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ISGEGM – MARRACUENE-MAPUTO

MESTRADO EM CIÊNCIAS JURÍDICO GERAL

Resolução do exame escrito de direito processual penal

Nome da Estudante: Eulália Benedita Estevão Boa

R: Antes demais, importa refrir que a hipótese em causa nos remete à matéria de
Direito, concretamente do Direito Processual Penal sem descurar a máteria de Direito
Penal que também está assente na hipótese tal como farei menção na resolução que se
segue. Igualmente, Há que frizar que, na resolução da hipótese, far-se-á análise ou
comentários dos factos juridicamente relavantes.

O direito à liberdade de reunião e de manifestação é um direito fundamental


constitucionalmente consagrado que assiste a todos os cidadãos, tal como pode se
alcançar do disposto no artigo 51 da Constituição da República de Moçambique (CRM)
aprovada pela Lei n.º 1/2018, de 12 de Junho, onde a nível infra-constitucional tal
direito se acha regulamentado pela Lei n.º 9/91, de 11 de Julho, alterada pela Lei n.º
7/2001 de 7 de Julho, onde nos termos do artigo 3º, n.º 1, determina que, “todos os
cidadãos podem, pacificamente e livremente, exercer o seu direito de reunião e de
manifestação, sem qualquer autorização prevista pela lei”, daí que, no caso reportado
na hipótese, a marcha em homenagem ao músico Azagaia é legal e tem a cobertura da
lei fundamental e da lei ordinária, pelo que, a actução da polícia em impedir a marcha é
ilelegal.

Aliás, a polícia limitou-se em proibir a marcha dos manifestantes sem no entanto


apresentar a devida fundamentação o que o artigo 11º da Lei n.º 9/91, de 11 de Julho,
que prevê especificamente o dever de fundamentar toda a decisão que proíbe a
manifestação e o dever de notificar aos promotores d manifestação no prazo de 02 dias a
contar da recepção da comunicação. O que não se verificou para o caso em concreto.

Ainda quanto ao comportamento da polícia, vale ressalvar que, a mesma recorrer ao uso
de chambocos, cães de raça e gás lacrimogênio, para além de violar o direito
fundamental de manifestar, a polícia cometeu os crimes de ofensas corporais voluntárias
simples por chamboquear cidadãos manifestantes e de buso de cargo ou função por ter

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usado das suas funções ilegalmente, nos termos do art.º 171 conjugado com o n.º 1, do
art.º 431, ambos do CP, respectivamente.

Há que ressalvar que, relativamente ao polícia que agiu voluntariamente e que deu uma
cacetada no braço esquerdo ao João que teve ser submetido a uma cirurgia que viu o
membro ser retirado, o mesmo (polícia) cometeu o crime de ofensas corporais
voluntárias de que resulta doença ou impossibilidade temporária para o trabalho,
previsto e punido nos termos do n.º 2, do artigo 172, do Código Penal ora em vigor,
doravante designado por CP..

Dos crimes acima descritos são de natureza pública e o Ministério Público não depende
da queixa bastando para tal tomar conhecimento para exercer a acção penal tal como
pode se depreender do artigo 52 e ss, do Código de Processo Penal – CPP., com a
excepção do crime de ofensas corporais voluntárias simples (que se mostra patente para
os demais manifestantes que foram chamboqueados que não registam graves ofensas
corporais) que depende da quaixa nos termos do n.º 2, do artigo 171, do CP.

Ora, em face do crime cometido pela polícia contra o João, é lícito o mesmo recorrer à
justiça para a reposição dos seus direitos nos termos do artigo 69 e 70 ambos da CRM,
daí que, procede a ideia do advogado do João de deduzir a acusação contra o polícia
visado e pedir uma indemnização no valor de 3.000.000,00MT título de
responsabilização civil do Estado nos termos do n.º 2, do art. 58 da CRM, porém, já não
procede a ideia do advogado do João de deduzir a acusação contra o Estado (Comando
Geral da PRM) porque o Estado-Administração, não pode ser responsabilizado
criminalmente, conforme resulta da interpretação do art. 30 do CP

Ou seja, uma vez que o Comando Geral da Polícia faz parte do Estado, o advogado do
João não devia ter deduzido a acusação contra o Comando Geral da Polícia porque este,
tal como referido acima, não responde criminalmente mas sim responde civilmente nos
termos do artigo 58 da CRM, pelo que, o advogado deveria ter deduzido a sua acusação
apenas contra o Polícia visado, contudo, no pagamento da indemnização, embora o
Comando seja inimputável criminalmente, é chamado para arcar com o pagamento da
indemnização nos termos do n.º 2, do artigo 58 da CRM., pelo que, procede o pedido de
indemnização no valor de 3.000.000,00MT deduzido pelo advogado do João contra o
Estado e o Polícia visado.

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Há que esclarecer que, uma vez que o advogado do João deduzir a acusação, significa
que, primeiramente houve a instyrução do processo com vista as finalidades previstas
no artigo 307, do CPP, e uma vez finalizada, e havendo elementos de provas suficientes
para acusação, notifica-se o João, na qualidade de assistente, art.º 76 e ss do CPP, a
deduzir a sua acusação.

Quanto a alegação da advogada do Comando Geral da PRM que invoca a


incompetência do Tribunal alegando que o valor da causa é superar ao valor da alçada
do Tribunal do Distrito, não tem razão de ser, ou seja, tal alegação não procede, porque
nos processos penais a competência do Tribunal não é determinada através do valor da
alçada mas sim através da moldura penal e em razão do território e, por força do
princípio da adesao previsto no artigo 80 do CPP, é admissível que o pedido cívil seja
formulado no próprio processo crime em causa.

Aliás, vale ressalvar que, a quesaão de alçadas só tem relevância quando estamos
perante acções cíveis, o que não é o caso, visto que, estamos em sede do processo
criminal e tal como nos referimos atrás, as molduras penais dos crimes de que constam
da acusação são da competência do Tribunal Distrital.

No que toca à forma de processo, em que a advogada alega que devia ser sumaríssima e
não processo comum, devido a natuerza do crime, há que dizer que os crimes
praticados pela polícia tem natureza pública, com a ressalva do crime de ofensas
corporais voluntárias simples que tem a natura de crime semi-pública, tal como supra
referido, por um lado, por outro, não é a natureza do crime que determina a forma de
processo, mas sim a moldura penal, o tipo de crime cometido e as condições em que o
mesmo tiver sido cometido. Mas no caso em apreço aos crimes cometidos sobretudo
contra o João não cabe processo especial, devendo mesmo seguir processo comum. E,
tal como determina o artigo 431 do CPP, só seguem a forma do processo especial
sumaríssimo todos os casos em que o crime em causa é punível por pena de prisão não
superior a um amo, o que não é o caso.

No que tange as atitudes dos Oficiais do SERNIC de ordenar a detenção ao Jovem


Djokonhia fora de flagrante delito, há que dizer que os mesmos agiram à margem da lei
visto que, fora de flagrante delito na ordem jurídica moçambicana só com um mandado
judicial emitido por um Juiz Direito pode haver detenção fora de flagrante delito, ou
seja, a autoridade judicial é a única autoridade com competência para ordenar a

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detenção conforme determina o art.º 300, do CPP. Daí que, uma vez que a ordem de
detenção dos Oficiais do SERNIC é ilegal, significa que, ao mandar deter o Jovem
Djokonhia os mesmos cometeram o crime de prisao ilegal previsto e punido nos termos
do artigo 415, do CP.

Face a informação constatada de que o Tio de joão é Juiz da causa, significa que
estamos perante um impedimento e para se garantir a imparcialidade da decisão, a
advogada Maria ou outros sujeitos processuais devem requerer a declaração de
impedimento do Juiz conforme reza a al. c), do n.º 1, do artigo 43, conjugado com o n.º
2, do art.º 45, ambos do CPP, respectivamente.

Quanto a novos factos da instrução que dão conta da existência da prova assente de que
o polícia agiu involuntariamente, haverá alteração substancial dos factos descritos na
acusação, conforme o art.º 404, do CPP, visto que, caso se prove que o polícia alvejou o
João de forma involuntária, o mesmo fica isento do crime de abuso de cargo ou funções
e, consequentemente passaria a ser acusado do crime de ofensas corporais involuntárias
nos termos do artigo 184 do CP que prevê a moldura penal até seis meses de prisão e
multa correspondente, o que, muda substancialmente toda a acusação até deduzida
contra o polícia.

Nota que, com esta nova informação que a advogada ficou a saber já na sede do
julgamento, uma vez provado que o polícia agiu de forma involuntária, passa a fazer
todo sentido agora, a ideia da advogada segundo a qual o processo devia seguir a forma
de processo especial sumaríssimo nos termos do artigo 431 do CPP.

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