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EXMO SR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO JURI DA COMARCA DE SÃ O PAULO – SP

Fulano de tal, já qualificado nos autos, vem por meio de seu Advogado (a) (procuraçã o
anexa), apresentar
RESPOSTA A ACUSAÇÃO
Com fundamento no 406, do Có digo de Processo Penal, pelos seguintes fatos e
fundamentos:
1. DOS FATOS
Fulano de tal, estava em uma boate comemorando seu aniversá rio de 18 anos juntamente
de seus amigos, onde durante toda a noite enjeriu vá rias taças de vinho, champanhe e
cerveja, devido a isso se encontrava em um estado avançado de embriaguez. Entretanto,
mesmo se encontrando nesse estado ele dirigiu seu veículo automotor da marca Porsche a
caminho de casa.
Contudo, mesmo estando dentro da velocidade permitida, dormiu no volante e subiu na
calçada, onde atropelou duas pessoas que estavam no ponto de ô nibus esperando para
irem trabalhar, que vieram a ó bito no momento do acidente. Logo depois, a Polícia Militar
chegou até o local e averiguou que Fulano estava dormindo no volante, onde também
testemunhas que presenciaram o atropelamento conversaram com os policiais militares.
Logo apó s Fulano de tal acordar e recuperar os sentidos, negou-se a fazer o teste do
bafô metro, mas mesmo assim foi preso em flagrante, com base no depoimento das
testemunhas, bem como pelo forte odor etílico que estava saindo de sua boca. Com sua
prisã o em flagrante, Fulano de tal fora encaminhado para a audiência de custó dia que fora
realizada duas semanas depois do fato.
Foi requerido o relaxamento da prisã o em flagrante, tendo em vista que ela nã o fora feita
de forma legal, uma vez que se descumpriu o art. 310, caput, CPP, que exige o prazo de 24
horas para a sua realizaçã o, bem como os pressupostos e requisitos do art. 312, CPP, nã o
foram devidamente preenchidos. A qual foi negada e o Fulano de Tal ainda encontra-se
preso preventivamente na cidade de Sã o Paulo/SP, já tendo passado um período de
recolhimento cautelar de 100 dias sem qualquer denú ncia criminal por parte do Ministério
Pú blico, tendo sido o feito distribuído para o juiz da 1a Vara Criminal da Capital.
Foi pedido a revogaçã o da prisã o preventiva com base no recolhimento cautelar já ter
ultrapassado o período de 100 dias sem qualquer denú ncia ministerial. Todavia, o
Magistrado entendeu que a prisã o cumpria os requisitos do artigo 312, CPP e indeferiu o
pedido de revogaçã o. Apó s, o membro do Ministério Pú blico ingressou com a
correspondente açã o penal pú blica incondicionada, consubstanciada na denú ncia pelo
crime de homicídio doloso, o que é improcedente pois é notá vel que nã o houve dolo na
conduta do agente.
2. PRELIMINARES
Deve ser destacado que o prazo para a propositura da presente peça processual foi
atendido, eis que a citaçã o ocorrera em 08/09/21, quarta-feira, iniciando-se o prazo, na
forma do art. 798, CPP, no dia seguinte, terminando-se em 18/09/21, sá bado, prorrogando-
se o término para o dia ú til seguinte, qual seja, 20/09/21, segunda-feira.
Assim, cumprido o prazo legal de forma escorreita, seguem os fundamentos relativos ao
caso.
3. DOS FUNDAMENTOS
3.1. Da inexistência do crime de homicídio doloso
O Có digo Penal traz o conceito de crime doloso e crime culposo no seu artigo 18, in verbis:
Art. 18 - Diz-se o crime:
Crime doloso
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
Crime culposo
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou
imperícia.
O Có digo Penal considera como dolosa a conduta criminosa no qual o agente quis ou
assumiu o resultado. O crime doloso pode-se dividir em dois, dolo eventual e dolo direto, na
primeira parte do inciso I, tem-se a figura do dolo direto, em que o agente quer o resultado
danoso, como no caso do homicídio esse seria a morte da vítima.
Já na segunda parte, sobressai a figura do dolo eventual, quando o agente assume o risco de
causar o resultado morte, em se tratando de homicídio. Todavia, nessa ú ltima figura, o
agente nã o quer realizar diretamente a morte, mas, se ela ocorrer, isso é indiferente para
ele, anuindo-se com essa possibilidade.
Os crimes dolosos contra a vida, como o homicídio, sã o julgados no Tribunal do Jú ri, através
de jú ri popular, presidido por um juiz. Os crimes culposos sã o julgados por um juiz em uma
vara criminal.
A definiçã o de crime culposo está prevista no artigo 18, inciso II do Có digo Penal, que
considera a conduta como culposa quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência (agiu de forma precipitada, sem cuidado ou cautela), negligência (descuido ou
desatençã o, deixando de observar precauçã o normalmente adotada na situaçã o) ou
imperícia (agiu sem habilidade ou qualificaçã o técnica). Cabe ressaltar que as hipó teses de
puniçã o por condutas culposas estã o previstas em lei.
Exposta as diferenças entre crime culposo e crime doloso, nã o resta dú vidas que no
presente caso o crime praticado nã o foi um crime doloso e sim um crime culposo. Uma vez
que, o réu nã o tinha a intençã o de atropelar as duas vítimas e por consequência a morte
delas, pois ele dirigindo embriago claramente estava agindo com imprudência, de forma
precipitada, sem cuidado o que acabou ocasionando a acidente, o que caracteriza o crime
culposo, devendo assim ser desclassificado como crime culposo.
3.2. Da desclassificação de crime doloso
Percebe-se flagrante equívoco na decisã o que pronunciou o réu quanto à imputaçã o de
homicídio doloso na direçã o de veículo automotor, submetendo o paciente a julgamento
pelo Tribunal do Jú ri sem que fossem demonstradas e comprovadas, no decorrer da
instruçã o criminal, as circunstâ ncias fá ticas da anuência, da aceitaçã o e da indiferença
quanto ao resultado danoso, requisitos indispensá veis a caracterizar o dolo eventual.
O fato de o agente se envolver em acidente de trâ nsito apó s a ingestã o de bebida alcoó lica,
como se sabe nã o deveria atribuir automaticamente à conduta a pecha de criminosa,
quanto mais se presumindo o dolo como elemento subjetivo, pois existe no ordenamento
jurídico o tipo previsto no art. 302, do CTB, na redaçã o da Lei nº 12.971/2014, que trata do
homicídio culposo cometido na direçã o de veículo automotor na hipó tese em que o agente
está com sua capacidade psicomotora alterada por influência de á lcool ou outra substâ ncia
entorpecente, in verbis:
Art. 302. Praticar homicídio culposo na direçã o de veículo automotor:
Penas - detençã o, de dois a quatro anos, e suspensã o ou proibiçã o de se obter a permissã o
ou a habilitaçã o para dirigir veículo automotor.
(...)
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de á lcool ou de qualquer outra
substâ ncia psicoativa que determine dependência:
Penas - reclusã o, de cinco a oito anos, e suspensã o ou proibiçã o do direito de se obter a
permissã o ou a habilitaçã o para dirigir veículo automotor.
Dessa forma, ao fazermos uma interpretaçã o em conjunto e subordinada ao caput do art.
302, podemos concluir que se o agente pratica homicídio culposo na direçã o de veículo
automotor, estando com a capacidade psicomotora alterada em razã o de á lcool ou outra
droga, estaria incidindo, em regra, no tipo penal do art. 302, § 2º do Có digo de Trâ nsito
Brasileiro, com pena de 2 (dois) a 4 (quatro) anos de reclusã o. Os crimes praticados na
conduçã o de veículo automotor sã o em regra culposos, pois, em tese, o agente nã o anui com
a ocorrência do evento danoso, salvo em situaçõ es excepcionalíssimas e devidamente
demonstradas com provas mínimas de que o sujeito tenha agido com animus dolandi.
A aplicaçã o indiscriminada e automá tica do dolo eventual nos delitos de trâ nsito cometidos
quando o condutor está sob a influência de á lcool vem provocando graves e irrepará veis
injustiças, além de ofensa ao ordenamento jurídico vigente, que já prevê um tipo específico
para essa conduta.
Considerando-se a impossibilidade de se atribuir automaticamente o dolo quando se trata
de homicídio de trâ nsito decorrente de embriaguez, a jurisprudência, atenta, vem
admitindo a desclassificaçã o do delito imputado, de crime doloso para culposo, sendo
importante citar o seguinte julgado do Supremo Tribunal Federal, verbi:
Ementa: PENAL. HABEAS CORPUS. TRIBUNAL DO JÚ RI. PRONÚ NCIA POR HOMICÍDIO
QUALIFICADO A TÍTULO DE DOLO EVENTUAL. DESCLASSIFICAÇÃ O PARA HOMICÍDIO
CULPOSO NA DIREÇÃ O DE VEÍCULO AUTOMOTOR. EMBRIAGUEZ ALCOÓ LICA. ACTIO
LIBERA IN CAUSA. AUSÊ NCIA DE COMPROVAÇÃ O DO
ELEMENTO VOLITIVO. REVALORAÇÃ O DOS FATOS QUE NÃ O SE CONFUNDE COM
REVOLVIMENTO DO CONJUNTO FÁ TICO-PROBATÓ RIO. ORDEM CONCEDIDA. 1. A
classificaçã o do delito como doloso, implicando pena sobremodo onerosa e influindo na
liberdade de ir e vir, mercê de alterar o procedimento da persecuçã o penal em lesã o à
clá usula do due process of law, é reformá vel pela via do habeas corpus. 2. O homicídio na
forma culposa na direçã o de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB) prevalece se a
capitulaçã o atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunçã o ante a
embriaguez alcoó lica eventual. 3. A embriaguez alcoó lica que conduz à responsabilizaçã o a
título doloso é apenas a preordenada, comprovando-se que o agente se embebedou para
praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. 4. In casu, do exame da descriçã o dos
fatos empregada nas razõ es de decidir da sentença e do acó rdã o do TJ/SP, nã o restou
demonstrado que o paciente tenha ingerido bebidas alcoó licas no afã de produzir o
resultado morte. 5. A doutrina clá ssica revela a virtude da sua justeza ao asseverar que "O
anteprojeto Hungria e os modelos em que se inspirava resolviam muito melhor o assunto.
O art. 31 e §§ 1º e 2º estabeleciam: 'A embriaguez pelo á lcool ou substâ ncia de efeitos
aná logos, ainda quando completa, nã o exclui a responsabilidade, salvo quando fortuita ou
involuntá ria. § 1º. Se a embriaguez foi intencionalmente procurada para a prá tica do crime,
o agente é punível a título de dolo; § 2º. Se, embora nã o preordenada, a embriaguez é
voluntá ria e completa e o agente previu e podia prever que, em tal estado, poderia vir a
cometer crime, a pena é aplicá vel a título de culpa, se a este título é punível o fato".
(Guilherme Souza Nucci, Có digo Penal Comentado, 5. Ed. Rev. Atual. E ampl. - Sã o Paulo: RT,
2005, p. 243) 6. A revaloraçã o jurídica dos fatos postos nas instâ ncias inferiores nã o se
confunde com o revolvimento do conjunto fá tico-probató rio. Precedentes: HC 96.820/SP,
rel. Min. Luiz Fux, j. 28/6/2011; RE 99.590, Rel. Min. Alfredo Buzaid, DJ de 6/4/1984; RE
122.011, relator o Ministro Moreira Alves, DJ de 17/8/1990. 7. A Lei nº 11.275/06 nã o se
aplica ao caso em exame, porquanto nã o se revela lex mitior, mas, ao revés, previu causa de
aumento de pena para o crime sub judice e em tese praticado, configurado como homicídio
culposo na direçã o de veículo automotor (art. 302, caput, do CTB). 8. Concessã o da ordem
para desclassificar a conduta imputada ao paciente para homicídio culposo na direçã o de
veículo automotor (art. 302, caput, do CTB), determinando a remessa dos autos à Vara
Criminal da Comarca de Guariba/SP ( HC 107.801/SP, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 13/10/2011)
(destacamos).
Para que se alcance a Justiça em um Estado Democrá tico de Direito, a puniçã o ao condutor
deve seguir a legislaçã o aplicá vel, que, no caso, expressamente prevê que o homicídio
provocado por condutor de veículo com capacidade psicomotora alterada em virtude da
ingestã o de bebida alcoó lica segue a modalidade culposa, art. 302, § 2º do CTB.
Sendo assim, nã o se pode aceitar classificaçã o do crime de trâ nsito como culposo,
imputando prá tica do artigo 121 do CP, sob a frá gil afirmaçã o de que há a consciência e
aceitaçã o do resultado pelo agente que comete o delito sob a influência de bebida alcoó lica,
quando o ordenamento jurídico já admite a plena incidência de um tipo específico quando
presentes esses elementares.
Portanto, fica claro a impossibilidade de se configurar o dolo eventual pela simples
ingestã o de bebida alcoó lica em níveis superiores ao permitido pela legislaçã o, senã o
vejamos:
PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃ O CRIME. DELITO DE TRÂ NSITO. HOMICÍDIO
CULPOSO NA CONDUÇÃ O DE VEÍCULO AUTOMOTOR, LESÃ O CORPORAL CULPOSA E
EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CONDENAÇÃ O. 1. ALEGAÇÃ O DE PRESCRIÇÃ O. OCORRÊ NCIA.
DELITO DE EMBRIAGUES AO VOLANTE. Tendo em vista o trâ nsito em julgado da sentença
condenató ria para a acusaçã o, a prescriçã o regula-se pela pena aplicada, na forma do
previsto no art. 110, § 1º do CP e, considerando-se, ainda, o quantum da censura penal, seis
meses de detençã o, a prescriçã o ocorre, em dois anos, segundo dicçã o do inciso VI do art.
109, CP, estes contados da data do recebimento da denú ncia (19/11/2008) e a publicaçã o
da sentença (10/06/2014), vendo-se, assim, a curto, extrapolado o lapso prescricional. 2.
MÉ RITO. PRETENSÃ O EXCULPATÓ RIA POR INSUFICIÊ NCIA DE PROVAS EM RELAÇÃ O AOS
DELITOS DE HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃ O CORPORAL CULPOSA NA CONDUÇÃ O DE
VEÍCULO AUTOMOTOR. IMPROVIMENTO. PROVA TESTEMUNHAL FIRME E COERENTE A
IMPUTAR A RESPONSABILIDADE, PELO SINISTRO, AO RÉ U. COMPROVAÇÃ O DE QUE
CONDUZIA VEÍCULO AUTOMOTOR EMBRIAGADO. A conjugaçã o da embriaguez com a
direçã o de veículo automotor, reconhecidamente, é a receita para o desastre. O
comprovado estado de ebriez etílica do agente faz nascer a presunçã o-convicçã o de que
nã o possuía condiçõ es mínimas de dirigir um veículo automotor. Sua coordenaçã o motora
e atençã o estavam alteradas, os reflexos comprometidos e assim impotente para controlar
seus impulsos e reaçõ es, capaz, com tal atitude, de por em risco a incolumidade física de
qualquer um que tivesse a infelicidade de compartilhar, com ele, o trajeto ou a via, como de
fato ocorreu. Eis, em sua essência, o crime culposo, configurado pela conduta voluntá ria
(açã o ou omissã o) produtora de resultado antijurídico nã o querido, mas previsível, e
excepcionalmente previsto, que podia, com a devida cautela, ser evitado . 3. RECURSO
CONHECIDO E, PARCIALMENTE, PROVIDO. SENTENÇA RETIFICADA (TJ-CE - APL:
00188992620088060001 CE 0018899- 26.2008.8.06.0001, Relator: HAROLDO CORREIA
DE OLIVEIRA MAXIMO, 2a Câ mara Criminal, Data de Publicaçã o: 03/06/2015)
(destacamos).
Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚ RI. HOMICÍDIO NO TRÂ NSITO.
DOLO EVENTUAL. EMBRIAGUEZ. EXCESSO DE VELOCIDADE. PRONÚ NCIA.
DESCLASSIFICAÇÂ O. 1. Contexto probató rio que nã o apresenta indícios suficientes de
animus necandi. A instruçã o nã o deixou suficientemente provado o elemento subjetivo - ter
o agente assumido o risco de atentar contra a vida da vítima - o que autorizaria a
pronú ncia. 2. O dolo eventual em crimes de trâ nsito, embora admissível, é sempre exceçã o.
Como o dolo eventual exige uma decisã o contrá ria ao bem jurídico, os dados fá ticos
evidenciadores dessa decisã o devem ser mais visíveis e concretos. Por outras palavras, os
"indícios suficientes" de autoria de um crime contra a vida por dolo eventual - notadamente
no trâ nsito - devem estar num grau maior do que normalmente é exigível para o dolo
direto. Mais, a aná lise da prova deve se pautar pelos elementos objetivos, visíveis, da
conduta do agente. Nã o se pode olvidar que os jurados, juízes de fato, vã o se pronunciar
acerca de um tema que nem mesmo os juristas chegam a um consenso. 3. Nesse limiar de
incerteza quanto à ocorrência de crime que leva a competência para o Tribunal do Jú ri,
impõ e-se a desclassificaçã o, nos termos do art. 74, § 1º, do CPP. RECURSO PROVIDO.
(Recurso em Sentido Estrito Nº (00) 00000-0000, Primeira Câ mara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Julio Cesar Finger, Julgado em 06/04/2016) (destacamos).
Sendo assim, o que se percebe em casos deste jaez é a utilizaçã o indiscriminada da figura
do dolo eventual, distorcida dos conceitos jurídicos estabelecidos, certamente porque se
busca punir de forma mais rigorosa fatos de gravidade tã o elevada, em que se mostram
presentes indícios da mistura direçã o x ingestã o de bebida alcoó lica. Assim, compreensível,
de tal modo, que o agente tenha noçã o de que aquela conduta poderia gerar o resultado,
mas de forma alguma o deseja ou crê e aceita que ocorrerá .
Ementa: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. TRIBUNAL DO JÚ RI. HOMICÍDIO NO TRÂ NSITO.
DOLO EVENTUAL. EMBRIAGUEZ. EXCESSO DE VELOCIDADE. PRONÚ NCIA.
DESCLASSIFICAÇÂ O. 1. Contexto probató rio que nã o apresenta indícios suficientes de
animus necandi. A instruçã o nã o deixou suficientemente provado o elemento subjetivo - ter
o agente assumido o risco de atentar contra a vida da vítima - o que autorizaria a
pronú ncia. 2. O dolo eventual em crimes de trâ nsito, embora admissível, é sempre exceçã o.
Como o dolo eventual exige uma decisã o contrá ria ao bem jurídico, os dados fá ticos
evidenciadores dessa decisã o devem ser mais visíveis e concretos. Por outras palavras, os
"indícios suficientes" de autoria de um crime contra a vida por dolo eventual - notadamente
no trâ nsito - devem estar num grau maior do que normalmente é exigível para o dolo
direto. Mais, a aná lise da prova deve se pautar pelos elementos objetivos, visíveis, da
conduta do agente. Nã o se pode olvidar que os jurados, juízes de fato, vã o se pronunciar
acerca de um tema que nem mesmo os juristas chegam a um consenso. 3. Nesse limiar de
incerteza quanto à ocorrência de crime que leva a competência para o Tribunal do Jú ri,
impõ e-se a desclassificaçã o, nos termos do art. 74, § 1º, do CPP. RECURSO PROVIDO.
(Recurso em Sentido Estrito Nº (00) 00000-0000, Primeira Câ mara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Julio Cesar Finger, Julgado em 06/04/2016) (destacamos).
Sendo assim, é evidente que o acusado, conforme a narrativa ministerial, nã o anuiu com o
resultado morte. Repita-se: a circunstâ ncia de ter o paciente ingerido bebida alcoó lica nã o é
prova suficiente de que o mesmo se encontrava embriagado a ponto de aceitar o risco de
causar a morte.
4. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, respeitosamente, requer a desclassificaçã o da imputaçã o ministerial,
haja vista que:
a. Nã o se demonstrou no caso concreto a existência do tipo penal doloso, devendo o
enquadramento correto ser feito na forma culposa, devendo o Juiz competente, na forma do
art. 419, CPP, aplicar o regramento legal atinente ao crime culposo;
b. Nã o sendo o caso de Vossa Excelência aplicar o entendimento de desclassificaçã o, vem
requerer a produçã o probató ria de todos os meios admitidos em direito, notadamente a
prova testemunhal com o rol abaixo descrito;
c. Por fim, seja ouvido o ilustre representante do Ministério Pú blico,
Rol de Testemunhas
1. XXXXXXXXX
2. XXXXXXXXX
3. XXXXXXXXX
4. XXXXXXXXX
5. XXXXXXXXX
6. XXXXXXXXX
7. XXXXXXXXX
8. XXXXXXXXX
Nestes termos, pede-se deferimento
Sã o Paulo, 20/09/21
Assinatura do advogado
OAB

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