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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA CRIMINAL DA

2 COMARCA DE SÃO GONÇALO/RJ


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4 Processo nº __
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6 Carlos, já devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, através


7 de seu advogado e procurador, vem, mui respeitosamente à Douta Presença de Vossa
8 Excelência, dentro do quinquídio legal, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro no
9 Art. 593, inciso I do Código de Processo Penal, data vênia, por não se conformar com a
10 r. sentença condenatória. Em anexo, seguem as razões recursais.
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12 Nestes termos,
13 Pede deferimento.
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15 Local, 23 de setembro de 2019
16 Advogado, OAB
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26 RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO


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28 Apelante: Carlos
29 Apelado: Ministério Público
30 Autos nº:
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32 EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
33 Colenda Câmara;
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35 Em que pese o zelo do magistrado “a quo”, este não deu ao caso a solução
36 adequada, senão vejamos:
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38 I - DOS FATOS
39 O apelante, primário e de bons antecedentes, fora denunciado como
40 incurso nas sanções penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas vezes, e
41 art. 303, do mesmo diploma legal, ambos em concurso material, isto posto, como
42 dispõe a denúncia, na data de 08 de julho de 2017 teria o apelante, na direção
43 de veículo automotor, com imprudência em razão do excesso de velocidade, colidiu
44 com um veículo em que estavam Júlio e Mario, este na época com 9 anos, causando
45 lesões que resultaram com a morte de ambos. Pode se ler ainda da inicial de que, em
46 decorrência da mesma colisão, ficou lesionado Pedro, que passava pelo local com sua
47 bicicleta e foi atingido pelo veículo em alta velocidade, este, que, após atendimento
48 médico em hospital público, se retirou do local, sem ser notado, razão pela qual foi
49 elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no boletim de atendimento
50 médico. Pedro nunca compareceu em sede policial para narrar o ocorrido e nem ao
51 Instituto Médico Legal. No curso da instrução, foram ouvidas testemunhas presenciais,
52 não sendo Pedro localizado. Durante o interrogatório o apelante negou estar em
53 excesso de velocidade, esclarecendo que perdeu o controle do carro em razão de um
54 buraco existente na pista. Foi acostado exame pericial realizado nos automóveis e no
55 local, concluindo que, realmente, não houve excesso de velocidade por parte do
56 apelante, e que havia o buraco mencionado na pista. O exame pericial, todavia,
57 apontou que possivelmente haveria imperícia do apelante na condução do automóvel,
58 o que poderia ter contribuído para o resultado. O juiz a quo julgou totalmente
59 procedente a pretensão punitiva do Estado e, apesar de afastar o excesso de
60 velocidade, afirmou ser necessária a condenação do apelante em razão da imperícia.
61 No momento da dosimetria, fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal,
62 e, com relação à vítima Mário, na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no
63 art. 61, II, alínea h do CP, pelo fato de ser criança, aumentando a pena base em 3
64 meses. Ficando a pena acomodada em 04 anos e 09 meses de detenção. Não houve
65 substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em razão do
66 quantum final, nos termos do art. 44, I, do CP, sendo fixado o regime inicial fechado de
67 cumprimento de pena, com fundamento na gravidade em concreto da conduta.
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69 II - DO DIREITO
70 No caso em tela, é cediço ao apelante o que diz respeito à extinção da
71 punibilidade no que tange ao crime de lesão corporal praticada na direção de veículo
72 automotor, que teria como vítima Pedro, tendo em vista que não houve representação
73 por parte da vítima, condição essa indispensável para o oferecimento da denúncia por
74 parte do Ministério Público. Como se não bastasse tal situação, tomando-se por base o
75 paradigma, ter-se-ia um crime de lesão corporal na direção de veículo automotor, em
76 que, em regra, a ação é pública condicionada à representação, transformada, por
77 expressa disposição de lei, art. 291, §1º da Lei 9.503/97, (CTB), em ação penal pública
78 incondicionada. O art. 88 da Lei 9.099/95 determina que nos crimes de lesões
79 corporais leves e lesões culposas a ação penal dependerá de representação da vítima,
80 o que, foi excepcionado pelo legislador no que tange aos delitos de trânsito. Conta do
81 enunciado que Pedro nunca compareceu na delegacia e nem em juízo, não havendo
82 qualquer circunstância a indicar que ele tinha interesse em ver o autor do fato
83 responsabilizado criminalmente. Dessa forma, passados mais de 06 (seis) meses da
84 identificação da autoria, houve decadência, nos termos do art. 38 do CPP: “Salvo
85 disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
86 queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses,
87 contado do dia em que vier, a saber, quem é o autor do crime [...]”, o que funciona
88 como causa de extinção da punibilidade, conforme art. 107, IV do CP: “Extingue-se a
89 punibilidade: [...] IV – pela prescrição, decadência ou perempção”.
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91 No que diz respeito ao crime de homicídio culposo praticado na direção de
92 veículo automotor, cabe ressaltar o direito de absolvição do apelante, tendo em vista
93 que a própria sentença reconhece que não houve imprudência por parte do réu em
94 razão do excesso de velocidade, assim como a perícia acostada ao procedimento. Não
95 havendo prova da conduta imputada na denúncia, restaria a absolvição, nos termos do
96 art. 386, VII do CPP.
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98 Cabe mencionar que não poderia o magistrado ter condenado com fundamento
99 de que houve imperícia na direção do veículo, tendo em vista que tal conduta não foi
100 narrada na denúncia, violando o princípio da correlação, o qual representa uma das
101 mais relevantes garantias do direito de defesa, visto que assegura a não condenação do
102 acusado por fatos não descritos na peça acusatória, sendo certo que o Ministério
103 Público não aditou a inicial acusatória em momento adequado. Desta senda, não
104 sendo comprovado o fato imputado na denúncia, a absolvição é medida que se impõe.
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106 No que tange ao processo de dosimetria da pena, primeiro cabe explanar sobre
107 o afastamento do agravante conforme art. 61, inciso II, alínea h do CP. Tendo em vista
108 que tal agravante somente pode ser aplicado aos crimes dolosos. Quis a lei punir mais
109 severamente aquele que, dolosamente, pratica crime contra criança. Na hipótese de
110 crime culposo, não há que se falar em agravante, sob pena de adotarmos a
111 responsabilidade penal objetiva.
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113 Em relação ao concurso material de crimes, conforme a denúncia, teria ocorrido
114 o concurso, já que com uma única conduta o agente teria causado mais de um
115 resultado. Assim, aplica-se a regra do art. 70 do CP, ou seja, as penas cabíveis ou, se
116 iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, em detrimento do
117 artigo 69 do CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, prática
118 dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas
119 de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de
120 reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquele”, devendo haver exasperação da
121 pena mais grave e não soma das penas aplicadas.
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123 Sem prejuízo, ainda que haja o entendimento de que deva ser mantida a
124 condenação, não poderia ser aplicado o regime inicial fechado. Desta forma, cumpre
125 requerer o afastamento do regime mais severo, seja aplicando-se o regime aberto ou
126 semiaberto, pois o art. 33, caput do CP: “A pena de reclusão deve ser cumprida em
127 regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou
128 aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado”, não admitindo, em
129 nenhuma hipótese, que seja aplicado regime inicial fechado ao crime punido
130 unicamente com pena de detenção, como ocorre nos crimes culposos da Lei 9.503/97.
131 Cabe, ainda, o pedido de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de
132 direitos, independentemente do quantum de pena aplicada, já que o limite do art. 44,
133 inciso I, do Código Penal aplica-se apenas aos crimes dolosos: “As penas restritivas de
134 direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade quando: I – aplicada
135 pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
136 violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime
137 for culposo”.
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139 III - DOS PEDIDOS
140 Por tudo que dos autos consta, requer a reforma da r. sentença condenatória,
141 sendo imprescindível a imposição da absolvição ao caso em tela, alicerçado no art. 386,
142 inciso VII do CPP.
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144 Por estas razões, requer o conhecimento e provimento do presente Recurso de


145 Apelação.
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147 Nestes termos,
148 Pede deferimento.
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150 Local, 23 de setembro de 2019
151 Advogado OAB

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