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RESUMO
Geossintéticos atuando como reforço de bases e sub-bases de pavimentos tem sido uma prática bem aceita devido às
vantagens oferecidas por estes produtos, por possibilitarem a redução da espessura das camadas do pavimento ou
aumento da vida útil do mesmo. A maioria dos estudos encontrados na literatura abrange pesquisas laboratoriais, sendo
poucos os estudos que simulem as condições reais de campo e avaliem a condição estrutural do pavimento ao longo da
sua vida útil. O pavimento é uma estrutura bastante complexa no que diz respeito à previsão de seu desempenho futuro,
por ser este dependente da interação de uma série de fatores, tais como: tráfego, clima, processos construtivos,
condições de drenagem, estrutura do pavimento e materiais de construção utilizados. Desta forma, o monitoramento e
avaliação de pavimentos reforçados possibilitam o levantamento de informações acerca do comportamento estrutural e
conseqüente influência do reforço na estrutura do pavimento. Buscando preencher parte desta lacuna, este artigo
apresenta o acompanhamento da execução de um pavimento reforçado com geogrelha e a análise estrutural realizada a
partir de resultados de ensaios de FWD (Falling Weight Deflectometer) e viga eletrônica executados durante a fase
executiva e após a passagem de tráfego.
ABSTRACT
Geosynthetics acting as pavement base and sub-base reinforcement have been a well-accepted practice due to the
advantages offered by these products, which reduce the pavement layers thickness or increase the pavement lifetime.
Most of the studies found in the literature are based on laboratory tests, and few are the studies that simulate real field
conditions and evaluate the pavement structural condition along pavement lifetime. The pavement is a quite complex
structure when concerned with its future performance estimative, as this depends on the interaction of several factors
such as: traffic, weather, constructive procedures, drainage conditions, pavement structure and layers material. Thus, the
monitoring and reinforced pavement evaluation allows carrying out a survey of the structural behavior and consequently
the reinforcement influence on the pavement structure. In order to fill part of this blank, this paper presents the
monitoring of a geogrid reinforced pavement construction and the structural analysis performed from FWD (Falling
Weight Deflectometer) and electronic beam tests results during the construction and after traffic.
1
Construções e Comércio Camargo Corrêa S.A.: Rua Funchal, 160, Vila Olímpia, São Paulo, SP
carla.ferreira@camargocorrea.com.br
2
Instituto Tecnológico de Aeronáutica: Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, Vila das Acácias, São José dos Campos,
SP, delma@ita.br
3
Huesker LTDA: Rua Sete, 375, Centro Empresarial Eldorado, São José dos Campos, SP, cassio@huesker.com.br
INTRODUÇÃO
CARACTERISTÍCAS DO TRECHO
O pavimento estudado está localizado na terceira faixa da Rodovia Presidente Dutra – BR-116
sentido São Paulo – Rio de Janeiro, entre as estacas 31+290 e 30+150. Estando próxima das cidades
de Cachoeira Paulista-SP e Cruzeiro-SP, conforme mapa apresentado na Figura 1.
FIGURA 3 – Seção do trecho experimental. CBUQ. Medidas em centímetros. CBUQ = Concreto Betuminoso Usinado
à Quente; PMQ = Pré Misturado à Quente; BGS = Brita Graduada Simples.
A determinação da posição das geogrelhas foi realizada em função dos valores de deflexões
máximas obtidos sobre o subleito, apresentado na Figura 4. Cabe ressaltar que o valor de deflexão
máximo aceitável estabelecido para a obra foi de 1,50mm e o local não permitia uma maior
escavação, desta forma optou-se por realizar o pavimento com reforço, aproveitando o trecho para
avaliar a influência do geossintético.
600
550
500
450
400
Deflexão (0,01mm)
350
300
250
200
150
100
Seção 1 Seção 2 Seção 3
50
0
31+290 31+280 31+270 31+260 31+250 31+240 31+230 31+220 31+210 31+200 31+190 31+180 31+170 31+160
Estaca
ATIVIDADES DE CAMPO
A execução do trecho experimental foi realizada entre os dias 6 a 10 de novembro de 2006, sendo
constituído pelas seguintes etapas:
Vários autores, tais como Perkins (2001) e Berg et al. (2000), comentam que o mecanismo de
reforço, para o caso de pavimentos reforçados com geossintéticos em que não é permitido grandes
deformações, é o mecanismo de restrição lateral. Por meio deste mecanismo, durante a compactação
da camada granular (rachão no caso do trecho estudado) sobre a geogrelha, ocorre o inter-
travamento da mesma, transmitindo as tensões cisalhantes geradas pelo tráfego para o reforço.
As Figuras 6 (a) e (b) apresentam a geogrelha com o rachão durante a compactação do mesmo,
verifica-se o baixo inter-travamento da geogrelha, sendo que a redução do diâmetro do material
granular proporcionaria um melhor inter-travamento do mesmo.
(a) (b)
FIGURA 6 – Inter-travamento da geogrelha (a) visão geral (b) detalhe no início da compactação.
Introdução
Foram realizados ensaios de limites de liquidez (LL) e plasticidade (LP), massa específica dos grãos
e granulometria juntamente com ensaios de mini-MCV e perda de massa por imersão (PI) para a
caracterização do subleito.
Verifica-se que o subleito, de acordo com a metodologia MCT-M corresponde a um solo não
laterítico siltoso e argiloso, enquanto que segundo a classificação SUCS trata-se de uma argila de
baixa plasticidade. Verifica-se que o subleito é composto por, aproximadamente, 23 % de argila,
34 % de silte e 43 % de areia.
O fato do subleito ser caracterizado como um solo argiloso, segundo as classificações MCT–M
(NS’G’) e de Casagrande (CL), é consistente com o verificado no campo pelo fato de terem sido
apresentados elevados valores de deflexão ao realizar o ensaio de viga eletrônica sobre o subleito. O
ensaio de perda de massa por imersão indica que o solo apresenta uma perda por imersão (PI) igual
a 255 % quando compactado, destacando, de forma geral, sua elevada erodibilidade.
Para a determinação da capacidade de suporte do subleito foram executados dois ensaios DCP
(Dynamic Cone Penetration), sendo o primeiro realizado na estaca 31+295 localizado na seção 01
(geogrelha J-600) e o segundo ensaio realizado na estaca 31+265 localizado na seção 2 (sem
reforço). Juntamente com o ensaio DCP realizou-se a retirada de amostra por meio de um trado,
para a determinação da umidade “in situ”.
Determinou-se o valor do CBR do subleito por meio de uma equação obtida em Carvalho (2005),
correspondente à classificação de solo obtida pela metodologia MCT (NS’G’),
No primeiro furo realizado, seção 1, o valor do Índice de Suporte Califórnia variou entre 10 % e
17 %, enquanto a umidade do subleito variou entre 20,0 % e 26,1 %. Já no segundo furo realizado,
seção 2, o valor de CBR variou entre 8 % e 18 %, enquanto que a umidade variou entre 19,2 % e
25,4 %.
Verifica-se que os valores obtidos nos dois furos apresentam uma baixa variação, caracterizando a
homogeneidade do trecho. Desta forma, o subleito do trecho experimental apresenta uma
capacidade de suporte entre 8 % e 18 %, com umidade variando entre 19 % a 27 %.
Avaliação Estrutural
Com o intuito de avaliar a condição estrutural do trecho estudado, foram realizados ensaios logo
após a construção do pavimento (novembro/2006) com o uso da viga eletrônica e após a passagem
de tráfego (maio/2008) com o FWD e viga eletrônica (outubro/2008), para verificar a influência do
geossintético na redução das deformações elásticas da estrutura do pavimento.
O ensaio de viga eletrônica foi realizado com equipamento fornecido pela administradora da
rodovia, onde se tem uma viga com relação de distância igual a 2:1, um caminhão carregado com
8,2 t no eixo traseiro e rodas duplas com pneus calibrados com 560 kPa. Enquanto que o Falling
Weight Deflectometer utilizado foi o FWD-Dynatest, executado em pontos distanciados de 10 m. A
Figura 7 ilustra a utilização da viga eletrônica.
Com os resultados obtidos pelos ensaios realizados, realizou-se a análise da variação da deflexão
máxima ao longo de dois anos de tráfego na rodovia e retro-análises para quantificar o módulo
resiliente das camadas constituintes do pavimento.
9 Deflexão Máxima
Foi realizada a retro-análise dos dados obtidos dos dois ensaios realizados com a viga eletrônica,
sendo que os erros apresentados, de forma geral, foram superiores a 50 %. Ao verificar os dados de
deflexão medidos verificou-se que ocorreram problemas na leitura dos dados pelo LVDT ao medir
o mesmo valor para pontos distintos. Desta forma, os dados foram descartados para a determinação
dos módulos das camadas. Para avaliar o impacto do tráfego ocorrido durante o período de
novembro de 2007 a maio de 2008, foram comparadas as deflexões máximas obtidas pela viga
eletrônica e pelo FWD.
As deflexões máximas obtidas pela viga eletrônica são obtidas por meio da passagem de um
caminhão de 8,2 t a uma velocidade aproximada de 3 km/h, desta forma, considera-se o dado obtido
uma deflexão máxima estática. Já a deflexão máxima do ensaio FWD é obtida por meio de pulsos
de carga de 4,1 t, que corresponde a passagem do mesmo veículo a uma velocidade aproximada de
70 km/h, correspondendo a uma deflexão dinâmica.
Para a conversão dos dados obtidos pela viga eletrônica (deflexão estática) para os valores de
deflexão dinâmica foi utilizada a correlação obtida na AASHTO Road Test (RODRIGUES, 2007):
Os valores obtidos são apresentados nas Tabelas 3 e 4 e na Figura 8. Verifica-se que os dados
apresentados pelo ensaio realizado com o FWD apresentaram dados superiores de temperatura,
como conseqüência os valores de deflexões foram superiores. Ao comparar os dados da viga
eletrônica realizada em 2006 e o da realizada em 2008, cujas temperaturas são mais próximas, as
deflexões diminuíram após dois anos de tráfego, indicando a acomodação da estrutura.
Verifica-se que os valores apresentados pelo trecho não reforçado, em alguns pontos, foram
inferiores ao trecho reforçado com geossintético, entretanto é importante verificar que a deflexão
máxima medida no subleito do trecho reforçado são superiores às do trecho não reforçado.
TABELA 4 - Deflexão máxima no subleito e superfície para FWD (maio/2008) e Viga Eletrônica (nov/2006).
FWD (maio/2008) Viga Eletrônica (nov/2008)
δsuperfície (0,01mm) δsuperfície (0,01mm)
Estaca Reforço
Dinâmica Estática Dinâmica Tsup
Tsup (°C)
(4,1tf) (8,2tf) (4,1tf) (°C)
31+280 31,9 39 23,1 16,2 35
31+270 GA 33,2 39 22,9 16,0 35
31+260 40,7 39 29,8 20,9 33
31+230 S/ reforço 35,2 39 16,3 11,4 35
31+190 25 38 13,5 9,5 35
GB
31+180 24,8 37 20,8 14,6 34
Tsup = temperatura superficial; TRI – trilha de roda interna; TER – trilha de roda externa.
45.0 40
40.0 39
38
Deflexão Máx. Dinâmica
35.0
37
30.0
36
Tsup (°C)
(0,01mm)
25.0
35
20.0
34
15.0
33
10.0 32
5.0 31
0.0 30
31+280 31+270 31+260 31+230 31+190 31+180 31+150
Estaca
Os dados obtidos com a realização do ensaio FWD foram retro-analisadas utilizando o programa
LAYMOD5. Foram realizados ensaios com 4 e 8 t. A Tabela 5 apresenta os pontos onde foram
realizados os ensaios, com as seções correspondentes.
Os resultados de retro-análise obtidos para o ensaio de FWD com 4 e 8 t são apresentados nas
Tabelas 6 e 7.
Como podem ser visto nos dados apresentados, os erros obtidos foram superiores a 5 %, valor este
recomendado como limite. Este fato pode estar ligado à diversos fatores, entre eles a declividade do
trecho experimental e a sub-base de rachão que tende a ser muito heterogênea.
TABELA 6 - Resultados da retro-análise para FWD com 4 t .
Erro ECBUQ E(PMQ+BGS) ERACHÃO ESubleito
Estaca Trecho
(%) (Mpa) (Mpa) (Mpa) (Mpa)
31+280 14 4128 641 203 131
31+270 17 4382 586 213 140 GA
31+260 18 2268 419 221 146
31+240 18 2138 408 223 148
31+230 18 4056 481 249 165
31+220 21 9071 920 249 159 S/ geogrelha
31+210 14 2180 606 182 143
31+200 12 3951 869 252 153
31+170 18 3319 534 393 232
GB
31+160 6 3901 625 211 141
Com o intuito de verificar a influência do geossintético nas seções reforçadas foram selecionadas as
estacas apresentadas na Tabela 8, do ensaio de FWD com 8 t. O critério de seleção foram as seções
com deflexões do subleito iniciais similares (antes da construção do pavimento) e menor erro.
Como apresentado nas Tabelas 3 e 4 as deflexões máximas apresentadas pelo subleito no trecho
onde foi instalado a geogrelha GA é superior aos outros trechos. Os dados apresentados na Tabela 8
indicam um benefício imediato proporcionado pela instalação desta geogrelha, pelo fato dos
módulos de elasticidade efetivos “in situ” do rachão e do subleito se aproximarem dos módulos
obtidos para os outros trechos.
Com os dados apresentados na Tabela 7 foram obtidas as tensões cisalhantes por meio do programa
FLAPS (Finite Layer Analysis of Pavement Structures). O resultado obtido é apresentado na
Figura 10.
Como pode ser visto nos dados apresentados na Figura 9, não foi possível verificar uma
significativa influência do geossintético no trecho executado tendo por base as tensões cisalhantes,
devido à espessa camada de rachão e à posição da instalação da geogrelha que não proporcionou o
inter-travamento eficiente (granulometria do rachão superior a abertura da malha da geogrelha).
Observa-se neste caso que, mesmo para um CBR superior a 10%, o uso do reforço apresentou um
ganho imediato no período de construção do pavimento, pelo fato dos módulos apresentados no
trecho reforçado com a geogrelha GA serem adequados para um rachão bem compactado. Verifica-
se que o uso do reforço atuou durante o processo de compactação da camada de rachão, apesar do
baixo inter-travamento ocorrido.
Desta forma, o reforço poderia eventualmente permitir a redução da escavação com redução das
espessuras das camadas superiores. Mostra-se interessante a realização de pesquisas para avaliar a
influência do reforço para CBR’s maiores que 8%, visando melhorar a plataforma de trabalho e a
qualidade da camada compactada, no caso de pavimentos de alto volume de tráfego.
Com base no pavimento estudado verificou-se que as deflexões observadas com a viga eletrônica
diminuíram após dois anos de tráfego, indicando a acomodação da estrutura. Os erros obtidos na
retro-análise das bacias de deflexão foram superiores a 5 %, valor este recomendado como limite.
Este fato pode estar associado a diversos fatores, dentre eles a declividade do trecho experimental e
a heterogeneidade da camada de rachão.
Neste estudo, não foi possível verificar uma significativa influência do geossintético nas tensões
cisalhantes obtidas por meio do programa FLAPS, provavelmente, devido à espessa camada de
rachão e ao baixo inter-travamento entre este e a geogrelha (granulometria do rachão superior a
abertura da malha da geogrelha).
O uso do reforço apresentou um ganho estrutural imediato para o pavimento, durante o período de
construção, pelo fato dos módulos apresentados no trecho reforçado com a geogrelha GA (a mais
rígida) serem adequados para um rachão bem compactado. Verifica-se que o uso do reforço atuou
durante o processo de compactação da camada de rachão, apesar do baixo inter-travamento
ocorrido.
AGRADECIMENTOS
Deixo expressos meus sinceros agradecimentos, a CAPES e a CCR NovaDutra pelo incentivo ao
desenvolvimento deste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Berg, Ryan R.; Christopher, Barry R.; Perkins, Steven. “Geosynthetic Reinforcement of the
Aggregate Base/Subbase Courses of Pavements Structures”, Geosynthetic Materials Association
White Paper II, Roseville, 2000, 176p.
Carvalho, Ronaldo Gonçalves de. Correlações entre os Ensaios DCP e CBR para Solos Saprolíticos
de Textura Fina. Tese de Mestrado, Instituto Tecnológico de Aeronáutica. 2005.141p.
DER – Departamento de Estradas e Rodagem. Mapa Rodoviário do Estado de São Paulo, 2006.