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SÃO PAULO
2018
MARIA CAROLINA GUERINI
SÃO PAULO
2018
Guerini, Maria Carolina. O Negócio Jurídico sob a ótica dos contratos
4. Validade
MARIA CAROLINA GUERINI
BANCA EXAMINADORA
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NOME COMPLETO
TITULAÇÃO INSTITUIÇÃO
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NOME COMPLETO
TITULAÇÃO INSTITUIÇÃO
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NOME COMPLETO
TITULAÇÃO INSTITUIÇÃO
DEDICATÓRIA:
Dedico este artigo aos meus pais, que sempre foram o alicerce da minha vida e carreira, as
minhas irmãs por serem meus ouvidos e meu estímulo a buscar o meu sonho e a meu parceiro de
vida e rotina, pelo total apoio, comprometimento e paciência. Dedico a todos eles este artigo,
posto que eles nunca me deixaram duvidar de que eu sou capaz de cumprir meus objetivos.
“Se você fizer um negócio com uma pessoa boa, você fará um bom negócio.”
Este trabalho vai falar sobre os reflexos do uso do negócio jurídico processual típico e atípico,
trazido no Código de Processo Civil vigente, em seus artigos, sendo exposto também o seu
conceito, a sua estrutura e interpretação doutrinária e judicial da aplicação do instituto nos
recentes julgados localizados, comparativos legislativos e o benefício deste instituto. Buscará
trazer os requisitos essenciais do negócio processual, hipóteses e extensões a serem exploradas
na contratação do negócio jurídico processual atípico, desenhando, de forma hipotética, ideias de
uma contratação possível em uma relação paritária e/ou empresarial que poderá evitar diversos
desgastes entre as partes contratantes, ou até mesmo uma solução judicial que não agrade
nenhuma das partes envolvidas. Ao final do estudo, na conclusão deste artigo, após estruturação
do tema, almeja-se fixar os entornos do tema perante o judiciário, ratificando que se um contrato
for bem construído com o auxílio do negócio jurídico processual, os benefícios e a
previsibilidade da contratação vão trazer benefícios incontáveis e importantes.
This paper will discuss the reflexions of the use of the typical and unusual procedural contratcs,
brought in the Code of Civil Procedure in force, in its articles, being also exposed its concept, the
structure and doctrinal and judicial interpretation of the application of the institute in the recent
judgments legislative comparitives and the benefit of this institute. It will bring the essential
requirements of the procedural contracts, hypotheses and extensions to be explored in the
contracting of the atypical legal process deal, hypothetically designing ideas of possible
contracting in a parity and/or business relationship, that could avoid various problems between
the parties contractors, or even a judicial solution that does not please any of the parties involved
in the private contract. At the end of the paper, at the conclusion of this article, after structuring
the theme, it is desired to establish the environments of the topic before the judiciary, ratifying
that if a contract is well built with the help of the legal process, benefits and predictability of
contracting will bring countless and important benefits.
2.1. Negócio jurídico processual: sua origem no Brasil e o direito comparado ......................7
4.1. A autonomia das partes e o negócio jurídico processual nos contratos ..........................19
7. Conclusão ............................................................................................................................... 36
O tema deste artigo visa abordar o negócio jurídico processual sob a ótica dos contratos,
inovação do Código de Processo Civil, do ano de 2015, em seus artigos 190 e 191. Durante a
vacatio legis deste Código de Processo Civil e, claro, após a sua vigência, este assunto foi trazido
à baila com destaque pelos estudiosos da área do nosso país como uma evolução importante para
o contexto jurídico prático, principalmente na aba da autonomia privada das partes, com reflexos
práticos de grande relevância nas contratações empresariais e paritárias.
Especifica-se e limita-se estes dois tipos de contratação no parágrafo acima, posto que o
judiciário já se posicionou limitando as alterações legislativas em contrato de adesão, sendo que
ao final algumas decisões judiciais serão mencionadas neste trabalho, como o intuito de realizar o
contraste da suposição e contornos da lei pela visão prática do judiciário que, querendo ou não, é
o mecanismo de solução de litígios, que muitas vezes estão enraizados de excessos.
Parece-nos que muito já se discutiu na doutrina e pelos estudiosos da área sobre as suas
hipóteses legais (negócio processual típico), tais como a eleição de foro, muito comum no dia-a-
dia das contratações, dentre outros exemplos clássicos como convenção das partes para a
suspensão do processo, adiamento de audiência, todos previstos no CPC/73, porém o tema
principal deste artigo será sobre a liberdade de contratar no que tange ao negócio jurídico
processual atípico, em que a lei traz seus regramentos, ditos como limitativos até, porém não os
esgotam no seu texto vigente, porém ambos os temas terão o devido espaço neste artigo.
É certo que cada contratação tem sua motivação e com isto as suas peculiaridades
essenciais, impulsionando o mercado, a circulação de riquezas, buscando objetivos comuns, cada
um com a sua necessidade individual na relação contratada, por óbvio, dentro dos parâmetros que
poderão ser revistos, senão restabelecidos, pelo judiciário, se necessário for.
A linha tênue entre o que deve ser revisado ou não por uma eventual invocação estatal,
por meio de seus órgãos jurisdicionais, será um ponto abordado nesta pesquisa.
Feita esta introdução, é certo que a legislação, de forma tímida, já trazia em seus artigos,
hipóteses legais passíveis de formação do negócio jurídico processual típico, mas e qual é o
1
efetivo alcance, validade e efetividade do negocio processual traduzido nos artigos mencionados,
e quais seriam os seus reais efeitos benéficos em um contrato particular?
O Código está em vigor há pouco mais de dois anos e o tema ainda é estudado e muito
comentado, ainda de forma cautelosa, mas vista como inovadora, senão radical.
Muito se ouve falar da importância para o cotidiano dos advogados contratualistas e/ou
especialistas da área que, se inteirados da lei processual e da rotina hipotética e prática do que se
está contratando, terão uma gama de preceitos a seu alcance a serem explorados nos contratos e
em suas cláusulas capazes de defender, com louvor, o direito do seu cliente, sem que haja a
necessidade do trâmite comum judicial, se eventualmente lá seja discutido o contrato.
Outro tema que, após a realização de recente pesquisa, será exposto neste trabalho, será
a abordagem de decisões judiciais, tais como a aplicabilidade do negócio jurídico processual no
seu plano de hipótese e o que realmente está configurando o negócio processual nos contratos.
É certo que este trabalho não conseguirá esgotar o tema e o seu alcance prático a ser
explorado pelas partes contratantes e seus patronos, posto que o tema é recente e não se sabe ao
certo qual será a abordagem reiterada dos juízos e tribunais do país sobre sua extensão. Por isso é
que este trabalho irá explorar as possíveis vertentes, trazendo a ótica prática nos contratos.
Ademais, é de grande valia ressaltar os limites legais que rondam o tema, o que será
também abordado neste trabalho, alinhando a visão constitucional sobre o tema, posto que é
amplo o alcance da matéria passível de acordo privado, mas há certos limites para as partes
pactuarem, sob pena de que em eventual disputa judicial aquilo não terá validade prática.
Por óbvio, este artigo também trará a origem do preceito no direito comparado, a sua
origem e aplicação no nosso direito pátrio, e a importância do negócio jurídico processual, os
seus requisitos, os seus reflexos reais, princípios norteadores do conteúdo, e qual a essência do
instituto para o ordenamento jurídico e as expectativas da sua efetiva aplicação.
O texto legal mencionado especifica que poderá ser convencionado os ônus, poderes,
deveres e faculdades entre as partes contratantes, sendo que “A modificação anterior ao processo
se dará, fundamentalmente, e, instrumento contratual, como já era permitido na vigência do CPC
2
revogado no que se refere especificamente ao ônus probatório1”, ou seja, houve relevante e uma
significativa ampliação da autonomia da vontade das partes negociantes.
No que tange aos debates iniciais sobre os limites da autonomia das partes no tema aqui
proposto, cita-se a seguinte reflexão que elucida bem o tema:
A definição dos limites entre os poderes do juiz e a autonomia das partes está
diretamente vinculada a três fatores: a) à disponibilidade do próprio direito material
posto em juízo; b) ao respeito ao equilíbrio entre as partes e à paridade de armas, para
que uma delas em razão de atos de disposição seus ou de seu adversário, não se beneficie
de sua particular posição de vantagem em relação à outra quanto ao direito de acesso aos
meios de ação e de defesa; e c) à preservação da observância dos princípios e garantias
fundamentais do processo no Estado Democrático de Direito2.
A extensão prática do tema sob a égide dos contratos é dizer, a princípio, que um está
conectado ao outro como complementares, caso contrário o tema não teria tanta relevância.
1
AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. 2° Edição revisada. São Paulo: Editora
RT, 2016. p. 292 e 293.
2
GRECO, Leonardo. Os atos de disposição processual - primeiras reflexões. Revista Eletrônica de Direito
Processual. Rio de Janeiro, 2007, página 11. Disponível em: <http://www.e-
publicacoes_teste.uerj.br/index.php/redp/article/viewFile/23657/16714> Acesso em: 22 mar 2018.
3
2. Negócio jurídico processual: conceito
Esta definição, extraída de uma tese de doutorado que me chamou a atenção, consegue
definir, com clareza, o que é e como deve ser visto o instituto em análise. Vivemos em uma
sociedade em que há lei fixando regramento para praticamente tudo o devemos ou não fazer, e
muitas vezes nos vemos acomodados neste ciclo vicioso, deixando de utilizar ferramentas
legislativas que nos fornece e garante grandes oportunidades de decisão, evitando futuras
intromissões e interpretações indesejadas, muitas vezes feitas totalmente fora de contexto.
Deixo aqui minha crítica, rasa, porém pertinente as relações privadas colocadas em
litígio, muitas vezes desfiguradas perante os órgãos do judiciário e suas ramificações.
Podemos citar também neste tópico, trazendo mais uma definição de negócio jurídico
processual em análise, através das sábias reflexos e conclusões trazidas por Pedro Henrique
Pedrosa Nogueira em sua tese de Doutora, concluída no ano de 2011:
O fato jurídico voluntário em cujo suporte fático, descrito em norma processual, esteja
conferido ao respectivo sujeito o poder de escolher a categoria jurídica ou estabelecer,
dentre dos limites fixados no próprio ordenamento jurídico, certas situações jurídicas
processuais.
3
NERY, Carmen Lígia Barreto de Andrade Fernandes. O negócio jurídico processual como fenômeno da
experiência jurídica: uma proposta de leitura constitucional adequada da autonomia privada em Processo
Civil. 2016. 206 f. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2016. página 77.
4
Estando ligado ao poder do autorregramento da vontade, o negócio jurídico processual
esbarra em limitações pré-estabelecidas pelo ordenamento jurídico, como sucede em
todos os negócios jurídicos4.
Por fim, mais uma definição, sem retirar a sua importância e contribuição para o tema, e
que trago para este artigo completa e define “É o fato jurídico voluntário, em cujo suporte fático
se confere ao sujeito o poder de regular, dentro dos limites fixados no próprio ordenamento
jurídico, certas situações jurídicas processuais ou alterar o procedimento5”.
Todo o estudo do negócio jurídico processual neste trabalho nos leva diretamente aos
contratos privados, a sua negociação considerando o objetivo contratado, cada um com suas
peculiaridades, desejos, objetivos e seus reflexos práticos, de como negociar situações
hipotéticas, mas que sejam no momento oportuno, se o caso, capazes de minimizar danos, tempo
e desgaste físico e material das partes, senão protegendo estes contratantes, ou até mesmo
capazes de beneficiá-los em uma única cláusula elaborada sobre o tema/objeto contratado.
Porém, no meu ponto de vista, a liberdade e autonomia advindas deste instituto são
desaproveitadas por aqueles que muito sofrem com a interferência do judiciário, caso um dia seja
necessário expor uma relação privada a um juízo que embarcou no caso apenas no fim, sem ao
menos saber do contexto real e das necessidades que culminaram naquele debate.
4
NOGUEIRA, Pedro Henrique Pedrosa Nogueira. Negócios Jurídicos Processuais: Análise dos Provimentos
Judiciais como atos negociais. 2011. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade Federal da Bahia. Bahia, 2011. página 206.
5
JR, Freddie Didier. Negócios jurídicos processuais atípicos no Código de Processo Civil de 2015. In Revista
brasileira da advocacia, v.1, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. página 59.
5
jurídica ao meu ver e não a instabilidade ou invasão de direitos, como ventilado por uns, posto
que é dirigida a um objeto específico, desejado, pensando e traçado pelas partes, não devendo
haver interferência em algo devidamente fixado por conveniência e debate prévio.
“Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às
partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo único. De ofício ou a
requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em
contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de
vulnerabilidade”.
“Art. 191. De comum acordo, o juiz e as partes podem fixar calendário para a prática dos
atos processuais, quando for o caso. § 1o O calendário vincula as partes e o juiz, e os
prazos nele previstos somente serão modificados em casos excepcionais, devidamente
justificados. § 2o Dispensa-se a intimação das partes para a prática de ato processual ou
a realização de audiência cujas datas tiverem sido designadas no calendário”.
O texto legal já citado especifica que poderá ser convencionado os ônus, poderes,
deveres e faculdades entre as partes contratantes, sendo que “A modificação anterior ao processo
se dará, fundamentalmente, e, instrumento contratual, como já era permitido na vigência do CPC
revogado no que se refere especificamente ao ônus probatório 6”, ou seja, houve relevante e
significativa ampliação da autonomia da vontade das partes negociantes.
Ou seja, a citação dos pontos que podem ser negociados pelas partes não foi e não está
esgotada, apenas há a abertura do leque de possiblidades. Há um óbvio e proposital toque de
atipicidade que pode ser explorada pelas partes contratantes, o que será explorado.
6
AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. 2° Edição. São Paulo: Editora RT, 2016.
p. 293.
6
2.1. Negócio jurídico processual: sua origem no Brasil e o direito comparado
A evolução histórica brasileira sobre os regramentos processuais não me parecer ter sido
de fato uma evolução, mas sim um retrocesso, uma vez que a liberdade e a autonomia da vontade
inicialmente praticada, como reflexo histórico do direito romano, foi esquecida e substituída por
um paternalismo estatal exacerbado, retirando a essência das relações e das tomadas de decisões
privadas, indo na contramão das demais doutrinas desenvolvidas pelo mundo.
O debate sobre a contratualização dos procedimentos vem de muito tempo, sendo alvo
de debate e evolução conceitual na Alemanha e nos Estados Unidos, por exemplo, não causando
a estranheza e rejeição vista aqui no nosso país, principalmente pelos operadores do direito que
exercem função pública, tendo uma visão egoísta e limitada do instituto, colocando a frente de
uma importante evolução prática material e processual o seu mero preconceito e falta de
conhecimento, considerando o seu cargo como impactado, esquecendo-se, parece, da sua real
função na estrutura estatal do judiciário, em que deve atuar quando necessário e invocado, não
sendo o seu cargo um direito de impedir a evolução jurídica de um país.
7
TAVARES, João Paulo Lordelo Guimarães. Da admissibilidade dos negócios jurídicos processuais no Novo
Código de Processo Civil: Aspectos teóricos e práticos. Páginas 3 e 4. Disponível em:
<file:///C:/Users/Renato%20Faria/Downloads/4545-17180-1-PB.pdf> Acesso em 24 mai 2018.
7
Trata-se de uma corrente que defende a privatização do processo, corrente a qual eu me
simpatizo, sobre o alicerce do princípio do autorregramento da vontade das partes, característica
marcante de países em que a solução amigável tem espaço e eficiência.
Não se trata de desrespeito aos direitos e deveres, mas sim o receio do recebimento disto
pelo poder judiciário em um momento de quebra e desgaste contratual. Porém, porque há tanto
receio das partes quando se tem a oportunidade de fazer um trabalho pré-processual e contratual
de excelência, afastando tais receio de interpretação desfigurada?
Ou seja, como usar este instituto para evitar excessos em uma eventual discussão
judicial, já delimitando, em um contrato privado, as regras de ônus de prova, as provas a serem
produzidas, ou até delimitar o litígio apenas a uma sentença de primeiro grau, sem azo a recurso,
porém ponderando quando e como tais situações são interessantes a elas.
O tema é belo, complexo e interessante, porém o debate é fraco, posto que, como já foi
mencionado aqui, o debate gira em torno das inseguranças trazidas pelo judiciário do nosso país
que, em sua grande parte, não traz isonomia e justiça de qualidade, quando possível; tudo é
8
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO; Daniel. Novo curso de Direito
Processual Civil, v. 1: teoria geral do Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. página 491.
8
discutível, tudo tem uma interpretação diferente, isto é insegurança. E não o fato de poder
transacionar aquilo de duas partes querem, do jeito que querem, dentro do escopo permitido pela
legislação, é claro. É certo que este limitativo legislativo é suficiente.
Para tanto, parece-me ser importante adentrarmos na esfera dos pontos estruturais
necessários para o negócio processual seja feito dentro dos parâmetros legais, e é este o nosso
próximo tópico a ser explorado, ponto de grande relevância ao tema.
O negócio jurídico processual tem sua estrutura, por óbvio, os negócios jurídicos de
referência, com previsão expressa em nossa legislação civil a partir do Novo Código Civil de
2002, cujo qual teve origem positivada no direito alemão9, devendo cumprir os mesmos
requisitos de existência, validade e eficácia estipulados para o negócio jurídico puro.
O negócio jurídico para tomar sua forma exige o cumprimento de requisitos mínimos,
sendo uma exigência o cumprimento de todos eles, por óbvio, caso contrária padece o ato de
força e de legalidade. Portanto, deve ser bem observado todos os requisitos legais, para tanto.
Não há como definir o tema sem citar Antônio Junqueira de Azevedo, o qual esgota o
tema em questão, com sabedoria, o qual assim estabelece:
9
LARENZ, Karl. Derecho Civil: parte general. Caracas: Editora Edersa, 1978. página 421. Cita-se: “Negócio
jurídico é um ato, ou uma pluralidade de atos, entre si relacionados, quer sejam de uma ou de várias pessoas, que
tem por fim produzir efeitos jurídicos, modificações nas relações jurídicas no âmbito do Direito Privado”.
9
Quais são eles exatamente? A rigor, tomada a palavra elemento, em seu significado já
definido, somente aquilo que efetivamente constitui o negócio é que poderia ser
considerado elemento, ou seja: a forma, que a declaração toma, isto é, o tipo de
manifestação que veste a declaração (escrita, oral, mímica, através do silêncio etc.), o
objeto, isto é, o seu conteúdo (as diversas cláusulas de um contrato, as disposições
testamentárias, o fim que se manifesta na própria declaração etc.) e, finalmente, as
circunstâncias negociais, ou seja, o que fica da declaração de vontade, despida da forma
e do objeto, isto é, aquele quid, irredutível à expressão e ao conteúdo, que faz com que
uma manifestação de vontade seja vista socialmente como destinada à produção de
efeitos jurídicos10.
Mesmo assim, pontuando, são elementos essências: (1) a manifestação de vontade das
partes, feita dentro dos parâmetros da contratação realizada; (2) o conteúdo por trás do negócio,
tomando sua forma e (3) o contexto negocial da manifestação, sendo que dentro deste contexto,
evidencia-se a necessidade de existir um agente, local e data para que os tramites de
externalização da vontade se concretizem e venham ao mundo jurídico.
Como bem explanou Antônio de Junqueira de Azevedo “[...] entre existir e produzir
efeitos, interpõe-se a questão de valer11”. A esfera de validade do negócio jurídico é o ponto
crucial do conceito sobre o tema, posto que é a razão de ser do negócio jurídico, que nada mais é
do que a manifestação de vontade das partes para um determinado fim, de interesse comum, cada
um com o seu real objeto colocado à prova através da sua vontade, sem vícios de consentimento.
10
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócios jurídicos: existência, validade e eficácia. 4° Edição – de acordo
com Novo Código Civil, São Paulo, Saraiva, 2002. página 32.
11
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócios jurídicos: existência, validade e eficácia. 4° Edição – de acordo
com Novo Código Civil, São Paulo, Saraiva, 2002. página 41.
10
Este ponto é devidamente levado a sério no conceito do negócio jurídico, posto que os
requisitos de validade vêm como fonte limitadora para as vontades dos particulares, a qual se não
devidamente tutelada, controlada, poderia direcionar as negociações e decisões das partes a
desregramento, sem limites, sem critérios, desviando o objeto principal.
A validade é, pois, a qualidade que o negócio deve ter ao entrar no mundo jurídico,
consistente em estar de acordo com as regras jurídicas (‘ser regular’). Validade é, como
o sufixo da palavra indica, qualidade de um negócio existente. ‘Válido’ é adjetivo com
que se qualifica o negócio jurídico formado de acordo com as regras jurídicas 12.
Portanto, para surtir efeitos de validade, os negócios jurídicos devem estar perfeitos e
dentro dos parâmetros legais, com fito de proteção e seriedade às relações privadas, não a fim de
limitá-las ou ainda regulamentá-las a ponto de a liberdade deixar de existir.
Aqui vale citar um exemplo hipotético para elucidar a importância das etapas essenciais
que o negócio jurídico deve cumprir. Duas pessoas podem de livre e espontânea vontade13 firmar
um contrato de compra e venda de entorpecentes, de fato, a contratação existe, entretanto, já no
campo da validade esta negociação não terá qualquer reflexo legal, em caso de discussões sobre
regras, prazos, qualidade, pontualidade, ou qualquer outra negociação feita.
O negócio jurídico, então, se limita até a etapa de existência, não sendo um negócio
jurídico perfeito, posto que na esfera de validade ele não preencha os requisitos legais.
12
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócios jurídicos: existência, validade e eficácia. 4° Edição – de acordo
com Novo Código Civil, São Paulo, Saraiva, 2002, página 42.
13
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do Fato Jurídico. 5° edição, atual. e aum. São Paulo: Saraiva, 1993. p.
134. Neste ponto, não podemos deixar de citar: “A vontade não constitui, só por si, o negócio jurídico, mas precisa
de que a norma jurídica a transforme, juntamente com os demais elementos por ela previstos como necessários, em
fato jurídico. Dizer-se que a declaração de vontade constitui o negócio jurídico ou que ela própria é o negócio, revela
uma visão distorcida da realidade, uma vez que elimina um dado essencial caracterizador do fenômeno jurídico, qual
seja a incidência da norma jurídica sobre seu suporte fático. Sem a incidência da norma a vontade não entrará no
mundo jurídico e, portanto, não há como se falar em negócio jurídico. Somente há juridicidade onde há norma
jurídica que a atribua a algum fato, inclusive volitivo”.
11
consentimento; (c) através de forma prescrita ou não proibida por lei, tendo (d) um objeto lícito,
possível de ser contratado/negociado, podendo ser determinado ou determinável.
Desta feita, conclui-se do estudo deste ponto que a validade se trata do plano que se
adjetiva os elementos fixados como de existência15, trazendo mais realidade para o negócio
jurídico, elencando situação fática e requisitos práticos para o cumprimento do ato jurídico.
Agora, passando para a etapa de eficácia do negócio jurídico, o qual define sobre como
os efeitos dos resultados queridos pelas partes e como o que foi negociado surtirá no campo da
prática, podendo ocorrer aqui casos de fixação nos negócios condição suspensiva (sujeito a um
evento futuro e certo), encargo (quando há um ônus a ser cumprido pelo beneficiário), termo
14
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócios jurídicos: existência, validade e eficácia. 4° Edição – de acordo
com Novo Código Civil, São Paulo: Saraiva, 2002. página 43.
15
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. São Paulo:
Saraiva, 2017. página 135.
12
(sujeito a um evento certo e futuro). Com o nome deste requisito propriamente reflete, refere-se
aos efeitos e a sua efetiva externalização no mundo real e no mundo jurídico.
Tais situações que impedem que o negócio jurídico surta seus efeitos, de imediato, são a
exceção, a situação especial a ser estipulada na negociação. A regra, é clara, se o negócio tem os
requisitos de existência e validade, interpreta-se como negócio jurídico eficaz e perfeito.
O terceiro e último plano em que a mente humana deve projetar o negócio jurídico para
examiná-lo é o plano da eficácia. Nesse plano, não se trata, naturalmente, de toda e
qualquer possível eficácia prática do negócio, mas sim, tão só, da sua eficácia jurídica e,
especialmente, da sua eficácia própria ou típica, isto é, da eficácia referente aos efeitos
manifestados como queridos. Feita essa advertência preliminar, e antes de tratarmos da
situação normal, que é a da eficácia dos atos válidos, lembramos duas situações
excepcionais: a eficácia do nulo e a ineficácia do válido. Ambas são, a nosso ver, provas
cabais de que não se pode confundir válido com eficaz e nulo com ineficaz; não só há o
ato válido ineficaz como, também, o nulo eficaz 16.
Não iremos adentrar neste trabalho nas hipóteses refletivas por Antônio Junqueira de
Azevedo, não enfrentando como desnecessária, mas sim porque não é o foco deste trabalho. O
tema de validade, ineficaz e nulidade do que já surtiu efeitos no mundo jurídico deve ter espaço e
detalhamento em outra pesquisa, com a devida atenção e destaque merecidos.
16
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócios jurídicos: existência, validade e eficácia. 4° Edição – de acordo
com Novo Código Civil, São Paulo: Saraiva, 2002. página 49.
17
JUNIOR, Humberto Theodoro. Dos efeitos do negócio jurídico no novo Código Civil. Revista da Faculdade de Direito
da Universidade de Minas Gerais, 2001. página 100 apud MILANO, 1998, p. 182.
13
fazem os efeitos dependerem de algo. Assim, são, pois, as convenções que impõem limites à
vontade das partes, havendo, claro, limites legais para o seu uso e fixação nas negociações18.
Já definimos até aqui quais são os requisitos que o negócio jurídico processual ou puro
deve cumprir para ser legalmente considerados como perfeitos e aptos a surtir seus efeitos.
Fica mais do que claro que os requisitos legais visam dar seriedade ao ato particular de
vontade, regulamentando os atos dentro da legislação e da função do contrato.
18
Não são passíveis de negociação pelas partes quando o negócio jurídico envolve e tem como objeto direitos pessoais, tais
como, mas não se limitando, os direitos personalíssimos e direitos de família, dependo da matéria.
14
3. A evolução e a interpretação do instituto do negócio jurídico processual nos
Códigos de Processo Civil de 1973 e no atual de 2015
Houve uma evidente evolução normativa entre o antigo Código de Processo Civil para o
atual sobre a matéria ventilada aqui, eram muito tímidos os pontos em que as partes poderiam
negociar dentro de um contrato particular, que nada mais é do que um negócio jurídico, revestido
de pura vontade e autorregramento das partes, pontos que serão explorados neste tópico.
O Código revogado de 1973, também trazia em seu artigo 333, mais especificamente em
seu parágrafo único, uma tímida possiblidade de acordo das partes sobre a distribuição do ônus
de prova, mas tal previsão mais trazia regras do que negociação entre as partes:
É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova quando: I - recair
sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o
exercício do direito.
19
“Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas
podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações
oriundas de direitos e obrigações”.
20
“Art. 453. A audiência poderá ser adiada: I - por convenção das partes, caso em que só será admissível uma vez
[...]”;
21
“Art. 265. Suspende-se o processo: II - pela convenção das partes [...]”.
15
Porém, as alterações legislativas foram muitas, deixando em aberto a extensão do que
seria possível de ser fixado em uma contratação pelas partes. Como já citado rapidamente neste
trabalho, o ponto de evolução mais relevante é o trazido no artigo 190, do CPC/15, além de trazer
novamente um rol tipificado de possiblidades do negócio jurídico processual.
No artigo supra, as possibilidades fixadas em seu texto são abstratas, atípicas, e só será
possível de materializar a sua extensão quando colocada a prova as diversas possibilidades que as
partes podem negociar. E isso só acontecerá quando o acordo for colocado à discussão.
Assim, sob a ótica do Novo Código de Processo Civil, existe a possibilidade de eleição
de foro exclusivo estrangeiro em contratos internacionais22, a fixação prévia do calendário
processual pelas partes23, delimitando as questões de fato e de direito a serem discutidas (fixando
ônus de prova, delimitando matérias passiveis de prova e meio de provas, dentre outras hipóteses
previstas no artigo), tudo sujeito a homologação24, e escolha consensual das partes acerca da
nomeação de perito, caso seja necessário, substituindo a indicação do juízo25.
Todas estas hipóteses são típicas, previstas expressamente nos artigos do Código
vigente, o que já pode e muito ser explorado pela parte contratante, na negociação de um
contrato, entre partes capazes e com força negociante. Só nestes pontos, vislumbro uma gama
extensa de possibilidades pelas partes de impedir uma atuação desmedida e ampla pelo judiciário
em caso de discussão da contratação em juízo, é este ponto explorado neste trabalho.
Esta análise crítica depende do que as partes gostariam de incluir no contrato, evitando
as surpresas que um litígio processual poderia gerar na contratação em pauta. Ora, este é o ponto
relevante do negócio jurídico processual. Trazer previsibilidade para as partes contratantes sobre
os pontos que foram fixados no contrato, aquilo não poderá sofrer alteração pelo judiciário.
22
“Art. 25, do CPC/15”.
23
“Artigo 191, do CPC/15”.
24
“Art. 357, § 2° As partes podem apresentar ao juiz, para homologação, delimitação consensual das questões de
fato e de direito a que se referem os incisos II e IV, a qual, se homologada, vincula as partes e o juiz”.
25
“Art. 471. As partes podem, de comum acordo, escolher o perito, indicando-o mediante requerimento [...]”.
16
Entretanto, é na redação do artigo 190, do CPC/15 que estão especificados os negócios
processuais atípicos, os tópicos sobre ônus, obrigações e responsabilidade em que as partes, com
a devida criatividade, necessidade, e orientação, poderão explorar em um contrato privado.
É uma contradição interessante, afinal, ao meu ver, o instituto existe para evitar que um
litigio judicial desconfigure uma relação contratual. Usando de forma inteligente e esclarecida do
negócio processual no geral, podemos ter a segurança em uma eventual discussão do contrato.
Agora, me questionei, em diversos momentos, durante o estudo deste tema se, de fato,
tais previsões são liberdades tangíveis, ou apenas liberdades que não são efetivas, uma vez que o
nosso judiciário não parece respeitar os acordos privados firmados. Sempre se levanta a ideia de
que tal contratação (em debate, eventualmente) foi imposta à outra parte, não traz equilíbrio entre
as partes, havendo uma descaracterização da contratação inicial, sem motivos legítimos.
Este tema será mais desenvolvido nos próximos tópicos, no que tange as extensões do
negócio jurídico processual atípico passível de evolução, negociação e inclusão em contrato.
17
4. A cláusula geral de atipicidade prevista no artigo 190, do CPC/15
Como mencionado, este artigo traz em sua redação os pressupostos necessários para que
o negócio jurídico processual seja perfeito. Como já esclarecido neste trabalho, os pressupostos
do negócio processual são os mesmos do negócio jurídico, posto que o primeiro tem a mesma
forma do segundo, alterando apenas o fato de que o negócio processual tem reflexos de vontade
das partes perante um contrato e os seus reflexos e extensões de um eventual processo judicial.
Já no plano dos pressupostos objetivos podemos expor que o artigo, primeiramente, traz
que são passiveis de contratação pelas partes direitos que admitem autocomposição, mas o que
seriam estes direitos de autocomposição, que a lei não delimita ou exemplifica?
26
LEAL, Rosemiro Pereira. Teoria geral do processo: primeiros estudos. 11° edição. Rio de Janeiro: Forense,
2012. p. 317.
18
Sobre a extensão dos direitos a autocomposição, traz-se o seguinte exemplo, o qual pode
ser aplicado em casos de negócio processual atípico formulado antes do processo, que é o foco
deste trabalho, explorar situação pré-processual a serem utilizadas neste âmbito:
Pode-se supor, por exemplo, que as partes envolvidas, num processo de interdição – o
qual não dispensa a tutela judicial – firmem um acordo processual no qual somente a
parte autora dispense recurso, caso a sentença venha a reconhecer a capacidade do
interditando. Nesse caso, o juiz poderá anuir com o negócio processual e não conhecer
de eventual recurso promovido pela parte autora. No caso hipotético, a solução faz
sentido até mesmo porque a parte poderia decidir não recorrer. O que fez foi somente
antecipar para o início do processo uma decisão que tomaria ao final do exercício da
jurisdição de 1º grau. Não haveria razão para negar a possibilidade do negócio jurídico
processual nesses casos, ainda que a pretensão à tutela judicial fosse indisponível 27.
Sobre a capacidade das partes não iremos explorar o tema, posto que não é o foco do
trabalho, não objetivamos prolongar e desviar sobre o tema principal. Aqui se aplica as regras do
padrão de validade na manifestação de vontade nos negócios jurídicos, devendo aqui serem tais
regras devidamente respeitadas, a fim de garantir equilíbrio e cumprimento da lei vigente.
Podemos migrar e dissertar sobre a extensão dos ônus, poderes, faculdades e deveremos
que as partes podem previamente fixar em um contrato, dando assim a ênfase que este trabalho
visa dar ao tema, é a efetiva funcionalidade destas previsões em um contrato.
Não há duvidas que o Código de Processo Civil vigente traz expressa a possibilidade de
negociação de um negócio jurídico processual antes e depois do processo. Este trabalho não irá
abordar a segunda hipótese supra, que deve ser explorada em algum trabalho focado na área
processual civil, aqui viso me debruçar sobre os efeitos e possiblidades na vertente contratual.
Dito isso, o próximo tópico irá dar os contornos da sua atipicidade antes do processo.
27
NETO, Delosmar Domingos de Mendonça. GUIMARÃES, Luciano Cezar Vernalha. Negócio jurídico
processual, direitos que admitem a autocomposição e o pactum de non petendo, Revista de Processo: Thompson
Reuters, vol. 272/2017, 2017. p. 423.
19
Como já mencionado, o assunto causou grande repercussão, posto que a inovação do
artigo 190, do CPC/15, abriu muitas hipóteses de liberdade de atuação e contratação das partes, o
que gera um desconforto em um ordenamento jurídico com predominância do controle estatal,
com um judiciário de visão e decisão muitas vezes distorcida, como se pudesse limitar os direitos
e poderes das partes, uma vez que uma contratação viesse ao juízo de controle e análise.
Na mente da maioria das pessoas, tudo deve ser resolvido perante o judiciário, o que
pode ser alterado diante da utilização do negócio processual atípico e típico previsto em lei. Aqui
vemos uma ferramenta relevante, uma vez que podemos nos antecipar em certos pontos.
Ao firmar um contrato, quando as partes estão assessoradas por advogado28, hoje é mais
do que possível, sendo ponderado, incluir todo o tipo de situação hipotética aplicável no negócio
e que as partes tenham direito de negociar e que estejam de acordo, após diálogo sobre o tema.
A autonomia da vontade nas negociações privadas, entre partes que estão negociando
um objeto em conjunto, merece atenção, posto que toda liberdade vem acompanhada de uma
(grande) responsabilidade, considerando que tudo merece uma limitação apenas para garantir o
objetivo por trás desta contratação, não permitindo a sua desconfiguração, se tornando ilegal e
abusiva, por consequência. Ou seja, se está cumprimento a função social do contrato.
Neste sentido, repercute necessariamente no trato ético e leal que deve ser observada
pelos contratantes, em respeito a cláusula da boa-fé objetiva. E nessa perspectiva temos
que a relação contratual deverá compreender os deveres jurídicos gerais e de cunho
28
E assim deve ser em qualquer tipo de negócio, o que precisa evoluir na mente do brasileiro, que acredita ser um
desperdício de dinheiro consultar um advogado, mesmo quando o contrato seja de pequena monta.
20
patrimonial (de dar, fazer, e não fazer), bem como deverão ser levados em conta os
deveres anexos e colaterais que derivam desse esforço socializante.
Com isso, obrigações até então esquecidas pelo individualismo cego da concepção
clássica de contrato ressurgem gloriosamente, a exemplo de deveres de informação,
confidencialidade, assistência, lealdade, etc. E todo esse sistema é, sem sombras de
dúvidas, informado pelo princípio da dignidade da pessoa humana 29.
Posto isso, a liberdade contratual “não é ilimitada ou absoluta, pois está limitada pela
supremacia da ordem pública, que veda convenções que lhe sejam contrárias e aos bons
consumes, de forma que a vontade dos contratantes está subordinada ao interesse coletivo” 30. A
vontade das partes em uma contratação não deve invadir os requisitos de legalidade, mas deve
explorar os pontos que lhe são permitidos, afastando desvio da contratação quando as partes
estiverem em fase de desarmonia, com ânimos alterados ao contrato original.
Fica claro que a autonomia da vontade concedida às partes deve ser bem utilizada, uma
vez que o seu questionamento será, em momento, oportuno avalizado pelo judiciário, através do
magistrado, portanto, deve ser bem construído, dentro do respeito na legislação e boa-fé.
Portanto, não nos parece razoável que a contratação feita de forma unilateral, ou quando
uma das partes é a única beneficiária das alterações ou fixações sobre o negócio processual, não
será validado pelo judiciário, afinal, o que se visa são o equilíbrio e a cooperação.
O que precisa ser esclarecido sobre este tema, é exatamente este ponto. A contratação
deve ser debatida, fixando responsabilidades, poderes e ônus entre as partes, não excluindo, por
completo as possibilidades de uma das partes em detrimento da outra. Isto não é negociação.
29
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. São Paulo:
Saraiva, 2017. página 405.
30
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Teoria das Obrigações Contratuais e
Extracontratuais. São Paulo: Saraiva, 2017. página 42.
21
O negócio jurídico processual (ou não) tem, em conjunto com o princípio da autonomia
das partes, princípios que são essenciais para a estruturação do negócio jurídico processual e da
concretização do instrumento, dentro dos objetivos perseguidos pelas partes.
Desta feita, tal situação nos leva ao próximo ponto essencial para tal negociação, a boa-
fé objetiva dentro das relações contratuais. A boa-fé objetiva é muitas vezes definida em textos e
comentários de forma errônea, como um princípio, porém ela é, na verdade, uma cláusula geral a
ser observada nas contratações em geral, com cunho de dar segurança as relações, posto que parte
do pressuposto que as pessoas estão agindo dentro da legalidade, cooperação, lealdade, com um
comportamento de respeito e condutas dentro do esperado e de cunho protetivo.
31
NALIN, Paulo Roberto. Ética e Boa-fé no Adimplemento Contratual, in Repensando os Fundamentos do
Direito Civil Brasileiro Contemporâneo, coord. Luiz Edson Fachin, Rio de Janeiro: Renovar, 1998. p. 198.
22
e o devedor é necessária a colaboração, um ajudando o outro na execução do contrato. A
tanto, evidentemente, não se pode chegar, dada a contraposição de interesses, mas é
certo que a conduta tanto de um como de outro, subordina-se a regras que visam a
impedir dificulte uma parte a ação de outra32.
Considerados tais pontos dentro de uma contratação, não há dúvidas que as definições
colocadas dentro um contrato acerca do negócio processual, serão válidas e respeitadas, uma vez
que o que se visa neste tipo de contratação é o respeito e equilíbrio entre as partes.
Além disso, as partes estarão agindo com clareza e probidade, mas mesmo assim usando
de um poder de controle sobre o procedimento processual, que será garantido, caso for.
Por fim, vale destacar que o negócio jurídico processual, nos contratos, deixa explícito
que tal contratação deve ser feita por escrito, de forma clara e expressa pelas partes, para que seja
efetivamente consolidado, tal requisito é essencial neste tipo de situação no contrato. Não há
como consolidar tal situação de forma verbal, diante da complexidade de prova para tanto.
Na realidade, não há como imaginar tal situação de forma verbal, se não foi contratada e
colocado no contrato pelas partes o regramento legal será o aplicado no debate.
Até este ponto, foi exposta toda a estrutura por traz da construção do negócio jurídico
processual pré-processual (podendo ser aplicado no durante o processo, também). Na verdade, é
apenas o momento da sua formação que se altera, porém, os requisitos permanecem os mesmos.
Porém, vamos analisar na prática quais são as extensões de atuação pelas partes dentro
de um contrato, quando fixados os pontos processuais de uma eventual demanda. Os reflexos são
muitos e já foram pontuados diversos temas que podem ser acordados pelos contratantes.
32
GOMES, Orlando. Contratos. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1999. página 42.
23
causa que analisará o caso tem em seu âmbito de atuação análise de validade: se o contrato foi
negociado dentro dos parâmetros de justiça, bom senso e sem vícios de consentimento.
(c) Acordo sobre a nomeação de um perito (em caso de perícia), podendo as partes no
próprio contrato nomear o perito que poderá analisar, eventualmente, a questão, ao
considerar que as partes confiam neste profissional para dirimir conflitos;
(f) Acordo de ampliação e redução de prazos – me parece mais do que razoável, senão
uma possibilidade muito interessante, considerando, muitas vezes as partes
envolvidas, a matéria de fato em debate, podendo os prazos padrão serem alterados
(participei de uma negociação neste sentido, e achei muito interessante a posição das
partes sobre o motivo da prorrogação do prazo para eventual contestação: dar um
maior prazo, muitas vezes, para uma nova tentativa de composição amigável;
(g) Acordo sobre a apresentação de laudos técnicos para cada parte, os quais serão a
base de análise de eventual perito, caso a demanda assim exija;
24
(h) Acordo de rateio das despesas processuais – tal como mencionei no item (b), este
tipo de acordo prévio é muito interessante, considerando a instabilidade legislativa a
qual nós estamos sujeitos, não se sabendo sequer ao certo a distribuição deste ônus,
posto que a cada ano uma alteração surge, assim, aqui não haverá surpresas;
O tema, antes mesmo da efetividade do Novo Código de Processo Civil, já foi foco de
Congressos e Encontros de Processualistas, porém a criatividade de pactuação das partes só será
delineada, não limitada, quando os negócios jurídicos processuais vierem à tona para debate e
discussão, as sugestões feitas até o momento de confecção deste trabalho são muitas, e podem ser
bem aproveitados pelas partes, uma vez que o poder concedido pela legislação é amplo.
Até o presente momento, diversos tópicos já foram aprovados nestes Encontros como
passíveis de negociação pelas partes em contratações privadas. Dentre os enunciados aprovados34
e extraídos de website que deu publicidade aos atos, seleciono alguns que me parecerem muito
interessantes ao nosso tema e que devem ser lembrados pelas partes em uma contratação, posto
que os benefícios de previsibilidade e celeridade são comprovados:
(a) 21. (art. 190) São admissíveis os seguintes negócios, dentre outros:
acordo para realização de sustentação oral, acordo para ampliação do
tempo de sustentação oral, julgamento antecipado do mérito
convencional, convenção sobre prova, redução de prazos processuais.
(Grupo: Negócio Processual; redação revista no III FPPC-Rio);
(b) 490. (art. 190; art. 81, §3º; art. 297, parágrafo único; art. 329, inc. II;
art. 520, inc. I; art. 848, inc. II). São admissíveis os seguintes
negócios processuais, entre outros: pacto de inexecução parcial ou
total de multa coercitiva; pacto de alteração de ordem de penhora; pré-
indicação de bem penhorável preferencial (art. 848, II); pré- fixação
33
JR., Freddie Didier. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e
processo de conhecimento. 17ª Ed., Salvador: Ed. Jus Podvim, 2015. p. 381-382.
34
Enunciados citados disponível em: <http://civileimobiliario.web971.uni5.net/wp-content/uploads/2017/07/Carta-
de-Florian%C3%B3polis.pdf>. Acesso em: 12 abr 2018.
25
de indenização por dano processual prevista nos arts. 81, §3º, 520,
inc. I, 297, parágrafo único (cláusula penal processual); negócio de
anuência prévia para aditamento ou alteração do pedido ou da causa
de pedir até o saneamento (art. 329, inc. II). (Grupo: Negócios
processuais);
No mais, as limitações são claras, ao meu ver. Tudo o que for fixado fora do escopo
apresentado nos itens acima não poderão ser validados pelo judiciário, e a lei específica que este
deverá apenas fazer a avalição de validade, afastando os abusos. Assim, tem que haver sempre
evidente legalidade na pactuação entre partes que, de fato, negociaram as cláusulas neste sentido.
26
Não há como, por exemplo, alegar que há equilíbrio na fixação de tais cláusulas em um
contrato por adesão. Neste ponto, por óbvio, o judiciário deverá agir e invalidar o pacto.
Assim sendo, sobre os limites e a validade do negócio jurídico processual, com fico no
atípico, traz-se a seguinte ponderação que debate brilhantemente o instituto:
35
LIMA, Hercília Maria Fonseca. Cláusula Geral de Negociação Processual: um novo paradigma democrático
no processo cooperativo. São Cristóvão, 2016, página 93. Disponível em:
<https://ri.ufs.br/bitstream/riufs/4374/1/HERCILIA_MARIA_FONSECA_LIMA.pdf>. Acesso em: 12 maio 2018.
27
O instituto em debate está, como mencionado, cercado de questões constitucionais, que
acabam limitando as extensões de atuação e usos dos negócios jurídicos processuais. Porém, me
parece que a palavra limitação não é a melhor que define, mas sim influência constitucional.
Desta feita, o contrato, além de traçar os desejos das partes, consolidando a liberdade das
partes na ótica da ordem privada, deve, sob o manto da Constituição de 1988, exercer a sua
função social, em consonância com o princípio da função social da propriedade:
Em verdade, se é certo que a Carta Magna de 1988, de forma explícita, condiciona que a
livre-iniciativa deve ser em consonância com o princípio da função social da propriedade
(art. 170, III), e, uma vez entendida, que a propriedade representa o segmento estático da
atividade econômica, não é desarrazoada entender que o contrato, enquanto segmento
dinâmico, implicitamente também está afetado pela cláusula da função social da
36
“Artigo 5°, inciso LIV, da Constituição Federal”.
37
“Artigo 1°, da Constituição Federal”.
38
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Manual de direito civil: volume único. São Paulo:
Saraiva, 2017. página 391.
28
propriedade, pois o contrato é um instrumento poderoso de circulação de riqueza, ou
melhor, da própria propriedade39.
O respeito, o bom senso, e a utilidade pública por trás de contratos privados (circulação
de riqueza, de produtos, evolução tecnológica, suprimento de produtos, etc.) devem e merecem
total respeito na construção do negócio processual, é como toda a contratação em si.
Tudo pode ser revisto, uma vez que constatado o desvio de finalidade. Trata-se aqui de
uma análise de resultados, de vontades bem delineadas e de nexo do que foi fixado. Não haveria,
pois, como ver validar uma cláusula que fixa o julgamento de eventual divergência apenas e
diretamente pelo Supremo Tribunal de Justiça; aqui deve se atentar que as leis processuais de
ordem absoluta também devem ser respeitadas, não há possibilidade de supressão de instância.
Para adentrar mais neste ponto, iremos expor no próximo tópico a real importância do
advogado durante o ajuste e negociação deste tipo de contratação, exatamente por este ponto.
39
NETO, João Hora. Princípio da função social do contrato no Código Civil de 2002. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/8262/o-principio-da-funcao-social-do-contrato-no-codigo-civil-de-2002; Acesso em: 20
maio 2018.
29
5. A efetividade do advogado na aplicação do instituto em análise
Todo o alvoroço em torno desta alteração legislativa, prevista nos artigos 190 e 191, do
Código de Processo Civil vigente, surgiu exatamente diante deste contraposto, o instituto é, de
longe, algo inovador, inusitado e deve ser explorado sim. Porém, por quem?
A discussão em volta do tema nos leva diretamente aos nossos colegas do direito, os
advogados, os quais na confecção de um contrato e no tópico de hipóteses de eventuais proteções
e blindagem do cliente em um hipotético litígio em uma contratação ainda em formação.
Somos nós advogados que teremos de criar a cultura dos negócios processuais. Quem
acha que processo civil é tema do advogado do contencioso, mais do que nunca está
enganado, porque estamos aqui tratando de um tema que fará com que os advogados do
consultivo tenham de pensar em futuros processos, tenham de pensar a conveniência de
seus clientes em futuros processos. Temos a ideia de consensualidade entrando com toda
a força no processo civil40.
Ou seja, a visão distorcida de que a matéria analisada aqui se limita aos advogados do
contencioso cível cai por terra, afinal, a ferramenta legal posta aos advogados nesta matéria é
exatamente o seu uso antes de um processo, na fase contratual. Neste ponto, não tenho como
esconder a minha total concordância com as palavras do Procurador sobre o tema. Aqui mora o
desafio do advogado, que terá que por a prova a sua visão de possibilidades em uma contratação,
demonstrando conhecimento, estudo de caso, e de acompanhamento de decisões judiciais.
40
MENDES, Paulo. Revista Consultor jurídico. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2016-jul-12/negocios-
processuais-mudam-relacao-advogados-justica>. Acesso em 24 mai 2018.
30
A visão limitada do advogado especialista, que não sabe de contencioso não se aplica e
não deve ser replicada jamais. Profissional do direito de respeito é aquele que sabe o que não está
sendo bem recebido no judiciário, e o utiliza dentro de suas contratações, em benefício do seu
cliente. A busca do atual, fora do padrão, é o teste de qualidade do advogado.
Em que pese não existir expressamente qualquer condição legal exigindo a existência e o
acompanhamento de um advogado na elaboração do negócio processual, principalmente no que
tange aos pré-processuais, dentro de uma contratação privada, porém não consigo vislumbrar um
contexto em que as partes consigam alcançar este intento sem a presença de um.
Ora, se o negócio jurídico processual versar sobre matéria técnica - veja-se a previsão
expressa de mudanças no procedimento, convencionando sobre ônus, poderes,
faculdades e deveres processuais – escolha informada sobre o processo pressupõe, em
nosso sentir, assistência técnico-jurídica, com expressão própria de quem tem
capacidade técnica-postulatória41”.
41
NERY, Carmen Lígia Barreto de Andrade Fernandes. O negócio jurídico processual como fenômeno da
experiência jurídica: uma proposta de leitura constitucional adequada da autonomia privada em Processo
Civil. Tese (Doutorado em Direito) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Direito. Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. São Paulo, 2016, p. 106.
31
Não é difícil de ser concluir que o advogado, atuante e em trânsito nas diversas áreas do
direito, terá a percepção e visão do que é interessante pelo contratante, seu cliente, ou até mesmo
a outra parte, em cooperação, poderá sugerir e fixar os pontos que mais desestimulam as partes e
os demais envolvidos em uma negociação que se torna litigiosa: o judiciário.
Uma vez que existe na legislação vigente esta oportunidade de estipulação de prazos e
procedimentos específicos a serem seguidos naquele caso particular, não há como não explorá-lo
e apenas um advogado poderá agir de maneira efetiva a agilizar o alcance deste objetivo.
32
6. Da recepção do tema perante o Judiciário e as eventuais críticas
Não teria como finalizar este trabalho sem expor as recentes decisões sobre o tema no
judiciário brasileiro. Em pesquisa realizada, percebe-se que a vontade das partes e da lei vigente
vem sendo, e muito, respeitada pelo judiciário e juízes, por consequência. Dito isso, para poder
exemplificar os argumentos de manutenção ou reforma das contratações pelas partes, iremos
trazer neste trabalho alguns julgados localizados, e que são interessantes para o debate do tema.
33
ser afastada. Declaração de invalidade que pode ser feita de ofício pelo julgador.
RECURSO IMPROVIDO42.
Ainda, vale transcrever a ementa de um acórdão prolatado pelo mesmo Tribunal
Estadual, com uma decisão de manutenção do negócio jurídico processual firmado pelas partes,
posto que cumpria os requisitos legais expostos já expostos neste trabalho, trazendo ótimo
exemplo prático da negociação e contratação de um negócio jurídico processual pelas partes.
No caso, as partes tinham acordado procedimento, acerca de uma eventual citação das
partes em um litígio, em que a citação pessoal foi afastada, por contratação das partes, fixando
que a citação poderia ser recebida por qualquer pessoa que estivesse no imóvel diligenciado:
Como foi mencionado no início deste artigo, por se tratar de uma matéria recente, sem
muitos questionamentos legais práticos, tendo já algumas breves referencias, percebe-se que trará
muita polêmica a intervenção do judiciário dentro do limite de averiguação de legalidade.
42
Agravo de Instrumento 2233478-88.2017.8.26.0000; Relator (a): Maria Lúcia Pizzotti; Órgão Julgador: 30ª
Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível - 22ª Vara Cível; Data do Julgamento: 21/03/2018; Data de Registro:
26/03/2018 (grifo nosso). Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br>. Acesso em: 26 mar. 2018.
43
Agravo de Instrumento 2045753-87.2016.8.26.0000; Relator (a): Luis Fernando Nishi; Órgão Julgador: 32ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 10ª. Vara Cível; Data do Julgamento: 22/09/2016; Data de Registro:
22/09/2016. Disponível em: <https://esaj.tjsp.jus.br>. Acesso em: 26 mar. 2018.
34
Entretanto, as decisões supra me pareceram e muito ponderadas, havendo a atuação do
juiz, invalidando o contrato firmando, apenas diante de um evidente desrespeito de todos os
princípios balizares do instituto, deixando de lado qualquer cooperação e equilíbrio no contrato.
Desta feita, as críticas iniciais ao tema, parecem ter sido deixadas de lado, e o judiciário,
através de seus representantes, parecem estar agindo de forma ponderada e dentro dos limites de
atuação de sua investidura. As duas decisões trazidas neste trabalho transparecem uma atuação
apenas em situações de extrema necessidade, respeitando a esfera do autorregramento das partes
quando há uma negociação efetiva, e não apenas contratações padrões.
Não se deve esquecer que a rotina de contratações das partes muitas vezes se torna, e
muito, idênticas e replicadas, diante da quantidade e dificuldade de diálogo entre as partes. Mas,
este tipo de comportamento não tem espaço para o uso do instituto aqui negociado.
35
7. Conclusão
Por fim, parece-nos óbvio que a discussão por trás dos pactos contratuais, com reflexos
processuais, gera grande incômodo, sob o argumento de que tal abertura poderia acarretar e gerar
insegurança jurídica, tendo que rigorosamente o bom senso, a boa-fé, e o cooperativismo reinar
nestes pactos e suas estruturações, para assim evitar a sua descaracterização pelo judiciário.
Portanto, o que se extrai deste estudo é que os requisitos do negócio jurídico processual
são os mesmos do negócio jurídico, dentre eles, o contrato, mesmo que envolvendo contratantes
de grande, médio e pequeno porte quando envolvendo empresários e inclusive nas contratações
civil normais, a estrutura que se aplica é a mesma. Os princípios aplicáveis são os mesmos.
Ou seja, o questionamento de que tal previsão pode gerar insegurança cai por terra, por
completo, sob a minha perspectiva. Analisando o assunto a fundo e sob uma perspectiva realista,
só vislumbro situações positivas a ser extraídas de uma negociação envolvendo este instituto.
O poder das partes, com o auxílio de um profissional preparado, poderá evitar e muito os
entraves e burocracia judiciária, que está mais do que comprovada que se encontra em crise e sem
qualquer aparelhamento que possa surtir os efeitos de justiça e celeridade de julgamento. O medo
gira em torno do poder dado as partes e a sua descentralização perante o Estado.
A autonomia da vontade das partes tem que ser respeitada, na medida em que a vontade
foi colocada em um contrato cumprindo todas as fases de negociação, consciência do que estava
em jogo, cumprimento todos os princípios constitucionais e civil básicos inerentes ao tema.
36
Posto isso, a oportunidade contratual deve ser aproveitada e não desrespeitada, dando
azo para que o argumento (falho) de insegurança jurídica do tema ganhe força, podendo refletir
em decisões negativas sobre um tema que só tem a crescer e desenvolver em nosso cotidiano.
37
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Editora RT, 2016.
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Forense, 2012. p. 317.
38
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