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Em relação ao concurso

material de crimes, conforme


a denúncia, teria
ocorrido o concurso, já
que com uma única
conduta o agente teria
causado
mais de um resultado.
Assim, aplica-se a regra do
art. 70 do CP, ou seja, as
penas cabíveis ou, se
iguais, somente uma delas,
mas aumentada, em
qualquer caso, em
detrimento do artigo 69 do
CP: “Quando o agente,
mediante
mais de uma ação ou
omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não,
aplicam-se cumulativamente
as penas privativas de
liberdade em que haja
incorrido. No caso de
aplicação cumulativa de
penas de reclusão e de
detenção, executa-se
primeiro aquele”, devendo
haver exasperação da pena
mais grave e não soma das
penas aplicadas.
Sem prejuízo, ainda que haja
o entendimento de que deva
ser mantida a
condenação, não poderia
ser aplicado o regime
inicial fechado. Desta
forma,
cumpre requerer o
afastamento do regime
mais severo, seja
aplicando-se o
regime aberto ou semiaberto,
pois o art. 33, caput do CP:
“A pena de reclusão
deve ser cumprida em
regime fechado, semiaberto
ou aberto. A de detenção,
em regime semiaberto, ou
aberto, salvo necessidade de
transferência a regime
fechado”, não admitindo,
em nenhuma hipótese, que
seja aplicado regime
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 3ª VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO GONÇALO/RJ

Processo nº __

Carlos, já devidamente qualificado nos autos do


processo em epígrafe, através de seu advogado e procurador, vem, mui
respeitosamente à Douta Presença de Vossa Excelência, dentro do quinquídio
legal, interpor RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro no Art. 593, inciso I do
Código de Processo Penal, data vênia, por não se conformar com a r. sentença
condenatória. Em anexo, seguem as razões recursais.
Carlos, já qualificado nos autos do processo em epigrafe ,através do seu advogado e
procurador, vem, respeitosamente, à elevada presença de Vossa Excelência, propor
RECURSO DE APELAÇÃO, com fulcro no art 593, inciso I, do Código de Processo
Penal, data vênia, por não se conformar com a sentença condenatória. Segue razões
recursais a seguir.
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO
Apelante: Carlos
Apelado: Ministério Público
Autos nº:xxxxxxxxxxxxx
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DOS FATOS
O apelante, primário e de bons antecedentes, fora denunciado como
incurso nas sanções penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas
vezes, e art. 303, do mesmo diploma legal, ambos em concurso material, isto
posto, como dispõe a denúncia, na data de 08 de julho de 2017 teria o
apelante, na direção de veículo automotor, com imprudência em razão do
excesso de velocidade, colidiu com um veículo em que estavam Júlio e Mario,
este na época com 9 anos, causando lesões que resultaram com a morte de
ambos. Pode se ler ainda da inicial de que, em decorrência da mesma colisão,
ficou lesionado Pedro, que passava pelo local com sua bicicleta e foi atingido
pelo veículo em alta velocidade, este, que, após atendimento médico em
hospital público, se retirou do local, sem ser notado, razão pela qual foi
elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no boletim de
atendimento médico. Pedro nunca compareceu em sede policial para narrar o
ocorrido e nem ao Instituto Médico Legal. No curso da instrução, foram ouvidas

O apelante, primário e de bons antecedentes, fora denunciado como


incurso nas sanções penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas
vezes, e art. 303,
Carlos, réu primário e de bons antecedentes, fora denunciado como incurso nas sanções
penais dos artigos 302 da Lei nº 9.503/97, por duas vezes, e art. 303, do mesmo diploma
legal, ambos em concurso material, isto posto, como dispõe a denúncia, na data de 08 de
julho de 2017 teria o apelante, na direção de veículo automotor, com imprudência em
razão do excesso de velocidade, colidiu com um veículo em que estavam Júlio e Mario,
este na época com 9 anos, causando lesões que resultaram com a morte de ambos. Pode
se ler ainda da inicial de que, em decorrência da mesma colisão, ficou lesionado Pedro,
que passava pelo local com sua bicicleta e foi atingido pelo veículo em alta velocidade,
este, que, após atendimento médico em hospital público, se retirou do local, sem ser
notado, razão pela qual foi elaborado laudo indireto de corpo de delito com base no
boletim de atendimento médico. Pedro nunca compareceu em sede policial para narrar o
ocorrido e nem ao Instituto Médico Legal. No curso da instrução, foram
ouvidas testemunhas presenciais, não sendo Pedro localizado. Durante o interrogatório
o apelante negou estar em excesso de velocidade, esclarecendo que perdeu o controle do
carro em razão de um buraco existente na pista. Foi acostado exame pericial realizado
nos automóveis e no local, concluindo que, realmente, não houve excesso de velocidade
por parte do apelante, e que havia o buraco mencionado na pista. O exame pericial,
todavia, apontou que possivelmente haveria imperícia do apelante na condução do
automóvel, o que poderia ter contribuído para o resultado. O juiz a julgou totalmente
procedente a pretensão punitiva do Estado e, apesar de afastar o excesso de velocidade,
afirmou ser necessária a condenação do apelante em razão da imperícia. No momento
da dosimetria, fixou a pena base de cada um dos crimes no mínimo legal, e, com relação
à vítima Mário, na segunda fase, reconheceu a agravante prevista no art. 61, II, alínea h
do CP, pelo fato de ser criança, aumentando a pena base em 3 meses. Ficando a pena
acomodada em 04 anos e 09 meses de detenção. Não houve substituição de pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos em razão do quantum final, nos termos
do art. 44, I, do CP, sendo fixado o regime inicial fechado de cumprimento de pena, com
fundamento na gravidade em concreto da conduta
DO DIREITO
No caso em tela, é cediço ao apelante o que diz respeito à extinção da punibilidade no
que tange ao crime de lesão corporal praticada na direção de veículo automotor, que
teria como vítima Pedro, tendo em vista que não houve representação por parte da
vítima, condição essa indispensável para o oferecimento da denúncia por parte do
Ministério Público. Como se não bastasse tal situação, tomando-se por base o
paradigma, ter-se-ia um crime de lesão corporal na direção de veículo automotor, em
que, em regra, a ação é pública condicionada à representação, transformada, por
expressa disposição de lei, art. 291, §1º da Lei 9.503/97, (CTB), em ação penal pública
incondicionada. O art. 88 da Lei 9.099/95 determina que nos crimes de lesões corporais
leves e lesões culposas a ação penal dependerá de representação da vítima, o que, foi
excepcionado pelo legislador no que tange aos delitos de trânsito. Conta do enunciado
que Pedro nunca compareceu na delegacia e nem em juízo, não havendo qualquer
circunstância a indicar que ele tinha interesse em ver o autor do fato responsabilizado
criminalmente. Dessa forma, passados mais de 06 (seis) meses da identificação da
autoria, houve decadência, nos termos do art. 38 do CPP: “Salvo disposição em
contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que
vier, a saber, quem é o autor do crime [...]”, o que funciona como causa de extinção da
punibilidade, conforme art. 107, IV do CP: “Extingue-se a punibilidade: [...] IV – pela
prescrição, decadência ou perempção”.
No que diz respeito ao crime de homicídio culposo praticado na direção de veículo
automotor, cabe ressaltar o direito de absolvição do apelante, tendo em vista que a
própria sentença reconhece que não houve imprudência por parte do réu em razão do
excesso de velocidade, assim como a perícia acostada ao procedimento. Não havendo
prova da conduta imputada na denúncia, restaria a absolvição, nos termos do art. 386,
VII do CPP.
Cabe mencionar que não poderia o magistrado ter condenado com fundamento de que
houve imperícia na direção do veículo, tendo em vista que tal conduta não foi narrada
na denúncia, violando o princípio da correlação, o qual representa uma das mais
relevantes garantias do direito de defesa, visto que assegura a não condenação do
acusado por fatos não descritos na peça acusatória, sendo certo que o Ministério Público
não aditou a inicial acusatória em momento adequado. Desta senda, não sendo
comprovado o fato imputado na denúncia, a absolvição é medida que se impõe.
No que tange ao processo de dosimetria da pena, primeiro cabe explanar sobre o
afastamento do agravante conforme art. 61, inciso II, alínea h do CP. Tendo em vista
que tal agravante somente pode ser aplicado aos crimes dolosos. Quis a lei punir mais
severamente aquele que, dolosamente, pratica crime contra criança. Na hipótese de
crime culposo, não há que se falar em agravante, sob pena de adotarmos a
responsabilidade penal objetiva.
Em relação ao concurso material de crimes, conforme a denúncia, teria ocorrido o
concurso, já que com uma única conduta o agente teria causado mais de um resultado.
Assim, aplica-se a regra do art. 70 do CP, ou seja, as penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, em detrimento do artigo 69 do
CP: “Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade
em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de
detenção, executa-se primeiro aquele”, devendo haver exasperação da pena mais grave e
não soma das penas aplicadas.
Sem prejuízo, ainda que haja o entendimento de que deva ser mantida a condenação,
não poderia ser aplicado o regime inicial fechado. Desta forma, cumpre requerer o
afastamento do regime mais severo, seja aplicando-se o regime aberto ou semiaberto,
pois o art. 33, caput do CP: “A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado”, não admitindo, em nenhuma hipótese,
que seja aplicado regime inicial fechado ao crime punido unicamente com pena de
detenção, como ocorre nos crimes culposos da Lei 9.503/97. Cabe, ainda, o pedido de
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, independentemente
do quantum de pena aplicada, já que o limite do art. 44, inciso I, do Código Penal
aplica-se apenas aos crimes dolosos: “As penas restritivas de direitos são autônomas e
substituem as privativas de liberdade quando: I – aplicada pena privativa de liberdade
não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo”.

DOS PEDIDOS
Por tudo exposto nos autos , requer a reforma da r. sentença condenatória, sendo
imprescindível a imposição da absolvição ao caso em tela, alicerçado no art. 386, inciso
VII do CPP.
Por estas razões, requer o conhecimento e provimento do presente Recurso de Apelação.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Local, data
Advogado
OAB

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