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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE

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TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

PRIMEIRA SECÇÃO

Processo n.º 62/2016-1.ª

ACÓRDÃO N.º 38/2017

Acordam, em conferência, na Primeira Secção do Tribunal


Administrativo:

FRANCISCO JOÃO MANDAZE (recorrente), melhor identificado nos


autos do processo à margem indicado, veio, perante esta instância da
jurisdição administrativa, interpor recurso contencioso de declaração
de nulidade do despacho exarado pela Ministra da Justiça (recorrido)
que lhe aplicou a pena de demissão do aparelho do Estado, louvando-
se nos factos e fundamentos seguintes:

O recorrente é funcionário do Estado com a categoria de guarda dos


Serviços Correccionais, integrado nos quadros de pessoal do
Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo que vinha
desempenhando, desde a sua nomeação, as suas actividades com zelo,
diligência, dedicação e produtividade, sendo conhecido como
funcionário exemplar, pontual, respeitoso para com os colegas e os
superiores hierárquicos;
No decorrer do tempo começou a ter problemas de saúde, padecendo
de uma doença que o dificultava no cumprimento dos seus deveres de
pontualidade e assiduidade, tendo recorrido a diversos hospitais
públicos e privados e outros de medicina convencional, porém sem
sucessos;

Seus pais, residentes no Distrito da Mocímboa da Praia, na Província


de Cabo-Delgado, aconselharam-no a recorrer a determinado médico
tradicional residente na Província de Maputo tendo este, depois de o
diagnosticar, lhe aconselhado a deslocar-se à Província de Cabo-
Delgado onde ficaria internado no seu estabelecimento, a fim de
receber tratamento com algum acompanhamento;

Porque o recorrente não tinha outra escolha, teve que seguir esse
conselho, tendo permanecido no referido estabelecimento até que o
seu estado de saúde melhorasse, facto que aconteceu e retornou a
Maputo para retomar as suas actividades, conforme demonstra o
documento 1 em anexo;

Entretanto, passados 5 meses da data em que retomou as suas


actividades, foi surpreendido com uma Nota da Culpa que lhe foi
notificado no dia 6 de Janeiro de 2014, acusado de ter faltado à
assiduidade, tendo sido concedido o prazo de 5 dias para exercer o
contraditório que prontamente respondeu;

Permaneceu, posteriormente, durante todo o ano de 2014 sem


qualquer informação do desfecho do processo disciplinar, realizando
as suas actividades normalmente, facto que o induziu a pensar que a
sua justificação fora acolhida e que o processo havia sido arquivado;
contra todas as expectativas, no dia 6 de Janeiro de 2015, ou seja um
ano depois do início do processo disciplinar, foi notificado do
despacho da Ministra da Justiça que lhe aplicou a pena de demissão.

De direito

A nota de culpa foi elaborada num papel A4 sem o timbre e carimbo da


instituição que pudessem conferir a autenticidade como documento

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oficial. A mesma, foi assinada pelo instrutor do processo, não
constando o acto administrativo dessa nomeação, dando a perceber
que a iniciativa e decisão da instrução do mesmo partiu do instrutor
“enquanto cidadão de nome Jorge Lúcio Manjate”;

A mesma nota de acusação descreve a infracção aparentemente


cometida de falta de assiduidade, porém não apresenta de forma clara
quais as sanções aplicáveis, mas sim os preceitos legais sem expô-las e
interpretá-los para que sejam compreendidas pelo arguido e pudesse
exercer, efectivamente, o seu direito de defesa;

Deste modo, a nota de culpa enferma do vício de forma, uma vez que
não apresenta as formalidades impostas no n.º 2 do artigo 166 do
Regulamento do Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado
(REGFAE), conjugado com o disposto no artigo 120 da Lei n.º 14/2011,
de 10 de Agosto, nos termos do qual “da nota de acusação deve constar,
obrigatoriamente e de forma clara, a infracção ou infracções de que o
arguido é acusado, a data e local em que foram praticadas e outras
circunstâncias pertinentes, bem como as circunstâncias atenuantes e
agravantes se as houver e ainda a referência aos preceitos legais
infringidos e às sanções aplicáveis”, bem como as indicações
obrigatórias exigidas no artigo 120 da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto;

Também, não apresenta as circunstâncias atenuantes nem agravantes,


no caso em apreço existem as atenuantes, tais como: confissão
espontânea, o comportamento exemplar anterior, a falta de intenção
dolosa, previstas nas alíneas a), c) e d), respectivamente, do n.º 1 do
artigo 145 do REGFAE;

Perante estes factos, e dada a insuficiência dos requisitos da nota de


culpa em sede do processo disciplinar, houve violação do direito de
defesa do arguido o que consubstancia uma nulidade insuprível
previsto no n.º 1 do artigo 170 do REGFAE;

Por outro lado, houve violação dos prazos para a conclusão do


processo disciplinar, facto que é cominada com a caducidade da
prerrogativa de tomar a decisão, considerando o seu início no dia 6 de

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Janeiro de 2014, data da notificação da Nota de Culpa, e o término a 6
de Janeiro de 2015, com a notificação do despacho punitivo,
decorrendo o período de um ano, em clara violação do disposto nos
artigos 156, n.º 1 e 161, n.º 1, ambos do REGFAE, bem como, do disposto
no artigo 64 da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, conjugado com o artigo
11 do “Decreto n.º 30/2001, de 15 de Outubro”;

Ademais, o despacho punitivo, proferido pela Ministra da Justiça,


enferma do vício de falta de fundamentação, pois apresenta de forma
sumária os factos e arrola, sem qualquer interpretação, alguns
preceitos legais, em violação do dever imposto por lei, nos termos do
disposto no n.º 1 do artigo 122 da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto,
segundo o qual o dever de fundamentação consiste na exposição
expressa das razões de facto e de direito, que não se resumem numa
mera enumeração de preceitos legais, mas sim na sua interpretação e
demonstração da concordância e coerência entre as mesmas razões; o
n.º 2 do mesmo dispositivo estabelece que é equiparada à falta de
fundamentação a adopção de fundamentos que por insuficiência não
esclarecem concretamente a exacta motivação do acto.

Termina, pedindo a declaração de nulidade e de nenhum efeito o


despacho punitivo, por, sinteticamente:
 Enfermar do vício de nulidade insuprível, nos termos do nº 1 do
artigo 170 do REGFAE, conjugado com o n.º 1 do artigo 35 da Lei
n.º 7/2014,de 28 de Fevereiro;
 Enfermar do vício de falta de fundamentação, nos termos do n.º 1
do artigo 35 da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, conjugado
como disposto no n.º 1 do artigo 121, o n.º 2 do artigo 122 e alínea
b) do n.º 2 do artigo 129, todos da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto;
 Carecer em absoluto de forma legal, nos termos do n.º 1 do artigo
156 do REGFAE, conjugado com a alínea g) do n.º 1 do artigo 129
da Lei n.º 14/2011,de 10 de Agosto;
 Enfermar do vício de violação da lei, nos termos do n.º 1 do artigo
35 da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro; e
 A decisão ter sido tomada depois de a prerrogativa ter caducado.

Juntou os documentos constantes de folhas 13 a 18 dos autos.

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Regularmente citada, a entidade recorrida, agora Ministro da Justiça,
Assuntos Constitucionais e Religiosos, respondeu por excepção e por
impugnação.

Excepcionando, suscitou a questão da ilegitimidade, por falta de


poderes bastantes do Técnico Jurídico que subscreveu as alegações do
recurso, para representar o recorrente, nos termos do artigo 26.º do
Código de Processo Civil, a contrario sensu.

Com efeito, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 37.º do referido


código, os mandatários judiciais só podem confessar a acção, transigir
sobre o seu objecto e desistir do pedido ou da instância, quando
estejam munidos de procuração que, individualizando a causa, os
autorize expressamente a praticar qualquer desses actos.

No caso concreto, o requerimento foi exarado e devidamente assinado


pelo Técnico Jurídico, sem no entanto apresentar nenhuma procuração
que lhe confere poderes bastantes para o efeito, constituindo, deste
modo, violação às regras sobre a constituição de mandatário, nos
termos do artigo 35.º e seguintes do CPC.

Impugnando, referiu que o recorrente era funcionário do


Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo, exercendo as
funções de Guarda Penitenciário, tendo sido demitido do Aparelho do
Estado, em virtude de ter cometido 84 faltas injustificadas no ano de
2013, conforme consta dos autos do processo disciplinar;

No âmbito do processo disciplinar o então arguido, ora recorrente,


confirmou o cometimento da infracção de que vinha acusado (fls. 8, 14
e 15), tendo, por isso, sido sancionado com a pena de demissão, por
despacho de 30 de Outubro de 2014, da Ministra da Justiça;

Quanto à alegada extemporaneidade da decisão não procede, pois não


foram preteridos os prazos previstos nos artigos 102 e 111, ambos do
EGFAE, uma vez que tais prazos referem-se à instrução do processo
disciplinar. “Com efeito, o dirigente (Director do Estabelecimento
Penitenciário Provincial de Maputo) que mandou instaurar o referido

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processo, não tem competência para aplicar a pena proposta
(Demissão), tendo remetido ao seu superior hierárquico, o Director
Geral do SERNAP, competente para a submissão ao órgão de tutela (a
recorrida), que outorgou o Despacho a 30 de Outubro de 2014”;

Nos termos do disposto no n.º 4 do artigo 111 do Estatuto Geral dos


Funcionários e Agentes do Estado, se a sanção aplicável não estiver
dentro das competências do dirigente que o mandou instaurar, este
remete-o ao dirigente competente pela via hierárquica. Logicamente
que os preceitos estatutários que estabelecem 15 dias para o instrutor
concluir o processo e 15 dias para o dirigente decidir, apenas se referem
à decisão do processo quando o órgão que mandou instaurar for
competente para decidir;

No caso sub judice a competência para aplicar a pena de demissão era


da Ministra da Justiça e o legislador não estabelece nenhum prazo para
a emissão do despacho punitivo, sendo aplicável os prazos gerais da
decisão;

Ademais, o incumprimento do prazo da instrução do processo


disciplinar, desde que não seja por prescrição, não acarreta nenhuma
invalidade do processo disciplinar, muito menos dá lugar à nulidade
insuprível, porque a única em processo disciplinar é o que decorre do
disposto no n.º 1 do artigo 108 do EGFAE;

Quanto às alegadas irregularidades da Nota de Acusação, importa


esclarecer que as faltas foram cometidas interpoladamente desde o
mês de Janeiro até Agosto do ano de 2013 e a Nota de acusação contém
a data, o local onde a infracção foi cometida, os preceitos legais
infringidos e a sanção aplicável; o instrutor menciona de forma
expressa a inexistência de circunstâncias agravantes e atenuantes,
contudo, nos pareceres técnicos e no despacho punitivo consta de
forma clara a fixação de circunstâncias atenuantes;

No caso em concreto, o recorrente recebeu a nota de acusação, e


respondeu o artigo da acusação pelo conhecimento que tinha;

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Relativamente à alegada falta de realização de diligências para a
produção de provas, nomeadamente o inquérito, audiência de
testemunhas e exames, em nenhum momento o arguido requereu tais
diligências em sede de processo disciplinar; e para o SERNAP não havia
dúvidas de que cometera 84 faltas, consubstanciando a falta de
assiduidade, nos termos da alínea f) do artigo 88 do EGFAE. Ora,
competia ao recorrente o ónus probandi de não ter cometido tais faltas,
pois encontra-se registado na folha de efectividade;

Relativamente à alegada falta de fundamentação do despacho punitivo,


observando o mesmo despacho constata-se que contém os
fundamentos de facto e de direito;

O recorrente não justificou as faltas legalmente, pois não apresenta


nenhum requerimento de pedido de licença por doença, nos termos
previstos no artigo 97 do EGFAE;

Quanto aos demais factos arrolados não encontram nenhum


fundamento, razão pela qual não carecem de impugnação especificada,
observando, ainda, que foram tomadas, na decisão final, circunstâncias
atenuantes, daí a pena aplicada de demissão no lugar de expulsão que
caberia, pelas 84 faltas cometidas, ao abrigo do disposto no n.º 2 do
artigo 90 do EGFAE.

Termina, requerendo a improcedência do recurso.

Notificadas as partes para apresentarem alegações facultativas, ambos


mantiveram-se no silêncio, embora o recorrente tenha requerido a
junção de Procuração Forense para sanar qualquer irregularidade nesse
sentido, o que foi deferido.

Das diligências de produção de prova, foi requisitado o processo


disciplinar que foi enviado pela entidade recorrida e mostra-se
apensado aos presentes autos.

Em sede de vista, o Digníssimo Magistrado do Ministério Público junto


desta instância promoveu a improcedência do presente recurso, por

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falta de fundamento legal, com base nos argumentos emitidos no seu
parecer que consta de folhas 65 e 66 dos autos que, para todos os
efeitos legais, são dados por integramente reproduzidos.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir

O impetrante vem impugnar o despacho da Ministra da Justiça, datado


de 30 de Outubro de 2014 que lhe aplica a pena de demissão, alegando,
em síntese, que o processo disciplinar do qual resultou a decisão
apresenta ilegalidades, dentre as quais, o vício de nulidade insuprível, a
violação do prazo da instrução e conclusão do processo disciplinar, a
falta de fundamentação de facto e de direito do acto administrativo
sancionatório, e o vício de forma do processo disciplinar.

Compulsados os presentes autos, bem como do processo disciplinar,


constata-se que as fases de elaboração do processo disciplinar foram
cumpridas, pois o mesmo iniciou com um Auto de Notícia por
Abandono de Lugar que foi elaborado na sua instituição e assinado por
três testemunhas dando conta das faltas injustificadas ao serviço e que
naquele dia 11 de Setembro de 2013 totalizavam 84 faltas; Desse auto,
mostra-se patente um despacho exarado que se refere à existência de
matéria para procedimento disciplinar, tendo sido nomeado o
instrutor para esse fim. O referido documento foi elaborado em papel
com o cabeçário, conforme abaixo se ilustra:

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
SERVIÇO NACIONAL PENITENCIÁRIO
ESTABELECIMENTO PENITENCIÁRIO CENTRAL DE MAPUTO
DEPARTAMENTO DE RECURSOS HUMANOS”

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O título do documento expresso é: “AUTO DE NOTÍCIAS POR
ABANDONO DE LUGAR”

De seguida foram praticados os actos de comunicação do início da


instrução do processo disciplinar, elaborado pelo instrutor do processo
e dirigida ao Director Adjunto da Cadeia Central de Maputo, Auto de
declaração do Chefe da Secção de Recursos Humanos que confirmou
as datas de ausências, a Notificação e consequente audição do arguido,
pedido de antecedentes disciplinares, a nota de acusação, a resposta à
nota de acusação, o relatório final e a conclusão do processo. Com a
excepção, justificável, o Auto de audição do arguido, a nota de
acusação e respectiva resposta, as juntadas e o relatório final elaborado
pelo instrutor que não foram feitos em papel timbrado, todos os outros
actos foram-no em papel timbrado.

Da Nota de Acusação consta de forma suficientemente clara a


infracção do qual o arguido foi acusado, as datas e o local, a referência
ao preceito legal infringido, a sanção aplicável e o prazo de 5 dias que
dispunha para apresentar a sua defesa; o arguido apresentou a sua
defesa demonstrando claramente conhecer do que era acusado, daí
que os elementos que alega estarem omissos não contribuíram para
uma resposta deficiente, pelo contrário, na tomada de decisão o
dirigente aplicou uma pena inferior a que caberia a infracção, dadas as
atenuantes apresentadas no relatório final.

Improcede, deste modo, a questão de nulidade insuprível do processo


disciplinar, bem como o alegado vício de formalidades no processo
levantadas pelo impetrante, nesta sede.

Relativamente à fundamentação da decisão, o despacho que consta de


folhas 15 dos autos é prova inequívoca de que ao recorrente não cabe
razão. O referido despacho apresenta elementos de facto que foram
dados como provados na conduta infraccionária do funcionário e as
respectivas consequências legais que é a expulsão, porém, atenuada
para a demissão, pelos fundamentos de direito expressamente
apresentados, considerada, particularmente, tanto a confissão
espontânea da infracção, na medida em que o arguido narrou de livre e

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espontânea vontade, todos os acontecimentos que estiveram na origem
da instauração do processo disciplinar, como o comportamento
exemplar anterior, por nunca ter respondido em processo disciplinar,
pelo contrário, ter recebido dois elogios anteriores por conduta
irrepreensível. Daí que não procede este argumento.

Quanto à violação dos prazos de instrução do processo disciplinar


constata-se, dos autos do processo administrativo, que o instrutor
apresentou motivo justificativo que o levou ao incumprimento do
prazo de instrução, na medida em que teve de fazer diligências para a
localização do arguido, conforme consta do relatório final, facto que
encontra suporte legal nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 109 do
Estatuto Geral dos Funcionários e Agentes do Estado (EGFAE),
aprovado pela Lei n.º 14/2009, de 17 de Março.

No que se refere à violação do prazo de conclusão, constata-se que o


dirigente que mandou instaurar o processo, designadamente, o
Director do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo, que
devia decidir no prazo de 15 dias, nos termos do disposto no n.º 2 do
artigo 111 do EGFAE, fê-lo, remetendo o processo ao dirigente com
competência para tomar a medida de expulsão, pela via hierárquica,
conforme vem estabelecido no n.º 4 do mesmo preceito.

A entidade competente para aplicar a sanção, proferiu o despacho de


demissão aproximadamente 8 (oito) meses após a conclusão do
processo, porém, dos autos do referido processo não se descortina a
data concreta que o processo deu entrada no gabinete da Ministra da
Justiça. Daí que, para além da omissão da cominação legal que leve à
caducidade do processo, tal como acontece nos termos do n.º 2 do
artigo 162 do Regulamento do EGFAE, neste caso nem pela integração
de lacuna se pode aplicar. Contudo, este facto (a demora de decisão de
processo disciplinar que tem a natureza sumária), não deve passar sem
censura do Tribunal, pois não faz sentido que um processo instaurado
no Município da Matola, Província de Maputo, leve muito tempo a ser
decidido por um dirigente que tem a residência habitual e profissional
na vizinha Cidade de Maputo.

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Em sede do processo disciplinar ficou provado que o arguido, ora
recorrente, cometeu 84 faltas injustificadas ao serviço, conduta que
caracteriza a violação dos deveres gerais e especiais do funcionário do
Estado, previstos nos artigos 38, n.ºs 1 e 5 e, 39, n.ºs 1, 4 e 23, ambos do
EGFAE, cuja cominação é a expulsão do aparelho do estado, nos
termos do disposto na alínea f) do artigo 88 do mesmo Estatuto;
porém, foi-lhe aplicada a pena de Demissão, menos gravosa, pelas
atenuantes apresentadas, sendo uma delas e a mais forte, a confissão
espontânea do arguido, não havendo nenhum fundamento para a
invalidação do acto administrativo.

Por todo o exposto, acordam os Juízes Conselheiros desta Secção do


Contencioso Administrativo em negar provimento ao recurso
interposto por Francisco João Mandaze, por falta de fundamento legal.

Custas a pagar pelo recorrente, que se fixam em 2.500,00MT (dois mil


e quinhentos meticais).

Registe-se e notifique-se, com a menção da possibilidade de


interposição de recurso de apelação, junto do Plenário do Tribunal
Administrativo, no prazo de 30 (trinta) dias, ao abrigo do disposto nos
artigos 163 e seguintes da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro, conjugado
com o disposto no artigo 26, n.º 1, alínea f), da Lei n.º 24/2013, de 1 de
Novembro, republicada pela Lei n.º 7/2015, de 6 de Outubro.

Maputo, 9 de Maio de 2017.

José Luís Maria Pereira Cardoso – Relator

David Zefanias Sibambo

José Maurício Manteiga

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