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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

ÂNIMA EDUCAÇÃO

Kevin Mazzo de Carvalho

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA: A INCLUSÃO DE


EMPRESA INTEGRANTE DE GRUPO ECONOMICO DIRETAMENTE NO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

São Paulo

2022
Kevin Mazzo de Carvalho

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA: A INCLUSÃO DE


EMPRESA INTEGRANTE DE GRUPO ECONOMICO DIRETAMENTE NO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Monografia apresentada ao Curso de Graduação


em Direito da Universidade São Judas Tadeu da
Ânima Educação como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho, Dr.

São Paulo
2022
Kevin Mazzo de Carvalho

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURIDICA: A INCLUSÃO DE


EMPRESA INTEGRANTE DE GRUPO ECONOMICO DIRETAMENTE NO
CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

Esta Monografia foi julgada adequada à obtenção


do título de Bacharel em Direito e aprovada em sua
forma final pelo Curso de Direito da Universidade
São Judas Tadeu da Ânima Educação.

São Paulo, ___ de _______ de 2022.

___________________________________________________________________

Prof. e orientador Jorge Cavalcanti Boucinhas Filho, Dr.

Universidade São Judas Tadeu da Ânima Educação


AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos meus pais por sempre me incentivarem e me apoiarem durante
todo o curso e aos meus amigos que me auxiliaram com todas as dificuldades que eu tive para
escrever esse trabalho.

Também agradeço ao Prof. Jorge Boucinhas por ser um excelente professor e orientador
que sempre estava a disposição para sanar as nossas dúvidas e nos incentivou a aprender cada
vez mais sobre o Direito do Trabalho.
RESUMO

Nos últimos anos, muito se discutiu a respeito da constitucionalidade das decisões proferidas
pela Justiça do Trabalho sobre a inclusão de empresas que compõem um grupo econômico
diretamente na fase de cumprimento de sentença, questionando a observância dos princípios do
devido processo legal, contraditório e ampla defesa pela suposta ausência de mecanismos como
o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (IDPJ) incluído pela reforma
trabalhista de 2017. As ADPFs 488 e 951 foram os precursores dessa discussão e com o Recurso
de Revista TST - AIRR – 10023-24.2015.5.03.0146 culminou na suspensão nacional de todas
as execuções que versem sobre este tema. Assim, o objetivo desse trabalho é analisar os
argumentos apresentados e o posicionamento jurisprudencial adotado e verificar se realmente
é possível declarar a inconstitucionalidade do entendimento consolidado da Justiça do
Trabalho.

Palavras – Chaves: desconsideração da personalidade jurídica; incidente de desconsideração da


personalidade jurídica; princípio do devido processo legal; ADPF 488; ADPF 951; suspensão
nacional de todas as execuções.
ABSTRACT

In recent years, much has been discussed about the constitutionality of the decisions issued by
the Labor Court on the inclusion of companies that make up an economic group directly in the
phase of compliance with sentence, questioning the observance of the principles of due process
of law, adversarial proceedings and full defense by the alleged absence of mechanisms such as
the incident of disregard of legal personality (IDPJ) included by the labor reform of 2017.
ADPFs 488 and 951 were the precursors of this discussion and with the TST Review Appeal -
AIRR - 10023-24.2015.5.03.0146 culminated in the national suspension of all executions
dealing with this issue. Thus, the objective of this work is to analyze the arguments presented
and the jurisprudential position adopted and verify whether it is really possible to declare the
unconstitutionality of the consolidated understanding of the Labor Court.

Keywords: disregard of legal entity; incident of disregard of legal entity; principle of due legal
process; ADPF 488; ADPF 951; national suspension of all executions.
SUMÁRIO

Introdução.............................................................................................................................8

1 – Da Desconsideração da Personalidade Jurídica no Direito do Trabalho........................9

1. O Empregador...................................................................................................................9

2. Grupo Econômico.............................................................................................................10

2.1 Tipos de Grupo Econômico............................................................................................11

2.2 Responsabilidade do Grupo Econômico.........................................................................12

3. Desconsideração da Personalidade Jurídica......................................................................13

3.1 Conceito de pessoa jurídica.............................................................................................13

3.2 Histórico e definição de desconsideração da personalidade jurídica..............................13

3.3 Teoria Maior....................................................................................................................15

3.4 Teoria Menor...................................................................................................................16

4. Desconsideração inversa....................................................................................................17

2 – Desconsideração da personalidade jurídica no processo trabalhista................................19

1. Introdução...........................................................................................................................19

2. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica...............................................21

2.1 Das vantagens e desvantagens do IDPJ no processo do trabalho.....................................24

3 – Da possibilidade de inclusão de outro membro do grupo econômico diretamente no


processo do trabalho...............................................................................................................27

1. Introdução...........................................................................................................................27

2. A revogação da súmula 205 do TST...................................................................................27

3. Da suspensão nacional de todas as execuções.....................................................................30

4. ADPF nº 488 e 951..............................................................................................................33

5. Do princípio da ampla defesa, contraditório e devido processo legal.................................40

Conclusão................................................................................................................................42

Bibliografia..............................................................................................................................43
8

INTRODUÇÃO

Com o advento da Lei 13.467/2017, a reforma trabalhista, surgiram diversas alterações


em institutos bem estabelecidos dentro do Direito do Trabalho, as mudanças no art. 2º, §2º da
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) que trata dos grupos econômicos trouxe à tona
antigas discussões acerca da responsabilidade das empresas que integram o grupo econômico
quando não participaram da fase de conhecimento do processo.

A revogação da Súmula nº 205 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) em 2003 havia


consolidado o entendimento a respeito da possibilidade dessa inclusão fundamentada sob o
princípio protetivo da dignidade do trabalhador que, para garantir que o trabalhador irá receber
o que lhe é devido, caso a empresa principal não possua os recursos financeiros suficientes para
cumprir com a divida trabalhista e integre um grupo econômico pode incluir qualquer empresa
que também faça parte deste grupo para adimplir com as dividas da relação de emprego diante
da responsabilidade solidária do grupo econômico.

Contudo, após 15 anos de revogação da Súmula nº 205 do TST, discussões sobre a


constitucionalidade desse entendimento tem se tornado frequentes, sob o argumento de violação
aos princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa, o art. 513, §5º do Código
de Processo Civil (CPC), além de medidas estabelecidas pela própria reforma trabalhista como
o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (IDPJ). As ADPFs 488 e 951 bem
como o Recurso de Revista TST - AIRR – 10023-24.2015.5.03.0146 são os principais objetos
de analise dessa questão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para verificar o cabimento de se
decretar a inconstitucionalidade do posicionamento adotado pela Justiça do Trabalho.

O presente trabalho foi divido em três capítulos, para tentar entender qual seria o
caminho mais adequado que o STF deveria seguir para definir essa questão. O primeiro capitulo
traz uma explicação e conceituação do que são os empregadores, os grupos econômicos e a
desconsideração da personalidade jurídica, o segundo capitulo trata da aplicação da
desconsideração da personalidade jurídica no Direito do Trabalho e o recente IDPJ, por fim, o
terceiro capitulo aprofunda a análise das ADPFs 488 e 951 em conjunto com o Recurso de
Revista estudando os principais argumentos a favor e contra a constitucionalidade do
posicionamento da Justiça do Trabalho.
9

1 – DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

1. O Empregador

Quando pensamos em uma relação de emprego temos a necessidade de duas partes


essenciais para que ela exista, o empregado e o empregador, via de regra, o empregador é a
empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os riscos da atividade econômica, admite,
assalaria e dirige a prestação pessoal de serviços (art. 2º da CLT), a partir da definição legal,
percebe-se que a ideia da figura do empregador está intrinsecamente ligada a existência de um
empregado que preste serviço de forma pessoal, não eventual, subordinada e onerosamente para
si.

Apesar do artigo mencionado definir empregador como uma empresa, essa definição
não está tecnicamente correta, explica Mauricio Godinho Delgado1: “Na verdade, empregador
não é a empresa – ente que não configura, obviamente, sujeito de direitos na ordem jurídica
brasileira. Empregador será a pessoa física, jurídica ou ente despersonificado titular da empresa
ou estabelecimento.”

A escolha do termo empresa pelo Legislador está relacionada a ideia de


despersonalização do empregador, ou seja, mesmo que ocorra uma alteração do empregador de
fato (pessoa física ou jurídica) não terá nenhum impacto no contrato de trabalho daqueles
empregados, isso porque no Direito do Trabalho vigora o princípio da continuidade da relação
de emprego que rege as normas e as leis de forma que a manutenção do contrato de trabalho
seja prioridade.

Ademais, ainda no art. 2º da CLT temos mais um tipo de empregador, os empregadores


por equiparação previstos no §1º, são eles: profissionais liberais, instituições de beneficência,
associações recreativas ou outras instituições sem fins lucrativos, em que pese o termo
“empregador por equiparação”, analisando objetivamente o caput deste artigo todas essas
figuras citadas, desde que contratem empregados, se encaixam perfeitamente na descrição de
um empregador de fato.

1
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da
reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores, 18 ed., São Paulo: LTR, 2019, p.
492.
10

Essa distinção volta novamente ao fato de o Legislador adotar o termo empresa, explica
Sérgio Pinto Martins 2:

“Na verdade, não há equiparação, pois se as pessoas mencionadas no parágrafo


tiverem empregados, o tomador dos serviços será empregador. A utilização da
expressão empregador por equiparação se deve a utilização da teoria institucionalista
pela CLT, que considera o empregador a empresa. Logo, pessoas físicas não seriam
empregadores, apenas por equiparação segundo a lei.”.

2. Grupos Econômicos

Segundo Mauricio Godinho Delgado3:

“O grupo econômico aventado pelo Direito do Trabalho define-se como a figura


resultante da vinculação justrabalhista que se forma entre dois ou mais entes
favorecidos diretamente ou indiretamente pelo mesmo contrato de trabalho que
possuem laços de direção ou coordenação em face de atividades industriais,
comerciais, financeiras, agroindustriais ou qualquer outra atividade de natureza
econômica.”

O grupo econômico está previsto dentro do art. 2º da CLT, em seu parágrafo segundo e
terceiro, ambos sofreram alterações após a reforma trabalhista de 2017 que trouxeram algumas
melhorias para o instituto tanto para o empregador quanto para o empregado.

O principal objetivo dos grupos econômicos é funcionar como uma via de mão dupla
dentro da relação de emprego, permitindo aos empregadores usufruírem dos serviços de seus
empregados em todas as outras empresas que integrarem o grupo sem a necessidade do
empregado ter múltiplos contratos de trabalho e ao mesmo tempo traz uma garantia ao
empregado de que caso uma das empresas não cumpra com suas obrigações trabalhistas ele
possa exigir de qualquer uma das empresas do grupo econômico o pagamento integral da dívida.

Antes da reforma trabalhista de 2017 e a inclusão do §3º do art. 2º da CLT, ocorriam


abusos quanto a figura dos grupos econômicos, empregados que entravam com ações para obter
seus direitos trabalhistas e incluíam outras empresas aos quais seus empregadores eram sócios,
mas que não tinha nenhuma relação com a empresa em que de fato eles trabalhavam. O §3º
colocou um fim nesses abusos estabelecendo que a mera identidade de sócios não caracteriza a
existência de um grupo econômico.

2
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho, 28 ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 210.
3
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da
reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores, 18 ed. São Paulo: LTR, 2019, p.
500.
11

Vejamos quais são os requisitos após a reforma trabalhista para o reconhecimento de


um grupo econômico:

A) Interesse integrado: Não há necessidade de formalização do registro de empresas


como ocorre nos casos das holdings, basta que as empresas tenham atividades econômicas que
através de sua natureza se associem.

B) Efetiva comunhão de interesses: As empresas pertencentes do grupo econômico têm


que atuar em prol de um mesmo objetivo que os beneficie.

C) Atuação conjunta de empresas dele integrante: Deve se verificar a cooperação entre


as empresas visando a obtenção de lucro ou participando do mesmo processo de produção.

2.1 Classificação dos grupos econômicos

Existem dois tipos de classificação dentro dos grupos econômicos, os grupos horizontais
e os grupos verticais. Antes da reforma trabalhista haviam se discussões quanto a possibilidade
dos grupos econômicos horizontais já que o dispositivo legal antigo tinha como requisito a
subordinação entre as empresas, com a reforma trabalhista esse entendimento de que não era
obrigatório o elemento da subordinação para a existência de um grupo econômico foi
pacificado:

“ Art. 2º § 2o Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de
outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem
grupo econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da
relação de emprego. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)”

Os grupos econômicos conhecidos por verticais seguem uma estrutura de dominação e


subordinação, onde existe uma empresa mãe que controla as demais empresas dos grupos
econômicos, para Octavio Bueno Magano apud Gustavo Filipe Barbosa Garcia 4: “A relação
entre as empresas componentes de grupo econômico é sempre de dominação, o que supõe uma
empresa principal ou controladora e uma ou várias empresas controladas”, um dos exemplos de
grupo econômico vertical mais comum são as holdings, empresas criadas exclusivamente com
o intuito de centralizar as ações de outras empresas mantendo o controle sobre elas.

4
MAGANO, Octavio Bueno. Manual de direito do trabalho: direito individual do trabalho, vol 2., 3. ed.
São Paulo: LTR, 1992, p. 80 apud GARCIA, Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho, 6ª. Ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2012, p. 298.
12

Durante muito tempo essa foi a corrente doutrinária que prevaleceu a respeito da
estrutura de um grupo econômico, mas com o tempo os juristas foram percebendo que a mera
coordenação de empresas também poderia configurar um grupo econômico, criando a figura do
grupo econômico horizontal, nesse sentido a Profª Vólia Bomfim Cassar5 leciona: “o grupo por
coordenação é aquele que não há controle nem administração de uma empresa por outra, mas
sim uma reunião de empresas regidas por uma unidade de objetivos.”

Como já mencionado, após a reforma trabalhista no art. 2º, §2º, foi reconhecido no tipo
legal as duas estruturas, sendo a mais comum nos dias de hoje o grupo econômico horizontal.

2.2 Responsabilidade dos grupos econômicos

Existe uma grande discussão a respeito da responsabilidade dos grupos econômicos,


alguns doutrinadores acreditam que a responsabilidade solidaria é passiva, porque todas as
empresas do grupo respondem juntas pelas dívidas trabalhistas de cada um dos seus
empregados.

Outra vertente entende que a solidariedade seria ativa, quando um trabalhador presta
serviço para outras empresas pertencentes do grupo econômico além daquela que fora
originalmente contratada, é possível propor uma ação de indenização em face de qualquer uma
das empresas ao qual este efetivamente trabalhou, pois aqui é adotado a Teoria do Empregador
Único, reconhecendo que todos os integrantes daquele grupo econômico são um só, tanto para
exigir a prestação de serviço quanto para cumprir com as obrigações decorrentes da relação de
emprego.

A súmula 129 do TST reforça a ideia da solidariedade ativa:

“A prestação de serviços a mais de uma empresa do mesmo grupo econômico,


durante a mesma jornada de trabalho, não caracteriza a coexistência de mais de um
contrato de trabalho, salvo ajuste em contrário.”

Se não há múltiplos contratos de trabalho, conclui-se que há a solidariedade ativa entre


as empresas que usufruíram da prestação de serviço, nesse sentido Amauri Mascaro
Nascimento6 entende que:

5
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho, 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017, p
430.
6
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho: história e teoria geral do direito do
trabalho: relações individuais e coletivas do trabalho, 26ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 689.
13

“A jurisprudência (ETST n. 129) ao dispor que a prestação de serviços a mais de uma


empresa no mesmo grupo econômico, durante a mesma jornada de trabalho, não
caracteriza a coexistência de mais de um contrato de trabalho, pende para a diretriz
fixada pela teoria da solidariedade ativa, porque considera um só o contrato de
trabalho, mesmo que o empregado preste serviços para mais de uma empresa do
grupo, desde que o faça no mesmo local e expediente.”

3. Desconsideração da personalidade jurídica

3.1 Conceito de pessoa jurídica

Para começar a falar sobre o instituto da desconsideração da personalidade jurídica


precisamos entender o que significa uma pessoa jurídica, segundo Flávio Tartucce 7:

“As pessoas jurídicas, denominadas pessoas coletivas, morais, fictícias ou abstratas,


podem ser conceituadas como sendo conjuntos de pessoas ou de bens arrecados, que
adquirem personalidade jurídica por uma ficção legal. [...], a pessoa jurídica não se
confunde com seus membros, sendo essa regra inerente à própria concepção de pessoa
jurídica.”

A partir desse conceito podemos dizer que as pessoas jurídicas são entidades que a lei
confere personalidade, capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A sua principal
característica é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa dos indivíduos que
a compõem com a finalidade de representar os atos dos sócios que a compõem perante terceiros.

No Direito do Trabalho, as pessoas jurídicas se encontram na relação de emprego na


função de empregador, já que no Brasil grande parte dos empregadores são empresas, como a
própria CLT estabelece e são elas que cumprem as obrigações decorrentes da relação de
emprego ao invés de seus sócios.

Por isso, quando um trabalhador propõe uma ação contra o empregador, ele não coloca
a diretamente o sócio como parte da lide, mas sim a empresa como um todo, pois é ela quem
representa as ações e decisões dos sócios.

3.2 Histórico e definição de desconsideração da personalidade jurídica

Mas diante disso, pode se levantar uma questão: e se a empresa não puder cumprir com
as suas obrigações? Pensando nessa possibilidade surgiu o instituto da desconsideração da
personalidade jurídica (disregard of legal entity) que permitiria levantar o véu da personalidade
jurídica de uma empresa (lifting the corporate veil) para alcançar o patrimônio dos sócios de

7
TARTUCCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único, 5. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
MÉTODO, 2015, item 2.3.1.
14

forma que estes cumprissem as obrigações que eram originalmente de responsabilidade da


empresa.

Todavia, não basta o mero inadimplemento de uma obrigação para justificar a quebra
da personalidade jurídica de uma empresa, tendo em vista que a personalidade jurídica foi
criada justamente para trazer uma maior segurança ao patrimônio dos sócios que querem
investir nas atividades econômicas.

Para aplicar a desconsideração da personalidade jurídica, a empresa a ser


desconsiderada deve ter sido desvirtuada de seus objetivos principais, explica Marlon
Tomazette8:

“A desconsideração é, pois, a forma de adequar a pessoa jurídica aos fins para os quais
ela foi criada, vale dizer, é a forma de limitar e coibir o uso indevido deste privilégio
que é a pessoa jurídica, uma forma de reconhecer a relatividade da personalidade
jurídica das sociedades.”.

As empresas que deixarem de cumprir as finalidades as quais foram criadas para


cumprir, praticarem fraudes, burlarem a lei, deixarem de cumprir suas obrigações ou ainda as
que tiverem confusão patrimonial com seus sócios, caberá a desconsideração da personalidade
jurídica para atingir o resultado que era esperado da empresa.

É importante lembrar que a desconsideração da personalidade jurídica é uma


determinação judicial que não põe fim a personalidade jurídica da empresa, trata-se de uma
despersonalização temporária para atingir um determinado objetivo, com o fim do processo a
personalidade jurídica será reestabelecida, portanto Marlon Tomazette 9 traz a seguinte
definição:

“a desconsideração da personalidade jurídica é a retirada episódica, momentânea e


excepcional da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, a fim de estender os efeitos
de suas obrigações à pessoa de seus titulares, sócios ou administradores, com o fim
de coibir o desvio da função da pessoa jurídica, perpetrado por estes.”.

Os primeiros indícios de surgimento da desconsideração da personalidade jurídica se


deram através do caso Salomon vs. Salomon & Co, em 1897, na Inglaterra, quando o
empresário Aaron Salomon constituiu uma empresa com seis membros de sua família, mas
cedeu seu fundo de comercio à sociedade, recebendo vinte mil ações representativas de sua

8
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1, 8ª ed. Rev. E
atual. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 313.
9
Idem, p. 314.
15

contribuição, enquanto para cada um dos outros membros coube apenas uma ação para integrar
o valor da incorporação10.

A empresa não conseguiu adimplir suas obrigações e se tornou insolvente, os credores


ao propor a ação defenderam a tese de que o patrimônio de Aaron Salomon deveria responder
pela dívida da sociedade já que a empresa servia apenas para limitar a sua responsabilidade.

O juízo de primeira instancia e a Corte Americana acolheram a pretensão dos credores


e desconsideraram a personalidade da companhia, obrigando Aaron Salomon a pagar as dívidas
da sociedade, entretanto a decisão foi reformada na Casa de Lordes preservando a autonomia
patrimonial da sociedade regularmente constituída11.

Com isso as ideias de uma teoria da desconsideração da personalidade jurídica foram


disseminadas por todos os países. No Brasil um dos principais doutrinadores a introduzir as
ideias da desconsideração da personalidade jurídica foi Rubens Requião em 1969 e em 2002 o
Código Civil brasileiro passou a prever a desconsideração da personalidade jurídica em seu art.
50:

“Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de


finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento da parte, ou do
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, desconsiderá-la para que
os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens
particulares de administradores ou de sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou
indiretamente pelo abuso.”.

Dentro da desconsideração da personalidade jurídica temos a existência de várias


modalidades que foram surgindo ao longo dos anos, vejamos as teorias mais importantes dentro
do instituto.

3.3 Teoria Maior

A Teoria Maior é considerada pela doutrina e jurisprudência como a regra geral da


desconsideração da personalidade jurídica, é a teoria apresentada no art. 50 do Código Civil de
2002 que traz o requisito do abuso da personalidade jurídica caracterizado pela confusão
patrimonial ou pelo desvio de finalidade.

10
BITTENCOURT, Hayna A Desconsideração da Personalidade Jurídica – Modalidades e Possibilidade,
Rio de Janeiro - 2013.
11
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1, 8ª ed. Rev.
E atual. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 315.
16

Alguns doutrinadores como Carlos Roberto Gonçalves e Marlon Tomazette separam a


Teoria Maior em objetiva e subjetiva:

A) Teoria Maior Subjetiva: seria aquela que considera o desvio de função oriundo das
fraudes e do abuso de direitos relativos à autonomia patrimonial como o preceito fundamental
para a desconsideração da personalidade jurídica, em razão de que a autonomia patrimonial da
sociedade só deve existir quando a empresa está cumprindo com seu objetivo original.

B) Teoria Maior Objetiva: é baseada nas ideias de Fábio Konder Comparato 12 que não
se limita as hipóteses de fraude e abuso de direitos de autonomia patrimonial, que muitas vezes
são subjetivos e difíceis de serem provados, aqui o preceito fundamental da desconsideração da
personalidade jurídica passa a ser a confusão patrimonial que pode ser verificada quando a
sociedade paga as dívidas do sócio ou quando os bens do sócio estão em nome da empresa.

Entre as duas vertentes apresentadas o Código Civil optou pela Teoria Maior Objetiva
pela maior facilidade de ser comprovada, tendo em vista que a confusão patrimonial por si só
caracteriza o abuso de direito de autonomia patrimonial, fundamento basilar da personalidade
jurídica.

3.4 Teoria Menor

A Teoria Menor da desconsideração da personalidade jurídica é amplamente utilizada


no que chamamos de Direito Social 13 que compreende as esferas do Direito do Consumidor,
Direito do Trabalho, Direito Previdenciário e do Direito Ambiental no sistema jurídico
brasileiro onde existe uma clara fragilidade entre os polos dessas relações jurídicas.

Podemos dizer que a Teoria Menor está prevista no art. 28º, §5º do Código de Defesa
do Consumidor e no art. 4º da Lei 9.605/1998:

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando,


em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da
lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento
ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

12
Fábio Konder Comparato é um jurista, advogado e escritor brasileiro. Professor da Faculdade de Direito de
São Paulo.
13
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da
reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores, 18 ed. São Paulo: LTR, 2019, p.
597.
17

§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua


personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados
aos consumidores.”

“Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade
for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente.”

O Legislador escolheu aplicar essa teoria da desconsideração da personalidade jurídica


em razão do protecionismo que rege essas áreas do Direito, garantindo que o consumidor ou
trabalhador vão ter suas dívidas quitadas independente da situação financeira da empresa.

Existem diversas críticas quanto a Teoria Menor, alguns doutrinadores acreditam que
ela destrói a autonomia patrimonial das sociedades, quando aplicada em caso de mero
inadimplemento de obrigação, violando o princípio da proteção do patrimônio dos sócios.

Para Fábio Ulhoa Coelho 14:

“A teoria menor da desconsideração é, por evidente, bem menos elaborada que a


maior. Ela reflete, na verdade, a crise do princípio da autonomia patrimonial, quando
referente a sociedades empresárias. O seu pressuposto é simplesmente o
desatendimento de crédito titularizado perante a sociedade, em razão, da
insolvabilidade ou falência desta. [...]. A formulação menor não se preocupa em
distinguir a utilização fraudulenta da regular do instituto, nem indaga se houve ou não
abuso de forma.”.

Marlon Tomazette15 também tece críticas a teoria:

“Embora não aplicada a todos os ramos do direito, não vemos razoabilidade na


aplicação dessa teoria menor. Tal teoria praticamente ignora a ideia de autonomia
patrimonial das pessoas jurídicas e não se coaduna com a própria origem de aplicação
da teoria da desconsideração. Ao contrario de proteger, a teoria menor acaba por minar
a existência da autonomia patrimonial, em nada favorecendo aqueles que se dignam a
exercer atividades econômicas.”

O descontamento dos doutrinadores com a teoria menor se dá pelo fato de ser uma teoria
muito simplista, mesmo que aplicada a apenas algumas esferas do Direito e acaba por causar
uma banalização do instituto da personalidade jurídica que deveria ser algo excepcional.

4. Da desconsideração da personalidade jurídica inversa

A desconsideração da personalidade jurídica inversa, trata-se da inversão de papéis, ou


seja, é quando queremos desconsiderar a personalidade do sócio para alcançar os bens da
sociedade a qual ele faz parte.

14
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Vol 2, 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 46.
15
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1, 8ª ed. Rev.
E atual. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 320.
18

Isso ocorre principalmente em casos de fraude, quando o sócio transfere todos os seus
bens a para uma pessoa jurídica que ele possui o controle, de modo que consiga continuar
usufruindo dos bens sem o risco de que estes sejam penhorados pela dívida contraída pela
pessoa física.

Fábio Ulhoa Coelho16 traz o conceito da desconsideração invertida:

“A teoria da desconsideração visa coibir fraudes perpetradas através do uso da


autonomia patrimonial da pessoa jurídica. Sua aplicação é especialmente indicada na
hipótese em que a obrigação imputada à sociedade oculta uma ilicitude. [...]. Em
síntese, a desconsideração é utilizada para responsabilizar o sócio por dívida
formalmente imputada.”

Apesar da desconsideração da personalidade inversa se mostrar muito útil em alguns


campos do Direito como no Direito de Família, alguns doutrinadores como Marlon Tomazette
não acham a medida razoável visto que se um sócio usou a personalidade jurídica para cometer
uma ilicitude bastaria a anulação daquele ato, sem a necessidade de afetar a sociedade.

“Embora seja factível e extremamente útil, temos certas reservas quanto à


desconsideração inversa, na medida em que, qualquer que seja a sociedade, o sócio
terá quotas ou ações em seu nome, que integram seu patrimônio e, por isso, são
passiveis de penhora para pagamento das obrigações pessoais do sócio.”17

Essa corrente doutrinaria que acreditava que a desconsideração da personalidade


jurídica inversa não deveria ser admitida, se baseia na excepcionalidade do instituto, buscando
proteger ao máximo a autonomia patrimonial da sociedade constituída, levando em
consideração o fato de que a sociedade não deveria ser prejudicada por ato ilícito de um dos
sócios.

A jurisprudência, entretanto, acabou por adotar expressamente a ideia da


desconsideração da personalidade jurídica inversa com a chegada do novo Código de Processo
Civil (CPC) em 2015, através do art. 133º, §2º: “Aplica-se o disposto neste capitulo à hipótese
de desconsideração inversa da personalidade jurídica”.

16
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial – Vol 2, 9ª ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 44.
17
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria geral e direito societário, v. 1, 8ª ed. Rev.
E atual. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 353.
19

2 – DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA NO PROCESSO


DO TRABALHO

1. Introdução

Por muito tempo houve uma discussão na jurisprudência e na doutrina a respeito da


aplicação da desconsideração da personalidade jurídica no Direito do Trabalho, pois a CLT não
dispunha de nenhum artigo que regulasse o instituto na seara trabalhista. Ao passo que alguns
juristas se mostraram contra a aplicação da desconsideração, a maioria era a favor sob o
argumento do art. 8º parágrafo único da CLT:

“Art. 8º - As autoridades administrativas e a Justiça do Trabalho, na falta de


disposições legais ou contratuais, decidirão, conforme o caso, pela jurisprudência, por
analogia, por eqüidade e outros princípios e normas gerais de direito, principalmente
do direito do trabalho, e, ainda, de acordo com os usos e costumes, o direito
comparado, mas sempre de maneira que nenhum interesse de classe ou particular
prevaleça sobre o interesse público.

Parágrafo único - O direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho,


naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.”.

Alguns doutrinadores como Carlos Henrique Bezerra Leite 18, defendem que o art. 2º,
§2º prevê a desconsideração da personalidade jurídica:

“A despersonalização do empregador, ou desconsideração da personalidade jurídica


do empregador, é, a rigor, um princípio do direito material trabalhista extraído da
interpretação sistemática dos arts. 2º, §2º, 10, 448 e 449 da CLT, [...]. Como se vê,
pela inteligência dos perceptivos em causa, o Direito do Trabalho, fundado no
princípio da proteção ao trabalhador, adotou, como desdobramento deste, o princípio
da despersonificação ou despersonalização do empregador, vinculando a pessoa do
cidadão trabalhador pessoalmente à empresa, independentemente do seu proprietário
momentâneo.”.

A jurisprudência também se mostrou favorável a aplicação da desconsideração da


personalidade jurídica:

“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. A Teoria da


Desconsideração da Personalidade Jurídica, por meio da qual se afasta a autonomia
patrimonial da sociedade para responsabilizar o sócio por obrigação da empresa, é
plenamente aplicável ao Processo do Trabalho.

(TRT-3 - AP: 01278200812903003 MG 0127800-28.2008.5.03.0129, Relator: Maria


Laura Franco Lima de Faria, Nona Turma, Data de Publicação: 28/09/2016.)”

18
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho, 16. ed. São Paulo: Saraiva
Educação, 2018, item 3.6.
20

“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. POSSIBILIDADE.


Não havendo impedimento legal para a desconsideração da personalidade jurídica da
empresa, ante a falta de pagamento do crédito do exequente no Juízo falimentar,
impõe-se o redirecionamento da execução. Agravo conhecido e desprovido.

(TRT-10 00009941320135100020 DF, Data de Julgamento: 24/08/2016, Data de


Publicação: 02/09/2016)”

Além disso, a jurisprudência também entendeu ser cabível a desconsideração da


personalidade jurídica inversa dentro do processo do trabalho:

“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA INVERSA. É cabível


a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens
de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com
prejuízo a terceiros. (TRT 17ª R., AP 0066900-70.1995.5.17.0121, Rel.
Desembargador José Luiz Serafini, DEJT 19/12/2016).

(TRT-17 - AP: 00669007019955170121, Relator: DESEMBARGADOR JOSÉ LUIZ


SERAFINI, Data de Julgamento: 01/12/2016, Data de Publicação: 19/12/2016)”

Mesmo com a jurisprudência e a maior parte da doutrina favorável a aplicação da


desconsideração da personalidade jurídica na seara trabalhista, ainda restava uma dúvida, qual
a teoria seria adotada, a Teoria Maior prevista no art. 50 do Código Civil ou a Teoria Menor do
art. 28, §5º do Código de Defesa do Consumidor? Vejamos alguns julgados para entender o
posicionamento adotado:

“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. TEORIA MENOR.


Na seara trabalhista é aplicável a Teoria Menor de Desconsideração da Personalidade
Jurídica, com respaldo no art. 28 do CDC, em decorrência do princípio da proteção e
da condição de hipossuficiência do trabalhador. Agravo de Petição conhecido e
improvido.

(TRT-16 00162316120185160015, Relator: SOLANGE CRISTINA PASSOS DE


CASTRO, Data de Publicação: 01/08/2022)”

“DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. TEORIA MENOR.


No âmbito do processo do trabalho, a desconsideração da personalidade se dá pelo
mero inadimplemento da pessoa jurídica (teoria menor), sendo, portanto,
desnecessária a verificação de abuso da personalidade, pelo desvio de finalidade ou
pela confusão patrimonial (teoria maior). Agravo de Petição ao qual se nega
provimento.

(TRT-2 10022248720165020021 SP, Relator: SIDNEI ALVES TEIXEIRA, 17ª


Turma - Cadeira 1, Data de Publicação: 02/07/2020)”

A fim de proteger o trabalhador, foi escolhida a Teoria Menor do CDC para garantir que
as verbas trabalhistas, que possuem caráter alimentar, possam ser adimplidas ainda que a
empresa não seja capaz de cumpri-las.

Com a reforma trabalhista de 2017, a CLT trouxe a previsão da desconsideração da


personalidade jurídica expressamente em seus artigos 10-A e 855-A, confirmando o
posicionamento que já era adotado pela jurisprudência.
21

As novidades da CLT trouxeram a possibilidade de o sócio retirante responder


solidariamente em caso de fraude:

“Art. 10-A. O sócio retirante responde subsidiariamente pelas obrigações trabalhistas


da sociedade relativas ao período em que figurou como sócio, somente em ações
ajuizadas até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, observada a
seguinte ordem de preferência: (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

I - a empresa devedora; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

II - os sócios atuais; e (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

III - os sócios retirantes. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)

Parágrafo único. O sócio retirante responderá solidariamente com os demais quando


ficar comprovada fraude na alteração societária decorrente da modificação do
contrato. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017) (Vigência)”

E também passou a reconhecer a aplicação do incidente da desconsideração da


personalidade jurídica de acordo com o CPC:

“Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de março
de 2015 - Código de Processo Civil. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)”

Vamos entender do que se trata esse incidente processual e quais os benefícios que ele
traz para o processo do trabalho adiante.

2. Do incidente da desconsideração da personalidade jurídica

O incidente de desconsideração da personalidade jurídica, como o próprio nome sugere,


é um incidente processual que foi criado com o novo CPC em 2015, esse incidente pode ser
aplicado em qualquer fase do processo civil, inclusive no cumprimento de sentença.

Dentro do referido código, o incidente se encontra inserido nas modalidades de


intervenção de terceiros, Mauro Schiavi19 explica o motivo:

“Trata-se, na verdade, de um incidente processual que provoca a intervenção


forçada de terceiro (já que alguém estranho ao processo – o sócio ou a
sociedade, conforme o caso -, será citado e passará a ser parte no processo, ao
menos até que seja resolvido o incidente).”.

Caso o magistrado entenda que não é cabimento de desconsideração da personalidade


jurídica o sócio que foi chamado ao processo, será excluído e o processo seguirá normalmente,

19
SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho, 12. ed. de acordo com o Novo CPC, São
Paulo: LTR, 2017, p. 1136.
22

mas se for decidido pela aplicação da desconsideração o sócio assumirá a lide como demandado
em litisconsórcio20 com a sociedade.

Como já mencionado anteriormente a reforma trabalhista introduziu o art. 855-A que


trouxe a possibilidade de o IDPJ ser aplicado no processo do trabalho, entretanto, muitos
doutrinadores se mostraram contra essa ideia alegando que o instituto seria incompatível com
o direito do trabalho, nas palavras de Mauro Schiavi21:

“De nossa parte, o referido incidente não será aplicável ao Processo do Trabalho, na
fase de execução, pois o Juiz do Trabalho promove a execução de oficio (art. 878 da
CLT) e o referido incidente de desconsideração é incompatível com a simplicidade e
a celeridade da execução trabalhista. [...]. Além disso, o presente incidente provoca
complicadores desnecessários à simplicidade do procedimento da execução
trabalhista, atrasa o procedimento (uma vez que o art. 134, §3º, do CPC, determina a
suspensão do processo quando instaurado o incidente) e, potencialmente, em muitos
casos, pode inviabilizar a efetividade da execução.”.

Diante desse confronto do IDPJ com os princípios fundamentais do processo do


trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) no art. 6º da instrução normativa nº 39 passou
a regular alguns dos conflitos que haviam entre IDPJ previsto no CPC e sua aplicação na Justiça
do Trabalho:

“Art. 6° Aplica-se ao Processo do Trabalho o incidente de desconsideração da


personalidade jurídica regulado no Código de Processo Civil (arts. 133 a 137),
assegurada a iniciativa também do juiz do trabalho na fase de execução (CLT, art.
878).

§ 1º Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente:

I – na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do art. 893, § 1º da


CLT;

II – na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de garantia do


juízo;

III – cabe agravo interno se proferida pelo Relator, em incidente instaurado


originariamente no tribunal (CPC, art. 932, inciso VI).

§ 2º A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da


tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 do CPC.”

Ainda que não solucione todas as críticas propostas pela doutrina, essas manifestações
tornaram o instituto mais compatível com as regras do processo do trabalho, principalmente no

20
Litisconsórcio é um fenômeno processual que ocorre quando há duas ou mais partes no mesmo polo de uma
ação.
21
SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho, 12. ed. de acordo com o Novo CPC, São
Paulo: LTR, 2017, p. 1137.
23

cumprimento de sentença, Mauricio Godinho Delgado 22 propõe algumas mudanças que


deveriam ser feitas pela jurisprudência a respeito do IDPJ:

“Parece-nos, de todo modo, que a maturação jurisprudencial concluirá por mais um


aperfeiçoamento e adequação do novo instituto, ou seja, a sua tramitação em autos
apartados (mesmo que em processo eletrônico). Mediante essa adequação (Art. 897,
§3º, CLT, por analogia), a suspensão processual restringir-se-á exclusivamente ao
próprio incidente; e com isso se evita, até o término do procedimento especial, atos
de expropriação final (alienação) do patrimônio do sócio executado, mas, ao mesmo
tempo, não se compromete o fluxo do restante do processo, se for o caso.”

Por fim, o TST se manifestou através instrução normativa nº 41 de 2018, revogando os


artigos 2º, inciso VIII e 6º da IN 39/2016, e em conjunto com o provimento nº 1 do CGJT em
08 de fevereiro de 2019, buscaram pacificar mais alguns dos conflitos entre o IDPJ do CPC
com o previsto na reforma na trabalhista:

“Art. 13. A partir da vigência da Lei nº 13.467/2017, a iniciativa do juiz na execução


de que trata o art. 878 da CLT e no incidente de desconsideração da personalidade
jurídica a que alude o art. 855-A da CLT ficará limitada aos casos em que as partes
não estiverem representadas por advogado.”.

“Art. 1º Não sendo requerida na petição inicial, a desconsideração da personalidade


jurídica prevista no artigo 855-A da CLT será processada como incidente processual,
tramitando nos próprios autos do Processo Judicial Eletrônico em que foi suscitada,
vedada sua autuação como processo autônomo.

Parágrafo único. As disposições deste Provimento aplicam-se à desconsideração da


personalidade jurídica processada nas unidades de primeiro e segundo graus da Justiça
do Trabalho.

Art. 2º A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão


da tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o artigo 301 da Lei nº 13.105,
de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil)

Art. 3º Instaurado o incidente, a parte contrária e os requeridos serão notificados para


se manifestar e requerer provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.

Parágrafo único. Havendo necessidade de prova oral, o juiz designará audiência para
sua coleta.

Art. 4º Concluída a instrução, o incidente será resolvido por decisão interlocutória, da


qual serão as partes e demais requeridos intimados.

Parágrafo único. Da decisão proferida:

I – Na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do §1º do artigo 893
da CLT;

II – Na fase de execução, cabe agravo de petição em 8 (oito) dias, independentemente


de garantia do juízo.

22
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho: obra revista e atualizada conforme a lei da
reforma trabalhista e inovações normativas e jurisprudenciais posteriores, 18 ed. São Paulo: LTR, 2019, p.
602.
24

Art. 5º Em se tratando de incidente requerido originariamente no tribunal, a


competência para sua instauração, para decisão de pedidos de tutela provisória e para
a instrução será do Relator.

§1º O Relator poderá decidir monocraticamente o incidente ou submetê-lo ao


colegiado, juntamente com o recurso;

§2º Decidido o incidente monocraticamente pelo Relator, da decisão caberá agravo


interno, nos termos do Regimento do Tribunal.

Art. 6º Restando suspenso o processo, devem ser observadas as disposições do ATO


CONJUNTO CSJT.GP.CGJT Nº 1, de 28 de maio de 2018.

Art. 7º Decidido o incidente ou julgado o recurso, os autos retomarão seu curso


regular.”

Nota-se que a jurisprudência foi contra o entendimento dos doutrinadores,


permanecendo com a ideia de que o incidente de desconsideração deve correr nos mesmos autos
processuais, entretanto preservou-se a possibilidade do pedido de tutela de urgência de natureza
cautelar prevista no CPC.

2.1 Vantagens e desvantagens do IDPJ no processo do trabalho


Apesar das controvérsias entre a maior parte da doutrina e a jurisprudência a respeito da
compatibilidade do IDPJ com as normas e princípios do processo do trabalho, alguns
doutrinadores defendem que esse instituto trouxe benefícios para reforçar o princípio do
contraditório e da ampla defesa dos sócios ou sociedades que serão incluídas no polo passivo
da demanda.

Especialmente na Justiça do Trabalho, em razão de ser adotada a Teoria Menor da


desconsideração da personalidade jurídica, um sócio que sequer tinha conhecimento de que a
sua empresa estava sendo processada poderia ter seus bens bloqueados e/ou penhorados, com
a inclusão do IDPJ essas situações podem ser evitadas, pois ele dá a oportunidade desse sócio
se manifestar antes de ser responsabilizado pelas obrigações da sociedade.

Essa ideia de preservação da ampla defesa e do contraditório, entretanto, vai de encontro


com a possibilidade de responsabilização dos membros de grupos econômicos que podem ser
incluídos diretamente no cumprimento de sentença para adimplir a dívida contraída por outro
membro ainda que não tenha participado da fase de conhecimento, tema que será abordado mais
a frente neste trabalho.

Outro benefício apontado pelos doutrinadores é a possibilidade de um julgamento mais


justo, tendo em vista essa nova oportunidade dos sócios de se manifestarem a respeito da
25

desconsideração e incluir novas provas ao processo, aumenta as chances de se obter uma


sentença mais sólida para o caso.

Passando a análise das desvantagens do IDPJ, restou evidente pelo art. 2º do CGJT que
a jurisprudência não se importou com a suspensão do processo na fase de cumprimento de
sentença o que para a maior parte dos doutrinadores que se opõem a aplicação do IDPJ na
Justiça do Trabalho já era um problema desde o nascimento do instituto no CPC, nesse sentido
Mauro Schiavi23 explica:

“Além disso, o presente incidente provoca complicadores desnecessários à


simplicidade do procedimento de execução trabalhista, atrasa o procedimento (uma
vez que o art. 134, §3º, do CPC, determina a suspensão do processo quando instaurado
o incidente) e, potencialmente, em muitos casos, pode inviabilizar a efetividade da
execução.”.

Ao suspender o processo na fase de cumprimento de sentença, está se criando um atraso


ainda maior do empregado receber o que lhe é devido, mesmo que exista a possibilidade de
uma tutela de urgência caso esta não seja concedida, o empregado terá que esperar o fim do
julgamento do IDPJ que pode levar meses para somente então voltar o curso do processo
normal, diante disso Fernando da Fonseca Gajardoni24 apresenta o seguinte raciocínio:

“Pior ainda é o caso da execução: uma vez instaurado o incidente, ficaria suspenso o
procedimento principal e o requerente não poderia prosseguir com os atos executivos,
mesmo permanecendo o responsável originário na relação jurídica processual e
possuindo bens penhoráveis para, ao menos, satisfazer parte do crédito executado”

Outro ponto relevante de ser mencionado é a inversão da ordem em que acontecia a


penhora, na desconsideração da personalidade jurídica, primeiro restringia-se os bens do sócio
e a partir disso, o sócio por vontade própria, buscava participar do processo através de embargos
de terceiros por exemplo, com o IDPJ, primeiro intima-se o sócio e somente com a resolução
do incidente é que será feito a penhora de seus bens.

Isso acaba abrindo margem para as pessoas mau intencionadas ganharem tempo para
fraudar e/ou ocultar seus bens, desvirtuando o proposito ao qual a desconsideração da
personalidade jurídica foi criada e aquilo que deveria ser uma inovação dentro da pratica
processual trabalhista se torna um retrocesso, Ben-Hur Silveira Claus 25 acrescenta:

23
SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho, 12. ed. de acordo com o Novo CPC, São
Paulo: LTR, 2017, p. 1137.
24
GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Teoria geral do processo: comentários ao CPC de 2015: parte geral,
São Paulo: Forense, 2015, p. 876
25
CLAUS, Ben-Hur Silveira. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no CPC
2015 e o direito processual do trabalho, Revista do Tribunal TRT 10.
26

“Vale dizer: de um lado, o incidente não seria compatível com diversos princípios do
Direito Processual do Trabalho; de outro lado, o incidente rompe com a simplificada
e produtiva formula do contraditório diferido praticada no subsistema jurídico
procedimental trabalhista, de modo que a aplicação do incidente ao subsistema
jurídico trabalhista representaria histórico retrocesso procedimental, com prejuízo
severo à efetividade da jurisdição e à própria realização dos direitos fundamentais
sociais previsto na Constituição Federal e na legislação trabalhista.”.
27

3 – DA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO DE OUTROS MEMBROS DO GRUPO


ECONOMICO DIRETAMENTE NO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA

1. Introdução

Passando definitivamente para o tema central deste trabalho, precisamos resgatar


algumas ideias que já foram apresentadas, sabemos que o grupo econômico é a junção de duas
ou mais empresas, com personalidade jurídica distintas, sob controle ou administração de outra,
ou ainda que mantém sua própria autonomia, mas que trabalhem em conjunto com os mesmos
objetivos.

Os integrantes de grupo econômico possuem responsabilidade solidária ativa entre si, o


que permite que os funcionários de cada empresa exerçam suas funções para além da empresa
que foram originalmente contratados, sem a necessidade de uma multiplicidade de contratos de
trabalho, o que também possibilita os empregados exigirem os créditos trabalhistas de qualquer
uma das empresas a qual ele tenha trabalhado, dentro da Teoria do Empregador Único.

Se as empresas dentro de um grupo econômico são vistas como um único empregador


para evitar a criação de vários contratos de trabalho e para o adimplemento das obrigações
decorrentes da relação de emprego, não haveria necessidade da aplicação da teoria da
desconsideração da personalidade jurídica quando o processo se tratar de grupo econômico,
visto que o diploma legal (art. 2º, §2º da CLT) já contempla a responsabilidade pelos débitos
do grupo econômico.

Esse foi o entendimento da jurisprudência a época do cancelamento da súmula 205 do


TST, o que pacificou a possibilidade de inclusão de empresa integrante do grupo econômico
diretamente no polo passivo da execução trabalhista, contudo após 19 anos do cancelamento da
referida súmula, estão surgindo interpretações divergentes deste posicionamento que sustentam
a inconstitucionalidade dessa inclusão.

2. A revogação da Súmula nº 205 do TST

A súmula 205 do TST aprovada em 11/07/1985 pela Resolução Administrativa nº


11/1985 possuía o seguinte teor:

“GRUPO ECONOMICO. EXECUÇÃO. SOLIDARIEDADE. O responsável


solidário, integrante do grupo econômico, que não participou da relação processual
28

como reclamado e que, portanto, não consta no título executivo judicial como
devedor, não pode ser sujeito passivo na execução.”

Mesmo naquela época, o entendimento adotado pela jurisprudência divergia do antigo


art. 2º, §2º da CLT, que já previa a possibilidade de inclusão direta de integrante do grupo
econômico no polo passivo da execução trabalhista.

Essa súmula sofreu duras críticas durante o seu período de vigência, pois era inaceitável
para os doutrinadores uma jurisprudência que ignorava o comando legal previsto na CLT.

O posicionamento escolhido era baseado na defesa dos princípios da ampla defesa,


contraditório e do devido processo legal, todos amparados pela Constituição Federal,
caracterizando um fenômeno processual identificado por Dalmo de Abreu Dallari 26 como
processualismo, quando há uma interpretação desmedida da noção de devido processo legal
que acaba tornando ineficaz comando de direito material.

Essa supervalorização do devido processo legal criou um impedimento muito grande ao


adimplemento das verbas trabalhistas nesse período, a exigência de que todos os integrantes do
grupo econômico figurassem no polo passivo da ação desde o início do processo era inviável,
explica Ben-Hur Silveira Claus27:

“O prejuízo que tal entendimento acarreta à efetividade da jurisdição emerge evidente


quando se atenta para a realidade dos fatos:

a) a necessidade de redirecionamento da execução contra as empresas do grupo


econômico somente fica patente quando se constata, já na fase de execução, que o
sujeito aparente não tem bens para responder pela obrigação trabalhista em execução;

b) a existência de grupo econômico é, muitas vezes, desconhecida do credor-


exequente, somente sendo objeto de pesquisa quando verificada a ausência de bens
do sujeito aparente.”

Em 21/11/2003, após 18 anos de muitas críticas da doutrina à súmula 205 do TST, ela
foi finalmente cancelada pela Resolução Administrativa nº 121/2003, uniformizando a
jurisprudência em confluência com o art. 2º, §2º da CLT.

A partir disso, restou claro a pacificação da jurisprudência quanto a possibilidade de


inclusão de integrante do grupo econômico na fase de execução mesmo que este não tenha
participado da fase de conhecimento.

26
DALLARI, Dalmo de Abreu. O poder dos juízes. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 110 apud CLAUS, Ben-
Hur Silveira. Grupo econômico e coisa julgada de questão prejudicial, Revista do Tribunal TRT 10.
27
CLAUS, Ben-Hur Silveira. Grupo econômico e coisa julgada de questão prejudicial, Revista do Tribunal
do TRT 10.
29

Para Alice Monteiro de Barros 28, com o cancelamento da súmula a inclusão do


integrante do grupo econômico passou a ser fundamentada através da Teoria do Empregador
Único e do art. 50 do Código Civil:

“Cancelada a Súmula n. 205, a questão agora será decidida à luz do art. 422, do Código
Civil de 2002, que referendou o princípio da boa-fé nos contratos, do art. 50, do
mesmo diploma legal [...]. Ora, se está autorizada a desconsideração da personalidade
jurídica, a ponto de se atingir a pessoa física dos sócios e administradores, com muito
mais razão pode-se atingir empresas do mesmo grupo solidariamente responsáveis
para efeito da relação de emprego.”.

Ainda hoje, a jurisprudência mantém seu entendimento a respeito da inclusão de


membro do grupo econômico, vejamos alguns julgados nesse sentido:

“GRUPO ECONÔMICO- REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO -


CANCELAMENTO DA SÚMULA 205 DO TST. Considerando o disposto no § 2º
do artigo 2º da CLT, bem como a necessidade de se dar efetividade ao processo, sendo
frustrada a execução contra a empresa que figura no título exequendo, é plenamente
cabível o redirecionamento da execução contra integrante do mesmo grupo
econômico, ainda que não tenha figurado no polo passivo da ação de conhecimento,
o que inclusive veio a ser corroborado pelo cancelamento da Súmula 205 do TST

(TRT-3 - AP: 01128200203203009 MG 0112800-95.2002.5.03.0032, Relator: Paulo


Roberto Sifuentes Costa, Quinta Turma, Data de Publicação: 12/03/2012.)”

“RECURSO DE REVISTA - FASE DE EXECUÇÃO - RECONHECIMENTO DE


GRUPO ECONÔMICO - ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM - INCLUSÃO, NA FASE DE EXECUÇÃO, DE EMPRESA
INTERGRANTE DE GRUPO ECONÔMICO SEM QUE TENHA PARTICIPADO
DA FASE DE CONHECIMENTO - CANCELAMENTO DA SÚMULA 205 DO
TST - PRECEDENTE DO ARE 116361/SP DO STF - VIOLAÇÃO DO ART. 5º,
LIV E LV, DA CF - MATÉRIA NOVA - TRANSCENDÊNCIA POLÍTICA -
PROVIMENTO.

2. Esta Corte Superior, após o cancelamento da Súmula 205 do TST em 21/11/03,


passou a entender majoritariamente que é despicienda a participação, na fase de
conhecimento, de empresa solidariamente responsável pelo crédito trabalhista,
podendo a referida empresa ser incluída diretamente no polo passivo da fase de
execução. Tal entendimento visava a dar maior celeridade processual às demandas
laborais bem como a resguardar os casos em que os grupos econômicos são
constituídos após a propositura da ação judicial.

(TST - RR: 10016259620185020048, Relator: Ives Gandra Da Silva Martins Filho,


Data de Julgamento: 01/12/2021, 4ª Turma, Data de Publicação: 10/12/2021)”

No que pese o atual entendimento da jurisprudência, é notório que a vertente de quem


defende que a inclusão de integrante do grupo econômico na fase de execução é abusiva e
prejudica o devido processo legal, tem ganhado espaço nos últimos anos, a Profª Vólia Bomfim
Cassar29 manteve seu entendimento:

28
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de direito do trabalho, 10. ed. São Paulo: LTR, 2016, p. 258.
29
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho, 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2017, p
439.
30

“Portanto, mesmo após o cancelamento da Súmula nº 205 do TST, mantemos a


mesma opinião, isto é, de que não se pode executar quem não fez parte da fase
cognitiva e que não conste do título executivo judicial. A medida não pode ser
confundida com a figura, já estudada, da desconsideração da personalidade jurídica.”

Tal entendimento, é baseado no art. 513, §5º do CPC, que é aplicado ao processo do
trabalho por força do art. 15 também do CPC, de que o cumprimento de sentença não poderá
ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do corresponsável que não tiver participado
da fase de conhecimento.

Nesse momento vale lembrar: mesmo que a dívida seja em face de um membro do grupo
econômico todos acabam por responder solidariamente pelas dívidas decorrentes da relação de
emprego nos termos do art. 2º, §2º da CLT. Portanto, não parece razoável os demais membros
não puderem ser executados quando respondem solidariamente pelo debito.

Outro ponto importante a ser discutido sobre esse assunto é que recentemente em
14/09/2021, o Ministro Gilmar Mendes do Supremo Tribunal Federal (STF) cassou decisão do
TST. Conheceu o Agravo para dar provimento ao ARE 1.160.361/SP que trata de violação aos
princípios da ampla defesa, contraditório e devido processo legal em razão de incluir integrante
do grupo econômico que não participou da fase de conhecimento.

O referido Ministro aponta que o entendimento do TST após o advento do CPC/2015


merece ser revisto no que tange a viabilidade de promover a execução em face de executado
que não integrou a fase de conhecimento, também fundamentando seu ponto de vista com base
no art. 513, §5º do CPC.

Ainda que a decisão do Ministro Gilmar Mendes não tenha repercussão geral, isso abriu
espaço para novas discussões a respeito desse tema que há muito parecia superado pela
jurisprudência e o posicionamento apresentado revela um entendimento preocupante para o
Direito do Trabalho onde serão impostos novos empecilhos para a satisfação dos créditos
trabalhistas

3. Da suspensão nacional de todas as execuções

No dia 18/05/2022, a Ministra Vice-Presidente do TST Dora Maria da Costa, decidiu


no Agravo Interno ao Recurso de Revista 10252-81.2015.5.03.0146 pela suspensão nacional de
todas as execuções que versem sobre a inclusão de membro do grupo econômico na fase de
execução sem que tenha participado também da fase de conhecimento.
31

O processo que levou a Ministra tomar tal posicionamento trata-se de uma reclamação
trabalhista ajuizada por um topógrafo contra quatro empresas ligadas a bioenergia, ele buscava
a indenização por dano existencial bem como o adimplemento das verbas trabalhistas com o
fundamento de que as empresas pertenciam ao mesmo grupo econômico.

A ação teve início em meados de 2015 e o magistrado da Vara do Trabalho de


Nanuque/MG condenou as empresas do grupo econômico ao pagamento de parcelas
trabalhistas no valor de R$ 350 mil. As empresas recorreram, porém, a decisão foi mantida pelo
TRT da 3º Região, passando o processo para a fase do cumprimento de sentença.

Com a homologação dos cálculos, os advogados do autor notificaram o juízo que o


grupo econômico, além da multiplicidade de empresas, possuía mais de 1560 km de rodovias
em regime de concessões, entre elas a concessionária que ingressou com o recurso, que já tinha
bens bloqueados em outros processos. O juízo da execução, incluiu a empresa no processo,
decisão que foi mantida pelo TRT.

As empresas então, interpuseram Recurso de Revista (RR) ao TST, alegando matéria de


repercussão geral, em razão da ofensa aos princípios da ampla defesa, contraditório e do devido
processo legal, além de ser uma das empresas concessionária de serviço público, a constrição
de seu patrimônio estaria causando prejuízos ao funcionamento da prestação de serviços a
coletividade.

Um dos argumentos utilizados no RR seria de que a empresa não poderia ser


responsabilizada por dívida assumida pela devedora principal sem a instauração prévia de
incidente de desconsideração da personalidade jurídica e em razão do processo ter sido ajuizado
em 2015, anterior a reforma trabalhista de 2017, deveria ser aplicado o art. 2º, §2º da época.

A empresa também alegou que não poderia integrar grupo econômico por ser regida
pela Lei nº 11.079/2004, a lei de licitações, sob afronta aos princípios gerais da atividade
econômica. Por fim, afirmou que caso seja reconhecido o grupo econômico, não poderia ser
executada por não ter participado da fase de conhecimento da ação nos termos do art. 513, §5º
do CPC e do art. 10 que prevê a vedação da decisão surpresa.

As principais teses que a defesa sustenta foram rebatidas tanto pelo TRT quanto pelo
TST, não há necessidade no caso em tela de aplicar o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, pois como já mencionado nesse trabalho o incidente busca redirecionar
32

a execução para os bens dos sócios ou de empresas que não participaram do processo, o Ministro
Alberto Luiz Bresciani de Fontan Pereira brilhantemente arremata:

"3. NULIDADE. INSTAURAÇÃO DE INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO


DA PERSONALIDADE JURÍDICA. A responsabilização de empresa componente
de grupo econômico não está sujeita ao procedimento da desconsideração da
personalidade jurídica, cujo intuito é o de direcionar a execução aos bens dos sócios,
uma vez que, legalmente, já responde pelos débitos do grupo econômico (art. 2º, § 2º,
da CLT). [...]."

(AIRR - 10023-24.2015.5.03.0146, 3ª Turma, Relator: ALBERTO LUIZ


BRESCIANI DE FONTAN PEREIRA, DEJT 08/05/2020)

Além disso, independente dessa ação estar sendo aplicada a antiga redação do art. 2º,
§2º da CLT, desde o cancelamento da Súmula 205 do TST, a jurisprudência seguia o caminho
totalmente a favor da inclusão de integrante do grupo econômico na fase de execução ainda que
este não tenha participado da fase de conhecimento.

A controvérsia gerada a respeito desse tema gira em torno do art. 513, §5º do CPC e a
sua aplicação à Justiça do Trabalho, na própria decisão da Ministra Vice-Presidente, podemos
notar um conflito de interesses das normas trabalhistas com as normas cíveis, os Ministros que
entendem ser licita a inclusão da empresa no polo passivo ainda que não tenha participado da
fase de conhecimento estão mais alinhados com os princípios e normas trabalhistas, enquanto
por outro lado aqueles que decidem pela inconstitucionalidade da integração estão mais
alinhados com os princípios e normas cíveis.

Vejamos dois julgados que retratam os posicionamentos mencionados acima:

“AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO. 2. DIREITO PROCESSUAL E


DO TRABALHO. 3. GRUPO ECONOMICO. 4. ART. 513, §5º, DO CPC. O
cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face daquele que não tiver
participado da fase de conhecimento. 5. Tribunal de origem afastou aplicação do
referido dispositivo, sem observar cláusula de reserva de plenário. Violação à Súmula
Vinculante 10 desta Corte. Reclamação julgada procedente para determinar o
rejulgamento da causa. 6. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão
agravada. 7. Negado provimento ao agravo regimental.”

(RCL 49974 AGR, Rel. Min. GILMAR MENDES, Segunda Turma, DJe-054 de
22/3/2022)

“CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM


RECLAMAÇÃO. VIOLAÇÃO AO ENUNCIADO DA SÚMULA VINCULANTE
10. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE ESVAZIAMENTO DA NORMA OU
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. RECURSO DE AGRAVO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. No caso concreto, o reconhecimento da
responsabilidade solidária da parte ora recorrente, por fazer parte de grupo econômico,
ocorreu com fundamento no art. 2º, § 2º, da CLT, bem como nos entendimentos
doutrinários e jurisprudenciais que permeiam a temática. 2. Não houve esvaziamento
ou manifestação - explícita ou implícita - sobre a inconstitucionalidade da norma
prevista no art. 513, § 5º, do CPC, a qual defende-se ter sido afastada pelo juízo da
33

origem. 3. “Para a caracterização de ofensa ao art. 97 da Constituição Federal, que


estabelece a reserva de plenário (full bench), é necessário que a norma aplicável à
espécie seja efetivamente afastada por alegada incompatibilidade com a Lei Maior.
Não incidindo a norma no caso e não tendo sido ela discutida, a simples aplicação da
legislação pertinente ao caso concreto não é suficiente para caracterizar a violação à
Súmula Vinculante 10, do Supremo Tribunal Federal” (AI 814.519-AgR-AgR, Rel.
Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, DJe 30/5/2011). 4. A Autoridade Reclamada
limitou-se a realizar um juízo interpretativo da norma celetista, motivo pelo qual não
há necessidade de observância à Cláusula de Reserva de Plenário. Precedentes. 5.
Nessas circunstâncias, em que não se tem presente o contexto específico do Enunciado
Vinculante 10, não há estrita aderência entre o ato impugnado e o paradigma
invocado. 6. Agravo Regimental a que se nega provimento.”

(RCL 51753 AGR, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, DJe-
057 de 25/3/2022

É possível extrair desses julgados uma patente tentativa de descaracterizar as normas


trabalhistas em desfavor dos empregados, ainda que o Código de Processo Civil possa ser
utilizado supletiva e subsidiariamente ao Processo do Trabalho por força de seu art. 15, deve
ser observados os limites de compatibilidade entre as duas áreas do Direito.

Aceitar a interpretação do art. 513, §5º ao Processo do Trabalho nos casos de integração
de membro do grupo econômico na fase de execução é retroagir o Direito do Trabalho para
1985 quando a Súmula 205 do TST passou a vigorar.

É criar uma nova barreira ao adimplemento dos créditos trabalhistas que tem caráter
alimentar, no próprio caso discutido, um processo iniciado em 2015 que ainda hoje em 2022,
quase 07 anos do ajuizamento da ação, não teve seu desfecho e será prolongado por mais tempo
em razão de todas as discussões sobre um tema que já devia estar consolidado entre a
jurisprudência.

Contudo, em razão dos posicionamentos distintos de cada Ministro e suas respectivas


turmas, a Ministra Vice-Presidente optou por suspender todos as execuções que versem sobre
esse tema e conjuntamente com a ADPF 488, que teve seu julgamento suspenso, decidiu
encaminhar os autos do TST - AIRR – 10023-24.2015.5.03.0146 e Ag - ED -AIRR – 10252-
81.2015.5.03.0146 ao Supremo Tribunal Federal (STF) como representativo de controvérsia
para o julgamento da matéria pela Suprema Corte.

4. ADPF 488 e 951

Antes de analisar de fato as ADPFs 488 e 951, precisamos primeiro entender o que
significa uma ADPF, trata-se de “arguição de descumprimento de preceito fundamental” uma
34

ação constitucional de controle concentrado30 julgada e processada pelo STF, nas palavras do
Ministro Alexandre de Moraes31:

“Caberá preventivamente, arguição de descumprimento de preceito fundamental


perante o Supremo Tribunal Federal com o objetivo de se evitar lesões a princípios,
direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal, [...], decorrente
de ato praticado pelo Poder Público [...].”

É um tipo de ação complexa e muito restrita quanto ao seu cabimento, a lei nº


9.882/1999 em complemento ao art. 102, §1º da CF/88, prevê apenas três hipóteses de
cabimento para a ADPF: evitar lesão de preceito fundamental, resultante de ato do Poder
Público; reparar lesão de preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público e quando
houver relevante controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal, incluídos os anteriores à Constituição.

Além disso, somente aqueles legitimados a propor ação direta de inconstitucionalidade


(Art. 103, inciso I a IX da CF/88) podem ajuizar a ADPF, qual seja, o Presidente da República,
a Mesa do Senado Federal, a Mesa da Câmara dos Deputados, a Mesa de Assembleia
Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o Governador de Estado ou do
Distrito Federal, o Procurador-Geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos
Advogados do Brasil, partido político com representação no Congresso nacional e a
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Caso a ADPF seja julgada procedente, terá efeito erga omnes, ou seja, terá eficácia
contra todos, além efeitos vinculantes aos demais órgãos do Poder Público, cabendo reclamação
para garantir que esses efeitos sejam cumpridos. Nos termos do art. 11 da lei nº 9882/1999 se a
ADPF declarar a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo que foi arguido, o STF poderá,
em razão de segurança jurídica ou excepcional interesse social, por maioria de dois terços de
seus membros, restringir os efeitos dessa declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir
de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha ser fixado.

Diante da excepcionalidade da ADPF, a lei nº 9882/199 em seu art. 4º veda a sua


utilização quando houver outro meio eficaz de sanar a lesividade, a jurisprudência também
segue a rigor o chamado princípio da subsidiariedade:

AGRAVO REGIMENTAL EM ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE


PRECEITO FUNDAMENTAL. ATOS JURISDICIONAIS SUBMETIDOS AO

30
Uma ação de controle concentrado significa que a norma paradigma é a Constituição Federal e, portanto, deve
ser julgada pelo STF.
31
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional, 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003, item 14.
35

SISTEMA RECURSAL. NEGATIVA DE SEGUIMENTO À ADPF.


INOBSERVÂNCIA DO REQUISITO DA SUBSIDIARIEDADE.
DESPROVIMENTO DO AGRAVO REGIMENTAL. 1. O cabimento da Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental será viável desde que haja a observância
do princípio da subsidiariedade, que exige o esgotamento de todas as vias possíveis
para sanar a lesão ou a ameaça de lesão a preceitos fundamentais, ou a verificação, ab
initio, de sua inutilidade para a preservação do preceito. Precedentes desta CORTE.
2. Arguição ajuizada com propósito de revisão de decisões judiciais. Não cabimento
da ADPF como sucedâneo recursal. 3. Agravo Regimental a que se nega provimento.

(STF - ADPF: 725 DF, Relator: ALEXANDRE DE MORAES, Data de Julgamento:


11/11/2020, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 25/11/2020)

É nítido a quantidade de exigências que devem ser cumpridas para que uma ADPF seja
acolhida, agora que temos uma noção inicial do que se trata uma arguição de descumprimento
de preceito fundamental, passemos para as análises da ADPF 488 e 951 respectivamente.

A ADPF 488 foi proposta pela Confederação Nacional de Transporte (CNT), associação
sindical que busca representar as empresas do setor de transporte e logística, em razão de atos
praticados pelos Tribunais e Juízes do Trabalho que admitem a inclusão no polo passivo, no
cumprimento de sentença, de pessoas físicas e jurídicas que não participaram da fase de
conhecimento e que não constaram dos títulos executivos judiciais, sob a alegação de que
integram um mesmo grupo econômico.

A CNT aponta que a pratica mencionada viola o art. 5º, incisos LIV e LV da CF/88, que
garantem os direitos fundamentais à isonomia, ao contraditório, a ampla defesa e ao devido
processo legal, também alega a existência de controvérsia na Justiça do Trabalho a respeito da
interpretação do art. 2º, §2º da CLT e demanda solução definitiva.

Durante o processo da ADPF a Relatora do caso a Ministra Rosa Weber, determinou a


requisição de informações previas ao Tribunal Superior do Trabalho e aos Tribunais Regionais
do Trabalho acerca das jurisprudências adotas em seus respectivos tribunais sobre o tema
discutido na ação.

Em exceção do TST e do TRT da 19ª Região, todos os demais TRTs se manifestaram


sobre o seu posicionamento frente a inclusão de membro de grupo econômico através de
ofícios32, todos eles seguem na mesma linha de raciocínio quanto ao tema, destaco os
entendimentos dos TRTs 2ª, 6ª e 7ª Região a seguir.

32
Os ofícios mencionados podem ser encontrados no site
https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5284998.
36

O TRT da 2ª Região discutiu a respeito da caracterização dos grupos econômicos,


informou que a inclusão de empresas integrantes de grupo econômico no polo passivo de
demandas trabalhistas na fase de execução, nessa Corte, de acordo com o caso concreto
respeitando as garantias constitucionais do devido processo legal, contraditório e ampla defesa,
oportunizada a apresentação, pelas partes, de exceção de pré-executividade, embargos à
execução e agravo de petição.

O TRT da 6ª Região informou a existência de entendimento consoante com a


jurisprudência majoritária do TST: “no sentido de que integrante de grupo econômico, mesmo
não tendo participado da relação processual na fase cognitiva, poderá ser sujeito passivo na fase
de execução”, explicou também que quando ocorre o redirecionamento do procedimento
executório à empresa integrante de grupo econômico, há a observância ao devido processo
legal, contraditório e ampla defesa, facultando-se em cada caso a aplicação de ações, recursos
e demais remédios processuais previstos em lei.

O TRT da 7ª da Região asseverou que: “o Judiciário Trabalhista não tem atuado de


forma abusiva, nem, tampouco, sem fundamento legal, [...] mas sim dentro da estrita legalidade,
de maneira a viabilizar a efetiva entrega da prestação jurisdicional, não podendo o grupo
econômico servir de manto para a proteção das pessoas jurídicas e dos respectivos sócios que
descumprem as obrigações trabalhistas.”.

Como mencionado, os demais TRTs, também seguem o mesmo pensamento quanto a


inclusão de integrante do grupo econômico, na fase de execução, mesmo que não tenha
participado da fase de conhecimento ou constar em título executivo judicial, visto que esse é o
entendimento legal correto a ser feito do art. 2º, §2º da CLT, que serve para descaracterizar a
suposta controvérsia da Justiça do Trabalho com relação a essa matéria.

Importante frisar que em nenhum dos pareceres oferecidos pelos TRTs não houve
menção ao art. 513, §5º do CPC que está sendo utilizado para justificar a inconstitucionalidade
do posicionamento adotado pela Justiça do Trabalho, o que pode demonstrar entendimento pela
incompatibilidade do referido artigo com o Direito do Trabalho, já que acaba por criar
obstáculos aos princípios trabalhistas.

A ADPF 488 ainda não teve um desfecho, em 14/12/2021 com os votos do Ministro
Alexandre de Moraes e a Ministra relatora Rosa Weber pelo não conhecimento da arguição de
descumprimento de preceito fundamental, o Ministro Gilmar Mendes pediu vista ao processo e
37

até o presente momento não houve uma conclusão, as últimas movimentações processuais
foram de associações que buscam ingressar na ação como Amicus Curiae33.

Em relação a ADPF 951, esta também foi proposta pela Confederação Nacional de
Transporte – CNT, com a finalidade de discutir as decisões da Justiça do Trabalho que
reconhecem a responsabilidade solidaria às empresas sucedidas, diante de simples
inadimplemento de suas sucessoras ou de indícios unilaterais de formação de grupo econômico
sem a efetiva comprovação de fraude na sucessão e independentemente de sua prévia
participação no processo de conhecimento ou em incidente de desconsideração da
personalidade jurídica.

No mérito a CNT alega que mesmo com a inclusão do art. 448-A da CLT pela reforma
trabalhista de 2017, que restringe as hipóteses de responsabilização solidaria da empresa
sucedida aos casos que restarem comprovada a fraude na transferência, os julgados trabalhistas
tem aceitado de forma genérica qualquer indicio comprobatório para, desconstituindo a
sucessão empresarial, atrair para o polo passivo da execução todas as empresas relacionadas a
responder pelas obrigações trabalhistas, muitas vezes, sem a oportunidade de contraditório
prévio na fase de conhecimento ou na fase de cumprimento de sentença.

Argumenta que isso viola a repartição de competências, pois os magistrados trabalhistas


estariam declarando fraude em análise dos elementos contratuais das empresas cuja avaliação
não detém competência, bem como os arts. 93, inciso IX e 170 da CF/88 já que os TRTs
estariam reconhecendo essa fraude sem a adoção de qualquer procedimento adequado para essa
finalidade, se baseando apenas na insuficiência de recursos da sucessora sem motivação
concreta sobre a ocorrência de irregularidades nas operações comerciais/societárias entre elas
realizadas.

Assim como na ADPF 488, sustenta que essas decisões violam os preceitos
constitucionais do contraditório, ampla defesa e do devido processo legal (arts. 5º, incisos LIV
e LV) além dos princípios da legalidade (art. 5º, inciso II), do direito à propriedade (art. 5º,
inciso XXII), da fundamentação das decisões judiciais (art. 93, inciso IX), da reserva de
plenário (art. 97), da competência da Justiça do Trabalho (art. 114, incisos I e XI), da livre
iniciativa (art. 170) e da proteção do mercado (art. 219).

33
Termo em latim que significa amigo da corte ou amigo do tribunal. Quando há o total desconhecimento da
matéria analisada pelo julgador, algumas entidades usam essa figura para auxiliar o juiz com as decisões.
38

O Ministro relator Alexandre de Moraes solicitou informações definitivas sobre o objeto


da Arguição e o Tribunal Superior do Trabalho se manifestou no sentido de que o art. 448-A
foi criado para garantir ao empregado a possibilidade de cobrança de seus créditos daquele que
de fato possui o patrimônio, com base no princípio protetivo da dignidade do trabalhador.

O TST em seu parecer reforçou que o seu entendimento jurisprudencial reconhece,


excepcionalmente, a possibilidade solidária da empresa sucedida apenas nas hipóteses de fraude
e absoluta insuficiência econômica da empresa sucessora nos termos do art. 10 e 448 da CLT,
vejamos algumas das jurisprudências escolhidas pelo TST para justificar seu ponto de vista:

A) AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. SUCESSÃO TRABALHISTA.
RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DA SUCESSORA. EVIDENCIADA A
POSSÍVEL VIOLAÇÃO DOS ARTS. 10 E 448 DA CLT, DÁ-SE PROVIMENTO
AO AGRAVO DE INSTRUMENTO PARA DETERMINAR O
PROCESSAMENTO DO RECURSO DE REVISTA. AGRAVO DE
INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. B) RECURSO DE REVISTA.
RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA. SUCESSÃO TRABALHISTA.
RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DA SUCESSORA. PREVALECE NESTA
CORTE O ENTENDIMENTO DE QUE A OCORRÊNCIA DE SUCESSÃO
TRABALHISTA, SEM NOTÍCIA NO ACÓRDÃO REGIONAL SOBRE FRAUDE
OU ABSOLUTA INSUFICIÊNCIA ECONÔMICO-FINANCEIRA DO
SUCESSOR, NOS MOLDES DOS ARTS. 10 E 448 DA CLT, JUSTIFICA A
RESPONSABILIZAÇÃO EXCLUSIVA DO SUCESSOR. NO CASO EM TELA,
NÃO RESTOU DEMONSTRADA FRAUDE NA SUCESSÃO TRABALHISTA,
TAMPOUCO A RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DA OBREIRA DEPOIS
DA SUCESSÃO, EM FACE DO DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES
TRABALHISTAS, PERMITE CONCLUIR PELA ABSOLUTA INSUFICIÊNCIA
ECONÔMICO-FINANCEIRA DA SUCESSORA PARA ARCAR COM OS
CRÉDITOS VINDICADOS NA PRESENTE DEMANDA. DESSARTE, MERECE
REFORMA A DECISÃO REGIONAL PARA EXCLUIR A RESPONSABILIDADE
SUBSIDIÁRIA IMPOSTA À EMPRESA SUCEDIDA, CONFORME
JURISPRUDÊNCIA ADOTADA POR ESTE TRIBUNAL SUPERIOR. RECURSO
DE REVISTA CONHECIDO E PROVIDO.

(TST - RR: 101472920175150105, RELATOR: DORA MARIA DA COSTA, DATA


DE JULGAMENTO: 21/08/2019, 8ª TURMA, DATA DE PUBLICAÇÃO: DEJT
23/08/2019)

[...] III - RECURSO DE REVISTA DA RÁDIO E TELEVISÃO RECORD S.A. -


SUCESSÃO DE EMPREGADORES. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA
EMPRESA SUCEDIDA. Como regra geral, a sucessão trabalhista transfere para o
sucessor a exclusiva responsabilidade pelo adimplemento e execução dos
contratos de trabalho do empregador sucedido. A responsabilidade solidária é
possível apenas em circunstâncias excepcionais de fraude ou absoluta
insuficiência econômico-financeira do sucessor. No caso dos autos, não
evidenciadas tais hipóteses, impossível a condenação. Precedentes. Recurso de
revista conhecido e provido, para excluir a responsabilidade solidária da RÁDIO E
TELEVISÃO RECORD S.A., julgando, quanto a ela, improcedente a reclamação,
estando prejudicada a análise da limitação pretendida.

(TST - RR: 117079120165030002, Relator: Alberto Luiz Bresciani De Fontan


Pereira, Data de Julgamento: 07/12/2021, 3ª Turma, Data de Publicação:
11/02/2022)
39

Além disso, deixou claro que foi franqueado às Partes o acesso ao judiciário e
assegurado o direito ao devido processo legal, contraditório e a ampla defesa, incluindo o que
concerne ao duplo grau de jurisdição.

Diante do posicionamento do TST a respeito da matéria em questão, vemos que o


princípio protetivo da dignidade do trabalhador foi prestigiado, em ambos os casos a CNT
busca a inconstitucionalidade da possibilidade de responsabilização de outra empresa que não
seja a titular do débito trabalhista, mas se esse tipo entendimento passar a vigorar, o
trabalhador será deixado a própria sorte.

O objetivo da Justiça do Trabalho é buscar uma maior igualdade entre as partes e


Sérgio Pinto Martins 34 já dizia que:

“Direito do Trabalho é o conjunto de princípios, regras e instituições atinentes à


relação de trabalho subordinado e situações análogas, visando assegurar melhores
condições de trabalho e sociais ao trabalhador, de acordo com as medidas de
proteção que lhe são destinadas.”

É de conhecimento geral que os trabalhadores são o lado mais frágil da relação de


trabalho e por isso os mecanismos legais e entendimentos jurisprudenciais atuam de forma
mais benéfica aos empregados o que acaba por levar os empregadores erroneamente a achar
que estão sendo prejudicados quando na realidade apenas estão equiparando suas posições.

A Advocacia-Geral da União (AGU) e a Procuradoria-Geral da União (PGU) se


manifestaram pelo não conhecimento da ADPF 951, em razão do não cumprimento dos
requisitos de admissibilidade da Arguição, qual sejam, a observância do princípio da
subsidiariedade, a legitimidade ativa e a existência de controvérsia constitucional relevante.

Por fim o Ministro relator Alexandre de Moraes reforça:

“Não bastasse isso, compreendo ausente a demonstração de divergência


jurisprudencial apta a revelar uma ampla controvérsia de perfil objetivo, eis que as
decisões judiciais impugnadas nos autos ostentam todas um mesmo sentido,
promovendo a responsabilização solidária de empresas cuja sucessão tenha ocorrido
de maneira maculada

(STF - ADPF: 951 DF 0115759-54.2022.1.00.0000, Relator: ALEXANDRE DE


MORAES, Data de Julgamento: 08/08/2022, Data de Publicação: 10/08/2022)”

34
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do trabalho, 28 ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 17.
40

A ADPF 951 ainda não foi finalizada, porém a maior parte dos Ministros do STF
acompanharam o voto do Ministro relator, novamente o Ministro Gilmar Mendes pediu vista
do processo o que impediu o julgamento definitivo da matéria.

5. Princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa

Para finalizar o presente trabalho, é importante analisar os princípios que foram


diversas vezes evocados nos casos concretos apresentados acima e entender se houve de fato
uma violação desses princípios que formam a base constitucional do Direito brasileiro e são
aplicados em todas as suas áreas.

O princípio do devido processo legal pode ser encontrado no art. 5º, inciso LIV da
Constituição Federal e diz o seguinte: “LIV: ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal”, para entender o significado do devido processo legal
temos que ler esse inciso acompanhado do inciso seguinte: “LV: aos litigantes, em processo
judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

Podemos compreender, de maneira simplificada, que o devido processo legal é a


possibilidade de que as partes usem de todas as ferramentas admitidas em direito para
defender o seu ponto de vista dentro de um processo seja ele judicial ou administrativo, para
André Ramos Tavares 35:

“O devido processo legal, no âmbito processual, significa a garantia concedida à


parte processual para utilizar-se da plenitude dos meios jurídicos existentes. Seu
conteúdo identifica-se com a exigência de “paridade total de condições com o
Estado persecutor e plenitude de defesa”. Na realidade, a paridade de “armas” tem
como destinatário não apenas o Estado, mas também a parte contrária. É, em
realidade, o próprio contraditório.”

Arremata ainda que:

“A plenitude de defesa, referida no conceito de devido processo legal, significa


direito a defesa técnica, à publicidade da decisão, à citação, à produção ampla de
provas, ao juiz natural, aos recursos legais e constitucionais, à decisão final
imutável, à revisão criminal, ao duplo grau de jurisdição.”

Dentro dos conceitos elucidados acima, percebe-se que foram respeitadas todas essas
garantias nos processos e arguições comentados nos tópicos anteriores, foram oportunizadas

35
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional, 10. ed. rev. e atual., São Paulo: Saraiva, 2012,
p. 741.
41

as partes, ainda que dentro da fase de cumprimento de sentença, os meios jurídicos adequados
para se discutir a legitimidade de sua inclusão no polo passivo da demanda bem como a
validade do grupo econômico formado.

Não é razoável dizer que o princípio do devido processo legal foi violado porque uma
empresa que efetivamente integre grupo econômico com a devedora principal foi incluída no
polo passivo da execução, pois isso é uma exceção as regras processuais, fundamentada em
lei e jurisprudência dos Tribunais e que mesmo assim nada obsta as empresas incluídas, a
produção de provas e discussão do cabimento de sua inclusão através dos embargos à
execução, exceção de pré-execuividade e eventual agravo de petição.

Se basear nos dizeres do art. 513, §5º do CPC para defender a inconstitucionalidade
de uma jurisprudência consolidada a quase 20 anos na Justiça do Trabalho é desmerecer a
especificidade das leis trabalhistas, ainda que a CLT seja omissa em diversos aspectos e
muitas vezes os advogados e juízes do trabalho tenham de recorrer ao CPC para preencher as
lacunas, não podemos ignorar aquelas que estão expressamente previstas no ordenamento
jurídico trabalhista.

Também não se faz cabível a necessidade de aplicar o incidente de desconsideração


da personalidade jurídica, outro argumento utilizado frequentemente para declarar a violação
ao devido processo legal, pois como foi demonstrado ao longo deste trabalho a doutrina e a
jurisprudência majoritária entendem que não há o redirecionamento para os bens do sócio,
mas tão somente o adimplemento da dívida através da responsabilidade solidária.

Além disso, os pareceres apresentados pelos TRTs e pelo TST sempre deixaram claro
que não há violação de nenhum dos princípios constitucionais acerca deste tema, bem como
demonstraram uma uniformização jurisprudencial impecável de modo que resta claro o
caminho a ser tomado pelo STF quanto ao julgamento “controverso” dessa matéria.
42

CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho analisamos, os tipos de empregador, os fundamentos para


criação de um grupo econômico e o seus tipos, bem como as modalidades de desconsideração
da personalidade jurídica e o recente instituto do incidente da desconsideração da
personalidade jurídica incluído pela reforma trabalhista de 2017.

Chegando à análise dos julgados mais recentes acerca da controvérsia dessa matéria,
o Recurso de Revista TST - AIRR – 10023-24.2015.5.03.0146 e as ADPFs 488 e 951 que
evidenciavam a necessidade de pacificação jurisprudencial dessa questão fazendo com que
todas as execuções trabalhistas que possuam o mesmo objeto fiquem suspensas.

Entender as ideias por trás de cada um desses processos permitiu que pudéssemos ter
uma noção geral sobre a inclusão de empresas integrantes de um mesmo grupo econômico
ainda que este não tenha participado da fase de conhecimento ou conste do título executivo
judicial.

É evidente um posicionamento da Justiça do Trabalho a favor do entendimento atual


das regras do art. 2º, 2º da CLT pós cancelamento da Súmula nº 205 do TST, buscando zelar
pelo princípio da proteção a dignidade do trabalhador e mesmo no STF este parece ser o
posicionamento da maioria dos Ministros também.

Entretanto, levando em consideração o atual cenário político que estamos vivendo,


onde diariamente os interesses dos empregadores estão sendo cada vez mais prestigiados em
relação aos interesses dos trabalhadores, um cenário onde a inconstitucionalidade da
interpretação pela inclusão das empresas no polo passivo das demandas é declarada se torna
possível.

Mas diante dos argumentos apresentados dentro dos próprios recursos e ADPFs
analisados em conjunto com o posicionamento dos Tribunais e Ministros, a melhor solução
para o Direito do Trabalho seria optar pela incompatibilidade do art. 513, §5º do CPC, em
questões que tratem de inclusão de membros do grupo econômico no cumprimento de
sentença e pacificar através do STF o entendimento consolidado após a revogação da Súmula
nº 205 do TST.
43

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