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AVALIAÇÃO DO BULBO DE TENSÕES NO SOLO PRODUZIDO POR SAPATAS DE


CONCRETO ARMADO ATRAVÉS DO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS

Conference Paper · July 2020

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Jonas Falcão
University of Brasília
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AVALIAÇÃO DO BULBO DE TENSÕES NO SOLO PRODUZIDO POR
SAPATAS DE CONCRETO ARMADO ATRAVÉS DO MÉTODO DOS
ELEMENTOS FINITOS
EVALUATION OF THE BULB OF STRESS IN THE SOIL PRODUCED BY REINFORCED
CONCRETE FOOTINGS THROUGH THE FINITE ELEMENT METHOD

Jonas Pereira Falcão (1); Francisco dos Santos Rocha (2); Arlindo Pires Lopes (3); Roberto
Nascimento Lucena (4); Francisco da Cunha Morais Neto (5); Isabelle de Miranda Corrêa (6)

(1) Acadêmico de Engenharia Civil, Universidade do Estado do Amazonas. jonaspfalcao@hotmail.com


(2) Professor Doutor, Coordenação de Engenharia Civil, Universidade do Estado do Amazonas.
francsantos@uol.com.br
(3) Professor Doutor, Coordenação de Engenharia Mecânica, Universidade do Estado do Amazonas.
alopes@uea.edu.br
(4) Acadêmico de Engenharia Civil, Universidade do Estado do Amazonas. roberto.nlucena@gmail.com
(5) Acadêmico de Engenharia Civil, Universidade do Estado do Amazonas. francisco.cmneto@hotmail.com
(6) Acadêmico de Engenharia Civil, Universidade do Estado do Amazonas. isabelle.correa@gmail.com

Resumo
A estimativa empírica e sem grande precisão da distância entre sapatas adjacentes, o desconhecimento de
possíveis rupturas no solo devido à superposição de bulbos de tensão e a dificuldade em calcular a
intensidade dessas interferências através de formulações analíticas são obstáculos enfrentados pelos
engenheiros projetistas. Além disso, a maioria dos softwares comerciais de dimensionamento de estruturas
não leva em consideração os efeitos causados pelas ações da estrutura ao solo. Neste sentido, este
trabalho proporciona uma metodologia para facilitar e tornar mais seguro, preciso e econômico o
dimensionamento e locação de sapatas de concreto armado. Por meio de um programa computacional que
utiliza o Método dos Elementos Finitos, SAP 2000, realizou-se a escolha do tipo de malha, a inserção das
características da malha, o acréscimo das cargas e por fim a adição das condições de apoio das malhas.
Verificou-se que os resultados das tensões obtidos por meio do método numérico são bem próximos dos
resultados das tensões obtidos por meio das formulações analíticas de Terzaghi e Carothers. Os resultados
obtidos neste trabalho demonstram a relevância em se adotar métodos computacionais para analisar as
tensões produzidas no solo.
Palavra-Chave:Sapatas, bulbos de tensão, interferências, formulações analíticas, programa computacional.

Abstract
The empirical estimate and without a large precision of the distance between adjacent footings, the
ignorance of possible soil breakings due to the superposing of bulb of stresses and the difficulty to calculate
the intensity of these interferences through the analytical formulations are obstacles faced by structural
designers. In addition, the majority of the commercial structural design softwares do not take into account the
effects caused by the actions from the structure to the soil. In this sense, this work provides a methodology
to ease and become safer, more precise and economic the dimensioning and the location of footings. By
means of a computer program that utilizes the Finite Element Method, SAP 2000, it was performed the
choice of the kind of frame, the insertion of the characteristics of the frame, the increase of the loads and the
addition of the restraint conditions of the frames. It was verified that the results of the stress obtained through
the numerical method are similar to the results obtained through analytical formulations of Terzaghi and
Carothers. The results obtained in this work demonstrate the relevance in adopting computer methods to
analyze the stresses produced in the soil.
Keywords: footings, bulbs of stress, interferences, analytical formulations, computer program.

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1 Introdução
A capacidade de carga de um elemento de fundação rasa diminui com a superposição de
bulbo de tensões da fundação adjacente e, também, aumenta a possibilidade de recalque
da fundação. É o que ocorre em fundações muito próximas e, também, pela de cargas
próximas às fundações, como, por exemplo, pisos industriais que servem de depósitos
para cargas pesadas. Essa influência é tanto mais ampla quanto maior for à intensidade
do carregamento na área de atuação das cargas.

Uma estrutura ou edificação pode se deformar de um dos três principais modos. No


primeiro modo, ocorrem danos estéticos e funcionais – se os recalques forem muito
grandes – e danos às ligações da estrutura com o exterior (tubulações de água, esgoto,
rampas, escadas, passarelas). No segundo caso, ocorrem danos estéticos devido ao
desaprumo (mais visível quanto mais alto for o prédio) e danos funcionais decorrentes do
desnivelamento de pisos. No último caso, além de danos estéticos e funcionais
mencionados nos dois casos anteriores, há também danos dessa mesma natureza,
decorrentes da fissuração, além dos danos estruturais.

De acordo com BARNES (2016), a fundação é a interface entre a carga estrutural e o


solo. A tensão aplicada por uma estrutura em uma fundação é geralmente uniforme. Já a
pressão real aplicada pela fundação no solo é uma reação, chamada de pressão de
contato p, entretanto a sua distribuição depende da rigidez da fundação, da rigidez do
solo e do tipo de carregamento.

Nos primórdios da Mecânica dos Solos, imaginava-se que as tensões eram dissipadas ao
longo da vertical de maneira linear com um ângulo de espraiamento de 30º.
Posteriormente, foram determinadas inclinações para diferentes tipos de solos.
Entretanto, essa hipótese simples contraria todas as observações experimentais, pelas
quais se verificou que a pressão distribuída em profundidade não é uniforme, mas sim
variável em forma de sino.

Com base nas premissas da Teoria da Elasticidade, Boussinesq elaborou formulações


analíticas para calcular as tensões em qualquer ponto abaixo do solo, considerando uma
carga concentrada advinda da fundação e sem excentricidade.

CAROTHERS E TERZAGHI (1924), a partir da integração das equações de Boussinesq


para várias cargas pontuais, desenvolveram formulações analíticas para avaliar as
tensões no solo devido ao carregamento de uma sapata corrida.

Atualmente, a avaliação dos bulbos de tensões adjacentes é realizada de forma quase


empírica, em geral, a partir de cargas pontuais, acarretando danos à edificação. Ocorre,
também, desconhecimento dessa influência no dimensionamento dos elementos de
fundação superficial.

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A avaliação do bulbo de tensões no solo permitirá estabelecer recomendações práticas
para a locação de sapatas e, também, de posicionamento de cargas junto às edificações,
evitando possíveis danos à fundação adjacente.

2 Bulbo de tensões no solo sob sapatas

Experiências realizadas nos primeiros tempos da Mecânica dos Solos mostraram que ao
se aplicar uma carga na superfície de um terreno, numa área bem definida, os acréscimos
de tensões numa certa profundidade não se limitam à projeção da área carregada. Nas
laterais da área carregada também ocorrem aumentos de tensão (BARNES, 2016).

Segundo MARAGNON (2009), a distribuição ao longo de planos horizontais em diversas


profundidades tem a forma de sino conforme pode ser observado na figura 1. O lugar
geométrico de pontos de igual pressão em qualquer profundidade é uma superfície de
revolução, cuja seção transversal é possível traçar um número infinito de isóbaras deste
tipo, cada qual correspondendo a uma pressão.

Figura 1 – Bulbo de tensões (MARAGNON (2009))

Para efeitos práticos, considera-se que tensões menores que 10% da pressão de contato
não têm efeitos na deformabilidade do solo e, portanto esta isóbara delimitaria a zona do
solo sujeita a deformações.

BARATA (1993) comprovou que quanto maiores às dimensões da fundação, maiores


serão as tensões a uma dada profundidade. Além disso, sendo α um coeficiente que
depende do formato e das dimensões da sapata, L a maior dimensão da sapata e B a
menor dimensão da sapata, conforme mostrados na figura 2, as tensões podem ser
consideradas desprezíveis a partir da seguinte profundidade:

Z B (Equação 1)

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Figura 2 – Tensões desprezíveis (BARATA (1993))

2.1 Teoria de Boussinesq

As cargas aplicadas na superfície de um terreno induzem tensões e deformações no


interior da massa do solo. Apesar da relação entre as tensões e as deformações não
serem lineares, utilizam-se soluções com base na Teoria da Elasticidade em aplicações
práticas, respeitando-se as equações de compatibilidade e de equilíbrio (MARAGNON,
2009).

De acordo com BARNES (2016), o emprego da Teoria da Elasticidade ainda é


questionável, visto que o comportamento do solo não satisfaz os requisitos desta teoria,
principalmente no que se refere à reversibilidade das deformações quando as tensões
mudam de sentido. A utilização da Teoria da Elasticidade é justificável apenas para
acréscimos de tensões, entretanto o maior argumento para a utilização desta com o
intuito de calcular tensões sob sapatas isoladas é o fato de não haver melhor alternativa
para tal e uma vez que ela tem apresentado resultados satisfatórios.

Boussinesq considerou o solo como sendo um material com as propriedades de semi-


infinito, homogêneo, isotrópico e elástico e obteve formulações analíticas para a
determinação de tensões efetivas verticais (σv), radiais (σr) e tangenciais (σt) no solo sob
sapatas isoladas sujeitas a cargas centradas, conforme mostrado na figura 3. Nessa
figura, podem ser visualizados os parâmetros R e z. Nas equações abaixo, tem-se que P
é a ação concentrada proveniente da sapata e ν é o coeficiente de Poisson.

3Pz 3
v  (Equação 2)
2 R 5

 P  3r 2 z (1  2 ) R 
r   (Equação 3)
2 R 2  R 3 R  z 

(1  2 ) P  z R 
t    (Equação 4)
2 R 2
R R  z 
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Figura 3 – Parâmetros de cálculo de Boussinesq (BASTOS (2010))

Entretanto, de acordo com BARNES (2016), o solo deve ser considerado como finito, pois
onde há estratos rígidos nas camadas mais profundos não haverá distorções e recalques
significativos o que contribuirá para o aumento de tensões nestes pontos. Além disso, a
maioria dos solos possui módulo de elasticidade ou rigidez diferente de um ponto para
outro, geralmente aumentando com a profundidade, o que torna as tensões verticais
maiores que os valores obtidos por Boussinesq.

BARNES (2016) comenta que o solo não deve ser considerado isotrópico, pois nos casos
de argilas pré-adensadas e rochas, estas podem ser muito mais rígidas na direção
horizontal do que na vertical, sendo consideradas anisotrópicas. Já em relação à
consideração de material elástico-linear, os comportamentos de argilas normalmente
adensadas e areias soltassão diferentes daquele apresentado por Hooke.

De acordo com BARATA (1993), apesar de haver diferenças entre o comportamento do


solo idealizado por Boussinesq e seu comportamento real, não se pode impedir a
aplicação da Teoria da Elasticidade aos solos, desde que observados os seguintes
requisitos: as cargas aplicadas e distribuídas não devem resultar em tensões que se
aproximem da máxima resistência ao cisalhamento do solo, utilizando um fator de
segurança no mínimo igual a 3; a resistência do solo deve ser constante ao longo da
profundidade; solos devem ser o mais homogêneos possível; o solo tenha resistência à
tração e ao cisalhamento; análise das tensões em uma profundidade superior a 2,5 vezes
o menor lado da sapata.

A solução de Boussinesq não conduz a resultados satisfatórios em solos sedimentares,


onde o processo de deposição em camadas conduz a obtenção de um material de
natureza anisotrópica. Westergaard analisou a influência da anisotropia do solo nos
valores obtidos por Boussinesq ao simular uma condição extrema de anisotropia para
uma massa de solo impedida de se deformar lateralmente.
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2.2 Teoria de Carothers-Terzaghi

Segundo BARNES (2016), uma pressão uniforme aplicada pode ser representada por um
grande número de cargas pontuais. Cada uma dessas cargas produzirá tensões em um
ponto dentro de uma massa do solo, de modo que a integração das equações de
Boussinesq forneça a tensão sob uma pressão uniforme.

CAROTHERS E TERZAGHI (1924) desenvolveram as seguintes soluções analíticas para


a determinação das tensões efetivas verticais (σv) e horizontais (σh) no solo sob uma
sapata corrida sujeita a carregamento distribuído uniforme, conforme mostrado na figura
4. O parâmetro q é a carga distribuída uniforme proveniente da fundação, enquanto que α
e β são ângulos obtidos conforme mostrado na figura 4.

q
z  [  sen cos(  2  )] (Equação 5)

q
x  [  sen cos(  2  )] (Equação 6)

Figura 4 – Parâmetros de cálculo de Carothers-Terzaghi (Maragnon (2009))

Apesar de Carothers e Terzaghi também terem se baseado na Teoria da Elasticidade, os


resultados de suas formulações analíticas foram mais próximos da realidade do que os de
Boussinesq.

Tanto para a solução de Boussinesq quanto para a solução de Carothers-Terzaghi, é


válido o princípio de Saint-Venant, que trata da seguinte hipótese: ”Desde que as
resultantes de dois carregamentos sejam as mesmas, o estado de tensões numa região
suficientemente afastada da região de aplicação do carregamento independe da forma
com que o carregamento é aplicado.” Portanto, para os pontos afastados da região de
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carregamento, os valores das tensões obtidos pela equação de Boussinesq são
semelhantes aos obtidos pelas equações de Carothers-Terzaghi.

Além disso, o tamanho das dimensões da fundação se relaciona com a profundidade das
tensões no solo conforme mostrado na figura 5. Percebe-se que fora da projeção do
carregamento não há bulbo de tensões maiores que 50% do valor da pressão de contato
o que permite ao projetista desconsiderar a verificação da interferência de bulbos de
pressão em solos homogêneos.

Para qualquer valor da largura B, pode-se trabalhar com sapatas isoladas, pois a isóbara
pertencente a ηz = 0,5 está praticamente dentro do alinhamento vertical das faces da
sapata. Dessa forma, conclui-se que a superposição de tensões não ultrapassa o valor da
tensão admissível, porém para atender às condições construtivas, CAMPOS (2015)
recomenda que a distância mínima entre as faces das sapatas não seja inferior a 15 cm.

Figura 5: Distribuição de tensões no maciço em função das dimensões da sapata. (CAMPOS (2015))

Entretanto, em se tratando de estruturas de concreto armado sobre solos heterogêneos


onde se encontra a maioria dos casos de obras correntes, é necessário avaliar a
interferência de bulbos de tensões provenientes de sapatas locadas muito próximas uma
das outras. Geralmente essa avaliação de sobreposição de bulbos de tensões através de
algum método numérico, como por exemplo, o Método dos Elementos Finitos.

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2.3 Método dos Elementos Finitos

A análise de modelos matemáticos habitualmente requer o uso de métodos numéricos,


entre os quais se inclui o de elementos finitos. Esse método foi desenvolvido para a
análise de meios contínuos, possibilitando, nos dias de hoje, a análise da maior parte dos
sistemas físicos dos quais trata a Engenharia de Estruturas.

De acordo com SORIANO (2003), estruturas de meios contínuos são muito complexas
para serem analisadas de forma exata e, por isso, são adotadas hipóteses simplificadoras
quanto: ao comportamento de material (isótropo elástico-linear, por exemplo), às
condições de apoio (direções impedidas a deslocamentos ou com apoios elásticos), às
ações externas (forças e efeitos de deformação imposta e de temperatura), e quanto à lei
de variação das grandezas incógnitas ou dependentes (deformações com leis lineares ou
de ordem superior, por exemplo), entre outras, de forma a se criar o que se denomina
modelo matemático.

Com a finalidade de substituir a resolução analítica das equações em derivadas parciais


dos modelos matemáticos bi e tridimensionais pela resolução de sistemas de equações
algébricas, foram desenvolvidos os métodos discretos, numéricos ou aproximados. Esses
métodos introduzem aproximações adicionais aos modelos matemáticos, formando os
correspondentes modelos discretos, nos quais se busca a determinação de incógnitas em
um número finito de pontos. Entre esses métodos, citam-se, por ordem cronológica de
aparecimento, os métodos de diferenças finitas, de elementos finitos e de elementos de
contorno. Podem-se identificar casos práticos em que cada um desses métodos seja
superior aos demais. Contudo, pode-se afirmar que o método dos elementos finitos é o
que se aplica de forma mais ampla, simples e eficiente em análise estrutural (SORIANO,
2003).

Primeiramente, é necessário discretizar o domínio do problema em um conjunto de


pequenos elementos os quais formam uma malha de elementos finitos definidos pela sua
geometria e pela quantidade de nós. Geralmente, em solos, utilizam-se os elementos
triangulares de três nós ou de seis nós, os elementos retangulares de quatro nós ou de
oito nós, ou os elementos isoparamétricos. À medida que aumenta a quantidade de nós,
as características dos elementos se tornam mais precisas. Estes elementos podem ser
visualizados na figura 6.

Figura 6 –Geometria dos elementos finitos (ARAÚJO (2014))


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Após a discretização do domínio em vários elementos finitos e uma vez interligados
através dos nós, é necessário escolher qual função descreve o comportamento interno
desses elementos interligados. O comportamento das tensões e dos deslocamentos nos
elementos é retratado por uma função ou um conjunto de funções quando os elementos
são submetidos às ações.

Uma vez conhecidos, dentro de cada elemento, os valores da função de deslocamentos e


de suas derivadas nos vértices dos elementos, é possível fixar os coeficientes dos
polinômios da função. Dessa maneira, é garantida a compatibilidade de deformações
entre elementos contínuos ao se igualar os valores das deformações nos vértices. As
condições de equilíbrio de forças formam um sistema de equações lineares. A resolução
dessas equações fornece os valores dos deslocamentos e permite o cálculo das tensões.

Os resultados das deformações e tensões obtidos através do Método dos Elementos


Finitos são aproximados. Entretanto, à medida que o domínio do problema é subdividido
em elementos finitos cada vez menores, esses resultados convergem para uma solução
exata.

3 Método Numérico
Neste trabalho, utilizou-se o programa computacional SAP 2000 – Structural Analysis
Program – desenvolvido pela empresa Computer & Structures, Inc. (CSi). O solo foi
definido com as características do módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson
extraídos de MARAGNON (2009). Para um solo argiloso, obtém-se o módulo de
elasticidade igual a 30 MPa e o coeficiente de Poisson igual 0,3. Para modelar o solo,
utilizou-se o elemento finito do tipo Shell Thick com espessura de 1 metro.

O solo modelado computacionalmente possui 20 metros de larguras e 40 metros de


profundidade. Essas dimensões se justificam pelo fato de avaliar a propagação de
tensões a uma distância relativamente grande do ponto de aplicação das ações sem a
interferência das vinculações.

Nas laterais e na base do solo, foram colocados apoios que restringem o movimento
translacional nas três direções conforme mostrado na figura 7, haja vista que os
deslocamentos nesses pontos são praticamente nulos. Quanto às reações provenientes
das sapatas de concreto armado, distribuíram-se as reações uniformemente nos nós das
malhas de elementos finitos através do processo de área de influência, figura 8. Dessa
maneira, os valores das reações nos nós intermediários são o dobro dos valores das
reações nos nós de extremidade da projeção da sapata.

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Figura 7–Condições de contorno

Figura 8–Aplicação das reações no solo

Neste trabalho, serão analisados os seguintes casos: comparação e validação dos


resultados obtidos analiticamente com os resultados obtidos computacionalmente em
sapatas isoladas e sapatas corridas; solo com taxa de consistência variável; interferência
das tensões entre duas sapatas próximas; e interferência das tensões entre três sapatas
próximas.

4 Resultados

4.1 Sapata isolada

Na cidade de Manaus, é comum encontrar solos com taxa de consistência baixa, variando
entre 50 kPa e 100 kPa. Dessa maneira, em um edifício residencial de dois pavimentos a
reação que chega às sapatas de concreto armado são iguais a 100 kN, necessitando de
sapatas com dimensões iguais a 2 metros por 1 metro.

Utilizando os recursos computacionais do software SAP 2000, são apresentados na figura


9 bulbos de tensões sob a sapata isolada, mostrando a região onde a atuação das
tensões é preponderante. Na figura 10, foram plotados os valores das tensões calculadas
pela Equação 3 e pelo método computacional, visando comparar os resultados obtidos.

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Figura 9: Bulbo de tensões da sapata isolada

Figura 10: Comparação das tensões: métodos numérico e analítico

A partir da análise do gráfico mostrado na figura 10, verificou-se que os valores das
tensões no solo obtidos pelo método numérico são próximos dos valores das tensões
calculados pela equação de Terzaghi e Carothers, embora a equação tenha sido
formulada especificamente para sapatas corridas.

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4.2 Sapata corrida

A partir de um exemplo extraído de BARNES (2016), foi analisada uma sapata corrida de
concreto armado de 6m x 1m, com reação de 600 kN. Procedendo de maneira análoga
ao caso anterior, a comparação dos resultados obtidos pelo método computacional e pela
Equação 3 pode ser visualizada na figura 11. Os bulbos de tensões no solo obtido através
do software SAP 2000 são mostrados na figura 12.

Figura 11: Comparação das tensões: métodos numérico e analítico.

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Figura 12: Bulbo de tensões da sapata corrida.

Verifica-se que a pressão de contato se mantém constante, validando a inserção das


características adotadas para os elementos finitos do solo. Além disso, o gráfico das
tensões verticais obtido pelo método numérico assemelha-se à forma do gráfico constante
em BARNES (2016).

4.3 Solo com taxa de consistência variável

A partir de um exemplo de extraído de uma publicação da Faculdade do Sudoeste


Paulista (FSP), foi analisado o caso de uma grande construção edificada sobre um solo
heterogêneo composto por areia compacta cuja tensão resistente é de 100 kPa e por
argila mole cuja taxa de consistência é de 25 kPa mostrado na figura 13.

Figura 13: Propagação de tensões no solo sob um edifício de concreto armado

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A carga estimada da edificação é 8000 kN, conduzindo a taxa de 80 kPa no terreno.
Utilizando software SAP 2000, foram calculados os valores das tensões no solo conforme
mostrado na figura 14.

Figura 14: Tensão de 28,78 kPa na argila mole

A tensão máxima obtida na camada de areia compacta foi de 86,23 kPa, estando este
valor abaixo da taxa de consistência da areia. Já na camada de argila mole, a tensão
máxima calculada foi de 28,78 kPa, a 12 metros da superfície de profundidade. A tensão
atuante no solo é superior à taxa de consistência do solo nessa camada, o que pode
gerar anomalias na edificação decorrentes do recalque do solo.

Portanto, quando se tratar de sapatas de concreto armado sobre solos heterogêneos é


necessário verificar a possibilidade de ocorrências de recalque nas camadas menos
resistentes e não somente na camada do solo em contato com a sapata.

4.4 Interferência de tensões entre duas sapatas próximas

A seguir foram analisadas a sobreposição de tensões de duas sapatas de 2 metros por 1


metro com carga de 100 kN cada, com afastamento nulo, isto é, com faces adjacentes
juntas.

O software forneceu a distribuição de tensões mostrada na figura 15, indicando que,


mesmo em sapatas muito próximas, as tensões nunca serão maiores que a pressão de
contato de cada sapata individual. Verifica-se que a pressão máxima foi de 54,98 kPa,
enquanto que para uma sapata isolada, isto é, sem interferência de outra, com as
mesmas características, a tensão no solo foi de 56,88 kPa.

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Figura 15: Tensão máxima no solo

Portanto, no caso de sapatas com faces juntas, verificou-se que não houve tensões
maiores que as pressões de contato das sapatas analisadas individualmente, indicando
não haver tensões no maciço maiores que a pressão de contato e não sendo necessário
avaliar as tensões nos casos de solos homogêneos, conforme foi comentado por
CAMPOS (2015).

4.5 Interferência de tensões entre três sapatas próximas

Finalmente, foram analisadas três sapatas com dimensões de 2 metros por 1 metro e
carga de 100 kN atuando sobre cada uma. As faces das sapatas adjacentes estão
espaçadas a cada 1 metro.

O programa computacional calculou as tensões no solo, mostrando o comportamento dos


bulbos de tensões e, também, como a presença de várias sapatas interfere na distribuição
das tensões no solo ao longo da vertical, figura 16.

No caso da existência de três sapatas, com faces espaçadas a cada 1 metro, a


interferência da sobreposição de bulbos de tensão potencializa o valor das tensões ao
longo da vertical no maciço. Em solos heterogêneos, com taxas de consistência variadas,
é necessário o cálculo das tensões máximas em cada camada.
.

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Figura 16: Interferência dos bulbos de tensões.

5 Conclusões

Os valores de tensões obtidos através do método computacional foram similares aos


obtidos analiticamente. No entanto, os resultados mostram a necessidade dos projetistas
estruturais adotarem programa computacional nas avaliações das tensões no solo,
considerando a presença dos elementos estruturais adjacentes e, também, as diferentes
camadas de solo nos projetos de sapatas de concreto armado.

O uso desses procedimentos visa garantir a segurança da estrutura a ser construída,


considerando sua estabilidade e anomalias decorrentes de recalques da fundação.

6 Agradecimentos
Dedico este artigo a Universidade do Estado do Amazonas a qual financiou esta pesquisa
de iniciação científica durante doze meses.

7 Referências
BARNES, G.. Mecânica dos solos: princípios e prática. Rio de Janeiro:Elsevier, 2016.

CAMPOS, J.C..Elementos de fundações em concreto. São Paulo: Oficina de Textos,


2015.

CAROTHERS, S. D. Plane Strain – The direct determination of stress. Proc. Royal


Society, A91, pp. 110-123, 1920.

MARANGNON, M.. Mecânica dos solos II. Juiz de Fora: UFJF, 2009.

SORIANO, H.L. Método de elementos finitos em análise de estruturas. São Paulo:


Editora da Universidade de São Paulo, 2003.

Terzaghi. K. Erdbaumechanik auf Bodenphysikalischer Grundlage. Franz Deuticke,


Liepzig-Vienna, 1925.
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