a intervenção
mais apropriada para investigar pacientes com ELA.
116
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
De acordo com um único estudo observacional de pacientes com ELA, apenas 10%
que admitiram consumir Cannabis revelaram alívio moderado de vários sintomas,
incluindo perda de apetite, depressão, dor e salivação.
Além disso, a espasticidade também é um grande problema para pacientes com ELA,
os quais relataram que a Cannabis pode melhorar subjetivamente essa condição. Além
disso, um estudo cruzado duplo-cego randomizado, que investigou a segurança e
tolerabilidade do Δ9-THC em pacientes com ELA, revelou que a administração oral
de Δ9-THC foi bem tolerada, mas uma atenuação não significativa da frequência
e intensidade da cãibra foi encontrada. Outros estudos confirmaram os mesmos
resultados, demonstrando que a Cannabis é extremamente segura, sem possibilidade
de overdose.
Até agora, não há estudos clínicos, amplamente apoiado por estudos experimentais,
que tenham tentado provar o potencial dos canabinoides como terapias modificadoras
da doença. Portanto, essa hipótese continua sendo um grande desafio para pesquisas
futuras.
À luz dos relatos, há uma justificativa válida para propor o uso de compostos canabinoides
no manejo farmacológico de pacientes com ELA. Os canabinoides, de fato, são capazes
de retardar a progressão da ELA e prolongar a sobrevivência. No entanto, a maioria
dos estudos que investigaram o potencial neuroprotetor desses compostos na ELA foi
realizada em modelo animal, enquanto os poucos ensaios clínicos que investigaram
medicamentos à base de canabinoides focaram apenas no alívio dos sintomas relacionados
à ELA, não no controle de progressão da doença. Este continua sendo o maior desafio
para o futuro e pode ser facilitado pela recente aprovação do primeiro medicamento
à base de canabinoide disponível para uso clínico.
117
Unidade II | Cannabis medicinal na neurologia
Dona Valda começou a cair; “a perna sumia”. Após a realização de exames, Dona
Valda Alves foi diagnosticada com a esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma
doença degenerativa, sem cura e que afeta movimentos, fala e funcionamento
dos órgãos.
Apesar da gravidade, a doença de dona Valda tem uma forma leve, o que fez o
diagnóstico demorar bastante. Alves conta que a notícia foi dada com a presença
de psicólogo e fisioterapeuta, pois não é uma notícia fácil de absorver. Apesar do
impacto, ele conta que a força da família veio da própria Valda: “Sei que é difícil,
mas essa doença não vai me derrubar”.
Hoje, Valda toma apenas três alopáticos: o remédio para tireoide, o Riluzol e
um antidepressivo, que auxilia nas dores que a ELA causa. A Cannabis é um
adjuvante dos tratamentos, ou seja, uma substância que aumenta a eficácia de
outros medicamentos. É tomada junto com vitaminas e minerais. Alves conta que
já conseguiram retirar alguns alopáticos.
118
Cannabis medicinal na neurologia | Unidade II
Ela mantém as sessões de fisioterapia e exercícios com o andador, que foi feito pelo
marido. Caminha e faz seus exercícios respiratórios. Como a doença é degenerativa,
Luciano entende que há dias em que a voz da mãe está mais fraca, mas se alegra
por terem conseguido estagnar a piora da doença.
119
CANNABIS MEDICINAL
EM PSIQUIATRIA UNIDADE III
CAPÍTULO 1
Cannabis no tratamento de transtorno
de ansiedade e síndrome do pânico
Δ9-THC exercesse seus efeitos primariamente por meio da alteração das características
físico-químicas das membranas celulares. Portanto, foi uma surpresa a identificação de
sítios específicos de acoplamento no cérebro dos mamíferos, seguidos por isolamento
e caracterização das substâncias ligantes endógenas, denominadas endocanabinoides.
O desenvolvimento de novos compostos farmacológicos, que tinham como alvo os
receptores ou a síntese e a degradação dos ligantes, revelou várias funções cerebrais
complexas, que são estritamente controladas pelo sistema endocanabinoide.
123
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
125
CAPÍTULO 2
Canabinoides em transtornos
depressivos
Vários estudos têm demonstrado que não tem mais como “dissociar” o THC das
demais terapias. Vários achados demonstram que pode ser bem indicada uma maior
concentração de THC, em combinação com CBD, como linha terapêutica para várias
patologias.
O CBD está associado à regulação do humor e, nesse sentido, uma disfunção no SEC
causaria a diminuição na concentração de canabinoides, o que foi associado à depressão
e a distúrbios do humor em algumas pesquisas. De acordo com estudos, o CBD pode
ter propriedade para diminuir a tendência à ansiedade. Isso pode ser explicado pelo
fato de os endocanabinoides modularem a resposta dos neurotransmissores, como a
126
Cannabis medicinal em psiquiatria | Unidade III
Existem ainda estudos que mostram que o CBD tem propriedade de induzir alterações
neuroplásticas no córtex pré-frontal e no hipocampo (estruturas envolvidas no
desenvolvimento da depressão) e, assim, corroboram mais uma vez com seu potencial
terapêutico.
Estudos mostraram que uma única aplicação de canabidiol em ratos com sintomas
depressivos resultou em efeitos muito significativos, com remissão de sintomas de
depressão no mesmo dia e a manutenção dos efeitos benéficos por sete dias.
Figura 35. O canabidiol induz rápido aumento dos níveis de BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que é uma
neurotrofina importante para a sobrevivência neuronal e a neurogênese.
127
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
Antes do teste, uma parte dos animais recebeu uma injeção de canabidiol (com dosagens
de 7, 10 e 30 mg/kg) em solução salina, enquanto outra parte dos animais, o grupo de
controle, recebeu apenas a solução salina.
Essas alturas impedem que eles apoiem a cauda no chão, forçando-os a nadar.
No entanto, os animais aprendem a boiar após um tempo de nado e não se afogam.
Quando estão boiando, os movimentos são mínimos, apenas para manter a cabeça
fora da água e garantir que não se afoguem. É justamente isso que é considerado
imobilidade, ou seja, quando param de nadar e boiam.
Fizeram o teste do campo aberto, que consiste em colocar o animal para explorar
livremente um ambiente novo, enquanto foi registrada sua atividade locomotora e
128
Cannabis medicinal em psiquiatria | Unidade III
exploratória. Para dizer que uma droga tem potencial efeito antidepressivo, ela deve
ser capaz de reduzir o tempo de imobilidade (aumentar o tempo de nado) no teste
do nado forçado, sem aumentar a atividade locomotora no campo aberto, pois isso
indicaria que os efeitos no teste do nado forçado não seriam secundários a alterações
inespecíficas de atividade locomotora.
Sete dias após o tratamento, foi possível observar aumento do número de proteínas
sinápticas no córtex pré-frontal, o qual está intimamente relacionado à depressão
em humanos. Com esses resultados, acredita-se que o canabidiol inicie rapidamente
mecanismos neuroplásticos que contribuem para recuperar circuitos neurais que estão
prejudicados na depressão.
Existem estudos para ver se o canabidiol seria eficaz também para pacientes que não
respondem à terapia convencional ou se poderia haver uma melhora dos sintomas
quando essa substância fosse associada aos antidepressivos. Outro trabalho demonstrou
que o tratamento com canabidiol facilita a neurotransmissão serotoninérgica no
129
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
sistema nervoso central e que a sua combinação com doses baixas de antidepressivos
inibidores seletivos da recaptação de serotonina, como a fluoxetina, induz significativo
efeito antidepressivo.
Diante disso, os autores do estudo estimam que o canabidiol tenha potencial efeito
antidepressivo para induzir resposta mais rapidamente do que os fármacos convencionais
e que, quando associado a tais fármacos, seja capaz de melhorar a resposta dos
antidepressivos.
130
CAPÍTULO 3
Cannabis na esquizofrenia
O termo psicose é o nome dado a um estado mental patológico caracterizado pela perda
de contato do indivíduo com a realidade, o qual passa a apresentar um comportamento
de isolamento social, muitas vezes com delírios e alucinações.
As causas da psicose ainda são motivo para muita discussão e, dentre as psicoses
funcionais, a mais importante é a esquizofrenia, a qual é definida como uma psicopatologia
crônica de origem desconhecida e que se apresenta como um misto de sintomas de
doenças diferentes que se manifestam concomitantemente. Os sintomas são mudança
de comportamento abrupto (comportamento ambíguo), isolamento social e alteração
de afeto. A prevalência da esquizofrenia em nível mundial é de 1 caso a cada 1.000
habitantes.
131
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
132
CAPÍTULO 4
Cannabis no tratamento de transtorno
do déficit de atenção e hiperatividade
Essas condições são várias vezes debilitantes, de modo que é praticamente impossível
para os portadores concluírem atividade simples na escola ou no trabalho.
Tanto o transtorno do déficit de atenção (TDA) quanto o TDAH são mais comuns
em crianças, mas também podem afetar adultos.
Um estudo publicado em 2006 encontrou correlação entre uma baixa expressão dos genes
do neurotransmissor dopamina e o TDAH. Isso sugere que o TDAH é caracterizado
por uma baixa função da dopamina. Embora esse fato seja questionado, ele fornece
material de pesquisa aos profissionais. É por esse motivo que as crianças com TDAH
recebem com frequência medicamentos destinados a estimular as concentrações de
dopamina.
Às vezes, isso não funciona, pois há vários fatores diferentes que corroboram para
o TDAH. A condição é, muitas vezes, considerada como uma gama de sintomas, em
vez de uma doença.
Sintomas do TDA/TDAH:
» Inquietação.
» Movimentação constante.
» Fala frequente.
» Hábitos intrusivos.
» Insônia.
133
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
» Mudanças de humor.
» Irritabilidade.
» Esquecimento.
» Autoimagem negativa.
Isso envolve entrar com frequência em um estado de foco intenso, com uma incapacidade
de prestar atenção a qualquer coisa fora dessa atividade.
Esse é um sintoma raro e contraditório da condição, porém, ainda assim, ele existe
em algumas pessoas com TDAH.
O TDA e o TDAH são mais comuns em crianças. Às vezes, pode ser difícil detectar
o TDAH imediatamente. No entanto, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais
cedo poderão ser feitas mudanças na estrutura de aprendizado, na dieta, no estilo de
vida e nos medicamentos ou suplementos.
As causas do TDAH podem incluir:
» Fatores genéticos.
» Alergias.
» Deficiência de vitamina B.
» Deficiência de zinco.
Devido aos efeitos colaterais desses medicamentos, existe uma demanda crescente por
outros tratamentos. Devido aos seus vários benefícios à saúde e às recentes alterações
em seus regulamentos, o CBD vem emergindo como uma alternativa promissora aos
medicamentos tradicionais.
134
Cannabis medicinal em psiquiatria | Unidade III
Existem várias evidências de que o CBD melhora os sintomas do TDAH, mas isso
depende do indivíduo, de seus sintomas e objetivos de saúde.
No caso do TDA sem surto de hiperatividade, o CBD oferece somente uma ajuda
leve para a falta de atenção em si, porém pode trazer benefícios para outras condições
associadas ou outros sintomas.
Para o tratamento de TDAH, o CBD pode ter muito a oferecer em relação ao desequilíbrio
neuroquímico e aos sintomas manifestos.
De maneira geral, é mais provável que o CBD beneficie as formas de TDAH com
predominância do SNS. Ele trata a maioria dos sintomas comuns e, em alguns pacientes,
até a causa subjacente.
Sendo assim, ele é útil no combate a alguns dos sintomas do TDAH e pode proporcionar
benefícios adicionais para pacientes que apresentem dominância do sistema nervoso
simpático.
135
CAPÍTULO 5
Cannabis e transtorno obsessivo-
compulsivo
Uma pesquisa, realizada pela Universidade de Columbia, reuniu estudos que tentavam
compreender como funciona o cérebro de pessoas com TOC e o efeito da Cannabis no
sistema nervoso central. Foram selecionados 150 estudos que falavam sobre os dois
temas, porém, quando cruzados, podiam nos trazer algumas conclusões interessantes.
Medo e ansiedade
Os pesquisadores encontraram coerência na associação medo e/ou ansiedade mais
Cannabis. De uma forma geral, as pesquisas mostravam que derivados de Cannabis
tendiam a acalmar os usuários.
A relação entre canabinoides, medo e ansiedade tem sido bastante explorada nas
pesquisas clínicas. Os resultados têm mostrado que o canabinol e o dronabinol (sintético
de Cannabis) diminuem os estímulos de medo recebidos por nosso cérebro.
Comportamentos compulsivos
O TOC, porém, não é conhecido pelo medo de seus portadores. O que geralmente
caracteriza o transtorno são as ações repetitivas. Porém, elas não se mostram apenas
entre os diagnosticados com essa condição específica. Foi justamente em portadores
de outros transtornos que os pesquisadores conseguiram identificar um maior número
de estudos para análise.
Os pacientes relataram uma redução de 60% nas compulsões, de 49% nas intrusões e
de 52% na ansiedade depois de inalar Cannabis. Concentrações mais altas de CBD e
doses mais altas ocasionaram reduções maiores nas compulsões. O número de sessões
de uso de Cannabis ao longo do tempo previu mudanças nas intrusões, de forma
que as sessões posteriores de uso de cannabis foram associadas a reduções menores.
A gravidade dos sintomas de base e a dose permaneceram bastante constantes ao
longo do tempo.
Desse modo, o estudo sugere que a Cannabis inalada pode reduzir agudamente os
sintomas do TOC, enquanto observam que, coletivamente, os resultados indicam
137
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
que a substância pode ter efeitos benéficos de curto, mas não de longo prazo, sobre
os sintomas do TOC.
Poucos estudos avaliaram a eficácia potencial da Cannabis para a mitigação dos sintomas
do TOC. Como tal, essas descobertas, embora um tanto limitadas pelo desenho do
estudo, indicam que a Cannabis – e, em particular, variedades com alto teor de CBD
– é uma promessa como uma opção terapêutica para pacientes com TOC e deve ser
examinada em um ambiente controlado e rigorosamente projetado.
Os pesquisadores acreditam que novos estudos devem ser feitos, para que seja possível
chegar a uma conclusão, mas se mostraram confiantes de que produtos à base de
Cannabis podem ter efeitos positivos entre pacientes.
Uma revisão de 2019, publicada na Cannabis and Cannabinoid Research, sugeriu que o
sistema endocanabinoide poderia representar um novo alvo no tratamento para TOC.
Esse sistema pode modular padrões comportamentais e também respostas emocionais.
138
CAPÍTULO 6
Cannabis no tratamento de síndrome
de Tourette
A frequência e intensidade dos tiques são variáveis e apresentam piora com o estresse,
porém, na maioria das vezes, não possuem relação o com estado emocional. Em
muitos casos, associa-se a TOC e TDAH. Os tiques são involuntários e fogem ao
controle dos pacientes e, em alguns casos, causam grande prejuízo na qualidade de vida,
desde limitação física até preconceito e estigma social. De causa ainda desconhecida,
a hereditariedade parece ter papel relevante e podem persistir por toda a vida.
Muitos casos se manifestam na infância e podem evoluir para seu agravamento ao
longo dos anos.
Vários relatos forneceram evidências de que a Cannabis pode ser eficaz não só na
supressão de tiques, mas também no tratamento de problemas comportamentais
associados à síndrome. O THC é recomendado para o tratamento da síndrome de
Tourette em adultos, quando a primeira linha de tratamentos não conseguiu melhorar
os tiques. Segundo um estudo publicado em 2003, pelo Departamento de Clínica
Psiquiatria e Psicoterapia da Escola Médica de Hannover, na Alemanha, pacientes
que sofrem de síndrome de Tourette e se tratam com THC não apresentam déficits
cognitivos agudos em longo prazo. Essa observação confirma a segurança do tratamento
com THC nesses casos.
139
Unidade III | Cannabis medicinal em psiquiatria
Entretanto, as próprias pesquisas alemãs ressaltam que são necessários estudos mais
abrangentes para garantir a segurança e eficácia da Cannabis.
140
CANNABIS
MEDICINAL NA UNIDADE IV
NEUROPSIQUIATRIA
CAPÍTULO 1
Cannabis no Autismo
Não houve diferenças de grupo de linha de base em fALFF dentro das regiões GM
(TFCE, p FWE > 0,05), no entanto houve um efeito principal da droga. Em ambos
os grupos, o CBD (em comparação com o PLC) aumentou o fALFF no vérmis VI
cerebelar (TFCE, p FWE = 0,048, k = 4, centro de gravidade em milímetros (CoG): x =
−1, y = −65, z = −6) e no giro fusiforme direito (TFCE, p FWE = 0,041, k = 14, CoG: x
= 28,9, y = −48,7, z = −6,86), conforme representado na Figura 38. Não houve efeito
principal do grupo, nem interação droga × grupo.
Figura 38. Efeitos da droga na amplitude fracionária das flutuações de baixa frequência na massa cinzenta (canabidiol >
placebo). Os números acima das fatias indicam a localização na direção z (em milímetros). As varreduras são orientadas
em convenção neurológica, em que direita (R) é igual à direita e esquerda (L) é igual à esquerda. Os valores P (P), conforme
indicado pela barra de cores, são corrigidos para comparações múltiplas (TFCE, FWE).
Figura 39. Teste post-hoc dos efeitos da droga na amplitude fracionária das flutuações de baixa frequência dentro de cada
região de interesse (canabidiol> placebo) no transtorno do espectro do autismo.
143
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
Figura 40. Efeitos da droga na conectividade funcional do vérmis VI cerebelar no grupo TEA (canabidiol > placebo).
Na Figura 40, os valores T (T) das bordas, conforme indicado pela barra colorida, são
corrigidos para comparações múltiplas no âmbito da conexão e da semente (p = 0,05
ep FDR = 0,05, respectivamente). Abreviaturas – ASD/TEA: transtorno do espectro do
autismo; CBD: canabidiol; L.Caud: caudado esquerdo; L.SFG: giro frontal superior
esquerdo; L.SPL: lobo parietal superior esquerdo; L.toMTG: giro temporal médio
esquerdo (parte temporo-occipital); R.aSMG: giro supramarginal anterior direito;
R.Caud: caudado direito; R.SPL: lobo parietal superior direito; PLC: placebo; Verm6:
vérmis cerebelar VI
144
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
Esse estudo relatou, pela primeira vez, que o CBD ‘muda’ fALFF e FC no cérebro
humano adulto. Especificamente, o CBD aumentou significativamente o fALFF no
vérmis VI cerebelar e no giro fusiforme direito. No entanto, o teste post-hoc dentro
do grupo indicou que essa mudança foi mais proeminente no ASD, e não significativa
nos controles (observe que não identificamos um grupo significativo por interação
medicamentosa). Além disso, em TEA, mas não em controles, a mudança em fALFF
no cerebelo (mas não no giro fusiforme) foi acompanhada por mudanças generalizadas
no FC vermal, com vários de seus alvos subcorticais e corticais.
Vérmis cerebelar
No cérebro típico, entende-se que o vérmis cerebelar e o seu circuito cerebelar-
subcortical-cortical desempenham um papel crítico no movimento, na linguagem
e no processamento social. No TEA, entretanto, há relatos de anomalias funcionais
no cerebelo, que parecem contribuir para a interrupção desses processos. Porém, tais
relatos apresentam resultados inconsistentes.
Por exemplo, hipoativação verbal durante tarefas motoras simples (toque de dedo)
e durante a percepção auditiva (ouvir tons) foi observada em adultos com TEA.
Em crianças e adolescentes com TEA, a FC do vérmis com regiões sensório-motoras foi
relatada como sendo mais alta, enquanto o FC vermal, com regiões pré-frontais e motoras,
foi registrado como inferior em comparação com neurotípicos. Portanto, os resultados
dos estudos de imagem funcional em TEA podem depender da tarefa sob investigação.
Foi usado um desenho não tarefa e não foram observadas diferenças de linha de base em
fALFF cerebelar e medidas de FC (com outras regiões) em participantes com e sem TEA.
Em vez disso, descobriu-se que a atividade cerebelar e a conectividade eram modificáveis,
especialmente em TEA. Especificamente, observou-se que o aumento induzido por
CBD, em fALFF verbal, em TEA foi acompanhado por um aumento na FC cerebelar-
subcortical (estriatal). No entanto, o CBD também diminuiu a FC cortical cerebelar. Isso
sugere que, em adultos autistas, em vez de induzir uma mudança geral e unidirecional
no FC, o CBD parece ‘sintonizar’ o FC de uma maneira específica de região ou conexão.
145
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
Embora o CBD tenha mudado fALFF tanto no vérmis quanto no giro fusiforme direito,
ele alterou apenas a FC do vérmis (e outras regiões) e não do fusiforme (e outras regiões)
de indivíduos com TEA. A razão para isso é desconhecida. Uma provável explicação
seria que as conexões do fusiforme com outras regiões são relativamente limitadas,
certamente se comparadas ao cerebelo. O FC fusiforme (com outras regiões) pode ser
ainda mais restrito pela anatomia da região fusiforme nessa condição. Por exemplo,
observou-se que o limite de substância branco-acinzentada do giro fusiforme era
interrompido no TEA, assim como a integridade dos tratos da matéria branca (WM)
nesse local. Anormalidades nas conexões WM podem restringir o impacto do CBD
no FC mais amplo dessa semente. Em contraste, estudos anteriores do vérmis indicam
que a integridade microestrutural das conexões nessa região da WM está intacta ou
ainda maior em TEA. Portanto, pode haver mais ‘capacidade’ para FC do cerebelo com
outras regiões para mudar em resposta ao desafio farmacológico em TEA.
Estudos pré-clínicos sugerem que o CBD tenha uma gama de ações que podem, por
exemplo, convergir em uma modulação da excitação e inibição do cérebro. Isso é
importante, porque se supõe que o equilíbrio de excitação e inibição ajude a estabelecer
e manter LFF e FC. Os interneurônios GABAérgicos fásicos inibitórios, por exemplo,
são moduladores-chave da integração e propagação temporo-espacial do sinal. Por meio
da inibição de feed-forward, esses neurônios podem sincronizar um grande número
de células piramidais e, assim, fornecer a base para disparos coordenados em regiões
distintas do cérebro. Da mesma forma, os neurônios GABAérgicos tônicos podem
moldar LFF, ajustar a condutância celular e, assim, controlar a quantidade e a duração
146
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
147
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
Pedro Américo, era uma criança que tinha até 40 crises convulsivas por dia, não
andava e nem falava. Hoje, após o uso do óleo de Cannabis, brinca, sorri e saiu da
cadeira de rodas.
“Nosso filho não controlava o tronco, nem o pescoço, não andava, não usava as
mãos, não olhava nos olhos, não sentia nada. Ele não chorava, não sorria, não
expressava sentimentos. Começamos a fazer a administração dos óleos de Cannabis
terapêutica e, nesse período, a gente foi ajustando as doses, foi estudando a
Cannabis e descobrindo o que era melhor pra ele. Hoje, ele conseguiu desmamar
todos os remédios anticonvulsivantes”, conta Júlio Américo, pai de Pedrinho.
A infância de Pedrinho mudou. Há dois anos, ele usa apenas o óleo de Cannabis
em seu tratamento e já é capaz de fazer tarefas básicas. “Ele, que vivia numa
cadeira de rodas, hoje anda, usa as mãos, expressa sentimentos, ri, chora, toma
água sozinho. Hoje, o meu filho existe, ele demonstra sentimentos, abraça a gente,
olha no olho”, lembra Júlio Américo emocionado.
148
CAPÍTULO 2
Cannabis em demências
De acordo com o World Alzheimer Report 2018, cerca de 50 milhões de pessoas em todo
o mundo viviam com doença de Alzheimer naquele ano. Projetou-se um aumento
para 152 milhões de pessoas até 2050. No Canadá, o número estimado de pessoas
que viviam com tal doença, em 2016, foi de 564.000, e espera-se que aumente para
937.000 até 2031. Os custos totais do sistema de saúde e os custos desembolsados para
cuidar de pessoas com doença de Alzheimer foram de $ 10,4 bilhões em 2016, com a
possibilidade de dobrar até 2031.
O curso progressivo da demência não pode ser alterado, uma vez que não há cura
conhecida ou terapia modificadora da doença. No entanto, existem intervenções para
gerenciar NPS, embora sejam baseadas em evidências limitadas e díspares. O tratamento
de primeira linha da NPS compreende uma gama de intervenções não farmacológicas
baseadas na identificação de necessidades físicas e emocionais não satisfeitas, como
dor tratada de forma inadequada e estressores ambientais, que podem desencadear
os sintomas. As terapias farmacológicas representam o tratamento de segunda linha
em pacientes para os quais as intervenções não farmacológicas foram malsucedidas
e que apresentam um risco potencial de lesão para si próprios ou para terceiros.
As intervenções farmacológicas geralmente envolvem o uso off-label de antipsicóticos
atípicos ou antidepressivos de segunda geração, geralmente em combinação com as
estratégias não farmacológicas.
149
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
A DA é classificada em dois tipos, quais sejam, DA esporádica de início tardio (> 95%
dos casos) ou DA familiar de início precoce (<5% dos casos). Embora a DA esporádica
seja a forma mais comum, ela é muito menos compreendida do que a DA familiar.
A DA familiar também é conhecida como forma genética, pois resulta de mutações
autossômicas dominantes no gene da proteína precursora de amiloide (APP) ou nos
genes da presenilina 1 e 2 (PS1 e PS2). APP é a molécula precursora que é clivada em
peptídeos β-amiloide (Aβ), enquanto PS1 e PS2 codificam os complexos γ-secretase e
β-secretase que medeiam o splicing de APP. Após o splicing do APP Aβ, podem formar-se
duas formas, Aβ40 e Aβ42. Pensa-se que o Aβ42 seja a forma mais tóxica da proteína, uma
vez que se agrega mais facilmente do que o Aβ40. A causa da DA esporádica é menos
clara e ainda não definida, no entanto pesquisas recentes indicam que ela pode resultar
de uma complexa interação entre vários fatores ambientais e vários genes suscetíveis.
Numerosos genes foram relatados como suscetíveis à DA esporádica, sendo o mais
bem documentado APOE.
150
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
parece ser instigada pelo acúmulo de Aβ (formando placas senis) e tau hiperfosforilada, que
formam emaranhados neurofibrilares (NFTs). A cascata induz neuroinflamação e estresse
oxidativo, o que cria um ambiente neurotóxico que potencializa a neurodegeneração e,
eventualmente, leva ao declínio cognitivo. Além disso, a neurodegeneração induzida
por Aβ eleva os níveis de glutamato no fluido espinhal cerebral de pacientes com
DA e neurônios colinérgicos são perdidos em áreas do cérebro relevantes para o
processamento da memória (e acompanhados por uma diminuição na acetilcolina).
A América do Norte e a Europa Ocidental têm as taxas mais altas (6,4% e 5,4% aos
60 anos), depois a América Latina (4,9%) e a China (4%; viés de determinação versus
espelhar o desenvolvimento econômico e a dieta ocidental?). A prevalência é mais
baixa para os africanos nas terras natais, em oposição às taxas mais altas na diáspora da
Europa Ocidental e da América. O traumatismo craniano aumenta a deposição de Aβ e a
expressão neuronal de tau e diabetes, obesidade, gorduras trans e traumatismo craniano
aumentam o risco de DA. Dieta mediterrânea (aumento do azeite monoinsaturado e
ômega-3 dos peixes), educação e atividade física reduzem o risco para DA.
151
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
152
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
» Psicose: CBD.
» Anorexia: THC.
Tratamentos atuais
153
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
Os ensaios clínicos atuais para avaliar novos tratamentos têm como alvo vários aspectos,
com um grande foco nas placas Aβ. Os ensaios clínicos investigaram inibidores da
β- e γ-secretase, que desempenham um papel crucial na formação de Aβ patológico.
Infelizmente, as β-secretases são difíceis de atingir e as γ-secretases têm uma ampla
gama de funções, que resulta em efeitos colaterais adversos (por exemplo, cognição e
funcionalidade prejudicadas, toxicidade gastrointestinal e aumento da incidência de
câncer de pele). Imunoterapias ativas e passivas para direcionar placas senis e NFTs
também foram investigadas. As imunoterapias Aβ em modelos de camundongos
demonstraram potencial, pois aumentaram a fagocitose microglial de Aβ e reduziram
o declínio cognitivo. No entanto, em estudos clínicos de fase II e III, essas terapias
demonstraram eficácia limitada ou resultaram em efeitos adversos graves (por exemplo,
meningoencefalite). Um estudo recente que investigou uma imunoterapia baseada em
anticorpos para Aβ encontrou resultados promissores em estudos de fase I e fase II, mas
essa terapia ainda não foi submetida a estudos clínicos de fase III. As imunoterapias Tau
foram eficazes em modelos de camundongos com DA, mas tiveram sucesso limitado
em ensaios clínicos.
Os dados epidemiológicos mostraram que os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs)
estão associados a um risco reduzido de DA. Além disso, estudos em animais indicaram
que o tratamento com AINH pode atenuar a patogênese da DA, propondo que a
inibição da neuroinflamação pode tardar a progressão dessa condição. No entanto,
os AINEs também foram associados a efeitos adversos graves de longo prazo (por
exemplo, problemas gastrointestinais) e mostraram apenas eficácia limitada na redução
ou prevenção de sintomas clínicos.
É improvável que qualquer droga que atue em uma única via ou alvo mitigue a
complexa cascata etipatológica que leva à DA. Portanto, uma abordagem medicamentosa
multifuncional para uma série de patologias da DA simultaneamente fornecerá benefícios
melhores e mais abrangentes do que as abordagens terapêuticas atuais. É importante
ressaltar que o sistema endocanabinoide recentemente ganhou atenção na pesquisa da
DA, pois está associado à regulação de uma variedade de processos relacionados à DA,
incluindo estresse oxidativo, ativação de células gliais e depuração de macromoléculas.
Canabidiol
154
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
156
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
CBD não influenciou a expressão do gene TNF-α. Os resultados in vitro desse estudo
corroboram tal achado, uma vez que o tratamento com CBD evitou o aumento do
cálcio intracelular induzido pelo ATP e promoveu a ativação da microglia em microglia
cultivada.
projetos de tratamento (ou seja, diferentes idades no início do tratamento e das doses
de CBD).
Outro estudo conduzido por Aso et al. (2015) comparou o efeito de CBD, THC e uma
combinação de CBD-THC no modelo de camundongo APPxPS1, na fase sintomática
inicial (~ 6 meses). Esse estudo descobriu que todos os tratamentos melhoraram
os déficits de memória na tarefa de reconhecimento de dois objetos, mas apenas a
combinação CBD-THC evitou o déficit de aprendizagem visto na tarefa de evitação
ativa. A combinação de CBD-THC também diminuiu os níveis de Aβ42 solúvel e mudou
a composição da placa, enquanto o CBD e o THC individualmente não o fizeram.
Finalmente, astrogliose reduzida, microgliose e moléculas inflamatórias relacionadas
foram mais pronunciadas após o tratamento com a combinação CBD-THC do que
qualquer fitocanabinoide individualmente. Isso sugere que, quando o CBD e o THC
158
Cannabis medicinal na neuropsiquiatria | Unidade IV
Seu Ivo foi diagnosticado com Alzheimer. A família, que vive em Goiás (GO),
relata o sofrimento diário com as mudanças de humor e comportamento. Com o
avanço da doença, seu Ivo se tornou uma pessoa agressiva e infeliz. Não sabia
mais mastigar uma refeição nem reconhecer as pessoas de seu convívio diário.
159
Unidade IV | Cannabis medicinal na neuropsiquiatria
Segundo Solange, sua esposa, a doença o fez uma pessoa totalmente dependente
e agressiva. Ele, que antes era uma pessoa doce, passou a ficar violento em alguns
momentos, como se tivesse perdido a própria identidade. O corpo dele estava
presente, mas a mente tinha ido embora.
“A partir do momento que colocou uma gotinha de maconha dentro dele, parece
que começou a funcionar de novo. Parece que religou ele. Não dá para falar ponto
A ou B que melhorou, porque foi muita coisa melhorando ao mesmo tempo”, conta
o filho, Filipe Suzin.
160
CANNABIS EM OUTROS
TRANSTORNOS DO
SISTEMA NERVOSO UNIDADE V
CENTRAL
CAPÍTULO 1
Cannabis medicinal em crianças
CB1R
CBD
EMT
AEA
AEA
TRPV1
PPARs
FAAH CB1R
Nucleus
Glicerol
AA Etanolamida
2-AG
GPR55
MAGL
DAGL
2-AG
EMT
THC ativa diretamente CB1; o CBD inibe FAAH e EMT (aumentando os níveis de
AEA), que é o ligante endógeno de CB1. Como AEA, o CBD ativa PPARs e TRPV1.
162
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
Estudos futuros devem avaliar diretamente os efeitos dos canabinoides puros versus
extratos de plantas inteiras, em vários distúrbios, entre diferentes populações-alvo.
Os eventos adversos de curto prazo de CBD puro ou extratos de plantas inteiras ricos
em CBD incluem sonolência, perda de peso e aumento das transaminases hepáticas.
Os principais neurologistas do século XIX, Sir John Russell Reynolds e Sir William
Richard Gowers, usaram esporadicamente a Cannabis rica em THC para tratar
convulsões. O uso dessa substância para epilepsia cessou gradualmente após a introdução
do fenobarbital, em 1912, e da fenitoína, em 1937. Pequenos estudos, principalmente
de Cannabis rica em THC para crianças com epilepsia, ressurgiram na década de 1970
e apresentaram resultados mistos. Após a descoberta do sistema endocanabinoide, na
década de 1990, e seu papel principal na neuromodulação, incluindo a atenuação de
circuitos cerebrais hiperativos, estudos em modelos animais e anedotas de tratamento
bem-sucedido em casos de epilepsia refratária começaram a se acumular. No entanto,
estudos clínicos em ampla escala de canabinoides na epilepsia foram realizados apenas
nos últimos anos. Esses estudos se concentram no canabinoide mais seguro, o CBD,
que parece ter mais efeito antiepiléptico do que o THC em estudos pré-clínicos.
Um composto de CBD puro derivado de planta (nome comercial: Epidiolex) foi aprovado
pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, em 2018, para o tratamento de
duas formas graves de epilepsia – síndromes de Dravet e Lennox-Gastaut – seguindo
uma série de procedimentos de segurança e estudos de eficácia.
164
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
A epilepsia é uma das comorbidades mais comuns no TEA e afeta de 10% a 30%
das crianças e dos jovens com essa condição, e vários processos fisiopatológicos
165
Unidade V | Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central
Quatro estudos prospectivos não controlados, incluindo 60, 188, 53 e 18 crianças com
TEA e problemas comportamentais graves, relataram alta tolerabilidade e eficácia
de cepas artesanais de Cannabis ricas em CBD. Na maior coorte, a coleta de dados
foi parcial, e também havia uma sobreposição desconhecida entre as três primeiras
coortes. A maioria dos participantes foi acompanhada durante, pelo menos, 6 meses
e a taxa de retenção foi de cerca de 80%.
Segundo esse autor, o tratamento com canabinoides está associado a um efeito placebo
relativamente alto, em comparação com outros tratamentos farmacológicos e ainda
maior em estudos que usam avaliações comportamentais subjetivas. Portanto, estudos
166
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
controlados por placebo são necessários até mesmo para uma avaliação preliminar
da eficácia.
A espasticidade
A espasticidade é uma alteração no tônus muscular, a rigidez do músculo, que acontece
em doenças neurológicas, contrações musculares, espasmos musculares, membros
inferiores em posição de “tesoura” (cruzamento involuntário das pernas).
Dentre as doenças neurológicas mais comuns que levam à espasticidade estão a paralisia
cerebral, a lesão medular, a esclerose múltipla, a esclerose lateral amiotrófica, o acidente
vascular cerebral, as lesões cerebrais provocadas por falta de oxigênio ou por causa de
traumatismos físicos, as hemorragias ou as infecções.
Os sintomas variam desde uma leve contração muscular até uma deformidade grave,
com permanente encurtamento muscular e posturas anômalas. Podem ser observados,
também, Clônus (rápidas e repetidas, especialmente se leva a articulação a tomar
uma posição anormal ou impede uma série de movimentos realizados por um grupo
muscular).
167
Unidade V | Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central
crianças que receberam Cannabis para outras indicações incluíram dor neuropática e
transtorno depressivo maior comórbido (dronabinol, n = 2), ansiedade, sono em TEPT
(CBD, n =1) e síndrome de Tourette (THC, n =1). São necessários maiores estudos
abertos e estudos randomizados antes do uso clínico de Cannabis para essas indicações.
Embora alguns estudos sugiram que as cepas artesanais com uma proporção muito
alta de CBD: THC (por exemplo, 20:1) sejam tão seguras e potentes quanto o CBD
puro, essa questão deve ser avaliada em estudos futuros.
Fonte: http://www.portalnews.com.br/_conteudo/2018/09/cidades/87221-mara-gabrilli-vai-representar-brasil-na-
onu.html. Acesso em: 07 dez. 2020.
Durante o tempo em que ficou sem o THC, ela desenvolveu uma epilepsia refratária.
Infelizmente, muitos pacientes têm crises epiléticas por não ter acesso a esse
tipo de medicamento.
168
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
“Eu era uma pessoa deitada, que respirava numa máquina, que não falava, que
não sentia e que não se mexia. E hoje estou aqui para defender o direito das outras
pessoas. Porque eu tenho uma condição financeira que me permite comprar o
remédio. O remédio que eu uso é aprovado pela Anvisa, tem 27% de THC e custa
R$ 3.000”, senadora Mara Gabrilli, em sessão no Congresso Nacional.
169
CAPÍTULO 2
Cannabis medicinal e o futuro
da neurologia
Foi observado por algum tempo que o tônus muscular no âmbito central é mediado
pelo sistema endocanabinoide, mas alguns anos adicionais foram necessários para trazer
essa “aspirina do século 21”. Por meio da Fase I-III, ensaios clínicos randomizados
(RCTs) e avaliação pós-marketing demonstraram sua segurança, eficácia e consistência.
170
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
Essa preparação, nabiximóis (nome adotado nos EUA; Sativex®), obteve a aprovação
regulamentar em 30 países para espasticidade associada à esclerose múltipla (EM) e,
no Canadá, para dor neuropática central na EM e para dor oncológica resistente a
opioides. Pesquisas recentes encontraram taxas de uso de Cannabis de 20% a 60% entre
pacientes com esclerose múltipla. Uma tentativa anterior falhou na demonstração da
neuroproteção em traumatismo craniano após a administração intravenosa de doses
únicas do análogo canabinoide não intoxicante, dexanabinol, mas ainda há esperança
para outras preparações em acidente vascular cerebral e outros insultos cerebrais.
171
Unidade V | Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central
alegações de eficácia terapêutica na epilepsia, bem como tumores e talvez até mesmo
na depressão maior. Em contraste com outros canabinoides e terpenoides neutros,
o THCA não atravessa a barreira hematoencefálica (BBB), mas, se for verdade, esse
obstáculo pode não ser aplicável no contexto da epilepsia crônica ou em tumores
cerebrais em que essa barreira está comprometida.
Assim, uma preparação de Cannabis Tipo II, com concentração igual de THC e CBD,
combinando THC, CBD, THCA, e mesmo CBDA, junto com terpenoides citotóxicos
como o limoneno, pode ser extremamente útil no tratamento do câncer.
172
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
Fatores dietéticos adicionais incluem a função dos receptores do sabor amargo, presentes
não apenas na língua, mas no intestino e no hipotálamo, em que a interação com os
mecanismos de apetite do ECS parece estar operativo.
174
Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
A importância dessas relações se torna aparente à medida que esforços são feitos para
integrar segmentos díspares. Os escores de comprometimento da saúde mental em
pacientes com acne superam, surpreendentemente, aqueles com epilepsia e diabetes.
Os probióticos orais regulam as citocinas inflamatórias na pele. Microbiota intestinal,
inflamação da pele e sintomas psiquiátricos estão, portanto, entrelaçados em um “eixo
intestino-cérebro-pele”. Postula-se que os processos induzidos pela acne também
podem afetar a fisiopatologia de DP, DA e CTE (Figura 47).
Probiótico
Prebiótico
THC
CBD
Microbiota entérica
THCA
Propionibacterium acnes CBDA
Propionibacterium acnes
Tendências futuras
175
Unidade V | Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central
» Atividade aeróbia.
176
CAPÍTULO 3
Cannabis medicinal e doenças raras
Fonte: https://www.folhavitoria.com.br/saude/noticia/03/2020/cannabis-medicinal-e-opcao-terapeutica-para-pacientes-com-doencas-raras.
Acesso em: 07 dez. 2020.
Existem hoje mais de 300 milhões de pacientes diagnosticados com uma das mais
de 6 mil doenças raras identificadas no mundo, as quais atingem entre 6% e 8% da
população. Mais de 42 milhões desses pacientes se encontram na América Latina,
sendo 13 milhões deles aqui no Brasil.
patologia genética, ainda sem cura e de diagnóstico complexo, que utiliza análise de
DNA em amostras de sangue. Quanto antes o diagnóstico for realizado, mais efetivo
é o tratamento.
Essa patologia genética é decorrente da mutação no gene FMR1 (Fragile X Mental
Retardation 1), localizado no braço longo do cromossomo X. Quando um paciente é
acometido pela síndrome, o gene FMR1 fica comprometido e, dessa forma, ocorre a
falta ou redução na produção da proteína FMRP (Fragile X Mental Retardation Protein).
Essa ausência afeta diretamente o desenvolvimento do sistema nervoso central e causa
o surgimento das características peculiares da síndrome do X frágil.
As pessoas apresentam atraso no desenvolvimento, com características variáveis de
comprometimento intelectual, problemas de aprendizado, distúrbios de comportamento
e da capacidade de comunicação.
Entre os estudos clínicos que estão sendo realizados para conhecer tratamentos possíveis,
o uso da Cannabis medicinal tem sido apresentado como um dos possíveis coadjuvantes
no tratamento dessas doenças.
Os produtos à base de canabinoides são utilizados há muito tempo para auxiliar
na redução da dor, da espasticidade, de convulsões e de inflamações de diferentes
condições. Um estudo científico realizado com participação de 24 pacientes, os quais
têm síndrome de Tourette, apresentou um efeito terapêutico positivo sobre os tiques
motores e vocais dos indivíduos.
Dois outros estudos recentes, que pesquisaram os efeitos anticonvulsivos dos canabinoides
na síndrome de Dravet, chegaram à conclusão de que a utilização da Cannabis medicinal
estava relacionada com a redução da frequência das convulsões e com a melhoria da
qualidade de vida dos pacientes.
Um em cada cinco pacientes com doenças raras apresenta dor crônica” e as evidências
científicas demonstraram que os canabinoides ainda podem oferecer efeitos terapêuticos,
em muitos casos, na redução da dor. Ainda vale destacar que um paciente atendido
melhor nas suas necessidades pode reduzir o custo da assistência médica e farmacêutica
ao sistema de saúde do Brasil.
Doença de Huntington
A doença de Huntington é uma condição genética debilitante que afeta o cérebro. É um
distúrbio cerebral progressivo caracterizado por movimentos musculares incontroláveis,
incapacidade de controlar as emoções e uma redução gradual da função cognitiva.
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Cannabis em outros transtornos do Sistema Nervoso Central | Unidade V
É uma condição séria e vitalícia, a qual é causada por uma mutação genética.
A maioria dos sintomas envolvidos com a doença de Huntington é resultado direto
da morte neuronal.
Durante longos períodos de tempo (10 a 20 anos), isso resulta em inflamação generalizada
e morte dos neurônios. Por esse motivo, causa sintomas neurológicos graves e redução
gradual na qualidade de vida.
Uma opção de tratamento que vem ganhando muita importância é o canabidiol (CBD),
o principal canabinoide não-psicoativo.
O CBD oferece alguns benefícios exclusivos às pessoas que possuem essa condição
por causa de seus potentes efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores.
Embora não existam ensaios clínicos conclusivos que envolvam o CBD em pacientes
com doença de Huntington, há muitos ensaios em animais e convincentes estudos de
caso publicados.
Além disso, os efeitos do CBD são bem conhecidos e apoiam fortemente a teoria de
que o CBD pode retardar a progressão da doença e reduzir muitos dos efeitos colaterais
mais debilitantes.
Ainda são poucas as pesquisas que envolvem o CBD para essa condição. Há apenas
um pequeno punhado de ensaios clínicos que investigaram essa relação e os registros
que temos são significativamente carentes em áreas-chave.
Eles são muito curtos, muito pequenos e envolvem pacientes com o foco errado
de sintomas.
Para fazer esses ensaios clínicos grandes e caros, precisamos, primeiro, confirmar que
há benefícios do óleo de CBD para a fisiopatologia envolvida na doença de Huntington.
Isso pode ser feito por meio de culturas de células e testes em animais. O próximo
passo é conduzir pequenos testes baseados em humanos, antes de passar para testes
clínicos maiores e mais difundidos.
Já foram feitos diversos estudos em animais, muitos dos quais demonstraram que o
CBD e o THC são capazes de retardar a progressão da doença de Huntington em ratos.
Além disso, há alguns relatos de casos de pessoas com doença de Huntington que
usam CBD e THC sintético. Alguns desses relatos envolvem melhora significativa dos
sintomas, como coreia (movimento involuntário) e dificuldades na fala.
Tem havido uma crescente coleção de evidências que apoiam a capacidade do CBD
para retardar a progressão da doença de Huntington e melhorar a qualidade de vida
em pessoas que sofrem dessa condição debilitante.
Assim, mais pesquisas precisam ser feitas para que seja possível entender até que ponto
esse composto pode ajudar aqueles diagnosticados com a doença.
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REFERÊNCIAS
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