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COTEQ002_03 (a)

SUBSTITUIÇÃO DO EMBORRACHAMENTO UTILIZADO NO SISTEMA DE


REFRIGERAÇÃO DOS COMPONENTES DE SEGURANÇA DA CENTRAL NUCLEAR
DE ANGRA 1 POR REVESTIMENTO DE POLIETILENO FUNDIDO.

Nelri F.Leite1, Claudio Silva C. Velho 2 (b)

Copyright 2003, 7a Conferencia sobre Tecnologia de Equipamentos

Este Trabalho Técnico foi preparado para apresentação na 7a Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos, realizada no período de 09 a 12 de
Setembro de 2003, em Florianópolis - SC. Este Trabalho Técnico foi selecionado para apresentação pela Comissão Técnica do Evento, seguindo
as informações contidas na sinopse submetida pelo(s) autor(es). O conteúdo do Trabalho Técnico, como apresentado, não foi revisado pelos
patrocinadores do 7 COTEQ. Os organizadores não irão traduzir ou corrigir os textos recebidos. O material, conforme apresentado, não
necessariamente reflete as opiniões das Associações envolvidas, Sócios e Representantes. É de conhecimento e aprovação do(s) autor(es) que este
Trabalho Técnico seja publicado nos Anais da 7ª Conferência sobre Tecnologia de Equipamentos.

Abstract

The purpose of this paper is to describe the service performed by Angra I Nuclear Power Plant
(Brazil) expert team, which led to replacement of the rubber lining of all the piping of the service
water system (SAS) for which sea water is used as a cooling fluid for safety-related component
heat removal.
The nuclear power plant operation is briefly described, showing the importance of the
operability of this system, which is to be kept in operation even when the reactor is shut down.
The original rubber lining condition is shown and the piping deterioration is focussed on to show
the large extent of corrosion and the application of cast polyethylene lining on the inner surface
of the new piping. The physical-chemical characteristics of this product, the entire application
procedure, the qualification tests on the premises as well as the care taken in the installation of
the rubber-lined piping on Angra 1 site and the modification cost are also presented.

Resumo

Este trabalho tem por objetivo mostrar o serviço realizado pela equipe de técnicos da Central
Nuclear de Angra 1, que levou a substituição do emborrachamento de todas as tubulações dos
sistema de água de serviço (SAS) que utiliza água do mar como fluído refrigerante para retirar
calor dos componentes de segurança da Usina.
Faremos uma breve descrição do funcionamento de uma central nuclear onde mostraremos de
forma suscinta a importância da operabilidade deste sistema que deve ser mantido em
funcionamento mesmo com o reator desligado.
Mostraremos as condições em que se encontrava o emborrachamento original enfocando o
estado de degradação da tubulação já com processo de corrosão avançado e o processo de
aplicação do revestimento de polietileno fundido na sua superfície interna das novas tubulações.
Apresentaremos ainda as características físico-químicas deste produto, todo processo de
aplicação, os testes de qualificação realizado na fábrica, bem como os cuidados durante a
instalação das tubulações revestidas no site de angra1 e os custos inerentes à esta modificação.
Palavra-chave: Polietileno , Polietileno Fundido, Revestimento de Polietileno
______________________________
1
Mestre, Engenheiro Químico – ELETRONUCLEAR S.A.
2
Engenheiro Elétrico – ELETRONUCLEAR S.A.
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Introdução

O Sistema de água de serviço (SAS) de Angra 1 é um dos mais importante com respeito a sua
função de garantir a perfeita refrigeração dos componentes de segurança do reator nuclear. Este
sistema utiliza água do mar como fluído refrigerante circulando em tubulações revestidas com
borracha natural para evitar corrosão do aço carbono das tubulações.
Entretanto o revestimento de borracha natural apresentou deterioração ocasionando corrosão
intensa nas tubulações que comprometeram o funcionamento e a boa performance do sistema
SAS. Este fato nos levou a substituirmos a borracha natural por revestimento de polietileno
fundido que até o presente momento tem mostrado uma performance exemplar após 10 anos de
utilização.

I- Histórico

A partir da entrada em operação de Angra 1 na década de 80, ocorreram vários problemas


técnicos devido a incompatibilidade de diversos materiais frente aos meios a que foram expostos.
Houve portanto diversas paradas não programada desta Usina que nesta ocasião acabou sendo
chamada perjorativamente de vaga-lume. Entretanto devido ao esforço do corpo técnico e o
desenvolvimento de novos materiais, que hoje é possível mantermos os Estados do Rio de
Janeiro e Espírito Santo com mais de 50% do suprimento de energia oriunda de fonte nuclear.

Exatamente com esta filosofia de trabalho, que verificamos a necessidade de


substituirmos o revestimento de borracha das tubulações que apresentaram problemas de falha
no emborrachamento depois de 10 anos de operação da Angra 1. Podemos observar nas fotos 1
e 2 o estado de degradação em que se encontravam as tubulações de aço carbono em processo
avançado de corrosão devido à exposição inadequada a água do mar ocasionado por falha no
emborrachamento .

foto 1 – spool de 20 polegadas de diâmetro foto 2 – região afetada próximo ao flange

O serviço de substituição do revestimento foi realizado durante as paradas programadas


para troca de combustível de Angra 1, tendo em vista que o sistema de água de serviço (SAS)
em questão é imprescindível para o funcionamento da mesma, tendo em vista que ele é
responsável pelo resfriamento dos componentes do sistema de segurança da Usina. É um sistema
que mesmo com a Usina desligada tem que estar operando por questões ligadas à segurança do
reator nuclear. O fato de termos redundância com dois trens de tubulação nos permitiu manter o
sistema operativo durante o trabalho de substituição dos “spools”.

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II- Características do Revestimento de Polietileno Aplicado

Utilização do material em pó, devido ao fato de os plásticos em pó apresentarem características


semelhantes as dos líquidos, sendo de fácil conformação em quaisquer superfícies.

II-1) Propriedades Físicas

Propriedade Método de Ensaio Unidade Valor


Densidade ASTM D 1505 g/cm3 0,920-
0,934
Resistência a Tração ASTM D 638 kg/cm2 MIN. 120
Alongamento ASTM D 638 % MIN. 500
Temperatura de Amolecimento ASTM D 1525 ºC 85 - 100
Temperatura de Fusão ASTM D 1525 ºC 110 - 130
Dureza ASTM D 2240 SHORE D 43 ~ 53

II-2) Velocidade de Trabalho com Água do Mar


Limite Inferior:
1,5m/s - esta velocidade é a recomendada para evitar a aderência de quaisquer seres orgânicos no
revestimento.
Limite Superior:
10,0m/s, a erosão do revestimento pode ocorrer por cavitação para velocidade superior a
estabelecida.

II-3) Temperatura Máxima de Trabalho


- 70º C

II-4) Compatibilidade com os seguintes meios:

PRODUTO CONCENTRAÇÃO MÁXIMA


Amônia Gás seco
Amônia Solução Aquosa
Hidrogênio 100%
Gás Carbônico 100%
Acido Nítrico 25%
Acido Fluorídrico 75%
Acido Crômico 10%
Ácido Clorídrico 36%
Ácido Fosfórico 90%
Ácido Sulfúrico 70%
Água Salgada -
Água Clorada Saturada
Peróxido de Hidrogênio -
Soda Cáustica 10%
Hipoclorito de Sódio 10%

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II-5) Espessura mínima de revestimento

• Revestimento Interno 1,2 mm

III- Condições de Aplicação do Revestimento

III-1) Preparação da Superfície

- Remoção completa de todos os óleos e gorduras.

- Jateamento ao metal quase branco grau Sa 2,5 de acordo com a NBR-7348.

- Remoção completa de toda poeira proveniente do jateamento.

Cuidados especiais:

- As tubulações com algum grau de corrosão, que comprometa a espessura do aço,


não devem ser reaproveitadas, tal fato pode ocasionar distribuição irregular do
polietileno aplicado e perda de aderência ao substrato metálico.

- Todos os cantos vivos, irregularidades de superfície e soldas devem ser evitadas.


Os mesmos devem ser devidamente adoçados antes do processo de aplicação. A
superfície a ser revestida deve ser a mais regular possível.

- Antes da aplicação do aquecimento à peça. deve-se observar o tempo decorrido


após o jateamento. Não é permitido a aplicação do revestimento após ter decorrido
6 horas do jateamento. Para este caso as peças deverão ser rejateadas.

III-2) Aplicação

• Aquecimento: A peça deverá ser aquecida em estufa a 285oC ± 25oC. O tempo de


aquecimento varia com a dimensão da peça.

• Deve-se verificar antes da aplicação se a peça está homogeneamente aquecida.

• Revestimento: Através de fusão do pó de polietileno.

1. Tubo curvo: A peça é fixada, todas as aberturas são tamponadas, exceto uma, pela
qual é introduzido o pó de polietileno, até atingir-se 80 a 100% do volume,
tamponando-se em seguida (foto3). A peça é então girada, por um tempo determinado
que varia conforme a dimensão da peça, até que se obtenha a espessura necessária. A
peça é retirada do dispositivo giratório e o excesso de pó retirado.

2. Tubo reto: A peça é colocada sobre um par de roletes, apoiado pelos flanges (foto4).
Com auxílio de uma lança, introduz-se o pó previamente calculado e pesado no tubo
pré-aquecido.

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foto3 – tubo curvo foto4 – tubo reto

- Resfriamento:
Resfria-se com água ou à temperatura ambiente.

- Acabamento:
Com auxílio de uma plaina e lixadeira é feito acabamento na face do flange até se atingir
a superfície plana.

- Pós-aquecimento:
Ocasionalmente, dependendo da geometria da peça, realiza-se pós-aquecimento para
completa fusão do pó de polietileno.

III-3) Características das peças revestidas com polietileno

• Possibilita a fabricação de tubulações de alta resistência mecânica com propriedades anti-


corrosivas.
• Devido a textura das superfícies revestidas, dificulta a aderência de corpos estranhos nas
tubulações, evitando por exemplo a aderência de ostras e algas marinhas.
• Alta durabilidade, a borracha, por exemplo, apresenta envelhecimento inevitável, o que
não ocorre com o polietileno.
• Por este método de revestimento, podemos realizar o revestimento das superfícies do
flange e do interior dos tubos de uma só vez, sem que hajam tensões residuais nas
extremidades da peça.
• No revestimento de PVC ou no de borracha, os quais são realizados a partir de mantas, há
necessidade de se dobrar as extremidades possibilitando a ocorrência de trincas
decorrentes do stress acumulado nos cantos

III-4) Controle de qualidade do revestimento

1. Inspeção visual.
Será realizada inspeção visual após a execução do revestimento com finalidade de se
verificar a uniformidade da aplicação, existência de bolhas, correta aderência e outras falhas.

2. Teste de Descontinuidade.
O revestimento deverá ser verificado quanto a existência de falhas através da aplicação
do PINHOLE TESTER a uma tensão de 10.000 volts ao longo de toda a superfície revestida
(foto5).
3. Medida de Espessura.

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A medida de espessura a ser realizada por métodos eletromagnéticos com instrumentos
aferidos deve ser determinada em áreas de aproximadamente 1 dm2, em aproximadamente 10
pontos (foto6) .

foto5 – Teste de descontinuidade foto6 – Medida de espessura

4. Teste de Dureza

A dureza shore "D" deverá ser determinada em corpos de prova testemunhos com
diâmetro mínimo de 35mm e espessura mínima de revestimento de 1,2 mm conforme norma
ASTM-D-2240, sendo executado no mínimo 3 medidas em cada corpo de prova.

IV- Custos

Desde que foi iniciado o trabalho de substituição do revestimento de borracha por


polietileno fundido em 1993 foram revestidas aproximadamente 1000 metros de tubulações e
curvas com diâmetros de 6, 8 e 20 polegadas contemplando 100% do trem B e 80% do trem A,
sendo que os 20% restante do trem A está previsto para ser executado na P12 em setembro/2003.
Desta forma quando a Usina retornar a operação em novembro/2003 estaremos com o sistema de
água de serviço predominantemente revestido com Polietileno.

Vale ressaltar que o custo total até o presente momento monta um valor de U$128.000,00
(cento e vinte oito mil dólares). Considerando que ao longo de 10 anos de operação do SAS não
houve nenhuma parada não programada deste sistema por falha do polietileno, podemos afirmar
que o benefício oriundo da troca do revestimento superou a nossa expectativa, com custo
relativamente baixo em se tratando do conforto operacional que vem sendo proporcionado.

O custo do revestimento com polietileno comparado com o revestimento de borracha é


inferior em torno de 60%. Além disso, podemos constatar que a vida útil do polietileno é muito
maior que a borracha por não apresentar o fenômeno do envelhecimento, comum a este
revestimento.

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V- Conclusão

A verificação da performance do revestimento de polietileno fundido foi comprovada


através de inspeção a cada parada programada para troca de combustível de Angra 1, quando
temos condições de inspecionar as tubulações revestidas com um robô que percorre este sistema
filmando a superfície interna das mesmas.

Pudemos constatar na última Parada (P11) em 2002, a integridade dos primeiros trechos
de tubulações que foram revestidos em 1993 por ocasião da P4, perfazendo 10 anos em serviço
contínuo sem apresentar os problemas de corrosão mostrado nas fotos 1 e 2..

Com base no exposto, hoje o sistema de água de serviço (SAS) de Angra 1 apresenta uma
condição confortável de disponibilidade operacional com o revestimento de polietileno em suas
tubulações, garantindo a integridade do reator ao cumprir sua missão de resfriar os componentes
de segurança de Angra 1.

VI- Bibliografia

O presente trabalho fora elaborado com base nos registros de relatórios e instrução
técncas internas da Eletronuclear específicos desta tarefa, porém de caráter confidencial e à
disposição dos empregados no arquivo técnico da Usina.

As normas utilizadas foram:


1. ASTM-D-638-82- Test for Tensile Properties of Plastics.
2. ASTM-D-1505-68- Test for Density of Plastics by the Density-Gradient Technique.
3. ASTM-D-1525-76- Test for Vicat Softening Temprtature of Plastics.
4. ASTM-D-2240- Test for Rubber Property Durometer Hardness.
5. NBR7348 NB694 - 82 - Limpeza de superfícies de aço com jato abrasivo
6. IN-A1-015 – Instrução técnica para revestimento de polietileno para as tubulações e
acessórios das linhas de água de serviço.

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