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Material: Sentença Penal (Espelho)

SENTENÇA PENAL
(ESPELHO)
SENTENÇA PENAL
NOTA
QUESITOS AVALIADOS
BASE

RELATÓRIO - Dispensado pelo enunciado. -

PRELIMINAR AO MÉRITO

Nulidade – Afronta ao princípio da identidade física do juiz - Inocorrência


- É certo que, a partir das modificações implementadas pela Lei n.
11.719/2008, o CPP passou a prever expressamente o princípio da
identidade física do juiz ao dispor, em seu art. 399, §2º, que “o juiz que
presidiu a instrução deverá proferir a sentença”.
- Ocorre, porém, que, segundo entendimento tranquilo no STJ, tal princípio
não tem caráter absoluto, e pode ser excepcionado nas situações previstas
no art. 132 do CPC/73, que, embora revogado, continua servindo como
0,50
norte para as exceções à regra.
- Era esse o teor do dispositivo legal em questão: “Art. 132. O juiz, titular ou
substituto, que concluir a audiência julgará a lide, salvo se estiver
convocado, licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou
aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor”.
- Assim, estando licenciada a magistrada que conduziu a instrução, não há
qualquer mácula ao passar-se o julgamento do feito para juiz que a tenha
substituído no exercício da atividade jurisdicional, sobretudo quando não
demonstrado qualquer prejuízo (CPP, art. 563).
MÉRITO – PARCIAL PROCEDÊNCIA
Materialidade: A materialidade das condutas está comprovada pelos
4,50
seguintes documentos: a) Ocorrência Policial n. 9.999/2021 - 24ª DP; b) Auto
de Apresentação e Apreensão n. 555/2021; c) Auto de Reconhecimento de
Objeto n. 444/2021; d) Laudo de Exame de Veículo n. 234/2021; e) Termo
de Restituição n. 666/2021; bem como pelos demais elementos de prova
carreados aos autos.

Autoria: Deve ser atribuída a MAGNO PERALTA.


- destacar que o próprio acusado, embora não tenha confessado o crime de
receptação, admitiu a prévia aquisição do trailer.
- tal elemento de prova vem corroborado pelas declarações da vítima,
segundo quem seu trailer, que havia sido furtado, estava sendo anunciado
em um site de vendas pelo irmão do réu, Mordor, o que descobriu após
marcar um encontro para uma possível negociação, a que compareceu já
acompanhado da polícia.
- ademais, também o informante Mordor Peralta dá conta de que o trailer
da vítima efetivamente lhe foi repassado por seu irmão, o réu Magno
Peralta.
- além disso, embora tenha negado ser o responsável pela alteração na cor
do veículo, o réu deixou de produzir qualquer prova a esse respeito, o que
lhe competia, à luz do art. 156 do CPP, sobretudo quando a vítima informou
que, no site de vendas, dizia-se no anúncio que o veículo havia sido pintado
pelo antigo proprietário.

Tipicidade: art. 180, §1º, do CP.

- Destacar, inicialmente, que assiste razão à defesa quando alega a


atipicidade da conduta consistente na alteração da cor do veículo.
- De fato, segundo entendimento já adotado no STJ, a alteração na pintura
do veículo configura mera infração administrativa, tratando-se de fato
atípico. Confira-se:
RECURSO ESPECIAL. ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO
AUTOMOTOR. ALTERAÇÃO DA COR DO VEÍCULO. CONDUTA ATÍPICA. FATO
SUBSUMÍVEL COMO PENALIDADE ADMINISTRATIVA. INEXISTÊNCIA DE
PREVISÃO DE CUMULAÇÃO COMO FATO CRIMINOSO. RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.
1. Tem-se por atípica a conduta praticada pelo réu, consistente em alterar a
cor do veículo, porquanto não prevista como elemento identificador no tipo
do art. 311 do Código Penal, razão pela qual passível, apenas, de capitulação
como infração administrativa, conforme dispõe o art. 230, VII, do Código de
Trânsito Brasileiro.
2. Nos termos do art. 114 e 115, caput, da Lei 9.503/97 (CTB), consideram-
se sinais identificadores tão-somente os caracteres gravados no chassi ou
monobloco, reproduzidos em outras partes, incluindo-se o ano de
fabricação, bem como as placas dianteira e traseira, não estando abrangida
pela norma, portanto, a cor original da lataria do veículo para fins penais.
3. Recurso improvido.
(REsp n. 1.946.593/ES, relator Ministro Olindo Menezes (Desembargador
Convocado do TRF 1ª Região), Sexta Turma, julgado em 21/9/2021, DJe de
27/9/2021).

- Destaque-se que não será penalizado o candidato que entender que a


questão deva ser resolvida no bojo da materialidade, reputando-a
inexistente. Do ponto de vista técnico, a solução mais correta é a ora
apresentada, uma vez que o fato (alteração da pintura) existiu, mas não
sobrevive a um juízo de tipicidade.

- Por outro lado, presentes os elementos objetivos e subjetivos do tipo de


receptação qualificada.
- O acusado, quando adquiriu, recebeu e vendeu trailer anteriormente
furtado, em proveito próprio, no exercício de atividade comercial, sabendo,
ou, ao menos, devendo saber tratar-se de produto de crime, preencheu
todos os elementos objetivos e subjetivos do crime de receptação
qualificada.
- A defesa alegou, no ponto, ausência de dolo na conduta do acusado, ao
argumento de que não tinha condições se saber da origem ilícita do bem
porque a vítima não havia comunicado o furto do trailer às autoridades,
além de o veículo não contar com registro no DETRAN.
- Contudo, a análise da prova revela que o réu, afeito à negociação de
veículos há 10 anos, sabia da origem espúria do bem, ou ao menos tinha
condições de sabê-lo.
- Com efeito, ele adquiriu o veículo de Hubner, indivíduo que conhecia há
pelo menos 14 anos e que já fora condenado por múltiplas receptações, de
modo que as condições de quem lhe ofertou o bem eram indicativo da
ilicitude prévia. Além disso, segundo informou em interrogatório, o próprio
Hubner ter-lhe-ia indicado caminho espúrio para lograr a regularização do
veículo junto ao DETRAN.
- Mas não só. De fato, o bem foi negociado por valor bastante aquém
daquele de mercado, o que certamente não passou despercebido pelo réu
que, como já destacado, de há muito trabalhava com a compra e venda de
veículos.
- Presente o dolo, pois descabida a desclassificação para a figura culposa do
art. 180, §3º, do CP.
- Saliente-se que, em delitos de receptação, o dolo pode ser apurado a partir
das circunstâncias do fato, cabendo ao acusado comprovar o
desconhecimento da origem ilícita do bem, ou a adoção de todas as
providências a seu dispor para acercar-se da licitude em torno do objeto
material da transação.

- Além disso, é inegável, como já dito, que o acusado se dedicava


profissionalmente à compra e venda de veículos, sendo certo que o fato de
ser autônomo não afasta o elemento típico da figura qualificada, mormente
porque a atividade comercial era desempenhada com habitualidade.
Descabida, assim, a pretendida desclassificação para a figura do caput do
art. 180 do CP.

Ilicitude: destacar a ausência das causas de exclusão da ilicitude previstas


no art. 23 do Código Penal ou de outras supralegais. Portanto, caracterizado
o fato típico e ilícito.

Culpabilidade: reputá-la demonstrada, uma vez que o acusado era


penalmente imputável e tinha possibilidade plena de conhecer o caráter
ilícito de suas condutas, inexistindo qualquer causa que exclua sua
culpabilidade ou o isente de pena.

DISPOSITIVO 0,50
Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE a pretensão acusatória
para CONDENAR o acusado MAGNO PETALTA, já qualificado, pela prática do
crime do art. 180, §1º, do CP, bem como para ABSOLVÊ-LO da imputação de
cometimento do crime do art. 311 do CP, com fulcro no art. 386, III, do CPP.
DOSIMETRIA (CP, ART. 59 E 68):

1ª Fase: valoração subjetiva das circunstâncias judiciais, inexistindo, a


princípio, motivo que possa justificar a exasperação da pena-base.

2ª Fase: presente a agravante da reincidência (art. 61, I, c.c. art. 63, ambos
do CP).

3ª Fase: sem causas de aumento ou de diminuição a considerar.

Pena de multa.

2,50
Regime inicial semiaberto, à luz da Súmula 269 do STJ (“É admissível a
adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a
pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias
judiciais”).

Arts. 44 e 77 do CP: possível a substituição da pena corporal por duas


restritivas de direitos (CP, art. 44, §2º), a serem estabelecidas pelo juiz da
execução, uma vez que, a despeito de se tratar de réu reincidente, não se
trata de reincidência específica (CP, art. 44, §3º).
Não será penalizado o aluno que deixar se proceder à substituição, desde
que o fundamento siga na linha da insuficiência da substituição (a mera
menção à reincidência, por não ser específica, não configura
fundamentação bastante para reprochar a substituição).
Se aplicado o art. 44 do CP, necessário dar por prejudicada a análise do art.
77 do mesmo diploma legal. Caso afastado aquele, de rigor o afastamento
deste, porque extrapolado o limite objetivo de 2 anos (art. 77, caput, do CP).
Ainda, a reincidência deve igualmente obstar tal benesse.

- Decisão sobre a custódia cautelar: recomenda-se a manutenção do réu


em liberdade, uma vez que não houve pedido ministerial de decretação da
custódia cautelar, além de não haver qualquer alteração fática que imponha
a decretação da medida extrema ou de outra cautelar distinta.

DISPOSIÇOES FINAIS:
a) Condenação em custas;
b) Descabimento de fixação de valor indenizatório mínimo (art. 387, IV,
do CPP), uma vez que não houve pedido, além de não haver prejuízo
a reparar; 1,00
c) Comunicação ao ofendido (CPP, art. 201, §2º);
d) Após trânsito em julgado: expedir ofício TRE, INI e Carta de Guia
definitiva para o Juízo da Execução;
e) P.R.I; e
f) Data e Assinatura.
Uso escorreito do idioma oficial, capacidade de exposição e conhecimento
1,00
do vernáculo.
TOTAL 10,00

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