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CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA –

UNISUAMCENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

Pedro Gabriel Benevenuto Silva Costa

RECUPERAÇÃO JUDICIAL:
UMA ANÁLISE DO INSTITUTO SOBRE A ÓTICA DO LEGÍTIMO
BENEFICIÁRIO.

Rio de

JaneiroAno

2021
CENTRO UNIVERSITÁRIO AUGUSTO MOTTA –
UNISUAMCENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

Pedro Gabriel Benevenuto Silva Costa

RECUPERAÇÃO JUDICIAL:
UMA ANÁLISE DO INSTITUTO SOBRE A ÓTICA DO LEGÍTIMO
BENEFICIÁRIO.

Artigo científico apresentado ao Curso


deBachareladoemDireitodoCentrodeCiência
sSociaiseAplicadasdoCentroUniversitário
Augusto Motta - UNISUAMcomo requisito
parcial para a aprovação nadisciplina
Orientação em Monografia, sob aorientação
do Prof. João Ricardo De Oliveira.

Rio de

JaneiroAno

2021
Pedro Gabriel Benevenuto Silva Costa

RECUPERAÇÃO JUDICIAL:
UMA ANÁLISE DO INSTITUTO SOBRE A ÓTICA DO LEGÍTIMO
BENEFICIÁRIO.

Artigo científico apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito do Centro de Ciências


Sociais e Aplicadas do Centro Universitário Augusto Motta - UNISUAM como requisito
parcial para a aprovação na disciplina Orientação em Monografia, obtendo pela banca
examinadora assim composta:

Prof.
Orientador: João Ricardo De Oliveira

Prof.

Prof.
RESUMO:

O presente artigo tem como objetivo expor a efetividade do instituto da Recuperação


Judicial no ordenamento jurídico brasileiro. Para isso, é realizada uma análise das
inovações trazidas pela Lei 11.101/2005, em conjunto com o conceito da Recuperação
Judicial, os princípios que a norteiam o referido instituto, bem como, a efetividade na
superação da crise economica da empresa, impedindo a decretação de sua falência. Sendo
assim, o presente trabalho expressa a importância não apenas sobre os objetivos dos sócios
da empresa, mas sim de toda sociedade como, de seus empregados, seus fornecedores e
credores em geral. Em suma, a presente pesquisa visa expor os beneficio e a importancia
que a Recuperação Judicial tem para as empresas em crise, planejando a reestruturação e a
superação da crise, seja ela econômica, patrimonial ou financeira, tendo em vista os
princípios norteadores para efetivação.

Palavras-chave: Recuperação Judicial; Instituto da Recuperação de Empresas;


Princípios Norteadores; Processo judicial.

ABSTRACT:
This article aims to expose the effectiveness of the Judicial Reorganization institute in the
Brazilian legal system. For this, an analysis of the innovations brought by Law
11.101/2005 is carried out, together with the concept of Judicial Reorganization, the
principles that guide the aforementioned institute, as well as the effectiveness in
overcoming the company's economic crisis, preventing the decree of its bankruptcy. Thus,
this work expresses the importance not only of the objectives of the company's partners,
but of the entire society, as well as its employees, suppliers and creditors in general. In
short, this research aims to expose the benefits and importance that the Judicial
Reorganization has for companies in crisis, planning the restructuring and overcoming the
crisis, whether economic, equity or financial, in view of the guiding principles for
effectiveness.

Keywords: Judicial recovery; Business Recovery Institute; Guiding Principles; Judicial


process.
INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem como finalidade a análise da lei 11.101/05, que consiste
no instituto da Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falências. Refere-se ao instrumento
legal onde o objetivo corresponde à solução para empresas em crise econômica.
A referida lei propende a ser bem acolhida no campo empresarial, considerando
que os empresários são efetivamente atingidos no que tange as crises econômicas e por
isso são amparados pelo referido dispositivo, fazendo uso dos benefícios adquiridos por
meio do instituto.
Salienta-se que o presente artigo visa o estudo sobre a inovação da lei e relatando
seus principais aspectos. Objetivando ainda o entendimento da legislação, expondo que
se trata de um dispositivo com intuito lesto e proveitoso em que os empresários em
recuperação ou em fase de falência possuam o melhor suporte possível, e
conseqüentemente mantendo a base de geração de empregos.
Por fim, o trabalho apresentado evidencia que a falência ou fim da atividade
empresarial pode resultar em efeitos trágicos, e por esse motivo o direito falimentar
demonstra o cuidado em preservar as empresas que estão em situação de desequilíbrio
econômico, mas que demonstram competência em se restabelecer e se manter no
mercado.
Neste caso, o presente trabalho tem como escopo ratificar a efetivação da lei no
âmbito jurídico, sobre a ótica da redução da falência das empresas, protegendo os planos
judiciais e extrajudiciais, possuindo como finalidade a reestruturação do empresário, do
novo sistema da lei, discorrendo sobre as imposições que são essenciais para o bom
funcionamento do mecanismo institucional.
AGRADECIMENTO

É com extrema satisfação que agradeço primeiramente a Deus, pela força que tem me
dado nesses cinco anos extremamente difíceis para o êxito na graduação. Agradeço ao
meu Pai, pelo apoio essencial nos momentos que mais precisei. Ao meu namorado
Felipe Alexandre pelo apoio imensurável, e por estar presente com sua sabedoria nos
momentos mais importantes. A Larissa Monção por ser meu exemplo de ser humano e
dedicação, força e garra, aconselhando-me sempre para nunca desistir e continuar
seguindo em frente todos os dias. Agradeço de todo coração minha querida prima
Gleyce Brito, por todo suporte oferecido em meus estudos e vida pessoal, por acreditar
sempre no meu potencial, e pela presença em todos os momentos em que mais careci de
compreensão. Ao meu querido coordenador João Ricardo De Oliveira por toda estrutura e
paciência com a criação do meu artigo. Por fim, agradeço todos os meus familiares e
amigos que contribuíram de alguma forma para realização deste trabalho.
1. DIFERENÇA ENTRE EMPRESA E EMPRESÁRIO

Conforme elucida a teoria da empresa, diante do entendimento de diversos


doutrinadores, é possível expor que, empresa trata-se de uma atividade econômica
organizada, onde a prática deve ser destinada a produção ou serviços com fim lucrativo.
Assim como discorre Fábio Ulhoa Coelho (2015, p. 34):

Conceitua-se empresa como sendo atividade, cuja marca essencial é a


obtenção de lucros com o oferecimento ao mercado de bens ou serviços,
gerados estes, mediante a organização dos fatores de produção (força de
trabalho, matéria-prima, capital e tecnologia).

Por conseguinte, houve juristas que apoiaram a tese sobre a qual direcionava o
conceito de empresa exclusivamente à área econômica. Portanto, as divergências de
doutrinas evidenciaram a prevalência sobre a idéia de que a definição jurídica de empresa
se define juntamente ao conceito econômico.
Em concordância Marlon Tomazette (2009, p.36), expõe:

Por tratar-se de um conceito originalmente econômico, alguns autores


pretendiam negar importância a tal conceito, outros pretendiam criar um
conceito jurídico completamente diverso. Todavia, os resultados de tais
tentativas se mostraram insatisfatórios, tendo prevalecido a ideia de que
o conceito jurídico de empresa se assenta nesse conceito econômico,
pois o fenômeno é o mesmo econômico, sociológico, religioso ou
político, apenas formulado de acordo com a visão e a linguagem da
ciência jurídica.

Já no que se refere ao conceito de empresário, o Código Civil Brasileiro de 2002,


reconheceu categoricamente a teoria da empresa em seu artigo 966, vejamos:

Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços. Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda
com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da
profissão constituir elemento de empresa.

Entende-se que empresário é o sujeito que cumpre profissionalmente com uma


determinada prática que seja definida como empresa. Logo, cabe ressaltar que
estabelecimento comercial conforme exposto no artigo 1.142 do Código Civil é
considerado como: “estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício da
empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.”
Neste ínterim, note-se que a definição legítima estabelece três subsídios
fundamentais, o aspecto do empresário, que constituem na atividade profissional, a
organização e a economicidade da atividade praticada. Friza-se que o aspeto profissional
se define pela atividade reiterada e permanente, ou seja, atividade não ocasional da
empresa.
Com relação à organização do serviço, conforme elucida Ricardo Negrão (2003,
p.48), “a organização estaria presente quando para o exercício da atividade o indivíduo
utilizasse trabalho alheio e capital próprio e alheio”. Já no que consiste a economicidade, o
referido autor expõe que, “criação de riquezas de bens ou serviços patrimonialmente
valoráveis, com vistas à produção ou à circulação de bens ou serviços”.

2. O INSTITUTO DA RECUPERAÇÃO DE EMPRESA

O instituto da recuperação judicial de empresas foi efetivado mediante Lei nº


11.101/2005, que ocasionou na revogação do Decreto-Lei nº 7.661/1945, que tinha como
causa primordial retirar do mercado o comerciante afetado por problemas financeiros ou
econômicos, estando completamente obsoleto no que diz respeito à atual ordem
econômica do país.
Em 2005, no sistema jurídico brasileiro, existia a concordata preventiva e
suspensiva, motivo pelo qual é possível alegar que no Brasil a recuperação judicial é uma
derivação da concordata.
A legislação revogada tinha como objetivo principal o aniquilamento do
patrimônio do devedor, sendo a forma de promover satisfação ao credor. Diante disso, a
Lei nº 11.101/2005, dispõe sob uma visão que indaga a recuperação da empresa que está
em crise.

“Por isso a recuperação da empresa não se esgota na simples satisfação


dos credores, como a falência. É uma tentativa de solução para a crise
econômica de um agente econômico, enquanto uma atividade
empresarial. Isso ocorre porque a recuperação tem por objetivo principal
proteger a atividade empresarial – as empresas – não somente o
empresário (empresário individual ou sociedade empresária)”.
(TEIXEIRA, 2017, p.431)

A recuperação de empresa trata-se de um mecanismo que visa o acordo entre


credores para realização de pagamento de dívidas, com a finalidade de impedir a falência
da empresa.
Assim, o artigo 47 da Lei 11.101/2005, relata expressamente os objetivos do
instrumento jurídico em questão:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação


da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir
a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.
O instituto da recuperação de empresas refere-se ao artifício legal estabelecido
para restaurar o bom funcionamento sobre as empresas com dificuldades econômicas,
visando de fato a garantia de empregos vigentes e os interesses dos credores,
consumidores e o próprio empresário.
Cabe mencionar que o instutuo concerne em uma sequência de atos realizados sob
o respaldo judicial, com intuído de restaurar e manter o bom funcionamento da empresa.
Com isso, o judiciário possui o dever de gerir a aplicabilidade dos procedimentos legais,
para que assim seja possível viabilizar a recuperação econômica da sociedade.
Salienta-se que a recuperação de empresas não se trata de um mecanismo
designado para todos em empresário sob crise econômica, mas refere-se a uma
possibilidade legal apenas para empresas que prove dificuldades temporais, além de serem
economicamente capazes.
Assim, cabe ao ordenamento jurídico equilibrar a matéria, visando impossibilitar o
risco assumido pelo empresário para que não seja compartilhado com terceiros como os
fornecedores e instituições financeiras.
Rachel Sztajn (2004. p 159) elucida:

A imputação da atividade empresarial parece estar relacionada à


assunção de riscos, à possibilidade de perda da riqueza investida no
exercício da atividade da empresa. Risco é inerente à atividade
empresarial e perder ou ganhar faz parte dela. Entretanto, é preciso
distinguir, por serem distintas, as pessoas do empresário, organizador
dos fatores da produção, das dos investidores, aqueles que aportam
recursos financeiros para a organização empresarial.

A insolvência empresarial se trata de cenário extremamente possível para todos os


aqueles que exercem atividade empresarial, no entanto, para que haja a possibilidade da
recuperação judicial, alguns requisitos devem ser obedecidos, conforme especificados no
artigo 50 da Lei 11.101/2005.

2.1. PRINCÍPIOS NORTEADORES

É de suma importância a analise dos princípios norteadores sobre o instituto


jurídico da recuperação de empresa, sendo incontestável o impacto social sobre as
questões acadêmicas, processuais e econômicas, visto que, os princípios detêm formas
fundamentadas para resolução dos contratempos evidenciados pela empresa que deseja
evitar a crise financeira. Com isso, instituto possui princípios onde constitui o resultado da
sólida evolução doutrinária.

Sendo assim, os princípios norteadores do processo de recuperação judicial de


empresa têm como objetivo auxiliar o magistrado sobre as decisões tomadas,
com finalidade de possibilitar o desenvolvimento da empresa economicamente
acessível com a clareza da função sócia necessária.

2.1.1. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA

Para instauração do presente estudo é necessário observar um dos conceitos mais


consideráveis no instituto da recuperação, no qual é denominado como princípio da
preservação da empresa. Nelson Nones (v. 12, n. 23, p. 114, 2008) discorre:

Do ponto de vista conceitual, o princípio da preservação da empresa é


um princípio geral de direito de aplicação prática que tem por escopo
preservar as organizações econômicas produtivas, diante do prejuízo
econômico e social que a extinção de uma empresa pode acarretar aos
empresários, sociedades empresárias, trabalhadores, fornecedores,
consumidores e à Sociedade Civil. Trata-se, portanto, de um princípio
jurídico geral a ser aplicado pelo Poder Judiciário aos casos concretos
para garantir a continuidade da empresa por sua relevância
socioeconômica.

Do mesmo modo, João Pedro Scalzilli, Rodrigo Tellechea e Luis Felipe Spinelli
(2016) explicam que o princípio da preservação da empresa concerne como peça essencial
na Lei de Recuperação de Empresas, considerando primordialmente a importância da
sociedade para a economia de mercado onde executa o importante papel na função social.
Visto que, ao realizar a atividade esperada em seu objeto social e ao alcançar o lucro,
proporciona ações econômicas com outros agentes de mercado, quer seja vendendo,
construindo, pagando tributos, gerando empregos, movimentando a economia,
desenvolvendo o corpo social em que está implantada, entre outros.
É possível extrair deste conceito o significante prestígio que possui o princípio da
preservação da empresa. Sendo necessário observar que o principal tópico refere-se ao
trabalho que a atividade empresarial gera e os empregos diretos e indiretos que lhe
proporciona, e assim gerando conseqüentemente, tributos ao governo, tanto na esfera
federal, estadual como também municipal.
Contudo, o conflito de competência tombado sob o nº 110392, o Supremo Tribunal
Federal, em decisão certeira, abrandou a norma que exclui o credor fiduciário de bem
imóvel dos efeitos da recuperação, tendo em vista a função social da empresa e sua
utilidade de preservação, diante do pleito de recuperação judicial em curso tendo em vista
ser o bem dado em garantia de grande necessidade para a conservação da atividade:

“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. IMISSÃO DE POSSE NO JUÍZO


CÍVEL. ARRESTO DE IMÓVEL NO JUÍZO TRABALHISTA.
RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM CURSO. CREDOR TITULAR DA
POSIÇÃO DE PROPRIETÁRIO FIDUCIÁRIO. BEM NA POSSE DO
DEVEDOR. PRINCÍPIOS DA FUNÇÃO SOCIAL DA
PROPRIEDADE E DA PRESERVAÇÃODA EMPRESA.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO. 1. Em regra, o
credor titular da posição de proprietário fiduciário de bem imóvel (Lei
federal n. 9.514 /97) não se submete aos efeitos da recuperação judicial,
consoante disciplina o art. 49, § 3º, da Lei 11.101/05.2. Na hipótese,
porém, há peculiaridade que recomenda excepcionar a regra. É que o
imóvel alienado fiduciariamente, objeto da ação de imissão de posse
movida pelo credor ou proprietário fiduciário, é aquele em que situada a
própria planta industrial da sociedade empresária sob recuperação
judicial, mostrando-se indispensável à preservação da atividade
econômica da devedora, sob pena de inviabilização da empresa e dos
empregos ali gerados.3. Em casos que se pode ter como assemelhados,
em ação de busca e apreensão de bem móvel referente à alienação
fiduciária, a jurisprudência desta Corte admite flexibilização à regra,
permitindo que permaneça com o devedor fiduciante "bem necessário à
atividade produtiva do réu" (v. REsp 250.190-SP, Rel. Min. ALDIR
PASSARINHOJÚNIOR, QUARTA TURMA, DJ 02/12/2002).4. Esse
tratamento especial, que leva em conta o fato de o bem estar sendo
empregado em benefício da coletividade, cumprindo sua função social (
CF , arts. 5º , XXIV , e 170 , III ), não significa, porém, que o imóvel
não possa ser entregue oportunamente ao credor fiduciário, mas sim que,
em atendimento ao princípio da preservação da empresa (art. 47 da Lei
11.101 /05), caberá ao Juízo da Recuperação Judicial processar e julgar a
ação de imissão de posse, segundo prudente avaliação própria dessa
instância ordinária.5. Em exame de conflito de competência pode este
Superior Tribunal de Justiça declarar a competência de outro Juízo ou
Tribunal que não o suscitante e o suscitado. Precedentes. 6. Conflito
conhecido para declarar a competência do juízo da 2ª Vara Cível de
Itauquaquecetuba – SP, onde é processada a recuperação judicial da
sociedade empresária”.

Destaca-se que a empresa corresponde muito mais que meramente uma fonte de
trabalho, mas sim, rendas tributárias, que se transformam em beneficio para a sociedade,
impulsionando o mercado de concorrência, estabelecendo variáveis opções de escolhas de
produtos e serviços.
Portanto, o legislador tratou de positivar o principio da preservação no artigo 47°da
lei 11.101/2005, no qual tem como finalidade a preservação da empresa para proteção dos
trabalhadores, da sociedade, e não somente os seus sócios.

2.1.2 FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

É possível observar que a empresa possui um papel social de extrema relevância,


pois motiva a criação de empregos, o que resulta ao desenvolvimento econômico nacional.
Para o doutrinador MAGALHÃES (2009, p. 8 – 9), a função social surge, no
Estado moderno, com o intuito de limitar o interesse individual e assegurar o interesse
coletivo. Para a sociedade empresaria, é atribuído o exercício de uma função social,
quando assiste não só os interesses dos sócios, mas de toda coletividade.
BESSA (2006. p. 102) alega:
Pensar a função social da empresa implica, assim, posicionar-se a
empresa em face da função social da propriedade, da livre-iniciativa
(autonomia privada de empreender) e da proporcionalidade (equilíbrio
na consecução de interesses privados diante das necessidades sociais).

Em primeiro lugar, o objetivo de uma empresa tem como principal base a


lucratividade, todavia, de acordo com o pilar da Função Social da Propriedade, o
empresário deverá empenhar-se nos interesses sociais e não apenas em quesitos lucrativos.
Neste sentido Alexandre Husni (2007, p. 73) pondera:

A função social da empresa deve ser exercida em prol do cidadão e


observando-se os demais preceitos de ordem pública, tais como a
proteção do consumidor, a valorização do trabalho e da dignidade
humana, além da defesa do meio ambiente. Quando a empresa passa a
extravasar o seu objeto social e a atuar também na busca da melhoria da
qualidade de vida e do desenvolvimento sustentável, de forma
organizada, dirigida e harmônica, a função social plena será a resultante.

Sendo assim, é possível entender que a Função Social da Empresa deverá respeitar
sua propriedade (livre iniciativa) e deve observar as condutas necessárias para o bem-estar
da comunidade que depende dela, e assim defender os interesses lucrativos.

2.1.3 VIABILIDADE DA EMPRESA

A fim de possibilitar a superação da crise econômica, permitir o amparo sobre a


produção, resguardar os empregos, os trabalhadores, os interesses dos credores, a
preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica, o princípio
da viabilidade verificará as condições para que a empresa possa sustentar a recuperação
judicial.
Para que seja possível a implantação da recuperação judicial, é necessária a
verificação de pressupostos que devem estar constados para que a recuperação da empresa
possa ser expressamente viável, sendo indispensável a análise do princípio da viabilidade.
Cabe aludir, que este princípio é caracterizado como um dos mais importantes para
o deferimento da recuperação judicial, FAZZIO JÚNIOR, 2005. p. 165 dispõe:

Determinar o processamento da recuperação não significa deferimento


do pedido. É o marco inicial do exame do pedido de recuperação judicial
ofertado pelo devedor. Em outras palavras, o despacho de processamento
inaugura o procedimento verificatório da viabilidade da proposta para
que se conclua sobre sua aprovação, como foi formulada ou modificada,
ou sua rejeição e conseqüência falência do devedor.
De acordo com Fábio Ulhoa (2015, p. 397), o princípio da viabilidade aponta
como fundamental para sua análise no deferimento da recuperação judicial, a empresa que
contenha os seguintes requisitos: ter uma importância social relevante para sua
recuperação; ter mão-de-obra e tecnologia empregadas; volume do ativo superior do
passivo; tempo de vida da empresa; e possuir o porte econômico.
Portanto, a empresa que não possuir essas características, para nova lei de
falências, será impossível para constituir o processo de recuperação judicial, cabendo
apenas a falência.

2.1.4 PRINCÍPIOS DA TRANSPARÊNCIA E DA LEALDADE

O referido princípio no processo de recuperação oferece à empresa a possibilidade


de renegociação de sua dívida com os credores, para que estes possam analisar se o plano
de recuperação inicialmente apresentado possui real embasamento, com intuito de evitar a
falência.
Roseli Rego dos Santos aponta que:

“A transparência é mais do que a obrigação de informar, é o desejo


de transmitir para todas as partes interessadas as informações que
sejam de seu interesse e não somente aquelas determinadas pela
legislação. Essa transparência gera um clima de confiança interna
e externa e, não deve se restringir aos aspectos econômico-
financeiros, mas outros fatores que balizam a gestão empresarial e
criam valor para a sociedade”.

O princípio da transparência e da lealdade conjuntamente visto pela ótica da Lei


11.101/05, é reconhecido pela exigência no deferimento da pretensão à recuperação de
empresas, onde é necessária a inexistência de ato fraudulento, má-fé, ou crime falimentar.
Conclui-se que a base do principio da lealdade é o dever de o empresário preservar
corretamente todo o registro, arquivo e documentos necessários para funcionamento da
atividade empresarial.

2.1.5. PRINCÍPIO DA PARIDADE DOS CREDORES

Este princípio é fundamental no direito falimentar, sendo apontado do mesmo


modo na recuperação judicial e extrajudicial com o objetivo de reduzir os prejuízos dos
credores. O princípio da Paridade dos Credores está relacionado com a viabilidade em
sanar todas as dívidas da empresa com seus credores, de forma equitativa, possibilitando
utilizar o patrimônio do devedor.
De acordo com Sampaio de Lacerda, entende-se que o concurso de credores é um
processo igualitário, porém, não simboliza que a igualdade dos credores seja absoluta,
tendo em vista que os mesmos devem ser isonomicamente tratados dentro da classe a que
pertencem. Cabe mencionar que a falência não altera os direitos materiais dos credores,
mas determina que sejam assegurados de que cada credor adquira aquilo que legalmente
lhe é justo.
Portando o princípio da igualdade não significa isonomia total, pois é permitida a
criação de categorias de credores com observância de critérios legais e objetivos.

3. O OBJETIVO DA LEI 11.101/2005, E OS OBENEFICOS POR ELA


OFERECIDOS.

Como relatado no início do artigo aqui exposto, a Lei 11.101/2005 possui como
objetivo a superação da instabilidade financeira do devedor, possibilitando a continuidade
da produção, a permanência dos trabalhadores e as ocupações dos credores,
Oportunizando a preservação da empresa, assim como a função social e a atividade
econômica. Conforme expõe Fábio Ulhoa Coelho (2012, p. 403):

Cada país tem encontrado respostas próprias à questão da recuperação


judicial das empresas. Há os eu procuram criar mecanismos preventivos
(direito francês), enquanto outros só tratam da reorganização da
atividade falida (alemão). Há os que se limitam a criar um ambiente
favorável à negociação direta entre os envolvidos (norte americano) e
também os que determinam a intervenção judicial na administração da
empresa em dificuldade (italiano).

Com a mesma finalidade do antigo instituto da concordata, a recuperação judicial


visa recuperar economicamente a empresa, porém para adquirir o benefício da
recuperação judicial não basta que a empresa possua poder econômico para sua
reconstrução, mas é preciso que tenha também importância social, como já dito
anteriormente, que valha a pena para a sociedade brasileira arcar com o ônus de sua
recuperação (COELHO, 2012).
Quanto aos benefícios que compõe o instituto da recuperação de empresa, é
importante mencionar que a segurança jurídica e os aspectos previstos na Lei de
Falências e Recuperações de Empresas (lei 11.101/05) são muito superiores à antiga
concordata, que era o instituto similar previsto no antigo decreto-lei 7.661/45.
Primeiramente, a Recuperação Judicial impede a decretação de falência da
empresa, que poderá acontecer diante da tardança nos pagamentos à rede de
fornecedores de bens e créditos das empresas. Além de obstar a falência, há a suspensão
imediata de todas as ações e execuções movidas contra a empresa, inclusive com a
inexigibilidade das dívidas futuras. A empresa adquire 180 dias para apresentar um
Plano de Recuperação para pagamento de seu passivo, onde possibilita tal pagamento de
maneira diluída e com deságio.
Desta forma, a recuperação judicial representa uma oportunidade para a empresa
sobreviver a momentos de crise, com respaldo na lei, tratando-se de benefício não apenas
para o empresário, mas sim, para a sociedade em geral.

4. COVID-19 E RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Diante do momento atual, onde perdura o cenário da pandemia do Covid-19, é


importante mencionar o grande impacto sofrido por diversas empresas que tiveram suas
economias suspensas e conseqüentemente afetadas por conta de decretos expedidos para
paralisação dos serviços não essenciais. Logo, presume-se o aumento significativo nos
pedidos de recuperação judicial, principalmente sobre pequenas e médias empresas,
notavelmente as mais afetadas por conta do seu menor fluxo na entrada de capital.
Segundo os dados divulgados pelo site, Âmbito Jurídico, cerca de 600 mil micros e
pequenas empresas fecharam e 09 milhões de pessoas foram demitidas, em decorrência da
instabilidade econômica mundial ocasionada pela pandemia da covid-19.
As dificuldades econômicas que atacam as empresas podem provocar danos
irreversíveis, podendo acarretar em até mesmo no encerramento de suas atividades de
forma definitiva ou até mesmo a insolvência.
Sendo assim muitas empresas que estavam em recuperação judicial e não
conseguiram honrar com o referido plano, não obtiveram outro artifício que não fosse
decretar falência.
O Conselho Nacional de Justiça expõe algumas recomendações para o
enfretamento da pandemia:

No total, são seis orientações aos tribunais. A primeira trata da


priorização, nas ações de recuperação empresarial e falência, da análise
de decisões em favor de credores ou empresas em recuperação. “Tais
medidas possuem importância econômica e social para ajudar a manter e
regular o funcionamento da economia brasileira e para a sobrevivência
das famílias em momento de pandemia”, explicou o conselheiro.
Outra indicação do CNJ diz respeito a que todos os juízos suspendam a
realização de Assembleias Gerais de Credores presenciais enquanto
durar a pandemia de Covid-19. Caso seja urgente, recomendam-se
encontros virtuais.
O CNJ orienta ainda a prorrogação dos prazos de duração da suspensão
chamada stay period nos casos em que houver necessidade de adiar a
Assembleia Geral de Credores. O stay period é um prazo de 180 dias no
qual ficam suspensos o curso de todas as ações e execuções promovidas
em face do devedor, isto é, da empresa em recuperação judicial,
contados do seu deferimento. O objetivo é que a empresa possa se
reorganizar financeiramente, sem o risco de uma penhora ou outra
espécie de constrição que prejudique a construção de um plano para
permitir o prosseguimento da atividade empresarial.
Também há indicação para que os tribunais autorizem todas as empresas
que já estejam em fase de cumprimento do plano de recuperação,
aprovado pelos credores, em prazo razoável, apresentem planos
modificativos, desde que comprovem que tiveram suas atividades e
capacidade de cumprir suas obrigações afetadas pela crise da pandemia
causada pelo Covid-19 e desde que estejam adimplentes com suas
obrigações. Além disso, o CNJ sugere que, caso alguma empresa
descumpra o seu plano de recuperação em decorrência da pandemia, que
os juízos considerem a situação como “caso fortuito” ou “força maior”.
A recomendação também é para manutenção das atividades dos
administradores judiciais, para que estes continuem a fiscalizar as
empresas recuperandas de forma virtual ou remota, com apresentação de
relatórios mensais de atividades.
Sobre o deferimento de medidas de urgência, o CNJ pede cautela,
inclusive em casos de decretação de despejo por falta de pagamento e a
realização de atos executivos de natureza patrimonial em desfavor das
empresas e demais agentes econômicos em ações judiciais que
demandem obrigações inadimplidas.

Diante do exposto, percebe-se que o mecanismo foi criado para ajudar na


estabilidade sobre empresas em estado de recuperação judicial, afastando as obrigações
exigidas nos planos de recuperação já aprovado, para que possa diminuir os impactos
econômicos resultantes da pandemia do Covid-19.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Direito Falimentar passou por uma grande mudança no decorrer dos anos com
a vigência da Lei nº 11.101/2005, destacando-se no que tange a criação do instituto da
recuperação judicial, com base nos princípios constitucionais principalmente com
relação à função social e o princípio da preservação da empresa.
Baseando-se da análise desses princípios contata-se que o bem-estar financeiro,
econômico e administrativo de uma empresa é pauta de interesse coletivo, visto que suas
incumbências influem diretamente a sociedade. Portanto, a obrigação de um mecanismo
eficaz, possível e apto em estabilizar uma empresa em crise, possibilitando a sua
recuperação configura-se extremamente fundamental.
A compreensão exposta pela lei supracitada tem como escopo a revolução do
mecanismo de restauração da empresa mediante recuperação ou falência, onde possui a
possibilidade de efetuar pagamentos com acessibilidade, além de parcelamento de
dívidas ativas da empresa, reduzindo possíveis crises econômicas no meio empresarial,
obtendo meios capazes para pagamentos de débitos.
Apesar de existir a recuperação judicial, cabe mencionar que normalmente é
requerida tardiamente. Isto posto verifica-se que a Lei de recuperação embora utilizada
tardiamente, é aplicada e gasta como uma solução para resolver problemas de forma
efetiva e bilateral, bem como a falência, instituto que resguarda os bens do empresário
honesto.
Salienta-se que diante de todo exposto, a evolução desse trabalho viabilizou uma
análise sobre o grande impacto negativo que a atual pandemia causou economicamente as
empresas brasileiras que já se encontravam ou vieram a solicitar recuperação judicial no
lapso do referido cenário.
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