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98 Cabe mencionar que não poderia o magistrado ter condenado com fundamento
99 de que houve imperícia na direção do veículo, tendo em vista que tal conduta não foi
100 narrada na denúncia, violando o princípio da correlação, o qual representa uma das
101 mais relevantes garantias do direito de defesa, visto que assegura a não condenação do
102 acusado por fatos não descritos na peça acusatória, sendo certo que o Ministério
103 Público não aditou a inicial acusatória em momento adequado. Desta senda, não
104 sendo comprovado o fato imputado na denúncia, a absolvição é medida que se impõe.
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106 No que tange ao processo de dosimetria da pena, primeiro cabe explanar sobre
107 o afastamento do agravante conforme art. 61, inciso II, alínea h do CP. Tendo em vista
108 que tal agravante somente pode ser aplicado aos crimes dolosos. Quis a lei punir mais
109 severamente aquele que, dolosamente, pratica crime contra criança. Na hipótese de
110 crime culposo, não há que se falar em agravante, sob pena de adotarmos a
111 responsabilidade penal objetiva.
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113 Em relação ao concurso material de crimes, conforme a denúncia, teria ocorrido
114 o concurso, já que com uma única conduta o agente teria causado mais de um
115 resultado. Assim, aplica-se a regra do art. 70 do CP, ou seja, as penas cabíveis ou, se
116 iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, em detrimento do
117 artigo 69 do CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, prática
118 dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas
119 de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de
120 reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquele”, devendo haver exasperação da
121 pena mais grave e não soma das penas aplicadas.
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123 Sem prejuízo, ainda que haja o entendimento de que deva ser mantida a
124 condenação, não poderia ser aplicado o regime inicial fechado. Desta forma, cumpre
125 requerer o afastamento do regime mais severo, seja aplicando-se o regime aberto ou
126 semiaberto, pois o art. 33, caput do CP: “A pena de reclusão deve ser cumprida em
127 regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou
128 aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”, não admitindo, em
129 nenhuma hipótese, que seja aplicado regime inicial fechado ao crime punido
130 unicamente com pena de detenção, como ocorre nos crimes culposos da Lei 9.503/97.
131 Cabe, ainda, o pedido de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
132 direitos, independentemente do quantum de pena aplicada, já que o limite do art. 44,
133 inciso I, do Código Penal aplica-se apenas aos crimes dolosos: “As penas restritivas de
134 direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I – aplicada
135 pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
136 violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime
137 for culposo”.
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139 III - DOS PEDIDOS
140 Por tudo que dos autos consta, requer a reforma da r. sentença condenatória,
141 sendo imprescindível a imposição da absolvição ao caso em tela, alicerçado no art. 386,
142 inciso VII do CPP.
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