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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS

GRADUAÇÃO EM DIREITO

THAINA GODOI PISCIONERI

A REFORMA TRABALHISTA E O RESPEITO AO ATO JURÍDICO PERFEITO


QUANTO AOS ATOS FIRMADOS ANTES DE SUA VIGÊNCIA

MOOCA
2022
THAINA GODOI PISCIONERI

A REFORMA TRABALHISTA E O RESPEITO AO ATO JURÍDICO PERFEITO


QUANTO AOS ATOS FIRMADOS ANTES DE SUA VIGÊNCIA

Monografia apresentada ao curso de Direito da


Universidade São Judas Tadeu, como
requisito para obtenção do título de Bacharel
em Direito.

Orientadora: Professora Maria Vitória Queija


Alvar.

MOOCA
2022
Dedico este trabalho aos meus familiares e
pessoas que me auxiliaram nesta
formação.
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer de forma sincera, primeiramente a minha família, a qual


foi quem me proporcionou o alicerce para todas as minhas conquistas.
A todos os meus professores que fizeram parte da minha formação e vida, aos
quais ajudaram na minha construção acadêmica e pessoal. Em especial a Professora
Maria Vitória Queija Alvar, que foi minha orientadora nesta monografia.
Aos meus amigos e colegas, e todas as pessoas que de alguma forma
contribuíram para meu sucesso.
“O Capital não tem a menor consideração pela
saúde ou duração da vida do trabalhador, a não ser
quando a sociedade a força a respeitá-la”.

(Karl Marx)
RESUMO

A presente monografia irá tratar sobre a reforma trabalhista e o respeito ao ato jurídico
perfeito quanto aos atos firmados antes de sua vigência, para que seja possível fazer
uma aferição entre quais foram essas reformas, como foram aplicadas e como foi
lidado sobre as decisões formadas anteriormente. Será verificada a prevalência de
ações negociadas diante do legislado e sua possibilidade perante o consentimento
pela Constituição Federal, como ocorreram os acordos anteriores, negociações
coletivas, condições trabalhistas que pudessem ser mantidas na lei expressa. O atual
trabalho, tem como objetivo analisar como ocorreram e quais foram os impactos
causados pela reforma trabalhista, diante da Lei 13.467/2017. Para que houvesse
maior compreensão dos leitores sobre o assunto, será traçada uma linha do tempo
com a história da CLT, sua criação e até os dias atuais. Também será feita uma
análise sobre como foi feita a elaboração da reforma trabalhista, quais eram os
objetivos e características, os itens alterados como, tempo e disposição do
empregador, além de analisar como se desenvolveu conflitos diante do ato jurídico
perfeito, após os atos firmados.

Palavras-chave: Reforma trabalhista; CLT; Ato Jurídico Perfeito.


ABSTRACT

This monograph will deal with the labor reform and respect for the perfect legal act regarding
the acts signed before its validity, so that it is possible to make a comparison between what
these reforms were, how they were applied and how it was dealt with on the decisions formed
previously. The prevalence of actions negotiated before the legislature and their possibility
before the consent by the Federal Constitution will be verified, as occurred in previous
agreements, collective bargaining, labor conditions that could be maintained in the express
law. The current work aims to analyze how they occurred and what were the impacts caused
by the labor reform, in view of Law 13.467/2017. In order for readers to have a better
understanding of the subject, a timeline will be drawn with the history of the CLT, its creation
and up to the present day. An analysis will also be made of how the elaboration of the labor
reform was carried out, what were the objectives and characteristics, the items changed, such
as time and disposition of the employer, in addition to analyzing how conflicts developed in the
face of the perfect legal act, after the signed acts.

Keywords: Labor reform; CLT; Perfect Legal Act.


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Antes e depois da reforma trabalhista ............................................... 34


Quadro 2 - Antes e depois da reforma trabalhista 2 ............................................. 34
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Surgimento da CLT ............................................................................. 20


Figura 2 – Definição do que é empregado ........................................................... 25
SUMARIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11
2. REFERÊNCIAL TEÓRICO ........................................................................ 13
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .................................................. 15
4. DESENVOLVIMENTO ............................................................................... 16
4.1. Contexto histórico e a CLT ............................................................. 16
4.2. Constituição de 1988 ...................................................................... 21
4.3. Direitos trabalhistas ........................................................................ 25
4.4. Reforma trabalhista......................................................................... 29
4.5. Terceirização do trabalho ............................................................... 37
4.6. Ato jurídico perfeito ......................................................................... 41
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 47
6. REFERÊNCIAS ......................................................................................... 49
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1. INTRODUÇÃO

A presente monografia terá como tema principal a reforma trabalhista e o


respeito ao ato jurídico perfeito quanto aos atos firmados antes de sua vigência, para
que seja possível fazer uma aferição entre quais foram essas reformas, como foram
aplicadas e como foi lidado sobre as decisões formadas anteriormente. Onde esta
reforma trabalhista acabou sendo aplicada pela lei de n° 13.467, de 2017 em
comparação aos direitos que foram intitulados pela Constituição Federal de 1988,
diante desta aplicação, iniciaram as restrições da classe trabalhadora, o acesso que
tinham à justiça, os princípios constitucionais e garantias.
Será verificada a prevalência de ações negociadas diante do legislado e sua
possibilidade perante o consentimento pela Constituição Federal, como ocorreram os
acordos anteriores, negociações coletivas, condições trabalhistas que pudessem ser
mantidas na lei expressa. Contudo, para que se tenha uma melhor compreensão
sobre a reforma trabalhista e os impactos negativos causados por ela, com a restrição
do acesso à justiça, se faz necessária uma construção dos direitos, em que será
trazido um contexto histórico ao dos anos.
Com o passar dos anos, foram reinventadas certas partes da constituição que
se denominou a reforma trabalhista, diante da lei nº 13.467 criada em 13 de julho de
2017. Foi com ela que se alterou consideravelmente diversos pontos da Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT), que tinha sido aprovada diante do Decreto-Lei 5.452, de
1º de maio de 1943, em que se defendia com essa reforma a modernização do texto
legal, em que novas relações de trabalho deveriam ser adequadas. De todo modo,
essa reforma só foi aprovada em meio a um quadro de crise política e econômica que
o Brasil passava na época, onde seu processo de aprovação foi diferente dos demais,
por conta da velocidade de elaboração do texto, modificação, as discussões que foram
criadas até a aprovação.
Com a reforma trabalhista houvera ainda diversas críticas com a sua
elaboração, por culpa das instituições que eram aderentes ao direito do trabalho, em
que se foi feita uma reorganização de condições e prevalência do negociado sobre o
legislado. Ainda mais, com a reforma trabalhista a Constituição garantia pelo seu
artigo 5º, que faz a proteção do contrato, como ato jurídico perfeito com as
elaborações legislativas. Ou seja, que as novas leis não poderiam incidir diante das
relações jurídicas que já estavam em curso.
12

O atual trabalho, tem como objetivo analisar como ocorreram e quais foram os
impactos causados pela reforma trabalhista, diante da Lei 13.467/2017. Analisar como
foi feita a elaboração da reforma trabalhista, quais eram os objetivos e características,
os itens alterados, analisar como se desenvolveu conflitos diante do ato jurídico
perfeito, após os atos firmados. Identificar se o Brasil já se adaptou as novas
condições e como essas foram implantadas.
Para que houvesse maior compreensão dos leitores sobre o assunto, será
traçado uma linha do tempo com a história da CLT, sua criação e até os dias atuais.
Descrevendo como foi a elaboração da Constituição de 1988, os direitos trabalhistas,
como a lei nº 13.467/2017 foi elaborada até a reforma trabalhista, para que seja
possível analisar como está o ato jurídico perfeito diante das mudanças.
Este trabalho se faz de suma importância pois diversos cidadãos ainda não
estão cientes dessa reforma trabalhista, de onde ela surgiu e como passou a ser
aplicada no país. Além de trazer mais informações sobre processos que já estavam
em andamento e continuaram mediante as leis anteriores. Ou seja, fazer com que o
leitor tenha mais conhecimento sobre o tema, saiba de seus direitos e assim promova
melhorias em seu ambiente de trabalho.
13

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Para que existisse uma alta gama de informações para a elaboração da


monografia, diversas fontes foram utilizadas, dentre os escritores mais pautados neste
trabalho se tem: SILVA, A. (2018), OLIVEIRA, L. (2017), SILVA, T. e CAMPOS, J.
(2021), SILVEIRA, J. (2018) e MENEZES, F. FERNANDES, S. SOARES, G. (2022).
Esses são artigos que estão compreendidos em um período próximo ao de elaboração
deste trabalho de conclusão de curso.
Quando se define o que é trabalho, Karl Marx (1996b, p.358), traz uma definição
acerca do que as pessoas exercem:
Não basta que as condições de trabalho apareçam num polo como capital e
no outro polo, pessoas que nada têm para vender a não ser sua força de
trabalho. Não basta também forçarem-nas a se venderem voluntariamente.
Na evolução da produção capitalista, desenvolve-se uma classe de
trabalhadores que, por educação, tradição, costume, reconhece as
exigências daquele modo de produção como leis naturais evidentes.
Para que esses trabalhadores tivessem direitos sobre aos empregos que
estavam, foi criada no Brasil certas normas. Como este país apresentava um cenário
já com muitas normas de cunho trabalhista de forma dispersa, houve a necessidade
de uma legislação nacional. Por isso, no dia 01 de maio de 1943 que o presidente da
época Getúlio Vargas, reestruturou o Decreto-Lei n. 5.452, onde foi aprovada a
Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Pode ser explicado por Amauri Mascaro
Nascimento que “A Consolidação não é um código, porque, não obstante a sua
apreciável dimensão criativa, sua principal função foi a reunião das leis existentes e
não a criação, como num código, de leis novas”.
Para SILVA, T. e CAMPOS, J. (2021) a reforma trabalhista nada mais é que:
A Reforma trabalhista é considerada como a reformulação da Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), onde por meio desta reforma tivemos alterações
de diversos direitos dos trabalhadores brasileiros, bem como os deveres das
empresas, vislumbrando a ideia de que as relações de trabalho se tornassem
mais flexíveis. A reforma alterou os mais diversos pontos da CLT, como a
jornada de trabalho, férias, compensação de horas, pagamentos de horas
extras e salários.
Com a criação dessas novas normas, a Constituição de 1988 também auxiliava
nos direitos dos trabalhadores, ela era divergente das demais constituições que já
estavam em vigor no país, por obter três pilares: a arquitetura constitucional de um
Estado Democrático de Direito, a arquitetura principiológica humanística e social da
Constituição Federal e a concepção constitucional de direitos fundamentais da pessoa
humana (DELGADO, 2017, p. 21).
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Quando se diz sobre as leis que estavam contidas na CLT, já houve cerca de
mais de 60% de alteração na mesma, foram interpretados novos cenários que
pudessem serem incluídos nela. Existe então uma linha do tempo de como
aconteceram esses fatos, que envolvem as relações trabalhistas, de acordo com
Larissa Libano (p.01. 2020):
• 05/1891: O Papa Leão XIII fez o anúncio sobre a criação de um
documento pontifício, que expressava o pensamento da Igreja em relação ao
debate sobre as condições trabalhistas da época, conhecido como “Das
Coisas Novas”, e esse foi o início de um grande debate sobre as relações
trabalhistas.
• 05/1941: Execução do Primeiro Congresso Brasileiro sobre Direito
Social, no qual foram apresentou diversos enunciados que citavam a
necessidade da criação de uma regulamentação que fosse efetiva sobre as
relações trabalhistas no Brasil.
• 05/1941: No mesmo mês, houve uma intensificação sobre o debate,
até que Getúlio Vargas realizou a criação da Justiça do Trabalho. E com isso,
tivemos uma discussão sobre a criação de uma regulamentação definitiva se
aproximando de uma solução.
• 01/1942: O Ministro do Trabalho, que na época era Alexandre
Marcondes Filho e o então Presidente, Getúlio Vargas, começaram a
dissertar sobre a necessidade da criação de uma regulamentação que
consolidasse todas as leis trabalhistas. A ideia era para a criação da CLT e
da Previdência Social.
• 11/1942: Houve a apresentação do anteprojeto da CLT, através de
uma publicação do D.O da União, para que sugestões fossem dadas.
• 05/1943: No dia 01, aconteceu a aprovação da CLT, que foi assinada
pelo Presidente Getúlio Vargas.
Com essas modificações da CLT, que passam a acompanhar a vida da classe
trabalhadora que é vigente até os dias atuais, onde se é julgado de extrema
importância para que seja possível viver em no mundo do trabalho, com relações entre
patrão e funcionário, assim essa ter o mínimo de harmonia entre elas. Márcio Tulio
Viana adentra sobre a CLT, de uma forma que traz benefícios aos funcionários, pois:
Na aparência, a CLT é uma lei qualquer. Mas é maior do que todas as leis
trabalhistas que o nosso país construiu antes e depois dela. E não só no
tamanho. Desde o início, a CLT foi um símbolo, uma marca, uma bandeira.
Ela mostrou aos trabalhadores que eles de fato podiam ter direitos e ser
cidadãos. De certo modo – pouco a pouco – preparou-os para isso. De forma
mais clara, mais, ela lhes mostrou que o trabalho seria a ponte para levá-los
a uma condição social sempre melhor. Pois agora amarrado pelas malhas da
proteção. Embora a CLT sirva para empregados e patrões, ela parece
diferente para uns e outros. Para os patrões, é uma pedra no caminho. Para
os empregados, um caminho sem pedras. Pobres ou remediados, negros ou
brancos, operários ou digitadores, todos eles a sentem como a sua lei.
Com isso, o legislado deve ter composição com os direitos trabalhistas que
estão previstos nos artigos 7º ao 11º da Constituição Federal. Onde está a
Consolidação das Leis do Trabalho, “que é a principal legislação que regula o trabalho
subordinado, isto é, aquele em que o trabalhador executa o serviço sob as ordens do
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patrão e é por ele remunerado” (TEIXEIRA e KALIL, 2016), contudo, pelas normas
que estão tratadas internacionalmente pela OIT, onde o Brasil se faz signatário.
Com o passar dos anos, surgiu a reforma trabalhista, que restringe o
trabalhador com o acesso à justiça, o que se faz em divergência aos princípios
constitucionais. Com esse pressuposto, Mauricio Godinho Delgado e Gabriela Neves
Delgado (2017, p. 75) dizem:
Ressalte-se que a desregulamentação e flexibilização trabalhistas fixadas
pela Lei n. 13.467/2017 ultrapassam a esfera desse importante principiologia
jurídica para também atingir os direitos fundamentais em espécie, mediante
a frustração de seu pleno gozo pelos trabalhadores.
Com essa reforma trabalhista, pode se considerar que houve um atentado à
ordem democrática, pois se tem a infração dos princípios constitucionais que
anteriormente eram baseados no protecionismo da dignidade, valores sociais e ainda
na prevalência dos direitos humanos. Pois o acesso à justiça deve ser um direito
fundamental a todos e com as alterações processuais feitas, hoje devem ser
elaboradas acordo com os princípios constitucionais, o que impede as pessoas de
praticarem seus direitos sociais. Ou seja, o princípio deve estar baseado na proteção
e existe a desconfiguração desse direito, foi retirada a razão de criação da mesma
(MAIOR e SEVERO, 2017, p. 150).
Porém com essa alteração nas leis, surgiram diversas dúvidas diante do ato
jurídico perfeito, mas que foram determinados por Planalto:
Ato jurídico perfeito é aquele em que já se consumou de acordo com a lei
vigente à época. O direito já foi exercido, todos os atos já foram praticados,
não podendo ser modificados por Lei posterior. “§ 1º Reputa-se ato jurídico
perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.”

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este trabalho teve como seus procedimentos metodológicos a utilização de


uma pesquisa bibliográfica, para que se pudesse alcançar os objetivos impostos no
início do mesmo. Foram utilizados de diversos artigos e documentos que abordassem
o tema exato, que contassem informações verídicas, com mais informações de livros,
teses, periódicos e práticas estudadas em aula para o aprimoramento do
conhecimento.
Foram buscadas informações mais recentes que tivessem o máximo de
correlação com o sistema atual em que se vive o mundo, para que o leitor conseguisse
compreender melhor o que se é tratado. A fim de causar impacto e melhor
16

compreensão, ao se destacar mais teoricamente o que são esses índices e como são
aplicados atualmente na vida das pessoas. Para isso, todos os arquivos mais atuais
que tivessem informações a reforma trabalhista atual que está em vigor, ato jurídico
perfeito e quanto aos atos firmados antes da sua vigência, foram selecionados.
Este trabalho se baseia em uma monografia, a qual fez o levantamento de
bibliografias, que foram lidas e estudadas para que se pudesse trazer ao atual arquivo.
Neste foram selecionados arquivos compreendidos mais especificamente dentre os
de 2016 a 2022, com base nas fontes eletrônicas como Google Acadêmico e Scielo,
os quais são fontes confiáveis, que são verificadas e verídicas.

4. DESENVOLVIMENTO
4.1. Contexto histórico e a CLT

Quando a sociedade foi iniciada, as primeiras aparições das formas de


trabalho, foi por meio da escravidão, em que pessoas não se encontravam nas
melhores condições de trabalho e ainda assim, era considerado um trabalho digno.
Naquela época, uma terra era de posse de um dono, na maioria dos casos, branco,
esse obtinha de todo o poder do local e até sob as pessoas negras, onde eram
colocados para a realização de trabalhos braçais com a execução de muita força,
domésticas que cuidavam da casa e das crianças, além de outras funções que
apareciam conforme a demanda e caso os escravos não as cumprissem, eram
punidos.
Esse cenário se prolongou por mais 388 anos no Brasil, e somente com a vinda
da família imperial ao país, por conta da necessidade de se refugiarem, nos tempos
de guerra, que foram assim viabilizadas algumas leis que auxiliassem os escravos, de
uma forma básica, mas ainda os ajudaram. Foi quando a primeira Lei foi criada,
chamada de Eusébio de Queiróz, a qual proibia o tráfico de escravos, logo após a Lei
do Ventre Livre, onde as mulheres com filhos recém-nascidos, poderiam ter a
liberdade deles. Também naquela época criaram a Lei dos Sexagenários, em que os
escravos com mais de 60 anos deveriam ser libertos, e para que se acabasse por
inteiro o cenário da escravidão da época, somente com a Lei Aurea, a qual abolia
totalmente a escravidão, isso em território brasileiro.
Foi com isso que se iniciaram os primeiros passos para a criação da CLT, que
se ocorreu durante o governo de Getúlio Vargas, dentre os anos de 1930 e 1945.
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Ainda presente na lista de Direitos adquiridos, elaborada em meio a um contexto


político e econômico que o país passava, denominado de pós-guerra, além da crise
de 1929 que influenciou diretamente em sua criação, pelo fato da mudança na
visualização dos eventos que foram gerados pelo mundo. Foi a partir disso que a
política mundial passou a ser voltada para a criação de novas políticas mais focadas
nos trabalhadores, assim como o desenvolvimento do estado. Esta consolidação foi
deferida em 1943, onde se fez a unificação de todas as leis e decretos anteriormente
criados no país, por meio do Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio de 1943, enquanto
se estava em vigência do Estado novo.
Até o ano de 1929, essas relações trabalhistas que existiam no Brasil, eram
coligadas ao modo de produção agrário, em que se predominava as oligarquias. Por
mais que a escravidão já fosse abolida no Brasil em 1888 perante a Lei Aurea, ainda
existiam condições de trabalho que prejudicavam o trabalhador, como as de miséria,
insalubridade e falta de direitos, em que gerava uma relação de dependência do
trabalhador com as condições que eram impostas pelos empregadores, essas as
quais eram semelhantes às da escravidão.
Por mais que o cenário já estava avançando com os anos, houve um período
que existiram algumas leis e pontos nas constituições anteriores, que de algum modo,
traziam esperanças e mínimas condições as pessoas. Eram reconhecidas como
direitos da classe trabalhadora, mas que não traziam melhorias expressivas para os
mesmos, um dos exemplos, eram que as primeiras legislações que falavam sobre
acidente de trabalho, até nos Decretos de n°3.724, 13.493 e 13.498 eram todos de
1919.
Foi assim que vieram as leis posteriores, como a da formulação da caixa de
aposentadorias e pensões, por meio do Decreto n° 4.682/1923, a das férias, com o
Decreto n° 4.982/1925, o código de menores, por meio do Decreto n° 5.083/1926. Isso
aconteceu entre muitas outras e então foi criada uma comissão para que fosse
possível o planejamento e elaboração da CLT, que nada mais era que a unificação e
melhoria dos decretos já existentes.
Por mais que já estavam realizando essas melhorias, o Brasil até este período
ainda estava estagnado, com a política econômica que era voltada mais
especificamente para as oligarquias, que estavam em predominância no cenário
nacional, chamada de Café-com-Leite. Isso ocorria pela alternância entre os poderes
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das províncias, por meio dos cenários econômicos assim como o político,
determinados por São Paulo e Minas Gerais.
Com este nome de café-com-leite, a política era viável pelo fato dos dois
estados terem em seu território uma gama alta de matérias primas. E foi quando em
1929 que ocorreu um cenário de crise mundial, onde tiveram de fazer a quebra na
cadeia econômica, que era presente tanto no cenário nacional como no global, onde
o Brasil foi forçado diante desse cenário a fazer uma mudança. Essa alteração,
forçava uma mudança no modo de produção que era existente, anteriormente era
predominante o agrário, o que gerou um novo cenário para a industrialização do país.
Assim como relata (Cano 2015, p.446):
“Ela nos exigiu não só uma rápida e efetiva política estatal de defesa da renda
e do emprego, mas também a construção de uma política de industrialização,
única rota para sair da grave crise e ingressar em formas econômicas
urbanas mais modernas e progressistas” (Cano 2015, p.446).
Foi quando após a crise de 1929, que o cenário político do Brasil passou a ser
insustentável, pelo fato da máquina econômica que anteriormente fazia essa
alternância política, estava mais focada em apenas dois estados e se tornaram
inviáveis, pelo cenário de crise econômica que o mundo vivenciava.
Foi com isso que o Brasil passou a tomar certas medidas diante da crise, mas
que só tiveram efetivação e intervenção adotadas, em meados de 1930, por conta da
necessidade que o estado tinha de intervir e efetivar a aplicabilidade dessas novas
políticas, em que queriam controlar de qualquer forma a crise de 1929, pois essa já
estava prejudicando a economia do país. Foi somente em 1943 que a CLT foi
promulgada, onde se tinha o resultado de inúmeras leis e decretos que estavam
dissipados, que tinham diversas disciplinava e pontos, como, o direito individual do
trabalho, coletivo, fiscalização do trabalho, direito processual do trabalho, assim como
as legislações que eram voltadas para trabalhos específicos. Para Carvalho:
“O ano de 1930 foi um divisor de águas na história do país. A partir dessa
data, houve aceleração das mudanças sociais e políticas, a história começou
a andar mais rápido. Uma das primeiras medidas do governo revolucionário
foi criar um Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A seguir, veio vastar
legislação trabalhista e previdenciária, completada em 1943 com a
Consolidação das Leis do Trabalho” (CARVALHO apud Monteiro, 2017, p.
91)78
Foi dentre o período dos anos de 1934 a 1943 que se denominou uma fase
conturbada politicamente, mas que trouxe diversos ganhos para a classe que era
trabalhadora. Um dos casos, foi com a constituição de 1934, em que se estabelecia
um governo provisório, o qual trouxe mais materialidade as leis, para que
beneficiassem os trabalhadores de alguma forma, como os direitos:
19

“salário-mínimo, jornada de oito horas, proteção ao trabalho aos menores de


14 anos, férias anuais remuneradas, indenização ao trabalhador despedido e
assistência médica e sanitária ao trabalhador. Outros pontos importantes
foram a criação da representação profissional na Câmara dos Deputados [...],
a afirmação do princípio da pluralidade e da autonomia sindical [...] e a criação
da Justiça do Trabalho, à qual, entretanto, não se aplicariam as disposições
pertinentes ao Poder Judiciário”. (GALVÃO, 1981, p. 68-69)ii .
Com base nesse rol de Direitos que foram implantados a classe dos
trabalhadores, que foi possível visualizar um pouco de como era uma participação nas
políticas públicas, para que fossem voltadas especificamente na melhoria da situação
que se encontravam. Porém, a constituição de 1934 acabou durando por pouco tempo
do que se esperava, devido ao momento histórico em que ela foi criada, contudo, foi
possível verificar que certas aspirações que foram feitas pelo sistema jurídico, que
construiu os direitos sociais, em cima do trabalho.
Quando foi feita a elaboração da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), foi
depois do resultado de 13 anos de trabalho, que começou desde o Estado Novo e foi
até 1943. Foi quando juristas passaram a se empenhar na criação de uma lei que
conseguisse atender, diante do cenário da época, as necessidades que o trabalhador
tinha de proteção, por ser a parte mais frágil, pelo contexto de "estado
regulamentador". A CLT foi criada diante do Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de
1943, e assim sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, durante o período do
Estado Novo.
Essa consolidação das leis, foi quando unificaram toda a legislação trabalhista
que já era existente no país, de uma forma a ser inserida definitivamente e os direitos
trabalhistas na legislação brasileira. Seu objetivo principal era de regulamentar essas
relações individuais e coletivas em âmbito profissional, era a necessidade
constitucional da época dos trabalhadores, após a criação da Justiça do Trabalho.
Foi quando, após a Revolução do ano de 1930, em que as primeiras mudanças
do âmbito trabalhista ocorreram, em que se foi feita a instauração do Ministério do
Trabalho, da Indústria e do Comércio. E então no início do século XX, foram
formuladas as primeiras normas de regulamentação do trabalho, em que se previsto
que os trabalhadores teriam férias de 15 dias, disponíveis a cada um ano, além da
concessão de direitos que poderiam resguardar o funcionário em casos de acidente
de trabalho.
Foi neste mesmo período, que foi elaborada uma norma que estabelecia
restrições as crianças, onde nenhuma que fosse menor de 12 anos, conseguiria
20

exercer trabalhos em fábricas, além de que a sua jornada de trabalho não poderia ser
maior que sete horas diárias.
O Governo do Brasil ainda tentou conciliar um equilíbrio entre as relações
trabalhistas e o capital industrial isso com a Constituição de 1934, em que se tinha um
pacote de direitos trabalhistas. Onde se tinha a inclusão do salário mínimo, a
determinação de uma jornada de trabalho de oito horas diárias, assim como o repouso
semanal que passava a ser obrigatório, férias remuneradas e o mínimo de assistência
médica e sanitária.
Por mais que ainda existisse a desvalorização da pessoa quanto trabalhadora,
essas normas vinham auxiliando os empregados, elas eram de suma importância na
época. E foi quando em 1º de maio de 1943 que foi criado pelo Decreto-lei nº5.452,
pelo presidente Getúlio Vargas, a Consolidação das Leis Trabalhistas, ela quem fez
um enorme avanço para a classe trabalhadora, em que os empresários eram
obrigados a colocarem em prática esses direitos e assim ceder aos funcionários
condições básicas de trabalho.
Foi com base na CLT que os empregados puderam dar um passo em suas
carreiras e terem mais segurança diante das atividades exercidas por eles. Com essa
consolidação que foi possível obterem, jornada reduzida, com oito horas diárias,
férias, salário mínimo, repouso semanal de dois dias, FGTS, décimo terceiro salário,
carteira assinada, salário mínimo, indenização em casos de dispensa, que
determinaram o trabalhador como pessoa livre.
Contudo, para que a CLT fosse elaborada, teve-se um grande trabalho perante
a inclusão de todas em um mesmo documento, no esquema abaixo é possível
visualizar o surgimento da CLT:
Figura 1 – Surgimento da CLT
21

Fonte: Adaptado de Cezar (2008).

4.2. Constituição de 1988

Com a Constituição de 1988 que também pode ser chamada e conhecida como
a Constituição Cidadã, se deu pelo esforço que a política da época fez em prol da
redemocratização do país, como símbolo do fim da era do autoritarismo dos militares.
Essa Constituição de 1988 foi elaborada e escrita com o final da Ditadura Militar, que
foi quando se determinou os direitos e obrigações das pessoas perante a sociedade,
assim como os políticos do país.
Pelo fato dela ter sido criada com o final da ditadura no Brasil e ser um resultado
de um extenso debate com a junção da população, acabou tendo este nome de
Constituição Cidadã, por ouvir a voz das pessoas e está em vigência até os dias
atuais. A Constituição de 1988 é o texto-base do país que delibera os direitos e os
deveres dos políticos e cidadãos do país, fez parte do processo de elaboração durante
a redemocratização do Brasil, no período após a Ditadura Militar, em meados de 1985,
quando na época, Tancredo Neves e José Sarney foram eleitos para a Presidência da
República.
A Constituição de 1988 acabou sendo um fruto de uma nova democracia que
seria implantada no país, a qual deu início em diversas organizações populares e até
no engajamento de milhões de brasileiros. Com ela, foi possível começar a defesa de
22

inúmeros direitos sociais, esses direitos que não eram existentes durante a época da
Ditadura Militar. Isso se dá pelos direitos que grupos de minoria começaram a receber,
grupos que historicamente foram excluídos de diversas condições da sociedade.
Por mais que a Constituição de 1988 tivesse sido algo bom na época para
diversas pessoas, sofreu diversas críticas, pelo fato de não trazer de forma clara uma
legislação para a reforma agrária no Brasil. Que na defesa realizada, é de suma
importância para que houvesse a garantia da democracia brasileira. Esses debates
que ocorriam pela realização da nova constituição estavam em pauta no momento e
aconteciam a todo momento, com a presença de grupos da oposição, que eram a
favor da ditadura.
Foi quando, na década de 1970, foram iniciadas certas medidas importantes
para a política brasileira, por já existir esses debates houve a aquisição por parte de
intelectuais do país. Assim como por exemplo, no caso da Faculdade de Direito da
USP em que o senhor Goffredo da Silva Teles passou a ler um documento chamado
de Carta aos brasileiros, que havia sido redigido por alguns advogados, políticos e
estudantes, o qual fazia a defesa jurídica do Estado de Direito no Brasil. Este
documento reprimia a Constituição da época que foi outorgada pelos militares, no ano
de 1967, dizendo que a Constituição apenas seria válida caso fosse elaborada por
pessoas que representassem o povo, por meio de uma Assembleia Nacional
Constituinte ou até se fosse redigida em meio a um processo revolucionário legítimo.
Foi quando uma nova Constituição passou a ser necessária e solicitada para
que atendesse os desejos de grande parte da sociedade do país, que por conta de
um governo democrático já não poderia ser mais a antiga. A nova Constituição deveria
ser democrática para refletir o novo presságio que se passava o Brasil, que ainda
estava sob os efeitos da Constituição de 1967, que era de natureza autoritária.
Assim, diversos discursos que estavam em defesa da redemocratização
passaram a ser colocados em pauta, para que houvesse uma nova composição
Constituinte. A partir disso, este processo começou a ganhar força para a elaboração
da nova Constituição, o regime militar já não estava tão presente no país e ainda
enfraquecido, mas este processo se conduzia de forma lenta e gradual. Isso estava
tão explícito que nos últimos governos de Geisel e Figueiredo, já adotaram medidas,
como a revogação do AI-5.
Já no ano de 1984, ano em que a ditadura no país estava enfraquecida e teve
de enfrentar as manifestações da sociedade em meio a necessidade do voto direto
23

para que pudessem escolher o próximo presidente. Essas manifestações acabaram


sendo conhecidas como o movimento das “Diretas Já” e tiveram também o apoio
da Emenda Constitucional Dante de Oliveira. Por mais que as movimentações no país
estivessem em larga escala, a emenda não foi aprovada, e ainda ocorreu a eleição no
ano de 1985 por meio do voto indireto. Por mais que a exigência popular existisse na
época e as pessoas quisessem escolher o próximo presidente brasileiro, ainda
ocorreu de forma indireta como na ditadura, ou seja, quem fez essa escolha foram os
parlamentares. Ela não se sustentou pois não conseguiu a quantidade de votos
suficientes, que era de 320 e se teve apenas 298.
Com essa movimentação que aconteceu por meio das Diretas Já, foi se
iniciando uma revolução, que se espalhou pelo país e acabou mobilizando muitas
pessoas ao redor. Após a derrota da Emenda Dante de Oliveira, foi quando os políticos
que estavam a favor da oposição, se juntaram para defender a nova composição de
uma Constituição. Isso só se fortaleceu ainda mais, pois o regime militar estava em
seu último período e com a eleição de Tancredo Neves, que marcou o fim da ditadura,
ainda mais por ser um candidato da oposição, mas que veio a cair novamente por um
problema de saúde, que impossibilitou a posse de Tancredo, e foi quando José
Sarney, seu vice, assumiu a presidência.
Contudo, durante o governo de José Sarney que ocorreu por meio das eleições
no final do ano de 1986, em que se elegeram governadores, senadores e deputados.
Neste caso, os deputados e senadores que foram eleitos tiveram de formar a
Assembleia Nacional Constituinte, que teve posse no dia 1º de fevereiro de 1987 que
foi reunida durante um período de mais de um ano para a elaboração da nova
Constituição do Brasil.
Esses trabalhos realizados por meio da Constituinte foram de um largo período
que os parlamentares participaram, pois não tinham um projeto-base, o que fez com
que tivessem de começar do zero, assim como outras questões que postergaram essa
decisão, como questões mínimas que foram feitas afirmações de Boris Fausto. Dessa
forma, ocorreu a elaboração da Constituição de 1988, que ficou marcada pela
participação de diversos grupos populares, que foi uma das mais democráticas da
história do Brasil.
Nesta Assembleia Constituinte contada com um total de 559 congressistas e
colaborou com muitos esforços para que se pudesse organizar uma nova carta
constitucional, nela teriam bases para que se pudesse fazer a implantação de um
24

regime mais democrático no Brasil. As historiadoras Lília Schwarcz e Heloísa Starling


disseram:
O novo texto constitucional tinha a missão de encerrar a ditadura, o
compromisso de assentar as bases para a afirmação da democracia no país,
e uma dupla preocupação: criar instituições democráticas sólidas o bastante
para suportar crises políticas e estabelecer garantias para o reconhecimento
e o exercício dos direitos e das liberdades dos brasileiros
Com esses debates que ocorreram por muito tempo, e assim formulada a nova
Constituinte, foi possível ressaltar que ela poderia ser considerada bem avançada em
questões dos direitos dos cidadãos, por mais que fossem novos, os grupos de
minorias já estavam sendo vistos pelo país. Isso se deu por conta de um resultado
pela mobilização social que o país teve em prol de sua melhoria, a qual sua
participação ocorreu de modo ativo no processo de elaboração da Constituição. Ou
seja, a participação popular que se teve este processo ocorreu com a atuação de
“associações, comitês pró-participação popular, plenários de ativistas, sindicatos”.
Por mais que a nova Constituição trouxesse diversos avanços para a
sociedade, em todas as questões relacionadas, como também nos direitos sociais, ela
tinha muito a melhorar, pois continuou com certos impasses da sociedade. O que mais
se destacava perante as indagações que eram feitas, estava a questão da reforma
agrária, que não havia sido incluída em nenhum artigo, sem subir esta questão.
Verificou-se um marco sobre o fracasso por parte dos congressistas em que
deveriam acrescentar algo sobre a reforma agrária na Constituição de 1988, então
Thomas Skidmore pode afirmar que: “Uma nova organização de proprietários rurais,
a União Democrática Rural, flanqueou os defensores da reforma agrária por intenso e
efetivo lobbying”. A mensagem conservadora era clara: “garantias de direitos
humanos eram inofensivas, mas ameaças aos direitos de terra eram outro assunto.”
Surgiu então, o texto final para ser permanente da Constituição foi aprovado
por Ulysses Guimarães que era então o presidente da Constituinte na época, e
promulgada assim no dia 5 de outubro de 1988. Nela se tem 250 artigos e é
considerada a maior Constituição já elaborada na história do Brasil, que no caso, está
em vigor até os dias atuais. No caso da Constituição de 1988 pode se provar que de
forma definitiva o poder dos militares já não fazia mais parte da história do Brasil, era
uma época da Nova República, um período pouco mais estável da democracia
brasileira, que viria se solidificar aos poucos.
Figura 2 – Definição do que é empregado
25

Fonte: Adaptado de Martins (2012).

4.3. Direitos trabalhistas

O direito do trabalho teve um grande feito histórico no Brasil e surge com certas
questões sociais que vieram por meio da Revolução Industrial em meados do século
XVIII, em que a população verificou o direito como uma necessidade, em que se tinha
de proteger a dignidade de um indivíduo, com as questões de trabalhos industriais.
Essa urgência que se tinha em prover uma disciplina que obtivesse todas as relações
individuais e coletivas de uma pessoa frente ao trabalho foi crescendo e evoluiu por
conta do desenvolvimento de um novo estado social.
No ano de 1888 com o fim da relação escravista, o Brasil que se encontrava
em alta formação colonial e agrícola se fez necessária a consolidação histórica do
direito do trabalho, passando a ser denominado como livre dentro das relações
trabalhistas.
Aqui no Brasil essa evolução do trabalho ocorreu de forma gradativa, sua
primeira fase começou entre os anos de 1888 a 1930, onde realizaram-se
manifestações acerca de seus direitos trabalhistas, nos anos de 1930 e 1945, que
veio a institucionalização do Direito do Trabalho e por fim, houve uma transição
democrática entre o Direito e sua implementação à Constituição Federal de 1988. Por
26

mais que no momento da abolição da escravidão, ainda tinham normas que eram
consideradas esparsas, ainda se tinha uma maioria da relação empregatícia das
pessoas que estavam no campo. Com o passar dos anos, a industrialização que
acontecia nos centros urbanos teve aumento e necessidade do número de operários,
então, aos poucos certas leis e decretos mais específicos passaram a serem
determinados para as classes de trabalhadores e se expandindo.
Foi no ano de 1943 que se teve a primeira constituição trabalhista que passou
a tratar do Direito do Trabalho, sob a influência do constitucionalismo social, que tinha
como garantia a liberdade sindical, que as pessoas tivessem salário-mínimo, uma
determinação de até oito horas de trabalho diário, proteção das mulheres e menores,
assim como as férias remuneradas.
Ainda nesse mesmo ano, foi modificado o Decreto nº 5.452, aprovando a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que nela se reuniam todas as leis de cunho
trabalhistas existentes na época. Para que fosse criada, se teve a fundamentação em
várias normas, assim como as da Convenções da OIT (Organização Internacional do
Trabalho).
Esses direitos trabalhistas, são garantidos pela Constituição Federal, já
descritos em meio ao art. 7°, no rol que trata sobre direitos e garantias fundamentais,
onde se tem cláusulas pétreas, as quais são dispositivos que não podem ser alterados
ou excluídos.
Deste modo, os direitos trabalhistas fazem com que sejam ressaltados seus
direitos e garantias, com relação a pessoa humana. Mauricio Godinho Delgado e
Gabriela Neves Delgado (2017, p. 33) dizem que “os direitos trabalhistas são, antes
de tudo, direitos individuais, direitos da pessoa humana do trabalhador, em seu
conjunto, entretanto, os direitos individuais trabalhistas tornam-se também direitos
sociais e/ou direitos coletivos.”
Mauricio Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado (2017, p. 34) afirmam:
Esses três eixos centrais da arquitetura normativa da Constituição de 1988,
claramente explicitados em seus diversos títulos organizadores temáticos,
compostos por destacado número de princípios e normas constitucionais,
demonstram, além de tudo, a sólida compreensão, pela Constituição da
República, do Direito como um instrumento civilizatório, ao invés de
mecanismo de opressão, exclusão, segregação e exploração.
Como a Constituição Federal passou por uma modificação intensa e processo
de revolução, que tinha como intuito diminuir a desigualdade social entre pessoas e
também perante os grupos sociais, ela tinha propósito de ser mais igualitária,
27

humanística e social, para que não existissem formas de exclusão dos indivíduos da
sociedade. Foi nisso que a Constituição Federal passou a se basear e ser formulada,
sendo um instrumento civilizatório, e que deste modo, pudesse preservar o Estado
Democrático do Direito, para o trabalhador conseguir ser inserido na sociedade e com
direitos.
Isso foi um grande avanço aos trabalhadores, uma vez que o trabalho durante
séculos foi relacionado à exploração desumana dos indivíduos, sem que tivessem
algum direito que lhes assegurassem. E para que essas desigualdades sociais fossem
diminuídas era necessário oferecer o mínimo de dignidade aos cidadãos, isso se deu
pelos direitos trabalhistas, que foram modificados a fim de regulamentar suas relações
e permitir melhora na qualidade de vida das pessoas. Os direitos se tornam
fundamentais, por serem prerrogativas que moldam e afirmam o indivíduo dentro da
sociedade.
Analisando esta perspectiva, é possível entender o novo sistema como uma
proteção ao trabalhador, para que ele reconheça os princípios constitucionais e se
esteja sempre protegido por eles, com objetivo de reafirmá-los. Amauri Mascaro
Nascimento (2014, p. 279) diz que “Como direito fundamental, o direito do trabalho
teria de ser direito de todos e em todos os lugares, em certo tempo. Esses direitos são
constitucionais quando incluídos na Constituição de um país”.
Foi assim que o direito fundamental do trabalho passou a ser concretizado, com
as lutas sociais por meio da classe dos trabalhadores, foram conquistados seus
direitos. Foi feita assim, uma proteção ao trabalhador, que em meio a relação entre
empregado e empregador, o funcionário acaba sendo a parte mais frágil, por isso, sua
mão-de-obra deveria ser mais valorizada, pois assim o trabalhador consegue efetivar
seus os direitos básicos e que lhe são garantidos.
Deste modo, o Direito do Trabalho, surgiu para reafirmar os direitos que são
garantidos pela Constituição Federal, ele garante que o trabalhador tenha os
princípios de proteção e trabalhe com dignidade, tanto no campo individual como
coletivo, regulamentando as relações que acontecem de forma bilateral e multilateral,
se estabelecendo o mínimo de profissionalismo, com o contrato de trabalho.
Assim, os direitos trabalhistas buscam trazer a democratização das relações
que ocorrem em âmbito empregatício, buscam estabelecer igualdade entre todas as
partes. Ao se falar do direito coletivo, se busca regulamentar todas as relações que
são entre mais de duas pessoas, por meio de certas entidades que os representem,
28

como o caso dos sindicatos, onde lhe são assegurados a autonomia sindical, para
possíveis melhorias nas condições de trabalho.
O Direito do trabalho é fundamental e busca ter uma efetividade contínua, para
que possa alargar a abrangência em meio a processos que envolvam os
trabalhadores, de extensão em geral. Esses direitos trabalhistas são como algo básico
para que o trabalhador esteja sempre resguardado legalmente, e que assim consiga
se desenvolver socialmente e tenha seus direitos colocados como algo fundamental,
que está presente no ordenamento jurídico brasileiro e gera segurança aos
trabalhadores, que uma vez estão inseridos na sociedade para que tenham garantia
a esses.
O Direito do Trabalho ainda pode se basear em uma relação jurídica que acaba
tratando de níveis diferentes entre os participantes, como que de um lado se tem o
empregado e no outro o empregador. Como cada um dos lados tem seus princípios,
esses direitos trabalhistas buscam assegurar que se tenha igualdade jurídica para
ambos os lados, e que no caso de necessária proteção de um dos lados, a mais fraca
prevalece, pois o trabalhador geralmente é a parte que mais necessita de garantias,
por conta da posição socioeconômica, dependência do trabalho e ser subordinado, e
assim precisa de auxílio e proteção jurídica para compensação.
Essas seguranças que podem ser dadas ao empregado são por meio de
direitos trabalhistas, que se pode mencionar como o 13º salário, férias, hora extra,
FGTS, adicional noturno, seguro-desemprego, jornada de trabalho reduzida e
convênio. No caso dos direitos trabalhistas no Brasil, foram provenientes da
elaboração da Consolidação das Leis Trabalhistas de 1943, por meio do decreto
5.452. A legislação foi instituída por Getúlio Vargas, que na época era o Presidente
da República.
Foram criadas essas leis em prol dos trabalhadores, que aumentava o número
cada dia mais, pela necessidade do mercado, pela industrialização, por conta
globalização que tomava o país e assim, o índice de exigências acabou aumentando
por esta classe. Contudo, por mais que foram modificados os direitos trabalhistas, é
de suma importância ressaltar que esses só valem para aqueles colaboradores estão
em seus empregos por meio do regime CLT, que nada mais é que a carteira de
trabalho assinada.
29

Os direitos trabalhistas têm uma grande importância por trazer melhores


condições de vida ao empregado, um maior equilíbrio na relação, pois entre
empregador e empregado, a segunda parte acaba sendo a mais fraca e necessitando
de maior proteção. Geralmente esses estão inseridos a cumprirem muitas regras e
fortalece a relação de que um está com mais necessidades que o outro, e o intuito
dos direitos trabalhistas é de suprir essas necessidades de ambas as partes e dando
direitos e deveres a elas.
Os direitos trabalhistas não se fazem necessário apenas aos empregados, mas
também as empresas, que tem seus deveres de agir diante deles, pois este modo de
agir cria um alicerce entre as partes envolvidas. Se torna a base, para que as relações
entre elas sejam mais harmoniosas e regularizada, por dar este suporte e conseguir
evitar que existam processos trabalhistas, o que acarreta pagamento de multas. Nada
mais é que uma norteadora para empresa, para que se trabalhe de maneira legal e
todos tenham seus direitos.

4.4. Reforma trabalhista

A reforma trabalhista é algo de suma importância a ser discutido perante a


sociedade, ela foi aprovada no ano de 2017 pelo decreto-Lei de nº 5.452/1943. Ela é
um conjunto de alterações que institui a Consolidação das Leis do Trabalho, mas para
modificar a CLT, foi aprovada a Lei nº 13.467/2017, em que se foram alteradas outras
três leis dos direitos dos trabalhadores e deveres dos empregados. Nela, foram
alteradas e modificadas as condições das férias, horário de descanso, alimentação,
carga horária, ações na justiça dentre outros. Desde 1943 muitos artigos, parágrafos
e incisos sofreram modificações, sendo eles eliminados, acrescentados ou rescritos.
A lei criada em 2017 caracterizou-se por obter de várias alterações em uma
mesma lei, ela estava a alterar cerca de mais de 100 pontos da CLT. A Reforma
Trabalhista de 2017 e 2018 está no projeto de Lei 6.787 que foi ministrado na época
por Michel Temer, em que foi apresentado ao Poder Executivo em dezembro de 2016
pelo Ministro do Trabalho Ronaldo Nogueira, apesar da alta complexidade do projeto,
cerca de sete meses depois da sua apresentação na Câmara, o projeto já havia sido
tramitado e as leis entraram em vigor 4 meses após a publicação da lei.
O governo determinou um acordo para que essa lei fosse aprovada, onde os
pontos que ainda descontentava fossem alterados depois por Medida Provisória (MP),
30

em que 808 mudaram questões referentes à jornada de trabalho, danos morais,


contrato intermitente e outras.
Tendo em vista que uma medida provisória é adotada pelo presidente em casos
de relevância e urgência, quem aprova é o Congresso para virar lei, foi o caso da MP
808, onde não foi aprovada pelo Congresso.
Em meados de 2018 a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge,
recomendou a declaração de inconstitucionalidade referente a mudança que permite
a gestantes e lactantes trabalharem em locais insalubres, e outro ponto foi referente
ao índice de correção monetária utilizado como referência para remunerar ações
trabalhistas e depósitos judiciais.
No Brasil, a criação da legislação como conhecemos foi dada através do
primeiro governo de Getúlio Vargas. Segundo grupos de empresários, a lei original se
tornou antiga, impedindo o avanço do empreendedorismo e crescimento dos negócios
no Brasil, os empresários pediam pela criação de uma nova lei trabalhista para
substituir a CLT, essa pressão motivou a reforma trabalhista.
Com isso, José Velloso Dias Cardoso, presidente executivo da Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, na ocasião da aprovação da
reforma disse que o gap do Brasil é impressionante em relação ao restante do mundo
se tratando de termos de relações de trabalho.
Por certo, o que mudou na nova lei trabalhista foram férias, onde o trabalhador
pode fracionar em três períodos, a jornada de trabalho pode ser de 12 horas por dia,
seguidas de 36 horas de descanso, mas sempre respeitando o limite semanal de 44
horas, tempo na empresa onde atividades como descanso, alimentação, estudo,
atividades de interação, troca de uniforme e higiene pessoal não são mais
consideradas como serviço efetivo.
Para o descanso agora o intervalo mínimo são de 30 minutos, já a remuneração
não é mais obrigatória por produtividade seja igual ou superior ao salário mínimo por
piso da profissão, ambos podem negociar as remunerações, o plano de carreira pode
ser negociado entre trabalhador e patrões e modificado constantemente, antes era
necessário homologar o plano de carreira no Ministério do Trabalho, já no caso do
transporte o tempo que o trabalhador leva para sua casa não deve ser contabilizado
na jornada de trabalho.
Outras mudanças que surgiram referente ao trabalho intermitente, a nova lei
prevê uma modalidade na qual o colaborador é pago recebendo por horas ou dias,
31

como no caso do home office, que com a reforma trabalhista foi incluído na CLT como
uma modalidade de trabalho. O trabalho parcial pode ter até 30 horas semanais sem
poder fazer hora extra ou até 26 horas semanais sendo permitido hora extra de até 6
horas. Assim como em convenções e acordos coletivos, que existam entre as
empresas e sindicatos, que podem antecipar condições diferentes e determinar sobre
a os demais.
Dentre as normas coletivas, os sindicatos e empresas podem usufruir
livremente sobre o prazo de validade de acordos e convenções coletivas, no caso da
representação, pode-se escolher três formas, e não precisam ser mais sindicalizados
empresas com no mínimo 200 funcionários. Nas demissões, pode ser acabada de
comum acordo, com pagamento da metade do aviso prévio e metade da multa de 40%
sobre o FGTS, ficando assim o trabalhar sem direito ao seguro-desemprego.
Além do pagamento para indenização de danos morais, que agora existe um
teto para situações específicas, e não mais um valor determinado pelo juiz, assim
como, não se tem mais a obrigatoriedade para o pagamento de contribuição sindical.
No caso de mulheres grávidas e lactantes, essas podem trabalhar em ambientes
insalubres, desde que o empregado apresente atestado médico afirmando não fazer
riscos para as mães e os bebês. O banco de horas, agora pode ser definido por escrito
em um acordo individual, com a compensação de um período máximo de seis meses.
Atualmente, se pode fazer a homologação da rescisão contratual na própria
empresa com a presença de advogados, empregador e funcionários, todos os
envolvidos. E nas ações judiciais, foi criada a obrigatoriedade da presença nas
audiências, anteriormente se podia faltar em até três vezes, o que deveria arcar com
os custos do processo e então, caso não ganhe a ação, e pôr fim, a multa para
empregado que mantém funcionário não registrado são de 3 mil reais por funcionário,
800 reais para microempresas.
Por certo a lei trabalhista foi aprovada em 13 de julho de 2017, chamada de
nova lei trabalhista ou reforma trabalhista, a Lei de nº 13.467/2017, que entrou em
vigor apenas em 11 de novembro de 2017, já a medida provisória nº 808/2017 entrou
em vigor em 14 de novembro de 2017, medida essa que trouxe alterações
complementares à CLT, vigorando até 23 de abril de 2018 por não ter a aprovação no
Congresso.
Já com à presidência de Jair Bolsonaro, em reunião com a bancada da MDB
ele afirmou que se agradou com a nova reforma e cogitou a possibilidade de
32

aprofundá-la, mas não informou o que planejava em mexer. Uma outra questão é a
terceirização do trabalho onde houve mudança na legislação em 2017, a lei de nº
13.467/2017 que traz a novidade que a empresa pode contratar trabalhadores
empregados por outra companhia a serviços relacionados à sua atividade-fim, não só
pela atividade-meio como era.
Quando se falado sobre a justiça do trabalho como ramo do poder judiciário, é
possível visualizar que ela está diretamente relacionada à responsabilidade, por julgar
ações referentes a relações entre empregadores e empregados. Caso o empregado
se sinta injustiçado em relação ao não cumprimento do contrato, basta ele entrar com
uma ação na Justiça do Trabalho, tendo em vista o interesse do empregador na
reforma trabalhista para que se tornasse menos exposto a essas ações, cujo eles
sempre os desfavoreciam. Segundo o Tribunal Superior do Trabalho em um ano
houve queda de novas ações em 38%. Com o propósito de reger a CLT todas as
regras constam no Decreto-Lei nº 5.452/1943.
Em razão da pesquisa, este tema é de alta polêmica, pois cada um busca seus
interesses pessoais, acham que ainda falta questões a serem avaliadas, por outro
lado existem políticos, trabalhadores e representantes que acreditam que essa
reforma trabalhista significou um retrocesso, segundo eles perderam os direitos já
conquistados pelos trabalhadores, causando uma situação de vulnerabilidade na
relação patrões e empregados.
A Reforma Trabalhista ainda faz com que o trabalhador tenha restrições acerca
do acesso à justiça, indo em contrapartida aos princípios constitucionais. Isso faz com
que Mauricio Godinho Delgado e Gabriela Neves Delgado (2017, p. 75) digam:
Ressalte-se que a desregulamentação e flexibilização trabalhistas fixadas
pela Lei n. 13.467/2017 ultrapassam a esfera desse importante principiologia
jurídica para também atingir os direitos fundamentais em espécie, mediante
a frustração de seu pleno gozo pelos trabalhadores.
Com isso, é possível afirmar o pensamento de Maurício Godinho Delgado,
sobre a nova reforma.
A reforma trabalhista implementada no Brasil por meio da Lei nº 13.467, de
13 de julho de 2017, desponta por seu direcionamento claro em busca do
retorno ao antigo papel do Direito na História como instrumento de exclusão,
segregação e sedimentação da desigualdade entre as pessoas humanas e
grupos sociais. Profundamente dissociada das ideias matrizes da
Constituição de 1988, como a concepção de Estado Democrático de Direito,
a principiologia humanística e social constitucional, o conceito constitucional
de 7 direitos fundamentais da pessoa humana no campo justrabalhista e da
compreensão constitucional do Direito como instrumento de civilização, a Lei
nº 13.467/2017 tenta instituir múltiplos mecanismos em direção gravemente
contrária e regressiva. (DELGADO; DELGADO, 2017, p.39-40).
33

Por mais que se houvesse todas essas divergências, discussões e os ajustes,


a reforma foi aprovada em julho de 2017, que foi começar a valer sob a nova lei
trabalhista após sua publicação no Diário Oficial, no dia 11 de novembro de 2017.
Com essa nova lei, foi possível implementar a presente reforma que acabou
modificando mais de 100 dispositivos da CLT, e acabou auxiliando a pauta que era
reivindicada de cunho empresarial, ou seja, o setor da indústria brasileira.
Com o a vinda da lei nº 13.467/2017 a CLT acabou sendo alterada em três
planos, o direito individual do trabalho, direito coletivo do trabalho e direito processual
do trabalho. Em que a terceirização teve um amparo legal no art. 4º da Lei nº
6.019/1974, com redação dada pela Lei nº 13.467/2017, foi consistido que no ato da
transferência feita pela empresa em execução seja de quaisquer atividades, inclusive
sua atividade principal, à pessoa jurídica acaba tendo direito privado da prestadora de
serviços que possua capacidade econômica compatível com sua execução.
Com os quadros abaixo é possível visualizar melhor o antes e depois da
reforma trabalhista de 2017:
34

Quadro 1 – Antes e depois da reforma trabalhista

Fonte: RSM. 2017.


Quadro 2 – Antes e depois da reforma trabalhista 2
35
36

Fonte: RSM. 2017.


37

O Brasil no período quando estava em processo da elaboração e aprovação da


nova reforma trabalhista se via em uma instabilidade política e econômica, que devido
a isso, a classe empresarial se encontrava em um momento para que pudesse solicitar
certas pautas a serem aplicadas no projeto. Isso fez com que diversos representantes
se mobilizassem através de lobby dos empresários. Assim como se pode visualizar
na reportagem do El pais:
“Entre os principais interessados nessa reforma trabalhista estavam
entidades que representam bancos, indústrias e o setor de transportes. O
jornal online examinou as 850 emendas apresentadas por 82 deputados
durante a discussão do projeto na comissão especial. Dessas propostas, 292
(34,3%) foram integralmente redigidas em computadores de representantes
da Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional
das Instituições Financeiras (CNF), da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística
(NTC&Logística). O relator, Rogério Marinho (PSDB-RN), segundo a
reportagem acatou 52,4% das emendas”.

4.5. Terceirização do trabalho

Observa-se ainda que com a reforma, a terceirização passou a ser admitida de


forma irrestrita, que nada mais é que, não são autorizadas só as atividades que sejam
como prestação de serviço de segurança, conservação e limpeza e atividade-meio,
todavia até a atividade principal da empresa que se tem o serviço. Ou seja, com a
reforma trabalhista, vieram juntamente inúmeras alterações na forma de se agir, o que
pode prejudicar mais os direitos dos trabalhadores.
De outro lado, apontem-se, ademais, diversos preceitos que autorizam à
negociação coletiva trabalhista se transmutar em mecanismo de supressão
ou precarização de direitos e garantias trabalhistas, ao invés de se preservar
como fórmula de agregação e aperfeiçoamento das condições de contratação
e gestão da força de trabalho no ambiente empregatício. Nesta linha se
encontra o disposto em: novo art. 611-A, caput e incisos I até XV, a par de §§
1º até 5º; novo art. 611-B, caput, incisos I até XXX e parágrafo único; novo
art. 614, § 3º; novo texto do art. 620, todos da CLT. Tais preceitos combinam–
se com o novo texto do art. 8º, §§ 2º e 3º, e o novo texto do art. 702, ambos
também da CLT. (DELGADO, 2019).
Este estudo sob a terceirização do trabalho, se torna primordial diante do
contexto das novas modificações, que foram alteradas de forma que prejudicasse o
mundo do trabalho. Com a terceirização, que foi criada uma relação de trabalho, em
que o objeto final de duas empresas é a força braçal acumulativa de várias pessoas,
foi assim retirado do trabalhador sua proteção jurídica, assim como, a possibilidade
de melhoria na sua condição social o que reduzi assim os direitos fundamentais
básicos trazidos no art. 7º da constituição federal de 1988.
38

Com isso, os trabalhadores passam a receber um tratamento desigual, do


modo que passam a usufruir apenas dos benefícios próprios que as empresas dão,
que são especializadas em fornecimento de mão de obra, e não se encaixa mais
aqueles que usados pelos trabalhadores contratados diretamente pela organização.
Com a reforma trabalhista, foi possível retirar os direitos dos trabalhadores, de uma
maneira que se pudesse desburocratizar e diminuir os custos que as empresas tinham
com o empregado, que hoje, pode ser contratado diretamente pela terceirizada.
No plano do Direito Individual do Trabalho, as inovações eliminaram,
desregulamentaram ou flexibilizaram diversas parcelas trabalhistas, de
maneira a diminuir, significativamente, o valor trabalho na economia e na
sociedade e, em decorrência, o custo trabalhista para o poder econômico.
Embora se fale, eufemisticamente, em simplificação, desburocratização,
racionalização e modernização, além da busca de maior segurança jurídica
no contexto da relação empregatícia, o fato é: as inovações, em sua vasta
maioria, debilitam, direta ou indiretamente, os direitos e garantias trabalhistas,
exacerbam os poderes contratuais do empregador na relação de emprego e
diminuem, acentuadamente, os custos da contratação do trabalho humano
pelo poder econômico. (DELGADO, 2019).
Quando os trabalhos passam a serem terceirizados, existe um termo que se
estende a precarização do mesmo, que é desmontes dos direitos trabalhistas, ou seja,
é como um processo multidimensional que se passa por uma instabilidade, que acaba
afetando as leis, por esta apenas ressaltar ainda mais o relacionamento do trabalho
no século XX e XXI, em que esse passa a se tornar mais instável e mais frágil, por
parte de que não se existe mais a garantia de trabalho e há perca dos direitos
trabalhistas.
Com a Lei nº 13.467/2017 que foi elaborada no intuito de combater o
desemprego e a crise econômica do país, acabou se modernizando os benefícios dos
trabalhadores. No caso do legislador, a alteração que foi feita pela nova lei, acabaria
sendo benéfica aos trabalhadores, contudo, ao analisar-se as alterações que foram
realizadas no diploma legal e os métodos constitucionais de proteção aos
trabalhadores, acabou sendo um contexto que foi usado pelo legislador para se
fundamentar a nova reforma trabalhista. Nessa não se mensura como pode ser o
impacto a ser causado nos trabalhadores empregados, informais e desempregados,
pois esses causariam efeito de precarização do trabalho, o que não condiz com a
criação da CLT, onde as empresas em relação deveriam fazer o amparo social e
proteção social ao trabalho.
A experiência da precarização do trabalho no Brasil decorre da síndrome
objetiva da insegurança de classe (insegurança de emprego, de
representação, de contrato etc) que emerge numa textura histórica específica
- a temporalidade neoliberal. Ela é elemento compositivo do novo
39

metabolismo social que emerge a partir da constituição do Estado neoliberal.


Possui como base objetiva, a intensificação (e a ampliação) da exploração (e
a espoliação) da força de trabalho e o desmonte de coletivos de trabalho e
de resistência sindical-corporativa; além, é claro, da fragmentação social nas
cidades, em virtude do crescimento exacerbado do desemprego total e à
deriva pessoal no tocante a perspectivas de carreira e de trabalho devido à
ampliação de um precário mercado de trabalho. (ALVES, 2007, p.201).
O que se verifica na grande realidade é a consideração de retrocesso que a
reforma apresenta, no que diz respeito ao amparo social e proteção social dos
trabalhadores, já que o teor apresentado com a nova lei expõe uma grande atenção
direta aos empresários e não aos trabalhadores. As mudanças estruturais trazem mais
complicações físicas e mentais ao trabalhador, muitas das vezes substituído pelo
desenvolvimento tecnológico, sendo que máquinas fazem todo o processo de
trabalho, levando a exclusão do trabalhador e sua mão de obra.
Com aprovação da Lei nº 13.467/2017, que gerou a nova reforma trabalhista,
passou a ser regulamentado o art. 4º da Lei nº 6.019/1974, que possibilitou a
terceirização a ser associada mais ainda ao significado de precarização com relação
as condições de trabalho. Analisando a porcentagem da remuneração e jornada de
trabalho dos empregados terceirizados, uma pesquisa feita pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), apresentou que
estes trabalhadores recebem 27% a menos que os trabalhadores contratados
diretamente, além de serem submetidos a uma jornada de trabalho 7% maior que os
demais trabalhadores. O que se entende com a apresentação desses dados é uma
maior precariedade de trabalho, onde se trabalha mais, recebe-se menos e os riscos
de demissões são maiores.
Resultante de tudo isso, o número excessivo de acidentes de trabalho no Brasil,
advindos na maioria das vezes pelos trabalhadores terceirizados, que são vitimados
pela insegurança do trabalho, despreparo e pouco amparo proveniente da legislação,
são consequências de uma relação trabalhista pouco estruturada, que passou a ser
regularizada, ou mesmo pactuada, pela reforma trabalhista.
Colocar o trabalho terceirizado de avançado modelo organizacional, como
forma de garantia de competitividade Internacional, de metodologia
indispensável para a criação de novos empregos e afirmar que há isonomia
entre terceiros e efetivos por estarem ambos amparados pela lei, é desprezar
a precariedade a que esses trabalhadores estão sujeitos e, ainda, ignorar as
produções científicas da sociologia do trabalho que, há décadas, denunciam
os efeitos nefastos da terceirização (COUTINHO, 2020, p. 233).
Quando se fala sobre as novas modalidades dos tipos de contrato de trabalho,
que são apresentadas diante da nova reforma trabalhista, se remete automaticamente
40

ao trabalho intermitente1, isso ocorre por conta da precarização legalizada da reforma,


em que o trabalhador se submete a um diferente tipo de vínculo com a organização.
Isso não quer dizer necessariamente que o empregador pode mandar uma demanda
alta de atividades ao empregado, em que, o trabalhador pode e deve fazer uma
proposição das atividades vindas pela empresa.
Pode-se dizer que enquanto a organização não demanda maiores atividades
ao trabalhador em questão, se faz um vínculo intermitente com a empresa, deste
modo, quando não se tem trabalho, ele não receberá a remuneração. O que faz essa
situação de trabalho como uma modalidade de situação de risco, onde está se
encontra estabelecida nos artigos 443, §3º e o artigo 452-A da CLT, esses dois artigos
estão em redação pela nova reforma trabalhista (Lei nº 13.467/2017):
Art. 443 § 3º Considera-se como intermitente o contrato de trabalho no qual
a prestação de serviços, com subordinação, não é contínua, ocorrendo com
alternância de períodos de prestação de serviços e de inatividade,
determinados em horas, dias ou meses, independentemente do tipo de
atividade do empregado e do empregador, exceto para os aeronautas,
regidos por legislação própria (BRASIL, 2017) Art. 452-A. O contrato de
trabalho intermitente deve ser celebrado por escrito e deve conter
especificamente o valor da hora de trabalho, que não pode ser inferior ao
valor horário do salário mínimo ou àquele devido aos demais empregados do
estabelecimento que exerçam a mesma função em contrato intermitente ou
não. (BRASIL, 2017).
Quando se define o que é o trabalho intermitente neste caso, pode salientar
que é uma modalidade criada com a finalidade de fazer a modernização do trabalho.
Isso se dá por uma definição dos sindicalistas e pesquisadores, porém que esta
modalidade se efetivou na precarização do trabalho em si, por conta da apresentação
de um contrato intermitente, que pode ser muito flexível e contra o trabalhador.
Isso traz uma grande margem para que a organização possa fazer manobras
para com o funcionário, ele tem o poder de contratar o trabalhador somente pela
quantidade de horas que lhe for necessária, que atenda a demanda do momento, com
a necessidade e precisão de apresentar maior flexibilidade com esses trabalhadores,
que, por mais que esses tenham um vínculo estabelecido, não tem nada garantido
acerca de sua remuneração. Krein (2017), define como contrato intermitente:
O contrato intermitente significa transformar o trabalhador em just-in-time,
pois legaliza a lógica da utilização da força de trabalho na exata medida das
demandas do capital. Desta forma, ainda que tenha na determinação do valor
hora de trabalho embutida a remuneração associada a direitos do trabalho,
ele coloca o trabalhador em uma condição de alta instabilidade, incerteza e

1 Intermitente é um adjetivo de dois gêneros proveniente do latim intermittente. Dizer que algo é
intermitente significa dizer que essa coisa cessa e recomeça por intervalos, que se manifesta com
intermitências, que não é contínua, que tem interrupções. Disponível em: www.significados.com.br.
Acesso em 05 de novembro de 2022.
41

insegurança sobre sua própria reprodução social [...] A introdução de novas


modalidades de contratação ou ampliação da utilização das já existentes não
pode ser atribuída a eventual rigidez do mercado de trabalho, mas
fundamentalmente como possibilidade de oferecer aos empregadores formas
mais baratas de contratar a força de trabalho. A tendência, com isso, é
agravar ainda a situação de um mercado de trabalho pouco estruturado,
como é o brasileiro. (KREIN, 2017, p. 155)
O trabalho intermitente ainda se mostra extremamente prejudicial ao
funcionário em questão, por ir ao contrário dos outros tipos de contratos com vínculos
e modalidades que são trazidos diante da reforma trabalhista, com esse tipo de
trabalho pode se aprofundar a instabilidade, uma vez que não se tem mais a garantia
de trabalho ou renda para o colaborador que for contratado. Com isso, Krein
apresenta:
O contrato intermitente significa transformar o trabalhador em just-in-time,
pois legaliza a lógica da utilização da força de trabalho na exata medida das
demandas do capital. Desta forma, ainda que tenha na determinação do valor
hora de trabalho embutida a remuneração associada a direitos do trabalho,
ele coloca o trabalhador em uma condição de alta instabilidade, incerteza e
insegurança sobre sua própria reprodução social [...] A introdução de novas
modalidades de contratação ou ampliação da utilização das já existentes não
pode ser atribuída a eventual rigidez do mercado de trabalho, mas
fundamentalmente como possibilidade de oferecer aos empregadores formas
mais baratas de contratar a força de trabalho. A tendência, com isso, é
agravar ainda a situação de um mercado de trabalho pouco estruturado,
como é o brasileiro. (KREIN, 2017, p. 155)
Com isso é possível visualizar que existe sim uma grande evolução dentre a
sociedade em termos de trabalho, e que a humanidade vem sofrendo com essas
alterações, agravando principalmente na desigualdade social. O que torna necessário
podendo arcar assim com o retrocesso de certas conquistas históricas, que hoje em
dia já não poderão acontecer mais, pelas condições dignas de trabalho. Está na
Constituição da República no artigo 6° que traz os Direitos Sociais, o que se diz o
trabalho:
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.(BRASIL, 1988)

4.6. Ato jurídico perfeito

Para que se determine primeiramente o que é o ato jurídico perfeito, está


descrito no art. 5º, XXXVI da CF, onde se diz que “a lei não prejudicará o direito
adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Ou seja, as leis que são elaboradas
para se defender situações futuras, são aquelas leis que passam a valer somente
apenas depois que elas forem decretadas. Assim, as leis consideradas novas, que
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são criadas neste momento, não podem interferir ou retirar da população os direitos
que adquiriu por meio da lei antiga. Isso pode ser ressaltado também para as
chamadas leis de ordem pública, que são aquelas que permanecem a sociedade em
funcionamento e ordem, não podem ser alteradas de forma individual.
Quando se existe a proteção ao direito adquirido, é quando se há o ato jurídico
perfeito, que deve ser julgado pela norma tradicional do Direito brasileiro. Isso se dá
desde o ano de 1934, tirando a Constituição de 1937, em que todas as constituições
federais se têm como previsto uma norma parecida ao inciso XXXVI. Com isso, a
omissão que veio desta norma pela Constituição de 1937, também conhecida como
“Polaca”, acabou sendo inspirada pelo modelo semifascista polonês. Pois esta
coincide com a instituição na época do Estado Novo, comandado pelo presidente
Getúlio Vargas. Que era determinado por um regime autoritário brasileiro, que tinha
como inspiração o fascista, durando até o fim da Segunda Guerra Mundial.
No caso da Constituição de 1937, em que se era considerada autoritária, eram
concedidos pelo governo alguns poderes, no caso, praticamente ilimitados. Diante
deste cenário, alguns direitos básicos foram suprimidos com o propósito de aumentar
o poder do que governava na época, assim como o princípio da segurança jurídica.
Porém com o final do Estado Novo, a Constituição de 1946 acabou restaurando
a norma de proteção do direito adquirido, conforme o ato jurídico perfeito e ao
julgamento, que era restabelecido pela tradição do Direito brasileiro, em que se
garantia a estabilidade jurídica. Nesse âmbito pode-se ainda ressaltar que o direito
acaba sendo de extrema importância para que não seja extinta a democracia, pois ela
protege certas situações que já foram consolidadas e direitos um dia conquistados
depois de um governo autoritário que queria reprimir a sociedade.
Com isso, diante do inciso XXXVI que garante o direito fundamental da
segurança jurídica, ele ainda assegura que certas situações determinadas pela lei,
ainda continuarão a serem protegidas por mais que a lei seja revogada ou substituída
por outra.
“O princípio da segurança, em uma acepção genérica, vem expressamente
previsto no artigo 5°, caput, da Constituição Federal, como uma garantia
fundamental associada ao princípio da igualdade. Ainda no capítulo relativo
aos direitos individuais e coletivos, a Carta Constitucional acolhe, dessa vez
indiretamente, o princípio da segurança, ao firmar, no inciso XXXVI do artigo
5°, o respeito ao “direito adquirido”, ao “ato jurídico perfeito” e à “coisa
julgada”1. Já no capítulo da Constituição dedicado aos direitos sociais, a
segurança aparece na qualidade de um direito público prestacional, ao lado
de direitos básicos, tais como os direitos à saúde, à educação, ao trabalho e
à previdência social (artigos 6o, caput, e 7°, inciso XXII) ”.
43

Com isso pode-se afirmar que a segurança jurídica pode ser considerada como
algum tipo de princípio basilar entre as relações jurídicas que ocorrem em um Estado
democrático de direito. Com ela é possível gerar mais segurança as pessoas e
paridade de armas, para aqueles que os buscam. Contudo, quando se é relacionado
com a Lei n° 13.467/17, pode notar-se que esse princípio acabou não sendo cumprido,
por trazer uma vez mais incerteza, por conta da modificação e ausência do direito que
se faz as horas in itinere, o que causa mais insegurança aqueles que usufruem desse
benefício.
Diante dessa explanação que acontece sobre os dois princípios que estão na
carta magna, é possível visualizar como foi prejudicial e inconstitucional que
acontecesse essa supressão de direitos. Pelo simples fato de que não traz proteção
aos trabalhadores, ela ainda retira e viola direitos que um dia já adquiridos, indo em
desacordo as jurisprudências adotas pelo STF, o que se trata o contrário ao retrocesso
social. Ou seja, com essas alterações, é verificada a violação total dos direitos dos
trabalhadores, com essa a supressão dos princípios que eram antes o norte dos
direitos constitucionais, em que se faz a remoção dos direitos um dia adquiridos, que
conforme a inconstitucionalidade da Lei n° 13.467/201, ou seja a reforma trabalhista,
foram retiradas as horas in itinere.
As situações que são protegidas por meio desse direito, acabam sendo
divididas em três categorias, o direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
No caso do direito adquirido, é possível imaginar que uma pessoa já obtenha
do direito de se aposentar, mesmo assim ela optou por continuar trabalhando. Caso a
nova lei mude essas regras para com a aposentadoria, em que se aumenta a
quantidade de anos que se deve contribuir necessariamente, esta não tem seu direito
prejudicado por mais que a lei mude. Isso acontece porque ela já obtinha do direito de
se aposentar, por mais que ela não o tivesse exercido. Ou seja, quando um direito
antes adquirido, o mesmo não se pode ser retirado.
No ato jurídico perfeito, se diz quando um ato é validamente realizado sob a
vigência de uma lei anterior, que depois foi revogada ou modificada. Quando se trata
de um exemplo, para se determinar, é o casamento, em que na nova lei modifica as
regras em que se tem a validade do casamento, que aumentou a idade mínima. Mas
as pessoas que já tinham casado, perante a lei anterior, como ela eram válida, esses
podem permanecer casados, por mais que este casamento não esteja de acordo com
as novas regras. Neste caso, o casamento é considerado um ato jurídico perfeito,
44

onde seus efeitos estão sendo protegidos por mais que as regras atuais estejam
modificadas após o acontecimento.
A coisa julgada é a autoridade sobre as decisões do Judiciário, significa depois
de um processo acabado, o que for decidido pelo juiz não pode ser mais alterado de
alguma forma, isso nem por lei a princípio. Todavia, ainda existem certas exceções
para esta regra, como, no caso da descoberta de uma fraude que foi realizada por
uma das partes. Quando se aparece uma nova prova que seja relevante ao caso, o
juiz devem reavaliar sua decisão, ou ele pode ter sido corrupto, sem autoridade para
que possa julgar o caso.
Ainda sobre a importância do princípio da segurança jurídica, devem se
ressaltar dois pontos considerados essenciais para a manutenção dos direitos. Como
a garantia de se ter a estabilidade sob as relações jurídicas e a imponência da
existência da democracia no país. Como a segurança jurídica pode ser representada
sobre a proteção das decisões que são tomadas ou que já foram e dos direitos que já
foram conquistados.
Partindo deste pressuposto, pode-se afirmar que o inciso XXXVI, pode e deve
ser utilizado em diversas situações, para que possa assim, proteger um direito já
adquirido pelo cidadão, ato jurídico perfeito ou coisa julgada.
No caso dos aposentados, é um exemplo de que eles têm o direito de receber
os benefícios com base na lei que era vigente na época, pois esses já atingiram os
requisitos que eram necessários para se aposentarem, por mais que a solicitação da
aposentadoria só tenha sido feita após a edição de uma lei menos favorável. Desta
forma, a reforma da Previdência, que estava em alteração no Brasil, não poderia
atingir as pessoas que já tinham o direito de se aposentarem naquela época, pois
estavam em vigência da lei antiga.
Com relação à caderneta de poupança, a legislação pode ser alterada para o
menor índice de correção monetária, em que não se pode ser aplicada por um período
de aquisição da correção que já foi iniciado. Pode-se ressaltar que só vale este
exemplo quando se há um contrato de adesão, entre duas partes, sendo elas, o
poupador e o estabelecimento financeiro, pelo fato deste contrato ser considerado um
caso de ato jurídico perfeito.
Com essas regras de contratos considerados privados, de assistência à saúde
que já foram realizados, esses não podem de forma alguma, serem modificados
unilateralmente por parte das empresas, mesmo em casos de uma nova edição de
45

uma lei. No caso da decisão judicial protegida, em âmbitos de caso da coisa julgada,
a princípio, não pode ser alterada, por mais que está decisão seja considerada injusta.
Foi feita uma decisão por meio de a 6ª Turma do Tribunal Superior do Trabalho,
com decisão de voto do ministro Augusto César Leite de Carvalho, com base no artigo
5º da Constituição Federal de 1988, este que protege o contrato, como ato jurídico
perfeito, por meio das inovações legislativas. Com a maioria de votos, foi entendido
que a Lei da Reforma Trabalhista não poderia incidir sobre relações jurídicas que já
estivessem curso na época onde se passou a entrar em vigor.
No caso concreto julgado pela Corte Superior Trabalhista, foi retomada a
questão do título de Reforma trabalhista, que não pode incidir em contratos que são
considerados anteriores à sua vigência, de acordo com o TST.
"A lei não pode incidir sobre relações jurídicas em curso, sob pena de violar ato
jurídico perfeito. A parcela salarial, porque integra o núcleo de irredutibilidade na
contraprestação pecuniária devida em razão do trabalho, não pode ter a sua natureza
retributiva modificada por lei, sob pena de violar direito adquirido", isso foi afirmado
pelo próprio relator, ministro Augusto César Leite de Carvalho, que defendia um caso
que pode ser citado como exemplo.
O caso citado se diz no envolvimento de um empregado que trabalhava em
uma área de difícil acesso, e neste sentido, solicitou um pedido de horas
extraordinárias referente ao tempo que foi gasto no trajeto da sua casa até a empresa.
Quando era antes da reforma trabalhista (Lei 13.467/17), o contrato que ele assinou
e foi firmado, entrava que o deslocamento era oferecido pela empresa e seria
considerado como hora in itinerere, isso sobre a sua jornada. Contudo, com a vigência
da nova reforma, isso não valia mais.
Com isso, a organização solicitou que o pagamento dessa hora extra fosse
apenas até o dia 11 de novembro de 2017, que foi a data de início da reforma. No
entanto, o TST, indeferiu o pedido, com as alegações acima.
Com as palavras desse magistrado anteriormente citado, "é possível
argumentar, com base em precedente vinculante da Corte IDH, que a titularidade de
direitos humanos e fundamentais está assegurada apenas à parte vulnerável, ou
contratualmente débil, dentre os sujeitos que compõem as relações jurídicas". Com
isso, pode-se limitar o direito às horas extraordinárias, a todo período que se
relacionasse anteriormente à reforma trabalhista, que estava contraria ao princípio de
proteção, nesta se deve prevalecer a condição que seja mais benéfica ao trabalhador.
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47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intuito desta monografia é abordar sobre como a reforma trabalhista ocorreu


no Brasil, e com respeito ao ato jurídico perfeito, quanto aos atos firmados antes de
sua vigência. Determinando assim como as partes envolvidas passaram a
corresponder em ações para determinação de decisões, uma vez que a reforma havia
sido alterada, o que deixou alguns brasileiros confusos no momento de suas
audiências.
Foi traçado neste trabalho uma linha histórica para que fosse possível
compreender como surgiu todo o processo de benefícios aos trabalhadores. Em que
se foi abordado desde a escravidão, a qual não permitia que os cidadãos negros não
tivessem quaisquer direitos perante as próprias vidas, como ocorreu este processo de
extinção e aos poucos foram tomando força a classe trabalhadora em prol dos seus
direitos como funcionários.
Em certo momento, as indústrias necessitavam cada vez mais de funcionários
e mão-de-obra, que os colaboradores de uma sociedade passaram a notar que
deveriam ser valorizados, ou os produtos finais não seriam produzidos. A partir disso,
a classe operária passou a exigir que as organizações lhes dessem o mínimo de
condições para que pudessem trabalhar com dignidade, seja por meio de férias,
condições insalubridade, jornada de trabalho reduzida e contratos.
Foi quando, no ano de 1943, foi aprovada a Consolidação das Leis Trabalhistas
ou a CLT, que visava a melhoria das condições desses operadores para que
pudessem trabalhar perante os seus direitos, e no caso dos empregadores, aplicarem
seus deveres. Deste ponto em diante, os funcionários já obtinham dos chamados,
direitos trabalhistas, que eram determinados pelo Decreto de Lei nº 5.452, que os
garantia férias, 13º salário, jornada reduzida, férias, contrato assinado, FGTS e outras
condições que anteriormente eram apenas uma esperança as pessoas.
Com isso, foi possível verificar uma melhora nas condições de trabalho das
classes trabalhadoras, pois agora eles tinham direitos e eram regidos por lei, a qual
era obrigação das empresas acatar com essas normas, ou resultariam em multas e
penalidades mais severas. Contudo, no ano de 2017, quando o Brasil passava por
uma grade crise econômica e social, foi quando o governo da época decidiu realizar
transformações nessas normas, em prol de uma melhora na desigualdade social e
melhores condições a todos.
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Todavia, por mais que essas condições tivessem sido pensadas em prol da
desigualdade social, muito se acatou ao que as empresas questionavam acerca dos
direitos trabalhistas. Então esses, acabaram sendo revistos e alterados, retirando
assim dos trabalhadores o acesso aos seus direitos que eram considerados básicos,
aprovados assim, pela Lei de nº13.467/2017.
Foi com ela que diversos trabalhadores passaram a se sujeitarem novamente
a condições de trabalho que anteriormente não poderiam serem aceitas conforme a
CLT. Mas que atualmente já se consideravam normal, pelo fato de serem incluídas
mais de 100 alterações que permitissem aos empregadores melhores condições de
contratações e a priorização de empresas terceirizadas, as quais alteravam as
condições de 13º salário, férias e insalubridade.
Com isso, muitos funcionários já estavam em processo na justiça ou já
obtinham contratos com base nas condições antigas da CLT, caso que gerou e ainda
gera grande dúvida entre as pessoas, conforme o tratamento das decisões. Mas é
possível afirmar de acordo com o Tribunal Superior do Trabalho, que conforme a
Constituição em seu art. 5°, nenhuma das alterações feitas posteriormente atualmente
vigente, pode incidir em contratos em curso. Ou seja, existe a proteção do contrato
como ato jurídico perfeito.
Dessa forma, os trabalhadores que já estavam em condições em curso da CLT
anterior a reforma, continuam com as mesmas sem que a reforma trabalhista os
afetassem. As novas leis não podem incidir perante relações jurídicas já em
andamento, pois assim, podem violar o ato jurídico perfeito. O que traz um pouco mais
de segurança aqueles que já estavam acostumados a uma rotina de trabalho e
condições que eram consideradas básicas.
Por fim, é possível concluir com este trabalho, que as necessidades dos
trabalhadores por condições mínimas de trabalho devem ser acatadas, por serem a
parte mais fraca da relação entre empregado e empregador. A reforma trabalhista
retirou diversos benefícios que a população demorou anos para construir e aprovar,
mas de qualquer forma, conseguiram ao menos assegurarem-se por meio do ato
jurídico perfeito, o qual não pode ser lesado.
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