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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.

0406 ISBN: 978-65-89463-30-6

XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica


IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Análise de uma Fundação em Sapata Reforçada com Estaca


Márcio Marangon
Professor Adjunto, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, marcio.marangon@ufjf.edu.br

Nelson Murillo Marx Teixeira


Engenheiro Civil, Grupo Itaú, São Paulo, Brasil, nelson.teixeira@engenharia.ufjf.br

RESUMO: O trabalho tem como objetivo apresentar parte de uma pesquisa sobre fundações do tipo mista, que
utiliza estaca sob fundação em sapata, procurando entender como ocorre a transferência de carga da estrutura
para o solo, assim como as deformações neste tipo de fundação. Para este entendimento, foi realizada uma
modelagem numérica, com o software Plaxis, a fim de simular as configurações de fundações: sapata isolada,
estaca isolada e sapata sobre uma estaca (estaca-T). Os resultados foram confrontados com os publicados por
Sales (2000), que submeteu estas fundações a experimentos em campo, do tipo provas de carga. Observou-se,
de um modo geral, que os resultados obtidos na modelagem numérica são condizentes com os da literatura.
Quanto à comparação dos resultados numéricos com os obtidos em provas de carga, pode-se observar que são
coerentes até certo nível de tensão, sendo contudo, próximo para o caso da sapata isolada, em todo o
carregamento. Conclui-se que a transmissão do carregamento na estaca-T tem início de forma mais acentuada
na estaca, sendo ela a responsável por receber e transmitir ao solo a maior parte da carga nas etapas iniciais de
carregamento. Quanto à redução de recalque, motivo pelo qual a estaca-T normalmente é utilizada, observou-
se uma redução significativa nos seus valores.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações Mistas, Sapata Estaqueada, Reforço em Sapatas.

ABSTRACT: This paper aims to present part of a research on mixed type foundations, which uses a pile under
a shallow footing, trying to understand how the load transfer occurs from the structure to the ground, as well
as the deformation in this type of foundation. For this understanding, a numerical modeling was performed,
using the software Plaxis, in order to simulate the configurations of foundations: isolated shallow footing,
isolated pile and shallow footing on a pile (T-pile). The results were compared with those published by Sales
(2000), who submitted these foundations to field experiments, such as load tests. It was observed, in general,
that the results obtained in numerical modeling are consistent with those in the literature. As for the comparison
of the numerical results with those obtained in load tests, it can be observed that they are coherent up to a
certain level of tension, however, being close to the case of the isolated shallow footing, throughout the load.
It is concluded that the transmission of the load in the T-pile starts more sharply in the pile, being responsible
for receiving and transmitting to the ground most of the cargo in the initial loading stages. As for the reduction
of settlement, which is why the T-pile is normally used, there was a significant reduction in its values.

KEYWORDS: Mixed Foundations, Shallow Footing Reinforced With Pile, Reinforced Shallow Footing

1 Introdução

Enquanto as fundações superficiais são caracterizadas pela transmissão de carga da fundação para o solo
por sua base, nas profundas essa transmissão é feita pela ponta, pelo contato da superfície lateral da fundação
com o solo, ou por uma combinação de ambas. A técnica mais adequada a ser empregada deve ser definida
após análise das condições geotécnicas do local e também do nível de carregamento da edificação a ser
construída. Entretanto, dados os níveis de carregamento e de condições específicas de subsolo em alguns casos,
tem feito com que os princípios de funcionamento das fundações superficiais e profundas sejam empregados
de forma conjunta, as denominadas “fundações mistas”.
De acordo com Velloso e Lopes (2011), as fundações mistas recebem tal designação quando ambos os
componentes de fundações, exercem em conjunto o papel de aumentar a resistência da fundação sob critérios

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de capacidade de carga e/ou redução de recalque. Dentre as fundações mistas, os principais tipos são as sapatas
estaqueadas e os radiers estaqueados. Ambos os termos especificam sistemas de fundações que envolvem um
elemento de fundação superficial, a sapata ou radier, com um elemento tradicional das fundações profundas,
as estacas ou o grupo de estacas, sendo que os dois componentes contribuem para o desempenho da fundação.
As fundações do tipo sapata estaqueada podem ainda ser subdividas em dois grupos, as denominadas
“estacas-T” ou “estapatas” (Figura 1), de acordo com Velloso e Lopes (2011), sendo que tais grupos se diferem
pelo fato de haver ou não contato entre sapata e estaca ao término da sua construção. Na denominada estaca-
T, existe o contato (não um engaste) entre sapata e estaca já no ato da construção, enquanto que na “estapata”,
contempla uma distância entre os elementos, que funciona como uma “folga” inicial. Esse contato existirá
apenas após recalque imediato da sapata e a consequente aproximação destes dois elementos.

Figura 1. Estaca T e Estapata, respectivamente. Fonte: Velloso e Lopes (2011)

De acordo com Décourt (1998), as fundações do tipo sapata estaqueada passaram a ser difundidas no
Brasil apenas após o ano de 1992 e apresentam diferentes configurações e aplicabilidades. Este autor defende
que, para fundação mista do tipo estaca-T, deve-se ter atenção especial à resistência do elemento estrutural
vertical, ou seja, a estaca. Essa preocupação se faz necessária uma vez que, caso a carga incial sobre a estaca
ultrapasse a carga estimada, tal elemento passa a se tornar o elemento mais fraco do conjunto, podendo
comprometer o desempenho da fundação. Observa-se que o emprego de estacas como complemento em
fundações superficiais tem sido feito, em grande parte das vezes, como um recurso para redução do recalque
do elemento estrutural ao longo do tempo.
Portanto, visto a importância do tema no campo da geotecnia, vê-se oportuno a apresentação do presente
trabalho, que tem como objetivo compreender melhor a distribuição de tensões e deformações nas camadas de
solo sob influência do carregamento de uma fundação mista. Para tanto, foram realizadas modelagens
numéricas dos elementos em separado, e em conjunto, assim como, foram realizadas comparações com
resultados experimentais obtidos com a realização de provas de carga, publicados na literatura.

2 Modelagem Numérica: Algumas Considerações

Para melhor compreender a distribuição de tensões e deformações nas camadas de solo sob influência
do carregamento atuante em uma fundação mista, optou-se por utilizar o software Plaxis, bastante difundido
no nosso meio técnico. O Plaxis é um programa desenvolvido para análises geotécnicas cujo metodologia de
análise é baseada no método dos elementos finitos. A malha de elementos finitos é criada automaticamente
sobre a geometria inserida, podendo ser refinada pelo usuário, caso julgue necessário (SILVA, 2011).
O Plaxis concede inúmeras possibilidades de configurações para o usuário. Neste breve item são
esclarecidas algumas das configurações utilizadas no programa, para as simulações realizadas. O problema foi
modelado em 2D, sendo utilizado o modelo “Axysimmetry”. Neste, assume-se que um corpo apresenta um eixo
de simetria e que as condições de contorno e carregamento também apresentam esse mesmo eixo de simetria.
Nesse caso, o deslocamento não varia em função da sua coordenada circunferencial (MEDEIROS, 1997). A
Figura 2 representa caso de análise por axissimetria. Os elementos utilizados foram o triangular, com 15 nós
(maior precisão no modelo) e as análises foram baseadas no modelo elasto-plástico de Mohr-Coulomb.

Figura 2. Exemplo de análise por axissimetria. Fonte: Adaptado de Medeiros (1997)

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A modelagem no Plaxis exige também que seja definida uma condição de contorno ao problema
analisado. Optou-se pela condição padrão do programa, na qual são impostos graus de liberdade às interfaces
do limite de solo criado. Esta opção restringe o descolamento em ambas as direções no limite inferior da massa
de solo, e condições de livre deslocamento na direção vertical nas paredes laterais da massa de solo. Por fim,
computou-se as condições iniciais do problema, que diz respeito às tensões médias inicias na massa de solo,
etapa na qual podem ser fornecidas as informações de nível d’água e pressão neutras, caso existam.

3 Metodologia

Buscou-se modelar arranjos de fundações já estudados e publicados na literatura. Para tanto, utilizou-se
o trabalho de doutorado de Maurício Sales, entitulado “Análise do comportamento de sapatas estaqueadas”
(SALES, 2000). Os estudos apresentados por este autor reportam uma série de provas de carga realizadas no
campo experimental da Universidade de Brasília (UnB), em que são apresentados os resultados obtidos.
O estudo conta com uma análise aprofundada sobre o comportamento de sapatas assentes sobre estaca,
já em contato desde o início do carregamento, o que configura uma estaca-T. Foram realizados 9 testes de
carga sob diferentes condições de umidade do solo e também sob diferentes arranjos de fundações. Dentre
estes, 3 são os de maior relevância para o presente estudo, a saber:
 Uma sapata de base quadrada de dimensões 1m x 1m, assente a 80 centímetros de profundidade;
 Uma estaca em concreto, escavada com trado manual, com 5m de profundidade e 15cm de diâmetro;
 Uma sapata de base quadrada de dimensões 1m x 1m, assente a 80 centímetros de profundidade, sobre
uma estaca de 5m de profundidade e 15cm de diâmetro.
Sales (2000) apresenta uma série de resultados de expedições já feitas no solo da região de Brasília-DF,
além de um estudo mais detalhado sobre o solo do campo experimental da UnB. A Tabela 1 apresenta
parâmetros da argila porosa de Brasília, local de realização das referidas provas de carga.

Tabela 1. Parâmetros geotécnicos da argila porosa de Brasília. Fonte: Palocci (1998) apud Sales (2000)

Sales (2000) utilizou células de carga para obter a parcela de carga absorvida por cada um dos elementos
da fundação, sapata e estaca, em cada um dos casos, apresentando as curvas de carregamento e recalque para
cada uma das situações ensaiados. A estaca recebeu duas células de carga, uma na ponta e uma no topo, e uma
outra célula de carga foi posicionada sobre todo o arranjo, de forma a indicar a carga total sobre a fundação.
Neste trabalho foram realizadas modelagens numéricas que pocuraram simular o comportamento de
uma sapata isolada, uma estaca isolada e uma estaca-T, cujos resultados foram analisados e, posteriormente,
correlacionados com aqueles obtidos por meio de provas de carga de campo, como exposto, motivo pelo qual,
nas modelagens realizadas foram adotadas condições e parâmetros publicados por Sales (2000). Ressalta-se
que o presente trabalho não tem a expectativa de obter os resultados encontrados nas referidas provas de carga,
mas sim, os comportamentos esperados, além de realizar análises dos resultados destas diferentes
configurações de fundações, por modelos numéricos, e aí, observar o quanto são correlacionados com os
resultados obtidos em campo, frente as considerações feitas nas modelagens numéricas.

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3.1 Modelagem da Sapata Isolada

Na modelagem numérica buscou-se se aproximar das condições observadas nas provas de carga, sendo
imposto o carregamento de 140kN, carga máxima aplicada durante o ensaio. Para a modelagem de uma
fundação quadrada em um modelo numérico de duas dimensões, foi adotado o recurso de se modelar uma
fundação circular com área equivalente. Logo, para uma sapata quadrada de 1m² de área, foi modelada uma
circular com raio igual a 56,42 centímetros.
Para a representação da interface de concreto, foi utilizada a função “Plate”, que por meio de uma linha,
representa o limite de um elemento de concreto. Os parâmetros do solo e do concreto da sapata estão descritos
na Tabela 2 . A coesão, apesar de nula até a cota de aproximadamente cinco metros, conforme publicado por
Perez (1997) apud Sales (2000), foi adotada com o valor igual a 1 kN/m², por recomendação do programa,
assim como o valor do coeficiente de empuxo em repouso, K0. Os valores para a rigidez normal e a rigidez à
flexão do concreto foram adotados de acordo com valores sugeridos por Sales (2000), após estudo do elemento.
O valor da espessura equivalente é calculado automaticamente pelo programa, e é consequência dos valores
inseridos para a rigidez normal e a rigidez à flexão do elemento de concreto.

Tabela 2. Parâmetros do solo utilizados na modelagem e do concreto utilizados na sapata isolada


Parâmetro do Solo Valor Unidade
Modelo de material Mohr-Coulomb -
Condição Drenada -
Peso específico Natural 15,5 kN/m³
Peso específico saturado 20,5 kN/m³
Permeabilidade Horizontal e Vertical 1 m/dia
Modulo de Young – E 6000 kN/m²
Coeficiente de Poisson 0,35 -
Coesão 1 kN/m²
Ângulo de atrito 28 °
Ângulo de dilatação 0 °
Coef. de Empuxo em Repouso (K0) 0,531 -
Parâmetro do Concreto da Sapata Valor Unidade
Modelo do material Plástico -
Rigidez normal (EA) 5x106 kN/m
Rigidez à flexão (EI) 5057 kNm²/m
Espessura Equivalente Calculado automaticamente m
Peso 0,0 (padrão) kN/m/m

3.2 Modelagem da Estaca Isolada

A modelagem da estaca foi feita com recurso diferente do utilizado para a da sapata. Esta foi feita
delimitando-se um novo tipo de material, de volume adjacente à massa de solo, o qual é atribuído as
características físicas do concreto. É indicado no programa a interface de contato entre os dois materiais,
utilizando-se a ferramenta “interface”, aplicando-a à linha que separa os dois materiais. As condições de
contorno foram semelhantes às empregadas no caso da sapata. A modelagem foi feita com um carregamento
de 80kN, pouco maior que a carga máxima aplicada em campo, que foi de 75kN.
Os parâmetros utilizados para o solo foram os mesmos utilizados na modelagem da sapata (Tabela 2).
A Tabela 3 indica os parâmetros utilizados para o volume de concreto que representa a estaca. O contato solo-
estrutura é controlado pelo parâmetro Rinter. O parâmetro é consequência do coeficiente de atrito da estrutura e
do ângulo de atrito do solo, sendo adotado o valor de 0,7; valor utilizado em referências bibliográficas, para
problemas similares (SOUZA, 2016).

Tabela 3. 1Parâmetros do concreto utilizados na modelagem da estaca


Parâmetro do concreto da estaca Valor Unidade
Modelo de material Linear-Elástico -
Condição Drenada
Peso específico natural 25,0 kN/m³
Peso específico saturado 25,0 kN/m³
Permeabilidade Horizontal e Vertical 0 m/dia
Modulo de Young – E 15000 kN/m²
Coeficiente de Poisson 0,20 -
Interface – Rinter 0,70 -
Coef. de Empuxo em Repouso (K0) 1,0 -

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3.3 Modelagem da Estaca-T

Nesta modelagem foi garantido o contato entre sapata, solo e estaca, importante na análise para uma
estaca-T, sendo considerada uma carga de 160kN, pouco acima da carga máxima aplicada no ensaio realizado
por Sales (2000), que foi de 150kN, e não atingiu a ruptura do solo. A modelagem da estaca-T foi feita
utilizando-se os mesmos parâmetros apresentados para o solo, concreto da sapata e da estaca.

4 Resultados e Análises

O programa Plaxis 2D apresenta uma série de recursos para analisar os resultados das modelagens
realizadas. Dentre as funcionalidades disponíveis para apresentação de resultados, foram obtidas a deformação
da malha utilizada na análise, e por mapas de calor, os deslocamentos totais (em kN/m2), as tensões médias
efetivas no solo (em kN/m2) e as tensões cisalhantes relativas (referida à unidade).

4.1 Sapata Isolada

A Figura 3 apresenta as tensões médias efetivas (igual as totais, no caso) e os deslocamentos totais, na
massa de solo sob a sapata isolada. O mapa de calor indica a distribuição de tensão típica que ocorre no solo
com a aplicação de carga por meio de uma sapata, comumente representado por um bulbo de tensões na
literatura. Como os deslocamentos são consequência direta das tensões, tem-se nesse caso um arranjo de
deslocamentos muito semelhante ao mapa de calor de tensões. Observa-se, como exemplo, que a profundidade
máxima registrada pelos deslocamentos está indicada na cota 1,50m. Logo, o ponto identificado na modelagem
está a uma distância de 2,20m abaixo da base da sapata; cerca de 2,2 vezes o diâmetro da mesma.

Figura 3.1 Representação do mapa da distribuição das tensões médias efetivas no solo e dos deslocamentos
totais, após aplicação do carregamento na sapata isolada.

4.2 Estaca Isolada

A Figura 4 apresenta o mapa de calor das tensões totais médias na massa de solo, dos deslocamentos
totais e das tensões cisalhantes relativas, sob a estaca isolada analisada. Interessante observar, o
desenvolvimento das tensões cisalhantes nas proximidades da estaca. Ressalta-se a influência nestas tensões
na região da ponta da estaca, em uma área maior que aquela ao longo do fuste, ainda que com baixo valor.

4.3 Estaca-T

A análise do comportamento para a configuração da estaca-T, ilustrado na Figura 5, indica,


aparentemente, tratar-se de uma superposição dos comportamentos da sapata isolada e da estaca isolada.
Entretanto, algumas diferenças podem ser destacadas, tendo sido observado, inicialmente, que na deformação
da deformação os nós deslocados se concentram ao redor da estaca, indicando que a perturbação do solo ao
redor da estaca atingiu um raio horizontal menor se comparado com a sapata isolada.

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Figura 4. Representação do mapa da distribuição das tensões médias efetivas no solo, dos deslocamentos
totais e das tensões cisalhantes relativas, após aplicação do carregamento na estaca isolada.

Para a estaca-T (Figura 5), no que se refere aos deslocamentos totais analisados, o mapa de calor
reproduzido pelo Plaxis indica que o solo sob a base da sapata, assim como nas primeiras profundidades abaixo
dela, sofreu deslocamentos juntamente com a estaca. Quanto às distribuição de tensões, a Figura 5 indica que
a presença da estaca sob a sapata não impede a criação de um bulbo de tensões no solo, ao redor do topo da
estaca. Entretanto, esse bulbo de tensões apresenta-se de forma diferente do obtido para a sapata isolada. A
distribuição de tensões indica que os maiores níveis de tensão foram atingidos na ponta da estaca, com valores
de aproximadamente 300kN/m². Na referida figura, pode-se ainda observar na representação da distribuição
das tensões de cisalhamento relativa que a parcela de tensão de cisalhamento atuante na interface solo e estaca
está associada àquela ocasionada pela presença da sapata.

Figura 5. 2Representação do mapa da distribuição das tensões médias efetivas no solo, dos deslocamentos
totais e das tensões cisalhantes relativas, após aplicação do carregamento na estaca-T.

Para a análise do comportamento das estruturas, com a aplicação dos carregamentos, foram plotadas
curva carregamento x recalque (Figura 6), sendo obtido a partir da medição de valores no topo central da
estaca. Ressalta-se os valores de recalque obtidos para as cargas máximas utilizadas por Sales (2000), foram
para a sapata isolada 30,44 mm, para a estaca isolada 24,35 mm e para a estaca-T 12,93 mm.
A Figura 6 apresenta uma análise de desempenho da estaca-T, a partir da comparação de comportamento
na modelagem computacional, das três situações pesquisadas. Observa-se que o recalque da estaca-T, para a
carga próxima da ruptura da estaca isolada, foi cerca de 30% do recalque da sapata isolada. Ainda sobre os

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resultados obtidos na modelagem, é possível observar que o recalque na estaca-T passa a crescer a uma taxa
maior a partir do ponto A, na Figura 6. Isso pode sugerir que a fundação sofre alterações de comportamento
nesse momento, no nível de carregamento próximo ao carregamento que correspondeu à ruptura da estaca,
quando ensaiada isoladamente.

Figura 6. Curvas carga x recalque: desempenho de sapata isolada, estaca isolada e estaca-T.

4.4 Provas de Carga e Modelo Numérico

Sales (2000) ao executar as provas de cargas nos três tipos de fundação, sapata isolada, estaca isolada e
sapata apoiada sobre estaca, registrou os deslocamentos obtidos em cada uma das etapas de carregamento. A
Figura 7 inicialmente apresenta a curva carga x recalque obtida para a sapata isolada (promoveu o
descarregamento para verificar a recuperação elástica do solo), realizadas medições de deslocamento no centro
e no canto da placa de concreto, sendo analisada neste trabalho apenas o recalque sob o eixo da sapata. A
figura também apresenta a curva carga x recalque obtida ao carregar a estaca isolada, medidos os deslocamento
em duas extremidades opostas da estaca, sendo representa o recalque médio dos pontos analisados. Por fim,
na mesma Figura 7, são apresentados os resultados do ensaio na sapata-T.

Figura 7.3 Curvas carga x recalque obtidas em prova de carga realizada em sapata isolada, em estaca isolada
e em estaca-T, respectivamente. Fonte: Sales (2000)

A Figura 8 apresenta a comparação entre os resultados obtidos numericamente neste trabalho e os


resultados obtidos experimentalmente por Sales (2000), para as três situações analisadas.
Observa-se para a sapata isolada que o recalque máximo obtido em campo foi de 28,55 mm enquanto
que, no modelo computacional, 30,44 mm, sendo observado uma boa aproximação entre as duas curvas.
Quanto aos resultados para a estaca isolada, observa-se uma proximidade até o carregamento de cerca de 55
kN sobre a fundação. A maior divergência ocorreu aos 75 kN, carga apontada por Sales (2000) como sendo a
carga que levou o solo ao colapso. Para a estaca-T, as duas curvas indicam dados condizentes até o
carregamento aproximado de 100kN. A partir daí, o recalque apresentado pelos dois modelos cresceu a uma
taxa aproximadamente constante, cada um, até o ponto final da análise.
Algumas considerações podem ser feitas para o caso do distanciamento das curvas para a estaca-T.
Sabendo-se que a prova de carga nesta condição foi realizada sobre uma estaca já ensaiada isoladamente, isto
pode ter, de certa forma, contribuído para o distanciamento das curvas da modelagem e da prova de carga,
como observado por Sales (2000), a partir de outra prova de carga realizada sobre uma estaca durante um
primeiro carregamento e posteriormente, em recarregamento. Observou que que o comportamento da estaca
pouco mudou entre os dois experimentos para menores níveis de carga, entretanto, para maiores carga
observou-se uma redução da carga última, com aumento do recalque.

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Figura 8. Comparação de resultados da modelagem numérica com os obtidos em provas de carga no campo,
realizadas por Sales (2000), para a sapata isolada, estaca isolada e estaca-T, respectivamente.

5. Conclusões

Analisando as curvas de recalque obtidas na modelagem com as obtidos por Sales (2000), em provas de
carga, pode-se observar que são coerentes, até certo nível de tensão, exceto a sapata isolada, que foi próxima
em todos os níveis de tensão. Nas comparações com a presença da estaca, observa-se diferença maior de valor,
a partir de determinado nível de tensão: para a estaca isolada a partir de cerca de 55kN (valor menor de recalque
na prova de carga), para a estaca-T a partir de cerca de 100kN (valor maior de recalque na prova de carga).
Os recalques com as cargas finais utilizadas por Sales (2000), foram para a sapata 30,44mm, para
28,55mm da prova de carga; para a estaca isolada 24,35mm, para 5,92mm na prova de carga, sendo que neste
caso a ruptura ocorreu neste nível de carga, e para a estaca-T 12,93mm, para 23,90mm na prova de carga. As
maiores diferenças de comportamento que envolvem a presença da estaca, podem estar associadas ao
significativo número de parâmetros necessários na modelagem e adoção de valores aproximados. Como
exemplo disto, cita-se o solo que apresenta variações significativas do módulo de Young, e é um parâmetro de
grande influência nos resultados, e foi representando por um único valor ao longo de todo o fuste da estaca.
Observando os resultados gerados por mapas de calor, é possível concluir que a distribuição de tensões
e deformações foi muito próxima do esperado, de acordo com a literatura. O bulbo de tensões foi visualizado
claramente sob a sapata isolada e também sob a ponta da estaca, seja quando isolada ou arranjo de estaca-T. O
estudo permitiu concluir que a transmissão do carregamento na estaca-T tem início mais acentuada na estaca,
sendo ela responsável por receber e transmitir ao solo a maior parte da carga nas etapas iniciais de
carregamento. Verificou-se acréscimo de tensões na região do solo sob a sapata apenas quando se atingiu a
carga prevista para a ruptura da estaca, ou próxima a ela.
Por fim, quanto à redução de recalque, motivo pelo qual a estaca-T normalmente é utilizada, observou-
uma redução significativa destes. A estaca-T apresentou uma redução de 64% do recalque apresentado pela
sapata isolada, para a carga de 140kN, e em todo o ciclo de carregamento, o recalque foi notavelmente menor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DÉCOURT, L. Análise e Projeto de Fundações Profundas. In: HACHICH, W. et al (Ed.). Fundações: Teoria
e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 8.
MEDEIROS, R. J. H., Sobre a análise de problemas Bidimensionais de Engenharias de Estruturas em Regime
de Não-linearidade Material e Geométrica pelo método dos Elementos Finitos. Dissertação de Mestrado.
Belo Horizonte: Escola de Engenharia – Universidade Federal de Minas Gerais, 1997, 207p.
SALES, M. M. Análise do comportamento de sapatas estaqueadas. Tese de doutorado, Publicação: G.TD –
002A/00. Faculdade de Tecnologia. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Universidade de
Brasília. Brasília. 2000, 229p.
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Taludes. Tese de mestrado. Porto: Faculdade de Engenharia – Universidade do Porto, 2011, 173p.
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Curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016.
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