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A INFLUÊNCIA DO TEMPO DE MISTURA E DO TEOR DE


ÁGUA NA PROJETABILIDADE DAS ARGAMASSAS
INDUSTRIALIZADAS

Conference Paper · June 2003

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São Paulo 11 a 13 junho 2003

A INFLUÊNCIA DO TEMPO DE MISTURA E DO TEOR


DE ÁGUA NA PROJETABILIDADE DAS ARGAMASSAS
INDUSTRIALIZADAS
SANTOS, Carla C.N.(1); BAUER, Elton (2)
(1) Engª Civil. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção
Civil da Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Prédio SG-12,
Brasília-DF, C.E.P. 70910-900. E-mail: ccnascimentos@bol.com.br
(2) Profº DsC do Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil da Uni-
versidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Prédio SG-12, C.E.P. 70910-
900, Brasília-DF. E-mail: elbauer@zaz.com.br

Palavras-chave: Bombeabilidade, Argamassa, Reologia, Revestimento, Projeção


Keywords: Pumpability, Mortar, Rheology, Covering, Sprayed Mortars.

RESUMO
O presente trabalho aborda o estudo do processo de projeção das argamassas, enfatizando
principalmente os critérios relacionados às características reológicas das mesmas que
lhes permitam ser bombeáveis. Para tanto, foram utilizadas argamassas industrializadas
de três marcas diferentes, com o objetivo de identificar a influência do teor de água e do
tempo de mistura na consistência e por extensão na bombeabilidade das argamassas. A
consistência das misturas foi mensurada através da determinação da tensão de escoamento
pelo método Vane Test. O teor de ar incorporado das misturas foi identificado pelo
método pressométrico, e como resultado auxiliar para identificação da fluidez das
misturas frescas, foram mensuradas as vazões de projeção de cada composição executada.
Os resultados mostraram que principalmente a quantidade de água adicionada à mistura
define a capacidade de bombeamento das argamassas, enquanto que o tempo de mistura
é importante, pois dele depende o teor de ar incorporado pelas argamassas. O teor de
ar incorporado além de provocar um decréscimo de consistência, auxilia no incremento
da plasticidade, característica esta imprescindível em se tratando da adesão inicial da
argamassa após a sua projeção.

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ABSTRACT
This paper relates to the study of mortar’s spray process. It emphasizes, mainly, the
criteria connected to the rheological properties of mortars that allow them to be
pumpable. For that, three different marks of industrialized mortars were used, with
the purpose of identifying the influence of water contend and mixture time at
consistency and, by extension, at mortars pumpability. The mixtures consistency was
measured by the yield stress determination using the Vane method. The contend of
incorporate air of the mixtures was identified by the pressurometer method, and as
result auxiliary for identification the fresh mixtures fluidity, the spray flow of every
executed composition was measured.
The results showed that, mainly the quantity of water added to the mixture defines the
mortars pump capacity, while the mixture time is also important, because of its influence
on the amount of air incorporated by mortars. The incorporate air contend besides
causes a consistency decrease, also helps to increase the plasticity, an indispensable
characteristic when relating to the initial adhesion of mortar after spraying.

1. INTRODUÇÃO
Com o intuito de racionalizar, otimizar e organizar os canteiros de obra, ocorreram,
ao longo dos anos, melhorias tecnológicas constantes dos processos construtivos em
geral (CRESCÊNCIO et al, 2000). Prova disso, é o sistema de revestimento executado
através de projeção, que além de proporcionar maior racionalização e produtividade
do processo, se bem executado, propicia um revestimento de alta qualidade de
acabamento, e melhor uniformidade de características.
Enfocando-se as propriedades das argamassas, a bombeabilidade diz respeito
principalmente às características reológicas e de consistência das argamassas AUSTIN
et al (1999). A bombeabilidade é definida quando a argamassa sai do equipamento
misturador até antes de passar pelo bico de projeção. . A propriedade de
bombeabilidade do concreto parece ser governada pela viscosidade plástica
(FERRARIS & DE LARRARD, 1998), portanto, por analogia, neste trabalho parte-
se do pressuposto que as argamassas projetáveis devem apresentar comportamento
semelhante ao do concreto.
CRESCÊNCIO et al (2000) afirmam que a consistência das argamassas projetáveis
deve ser tal que permita a passagem da argamassa pela bomba e pelo mangote e
também proporcione boa aderência com o substrato. A consistência é a propriedade
pela qual a argamassa tende a resistir às deformações que lhes são impostas (RILEM

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apud RAGO, 1999), enquanto que a viscosidade é a velocidade de deformação de um
corpo. No presente trabalho, a consistência foi determinada através do ensaio da
palheta (ou vane-test), que na realidade fornece uma característica reológica da
argamassa que é a tensão de escoamento. A tensão de escoamento é a tensão cujo
valor deve ser suplantado para que ocorra o fluxo do fluido, de acordo com o modelo
de Bigham. A correlação entre a tensão de escoamento e a viscosidade pode ser
expressa pela equação bighamiana, descrita a seguir:
t =t0 + hg (1)
Onde t é a tensão de cisalhamento ao que o fluido está submetido, t0 é conhecida como
tensão limite de escoamento, h é a viscosidade plástica e g é denominada a taxa de
velocidade ou cisalhamento.
LOADWICK citado por AUSTIN et al (1999) estabeleceu que o concreto flui na
forma de um sólido “plug”1.1 separado da mangueira de uma camada lubrificante
constituída de cimento, água e partículas finas de areia. Este “plug” consiste de
agregado graúdo, areia (sem as partículas mais finas) e as partículas de cimento,
todos separados por uma camada contínua de água que é hidraulicamente ligada à
água da camada lubrificante. Portanto, fazendo-se analogia com o concreto
bombeável, se a argamassa possui uma carência de água, a obstrução na mangueira/
e ou rotor da máquina se dá pelo aumento da tensão friccional na parede da
mangueira (por falta de camada lubrificante), aliado ao incremento do efeito de
dilatância1.2 do agregado miúdo, impossibilitando assim o seu bombeamento.
Além de ser bombeável, a argamassa deve ter consistência tal que, após a projeção, a
adesão inicial não seja comprometida. Neste trabalho, buscou-se definir qual a
influência do teor de água e do tempo de mistura na situação limítrofe de consistência,
que permitisse o perfeito bombeamento da argamassa, mas sem comprometimento da
adesão inicial ao substrato após a projeção.

2. OBJETIVO
O objetivo geral do presente trabalho é o de contribuir de maneira significativa para a
melhoria do processo de projeção das argamassas, enfatizando principalmente o estudo
de parâmetros e critérios relacionados às características reológicas das argamassas
que lhes permitam ser bombeáveis, mais especificamente, a influência do teor de
água e do tempo de mistura na capacidade de bombeamento das mesmas.

1.1 O material possui camada “plug” quando esta se movimenta em conduto forçado através de uma camada
lubrificante, sendo que a velocidade na região periférica das paredes da tubulação é igual a zero.
1.2 A dilatância é definida quando há um incremento da viscosidade com o aumento da taxa de deformação (ou cisalhamento).

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3. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS ARGAMASSAS INDUSTRIALIZADAS
Para caracterização das argamassas no estado anidro, foram realizados os ensaios de
composição granulométrica adaptado da NBR 7217/87 e determinação da massa
unitária, numa adaptação da NBR 7251/82. As curvas granulométricas das três
argamassas industrializadas ensaiadas estão representadas na figura 1 a seguir:

Na tabela 1 estão apresentados os resultados de Módulo de Finura, Diâmetro Máximo


e Massa Unitária das argamassas utilizadas neste estudo.

4. METODOLOGIA
Inicialmente, procedeu-se à aquisição de parâmetros em canteiros de obra com o intuito
de reproduzi-los em laboratório e a partir destes parâmetros foram definidas as
composições mais adequadas ao objeto deste trabalho. Portanto, monitorou-se a projeção
das argamassas em situação de obra, através da realização dos ensaios no estado fresco
de determinação da tensão de escoamento através do vane tester e teor de ar incorporado
pelo método pressométrico. Além disso, foram quantificados aproximadamente o teor
de água e o tempo de mistura utilizados durante o monitoramento.

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A projeção foi executada no Laboratório de Ensaio de Materiais da UnB através do
equipamento Bomba de Argamassa com Misturador Integrado, modelo B-25/M-80
da BETOMAQ INDUSTRIAL LTDA e realizada em painéis de blocos de concreto
sem chapiscamento. A espessura do revestimento adotada foi de 2.0 cm.
O programa experimental foi divido em duas etapas, sendo que na primeira procurou-se
definir quais variáveis consideradas neste estudo influenciavam nas características de
consistência, com o intuito de encontrar as faixas limites de tensão de escoamento (através
do vane tester) nos quais as argamassas possuem consistência tal que obstruem na
mangueira e/ou rotor, e no outro extremo, as argamassas que são perfeitamente
bombeáveis, mas a consistência é tal que não lhes permite a adesão inicial ao substrato
utilizado neste experimento. Já na segunda etapa, buscou-se avaliar qual a influência
das variáveis de estudo na projetabilidade adequada, ou seja, levando-se em consideração
a vazão de projeção, a consistência e a adesão inicial das argamassas ao substrato.
Foram selecionadas três argamassas industrializadas de três fabricantes diferentes,
sendo que duas delas são fabricadas para serem usadas propriamente em projeção,
enquanto que a terceira é de múltiplo uso comum.
As composições serão representadas da seguinte maneira: teor de água (%)-tempo de
mistura em minutos – para 1 saco de argamassa industrializada contendo 50 kg.

4.1. Definição dos Teores de Água e dos Tempos de Mistura


Esta pesquisa tem caráter exploratório já que os parâmetros adquiridos em obra
serviram como ponto de partida para o início dos trabalhos, principalmente na definição
dos tempos de mistura e dos teores de água adotados. Os tempos de mistura foram
definidos baseados no monitoramento realizado em canteiros de obra e também de
acordo com estudo piloto realizado em laboratório em 1.5 e 2.0 minutos de mistura.
Os teores de água variaram de acordo com os diferenciados comportamentos das três
argamassas industrializadas. Portanto, foi sendo adicionada um maior ou menor teor
de água de acordo com a finalidade pretendida com aquela consistência.
Por exemplo, se o objetivo era provocar a obstrução da mistura fresca no mangote e/
ou rotor, adicionava-se um menor teor de água e escolhia-se também o menor tempo
de mistura dos adotados. Se o objetivo era alcançar o limite de consistência exatamente
oposto, ou seja, realizar o bombeamento e a projeção da argamassa, mas com
características tais que comprometessem a adequada adesão inicial ao substrato, então
adicionava-se mais água. A depender do comportamento da argamassa, e quando
julgado necessário, aumentava-se ou diminuía-se o teor de água e/ou o tempo de
mistura (de 1.5 para 2.0 minutos e vice-versa).

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Quando o objetivo foi o de determinar quais das composições obteve uma projeção mais
adequada, ou seja, durante a segunda etapa, partia-se de um teor de água que originasse
uma mistura perfeitamente bombeável e também com adequada adesão inicial ao substrato,
e a variação na quantidade de água e no tempo de mistura era procedida também de
acordo com o comportamento da argamassa. Cabe salientar que, nesta fase, todos as
misturas foram perfeitamente bombeáveis e não apresentaram falhas de adesão inicial.

4.2. Ensaios Realizados


Os ensaios realizados no estado fresco em laboratório foram a determinação da
consistência através do vane-test de acordo com metodologia apresentada por Alves
(2002) e determinação do teor de ar incorporado pelas misturas pelo método
pressométrico, de acordo com a NM 47:95/96.
O vane test fornece a tensão de escoamento da argamassa e quanto maior a leitura
registrada no aparelho, maior a consistência da mistura. Os resultados serão expressos
como uma média de duas determinações.

5. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 Resultados Adquiridos em Obra


Na tabela 2 estão representadas as médias dos resultados dos ensaios realizados em
canteiros de obra. Não foi observada obstrução na mangueira e/ou bomba das
argamassas no período de monitoramento em campo, sendo que a adesão inicial foi
comprometida em alguns pontos no revestimento projetado, considerando-se que o
substrato constituiu-se de blocos de concreto sem chapisco. Cabe salientar que a
espessura do revestimento projetado variou entre 2.0 a 5.0 centímetros.

A adesão inicial apresentou falhas em alguns pontos do revestimento, devido


provavelmente ao excesso de água adicionado, aliado ao pouco tempo de mistura
realizado na maioria das vezes, tornando a tensão de escoamento da mistura muito
baixa, possibilitando assim um prejuízo nesta característica.

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5.2. Resultados das Argamassas Executadas em Laboratório - Primeira Etapa

5.2.1. Influência do Teor de Ar Incorporado nas Características no Estado


Fresco das Argamassas
Nesta primeira apresentação dos resultados, estão representados as séries com os
mesmos tempos de mistura iguais a 1.5 minutos, com o intuito de avaliar somente a
influência do teor de água adotado para cada mistura, sem avaliar a participação da
quantidade de ar incorporado na consistência das argamassas executadas. Pela figura
4 percebe-se que houve um decréscimo de tensão de escoamento com o aumento do
teor de água, portanto ocorrendo um decréscimo de consistência com a adição de
água. Além do mais, levando-se em consideração os valores de tensão de escoamento
com mesma ordem de grandeza e comparando-se as três argamassas utilizadas,
constata-se que os teores de água foram bem distintos. Isso se deve provavelmente às
diferenças de características granulométricas e forma dos grãos dos agregados
constituintes das diferentes argamassas ensaiadas e da formulação das mesmas.

Ainda conforme a figura 2 se considerados os gráficos das argamassas B e C, nota-se


que há uma tendência de estabilização na tensão de escoamento a partir do teor de
água 18% e 22% para as argamassas B e C, respectivamente.
Observa-se que existe um teor de umidade acima do qual a tensão de escoamento se
mantém praticamente constante (considerando-se as argamassas B e C). Pelo
constatado, este teor foi igual a 18,0% na argamassa B e 22,0% para a argamassa C.
Uma possível explicação para tal fato é que, considerando-se o modelo reológico bighamiano,
no caso das misturas com consistências elevadas, a adição de água realmente está modificando
a consistência, já que houve uma grande variação na tensão de escoamento nestes casos. Já
nas argamassas com baixas consistências, percebe-se que o incremento de água ocasionou
variações muito pequenas na tensão de escoamento, o que leva a supor que, para estes casos,
o acréscimo de água está provocando a diminuição da viscosidade das misturas.

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5.2.2. Influência do Teor de Ar Incorporado nas Características no Estado
Fresco das Argamassas
Nas figuras 3 a 5, estão representados os traços que foram executados com os
tempos de 1.5 minutos como também 2.0 minutos de mistura, com o objetivo
principal de avaliar a influência do tempo de mistura na consistência das
argamassas. A comparação e análise serão feitas considerando-se os traços com
mesmo teor de água, ou seja, para cada teor de água existem dois traços distintos,
cada um com um tempo de mistura diferente.
Analisando-se as figuras 3 a 5, percebe-se que com um maior tempo de mistura,
ocorreu um aumento no teor de ar incorporado, influindo diretamente na tensão
de escoamento, havendo na maioria dos traços, um decréscimo da mesma com o
aumento deste tempo, ou seja, as argamassas se tornaram menos consistentes
devido à presença de maior quantidade de ar incorporado nas misturas.
Comparando-se os resultados das três argamassas, percebe-se que as argamassas
B e C têm capacidade de incorporar muito mais ar do que a argamassa A. Uma
possível explicação para tal fato é que provavelmente o aditivo incorporador de
ar contido na argamassa A é menos eficaz que os aditivos das demais. Tomando-
se, por exemplo, os resultados com teores de água da ordem de 13.0%, as misturas
da argamassa A incorporaram uma média de 5,5% de ar, enquanto que os traços
realizados com a argamassa B, obtiveram um resultado médio de 18.5%,
configurando, portanto, um aumento de 29,7%.

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Nota-se ainda que, no geral, considerando-se as composições de uma mesma marca
de argamassa, quanto maior a quantidade de água adicionada, menor o teor de ar
incorporado pelas mesmas (com exceção da argamassa de marca A).

5.3. Segunda Etapa


A tabela 4.2 apresenta os resultados de todas as misturas executadas,
classificando-as como perfeitamente bombeáveis, não bombeáveis e projetáveis,
mas com falhas de adesão inicial. Além dos resultados de tensão de escoamento
e teor de ar incorporado, estão também representadas as vazões de projeção dos
traços que foram bombeáveis.

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Quando as argamassas não foram bombeáveis, casos dos traços A13.0-1.5RM, A13.4-
1.5RM, A13.4-2.0RM, B13.6-1.5RM, B13.6-2.0RM, B14,0-2,0RM, B14.4-1.5RM,
B14.6-2.0RM e C16.0-2.0RM, ou seja, onde se configurou a obstrução no mangote
e/ou bomba, apesar do elevado teor de ar incorporado (excetuando-se a argamassa
A), as mesmas apresentaram altas consistências, portanto, possivelmente para estes
casos, o teor de água influenciou decisivamente na deficiência de bombeabilidade
das misturas em detrimento da quantidade de ar incorporado. Isso se deve
provavelmente à carência de água, que por sua vez é considerada por LOADWICK
citado por AUSTIN et al (1999) como a camada lubrificante da mistura, e quando em
pequenos teores, provoca o aumento da tensão friccional entre a argamassa e a
mangueira, impossibilitando assim a passagem da mesma pela mangueira de projeção.

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Outra característica da mistura com carência de água, é que a mesma sofre um provável
incremento do efeito de dilatância do agregado miúdo, efeito esse que deve contribuir
decisivamente para a obstrução da argamassa.
Analisando-se as argamassas bombeáveis e por extensão projetáveis, percebe-se
que no geral quanto menor o resultado de tensão de escoamento, maiores as vazões
registradas. Nas misturas com maiores teores de água, como já descrito
anteriormente, percebe-se que há uma certa estabilização da tensão de escoamento
a partir de certos teores (considerando-se as argamassas B e C), mesmo com a
maior adição de água. Nota-se, no entanto, que houve um incremento de vazão,
principalmente para as composições B19.0-2.0RM e B20.0-2.0 RM que
apresentaram mesmas tensões de escoamento, ou seja, mesmas consistências e
maior vazão de projeção pela segunda composição. Portanto, corroborando ao já
afirmado anteriormente, provavelmente a adição de água altera a consistência até
um certo limite, e a água adicionada em excesso começa a modificar a viscosidade
das argamassas, tornando-as assim mais fluidas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As argamassas próprias para projeção devem apresentar maior fluidez se comparadas
às argamassas usadas no processo convencional de revestimento, pois dessa
característica depende o bom funcionamento do equipamento, leia-se pressão de
bombeamento adequada, vazão de projeção a contento, rendimento, etc.
No entanto, com base nos resultados acima expostos, conclui-se que:
· A propriedade que determina a bombeabilidade das argamassas é a consistência da
mesma e ele está diretamente relacionada ao teor de água e ao tempo de mistura das
argamassas industrializadas;
· O teor de água exerce grande influência na bombeabilidade, pois, se adicionado em
demasia, provoca argamassas que podem apresentar problemas de adesão inicial,
pelo excesso de fluidez como também pela carência de plasticidade ocasionada
também pelo baixo teor de ar incorporado das misturas assim executadas. Por
outro lado, a carência de água contribui para a obtenção de argamassas tão
consistentes que se tornam não projetáveis, apesar do grande teor de ar incorporado
apresentado por estas misturas, além de proporcionar um acréscimo do efeito de
dilatância devido ao aumento do atrito interno entre as partículas sólidas do agregado,
possibilitando também uma diminuição na camada lubrificante que governa o
movimento da mistura no mangote do equipamento;

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· O tempo de mistura é importante porque, além de propiciar um decréscimo de
consistência, pode favorecer o incremento de plasticidade, propriedade esta que
será importante nos momentos pós projeção;
· É importante salientar que deve-se aliar os efeitos de adicionar uma quantidade de
água adequada e um tempo de mistura tal que possibilite às argamassas consistência
e plasticidade que proporcione bombeabilidade e adequada adesão inicial ao
substrato;
· Finalmente conclui-se que é possível relacionar parâmetros reológicos/consistência
com a projetabilidade e/ou bombeabilidade das argamassas, desde que sejam levadas
em consideração outras características relacionadas à formulação das mesmas.

7. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Laboratório de Ensaios de Materiais da Universidade de
Brasília pelo custeio dos ensaios, às empresas PROJEMIX e BETOMAQ
INDUSTRIAL LTDA, pelo fornecimento dos equipamentos de projeção utilizados e
pela disponibilidade e colaboração indispensáveis à realização deste trabalho, à CAPES
pela concessão de bolsas de pesquisa e ao GEMAT – Grupo de Estudos Avançados
em Materiais de Construção Civil da Universidade de Brasília – UnB, pelas valiosas
discussões acerca do tema em questão.

8. PRINCIPAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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