Você está na página 1de 10

Análise Dinâmica de um Gerador Eólico em Solo Tropical

Francisco Javier Alva García


Pesquisador, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil, fj_alva@yahoo.com

Yago Machado Pereira de Matos


Doutorando, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil, yago_mpm@hotmail.com

Márcio Muniz de Farias


Professor Titular, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil, mmuniz94@gmail.com

Renato Pinto da Cunha


Professor Titular, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil, rpcunha@unb.br

Marlos José Ribeiro Guimarães


Engenheiro Civil, Eletrobras Furnas, Aparecida de Goiânia, GO, Brasil, marlos@furnas.com.br

RESUMO: Este trabalho objetiva avaliar o comportamento dinâmico mediante a modelagem


numérica do gerador eólico EOL-10, sistema, atualmente, em funcionamento na Gerência de Serviços
e Suporte Tecnológico (GST.E) da empresa Eletrobras Furnas em Aparecida de Goiânia (GO). Foram
realizados dois tipos de simulações numéricas: uma análise modal e uma análise de estado
estacionário. Enquanto a primeira consistiu, basicamente, na obtenção das frequências naturais de
vibração do sistema sem considerar o amortecimento e as cargas externas, a segunda buscou estudar
o seu comportamento quando submetido às forças de vento numa faixa de frequências de até 6 Hz.
Essas simulações foram feitas para duas condições de contorno diferentes: (i) admitindo a influência
da fundação e do solo circundante no comportamento do sistema e; (ii) desprezando seus efeitos com
a torre engastada na sua base. As geometrias das partes do modelo numérico foram idênticas às do
protótipo eólico e o perfil de solo correspondia às características do terreno estudado por ensaio SPT.
Observou-se que a consideração do solo e da fundação nas análises pode fornecer resultados distintos
tanto para a análise modal como para a análise estacionária.

PALAVRAS-CHAVE: Torre Eólica, Fundação, Ressonância, Método dos Elementos Finitos.

1 INTRODUÇÃO disponíveis, destaca-se a energia eólica.


Segundo Global Wind Report (2017), o Brasil se
Com o aumento da densidade populacional do manteve entre os principais países produtores de
mundo, o acesso à energia tem-se tornado, cada energia eólica.
vez mais, um assunto muito importante na
sociedade moderna. Existem diversas opções de Com essa eminente expansão da matriz
produzir energia e cada uma delas tem seus energética eólica nos últimos anos, o Brasil tem
próprios benefícios e desvantagens. O ideal é que buscado investir na implantação de parques
a opção selecionada seja eficiente, esteja eólicos, gerando uma demanda técnica no setor
adaptada às particularidades da região de da construção civil para a execução de
implantação e, também, não cause danos ao meio aerogeradores, sobretudo do tipo onshore. Uma
ambiente. Entre às diferentes fontes de energia das preocupações existentes desse tipo de obras

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


está no desenvolvimento do projeto de fundação produzir esforços de tração e de compressão
da torre, cujo maior desafio consiste, talvez, em dependendo da direção do vento. A Figura 1
compreender melhor o comportamento resume os esforços atuantes em fundações
mecânico desse sistema solo-estrutura profundas de aerogeradores.
submetido a carregamentos estáticos e
dinâmicos. Porém, no âmbito nacional, ainda Diante disso, os requisitos de um projeto
não existem muitos estudos desenvolvidos sobre geotécnico de fundação de torre eólica envolvem
o tema em questão. verificar a estabilidade quanto à rutura do solo
em condições últimas de carregamento
Assim, atentando para esse inconveniente e (compressão e tração), os máximos
sabendo que a prática comum de projeto, deslocamentos (horizontais e verticais) ou
normalmente, incorpora apenas análises rotações possíveis que não comprometam as
pseudoestáticas para as máximas condições de condições de serviço do aerogerador, o
carregamento de vento sem considerar os comportamento dinâmico do sistema solo-
possíveis efeitos dinâmicos nas fundações das fundação e o efeito de fadiga ocasionado pela
torres eólicas onshore, o presente trabalho busca aplicação de carregamentos cíclicos, isto é, a
determinar o comportamento sob vibração de redução da capacidade de carga da fundação e
uma torre eólica assente sobre solo de região de suas deformações permanentes ao longo do
clima tropical por meio de modelagem numérica. tempo.

2 REQUISITOS DE PROJETO DE
FUNDAÇÕES DE TORRES EÓLICAS

Usualmente, as estruturas de fundações de torres


eólicas onshore podem ser superficiais quando a
camada de solo próxima à superfície é resistente
o suficiente ou profundas para terrenos com
baixa resistência até grandes profundidades e
para o caso de carregamentos horizontais
expressivos (Svensson, 2010).
Figura 1. Exemplo de esforços atuantes em fundações
As ações a serem consideradas no profundas de aerogeradores (Bertuzzi, 2013).
dimensionamento das fundações de torres
eólicas podem ser permanentes, variáveis ou Outro aspecto muito importante relacionado ao
excepcionais. Entendem-se como ações projeto geotécnico de fundação da torre eólica se
permanentes os carregamentos verticais dos refere ao fenômeno de ressonância, o qual é
pesos próprios da superestrutura (rotor, nacele e governado pela freqûencia natural do sistema e
torre), da fundação e do aterro e, quando a pode ser provocado pelos carregamentos cíclicos
fundação se localiza abaixo do nível freático, as oriundos dos ventos. Dessa maneira,
cargas de subpressão de água. Quanto às ações compreender a resposta dinâmica da fundação
variáveis, destacam-se os carregamentos sob vibração livre é essencial para projetos de
horizontais impostos pelos ventos. Os abalos aerogeradores.
sísmicos podem ser incluídos nas ações
excepcionais. O peso próprio provoca esforços Toda estrutura de engenharia pode ser
de compressão na base da fundação e a ação do considerada um sistema complexo que, devido
vento gera esforços cortantes e momentos aos seus inúmeros graus de liberdade, possui
fletores. Desse modo, a fundação é submetida a diversas frequências próprias associadas aos
esforços transversais e, por isso, seus seus respectivos modos nos quais vibra
deslocamentos horizontais devem ser limitados. naturalmente. Oliveira (2012) relata que a
Por outro lado, os momentos fletores podem frequência natural de uma estrutura está

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


vinculada, inversamente, com a sua massa e, carregamentos transientes e interações entre
diretamente, com a sua rigidez. diferentes materiais, como o solo e a fundação ou
o ar e a estrutura da torre eólica, possam ser
Para o caso específico de projeto de torres modelados numericamente. Os componentes e
eólicas, Ferreira e Futai (2016) afirmam que os parâmetros dos materiais empregados durante
diversas análises modais são realizadas as análises numéricas serão descritos a seguir.
desprezando a influência do volume de solo e
assumindo a torre engastada na sua base ou
incluindo, somente, a sua rigidez sem considerar
a sua massa. Os autores alertam que essa
concepção pode fornecer resultados enganosos
em análises dinâmicas, já que a inclusão da
massa do solo tenderia a reduzir a frequência do
sistema. DNV (2002) ressalta que, se o modelo
de cálculo adotar a torre completamente fixa, o
erro na frequência natural pode ser de até 20%.

O fato é que, com o avanço da tecnologia,


turbinas mais potentes e, consequentemente,
torres mais elevadas devem ser implantadas no
futuro de acordo com Wiser et al. (2016).
Portanto, projetos com uma avaliação mais
rigorosa sobre a resposta dinâmica da torre e da
sua fundação serão imprescindíveis.
Figura 2. Protótipo EOL-10 (Foto dos autores).

3.1 Acessórios de Metal: Base, Torre, Rotor e


3 ESTUDO DE CASO Outras Peças
Nesse trabalho, buscou-se analisar a resposta A base consiste em duas chapas triangulares,
dinâmica de um aerogerador com torre metálica com espessura de 25,4 mm; a torre é do tipo
de 10 m de altura, apoiado numa fundação tubular com 115,0 mm de diâmetro externo,
profunda do tipo radier estaqueado com estaca espessura de 6,35 mm e 10,0 m de comprimento;
única. As partes ou componentes do modelo o rotor tem formato cilíndrico de 200,0 mm de
numérico consistiram na torre metálica, nas diâmetro, com base retangular de 86,4 mm de
bases e chapas metálicas de suporte entre a torre largura por 200,0 mm de comprimento.
e o radier de concreto da fundação, na estaca de
concreto com armadura metálica e no solo As outras peças de menor dimensão são: 6
caracterizado por três camadas de material chapas de formato trapezoidal de medidas
granular. O EOL-10 (Figura 2) foi implantado na variáveis e espessura de 25,4 mm, que fixam as
Gerência de Serviços e Suporte Tecnológico bases triangulares e a torre; três placas
(GST.E) da empresa Eletrobras Furnas em quadrangulares de suporte, que fixam as placas
Aparecida de Goiânia (GO). triangulares com 50,0 mm de espessura; no topo
da torre, existem dois anéis de conexão, com
O modelo numérico ilustrado na Figura 3 foi diâmetros de 160,0 mm e 130,0 mm
analisado por meio do Método dos Elementos respectivamente, que fixam uma base prismática
Finitos (MEF), implementado no software quadrangular de 90,0 mm de lado e 135,0 mm de
comercial Abaqus 2019. As diversas altura. Finalmente, há um disco de união entre o
potencialidades dessa ferramenta permitem que rotor e as pás de 200,0 mm de diâmetro com
problemas complexos, envolvendo geometrias espessura de 100,0 mm.
complicadas, relações constitutivas não lineares,
ocorrência de grandes deformações, As propriedades do metal correspondem a um

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


módulo de Young Es = 210 GPa, coeficiente de 22 GPa, e à tração circunferencial Et = 25 GPa
Poisson  = 0,3 e densidade ρ = 7.850 kg/m³. Na (pás e tampa frontal), coeficiente de Poisson  =
Figura 4, são apresentados os detalhes dos 0,25 e densidade ρ = 1.750 kg/m3. Na Figura 5,
componentes de metal inseridos no modelo são detalhados os componentes de PRFV
numérico EOL-10. incorporados no modelo numérico.

Pás

Cabeça Nacelle
do rotor

Leme

Figura 5. Partes fabricadas com PRFV.

3.3 Fundação

A fundação é composta de um radier de concreto


Figura 3. Protótipo EOL-10 modelado no Abaqus 2019. com formato hexagonal irregular, cuja espessura
é igual a 0,25 m, e uma estaca circular engastada
Torre no radier com diâmetro igual a 0,30 m e
comprimento de 3,0 m.
Cabeça do rotor
Chapa trapezoidal
Rotor

Base prismática
quadrangular
O radier estaqueado (Figura 6) tem um furo a
Chapa de Chapa triangular partir do seu topo, onde se colocou um tubo de
aço para instrumentação de 3” (76,2 mm) de
suporte Anéis

Torre

a) Base da estrutura
diâmetro e 1,75 m de comprimento; o baricentro
b) Topo da estrutura

Figura 4. Componentes de metal da estrutura.


do radier coincide com o centro da seção circular
da estaca.
3.2 Acessórios de Fibra de Vidro: Nacele, Pás,
Tampa Frontal e Outras Peças As propriedades do material correspondem a um
módulo de Young Ec = 20 GPa, coeficiente de
Os demais componentes do modelo EOL-10 são Poisson  = 0,2 e densidade ρ = 2.200 kg/m³.
nacele, de formato cônico e de base circular de
200,0 mm de diâmetro e altura de 750,0 mm; três A armadura da estaca é de aço do tipo CA-50 e
pás de 1,45 m de comprimento e perfil consiste em 6 barras com bitola de 10 mm, 3,20
transversal irregular; cabeça do rotor de formato m de comprimento; e um estribo com bitola de 6
hiperbólico, de 200,0 mm de diâmetro exterior e mm, comprimento de 3,0 m e configuração
140,0 mm de altura e o leme de geometria helicoidal com 0,25 m de diâmetro. As
irregular com espessura de 4,0 mm. propriedades elásticas da armadura foram as
mesmas usadas no material aço.
O material constituinte de cada uma destas peças
representa um plástico reforçado com fibra de
vidro (PRFV), cujas propriedades elásticas
equivalem a um módulo de Young à flexão Ef =

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


empíricas de Godoy (1972) e Teixeira e Godoy
(1996).

O domínio definido para o solo estudado


numericamente foi de formato cilíndrico por ser
considerado mais conveniente durante as
simulações numéricas, evitando, assim, regiões
com concentração de tensões (Alva, 2017). Suas
dimensões foram definidas com base na
geometria da estaca, ou seja, vinte vezes o seu
diâmetro e duas vezes o seu comprimento. A
Figura 8 exibe o solo de formato cilíndrico no
modelo numérico e a Tabela 1 resume as
propriedades das camadas de solo da fundação
do EOL-10.

Figura 6. Radier estaqueado e a armadura. Torre

3.4 Solo
Radier Primeira camada
O solo de fundação foi caracterizado apenas por
ensaios do tipo SPT (Standard Penetration Test), Estaca
Segunda camada

cujos resultados estão resumidos na Figura 7. Terceira camada

Ponta da estaca

Figura 8. Domínio do solo com três camadas e radier


estaqueado.

Tabela 1. Propriedades do solo.


Es
Camada H (m) ρ (kg/m³)
(MPa)

1 1,70 1,937 18,50 0,3
2 1,00 1,835 25,0 0,3
Figura 7. Resultado da sondagem SPT. 3 3,30 1,937 20,0 0,3
H - espessura da camada; ρ - densidade do solo; E - módulo
Com base nesses resultados, foi selecionado o de Young;  - relação de Poisson.
perfil estratigráfico do solo, constituído por três
camadas; o tipo de material da primeira camada 3.5 Interações entre as Partes
corresponde a uma areia siltosa e o material
subjacente das outras duas camadas se refere a Um aspecto determinante e complexo em uma
um silte arenoso com espessuras variáveis. análise numérica é a definição das formas de
Durante a execução da sondagem à percussão, o interação entre as diferentes partes do modelo,
lençol freático foi encontrado em uma pois ela permite estabelecer se ele é uma
profundidade próxima dos 9,0 m e, por isso, não representação bem simplificada ou mais próxima
foi considerado no modelo numérico. As da realidade física do problema estudado. Na
propriedades de densidade e os módulos de Tabela 2, estão descritas as interações entre as
elasticidade das camadas de solo foram obtidos, diferentes partes que compõem o modelo do
respectivamente, por meio das correlações EOL-10. Convém salientar que as partes as quais

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


não se permitiu interação foram consideradas 5.000 N agindo na face da torre e outra com valor
fixas (tied) umas nas outras ou embutidas estimado de 600 N no equipamento do
(embedded) para o caso específico da armadura aerogerador. Essas forças, contudo, não agem
da fundação. Por outro lado, onde se contemplou uniformemente ao longo da estrutura e variam
interação, foram adotados contatos com segundo os esquemas das Figuras 9 e 10. No
comportamento normal e tangencial do tipo entanto, para facilitar as análises numéricas no
penalty. Deve-se destacar que as tensões presente trabalho, foi adotada uma variação
cisalhantes resistentes (r) geradas pelo atrito linear da força do vento atuando em uma área
entre o fuste da estaca e o solo circundante foram longitudinal da torre de 1,80 m2 (no plano XZ),
calculadas mediante o Método  (Helwany, como ilustrado na Figura 11. Portanto, essa força
2007) e estão resumidas na Tabela 3. Os ângulos resultou em uma carga uniformemente
de atrito foram obtidos pelas correlações distribuída de 2.768 Pa. A partir dessa magnitude
empíricas de Teixeira e Godoy (1996). de carga, avaliou-se o esforço atuante por metro
de comprimento, variando linearmente desde
Tabela 2. Interações entre as partes no modelo numérico. zero na base da torre até o valor de 553,6 Pa/m
Interação entre as no seu topo. Com relação à força no
Partes partes equipamento, foi admitido que ela atuava na
Não Sim
ponta da cabeça do rotor com magnitude de 600
N.
Equipamento no topo, torre,
x
bases e suportes metálicos
Radier e a cabeça da estaca de
x
concreto
Base da torre e o radier de
x
concreto
Armadura de aço inserida
x
dentro da estaca e do radier
Base do radier com o solo x Figura 9. Cargas geradas pelo vento agindo em uma área
transversal (Castro et al., 2015).
Fuste da estaca de concreto
x
com o solo circundante Deve-se ressaltar que ambas as forças podem
Ponta da estaca de concreto ocorrer ao redor da torre nos 360 graus paralelos
x ao plano XY (Figura 11). É válido mencionar,
com o solo
entretanto, que, essas duas forças foram testadas
agindo de forma unidirecional no sentido
Tabela 3. Tensão de atrito ao longo do fuste. positivo do eixo Y a fim de compreender o
Camada H (m)  (o)   (kPa)
comportamento da estrutura quando submetida à
1 1,70 29 0,24 3,83
2 1,00 29 0,24 2,13 ação do vento.
3 0,30 29 0,24 0,68
H - espessura da camada ao longo do fuste;  - ângulo de
atrito de cada camada;  - coeficiente de atrito;  - tensão
de atrito por camada.

3.6 Cargas Externas

As cargas externas se originaram, sobretudo, da


ação do vento, considerando-se eventuais
tempestades com velocidade de até 35 m/s. Figura 10. Força do vento atuando no equipamento do
Diante disso, foram consideradas duas forças aerogerador (Burton et al., 2011).
que atuavam de maneira transversal, uma de

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


No que diz respeito às condições de contorno do nas suas fronteiras. Elementos finitos foram
modelo numérico, foram estudados dois empregados no restante do domínio. Na Tabela
cenários. No primeiro (condição A), analisou-se 4, estão descritas as informações mais relevantes
o sistema solo-fundação-superestrutura. Para o sobre a malha utilizada em cada uma das partes
segundo cenário (condição B), avaliou-se o do modelo durante as análises numéricas.
comportamento isolado da superestrutura. Como
pode-se observar na Figura 11, nos dois cenários,
os deslocamentos e as rotações em torno dos três
eixos de referência foram impedidos na base da
superestrutura.
Elementos finitos ao
interior do cilindro
Força pontual de arrasto

Elementos infinitos na
face perimetral do
cilindro

Carregamento de Condição A
arrasto com variação
linear

Condição B
Elementos infinitos
na base do cilindro

Figura 12. Detalhe do malhado no domínio do solo de


Figura 11. Sistema de forças atuantes no modelo formato cilíndrico.
numérico para as condições de contorno A e B.
Tabela 4. Informações da malha no modelo numérico.
3.7 Análises Numéricas Tipo de Número de
Parte do modelo
elemento elementos
Chapas triangulares,
Foram realizadas duas análises dinâmicas para torre, rotor, nacele e
Cunha
14.916
os casos A e B, uma análise modal e uma análise (C3D6)
pás
de estado estacionário, levando em conta o Chapas trapezoidais e
comportamento elástico-linear do sistema de suporte, anéis (2),
Hexaedro
estudado. Para a primeira análise, foram obtidos base prismática 3.806
(C3D8)
quadrangular, tampa
os quatro primeiros modos de vibração natural, do rotor e o leme
ou seja, a representação do movimento livre sem Nacele e disco de Tetraedro
40.152
amortecimento e sem forças externas no sistema. união (C3D10)
Na segunda análise, foram determinados os Cunha
Radier estaqueado 1.152
deslocamentos sob as frequências de vibração de (C3D6)
Treliça
cada sistema entre 1,0 e 6,0 Hz (dados Armadura
(T3D2)
504
providenciados pelo fabricante) com as cargas Solo (elementos Hexaedro
externas de vento atuantes. 46.332
finitos) (C3D8R)
Solo (elementos Hexaedro
16.068
É importante destacar que, durante a geração da infinitos) (CIN 3D8)
C - elemento contínuo; 3D - dimensão do elemento; 2,
malha do modelo numérico para a condição A, 6, 8 e 10 - número de nós por elemento; R - integração
foram adotados elementos infinitos (Figura 12) reduzida; CIN - elemento continuo infinito; T -
no contorno e no fundo do domínio cilíndrico do elemento do tipo treliça.
solo com o intuito de evitar reflexões de ondas

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


superestrutura. Por terem fornecido os maiores
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO deslocamentos, nas Figuras 15 e 16, são
apresentadas as deformadas da estrutura para o
Os resultados numéricos das análises dinâmicas primeiro e o segundo modos de vibração
são apresentados a seguir. Para a análise modal, avaliados. As formas assumidas pelo sistema
foram obtidos os quatro primeiros modos de correspondem aos deslocamentos
vibração livre do sistema inteiro, ou seja, as experimentados nas três direções quando
formas assumidas por ele em cada uma de suas submetido, principalmente, à flexão e à torção.
frequências naturais de vibração. As magnitudes
dos vetores deslocamento e as frequências
naturais dos modos de vibração de cada sistema
são exibidas nas Figuras 13 e 14
respectivamente. É válido ressaltar que o ponto
de referência para a determinação dos
deslocamentos foi a ponta da cabeça do rotor o
qual coincidiu com o local de aplicação da força
Caso A
concentrada de arrasto. Caso B

Caso A Caso B

1.00
0.90
0.80
Deslocamento (m)

0.70 Primeiro modo de vibração


0.60
0.50
0.40
Figura 15. Primeiro modo de vibração para cada caso de
0.30 estudo.
0.20
0.10
0.00
1 2 3 4

Modos de vibração

Figura 13. Deslocamentos do ponto de referência para


cada modo de vibração.

Caso A Caso B

8.00 7.63 7.66


Frequências naturais (Hz)

7.00

6.00

5.00 Caso B
Caso A
4.00

3.00

2.00
0.86 0.87
1.00
1.61E-05 1.97E-05 2.07E-05 4.89E-05
0.00
1 2 3 4

Modos de vibração
Segundo modo de vibração
Figura 14. Frequências naturais de cada modo de
Figura 16. Segundo modo de vibração para cada caso de
vibração.
estudo.

Ficou evidenciado que os deslocamentos obtidos A análise de estado estacionário procura avaliar
no caso de estudo A se mostraram muito a resposta linear do sistema quando ele está
menores que os avaliados no caso B, ambos sob submetido a uma excitação do tipo harmônica
comportamento elástico-linear. Observou-se, contínua. O software Abaqus oferece diversos
também, discrepâncias entre as frequências métodos de solução para análises desse tipo.
naturais obtidas para cada caso. Isso ocorre, Neste trabalho, foi escolhido o método de
possivelmente, porque a consideração do solo na solução direta. Por fim, a Figura 17 retrata a
condição A provocou um aumento de massa no magnitude do vetor resultante de deslocamento
sistema e reduziu seus valores de frequência nas três direções avaliado no intervalo de
natural, funcionando, portanto, como um frequências de 0,4 a 6,0 Hz.
amortecedor dos movimentos livres da

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


2.00
Caso A Caso B
análise estacionária. Esse fato corrobora as
1.80

1.60
afirmações de DNV (2002) e Ferreira e Futai
1.40 (2016). Porém, apesar de ser mais condizente
Deslocamento (m)

1.20

1.00
com a realidade física do problema, as
0.80 simulações numéricas do sistema solo-fundação-
0.60

0.40
torre são muito sensíveis aos parâmetros
0.20

0.00
geotécnicos usados para alimentar o modelo,
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
Frequência (Hz)
3.5 4.0 4.5 5.0 5.5 6.0
cujos valores são questionáveis, uma vez que
Figura 17. Resposta do sistema avaliado sob a ação do foram obtidos de correlações empíricas com
vento no intervalo de frequências indicadas pelo resultados de sondagem à percussão. Assim
fabricante. sendo, esses parâmetros devem ser confrontados
com os valores fornecidos por ensaios de
Observou-se que, na faixa das frequências entre laboratório e ajustados, se necessário, em um
1,0 e 6,0 Hz, ambos os sistemas apresentaram estudo futuro. Sugere-se, ainda, que sejam feitas
respostas muito próximas. Entretanto, para análises numéricas com modelos elastoplásticos
frequências menores que 1,0 Hz, os resultados para os materiais mais vulneráveis do sistema, já
revelaram deslocamentos menores da que, apenas com tais informações, será possível
superestrutura quando avaliada de forma isolada uma calibração do modelo numérico versus os
sem a presença do solo no modelo (condição B). resultados obtidos pela instrumentação, de modo
Uma comparação entre as frequências naturais a obter maior confiabilidade para futuras
previstas e a curva de estado estacionário revela previsões.
a possibilidade de ocorrência do fenômeno de
ressonância na condição B para a faixa de É importante mencionar que, embora seja,
frequências menores que 1,0 Hz (0,86 e 0,87 relativamente, mais simples, uma análise elástica
Hz), atingindo deslocamentos maiores que 2,5 constitui um bom exercício para se obter
m. Por outro lado, para o caso de estudo A, as sensibilidade do fenômeno e conhecer as partes
frequências naturais avaliadas resultaram em do modelo numérico que necessitam de
medidas muito baixas, variando de 1,61E-5 a refinamento com o respaldo de melhores
4,89E-5 Hz, e não exibiu risco considerável de informações, como as que podem ser fornecidas
ressonância para o sistema. Contudo, o sistema pela instrumentação direta da torre eólica.
não deve operar em frequências menores que 1,0 Outros aspectos importantes para uma análise
Hz, onde os deslocamentos podem ser de até 1,8 mais acurada são a coleta de dados relativos às
m. propriedades dinâmicas dos materiais e a
avaliação mais detalhada das cargas de vento.

5 CONCLUSÕES Finalmente, o software comercial Abaqus 2019


se mostrou uma ferramenta adequada para
Por meio do presente trabalho, foi possível simular, numericamente, o protótipo EOL-10,
avaliar o comportamento dinâmico de um fornecendo previsões razoáveis do seu
protótipo eólico em solo de região de clima comportamento dinâmico nos casos estudados
tropical mediante modelagens numéricas. As neste trabalho.
simulações foram realizadas considerando dois
cenários diferentes: (i) admitindo a influência da
fundação e do solo circundante no AGRADECIMENTOS
comportamento do sistema; e (ii) desprezando
seus efeitos com a torre eólica, completamente, Os autores agradecem ao CNPq, à Embre, à
fixa na sua base. Aeroálcool e à Eletrobras Furnas pelo apoio
durante a realização desta pesquisa e ao
Constatou-se que a consideração do solo e da Laboratório de Infraestrutura Rodoviária
fundação nas análises forneceu resultados (INFRALAB) da Faculdade de Tecnologia da
distintos tanto para a análise modal como para a Universidade de Brasília por conceder a licença

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.


do software comercial Abaqus 2019. Todos os
dados utilizados neste trabalho são parte do
projeto P&D “2016.002” – Código Aneel PD-
0394-1504/2015.

REFERÊNCIAS

Abaqus CAE (2019) User´s Manual.


Alva, F. (2017) Analysis of the behavior of piled rafts with
and without defective piles horizontally loaded in
tropical soil. DSc. Thesis, p. 169.
Bertuzzi, P.J. (2013) Estudos de aspectos de engenharia
para implantação de torres eólicas. Monografia
(Graduação em Engenharia Civil). Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis.
Burton, T.; Jenkins, N.; Sharpe, D. e Bossanyi, E. (2011)
Wind Energy Handbook, 2nd ed., John Wiley & Sons,
Hoboken, NJ, USA, 742 p.
Castro, H.; Bortoli, M.; Paz, R. e Marighetti, J. (2015)
Uma metodología de cálculo para la determinación de
la respuesta dinâmica longitudinal de estructuras altas
bajo la acción del viento. Revista Internacional de
Métodos Numéricos para cálculo y diseño en
Ingeniería.
DNV (2002) Guidelines for design of wind turbines. 2nd
ed Denmark: Wind Energy Department, Risø National
Laboratory.
Ferreira, Y.A. e Futai, M.M. (2016) Análise do
comportamento das fundações de torres eólicas. XVIII
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica, XVIII COBRAMSEG,
ABMS, Belo Horizonte, Minas Gerais, 8 p.
Global Wind Report (2017) Annual market update 2017.
Disponível em:
http://www.tuulivoimayhdistys.fi/filebank/1191-
GWEC_Global_Wind_Report_April_2018.pdf.
Acesso em 28 jun. 2019.
Godoy, N.S. (1972) Fundações: Notas de Aula, Curso de
Graduação. São Carlos (SP): Escola de Engenharia de
São Carlos – USP.
Helwany, S. (2007) Applied soil mechanics with Abaqus
applications. John Wiley & Sons, Inc.
Oliveira, L.F.M.P. (2012) Análise do comportamento
dinâmico de torres de geradores eólicos, Dissertação
de Mestrado Integrado em Engenharia Civil,
Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto,
Portugal.
Svensson, H. (2010) Design of foundations for wind
turbines. Master Thesis, Departament of Construction
Science, Lund University, Lund, Sweden, 161 p.
Teixeira, A.H. e Godoy, N.S. (1998) Análise, projeto e
execução de fundações rasas, in: Hachich, W. et al.,
Fundações: teoria e prática, Pini, São Paulo, SP, Brasil,
p. 227-264.
Wiser, R.; Jenni, K.; Seel, J.; Baker, E.; Hand, M.; Lantz,
E.; et al. (2016) Expert elicitation survey on future
wind energy costs. Nat Energy, 1:16135.

GEOCENTRO 2019, Brasília/DF, Brasil.

Você também pode gostar