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Rafael Cândido da Rosa

ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO


CREA/RS 127654 - PERITO TÉCNICO

Caxias do Sul, 07 de fevereiro de 2022.

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz da 2ª Vara do Trabalho de Caxias do


Sul.

Processo: 0020670-83.2020.5.04.0402
Reclamante: ELIANE NEVES OLIVEIRA
Reclamada: TENCE CHICOTES ELETRICOS LTDA

Em atenção à determinação de Vosso Meritíssimo, vimos responder os


quesitos complementares da reclamada ID. 0ada097.
Permanecendo à disposição, respeitosamente apresentamos manifestações
de cordial apreço.

Atenciosamente,

Rafael Cândido da Rosa


ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO
CREA/RS 127654 - PERITO TÉCNICO
TEL: (51) 99240.1367

Processo 0020670-83.2020.5.04.0402
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Resposta aos quesitos complementares da reclamada ID. 0ada097:

Quesito complementar nº 1:

Em relação a exposição da reclamante ao processo de solda estanho, cabe

salientar que a caracterização da insalubridade deverá ocorrer conforme anexo

11 da NR 15 conforme segue:

Cabe salientar que o agente Chumbo consta no quadro nº 1 do anexo 11 da

NR 15 conforme ilustrado abaixo:

Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva,

descrever quais premissas está considerando para justificar o enquadramento

do agente chumbo no Anexo 13 conforme laudo pericial e não no Anexo 11 da

referido NR 15, pois o agente Chumbo trata-se de agente insalubre

caracterizado por limite de tolerância?

Resposta: o enquadramento não foi pelo chumbo e sim pelo cobre, vide

item 4.3 do laudo.


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Quesito complementar nº 2:

Em relação ao exposto pelo Sr. Perito no Laudo apresentado, página 10: E,

da ficha técnica do produto, (Anexo 03) apresento a sua composição, dentre

os agentes consta o cobre de

Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva, explicar

o intuito de mencionar questões que fogem ao escopo da designação para a

diligência pericial, cujo foco é a avaliação das condições de trabalho do

reclamante para determinar possíveis condições insalubres, sendo que o

agente tratado é o chumbo e não o cobre (Cu)?

Resposta: O cobre faz parte da análise das condições insalubres, nos

termos da NR15, por isso houve o enquadramento.

Quesito complementar nº 3:

Em relação ao exposto no laudo pericial na página 11:

As soldagens com estanho utilizam resistência elétrica para o aquecimento

dos equipamentos para realizar a fusão da face comum entre as duas peças

[metal de solda/peça a ser soldada (metal base)]. Esse processo consiste na

fundição (fusão - Ato ou efeito de fundir1 ou fundirse; derretimento pela ação

do calor) do metal-base e metal de solda obtido através do aquecimento a alta

temperatura produzida por resistência elétrica.

O Anexo 13 da NR- classifica as atividades de

fundição de chumbo, zinco velho, cobre e latão como insalubre em grau

máximo por avaliação qualitativa, em função do alto risco ocupacional que as

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operações em questão impõem ao organismo humano. O próprio dispositivo

legal permite a avaliação qualitativa, sem estabelecer limite de tolerância,

portanto não exigindo mensuração da concentração nem vinculando ao tempo

e frequência da exposição.

Cabe ressaltar o equívoco do senhor expert ao comparar o processo de solda

estanho com o processo de fundição de chumbo, sendo que são processos

extremamente diferentes nas suas características. Como é de conhecimento

geral a fusão (ou fundição) ocorre apenas em temperaturas acima de 327ºC e,

conforme apresentado no laudo pericial na sua página 10, com a imagem da

FISPQ do arame de solda, podemos verificar que a temperatura de fusão do

material é de 183ºC. O que garante que o processo de solda estanho não

consegue fundir o chumbo presente na liga, muito menos produzir fumos

metálicos que contenham chumbo.

Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva,

descrever quais premissas está considerando para justificar o motivo de não

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ter considerado a temperatura de fusão dos materiais presentes no arame de

solda estanho?

Resposta: completamente compreensivo o questionamento do quesito,

pois é isso que o publico leigo no assunto imagina.

Antes de explicar, vamos colocar a parte que foi omitida do recorte

trazido pela reclamada na formulação do quesito, para não parecer que

existem apenas aqueles agentes químicos que aparecem no recorte:

Ocorre que nesse tipo de soldagem existe uma redução de temperatura

de fusão dos componentes.

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A redução da temperatura do ponto de fusão acontece porque TODOS os

componentes da mistura da solda formam uma Mistura Eutética (do

grego eutektos, "facilmente fundida") é uma mistura de compostos ou

elementos químicos, (como uma liga metálica), em uma determinada

proporção na qual o ponto de fusão é o mais baixo possível. Ou seja,

durante o resfriamento uma fase líquida se transforma em, pelo menos,

duas fases sólidas. Essa composição é conhecida como composição

eutética e sua temperatura como temperatura eutética. Uma das misturas

eutéticas mais conhecida é a solda para componentes eletrônicos, feita

de estanho e chumbo, onde o ponto de fusão desta é menor que o de

seus componentes isolados (183 °C, contra 232 °C e 327 °C,

respectivamente), e sendo, por isso, chamado ponto eutético.

No presente caso, o estanho isolado possui ponto de fusão 231,9°C e o

cobre isolado, 1.085°C no entanto, a própria fispq informa que o ponto de

fusão do arame formado por estanho e cobre é 183°C, inferior ao ponto

de fusão dos agentes isoladamente.

Há também outras misturas eutéticas usadas em metalurgia, mesmo não-

metálicas (para formar escória) e na indústria do vidro (na qual os

componentes acrescentados, como o carbonato de sódio, são chamados

"fundentes").

Ou seja, sem a fusão dos metais envolvidos por meio de resistência

elétrica para o aquecimento dos equipamentos para realizar a fusão da

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face comum entre as duas peças [metal de solda/peça a ser soldada

(metal base)] não há soldagem de qualquer tipo.

Como em função da mistura eutética a temperatura de fusão de todos os

componentes da solda em questão é reduzida para 183ºC, e isso, apenas

a título de registro, em que pese repetitivo, está inclusive na fispq do

produto, enaltecido pela flecha vermelha do recorte trazido pela

reclamada.

Quesito complementar nº 4:

Para corroborar com esta narrativa foram apresentados e anexados aos autos

do processo duas medições (ID. 34b9cb7 e ID. 6ad2869) realizadas

anteriormente ao período laborado da reclamante, que comprovam através de

medições de laboratórios idôneos e de renome no mercado, que durante as

medições realizadas durante o processo de trabalho não foi detectado

nenhum sinal de fumos metálicos contendo chumbo no ambiente

conforme apresentado e destacados abaixo nos laudos emitidos pelos

laboratórios:

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Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva,

descrever quais premissas está considerando para justificar que mesmo após

as medições realizadas pela empresa conforme determinado nas Normas

Regulamentadores não considerou os resultados das medições realizadas

pelo laboratório competente?

Resposta: A resposta já conta no laudo, página 12:

Nota: Apenas a título de registro, a análise no presente caso foi qualitativa,

independente de medição de concentração dos agentes químicos presentes. A

reclamada apresentou dois laudos pretéritos ao contrato de trabalho da autora

constando como nada detectado, ID. 34b9cb7 - Pág. 1 e detectado apenas

estanho no ID. 6ad2869 - Pág. 2, no entanto, ainda que esses laudos fossem

atuais, ainda assim caberia enquadramento da insalubridade, pois os agentes

estão presentes na liga, em sua composição, mesmo que no momento exato

da medição não tenha sido detectados.

Quesito complementar nº 5:

Seguindo ainda na mesma questão foi apontado pelo expert em seu laudo

pericial na página 12:

Nota: Apenas a título de registro, a análise no presente caso foi qualitativa,

independente de medição de concentração dos agentes químicos presentes. A

reclamada apresentou dois laudos pretéritos ao contrato de trabalho da autora

constando como nada detectado, ID. 34b9cb7 - Pág. 1 e detectado apenas

estanho no ID. 6ad2869 - Pág. 2, no entanto, ainda que esses laudos fossem

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atuais, ainda assim caberia enquadramento da insalubridade, pois os agentes

estão presentes na liga, em sua composição, mesmo que no momento exato

da medição não tenha sido detectados.

Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva,

descrever quais premissas está considerando para justificar que o simples fato

de um componente estar presente numa liga, poderia o mesmo já ser

considerado insalubre, ignorando o ponto de fusão do material em questão?

Resposta: além da justificativa copiada do laudo nesse quesito, vide

resposta ao quesito complementar n° 3, que explica didaticamente

quanto ao ponto de fusão dos elementos no presente caso.

E, o perito não ignorou nada quanto ao enquadramento, ponto de fusão, e

tudo que envolve o presente caso, detalhado no item 4.3 do laudo.

Quesito complementar nº 6:

Complementando a questão acima o texto da NR 15 em seu anexo 11

descreve:

2. Todos os valores fixados no Quadro n.o 1 - Tabela de Limites de Tolerância

são válidos para absorção apenas por via respiratória.

Ou seja, o componente chumbo só pode ser considerado insalubre conforme

Anexo 11 da NR 15 se ocorrer a absorção por via respiratória (inalação) por

parte do trabalhador.

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Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva,

descrever quais premissas está considerando para justificar de que forma

poderia ocorrer a absorção por via respiratória (inalação) por parte do

trabalhador do componente chumbo apenas por ele estar presente na liga?

Considerando que o arame de solda estanho em temperatura ambiente não

oferece nenhum tipo de risco, sendo inclusive vendido em qualquer loja de

ferragem e supermercados para usuários domésticos.

Resposta: Fora de contexto para o objeto da perícia, até mesmo porque

não houve enquadramento por arame de solda estanho em temperatura

ambiente do.

Quesito complementar nº 7:

Com relação a conclusão do Sr. Perito na página 11:

Tendo em vista que a reclamante não utilizava máscara respiratória para

fumos metálicos e não havia sistema de exaustão, suas atividades são

classificadas como insalubre em grau máximo, conforme legislações

supracitadas durante todo período contratual não prescrito.

Convém relembrar os princípios da prevenção de doenças do trabalho

conforme determinado nas normas regulamentadoras no Ministério do

Trabalho e Previdência que preconizam que medidas devem ser adotadas

sempre que o nível de ação de determinado riscofor atingido. Preconização

esta que pode ser evidenciado no texto na NR 9 Agentes ambientais:

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9.6.1 Enquanto não forem estabelecidos os Anexos a esta Norma, devem ser

adotados para fins de medidas de prevenção:

a) os critérios e limites de tolerância constantes na NR-15 e seus anexos; (grifo

nosso)

b) como nível de ação para agentes químicos, a metade dos limites de

tolerância; (grifo nosso)

c) como nível de ação para o agente físico ruído, a metade da dose......

9.6.1.2 Considera-se nível de ação, o valor acima do qual devem ser

implementadas ações de controle sistemático de forma a minimizar a

probabilidade de que as exposições ocupacionais ultrapassem os limites de

exposição.

Como pode ser visto no texto normativo acima, o empregador deve adotar

medidas de controle sistemático apenas quando for atingido o nível de

ação, que no caso de agentes químicos, nível de ação é considerado a

metade do limite de tolerância. Conforme quadro I do Anexo 11 da NR o

agente chumbo possui limite de tolerância 0,1 mg/m3, de onde concluímos que

nível de ação do agente chumbo seria de 0,05 mg/m3. E que conforme já

demonstrado acima, nas duas medições realizadas pela reclamada, o

agente chumbo não foi detectado no ambiente, provavelmente por sua

baixa utilização no processo produtivo. Pois vale salientar que a reclamada

não é uma indústria eletrônica, mas sim apenas um montador de chicotes para

a indústria automotiva e agrícola. Sendo assim a reclamada não possui e

necessidade de implementar medidas de controle para o agente, como as de

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de engenharia (exaustão) e muito menos a proteção da reclamante com EPI

(máscara) sendo que não existe o agente chumbo no ambiente.

Pergunta-se, queira o senhor perito, por gentileza e de forma objetiva,

descrever quais premissas está considerando para justificar o enquadramento

da exposição ao chumbo como de grau máximo, devido a falta de exaustão ou

uso de EPI, sendo que o nível de ação do agente químico não foi atingido, ou

melhor, sequer detectado no ambiente?

Resposta: Já respondido nos quesitos anteriores, em especial, o de

número 1.

Caxias do Sul, 07 de fevereiro de 2022.

Rafael Cândido da Rosa


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