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Estudo sobre usinas solares flutuantes em

reservatórios de água no Brasil: Estudo de caso no


Rio Mossoró
Thiago Ferreira de Carvalho Idalmir de Souza Queiroz Júnior
Mossoró – RN, Brasil Departamento de Engenharia e
thiago-ferreira2@hotmail.com Tecnologia - DET
Centro de Engenharias - CE
Mossoró – RN, Brasil
idalmir@ufersa.edu.br

para grandes períodos de seca são as usinas solar


fotovoltaicas.
Resumo – A proposta do estudo é apresentar de forma clara o
assunto a respeito de usinas solares fotovoltaicas, com ênfase na Este trabalho introduzirá conceitos básicos do sistema
possibilidade de instalação em suportes flutuantes para a solar convencional e apresentará os componentes básicos do
utilização de áreas ociosas de usinas hidrelétrica, lagos ou rios. A sistema solar flutuante. Por fim apresentará um
compreensão de usinas solares flutuantes acrescenta elementos dimensionamento de uma usina solar flutuante previsto para
antes desconhecidos em projetos comuns em solo, como por cidade de Mossoró – RN que poderá ser instalada na
exemplo, estrutura de flutuação, sistema de ancoragem e superfície do Rio Mossoró.
equipamentos com grau de proteção mais elevados que os
comuns. Aborda-se nesse trabalho o estudo base para uma
II. DESENVOLVIMENTO
possível usina solar fotovoltaica flutuante na cidade de Mossoró
– RN, dimensionando para uma área de 4767,42m, e uma Desde 1839, quando o efeito fotovoltaico foi observado
quantidade de 2000 placas fotovoltaicas em funcionamento, pela primeira vez por Edmond Bequerel, a história da energia
diante disto, apresenta resultados significatórios gerando uma fotovoltaica teve que esperar até o início do século XX para
energia referente 108524,26kWh mensais, o que pode ser que finalmente a tecnologia desenvolvida tivesse um
compreendido como a energia suficiente para suprir a desenvolvimento significativo. Somente em 1905, quando
necessidade de mais de 730 residências. Albert Einstein explicou o efeito fotoelétrico, tecnologias
como a física dos elementos semicondutores foram sendo
Palavras chaves — Usina Solar Fotovoltaica, Flutuante, concluídas e por fim, o pensamento sobre a conversão de
Geração, Energia. irradiação solar em energia elétrica veio à tona.

I. INTRODUÇÃO Após anos de pesquisas, a tecnologia evoluiu e passou a


ser aplicada em satélites da NASA (National Aeronautics
Em meados de 2001 o Brasil enfrentou uma das maiores and Space Administration) e no programa espacial
crises de abastecimento de energia elétrica devido a soviéticos. Contudo, juntamente com o uso em satélites,
problemas de regulamentações e principalmente pela seca aplicações em residências e centro comerciais foram
que assolou o território brasileiro, deixando até seu principal acontecendo[2].
rio, o são Francisco, com o menor volume já visto. A partir
desse ponto foi lançada uma proposta e logo foi acatada para Em 1980, a eficiência das células fotovoltaica ainda não
que houvesse estudos para novas formas de energia e o havia passado de 20% devido ao nível, ainda baixo, de
aumento de padrões de segurança energética que evitariam a investimento, após avanços e investimento em pesquisas dos
dependência brasileira no setor hidrelétrico. A primeira ação órgãos espaciais a eficiência das células passou a ser 25%
foi o vasto investimento para expansões das usinas térmicas, utilizando o silício monocristalino como matéria prima.
em 2017 as usinas térmicas e hidrelétrica correspondia a 91% A preocupação com meio ambiente levou a importância
do poderio elétrico brasileiro[1]. do estudo em energias renováveis a outro patamar, ou seja, o
Diante da situação surge outro empecilho para geração de mercado de energia solar se tornava cada vez mais
energia no Brasil, o grande impacto ambiental causada pela promissor. Diante disso, foi observado que o ponto principal
construção das usinas hidrelétrica. O aumento da geração por da disseminação da energia solar não estava no aumento da
este meio sempre impactaria de forma negativa o meio eficiência dos painéis e sim em diminuir o custo para que
ambiente, contribuindo para alterações climáticas. Essa pudesse alastrar a zona comerciável. A tecnologia foi
questão sempre entrará no meio de todos os sistemas de avançando até o ponto da energia solar passou de geração
geração tornando-se ainda mais necessário o estudo e alternativa para geração principal, tendo no Brasil algumas
implementações de sistemas de geração de menor impacto usinas de energia fotovoltaica em funcionamento e outras
ambiental e de menor custo quando comparadas as usinas mais em processo de construção.
hidrelétricas e térmicas. É de suma importância entender que as gerações
Assim, acredita-se que a forma de geração que possa hidrelétrica e solar são fontes fortemente consolidadas mas
acrescentar em geração com mínimos danos ao meio de formas bastantes distintas, isto é, enquanto a hidrelétrica
ambiente e ao mesmo tempo possa ser uma válvula de escape corresponde a boa parte da geração mundial a energia solar,
apesar da sua grande crescente, é a saída do consumidor final
para escapar dos preços altos das concessionárias de energia terrestre. Esse processo meteorológico se dá a partir da soma
elétrica. de duas componentes principais – a direta e difusa –
resultando, por fim, a irradiação solar global. A irradiação
De maneira geral, a construção de uma usina hidrelétrica pode ser dita direta quando os raios solares alcançam o plano
ocasiona um alto impacto ambiental e considerado terrestre diretamente, enquanto a irradiação difusa é
irreversível. Isto é, apesar da hidrelétrica utilizar-se somente composta pela fração que é dispersada em seu trajeto[4].
de uma fonte natural e renovável, a água, ocorre no processo
de construção uma alteração assustadora no curso normal da O atlas apresentado na Figura 1 exibe os valores
água, desmatamento, alagamentos que inundam áreas verdes solarimétricos no Brasil.
e o deslocamento de inúmeras famílias ribeirinhas. Todos
esses destaques negativos são produzidos apenas para um
fim, a geração de energia elétrica, gerando um enorme
desconforto para a negociação financeira e política para
construções de novas usinas hidrelétricas.
Fica claro para os estudiosos da área que os prejuízos
socioeconômicos e ambientais não podem ser evitados e sim
minimizados, seja ela em forma de multa, doações para
programas sociais e ressarcimento para as famílias
deslocadas dos seus ambientes além de plantar arvores em
uma quantidade equivalente de arvores destruídas pela
construção. Todas essas minimizações são, de fato, uma
compensação para o benefício gerado pela hidrelétrica, a
energia elétrica.
Ao final de todo o processo construtivo e suas inúmeras
formas de compensar o prejuízo ambiental e socioeconômico
no fim temos uma hidrelétrica com capacidade “x” de
geração e com reservatórios de água parada de 1.784km²
como a hidrelétrica de Serra da Mesa [3], se compararmos
com a maior usina solar do Brasil, situada no Piauí tem
somente 6,9km² com uma quantidade de placas próxima ao
um milhão de painéis. Fica claro agora que, pode-se ser uma Figura 1: Mapa de Irradiação Solar Brasileira (Fonte: TIBA
forma de compensação da construção das usinas hidrelétrica et al., 2000).
a construção de usinas solar flutuantes em toda sua extensão
Por meio de isolinhas, ele divide o mapa de acordo com a
em área, acarretando para a empresa principal um maior
intensidade da grandeza, que pode variar em território
valor de geração de energia elétrica. A comparação anterior
nacional de 14 a 20 MJ/m².dia, como mostrado na figura.
pode ser melhor compreendida quando se observa no quadro
abaixo as dez maiores UHE’s em operação no Brasil e a área No Brasil, a geração de energia elétrica por sistemas
atual do seu reservatório de águas. fotovoltaicos ainda é empregada, em sua maioria, em
sistemas isolados, em locais onde não há possibilidade de
Tabela 1: - Potência fiscalizada e área do reservatório das
atendimento pela rede básica de energia, seja ela por se tratar
10 maiores UHEs em operação do Brasil (Fonte: ANEEL,
de regiões pobres ou até por dificuldade no acesso. Outro
2017).
tipo de utilização no Brasil é a forma secundária de energia,
sendo empregada para bombeamento de água, centrais
remotas de telecomunicações e sistemas de sinalização.
Alguns projetos que estão em vigor ou em fase de
desenvolvimento incentiva a regularização e promoção da
energia solar no país, como o Projeto Estratégico “Arranjos
Técnicos e Comerciais para a Inserção da Geração Solar
Fotovoltaica na Matriz Energética Brasileira” que pertence a
ANEEL (Agencia Nacional de Energia Elétrica).
Módulos fotovoltaicos
Um módulo fotovoltaico é uma combinação de dezenas
de células fotovoltaicas, normalmente associadas
eletricamente em série, salvo poucas aplicações especificas.
Outra vantagem da implementação do sistema solar O mercado nacional é baseado em módulos que utiliza o
flutuante em grandes reservatórios de água é o melhoramento silício como matéria prima, entretanto existe outros
do balanço hidroenergético dos reservatórios de água, onde a materiais, com eficiência diferente, que pode ser empregado
usina solar evitará que certa quantidade de água dê saída do nos módulos.
reservatório por meio da evaporação. O principal motivo do mercado de módulos trabalhar
com painéis com silício, além da sua eficiência satisfatória, é
A. Sistema Solar Fotovoltaico a vasta abundancia de silício cristalino encontrado na terra.
A radiação solar, ou irradiação solar, é o nome designado Existe também outras tecnologias, envolvendo outros tipos
a energia emitida pelo sol que incide sobre uma superfície de materiais na forma amorfa ou cristalina em filmes finos,
que normalmente apresentam menor eficiência e que por
consequência é de baixa aplicabilidade comercial.
Outros materiais como telureto de cádmio (CdTe) e o
disseleneto de cobre-índio-gálio (CIGS), são utilizados em
células de filmes finos, entretanto esses materiais são
considerados raros, tóxicos e de baixa eficiência quando
comparado ao silício cristalino.
Com o desenvolvimento da energia solar, outras
tecnologias são apresentadas com melhores soluções e
empregabilidade comercial. De fato, existe tecnologias em
desenvolvimento, como as células multijunção e a
concentração fotovoltaica, que apresentam eficiências
consideradas altas, contudo com maior preço comercial,
sendo assim, uma aplicação em larga escala é impraticável.
Figura 3: Concentrador solar tipo prato. (Fonte: National
Existem alguns fatores que influenciam no desempenho
Renewable Energy Laboratory (NREL)
do sistema solar, como a radiação solar incidente e a
temperatura do sistema. Em resumo pode-se dizer que a O sistema concentrador fotovoltaico do tipo calhas
radiação solar tem uma relação proporcional com a corrente parabólicas é uma tecnologia parecida com a de calhas
elétrica gerada, enquanto altas temperaturas resultam em parabólicas para concentração de calor. O principio de
perda de tensão e decréscimo de potência. Vale ressaltar que, funcionamento baseia-se na orientação dos raios solares
os dados elétricos entregues aos consumidores finais por através de um material reflexivo e possibilita o transporte
empresas fabricantes de painéis solares, apresentam valores para um ponto focal que é constituída por células
medidos em condições padronizadas de teste, o STC fotovoltaicas.
(Standart Test Conditions). Em geral, todos fabricantes
respeitam os valores de 25°C para temperatura e uma
irradiação de 1000W/m².
Pode-se observar na Figura 2 que o módulo é uma
composição de materiais específicos, sendo o vidro
temperado uma forma de proteção e confinar os raios
incidentes, enquanto o EVA, acetato de etil vinila, tem a
finalidade de aumentar a durabilidade do equipamento.

Figura 4: Sistema concentrador tipo calha parabólica para


geração de energia elétrica. (Fonte: ETH Zurich
Professorship of Renewable Energy Carriers.)
Figura 2: Composição de um módulo fotovoltaico
utilizando silício cristalino (Fonte: PINHO; GALDINO, Ademais, existe em atuação vários outros tipos de
2014). concentradores fotovoltaicos, como micro prato, torre de
potências e outros.
Além da forma clássica de concentradores, existe no
mercado e em desenvolvimento vários outros tipos de Inversores
“painéis” solares. O inversor é um elemento eletrônico de alto rendimento e
tem como finalidade a conversão da corrente gerada pelos
Sistema concentrador tipo prato: esse tipo de painéis, do tipo corrente contínua em corrente alternada,
concentrador solar ganhou esse nome devido a parte côncava utilizada em sistemas de rede básica.
em sua superfície refletora que concentra a irradiação solar
em um único receptor, que por sua vez, absorve a irradiação, Os inversores podem ser classificados em três principais
pois a mesma é constituída de módulos solares de alta formas, os inversores centrais, strings e micro inversores. Os
eficiência em seu ponto focal. inversores do tipo centrais são aplicados em larga escala,
estando presente na maioria dos projetos de parques solares.
Os strings são de menor aplicabilidade, e são restringidos
a um pequeno grupo de placas conectado a ele, sendo mais
aplicado em projetos residenciais e comerciais de pequeno
porte. Os micros inversores oferecem um maior nível de
proteção ao sistema, devido sua limitação de um único
módulo, torna-se mais caro e possui menor eficiência quando Estrutura de fixação
comparado aos demais tipos.
A estrutura de fixação dos módulos é subjetiva e
Eletricamente o inversor é parte vital do sistema de modificável, dependendo da escolha dos equipamentos,
geração solar, e algumas características devem ser painéis e inversores. Isto é, devido a inexistência de
observadas. Um dos principais pontos dos inversores é a certificações especificas para o assunto. Posto isso, o sistema
quantidade de portas de MPPT, rastreamento do ponto de de fixação, seja ele em solo firme ou telhados residenciais ou
potência máxima, que está presente em todos os inversores comerciais, parte do critério do projetista e orçamento do
que possuem conexão à rede elétrica, e possui como proprietário, que devem levar em consideração fatores como,
finalidade assegurar que o dispositivo opere em sua máxima praticidade ao manuseá-lo, durabilidade e custo.
potência, sejam quaisquer à condição de operação.
Existe ainda outros parâmetros dos inversores: B. Tecnologia Solar Flutuante
O sistema fotovoltaico flutuante consiste no resultado da
 Faixa útil de tensão: amplitude do valor da tensão combinação entre tecnologias já existentes, painéis
de entrada no qual o inversor consegue aperfeiçoar fotovoltaicos e tecnologias flutuantes. Gerando um novo
sua operação a partir do sistema MPPT modelo de conceito no desenvolvimento de tecnologia para
supracitado. Valores fora dessa faixa resultam em geração de energia útil à partir da utilização da energia solar.
uma perda da eficiência do sistema;
A simplicidade do projeto pode ainda incluir como
 Tensão máxima: significa o maior valor de tensão material bate para o sistema de flutuação garrafas PET’s e
aceito para operação do inversor. Não se aço inoxidável. Esses sistemas são compostos basicamente
recomenda, porém, adotá-la em projetos, como de um sistema que flutue sobre as águas, um sistema de
citado no tópico anterior; amarração, sistema de cabos para fixação e o sistema de
 Corrente máxima: maior valor de corrente placas fotovoltaicas
recomendada pelo fabricante.
O aproveitamento de superfícies de corpos d’água para
Especificamente no Brasil, devem ser adotadas algumas instalação de sistemas solares fotovoltaicos tem sido
precauções ao usar inversores, isto é, deve-se observar se o observado desde 2007. Desde então, países como Índia,
inversor opera com frequência de saída em 60Hz, pois toda Coreia do Sul, Estados Unidos, Japão, Reino Unido e França
rede básica de energia brasileira opera em 60Hz. Além disto, adotam a tecnologia como forma de préstimo de uma área,
deve-se observar a tensão de saída do inversor, pois no Brasil anteriormente ociosa.
existe regiões que funcionam com tensão de saída de 127V e
outras que operam em 220V.
Na figura abaixo, pode-se observar um dos modelos mais
utilizados no Brasil. O inversor da marca Fronius tem
potência nominal de 3kW e possui saída para 220V, além de
ser configurado para uma frequência de operação de 60Hz.

Figura 6: Exemplo de sistemas fotovoltaicos flutuantes no


mundo. (Fonte: TRAPANI, MILLAR e SMITH, 2013)
A empresa mais conhecida do ramo de usinas flutuantes é
a K-water (K-water (Korea Water Resources Corporation)
que 2011 instalou um sistema solar flutuante de 100 kW no
reservatório de uma barragem de Hapcheon, uma região na
Corrêia do Sul, depois de instalar e obter resultados
positivos, foi instalado outro sistema solar flutuante, no ano
seguinte e no mesmo lago, com capacidade de 500 kW. Estes
dois projetos estão gerando energia elétrica que está sendo
comercializada para o sistema nacional da Coreia [7].
Em termos de eficiência, amostras empíricas relatam que
o sistema de placas fotovoltaicas flutuantes consegue ser
11% mais eficiente que projetos instalados em terra firme,
esse número é notável no ramo industrial de energia solar,
entretanto ainda há grande necessidade de pesquisas para que
a comparação entre tais sistemas seja mais legítima, assim
pode-se conhecer mais sobre os impactos que essa nova
concepção de projetos fotovoltaicos pode trazer (positivos e
Figura 5: Inversor Fronius de 3kW. (Fonte: Datasheet negativos).
Fronius Galvo)
A tecnologia responsável pela implementação das usinas finos, conseguiria se deformar e absorver parte dos esforços,
flutuantes foi desenvolvida em países que existia pouco, ou reduzindo, dessa forma, as forças às quais ficam submetidos
não existia, área disponível para a criação de usina solar os sistemas de ancoragem, que é o principal gargalo na
convencional (ao solo) seja pela utilização do solo existente confiabilidade e implementação das estruturas offshore.
para a agricultura e pecuária ou outras atividades produtivas. Diante disso, os filmes finos aplicados a esse sistema evitaria
que forças adicionais fossem acrescidas no sistema, isto é, a
Atualmente, os projetos de sistemas solar flutuantes força de deslocamento gerada pelo vento nos painéis será
existentes incluem sistemas fotovoltaicos com instalações mínima quando fossem utilizados filmes finos como
fixas (que buscam maximizar a área coberta do reservatório) dispositivo de absorção da irradiação solar [5]. A Figura 8
e instalações com rastreamento solar (que buscam maximizar apresenta o sistema implementado na utilização de filmes
a energia coletada pelos painéis [5], além de sistemas com finos flexíveis em geração de energia flutuante.
concentração da irradiação através de espelhos, estes últimos
se beneficiam do resfriamento proporcionado pelo corpo de
água para evitar o superaquecimento das células
fotovoltaicas.
O primeiro projeto de usina solar flutuante construído
não apenas para fins de pesquisa foi desenvolvido em 2008
na Califórnia, EUA pela SPG Solar visando aumentar a
eficiência energética da vinícola Far Niente. Os painéis
solares foram montados com uma inclinação ideal para a
região em cima de pontões individuais interligados a uma
estrutura de montagem com passarelas entre as filas e as Figura 8: Sistema esquemático da geração de energia
laterais dos painéis, a fim de facilitar a limpeza e manutenção através de filmes finos substituindo o sistema de flutuação e
dos equipamentos. Além do aumento da eficiência painéis convencionais. (Fonte: Trapani e Millar)
energética, este empreendimento também resultou na
redução da evaporação de água do reservatório o que foi um São partes principais do sistema básico de uma usina
ganho bastante positivo para o negócio agrícola. A Figura 7 solar flutuante [7]:
apresenta a usina de Far Niente construída utilizando a
 Plataforma flutuante: responsável pela flutuação e
tecnologia “Floatovoltaic” da Thompson Technology
Industries (TTi’s) [6]. estabilidade dos painéis, cabos, acesso para
manutenção e estações de transformação;
 Painéis solar: Painéis convencionais responsáveis
para captação da irradiação solar e sua
transformação em energia elétrica.
 Sistema de ancoragem: responsável pela fixação da
plataforma flutuante as margens ou ao fundo do
reservatório. Deve ser bastante estudado pois o
sistema de ancoragem será o item que receberá os
esforços causados na plataforma devido ao vento,
variações no nível da água e consequentemente a
possíveis agitações na água ocasionada pelos
problemas anteriormente citados.
 Cabos elétricos: responsável por conduzir a energia
Figura 7: Usina solar flutuante da vinícola Far Niente. elétrica gerada até os demais equipamentos
(Fonte: Trapani e Santafé (2014)) necessários para conexão à rede, tais como os
Os principais projetos encontrados são exclusivos para equipamentos já conhecidos no sistema usual,
ambientes autónomos e controlados como reservatórios, inversores, string box, subestação elevadora e
lagoas e pequenos lagos, nos quais a estrutura responsável outros que existirem.
pela flutuação e o sistema de ancoragem devem resistir, Os equipamentos citados serão instalados em terra
basicamente, aos esforços causado pelo escoamento do vento firme conforme a Figura 9.
tanto nos componentes da planta (painéis solares e
flutuadores) quanto no espelho d’água do reservatório
(causando ondulações). No entanto foi-se levantada a
questão da utilização da tecnologia estudada para ambientes
com correntezas e ondas, zona marinha, denominado
offshore, envolvem cargas adicionais, que devem ser
suportadas pela estrutura, causadas pelas marés, ventos fortes
e ondas.
Visando aproveitar a superfície do mar, Trapani e Millar
Figura 9: Esquema de instalação de um sistema solar
propuseram a utilização de filmes finos flexíveis no lugar do
flutuante. (Fonte: Choi 2014)
conjunto de estruturas flutuantes e painéis rígidos. Isto
porque, o sistema de flutuação, ancoragem e painéis, Em diversos países, como Japão, Índia e Coreia do Sul,
resistirem ao movimento da onda, e a utilização de filmes onde há uma recorrente indisponibilidade de área útil para
construção de determinados empreendimentos, têm sido
implementados sistemas de flutuação sobre a lâmina d’água
de rios, lagos, reservatórios de hidrelétricas e até em mar
aberto. Por se tratar frequentemente de estruturas de grande
porte, são comumente chamadas de VLFS (do inglês Very
Large Floating Structures, que significa Estruturas Flutuantes
Muito Grandes).
Os sistemas de estruturas normais são geralmente feitos
em aço e em alguns casos específicos de concreto, uma vez
que a resistência mecânica do material e durabilidade são de
total importância em sistemas solar fotovoltaicos. Em
sistemas flutuantes pode-se ainda encontrar também boias
flutuadoras. Esses sistemas podem separados em duas
categorias: pontão e semissubmersível. A primeira é de
instalação simplificada, uma vez que não possui fixação no Figura 11: Tipos de âncoras. (Fonte: MUSSON, 2015).
fundo do corpo d’água. Já a segunda é utilizada em locais
onde as ondas podem atingir valores elevados, requerendo
assim que o sistema apresente uma fixação adicional, além Tabela 1: Características principais dos tipos de âncoras
da provida pelo sistema de ancoragem [8]. (Fonte: MUSSON, 2015)
FORÇA DE CARACTERÍSTICA
Existem alguns fabricantes que possuem sistemas de TIPO
FIXAÇÃO PRINCIPAIS
flutuação próprios, como é o caso da Ciel et Terre. O
- Recomendado para fundos
equipamento, feito de HDPE (Polietileno de alta densidade),
rochosos
possibilita a instalação de painéis fotovoltaicos sobre a água,
sem comprometer a eficiência do sistema. É dividido em dois À Inércia 0,5 lbf/lb - Design simples
componentes: os flutuadores principais, onde se instalam os - Pesado e de difícil
painéis; e os flutuadores secundários, que tem por finalidade manuseio
fornecer apoio ao sistema no que diz respeito à manutenção e - Recomendado para fundos
limpeza, além de garantir que haja um adequado lamacentos
Cogumelo 2,4 lbf/lb
espaçamento entre painéis. A Figura 10 representa - Necessidade de instalação
mecanicamente o sistema de flutuação da marca citada adequada
acima. - Recomendado para fundos
lamacentos
- Alta taxa de força de
Pirâmide 10,0 lbf/lb fixação por peso
- Design simples
- Custo relativamente
elevado
- Recomendado para fundos
10.000 lbf
fofos
para uma
Hélice - Instalação complexa e
âncora de 10
manutenção periódica
polegadas
necessária

C. Caracteristicas dos Módulos Fotovoltaicos


Figura 10: (Fonte: ) Um módulo fotovoltaico é uma associação de dezenas de
O sistema de amarração ou sistema de ancoragem é células fotovoltaicas, comumente associadas em série, salvo
considerado como um componente essencial do sistema de raras aplicações. Sabe-se que cerca de 95% do mercado de
flutuação, pois garante a estabilidade e segurança ao energia solar utiliza o silício como matéria-prima na
complexo. Dessa forma, observar-se-á o tipo mais adequado fabricação dessas células, por ser um semicondutor
para o local, bem como o tipo de âncora indicado. abundante no planeta. Ainda assim, existe no mercado outros
materiais como o tulureto de cádmio (CdTe) e o disseleneto
A maioria dos fabricantes atuais do sistema de flutuação de cobre-índio-gálio (CIGS), entretanto sua empregabilidade
indica vigorosamente um bom sistema de ancoragem, onde a é complicada, seja pela raridade do material como a
ancora garantirá uma maior estabilidade à instalação. Existe toxicidade ou até pela inferioridade ao silício no que se diz
no mercado inúmeros tipos de âncoras, sejam elas do tipo respeito a eficiência de geração.
pirâmide, cogumelo, hélice e à inercia como mostrado na
Figura 11. Posteriormente pode-se observar que cada âncora Em sua parte elétrica, os módulos possuem algumas
emprega em seu uso finalidades distintas, atentando-se a características fundamentais para sua empregabilidade em
Tabela 1. um sistema de geração de energia elétrica, são alguns deles:
 Tensão de circuito aberto: maior tensão encontrada
no módulo, quando não há corrente no circuito;
 Corrente de curto-circuito: maior corrente confiabilidade no setor elétrico sendo necessário a utilização
encontrada no módulo, quando seus terminais se de outra usina geradora, mais cara e poluente, a usina
encontram curto-circuitados; termelétrica.
 Potência máxima: máxima potência fornecida pelo E. Geração de energia elétrica por celulas fotovoltaicas
módulo, expressada junto à unidade Wp; versus altas temperaturas
 Tensão de máxima potência: tensão medida em
O efeito fotovoltaico é um fenômeno físico e químico no
seus terminais quando opera à máxima potência;
qual uma célula fotovoltaica converte luz em eletricidade.
 Corrente de máxima potência: corrente elétrica Ele está diretamente relacionado ao efeito fotoelétrico, mas,
medida em seus terminais quando opera à máxima diferentemente dele, este se dá em materiais semi-
potência; condutores, sendo que o mais utilizado para compor células
 Eficiência do módulo: rendimento obtido pela fotovoltaicas é o silício (Si), onde cada átomo seu possui
placa considerando sua operação em potência quatro elétrons em sua banda de valência. Os átomos se
máxima e a área do produto às condições ligam entre si formando uma rede cristalina.
padronizadas de teste.
Diferente do que todos imaginam, as células fotovoltaicas
D. Análise da ociosidade de reservatórios de água não precisam de altas temperaturas para que haja a
O conceito de capacidade de produção de energia firme transformação de energia solar em energia elétrica e sim que
de uma usina é um problema crítico nos mercados de energia haja radiação solar. Um fato que pode ser explanado para que
reestruturados. Tal conceito trata-se da quantidade máxima haja maior compreensão é que mesmo em cidades que neve
de eletricidade que o gerador pode fornecer continuadamente ainda há possibilidade de geração de energia elétrica através
e é comumente usados para medir a confiabilidade do do sistema solar. É verdade que o material de que as placas
fornecimento. Para fontes sem restrições de combustíveis, são feitas (Si) perde parte de sua eficiência quando se
como as usinas termelétricas, a energia firme é calculada encontra em temperaturas elevadas e trabalha no máximo
com base na capacidade instalada da planta e no seu fator de valor de eficiência quando encontra-se em temperaturas de -
indisponibilidade, que reflete as probabilidades de ocorrência 40 °C e 85 ºC.
de interrupções não programadas e de manutenções. Por O datasheet do CANADIAN SOLAR INC. especifica
outro lado, o conceito de energia firme é menos óbvio para exatamente as temperaturas anteriores como sendo a
fontes com restrição de combustíveis, caso dos geradores temperatura operacional do sistema solar em que se utilize
hidrelétricos, eólicos e, principalmente, de usinas solares painéis da própria marca, ou seja, temperaturas inferiores à -
fotovoltaicas. Esses geradores, além da indisponibilidade dos 40°C e maiores que 85ºC influenciam negativamente no
componentes, têm sua capacidade de produção de energia desempenho do painel, não sendo garantido a
restringida por fatores climatológicos [9]. No jargão do setor operacionalidade normal do equipamento a temperaturas fora
elétrico do Brasil, a energia firme anual é também conhecida dessa margem.
como garantia física do empreendimento de geração.
A informação citada anteriormente pode ser ilustrada
Considerando a geração de energia elétrica através usinas ainda pela Figura 12, compreendendo as situações de
hidrelétricas, considera-se que o fator limitante da geração é corrente e tensão quando há variação de temperatura sobre o
o volume da água, já que representa à vazão que pode ser painel solar da marca SunEdison.
liberada para assim gerar a energia elétrica. Diante disso,
vale ressaltar que os resultados apresentados por uma UHE
dependem significativamente de parâmetros como nível da
altura de queda d’agua na turbina, fatores de otimização do
uso da água nas usinas em cascata e questões relacionadas ao
uso múltiplo da água que podem interferir significativamente
na quantidade de energia produzida pelo empreendimento
hidrelétrico.
Portanto, nesses sistemas, o conceito de energia firme é
relacionado à capacidade de produzir energia em anos com o
pior cenário hidrológico de um histórico de medições. Esse
valor é comumente expresso em megawatts médios (MWm),
que denota o número de MWh entregue ao longo de um
número de horas [9]. Logo, espera-se que as mesmas sejam Figura 12: Corrente versus tensão com variação de
capazes de produzir, continuadamente, um montante de temperatura. (Fonte: SunEdison, 2015).
energia superior à sua energia firme.
Quando a energia gerada pela UHE é menor do que sua F. Benefícios inerentes a utilização de sistema fotovoltaico
garantia física, tem-se um déficit de geração hidrelétrico para flutuante em usinas hidrelétricas
aquele empreendimento. Dessa forma, define-se a Um dos objetivos de uma usina solar flutuante em alguns
hidrelétrica como ociosa, tendo em vista que deveria ter casos é produzir energia para o bombeamento de água que
capacidade de gerar um montante de energia maior do que será destinada a agricultura. Um ponto interessante é que o
foi efetivamente gerado em um determinado ano. ar mais frio na superfície ajuda a minimizar o risco de
superaquecimento dos painéis solares sendo de muita
Em resumo pode-se entender que uma hidrelétrica
utilidade no melhoramento da eficiência de geração de
possui ociosidade quando não consegue gerar o esperado, e energia elétrica a partir das placas, visto que, como citado
quando isso ocorre tem-se um comprometimento enorme a
anteriormente a curva entre temperatura e eficiência é MÊS GLOBAL DIRETA DIFUSA INCLINADA
inversamente proporcional, ou seja, maiores temperaturas
menor será a eficiência de geração da energia. Janeiro 5,38 2,51 2,58 5,08

É de conhecimento geral que o maior colapso de energia Fevereiro 5,35 2,62 2,57 5,19
elétrica no Brasil, parte da baixa quantidade de águas nos Março 5,07 2,28 2,83 5,11
reservatórios e rios que contém hidrelétricas instaladas. Fora
a energia gerada, a usina solar pode também diminuir a Abril 4,8 2,43 2,55 4,99
evaporação desses corpos d’água e reduzir a proliferação de Maio 4,99 3,01 2,33 5,34
algas.
Junho 4,66 2,87 2,19 5,06
G. Estudo da possibilidade de instalação de uma usina
Julho 5,05 3,37 2,08 5,45
solar flutuante disposta no Rio Mossoró
Irradiação solar da cidade de Mossoró Agosto 5,88 3,96 2,23 6,2
Para alcançar os dados de irradiação foi utilizado o Setembro 6,02 3,73 2,4 6,13
software RadiaSol 2, criado pelo laboratório de energia solar
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele utiliza Outubro 6,38 3,86 2,37 6,23
em sua programação modelos matemáticos que foram
Novembro 6,38 3,77 2,25 6,02
desenvolvidas pelos criados do programa. O software calcula
como se dá a distribuição da radiação incidente no local em Dezembro 5,91 3,21 2,28 5,5
função de várias variáveis do processo.
Determinação do ângulo de instalação dos painéis
No radiasol 2, utilizamos a localização de Mossoró – RN
para encontrar a radiação solar da cidade. É importante Como citado anteriormente, ao fornecimento da cidade
lembrar que, como padrão, o programa utiliza a base de na qual o sistema solar será instalado, o software utilizado
dados SWERA – Avaliação do Recurso da Energia Solar e fornece, a partir das coordenadas geográfica da cidade de
Eólica (do inglês Solar and Wind Energy Resource Mossoró (Latitude: -5.18804, Longitude: -37.3441 5° 11′
Assessment). Essa iniciativa aglomera dados de diversos 17″ Sul, 37° 20′ 39″ Oeste) a sugestão de inclinação
parceiros contribuintes, como NREL, NASA e INPE. dos painéis solares, podendo ser observado na Figura 14.
Mediante a escolha da cidade o software fornece dados
médios mensais, tais como: temperatura (mínima e
máxima), radiação (global e inclinada) e umidade relativa.
Ainda, fornece para o operador qual a inclinação ideal (de
melhor eficiência) dos módulos fotovoltaicos.
Por fim, os dados citados anteriormente são resumidos
Figura 14: Dados geográficos da cidade de Mossoró –
em gráficos de barra com unidade padrão de kWh/m² como
RN e sugestão de inclinação dos painéis. (Radiasol 2, 2020).
mostrado na Figura 13.
Determinação da área a ser instalada a usina solar
flutuante
Em Mossoró, tem-se como sendo o maior reservatório de
água, o Rio Mossoró, que também é conhecido como Rio
Apodi e banha todo o estado do Rio Grande do Norte. É o
segundo maior rio potiguar, ocupa uma área de 14.271 km² o
que corresponde a 27% do território estadual, com cerca de
210 km de extensão. Nasce na Serra de Luís Gomes, passa
pelos municípios localizados na chapada do Apodi e, depois
de banhar a cidade de Mossoró, deságua no Oceano
Atlântico, entre os municípios de Grossos e Areia Branca,
onde se situam grandes salinas. Contudo, apenas uma porção
foi selecionada para o estudo, conforme mostra a figura 15.

Figura 13: Irradiação Solar mensal da cidade de Mossoró


- RN. (Fonte: Radiasol 2, 2020).
Os dados mensais podem-se ser resumidos ainda na
Tabela 2, que apresenta detalhadamente os valores de
irradiação média para cada tipo de radiação na unidade
padrão de kWh/m².
Tabela 2: Representação numérica do gráfico da figura
13. (Fonte: Radiasol 2, 2020)
Tabela 3: Características elétricas do Módulo. (Fonte:
Datasheet Canadian Solar – modelo CS1U-395-405, 2018)

Característica Elétrica - STC Modelo


CS1U-395-405
Potência Máxima Nominal (Pmáx) 405W
Tensão de circuito aberto (Voc) 53,5V
Corrente de Curto Circuito (Isc) 9,65ª
Eficiência do Módulo 19,65%
Temperatura de Operação -40°C ~ +85°C

O painel selecionado tem dimensões de 2,078m de altura


por 0,992m de comprimento, totalizando uma área útil de
2,0614m² por painel, conforme a Figura 16 que está ilustrada
em mm.
Figura 15: Delimitação do projeto da usina solar flutuante
em Mossoró – RN. (Autor, 2020).
A porção selecionada para estudo tem uma área total de
4767,42m² e fica localizada próximo à praça Mossoroense,
que até então há pouca circulação de pessoas. O local
escolhido é próximo a instalações básicas de energia elétrica,
sendo assim, o custo com instalação de linhas aéreas para a
interconexão da usina com o sistema básico de energia será
mínimo.
Determinação dos Módulos
Como em qualquer projeto de usina solar, os painéis e
inversores devem seguir dois parâmetros além do custo, a
disponibilidade no mercado nacional e o atestado de
qualidade do equipamento frente a requisitos técnicos
suficientes para garantir o bom funcionamento.
Para que o equipamento seja comercializável em
território brasileiro, é obrigatório a certificação do
INMETRO, por meio da Portaria nº 004 de 4 de janeiro de
2011. Além de garantir que o equipamento cumpra todos os
parâmetros exigidos no tocante a segurança, os equipamentos
devem atender os requisitos do PBE – Programa Brasileiro
de Etiquetagem -. O INMETRO, ainda adota como
necessária a presença de um representante de cada fabricante
no país, de forma que esse possa ser responsável legal pela
comercialização em território nacional.
Portanto, para o presente trabalho, o módulo usado para o
dimensionamento e análise foi o CS1U-395-405, pertencente
a empresa canadense Canadian Solar. Os painéis da marca
possuem certificação do IMETRO e comercialização Figura 16: Dimensões físicas do painel escolhido. (Fonte:
permitida em todo o pais. Outro critério observado para sua Datasheet Canadian Solar – modelo CS1U-395-405, 2018).
escolha foi a certificação e grau de proteção IP, que são
O total de área disponível selecionada foi de 4767,42m²,
padrões internacionais definidos pela norma IEC 60529 para
por um cálculo básico, pode-se instalar 2312 módulos na
classificar e avaliar o grau de proteção de produtos
área, entretanto, devido a sinuosidade da área em questão,
eletrônicos fornecidos contra intrusão, poeira, contato
apenas 2000 unidades serão colocadas no estudo. A
acidental e água. Como exposto em seu datasheet, o painel
capacidade de geração de energia elétrica pode ser
da Canadian Solar possui certificação IP67 sendo ele
encontrada a partir da seguinte fórmula:
protegido contra poeira e resistente a um mergulho na água
de até 1 metro de profundidade, por 30 minutos. Apesar da 𝐺 = 𝐴 ∗ EFF ∗ Htot ∗ 𝑛 ∗ 𝑅
certificação, o sistema solar flutuante, em seu funcionamento
normal, não atua submerso a água e sim sob a lamina d’agua. Onde a variável G é energia solar fotovoltaica em
Os dados elétricos do módulo podem ser analisados a partir kWh/mês; A é a área útil de cobertura disponível em m²;
da Tabela 3. EFF é eficiência do módulo solar FV em %; HTot é
irradiação solar para o plano inclinado em kWh/m²/dia; n =
os dias de cada mês; R é rendimento do sistema em %.
Para construção da Tabela 4, adotou-se empiricamente, representando assim 75,6 GW a mais de capacidade instalada
um valor 80% para o rendimento do sistema. Através do no país. Desse valor, praticamente 50% será proveniente de
datasheet do fornecedor dos painéis observou-se que a fontes renováveis, não incluindo as usinas hidrelétricas e sim
eficiência dos módulos é de 19,65% para construção da usinas solares, eólicas, térmicas à biomassa e pequenas
seguinte tabela. A área de captura é o resultado da centrais hidrelétricas.
multiplicação da quantidade de painéis utilizados na usina
pela área unitária, que resulta em 4122,75m² (já O crescimento da energia solar fotovoltaica em planos
considerando a quantidade de painéis da fórmula). mundiais é visivelmente notável, contudo o Brasil segue o
fluxo mundial e aposta, em menor escala, nas energias
Tabela 4: Estimativa da geração mês a mês da usina. renováveis. É perceptível, que a ideia pode impulsionar o
(Autor, 2020) setor elétrico nacional a adoção de usinas fotovoltaicas
flutuante, em ambiente de extrema abundancia no território
Estimativa de nacional, reservatórios de água como as usinas hidrelétricas.
Htot
MÊS Dias Geração Além do aproveitamento do espaço ocioso, pode-se ainda se
(kWh/m²)
(kWh) utiliza das mesmas instalações elétricas já instaladas devido
Janeiro 5,38 31 108089,5 as usinas, tornando o sistema completo, hidrelétrica e solar
um sistema hibrido de geração de energia elétrica.
Fevereiro 5,35 29 100552,1
O aumento da geração de energia elétrica em um sistema
Março 5,07 31 101861,3 único que passa a ser hibrido com a implementação das
Abril 4,8 30 93325,87 usinas solares flutuantes acrescentam é apenas a “ponta do
iceberg”, isto é, a instalação do sistema solar aumentará por
Maio 4,99 31 100254 si só a eficiência dos painéis, gerando maiores quantidades
de energia, por estarem instaladas sob a água, que por
Junho 4,66 30 90603,86 consequência, terá a temperatura de operação reduzida.
Julho 5,05 31 101459,5 Outro benefício observado na utilização de usinas flutuantes
é a redução da evaporação da agua do corpo do reservatório.
Agosto 5,88 31 118135 O sistema será autossuficiente quanto à limpeza dos painéis,
Setembro 6,02 30 117046,2 pois poderá ser utilizado agua do próprio reservatório em que
os painéis fossem instalados.
Outubro 6,38 31 128180,5
Para o dimensionamento feito no presente trabalho, pode-
Novembro 6,38 30 124045,6 se observar um ganho no potencial energétrico da cidade de
Mossoró, acrescentando em seu sistema básico uma energia
Dezembro 5,91 31 118737,7 capaz de suprir a necessidade de mais de 700 residencias. É
importante salientar que o dimensionamento se utilizou de
apenas uma pequena porção de toda área útil em que se pode
Estima-se que o sistema com 2000 painéis solares ser instalada uma usina flutuante. Deve-se ainda entender
flutuantes instalados no Rio Mossoró gere uma média mensal que a construção de usina solar flutuante não está restringida
de 108524,26kWh. Uma pesquisa realizada pela apenas para situações de usinas hidrelétricas e sim para
Universidade Federal de Santa Catarina chegou a um valor qualquer tipo de situação que se tenha uma quantidade
médio de consumo em uma residência brasileira de razoável de área coberta por água e que se seja possível sua
152,2kWh/mês, sendo assim, pode-se a partir de um cálculo instalação e manutenção.
básico definir que a usina solar flutuante geraria energia
elétrica suficiente para suprir, um pouco mais de 710 Para trabalhos futuros pode-se dimensionar os parâmetros
residências mossoroenses. Vale ressaltar que o valor da do inversor, sistema de flutuação e sistema de ancoragem.
eficiência no sistema utilizado fora aproximado para um Além disso, pode-se realizar consultas a órgãos ambientais
menor valor que é igual ao utilizado em sistemas solares em para que seja feita a análise dos danos que podem ser
solo, entretanto, como mostrado no presente trabalho, causadas pela instalação da usina. Mesmo sendo de
sistemas flutuantes tendem a ser mais eficiente que sistemas conhecimento que o Rio Mossoró está improprio para o
instalados em terra firme. consumo, pesca e banho, vale a investigação dos danos já
que o sistema pode impedir a passagem dos raios solares até
o ecossistema natural do local.
III. CONCLUSÃO
Atualmente recentes mudanças climáticas vêm assolando
REFERENCES
e agravando secas na região Norte e Nordeste onde encontra-
se a maior parte das usinas hidrelétricas que compõe a bacia
do rio São Francisco, tal fato é o principal agravador da [1] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de
energia elétrica do Brasil. Brasília: ANEEL, 2002. 153 p.
queda de produção hidrelétrica aumentando a dependência
das termelétricas para garantir o fornecimento de energia no [2] ANTÓNIO M. V., M. C. B., \Meio Século de História Fotovoltaica",
Gazeta de Física, pp. 10-15, 2006.
âmbito nacional. Diante disto, o presente trabalho teve como
[3] ALVES, Raylton. ANA mantém testes de redução da vazão mínima
objetivo principal a explicação simplificada das novas liberada por Serra da Mesa (GO) até 3 de junho. 2018. Disponível em:
tecnologias implementáveis na geração de energia elétrica na <https://www.ana.gov.br/noticias/ana-mantem-testes-de-reducao-da-
utilização do efeito fotovoltaico. vazao-minima-liberada-pela-barragem-de-serra-da-mesa-go-ate-3-de-
junho>. Acesso em: 23 jan. 2020.
Como previsto no último PDE, o Sistema Interligado [4] AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Atlas de
Nacional expandirá em 55% entre 2014 e 2024, energia elétrica do Brasil. 3. ed. Brasília: ANEEL, 2008. 236 p.
[5] TRAPANI, K.; MILLAR, D. L. The thin film flexible floating PV Software Engineering and Its Applications, v. 8, n. 1, p. 75-84, 2014.
(T3F-PV) array: The concept and development of the prototype. ISSN: 1738-9984.
Renewable Energy, v. 71, p. 43–50, 2014. Citado na página 41. [8] ANDRIANOV, Alexey. Hydroelastic Analysis of Very Large
[6] TRAPANI, K.; SANTAFÉ, M. R. A review of floating photovoltaic Floating Structures. Delft, Países Baixos: Delft University of
installations: 2007-2013. Prog. Photovolt: Res. Appl., v. 15, n. Technology, 2005.
February 2013, p. 659–676, 2014. Citado 5 vezes nas páginas 33, 35, [9] FARIA, E. et al. Allocation of Firm-Energy Rights Among Hydro
36, 38 e 41. Plants : An Aumann – Shapley Approach. IEEE Transactions on
[7] CHOI, Y.-K. A Study on Power Generation Analysis of Floating PV Power Systems, v. 24, n. 2, p. 541–551, 2009. Citado na página 43.
System Considering Environmental Impact. International Journal of

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