Você está na página 1de 50

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

LIZIELINE MACHADO RIBEIRO

CRITÉRIO ESPACIAL DO ISSQN NO LEASING FINANCEIRO:


DEFINIÇÃO DO SUJEITO ATIVO A PARTIR DA SIMULAÇÃO DO
ESTABELECIMENTO PRESTADOR

CURITIBA
2016
LIZIELINE MACHADO RIBEIRO

CRITÉRIO ESPACIAL DO ISSQN NO LEASING FINANCEIRO:


DEFINIÇÃO DO SUJEITO ATIVO A PARTIR DA SIMULAÇÃO DO
ESTABELECIMENTO PRESTADOR

Monografia apresentada no décimo período do Curso de


Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da
Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial
para obtenção do grau como bacharel em Direito.
Orientador: Profº. Jorge de Oliveira Vargas

CURITIBA
2016
3

TERMO DE APROVAÇÃO

LIZIELINE MACHADO RIBEIRO

CRITÉRIO ESPACIAL DO ISSQN NO LEASING FINANCEIRO:


DEFINIÇÃO DO SUJEITO ATIVO A PARTIR DA SIMULAÇÃO DO
ESTABELECIMENTO PRESTADOR

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da
Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____ de ____________________ de 2016.

_________________________________________________
Bacharelado em Direito
Universidade Tuiuti do Paraná

_________________________________________________
Orientador Professor Dr. Jorge de Oliveira Vargas
UTP – Facjur

_________________________________
Professor Dr.
Instituição

_________________________________
Professor Dr.
Instituição
4

RESUMO

Com o escopo nos Contratos de Arrendamento Mercantil (Leasing), o presente


trabalho se propõe a tratar sobre a controvérsia instaurada a partir da edição da Lei
Complementar nº 116/03, que em seus artigos 3º e 4º procurou definir o critério
espacial do ISS. O estudo surgiu da necessidade em analisar os pressupostos para se
estabelecer o sujeito ativo do referido imposto, pois a lei preconiza tanto o local da
efetiva prestação do serviço, bem como o local da unidade profissional e/ou
estabelecimento prestador. O entendimento jurisprudencial e doutrinário sobre a
incidência do ISS nas operações de leasing, já é matéria pacificada. Porém, pretende-
se demonstrar a definição correta do sujeito ativo a partir do critério espacial dentro da
Regra Matriz de Incidência Tributária, do Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza para os contratos de leasing, porque a delimitação de tal critério verte
bastante controvérsia no meio jurídico. A resposta obtida com a análise aprofundada
sobre o tema, demonstrou que o critério espacial deve ser aferido, doravante a
definição correta da expressão utilizada pela Lei Complementar “estabelecimento
prestador” e o local em que, efetivamente, se torna perfeito o negócio jurídico.

Palavras-chave: ISS. Critério Espacial. Contratos de Leasing. Município competente


para cobrança do ISS.
5

ABSTRACT

The aim of this work is to discuss upon the controversy established from the
Complementary Legislation n 116/03, articles 3 and 4 by trying to define the spatial
criteria of the ISS. The research emerged from the need to analyse the legal
preconditions and state the active subject of the referred tax once the Legislation
forebode either the professional site unity or the establishment of the provider. The
juridic acknowledgement and doctrinal upon the ISS occurrence over the leasing
operations is yet Known. Issues, although it is intended to show the correct definition
of the active subject from the spatial criteria the General Tax Incidence/ taxation
principals, the tax over Services of whatever nature to the leasing contracts once the
boundaries of such criteria result many juridic controversies. The analysis about the
theme resulted trat the spatial criteria must be measured, and the correct definition of
the Complementary Legislation used a "payment service provider" and the place where
effectively the juridic deal becomes perfect.

Keywords: ISS. Geographic rule. Leasing contract. City to charge ISS.


SUMÁRIO

1 JUSTIFICATIVA ................................................................................................8
2. REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA – RMIT .....................9
3 TRIBUTO ..........................................................................................................10
3.1 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA ....... 11
4 ESTRUTURA DO ANTECEDENTE E DO CONSEQUENTE DA NORMA
JURÍDICA TRIBUTÁRIA ..............................................................................13
4.1 HIPÓTESE TRIBUTÁRIA ................................................................................13
4.2 CONSEQUENTE ...............................................................................................13
5 ANTECEDENTE DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA ........................14
5.1 CRITÉRIO MATERIAL .....................................................................................14
5.2 CRITÉRIO TEMPORAL ...................................................................................15
5.3 CRITÉRIO ESPACIAL ......................................................................................17
6 CONSEQUENTE DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA – NJT ............21
6.1 ASPECTO PESSOAL ........................................................................................21
6.1.1 Sujeito Ativo .......................................................................................................21
6.1.2. Sujeito Passivo ....................................................................................................23
6.2 ASPECTO QUANTITATIVO ............................................................................25
6.2.1. Base de Cálculo ..................................................................................................25
6.2.2. Alíquota ..............................................................................................................26
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA RMIT: ISS – LEI COMPLEMENTAR
116/03 .................................................................................................................28
7 INCIDÊNCIA DO ISSQN NO ARRENDAMENTO MERCANTIL OU
LEASING FINANCEIRO ...............................................................................29
7.1 DEFINIÇÃO E BREVE HISTÓRICO ...............................................................29
7.2 ESPÉCIES DE LEASING ..................................................................................31
8 CRITÉRIO ESPACIAL DO ISSQN NOS CONTRATOS DE LEASING
FINANCEIRO...................................................................................................33
8.1.1 Princípio da Territorialidade ...............................................................................38
8.1.2 Princípio da Extraterritorialidade .......................................................................39
8.1.3 Territorialidade versus Extraterritorialidade .......................................................39
9 DOS RECURSOS REPETITIVOS .................................................................41
9.1 CONTRATOS DE LEASING E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR .
............................................................................................................................43
10 CONCLUSÃO ...................................................................................................46
REFERÊNCIAS................................................................................................48
8

1 JUSTIFICATIVA

O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) ou, simplesmente,


ISS é tributo de competência dos Municípios e do Distrito Federal. Tem como fato
gerador a prestação de serviços constantes da lista anexa da Lei Complementar (LC) nº
116/2003.
Dentre os critérios de cobrança do referido imposto, a lei complementar nº
116/03, preconiza, por meio dos artigos 3º e 4º, tanto o local da efetiva prestação do
serviço, bem como o local da unidade profissional/estabelecimento prestador.
O presente trabalho pretende abordar os conceitos para necessária
compreensão do tema, bem como analisar o atual entendimento jurisprudencial e
doutrinário sobre a incidência do ISS nas operações de arrendamento
mercantil/leasing, sendo esta, uma questão bastante controvertida. E, por fim,
explicitar qual é o sujeito ativo competente para a cobrança do referido imposto.
Tem-se como objetivo principal do presente trabalho, definir o que é
estabelecimento prestador e quais os requisitos para a definição do referido
estabelecimento, analisando-se como deve proceder a cobrança o ISSQN em relação
aos serviços de leasing financeiro.
9

2. REGRA MATRIZ DE INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA – RMIT

Para melhor compreensão sobre o tema, é imperioso um breve relato sobre a


Regra Matriz de Incidência Tributária (RMIT).
O sistema tributário adotou a regra matriz como estrutura lógica que regula a
incidência tributária. Tal regra decompõe-se em hipótese e consequência,
desdobrando-se em cinco critérios: material, temporal e espacial, para a hipótese; e
pessoal e quantitativo, para a consequência.
Paulo de Barros Carvalho ensina que:

A norma tributária em sentido estrito, reiteramos, é a que define a incidência


fiscal. Sua construção é obra do cientista do Direito e se apresenta, de final,
com a compostura própria dos juízos hipotético-condicionais. Haverá uma
hipótese, suposto ou antecedente, a que se conjuga um mandamento, uma
consequência ou estatuição. (2013, p. 239)

Fala-se em descritor, a hipótese, que alude a um fato e o prescritor, a


consequência, que indicará os efeitos jurídicos a se propagar.
Para melhor entendimento, segue a representação gráfica da RMIT:

Isto posto, passa-se à análise propriamente dita, conceituando-se os elementos


inerentes ao tema proposto para perfeito entendimento.
10

3 TRIBUTO

Inicialmente ao estudo, há que se pontuar o tributo. Conceitualmente, tributo


é, pelo Código Tributário Nacional (CTN):

Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo


valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito,
instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada.

Portanto, é clara que a obrigação relacionada ao tributo é pecuniária e vem do


Estado. Existem diversas formas de tributar, diversas espécies de tributos. Há
diferenças, por óbvio, entre os tipos de tributação, interessando aqui, apenas o
imposto, cuja definição pelo CTN é a seguinte:

Art. 16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma
situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte.

O presente estudo versa somente sobre o Imposto Sobre Serviços de Qualquer


Natureza, o ISS, tendo a sua previsão constitucional, no artigo 156. In verbis.

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


I - (...)
II - (...)
III - (...)
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II,
definidos em lei complementar.

Contudo, a Constituição Federal prevê no referido artigo, que haveria a


necessidade de criação de uma Lei Complementar (LC) para regular a matéria. Assim,
foi criada a LC n° 116, em de 31 de julho de 2003, que dispõe sobre o Imposto Sobre
Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito Federal,
e dá outras providências e em seu artigo 1º, traz a definição do ISS, em substituição ao
revogado artigo 71, do CTN.
11

Art. 1º O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos


Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de
serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se constituam como
atividade preponderante do prestador.

E ainda explica:

§ 1º O imposto incide também sobre o serviço proveniente do exterior do


País ou cuja prestação se tenha iniciado no exterior do País.

E também:

§ 3º O imposto de que trata esta Lei Complementar incide ainda sobre os


serviços prestados mediante a utilização de bens e serviços públicos
explorados economicamente mediante autorização, permissão ou concessão,
com o pagamento de tarifa, preço ou pedágio pelo usuário final do serviço.

Atualmente, o ISSQN, é um dos tributos mais complexos, pois relacionam-se


problemas que vão, desde a incompreensão dos termos que designam a sua
competência, até a sua limitação por legislação infraconstitucional.

3.1 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA

Para que seja instituído um tributo há que se respeitar o Princípio da


Legalidade Tributária. Prevê a Carta Magna, no artigo 5º, inciso II, que “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Assim, o
Estado só pode exigir o pagamento de tributo, se este estiver, expressamente previsto
em Lei.
Diz Paulo de Barros Carvalho:

Como o objetivo primordial do direito é normar a conduta, e ele o faz


criando direitos e deveres correlativos, a relevância desse cânone transcende
qualquer argumentação que pretenda enaltece-lo. A diretriz da legalidade
está naquela segunda acepção, isto é, a de norma jurídica de posição
privilegiada que estipula limites objetivos. (2013, p.162)
12

Existem outros princípios norteadores do Direito Tributário e acima disso, os


da própria Constituição Federal do Brasil. Contudo, para o presente momento, é
importante salientar que, se respeitado apenas este, os limites objetivos para a ação do
Estado já estarão dispostos.
Todos os tributos devem ter a sua estrutura analisada a partir da RMIT. Toda e
qualquer pessoa que queira estudar sobre o tributo, deve fazer as seguintes perguntas:
O tributo é devido ou não?; Quando?; A quem?; e, Como? Para responder, de forma
bastante simplificada, há que se fazer a aplicação da Regra Matriz, com a análise das
Hipóteses de Incidência Normativa e a Consequências quando da ocorrência do Fato
Gerador do tributo.
13

4 ESTRUTURA DO ANTECEDENTE E DO CONSEQUENTE DA NORMA


JURÍDICA TRIBUTÁRIA

4.1 HIPÓTESE TRIBUTÁRIA

Nominalmente, não importa em grandeza, o nome a ela atribuída. Pode ser


chamada de hipótese, antecedente, suposto, antessuposto ou pressuposto à previsão
fática. Aqui, tratar-se-á, como hipótese.
O seu significado está ligado à ocorrência do fato gerador. A hipótese traz a
possibilidade, a previsão normativa da obrigação tributária diante de fato gerador
realizado. Como ensina Paulo de Barros Carvalho, se “A”, então “B”, i.e., se há a
ocorrência da hipótese, ocorrerá então, a consequência.

4.2 CONSEQUENTE

O prescritor da norma tributária ou consequente atua quando ocorre a


subsunção do fato a norma, ou seja, quando o fato social descrito na norma tributária,
acontece de forma perfeita, atribuindo desta forma, a juridicidade ao mesmo. Portanto,
a linguagem do consequente da RMIT, é prescritiva, comandando os direitos e
obrigações que nascem com a referida subsunção.
14

5 ANTECEDENTE DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA

5.1 CRITÉRIO MATERIAL

Tal critério é formado sempre por um verbo, mais seu complemento. Este
verbo referencia o comportamento de pessoas, físicas ou jurídicas, consubstanciado
com os critérios, espacial e temporal, abordados adiante.
Conforme expõe José Eduardo Soares de Melo:

O aspecto material consiste em determinados negócios jurídicos, estados,


situações, serviços e obras públicas, dispostos na Constituição Federal, que
representem fenômeno revelador de riqueza (aspecto econômico), sejam
praticados ou pertinentes ao próprio contribuinte, ou exercidos pelo Poder
Público em benefício do mesmo. (2003, p. 33)

Trata o ISSQN da prestação de serviços, pois esta é a previsão da Constituição


que atribui competência impositiva ao Município para tributar serviços de qualquer
natureza. Pois bem, mas o que é um serviço?
Arlindo Felipe da Cunha explica:

Serviço é a prestação de um esforço humano a terceiro, o que envolve


inexoravelmente uma ação proativa, um esforço humano na execução de
uma atividade qualquer. Em outras palavras, determinada prestação de
serviço se destaca não pelo produto final, mas pela qualidade e destreza das
pessoas envolvidas na sua execução. (2008. P. 83)

Desta definição, extrai-se a ideia, de que o serviço é uma obrigação de fazer,


uma atividade do devedor, que pode ser, tanto física ou material, como intelectual.
Contudo, o ISS não incide sobre a contratação e sim, sobre a efetiva prestação de
serviço remunerado em favor de terceiro. Silvio de Salvo Venosa, define que “o ISS
não é um tributo sobre atos jurídicos, mas sobre fatos, sobre o facere que alguém (o
prestador) tenha desenvolvido em favor de terceiro (o tomador)”.
O critério material, puro e simples, pode ser definido a partir da LC 116/03:

Art. 1º O Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos


Municípios e do Distrito Federal, tem como fato gerador a prestação de
15

serviços constantes da lista anexa, ainda que esses não se constituam como
atividade preponderante do prestador.

O verbo correspondente neste caso, seria “prestar” e o complemento, “serviços


constantes da lista anexa”.
Faz-se grave crítica à LC 116/03, por não prever a incidência do ISS a
determinados serviços e prever serviços que seriam de competência de tributação
estadual.
Em suma, o critério material é: prestar serviços constantes da lista anexa da
LC 116/03. Conduta humana (prestação de serviço) consistente em desenvolver um
esforço visando à adimplir uma obrigação de fazer.

5.2 CRITÉRIO TEMPORAL

Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho:

Compreendemos o critério temporal da hipótese tributária, como o grupo de


indicações, contidas no suposto da regra, e que nos oferecem elementos para
saber, com exatidão, em preciso instante acontece o fato descrito, passando a
existir o liame jurídico que amarra devedor e credor, em função de um objeto
– o pagamento de certa prestação pecuniária. (2013, p.266)

O exato momento da ocorrência do fato gerador, é um importante critério, pois


não poucas as vezes, o fato gerador do imposto é o critério temporal previsto em lei.
Elucubrações a parte, o critério temporal, visa estabelecer “o quando” da
hipótese de incidência, “quando” nasce o dever do jurídico do sujeito passivo e o
direito do sujeito ativo.
Para José Eduardo Soares de Melo,

Em se tratando de ISS, impõe-se a irrestrita obediência ao seu aspecto


material - prestação de serviços - nada interessando os aspectos meramente
negociais ou documentais. Somente com a efetiva realização (conclusão, ou
medição por etapas) dos serviços é que ocorre o respectivo fato gerador
tributário com a verificação do seu aspecto temporal. (2003, p. 142)

Iniciando-se pela Lei Maior, quanto a previsão do ISS:


16

Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato


gerador e existentes os seus efeitos:
I - tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem
as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que
normalmente lhe são próprios;
II - tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja
definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável.
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou
negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do
fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da
obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em
lei ordinária.

PAULO DE BARROS CARVALHO ensina que as situações de fato são


“...eventos da realidade social que não foram juridicizados por outras normas do
ordenamento”. As situações jurídicas, por sua vez, são eventos que foram objeto de tal
juridicização. (CTN Anotado OAB/PR, p. 322)
Conforme ensina Celso Marcelo de Oliveira, onde o escopo do ISSQN é a de
gravar serviços em caráter pessoal, próprio, realizados sob a responsabilidade do
contribuinte e com indispensável autonomia:

[...] A prestação de serviços tem que ser como circulação econômica,


decorrente da venda ou oferecimento à venda. Destarte, a concretização da
hipótese de incidência do Imposto sobre Serviços somente se realiza quando
os serviços sejam prestados com o fito de lucro e remuneração, como
exemplo, de serviços gratuitos, que não caracterizam a hipótese de
incidência do imposto, o mestre Roque Antônio Carrazza1, cita os autos
serviços (fazer a barba) e os de natureza filantrópica (celebração de missa ou
cultos religiosos), que são realizados sem qualquer remuneração. (2006, p.
106-107)

Assim, a obrigação tributária nasce quando da ocorrência do fato gerador. E aí


está o cerne da questão: é válido o momento da contratação ou o momento da efetiva
prestação do serviço? Fez-se a opção por discutir esta questão no âmbito do Critério
Espacial, por entender que o local é mais criterioso que o tempo, apesar de ambos se
complementarem.

1
CARRAZZA, Roque Antônio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 14ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2000.
17

5.3 CRITÉRIO ESPACIAL

Tal critério versa sobre a circunscrição em que cada ente municipal disporá
sobre o ISSQN que lhe compete. Sua função é esclarecer o local correto onde,
ocorrendo o fato gerador, seja determinada a obrigação tributária.
A Carta Magna, por intermédio do artigo 156, prevê:

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre:


(...)
III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II,
definidos em lei complementar.
(...)

§ 3º Em relação ao imposto previsto no inciso III do caput deste artigo,


cabe à lei complementar:
I - fixar as suas alíquotas máximas e mínimas;
II - excluir da sua incidência exportações de serviços para o exterior;
III - regular a forma e as condições como isenções, incentivos e benefícios
fiscais serão concedidos e revogados.
[sem grifo no original]

O parágrafo 3º do artigo, dispõe sobre a alçada da Lei Complementar para


regular tal norma. Já o artigo a seguir, versa sobre a competência da Lei
Complementar:

Art. 146. Cabe à lei complementar:


I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos
geradores, bases de cálculo e contribuintes;
b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;

Portanto, é notória a ausência de previsão legal, quanto à incidência do ISS.


Por isso, em 2003, a LC 116/03, regulamentou tal ausência, em seu artigo 3º.
A crítica em relação à LC 116/03, também adentra o critério espacial. Diz a
referida lei, no referido artigo 3º, que, “o serviço considera-se prestado e o imposto
devido no local do estabelecimento prestador ou, na falta do estabelecimento, no local
18

do domicilio do prestador, exceto nas hipóteses previstas no inciso I a XXII, quando o


imposto será devido no local de prestação do serviço”.
Também trata a referida LC, de esclarecer o significado de “estabelecimento
prestador”, no artigo 4º, que versa:

Considera-se estabelecimento prestador o local onde o contribuinte


desenvolva a atividade de prestar serviços, de modo permanente ou
temporário, e que configure unidade econômica ou profissional, sendo
irrelevantes para caracterizá-lo as denominações de sede, filial, agência,
posto de atendimento, sucursal, escritório de representação ou contato ou
quaisquer outras que venham a ser utilizadas.

O intuito do legislador, era o de esclarecer a real localização da ocorrência do


fato gerador e, portanto, evitar que a guerra fiscal entre os municípios, se instaurasse a
partir da acomodação de estabelecimentos em municípios que possuíssem menor
alíquota e a prestação efetiva em outros. Em tese, tudo estaria resolvido.
Independentemente de pessoas físicas ou jurídicas, todos estariam obrigados ao
recolhimento do ISS no local do estabelecimento prestador.
Contudo, a discussão deu-se no sentido de que as leis tributárias devem ser
aplicadas apenas aos fatos ocorridos no território abrangido pelo ente político
tributante. Ou seja, a lei diz no local do prestador e a doutrina, no local de prestação.
Em um fato ocorrido na cidade X, porém, com o estabelecimento prestador instalado
na cidade Y, deve o ISS ser recolhido por qual cidade? Não há pacificação sobre o
assunto.
Há julgados recentes nos Tribunais Superiores que dão conta de ambas as
situações, como se comprova a seguir. Seguem exemplos.

Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão da 3ª Câmara de


Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, assim
do: “TRIBUTÁRIO – AÇÃO ANULATÓRIA – ISS – OPERAÇÃO DE
LEASING SOBRE BENS MÓVEIS – LEASING FINANCEIRO –
INCIDÊNCIA – SÚMULA 18 DO TJ/SC. A teor da Súmula n. 18 deste
Pretório, restou pacificado o entendimento de que ‘o ISS incide na operação
de arrendamento mercantil de coisas móveis’. ISS – LEASING – BASE DE
CÁLCULO – VALOR EXPRESSO NO CONTRATO – ARBITRAMENTO
– LEGALIDADE. 1 (...) 2 (...) CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO
TRIBUTÁRIO – MUNICÍPIO – LOCAL DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO
Em relação à questão do local competente para o lançamento e
19

recolhimento do ISS, está pacificado nos tribunais pátrios o


entendimento de que competente para a instituição e arrecadação do
ISS é o Município em que ocorre a efetiva prestação do serviço, e não o
do local da sede do estabelecimento da empresa contribuinte (..) Agravo
regimental improvido.” (RE 748.257-AgR Ricardo Lewandowski) Diante do
exposto, com base no art. 557, caput, do CPC e no art. 21, § 1º, do RI/STF,
nego seguimento ao recurso extraordinário. Publique-se. Brasília, 12 de
setembro de 2014. Ministro Luís Roberto Barroso Relator
(STF - RE: 704202 SC, Relator: Min. ROBERTO BARROSO, Data de
Julgamento: 12/09/2014, Data de Publicação: DJe-182 DIVULG 18/09/2014
PUBLIC 19/09/2014)
[sem grifo no original]

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ISS. DL N. 406/68. SUJEITO


ATIVO DA EXAÇÃO. MUNICÍPIO COMPETENTE. LOCAL DO
SERVIÇO. ENTENDIMENTO FIRMADO EM RECURSO REPETITIVO.
RESP PARADIGMA 1.060.210/SC. QUALIFICAÇÃO DO SERVIÇO.
SÚMULA 7/STJ. 1. A Primeira Seção do STJ firmou entendimento segundo
o qual "o sujeito ativo da relação tributária, na vigência do DL 406/68, é o
Município sede do estabelecimento prestador (art. 12) e que "a partir da LC
116/03, é aquele onde o serviço é efetivamente prestado, onde a relação é
perfectibilizada, assim entendido o local onde se comprove haver
unidade econômica ou profissional da instituição financeira com poderes
decisórios suficientes à concessão e aprovação do financiamento - núcleo
da operação de leasing financeiro e fato gerador do tributo"(REsp
1.060.210/SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, submetido ao rito dos
recursos repetitivos, nos termos do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ
8/2008). 2. Consignaram as instâncias ordinárias que não se tratava de
serviço de engenharia civil, mas mero serviço de pintura de sinalização de
rodovias. A reversão do julgado demandaria incursão na seara fática dos
autos, inviável na via estreita do recurso especial, ante o óbice da Súmula
7/STJ. Agravo regimental improvido.
(STJ - AgRg no REsp: 1505233 RJ 2014/0240214-0, Relator: Ministro
HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento: 05/03/2015, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJe 11/03/2015)
[sem grifo no original]

A partir destes julgados, percebe-se claramente a dificuldade em se estabelecer


a definição correta do “onde”.
Toda a discussão regula em torno da interpretação da norma. E são vários os
tipos de interpretação. O escopo do presente trabalho não é analisar detalhadamente os
tipos interpretativos das normas. Tal comentário serve apenas para esclarecer o quão
difícil é a correta definição de uma norma que se aparenta tão evidente.
Ricardo Alexandre (2009) ensina que “toda norma precisa de interpretação,
por mais claro que seja o seu texto, não sendo correto o entendimento constante no
artigo brocardo in claris cessat interpretatio (as normas claras não precisam ser
20

interpretadas)”. E a interpretação da correta delimitação do critério espacial para a


definição precisa do local de incidência tributária, ainda que o texto da Lei aparente
cristalino, segue bastante controversa.
Concluindo, seguem algumas perguntas, das quais se tratará mais a frente:
 Definir o que é, efetivamente, estabelecimento prestador?
 Definir onde se dá a efetiva prestação do serviço, ou seja, em que local
o serviço pode ser considerado prestado para que se determine onde ele
ocorreu?
21

6 CONSEQUENTE DA NORMA JURÍDICA TRIBUTÁRIA – NJT

O Consequente da NJT, como já mencionado, ocorre quando da subsunção do


fato à norma. Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho, “... o juízo hipotético que
estipula a regulação da conduta, prescrevendo direitos e obrigações para as pessoas
físicas ou jurídicas envolvidas, de alguma forma, no acontecimento do fato jurídico”
(2013, pág. 283-284).
O prescritor nos oferece critérios para a identificação do vínculo jurídico que
nasce com a informação dos responsáveis pelo cumprimento da obrigação e aqueles
com o direito de receber, além do objeto que é o comportamento esperado pela ordem
jurídica. A formação do consequente é composta por dois critérios: o pessoal e o
quantitativo.
O Critério Pessoal subdivide-se em: Sujeito Ativo e Sujeito Passivo. Já o
Critério Quantitativo, divide-se em Base de Cálculo e Alíquota.
Passa-se a partir deste momento, de forma breve, à descrição de cada item,
separadamente.

6.1 ASPECTO PESSOAL

Tal critério indica os sujeitos envolvidos na relação jurídico-tributária de cada


tributo.

6.1.1 Sujeito Ativo

De maneira geral, a legislação versa que o sujeito ativo da obrigação tributária


é, nos termos do art. 119, do CTN, o Poder Público, o Estado. In verbis, o referido
artigo:

Art. 119 Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público,


titular da competência para exigir o seu cumprimento.
22

Contudo, a doutrina prevê que existem mais possibilidades. Ensina Paulo de


Barros, que o sujeito ativo pode ser pessoa jurídica pública ou privada. Ele diz:

Há mandamentos constitucionais que permitem às pessoas titulares de


competência tributária a transferência da capacidade ativa, nomeando outro
ente, público ou privado, para figurar na relação, como sujeito ativo do
vínculo. (2013, pág. 296)

Em que pese à doutrina defender a sujeição ativa para entes privados,


alegando ser o art. 119, do CTN, letra morta da lei, ainda assim, a norma é bastante
clara no aspecto da responsabilidade pública.
Todo tributo, tem por lei, que, aquele que cria a obrigação tributária, é o
legitimado para instituí-lo ou aquele instituído pela Lei.
No caso em tela o Município é o sujeito ativo, o legitimado para a cobrança do
ISS, outorga esta, conferida pelo artigo 156, III, da CF, quando menciona que os
Municípios têm competência para instituir impostos sobre serviços não compreendidos
no artigo 155, II, da Carta Magna.
Para tanto, Celso Marcelo de Oliveira menciona tal questão, quando diz que “o
imposto sobre serviços é exigido do contribuinte pelo fisco municipal de acordo com
as hipóteses previstas em lei decorrentes de uma atividade prestada pelo contribuinte e
constante na lista de serviços” (2006, pág. 59).
Pelo princípio da indelegabilidade da competência tributária, é proibido ao
Município a transferência do exercício da cobrança do ISS a qualquer outro ente
localizado em território nacional, distinto do que ocorre a efetiva prestação de
serviços. Matéria já tratada, e cujo preceito corroborado, pelo tópico sobre o critério
espacial, da hipótese tributária.
Contudo, não há que se discutir o fato de outro ente, por meio de convênio,
fiscalizar o contribuinte ou mesmo, de uma instituição financeira receber o imposto.
Tal situação não caracteriza delegação de competência.
Assim, considerar-se-á o sujeito ativo do ISSQN, conforme exposto, os
Municípios e Distrito Federal.
23

6.1.2. Sujeito Passivo

A responsabilidade tributária é constitucionalmente expressa, nos termos do


Princípio da Legalidade, como sendo obrigatória somente àqueles sujeitos
estabelecidos por lei.
No artigo 97, do CTN, há tal previsão:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer:


I - (...)
II – (...)
III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado
o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;
[Sem grifo no original]

A norma jurídica, por meio dos artigos 121 e 122, do CTN, estabelece quem é
o sujeito passivo da obrigação tributária principal:

Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao


pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.
Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que
constitua o respectivo fato gerador;
II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua
obrigação decorra de disposição expressa de lei.

E o sujeito passivo da obrigação tributária acessória:

Art. 122. Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às


prestações que constituam o seu objeto.

Para o imposto de interesse, o artigo 5º, da LC 116/03 define que o


“Contribuinte é o prestador do serviço”. Mas o que é “prestar serviço?” A definição
mais comumente utilizada seria que “prestar serviço é uma obrigação de fazer algo em
proveito alheio. Esse fazer é com o esforço humano, em função do intelecto, ou apenas
fisicamente”2. Para Celso Marcelo de Oliveira, quem presta serviço é quem vende bens

2
Conceito encontrado em diversos sítios na internet, contudo, sem referência de autoria.
24

imateriais definidos como serviços, por intermédio da LC 116/03. Este é o contribuinte


do ISSQN.
Como pressupostos à sujeição passiva, Celso Marcelo de Oliveira, cita que
“...os pressupostos para a existência do contribuinte estão consignados nos elementos:
efetiva prestação de serviços; habitualmente {sic} da atividade; e autonomia no
exercício da atividade”. (2006, pág. 65).
Grande discussão existe acerca da exata qualificação de empresa como
contribuinte do ISS, pois sua definição é genérica e indeterminada. Sendo assim, o
presente trabalho não entrará nesta seara, por ser matéria bastante complexa para o
presente momento.
Há a previsão expressa pelo artigo 128, do CTN, da responsabilidade tributária
ser atribuída a terceira pessoa, não ligada diretamente à ocorrência do fato gerador:

Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de
modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa,
vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a
responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo
do cumprimento total ou parcial da referida obrigação.

José Roberto Vieira ensina sobre a matéria:

Tanto os contribuintes como os responsáveis se caracterizam por conservar


uma imprescindível afinidade com o fato jurídico tributário, seja direta (os
contribuintes) ou indireta (os responsáveis), por determinação constitucional
implícita. Conquanto o Estatuto Fundamental não aponte o sujeito passivo
tributário, suas indicações quanto à materialidade da hipótese já oferecem
alguns parâmetros nesse sentido, pois não se duvida de que tal figura haverá
sempre de guardar uma necessária relação com o evento que preenche o
núcleo hipotético normativo, constituindo o já mencionado “destinatário
constitucional tributário”. Afinidade essa explicitada em dispositivos do
CTN: no art. 121, parágrafo único, I, no que toca ao contribuinte; e no art.
128, no que atine ao responsável. (CTN Anotado OAB/PR, p. 194)

Conclui-se, portanto que o sujeito passivo do ISS é “prestador do serviço;


possibilidade de, mediante lei, ser atribuída a responsabilidade pelo crédito tributário a
terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação”.
25

6.2 ASPECTO QUANTITATIVO

O centro da relação jurídica que envolve os sujeitos, ativo e passivo, é um


valor patrimonial. Como bem ensina Paulo de Barros Carvalho:

...O grupo de notícias informativas que o intérprete obtém da leitura atenta


dos textos legais, e que lhe faz possível precisar, com segurança, a exata
quantia devida a título de tributo, é aquilo que chamamos de critério
quantitativo do consequente das normas tributárias. (2013, pág. 316)

O aspecto quantitativo divide-se em: Base de Cálculo e Alíquota.


Isoladamente, tais critérios inexistem, pois é indispensável a sua combinação, para a
definição precisa do debitum tributário.

6.2.1. Base de Cálculo

A Base de Cálculo (BC) é uma exigência constitucional e qualquer concessão


devida será regulada por lei, conforme artigo 150, III, §6º:

§ 6.º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de


crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou
contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal,
estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima
enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do
disposto no art. 155, § 2.º, XII, g.

Uma das funções da BC é confirmar, infirmar ou afirmar o critério material


expresso na norma jurídica tributária, entre outras, como a de medir as proporções
reais do fato e compor a específica determinação da dívida.
Simplificadamente, a BC é o valor sobre o qual é aplicada a alíquota
(percentagem), para apurar o valor a pagar de tributo, obedecendo sempre, os
princípios da legalidade, anterioridade e irretroatividade.
Celso Marcelo de Oliveira explica de forma pacífica:

Assim sendo, a base de cálculo do imposto é, pois, o valor bruto, sem


dedução alguma, o total auferido pelo fornecimento do trabalho (preço), pela
26

locação do bem móvel (aluguel) a determinado título (preço) ou pela cessão


de direitos (preço), sem dedução alguma dos materiais fornecidos pelo
prestador de serviço e nem de despesas. (2006, pág. 67)

No caso do ISS, a primeira lei a regulamentar a BC foi de nº 5.172/1966.


Ulterior a esta, muitas vieram, 1967, 1968... Até a atual LC 116/03 que prevê, de
maneira objetiva, no art. 7o, que “a base de cálculo do imposto é o preço do serviço”.
Fazendo uma ressalva no parágrafo primeiro:

§ 1o Quando os serviços descritos pelo subitem 3.04 da lista anexa forem


prestados no território de mais de um Município, a base de cálculo será
proporcional, conforme o caso, à extensão da ferrovia, rodovia, dutos e
condutos de qualquer natureza, cabos de qualquer natureza, ou ao número de
postes, existentes em cada Município.

E prevendo as exclusões no parágrafo segundo:

§ 2o Não se incluem na base de cálculo do Imposto Sobre Serviços de


Qualquer Natureza:
I - o valor dos materiais fornecidos pelo prestador dos serviços previstos nos
itens 7.02 e 7.05 da lista de serviços anexa a esta Lei Complementar;
II - (VETADO)

6.2.2. Alíquota

Como exposto anteriormente, a alíquota está congregada à BC. O objetivo da


alíquota é determinar precisamente o valor da prestação pecuniária. Pode ser
fracionada, percentual, ou não, desde que representada monetariamente.
Na LC 116/03, o artigo 8º, prevê que a alíquota deve ser de, no máximo, 5%:

Art. 8o As alíquotas máximas do Imposto Sobre Serviços de Qualquer


Natureza são as seguintes:
I – (VETADO)
II – demais serviços, 5% (cinco por cento).

Mesmo na ausência da presciência de alíquota mínima, pela LC 116/03, deve-


se levar em consideração a previsão da Emenda Constitucional 37/2002, que prevê o
mínimo de 2%, como segue:
27

Art. 88. Enquanto lei complementar não disciplinar o disposto nos incisos I e
III do § 3º do art. 156 da Constituição Federal, o imposto a que se refere o
inciso III do caput do mesmo artigo:
I – terá alíquota mínima de dois por cento, exceto para os serviços a que se
referem os itens 32, 33 e 34 da Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei nº
406, de 31 de dezembro de 1968;
II – não será objeto de concessão de isenções, incentivos e benefícios fiscais,
que resulte, direta ou indiretamente, na redução da alíquota mínima
estabelecida no inciso I.”

Assim, ressalta-se a objetividade da função da alíquota, como elemento


compositor, conjuntamente à BC, do quantum debeatur.
A seguir, uma representação gráfica, de forma genérica, de como deve ser a
Regra Matriz de Incidência Tributária, em relação ao ISSQN, com Antecedente e
Consequente da Norma Jurídica Tributária.
28

REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA RMIT: ISS – LEI COMPLEMENTAR 116/03

Critério Material Critério Temporal Critério Espacial

Hipótese Prestar serviços constantes da lista


Ocorrerá quando da efetiva Local do estabelecimento prestador
anexa da LC 116/03. Conduta
Tributária: prestação do serviço, em nada ou na falta do estabelecimento, no
humana (prestação de serviço)
importando o momento da local da efetiva prestação do serviço,
consistente em desenvolver um
contratação do serviço ou outros exceto nas hipóteses: art. 3º e 4º, LC
esforço visando a adimplir uma
aspectos de ímpeto negocial. 116/03.
obrigação de fazer.

Sujeito Ativo Sujeito Passivo Base de Cálculo Alíquota

Prestador do serviço;
Consequência Varia de dois por cento,
possibilidade de, mediante lei,
Municípios e A base de cálculo do conforme determinado na EC
Tributária: ser atribuída a responsabilidade
Distrito imposto é o preço do 37/02, até cinco por cento, nos
pelo crédito tributário a terceira
Federal. serviço. termos do aludido inciso II do
pessoa, vinculada ao fato
art. 8 da LC 116/03.
gerador da respectiva obrigação.
29

7 INCIDÊNCIA DO ISSQN NO ARRENDAMENTO MERCANTIL OU


LEASING FINANCEIRO

Finalmente, após explanação necessária sobre conceitos e definições, será


tratado a partir deste capítulo, o escopo da presente monografia: a determinação do
sujeito ativo do crédito tributário conforme critério espacial da RMIT, quanto à
ocorrência do fato gerador do ISS sobre operações de Arrendamento Mercantil ou,
simplesmente, Leasing.
O presente trabalho não visa discutir a caracterização do leasing como serviço,
pois o tema segue pacificado pela jurisprudência, após julgado do Ministro Eros Grau,
do Supremo Tribunal Federal. In verbis:

No arrendamento mercantil (leasing financeiro), contrato autônomo que não


é misto, o núcleo é o financiamento, não uma prestação de dar. E
financiamento é serviço, sobre o qual o ISS pode incidir, resultando
irrelevante a existência de uma compra nas hipóteses do leasing
financeiro e do lease-back. Recurso extraordinário a que se dá provimento.
(STF. RE 592905, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgamento
em 2.12.2009, DJe de 5.3.2010
[Sem grifo no original]

Apesar de o entendimento jurisprudencial, a incidência do ISSQN sobre as


operações de arrendamento mercantil ainda é questionada por parte da doutrina e
aplicadores do direito.

Contudo, tal discussão merece uma análise mais aprofundada e, por


conseguinte, não fará parte deste estudo. Para este momento, entende-se pela
constitucionalidade de tal incidência na referida operação, acompanhando-se assim, o
entendimento do Ministro Eros Grau, no Recuso Extraordinário descrito acima.

7.1 DEFINIÇÃO E BREVE HISTÓRICO

Em termos simplificados e objetivos, Arrendamento Mercantil, também


denominado “leasing”, é um negócio jurídico estabelecido entre uma pessoa jurídica
30

denominada arrendadora, a qual concede um bem a arrendatária, pessoa física ou


jurídica, a fim de utilização própria deste.

Nas palavras da Professora Maria Helena Diniz, em seu dicionário jurídico,


define:

Arrendamento mercantil ou leasing é o contrato pelo qual uma das partes


(arrendadora) concede à outra (arrendatária) por um longo prazo, o direito de
utilizar uma determinada coisa, cobrando aluguel por esse uso temporário e
admitindo que, a certo tempo do contrato, a parte que vem utilizando aquela
coisa declare sua opção de compra, pagando o preço residual”.

O leasing nada mais é do que a combinação entre o aluguel e o financiamento,


assemelhando-se, conforme opção tomada pela arrendatária ao final do contrato.
Optando-se pela devolução do bem, terá sido uma operação assemelhada ao aluguel ou
se optar pela aquisição do bem, terá sido uma operação assemelhada ao financiamento,
porém sem ter arcado com as possíveis desvantagens da propriedade (imobilização)
durante o prazo contratual de arrendamento.
Fran Martins (2002) explica que o contrato de leasing é de natureza complexa
"compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar o
arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato,
quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem".
Existem autores que defendem sua origem no Império Babilônico, no Século
XVIII a.C., com Hamurabi, considerado o primeiro legislador do mundo,
regulamentado as relações comerciais e de propriedade, ainda à época dos Faraós.
A introdução do leasing no Brasil foi feita por intermédio da Lei nº 6.099, de
12 de setembro de 1974. Posteriormente, a alteração feita pela Lei nº 7.132, de 26 de
outubro de 1983, estabeleceu em definitivo o conceito de leasing no artigo 1º,
parágrafo único que assim definiu o instituto:

Art. 1° O tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil


reger-se-á pelas disposições desta Lei.
Parágrafo único: Considera-se arrendamento mercantil, para os efeitos desta
Lei, o negócio jurídico realizado entre pessoa jurídica, na qualidade de
arrendadora, e pessoa física ou jurídica, na qualidade de arrendatária, e que
31

tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela arrendadora,


segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta".

A Mestra Maria Bernadete Miranda, no artigo “O Contrato de Arrendamento


Mercantil ou Leasing” relata como o leasing se instalou no Brasil com as seguintes
informações:

(...) No Brasil, na década de 60, empresas locadoras realizaram operações


assemelhadas ao leasing. Os primeiros contratos foram efetivados pela Rent-
a-Maq, uma pequena empresa independente, localizada em São Paulo.
Todavia, pela inexistência de regulamentação específica, notadamente
quanto aos aspectos fiscais, houve dificuldade de expansão do setor. Outros
fatores inibidores à implantação da nova ideia foram os altos custos
financeiros e a aplicação de técnicas rudimentares. A partir da Revolução de
1964, em função da crescente expansão industrial e comercial, aliada a uma
apurada técnica financeira, foi possível obter-se uma maior participação do
leasing no mercado nacional.

Em suma, a partir de 1974, pela Lei nº 6.099, depois alteração do texto pela
Lei nº 7.132 em 1983, estendendo a possibilidade de serem realizadas operações de
leasing envolvendo pessoas físicas como arrendatárias, é que a matéria foi
devidamente regulamentada.
A partir de então, inúmeros instrumentos normativos passaram a regular os
detalhes da operação de leasing, tornando-o uma das principais ferramentas de crédito
da economia brasileira.

7.2 ESPÉCIES DE LEASING

Existem três modalidades de arrendamento mercantil: o leasing operacional, o


leasing financeiro e o leasback. No primeiro caso, prepondera o aspecto de locação, ou
seja, de se colocar um bem para utilização do locatário. Nos dois últimos tipos de
leasing, o aspecto principal é a prestação de serviço, sendo que o leasing financeiro é
uma atividade que somente se exerce por meio da prestação de considerável parcela de
serviços diversificados.

O escopo do presente estudo recai sobre o modo financeiro do leasing.


32

Mas afinal, o que é leasing financeiro? O leasing financeiro é a operação de


arrendamento mercantil que transfere ao arrendatário (aquele que necessita de um bem
e faz a escolha livremente) substancialmente todos os riscos inerentes ao uso do bem
arrendado, como obsolescência tecnológica, desgastes, etc. Ele está diretamente ligado
à intenção da pessoa arrendatária no momento da contratação.
É a operação na qual a arrendatária tem a intenção de ficar com o bem ao
término do contrato, exercendo a opção de compra pelo valor contratualmente
estabelecido. A arrendadora receberá da arrendatária a totalidade dos valores
investidos no contrato de conformidade com o que foi estipulado.
O risco do processo de tornar-se obsoleto e as despesas de manutenção,
assistência técnica e serviços correlatos à operacionalidade do bem arrendado, são de
responsabilidade da arrendatária.
33

8 CRITÉRIO ESPACIAL DO ISSQN NOS CONTRATOS DE LEASING


FINANCEIRO

Alfredo Augusto Becker3 ensina que

(..) o espectro atômico de qualquer hipótese de incidência revela que um


único fato, dentre aqueles múltiplos fatos que integralizam sua composição,
funciona de núcleo determinante do gênero da hipótese de incidência, em
volta do qual giram todos os restantes fatos da composição, funcionando
como elementos adjetivos que conferem a espécie à hipótese de incidência.
O núcleo e elementos adjetivos que formam a composição da hipótese de
incidência são fatos que acontecem, necessariamente, no tempo e no
espaço, de modo que a regra jurídica, ao descrever a hipótese de
incidência, logicamente, condiciona sua realização às coordenadas de
tempo e às de lugar. O acontecimento do núcleo e elementos adjetivos
terão realizado a hipótese de incidência, se o fato que funciona de núcleo
e os fatos que servem de elementos adjetivos tiverem acontecido no
tempo e lugar predeterminados, implícita ou expressamente, pela regra
jurídica.
[sem grifo no original]

Ou seja, o vínculo jurídico somente surge após a realização concreta da


previsão abstrata.
Conforme já exposto, a Carta Magna prevê a cobrança do ISS pelos
Municípios e a regulamentação deste dispositivo, ocorreu por meio da Lei
Complementar nº 116/03, que definirá, de acordo com o texto constitucional, os
serviços tributáveis pelo ISS. Esta LC possui uma lista anexa, com um rol - não sendo
debatido no presente trabalho, se este rol é taxativo ou extensivo - de fatos geradores
das prestações de serviços que consignarão os créditos tributários. E no item 15.09 da
lista, encontra-se a referência à incidência do ISS pelo leasing. In verbis.

15.09 – Arrendamento mercantil (leasing) de quaisquer bens, inclusive


cessão de direitos e obrigações, substituição de garantia, alteração,
cancelamento e registro de contrato, e demais serviços relacionados ao
arrendamento mercantil (leasing).

3
Referência extraída da Juntada de Parecer - Estudo na Qualidade de Amicus Curiae - ADI 2.777 – SP
de Walter Carlos Cardoso Henrique direcionada ao Ministro do STJ, Carlos Augusto Ayres De Freitas
Britto. Disponível em http://goo.gl/mRVNjb. Acesso em: 21 de abril de 2016.
34

Em momento anterior, já fora demonstrado que não restam dúvidas no que


concerne a tributação do ISS nos contratos de leasing, por serem estes considerados
como prestação de serviço. A título de exemplificação, segue decisão do Tribunal de
Justiça do Paraná, corroborando matéria já pacificada em Tribunais Superiores.

TRIBUTÁRIO. ISS. AÇÃO ANULATÓRIA. ARRENDAMENTO


MERCANTIL OU LEASING. PRESTAÇÃO DE SERVIÇO
CARACTERIZADA. INCIDÊNCIA DO ISS. COMPETÊNCIA DO
MUNICÍPIO EM QUE SE VERIFICOU O FATO GERADOR. RECURSO
PROVIDO. 1. É possível a tributação do arrendamento mercantil ou
leasing pela via do Imposto sobre Serviços de qualquer natureza, uma
vez que caracteriza obrigação de fazer, sendo possível assim constatar a
prestação de serviço. 2. O Município competente para cobrar o ISS é o da
ocorrência do fato gerador do tributo, ou seja, o local onde os serviços foram
prestados.
(TJ-PR - AC: 7123442 PR 0712344-2, Relator: Paulo Habith, Data de
Julgamento: 05/04/2011, 3ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ: 618)
[sem grifo no original]

Para o ISS o critério espacial considerado para a subsunção da Regra Matriz


de Incidência é o local onde se completa o serviço, sendo assim entendido, o local do
estabelecimento prestador, como disposto nos artigos 3º e 4º, da LC 116/03.
Contudo, se faz necessária breve explanação quanto as definições trazidas pelo
artigo 4º, da referida LC.
Neste artigo, o legislador utiliza as seguintes expressões: a) estabelecimento
prestador; b) unidade econômica ou profissional; e, c) quaisquer outras que venham a
ser utilizadas.
A doutrina vem, de forma necessária, tentando interpretar o conceito de
estabelecimento, constante no art. 4º da LC 116/03, a exemplo da explicação de
Claudio Carneiro (2013):

Há quem diga que a LC nº 116/2003 trouxe o conceito de estabelecimento


prestador para o âmbito da legislação do ISS, conforme dispõe o art. 4º do
referido diploma. Assim, inócuo seria estabelecer exceções à regra do
prestador de serviços se a própria fosse revogada.
No intuito de compatibilizar os arts. 3º e 4º do diploma legal em discussão,
há que se chegar à conclusão de que o que deseja o legislador é estender o
princípio da territorialidade tal como é aplicado na tributação de ISS na
construção civil, em que o tributo é devido no local da prestação do
35

serviço, mantendo-se a regra quanto aos demais serviços que não os


previstos no art. 3º da nova lei complementar.
[sem grifo no original]

Outros importantes doutrinadores também fazem referência quanto ao


conceito de estabelecimento prestador, como a Professora e Pós-Doutora, Dra. Betina
Treiger Grupenmacher (2014) que ensina:

É certo que o instituto por ela definido4 já o fora pelo Direito Comercial, que
há muito caracterizou o estabelecimento prestador como a unidade
econômica que realiza as atividades da empresa. Observe-se, portanto, que o
estabelecimento prestador é, para a doutrina em matéria de Direito
Comercial, o estabelecimento econômico que realiza, com efetividade, as
atividades próprias da empresa.

Por fim, tem-se como a exegese da expressão “estabelecimento prestador”, o


local em que se efetiva, que se ultima a prestação de serviço. Ou ainda, em cotejo aos
serviços de construção civil, entende-se que estabelecimento prestador é o local onde a
prestação do serviço deve ser considerada como realizada, i.e., no lugar em que se
perfectibiliza a relação jurídica.
A segunda expressão refere-se à unidade econômica ou profissional. Pois bem,
utilizando-se os conceitos do Direito Comercial, o conceito de unidade econômica está
diretamente ligado a definição de empresa. Em suma, empresa é a unidade econômica
organizada que, combinando capital e trabalho, produz ou comercializa bens ou presta
serviços, com a finalidade de lucro, e de forma habitual. Assim sendo, para que uma
empresa se constitua como tal, para exercer atividade econômica com objetivo de
lucro, ela deve reunir entre outros, o elemento do estabelecimento, qual seja, o local
onde se realizam, habitualmente, as operações relativas à prática de sua atividade
econômica de produção e circulação de bens e serviços. A exemplo de uma loja de
venda de automóveis, onde o consumidor adquire o bem móvel, o contrato e a
finalização do negócio jurídico ocorre no local do estabelecimento, ou seja, na loja de
carros, portanto, fora da sede principal da instituição financeira. Assim, é considerada

4
Grupenmacher destaca que a LC 116/03, que substituiu o Decreto-lei 406/68, ao invés de eliminar os
conflitos, acabou por ampliá-los, quando manteve a disciplina constante no art. 12, do referido Decreto
em seu art. 3º, caput, criando assim uma regra esdrúxula, sem qualquer amparo constitucional.
36

a unidade econômica, a loja de carros, legitimando a realização da prestação do


serviço e considerando perfectibilizada a relação jurídica, neste estabelecimento.
E por fim, a expressão “quaisquer outras que venham a ser utilizadas”, que
equivalem a outras denominações que não sejam as elencadas no próprio dispositivo
(sede, filial, agência, posto de atendimento, sucursal, escritório de representação ou
contato). Partindo-se do pressuposto que o conceito de leasing o define como uma
forma de se adquirir um bem, seja este, móvel ou imóvel, vale-se dizer que o contrato
de leasing pode ser iniciado fora de qualquer estabelecimento físico como é o caso de
cadastros aprovados por meio de sistemas bancários via internet, mas será,
obrigatoriamente, finalizado quando da entrega física do bem, independentemente da
denominação dada a este local da entrega. Afinal, sem a tradição do bem, não se
finaliza a relação jurídica, como bem explica Heleno Taveira Torres, em seu artigo
“Limites à Modificação da Jurisprudência Consolidada”.

A prestação de serviço derivada do contrato de leasing conclui-se


somente com a tradição do bem arrendado, cuja “causa jurídica” depende
do destino ou do uso do bem. Portanto, será apenas no município em que
se concretizam os atos de transferência dos bens onde se aperfeiçoará o
fato gerador do ISS nas operações de leasing. E, consequentemente, este
será o município competente para cobrança do imposto.
[sem grifo no original]

Isto posto, há a confirmação das teses doutrinárias supra expostas.


E a jurisprudência dos Tribunais superiores tem decidido em concordância, a
exemplo do julgado abaixo.

Ementa: TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE


INSTRUMENTO. REPERCUSSÃO GERAL REJEITADA. MATÉRIA
INFRACONSTITUCIONAL. 1. A competência para a tributação do ISS é
matéria infraconstitucional. Repercussão geral rejeitada. 2. O acórdão do
Tribunal de origem teve a seguinte ementa: “AÇÃO ANULATÓRIA C/C
DECLARATÓRIA. ISS. ARRENDAMENTO MERCANTIL. ADOÇÃO DA
SÚMULA 18 DESTE PRETÓRIO E DA SÚMULA 138 DO STJ.
ALEGADA NULIDADE DO LANÇAMENTO. NÃO OCORRÊNCIA.
SATISFAÇÃO DOS REQUISITOS DO ART. 142 DO CTN. BASE DE
CÁLCULO DO TRIBUTO. VALOR TOTAL DA OPERÇÃO.
DECADÊNCIA. TERMO INICIAL (ART. 173, I, DO CTN).
COMPROVAÇÃO COM RELAÇÃO A DIVERSAS OBRIGAÇÕES
RELACINADAS NA NOTIFICAÇÃO DE DÉBITO IMPUGNADA.
COMPETÊNCIA LOCAL DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. 1. A contar da
37

edição da Súmula 18 deste Tribunal de Justiça, que repete o enunciado da


Súmula 138 do STJ, tem-se entendido que “o ISS incide na operação de
arrendamento mercantil de coisas móveis”. Embora esta não seja a
convicção pessoal deste Relator, adere-se a ela em nome da segurança
jurídica. 2. Não há cogitar em nulidade do lançamento fiscal se é possível
verificar o fato gerador e s demais aspectos atinentes à formação do crédito
tributário (art. 142 do CTN). 3. “A base de cálculo do leasing – disciplinado
na res, n, 2.309/96 e n. 2.465/98-, como nos demais serviços abrangidos pelo
ISS, corresponde ao valor integral da operação. Embora constituído de
figuras contratuais que, ab initio, seriam atingidas por outros tributos,
desmembrá-lo geraria intransponíveis dificuldades por estarem estas figuras
em forma imperfeita e acarretaria tamanha impropriedade equivalente a
negar-lhe a existência jurídica como instituto próprio. [...]”. 4. O Superior
Tribunal de Justiça “pacificou entendimento no sentido de que, em se
tratando de tributo sujeito a lançamento por homologação, no caso em que
não ocorre o pagamento antecipado pelo contribuinte, o poder-dever do
Fisco de efetuar o lançamento de ofício substitutivo deve obedecer ao prazo
decadencial estipulado pelo artigo 173, I, do CTN, segundo o qual o direito
de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário extingue-se após 5
(cinco) anos contados do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o
lançamento poderia ter sido efetuado.(Precedente: (…)). Na hipótese,
constatou-se a consumação da decadência em relação a diversas obrigações
relacionadas na notificação de débito impugnada, razão por que devem ser
excluídas do crédito tributário. 5. “Nos casos de ISS sobre serviços
prestados em local diverso do domicilio do prestador, a competência
tributária territorial é do Município no qual este é prestado, onde ocorre
a exteriorização da riqueza. Nos casos de arrendamento mercantil,
apesar de o domicilio virtual concentrado é um único ente federado (de
alíquota usualmente reduzida), as operações são realizadas por todo
território nacional através das revendedoras. Ainda que conste do
contrato localidade diversa, na realidade o arrendatário dirigiu-se à
revendedora para obter o veículo, mesmo tendo feito isso por
arrendamento mercantil” (Ap. Civ. n. 2006.041613-9, Des. Francisco
Oliveira Filho). PROVER O REEXAME NECESSÁRIO E, COM FULCRO
NO § 2º DO ART. 515 DO CPC, JULGAR PARCIALMENTE
PROCEDENTE A AÇÃO. 3. Agravo de instrumento a que se nega
provimento.
(AI 843914 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
08/11/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-229 DIVULG 01-12-2011
PUBLIC 02-12-2011)
[sem grifo no original]

Da mesma forma, decidem os Tribunais Estaduais, como se verifica no


julgado do Tribunal de Justiça do Paraná.

DECISÃO: Acordam os Desembargadores da 1ª Câmara Cível do Tribunal


de Justiça do Estado do Paraná, por maioria de votos, em dar provimento ao
recurso, para reconhecer a legitimidade do município de Cianorte para a
cobrança de ISS sobre as operações de Leasing; e julgar prejudicado o
recurso de apelação 1, nos termos da fundamentação. EMENTA: EMENTA:
I - APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL.
38

SENTENÇA QUE DECLAROU A INCOMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO


PARA PROMOVER O LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO DE ISS SOBRE
OPERAÇÕES DE ARRENDAMENTO MERCANTIL. II - APELAÇÃO 2.
LEGITIMIDADE PARA A COBRANÇA DO ISS. COMPETÊNCIA
TRIBUTÁRIA QUE CABE AO MUNICÍPIO EM QUE SE
CONCRETIZARAM OS ATOS DE TRANSFERÊNCIA DOS BENS,
POR SER O LOCAL ONDE SE APERFEIÇOA O FATO GERADOR
DO ISS NAS OPERAÇÕES DE LEASING. DOUTRINA. III. -
APELAÇÃO 1. RECURSO PREJUDICADO.V. - APELAÇÃO 2.
RECURSO PROVIDO. APELAÇÃO 1. RECURSO PREJUDICADO.
(TJPR - 1ª C. Cível - AC - 1421290-3 - Cianorte - Rel.: Salvatore Antonio
Astuti - Rel. Desig. p/ o Acórdão: Jorge de Oliveira Vargas - Por maioria - -
J. 01.12.2015)
(TJ-PR - APL: 14212903 PR 1421290-3 (Acórdão), Relator: Jorge de
Oliveira Vargas, Data de Julgamento: 01/12/2015, 1ª Câmara Cível, Data de
Publicação: DJ: 1740 16/02/2016)
[sem grifo no original]

A jurisprudência apenas reafirma o que a doutrina há muito defende. Destarte,


causa estranheza que o tema ainda cause tantas dúvidas.
Contudo, para melhor entendimento, se faz necessário abordar brevemente os
Princípios inerentes ao presente enfoque.

8.1.1 Princípio da Territorialidade

Não há como falar em ISS sem antes pontuar a interpretação de tal Princípio.
Rege o Princípio da Territorialidade que cabe a cada ente federativo, tributar
os fatos que ocorrem em seu território, isto é, cada ente federativo exerce competência
em seu próprio espaço, não podendo, portanto, aos demais entes da federação, intervir
no processo. Em sendo o ISS responsável por constitui a maior fonte de receita dos
Municípios, a guerra fiscal acontece, porque o interesse econômico que este imposto
desperta no ente federativo que detém capacidade tributária ativa, com relação à sua
arrecadação, é de grande representatividade.
39

8.1.2 Princípio da Extraterritorialidade

Em oposição ao Princípio supra, a Extraterritorialidade é a hipótese da


incidência da norma tributária de determinado Município sobre fato ocorrido em
território diverso do seu.
A doutrina considera a aplicação deste princípio no embate sobre o critério
espacial do ISS, exatamente, pela dúvida posta pelo art. 3º, da LC 116/03, que
considera prestado o serviço e o imposto devido no local do estabelecimento prestador
ou, na falta do estabelecimento, no local do domicílio do prestador.

8.1.3 Territorialidade versus Extraterritorialidade

Como exposto anteriormente, pelo princípio da indelegabilidade da


competência tributária, é proibido ao Município a transferência do exercício da
cobrança do ISS a qualquer outro ente federativo.
Assim, no que tange a expressão “na falta do estabelecimento, no local do
domicílio do prestador”, alguns doutrinadores consideram a possibilidade da aplicação
do Princípio da Extraterritorialidade, pois há a presunção do fato gerador do imposto
ocorrer no local do estabelecimento, diverso do local da efetiva prestação do serviço.
Tal presunção acabaria por conferir extraterritorialidade à norma do município no qual
o estabelecimento está localizado, ou seja, em sendo considerado o negócio jurídico
resolvido a partir da sede principal da empresa financeira, domiciliada no Município
“A” e o contrato de leasing ser efetivado com a entrega do bem, no Município “B”,
ensejaria o sujeito ativo da obrigação tributária, o Município “A”, por estar
domiciliada a unidade econômica ou profissional da instituição financeira com poderes
decisórios suficientes à concessão e aprovação do financiamento.
Porém, em outra análise, se considerado local de efetiva prestação do serviço,
como sendo o local da entrega do bem, do local onde ocorre a geração da riqueza, o
norteador será o Princípio da Territorialidade. Não obstante a necessidade de
autorização para concessão do crédito ser feita na unidade principal da instituição
financeira, há que se considerar que o negócio jurídico não teria acontecido sem a
40

entrega do bem e a assinatura do contrato, e nem mesmo, sem a relação fática entre
consumidor e o fornecedor da prestação do serviço. Ressalta-se ainda, que se o
contrato de arrendamento mercantil for autorizado pela instituição responsável, mas o
consumidor não deseje mais o serviço ou o tenha recebido, o negócio jurídico, resta
prejudicado, ensejando desta forma, na ausência da prestação.
Também, neste sentido, explica o professor Aires F. Barreto (BARRETO,
2009):

Só surge a obrigação tributária de recolher o ISS ao Município diante de fato


concretamente ocorrido. O imposto de que se cuida não pode incidir sobre
serviço “potencial”. Aliás, isso rigorosamente, nem precisaria ser
consignado, dado que envolve visível redundância. Se o ISS é imposto
exigível pela ocorrência do fato (prestar serviço), não há sentido em
falar de fato potencial, porque nessa expressão há visível contradição nos
termos: sendo fato, jamais poderia ser potencial; potencial é vocábulo
incompatível com fato; visto da perspectiva inversa: se for potencial, nunca
se tratará de fato. Potencial equivale a virtual e contrapõe-se a real,
característica própria do fato.
[sem grifo no original]

Destarte, a exegese de tal entendimento corrobora com a compreensão da


presente abordagem, de que deve o local da prestação do serviço prevalecer sobre o
domicílio do estabelecimento prestador, quando da análise do critério espacial da
hipótese tributária do ISS, porquanto somente desta maneira o princípio constitucional
da Territorialidade será efetivamente observado.
41

9 DOS RECURSOS REPETITIVOS

Não obstante toda a robusta análise apresentada até o momento sobre o local
correto para a configuração da incidência de ISS e porquanto a correta determinação
do sujeito ativo da obrigação tributária, não há como deixar de se mencionar a outra
tese adotada por parte da doutrina e jurisprudência: o nascimento da obrigação
tributária a partir do local onde situa-se o poder decisório nos contratos de leasing.
Em julgado já mencionado anteriormente, o Superior Tribunal de Justiça, no
REsp nº 1060210/SC, decidiu que “o núcleo da operação de arrendamento mercantil, o
serviço em si, que completa a relação jurídica, é a decisão sobre a concessão, a efetiva
aprovação do financiamento”, que a entrega de documentos, a formalização da
proposta e a entrega do bem são procedimentos acessórios.
Explica ainda, que tal análise leva em consideração, tanto o Decreto-lei
406/68, como a LC 116/03. E ainda continua. Transcreve-se parte da r. decisão.

As grandes empresas de crédito do País estão sediadas ordinariamente em


grandes centros financeiros de notável dinamismo, onde centralizam os
poderes decisórios e estipulam as cláusulas contratuais e operacionais
para todas suas agências e dependências. Fazem a análise do crédito e
elaboram o contrato, além de providenciarem a aprovação do
financiamento e a consequente liberação do valor financeiro para a
aquisição do objeto arrendado, núcleo da operação. Pode-se afirmar que
é no local onde se toma essa decisão que se realiza, se completa, que se
perfectibiliza o negócio. Após a vigência da LC 116.2003, assim, é neste
local que ocorre a efetiva prestação do serviço para fins de delimitação do
sujeito ativo apto a exigir ISS sobre operações de arrendamento mercantil.
[sem grifo no original]

Pois bem, o presente trabalho, como já demonstrado, traz outro entendimento.


Assim, a partir deste momento, tentar-se-á apresentar os argumentos relevantes que
descaracterizam esta segunda tese.
A r. decisão trouxe ao mundo jurídico uma enormidade de ações pleiteando
direitos, todas utilizando-se de tal entendimento. Em breve pesquisa jurisprudencial, é
fácil encontrar diversas decisões que usam o REsp nº 1060210/SC como fundamento
jurídico.
42

Abaixo, alguns exemplos.

DECISÃO: Acordam os Magistrados Integrantes da Primeira Câmara Cível


do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em
dar provimento ao recurso. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. INCIDÊNCIA
DE ISS SOBRE OPERAÇÃO DE LEASING
FINANCEIRO.COMPETÊNCIA DO MUNICÍPIO DA SEDE DO
ESTABELECIMENTO PRESTADOR DURANTE A VIGÊNCIA DO DL
406/68 E DO LOCAL DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO NA VIGÊNCIA DA
LC 116/2003. LOCAL DA PRESTAÇÃO DEFINIDO PELO LOCAL
ONDE SE CONCENTRA O PODER DECISÓRIO. MATÉRIA
DECIDIDA SOBRE A SISTEMÁTICA DE RECURSO REPETIVO NO
RESP 1060210/SC. FATO GERADOR POSTERIOR A LC 116/2003.
DISCUSSÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DE UNIDADE ECONÔMICA OU
PROFISSIONAL DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA COM PODERES
DECISÓRIOS SUFICIENTES À CONCESSÃO E APROVAÇÃO DO
FINANCIAMENTO NO MUNICÍPIO.NECESSIDADE DE PRODUÇÃO
DE PROVAS.CERCEAMENTO DE DEFESA. ANULAÇÃO DA
SENTENÇA. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO.
(TJPR - 1ª C.Cível - AC - 1377383-0 - Umuarama - Rel.: Fabio Andre
Santos Muniz - Unânime - - J. 16.06.2015)
[sem grifo no original]

TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. ISS. ARRENDAMENTO


MERCANTIL. LEASING FINANCEIRO. COMPETÊNCIA PARA
EFETUAR A COBRANÇA DO TRIBUTO. MATÉRIA ANALISADA
EM RECURSO REPETITIVO (RESP 1.060.210/SC). SUJEITO ATIVO
DA RELAÇÃO TRIBUTÁRIA NA VIGÊNCIA DO DL N. 406/68:
MUNICÍPIO DA SEDE DO ESTABELECIMENTO PRESTADOR. APÓS
A LC N. 116/03: LUGAR DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. ART. 20, §§ 3º
E 4º, DO CPC. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REDUÇÃO.
REEXAME DE FATOS DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 7/STJ.
(STJ. AgRg nos EDcl no REsp 1459683 SC 2014/0136468-0, Relator:
Ministro HUMBERTO MARTINS, T2 - SEGUNDA TURMA, julgado em
23/10/2014, Publicação: DJe 30/10/2014.)
[sem grifo no original]

Os julgados acima, demonstram o entendimento de que a competência será


atribuída mediante a consideração do local onde se concentra o poder decisório, ou
seja, compete a cobrança do ISS, ao município onde a decisão efetiva da aprovação do
financiamento ocorreu.
Assim, usando-se as palavras dos Ilustres Ministros na decisão do Resp.
1060210/SC, “as grandes empresas de crédito do País estão sediadas ordinariamente
em grandes centros financeiros de notável dinamismo”, isso significa que, mesmo o
43

contrato sendo assinado e a tradição do bem sido feita em qualquer lugar do país,
apenas os Municípios onde estão sediadas as empresas, é que receberão o ISS. Ora!
Neste caso, apenas os grandes centros financeiros serão beneficiados, criando assim,
um abismo de injustiça!

9.1 CONTRATOS DE LEASING E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Outra questão a ser levantada, diz respeito ao Código de Defesa do


Consumidor (CDC). Sim, contratos de leasing são considerados prestação de serviço e
a questão segue pacificada pela jurisprudência, como se verifica no julgado do
Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, abaixo.

EMENTA APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO


BANCÁRIO - LEASING - POSSIBILIDADE DE REVISÃO DO
CONTRATO - APLICAÇÃO DO CDC - NÃO DESCARACTERIZAÇÃO
DO INSTRUMENTO - JUROS REMUNERATÓRIOS E
CAPITALIZAÇÃO - INEXISTENTES - COMISSÃO DE PERMANÊNCIA
- AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL - CONSIGNAÇÃO EM
PAGAMENTO - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Não há dúvida da aplicabilidade do CDC aos contratos de leasing,
uma vez que traduzem uma relação de consumo, em que pese a natureza
híbrida que lhes dá forma estrutural e que os diferencia dos demais
contratos civis e comerciais, sendo possível, assim, a sua revisão.
2. Conforme inteligência da Súmula n. 293 do Superior Tribunal de Justiça, a
cobrança antecipada do valor residual garantido não descaracteriza o
contrato de arrendamento mercantil (leasing).
3. Ausente interesse processual do autor em requerer a limitados dos juros
remuneratórios, capitalização anual e vedação da comissão de permanência,
haja vista não constar nos contratos de arrendamento mercantil a previsão de
cobrança de tais encargos.
4. Considerando a existência de depósitos parciais de valores, mediante
autorização judicial, imperioso o reconhecimento da procedência parcial da
ação consignatória, até o limite dos depósitos, com a compensação de tais
valores sobre o saldo devedor
(TJ-MS - Apelação MS 0800544-93.2010.8.12.0001. Relator: Des. Fernando
Mauro Moreira Marinho. Julgamento: 10/12/2013. Órgão Julgador: 3ª
Câmara Cível. Publicação:14/01/2014).
[sem grifo no original]

Diz na decisão (REsp nº 1060210/SC) que o serviço é efetivamente prestado


onde a relação é perfectibilizada, assim entendido o local onde se comprove haver
44

unidade econômica ou profissional da instituição financeira com poderes decisórios


suficientes à concessão e aprovação do financiamento. Sendo assim, é imperioso o
cotejo da decisão com o CDC, na questão de competência.
O CDC, ao definir regras de competência relativas ao local onde ocorreu ou
deva ocorrer o dano, por exemplo, guiou-se abertamente pelo critério do local do
resultado. Assim dispõe o artigo 101, I, do CDC.

Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e


serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão
observadas as seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;
[sem grifo no original]

Eis que para o conceito de consumidor, o CDC utiliza a Teoria Finalista


Aprofundada que considera, além do disposto no art. 2º da lei, aqueles consumidores
que têm uma relação de hipossuficiência – técnica, profissional ou financeira em
relação ao fornecedor. E complementando tal Princípio, utiliza também, como
princípio básico, o Princípio da Vulnerabilidade - fundamentado pelo art. 4º, I, do
CDC-, o qual determina ao direito que se ocupe da proteção ao consumidor, ou seja, a
regra geral é a de presunção legal absoluta que visa proteger o consumidor do
desequilíbrio na relação jurídica. Nesta relação entre consumidor e instituição
financeira, não há dúvida de quem é o vulnerável e/ou hipossuficiente.
Assim, a jurisprudência tem corroborado o entendimento positivado,
instituindo o foro de competência para dirimir eventuais lides entre as partes dos
contratos de arrendamento mercantil, como sendo o domicílio do consumidor. In
verbis a decisão do STJ.

CONFLITO DE COMPETÊNCIA nº 111866 - SC (2010/0075074-0)


CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA
VARA DE SÃO JOSÉ DOS PINHAIS-PR.
(...)2. Decido. Conheço do conflito com fundamento no art. 105, I, d, da
Constituição da República, por se tratar de incidente instaurado entre juízos
vinculados a Tribunais distintos. A espécie reporta-se a contrato de
arrendamento mercantil celebrado com instituição financeira. A relação
jurídica existente entre o contratante e a instituição financeira é
disciplinada pelo Código de Defesa do Consumidor, nos termos da
Súmula 297/STJ. Assim, as instituições financeiras estão sujeitas às
45

normas de proteção e defesa do consumidor, dentre as quais a que


assegura ao consumidor a propositura de demanda no foro de seu
domicílio, nos termos do que dispõe o art. 101, I, do CDC. A
jurisprudência desta Corte assentou seu entendimento no sentido de
reconhecer que, em se tratando de relação de consumo, a competência é
absoluta, razão pela qual pode ser conhecida até mesmo de ofício e deve
ser fixada no domicílio do consumidor.
(STJ. Processo: CC 111866. Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO.
Publicação: DJ 04/04/2011)
[sem grifo no original]

Conclui-se, portanto, que se o CDC utiliza o critério do local do resultado


como o de competência para a resolução de divergências contratuais, o contrato será
resolvido na cidade em que o consumidor está adquirindo o bem. Data vênia, segue
um exemplo bastante simples: se a tradição do bem ocorre no domicílio do
consumidor, a exemplo da aquisição de um carro ou de uma casa na cidade de Pérola
do Oeste/PR - pois, em que pese o poder decisório da instituição se dê em sua sede
(São Paulo, por exemplo) -, o bem será adquirido na cidade do Paraná. Assim, onde
terá ocorrido a tradição do bem? Em São Paulo ou em Pérola do Oeste? Sim, será em
Pérola, cidade paranaense divisa com a Argentina, com 7.000 habitantes. O foro
competente será o do domicílio do consumidor. Lembrando, ser este o vulnerável e
provavelmente, o hipossuficiente desta relação.
Para finalizar, ainda, nas palavras do Desembargador Jorge de Oliveira Vargas,
no Agravo de Instrumento nº 1.425.546-6, fl. 4, do TJ/PR, “não se desconhece a
respeito do Resp. 1.060.210-SC, porém, no r. julgado, não foram, data vênia,
analisados os critérios temporal e espacial da norma jurídica tributária”. Portanto, o
referido Recurso Especial não analisou em profundidade os requisitos necessários para
a perfeita consignação dos critérios antecedentes da RMIT para uma delimitação eficaz
quanto ao município inteiramente competente para a cobrança do ISSQN, nem mesmo
considerando o disposto acima, quanto ao Código de Defesa do Consumidor.
46

10 CONCLUSÃO

O ISS é um tributo de competência dos municípios, constando tal previsão na


Constituição Federal que, sobretudo, dá autonomia a estes entes para o procedimento à
cobrança o ISSQN em relação aos serviços de leasing financeiro. No entanto, existem
grandes objeções quanto a implementação e cobrança deste tributo, a começar pela Lei
Complementar que o regula.
A referida Lei Complementar nº 116/03, em seus artigos 3º e 4º, deveria
simplesmente trazer as exceções para esclarecer conflitos de competência, pois o
Decreto-Lei nº 406/68, já havido estabelecido anteriormente qual o critério espacial do
ISS. Contudo, a vigência da referida LC acabou por gerar ainda mais dúvidas e
discussões doutrinárias sobre o assunto, quando preconizou tanto o local da efetiva
prestação do serviço, quanto o local da unidade profissional e/ou estabelecimento
prestador, como locais considerados para o nascimento da obrigação tributária.
O presente trabalho teve como escopo clarear tais questões de forma breve,
mas fundamentada, decorrente de estudo criterioso do entendimento jurisprudencial e
doutrinário sobre a definição correta do sujeito ativo a partir do critério espacial dentro
da Regra Matriz de Incidência Tributária, do Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza, para os contratos de leasing.
A partir de análise do tema, percebeu-se quão controversa é a matéria no meio
jurídico. A questão não está pacificada e teme-se que ainda esteja longe o fim de tal
unificação de pensamento.
Concluiu desta forma que, o sujeito ativo competente dentro da Regra Matriz
de Incidência Tributária, por intermédio da definição exata do critério espacial, deve
ser aferido doravante a acepção correta da expressão utilizada pela Lei Complementar
“estabelecimento prestador”, que é, sem sombra de dúvida, somente o local em que
efetivamente se torna perfeito o negócio jurídico, a partir da tradição do bem.
Em que pese, grandes doutrinadores defendam a ideia de que o ISS é devido
ao Município onde está a sede da instituição com poderes decisórios à concessão do
leasing, a exemplo do Resp 1.060.210/SC, data vênia, não foi este o entendimento
exarado pelo presente estudo. Como já demostrado, o ISS é devido para o Município -
47

sujeito ativo-, onde ocorre a finalização da relação jurídica, ou seja, onde há a entrega
do bem arrendado. Entendimento este, corroborado também pelo Código de Defesa do
Consumidor, quando se guiou pelo critério do local do resultado para definição da
competência territorial na eleição do foro de pretensas lides, conforme exposto.
Os objetivos do presente trabalho foram alcançados. Em que pese a extenuante
discussão, o tema é riquíssimo, levando a um patamar de conhecimento muito acima
do esperado.
A doutrina como um todo, debate brilhantemente a matéria com exposições e
argumentos muito bem fundamentados, contudo, o entendimento final da apreciação
ora apresentada corroborou apenas com parte do meio jurídico. E essa é a vivacidade
do Direito: a possibilidade do presente estudo, também fazer parte de novas discussões
futuras.
Não obstante toda a pesquisa realizada, acredita-se na necessidade de uma
busca constante por novos debates, (re)conhecendo novas perspectivas sobre o tema.
Destarte, recomenda-se que a matéria seja ainda mais aprofundada, para quem sabe,
em um futuro bastante próximo, o tema restar pacificado junto ao meio jurídico,
evitando com isso, a continuação, tanto da guerra fiscal travada pelos Municípios
brasileiros, tanto quanto, do desgastante trabalho dos eméritos julgadores que a cada
dia mais, têm seus gabinetes inchados de lides que poderiam ter sido resolvidas mais
rapidamente, de forma tão eficaz quanto e sem fazer a máquina judiciária trabalhar
exaustivamente, por vias extrajudiciais.
48

REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 3. ed. São Paulo: Método,


2009.

ARRENDAMENTO mercantil e o conflito na arrecadação do ISSQN.


studiofiscal.jusbrasil.com.br. Disponível em http://goo.gl/oHfSU5. Acesso em: 21 de
fev. 2016.

BARRETO, Aires Fernandino. Curso de Direito Tributário Municipal. 2. Ed. São


Paulo: Saraiva, 2012.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em


http://goo.gl/iLHmuN. Acesso em: 25 out. 2014.

BRASIL. Lei Complementar nº 116, de 31 de julho de 2003. Dispõe sobre o Imposto


Sobre Serviços de Qualquer Natureza, de competência dos Municípios e do Distrito
Federal, e dá outras providências. Disponível em http://goo.gl/iSlLSL. Acesso em: 29
out. 2014.

BRASIL. Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário


Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e
Municípios. Disponível em http://goo.gl/7293Ea. Acesso em: 29 out. 2014.

CARNEIRO, Cláudio. Impostos Federais, Estaduais e Municipais. 4. ed. São Paulo:


Saraiva, 2013. p.190

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 25. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.

CREPALDI, Silvio Aparecido. Aspectos doutrinários da regra matriz de incidência


tributária: uma abordagem analítica. Disponível em http://goo.gl/0LT8cK. Acesso em:
30 out. 2014.

CUNHA, Arlindo Felipe da. Regra-Matriz do ISSQN - Imposto Sobre Serviços De


Qualquer Natureza. Revista IMES de Direito, São Caetano do Sul, n.13, jul./dez. 2007.

DALLAZEM, Dalton Luiz. Imposto sobre Serviços – ISS na lei complementar nº


116/03 e na Constituição. Disponível em http://goo.gl/fjTDH8. Acesso em: 30 out.
2014.

DINIZ, Maria Helena. Dicionário Jurídico. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
49

FENGLER, Vinícius. A influência do imposto sobre serviços de qualquer natureza –


ISS nas operações de arrendamento mercantil - leasing. Disponível em
http://goo.gl/IXKGvm. Acesso em: 21 de fev. 2016.

FORTES, Maurício Cezar Araújo. A regra-matriz de incidência do Imposto sobre


Serviços de Qualquer Natureza. Disponível em http://goo.gl/22KnAN. Acesso em: 30
out. 2014.

GRILLO, Fábio Artigas (Coord.); SILVA, Roque Sérgio D'Andrea Ribeiro da


(Coord.). Código Tributário Nacional Anotado OAB/PR. Disponível em
http://goo.gl/X65rPx. Acesso em: 30 out. 2014.

GRUPENMACHER, Betina Treiger (Coord.). Tributação: Democracia e Liberdade.


São Paulo: Noeses, 2014.

HENRIQUE, Walter Carlos Cardoso. Juntada de Parecer - estudo na qualidade de


amicus curiae - ADI 2.777/ SP. Disponível em http://goo.gl/mRVNjb. Acesso em 21 de
abril de 2016. Disponível em http://goo.gl/mRVNjb. Acesso em: 21 de abr. 2016.

KOSSAR, Lorena Mainardes; SOMMA, Rafaela Mattioli. Aplicação do princípio da


territorialidade ao critério espacial do imposto sobre serviços – ISS. Disponível em
http://goo.gl/ajtz2j. Acesso em: 21 de fev. 2016.

MACEDO, Marivaldo Ribeiro Dias de. Aspectos relevantes do imposto sobre serviços
de qualquer natureza (ISSQN). Disponível em: http://goo.gl/GEPl2I. Acesso em: 29
out. 2014.

MELO, José Eduardo Soares de. ISS – Aspectos teóricos e práticos. 3. ed. São Paulo:
Dialética, 2003.

MARTINS, Fran. Contatos e obrigações comerciais. Rio de Janeiro: Forense. 2002,


p.459.

MEDEIROS, André Antonio Araújo de; MEDEIROS, Luisiana Lima de. Sobre a ilegal
atribuição do foro de competência diverso do foro consumerista. Disponível em
https://goo.gl/gb1p8z. Acesso em 23 de abril de 2016.

MIRANDA, Fernando Silveira Melo Plentz; MIRANDA, Maria Bernadete. O contrato


de arrendamento mercantil ou leasing. Disponível em http://goo.gl/LC0ehf. Acesso
em: 21 de fev. 2016.

MIRANDA, Maria Bernadete. Arrendamento Mercantil ou Leasing - Resolução do


Banco Central nº 2.309/96. Disponível em http://goo.gl/q70ZUi. Acesso em: 21 de fev.
2016.
50

MONTEIRO, Andréa Scheffer de Oliveira; QUINTANILHA, Isabella Castilho.


MACHADO Pedro Gabriel Hayashi Almeida. ISS: a função da lei complementar
116/03 e a locação de bens e cessão de direitos trazidos pela lista anexa. Revista de
Direito Público, Londrina, v. 3, n. 1, p. 144-157, jan./abr. 2008.

OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Manual avançado do imposto sobre serviços. São
Paulo: Lex, 2006.

PASCHOAL, Camila. O aspecto espacial do imposto sobre serviços de qualquer


natureza: uma análise da (não)incidência do ISS no caso de serviços prestados e
tomados por empresas brasileiras no exterior. Disponível em http://goo.gl/ZLPAVB.
Acesso em: 30 out. 2014.

PAVANI, Vanessa Roda. A regra matriz de incidência tributária. Disponível em


http://goo.gl/GmgIIe. Acesso em: 30 out. 2014.
______________________. Imposto sobre serviço de qualquer natureza. Disponível
em http://goo.gl/sZ1BUA. Acesso em: 30 out. 2014.

PRETTI, Gleibe. Contrato de leasing - arrendamento mercantil. Disponível em


http://goo.gl/wBV8e4. Acesso em: 21 de fev. 2016.

ROSSI, Carlos Alberto Del Papa. ISS - Critério Espacial. Disponível em


http://goo.gl/aw4EPt. Acesso em: 30 out. 2014.

SILVA, Geovane Basilio da. O aspecto espacial do ISS, face à legislação vigente.
Disponível em http://goo.gl/mvEhXT. Acesso em: 30 out. 2014.

SOUZA, Eduardo Dos Anjos. Extraterritorialidade nas operações com o ISSQN.


Disponível em http://goo.gl/xX1Jjz. Acesso em: 22 de abr. 2016.

TORRES, Heleno Taveira. Limites à Modificação da Jurisprudência Consolidada.


Disponível em http://goo.gl/1bWvS2. Acesso em 22 de abril de 2016.

ULISSES FILHO, José Viana. Breves notas sobre o aspecto espacial da hipótese de
incidência do ISS. Disponível em http://goo.gl/EukMxU. Acesso em: 30 out. 2014.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral
dos Contratos. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

Você também pode gostar