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Fundações Superficiais em
Aerogeradores: Requisitos
de Projeto e Parâmetros
Dinâmicos dos Solos
A figura 1 ilustra o mapa de potenciali- deste do Brasil, com destaque para o
Alfran Sampaio Moura dades de energia eólica no Brasil, onde Ceará, que apresenta valores para a
Universidade Federal do Ceará – UFC observa-se as elevadas velocidades velocidade média anual, nas áreas mais
alfransampaio@ufc.br
médias do vento de estados do Nor- favoráveis do litoral, de cerca de 8 m/s.
Renato Pinto da Cunha
Universidade de Brasília (UnB)
rpcunha@unb.br
(1)
Figura 4 – Exemplos de casos de insucessos de obras pela inadequada verificação dos requisi-
tos de projeto
a. Prédio tombado na China (Site Gizmodo, 2011)
Onde V é a força vertical, B o lado b. Tombamento de um aerogerador (Milititsky et al., 2008)
da base da fundação e ec a excen-
tricidade. uma escavação indevida e a ocor- de de oscilação máxima e que ocorre
rência de chuvas intensas (veja figu- quando a frequência de excitação se
Nos aerogeradores, o esforço hori- ra 4a). No segundo caso (veja figura iguala a frequência natural.
zontal pela ação do vento, em geral 4 b) é mostrado o tombamento de Os valores limites das amplitudes de
é elevado e tem-se a ocorrência de um aerogerador. deslocamento estão associados à fre-
tensões negativas indesejadas que Para fundações de máquinas, que é o quência do movimento e são forneci-
podem ser limitadas pelo aumento caso das fundações dos aerogerado- dos pelos próprios fabricantes das má-
de suas dimensões em planta. Devido res, deve-se acrescentar a estes ou- quinas. A figura 5 mostra a relação entre
a isso, observa-se a redução das ten- tras duas verificações: a amplitude de a amplitude e a frequência de vibração
sões máximas aplicadas que eleva o oscilação não deverá ultrapassar cer- sugeridos por Richart et al. (1970).
fator de segurança quanto à ruptura tos limites e a frequência de oscilação Já a frequência de vibração das funda-
do solo por compressão. do conjunto máquina-fundação-solo ções pode ser estimada por métodos
A figura 4 ilustra dois casos cujos re- deverá estar distanciada da frequên- empíricos, métodos que consideram
quisitos mencionados não foram ade- cia de operação da máquina, em ge- o solo como um semiespaço elásti-
quadamente verificados. O primeiro ral da ordem de 20 a 50%, para evitar co, métodos que consideram o solo
deles é um prédio de 13 andares, na ressonância, que é um fenômeno ca- como um conjunto de molas lineares
China, que tombou por inteiro, após racterizado pela presença da amplitu- sem peso e os métodos numéricos.
68 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS
é analítico e admite a hipótese de pe-
quenas deformações necessária para
se considerar a elasticidade linear dos
solos, e considera a perda de energia
no maciço de solo por efeito de amor-
tecimento, baseando-se na teoria da
propagação de ondas em um meio
elástico, admitindo diversas hipóte-
ses simplificadoras para facilitar a re-
solução matemática do problema.
A representação mais simples de uma
estrutura é feita a partir de modelos
matemáticos de um grau de liberda-
de (veja figura 7 na página seguinte).
Nele permite-se o movimento apenas
numa direção. Dessa forma, apenas
uma coordenada é necessária para
definir totalmente a posição de uma
determinada massa considerada con-
centrada. Essa massa é submetida a
um carregamento externo, F(t), que
varia no tempo e que produz a res-
posta do sistema.
Os componentes de um sistema de
um grau de liberdade são: uma mas-
sa, as propriedades elásticas, os me-
Figura 5 – Limites de amplitude de deslocamento (Richart et al., 1970) canismos de amortecimento e a fonte
externa de carregamento. A mola, de
As fundações superficiais de máqui- Estimativa da rigidez k, sem peso, fornece a resis-
nas podem ser agrupadas nos se- frequência e tência elástica ao deslocamento, e o
guintes tipos: maciças, tipo caixão, amplitude de amortecedor, c, representa a dissipa-
tipo parede, em que duas paredes vibração ção de energia.
suportam a máquina, e as aportica- Dentre os principais métodos que
A teoria do semiespaço elástico es-
das, que são pórticos transversais consideram o solo como um semies-
tuda as vibrações de uma fundação
travados por vigas longitudinais (veja paço elástico pode-se citar os propos-
rígida vibrante na superfície de um
figura 6). A utilização das alternativas semiespaço de dimensões infinitas, tos por: Hsieh (1962), Lysmer e Richart
citadas permite alterar a inércia dos homogêneo e isótropo, cujas relações (1966) e Nagendra e Sridharan (1981).
elementos, modificando também a tensão-deformação são definidas por Cada um desses métodos apresenta
frequência de oscilação do sistema duas constantes: o módulo cisalhante expressões análogas às expressões
máquina-fundação-solo. e o coeficiente de Poisson. O método dos movimentos livres e forçados,
A B C D
Figura 7 – Representação esquemática de um sistema com um grau de liberdade As laçadas obtidas dos ensaios cícli-
cos apresentam o aspecto ilustrado
cujas soluções permitem obter fre- Deve-se observar que as estimativas na figura 8. Nela, o G é dado pela in-
quências, natural e amortecida, e as das frequências e das amplitudes de- clinação da reta que une os extremos
amplitudes de vibração. pendem diretamente dos parâmetros da laçada e observa-se que o valor de
G e u que são denominados de parâ- G é diferente de acordo com o nível
Por exemplo, a proposta de Lysmer
metros dinâmicos dos solos. de deformação cisalhante (G1,G2).
e Richart (1966) relaciona os méto-
dos que consideram o solo como um As dificuldades na amostragem de so-
semiespaço elástico com o sistema los indeformados em profundidade
Parâmetros são bastante conhecidas (Murthy et al.,
oscilante amortecido, propondo a se-
dinâmicos dos solos 1991) e apontam para a utilização de
guinte equação para o movimento de
uma fundação de máquina circular rí- Devido à pequena sensibilidade do ensaios de campo. Em campo, o módu-
gida de raio (ro) apoiada na superfície coeficiente de Poisson em problemas lo de deformação cisalhante (G) dos so-
de um semiespaço elástico: geotécnicos, é prática comum a ado- los pode ser determinado por ensaios
ção de um valor de u com base no tipo que aplicam ao solo grandes defor-
de solo e uma atenção especial é dada mações, como sondagens a percussão
(2) apenas na caracterização de G (Mor- (SPT), ensaios de cone (CPT) e ensaio
gan e Moore, 1968; Kramer, 1996). pressiométrico (PMT), ou ensaios de
pequeníssimas deformações, que são
O módulo de deformação cisalhante
Onde m é a massa da fundação mais a os ensaios sísmicos (Cross-hole, Up-
(G) pode ser determinado diretamen-
máquina e Q é a força de excitação. hole, Down-hole e CPT sísmico).
te em gráficos tensão cisalhante (t)
versus deformação cisalhante (g), em Vários fatores afetam o módulo
A equação (2) é análoga a de um mo- geral obtidos de ensaios cíclicos de de deformação cisalhante (G) dos
vimento forçado. Dessa forma, pelo
método, as constantes elásticas (k) de
amortecimento (c) são as seguintes:
(3)
(4)
Substituindo as equações de kz e c
nas soluções das equações dos mo-
vimentos livres e forçados, pode-se
determinar as frequências, natural (fn)
e amortecida (fn’), e as amplitudes de Figura 8 – Laçadas de histerese para diferentes amplitudes de deformação (Fahey, 1992, com
vibração da fundação (Az). modificações)
Considerações finais
Projetos de fundações de máquinas,
que é caso das fundações de aero-
geradores, devem incluir nos seus
requisitos, além da verificação dos
Tabela 1 – Faixas de deformação dos ensaios de campo e laboratório mais utilizados para a
requisitos convencionais, a verifica-
determinação do módulo de cisalhamento (Barros, 1997 com modificações) ção da amplitude de oscilação e a