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PROCEDIMENTO NOS

CRIMES CONTRA A
HONRA
Direito Processual Penal II
Professora: Camila Vizoto
PROCEDIMENTO NOS CRIMES CONTRA A HONRA
• ■ Espécie de ação penal nos crimes contra a honra

• O art. 145 do Código Penal estabelece as modalidades de ação penal para


apuração dos crimes contra honra, sendo imprescindível a análise desse
dispositivo, na medida em que o procedimento varia de acordo com a espécie de
ação penal prevista (pública ou privada).

• Art. 145. Nos crimes previstos nesse Capítulo somente se procede mediante queixa,
salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
• Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do n.
I do art. 141, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo
artigo, bem como no § 3º do art. 140 deste Código.
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• Pode-se notar pela leitura do dispositivo que existe uma regra, seguida de várias
exceções.

• A regra é de que a ação penal é privada devendo ser proposta por meio de queixa-
crime, nos crimes de calúnia, difamação e injúria.

• A queixa deve ser proposta dentro do prazo decadencial de 6 meses, contados da


data em que o ofendido descobre a autoria do delito, sendo certo que, na
procuração outorgada para a propositura da ação penal, deverá constar
expressamente o nome do querelado, bem como menção específica ao fato
criminoso, nos termos do art. 44 do Código de Processo Penal.
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• Vejamos, agora, as exceções:

• a) Se a ofensa for contra o Presidente da República ou chefe de governo


estrangeiro, a ação será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça
(art. 145, parágrafo único, do CP).

• b) Se a ofensa for contra funcionário público em razão de suas funções, ou contra


os Presidentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Supremo
Tribunal Federal, a ação será pública condicionada à representação.
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• c) Em caso de crime de injúria racial ou preconceituosa a ação penal é pública


condicionada à representação. Antes do advento da Lei n. 12.033/2009, que
alterou a redação do art. 145, parágrafo único, do CP, a ação era privada.
ALTERADO PELA LEI 14.523/2023

• d) No crime de injúria real do qual resulta lesão corporal como consequência da


violência empregada, a ação é pública incondicionada. A finalidade da lei é
estabelecer a mesma espécie de ação penal para os dois delitos: injúria real e
lesões corporais. Por isso, após a entrada em vigor da Lei n. 9.099/95, que passou a
exigir representação em caso de lesão leve, deve ser feita a seguinte distinção: se a
injúria real provocar lesão leve, ambos os delitos dependem de representação do
ofendido; se causar lesão grave ou gravíssima, a ação penal será incondicionada.
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• ■ Audiência de reconciliação

• De acordo com o art. 520 do Código de Processo Penal, o juiz, antes de receber a
queixa, oferecerá às partes oportunidade para se reconciliarem. Assim, designará
audiência e as ouvirá separadamente, sem a presença dos advogados e sem lavrar
termo.

• Após ouvi-las, se o juiz achar provável a reconciliação, promoverá o entendimento


entre elas na sua presença (art. 521 do CPP).
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• Caso haja a reconciliação, o querelante assinará termo de desistência da ação
penal, hipótese em que a queixa será arquivada (art. 522 do CPP).

• A falta de designação dessa audiência é causa de nulidade absoluta da ação penal.


A audiência, entretanto, não deve ser realizada quando o crime contra a honra em
apuração for de ação pública, uma vez que o dispositivo faz referência apenas à
queixa (arts. 520 e 522) e também pelo fato de o Ministério Público não poder
conciliar-se com o querelado em nome do ofendido.
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• O não comparecimento do querelante a esta audiência não gera a causa extintiva
da punibilidade de perempção de acordo com a interpretação predominante,
inclusive dos tribunais superiores.

• É que o mencionado art. 60, III, do CPP diz haver perempção quando o querelante
não comparece a ato do processo a que deva estar presente e a audiência de
reconciliação é realizada antes do recebimento da queixa, ou seja, quando ainda
não existe efetivamente um processo penal em andamento.

• Sua ausência, portanto, deve ser interpretada como falta de interesse em se


reconciliar com o autor do delito.
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• Não sendo possível a reconciliação entre as partes, o juiz prosseguirá de acordo
com as regras processuais da Lei n. 9.099/95, na medida em que os crimes contra a
honra, em regra, possuem pena máxima não superior a 2 anos.
• Somente quando se tratar de crime de calúnia agravada por alguma das causas de
aumento de pena do art. 141 do Código Penal ou quando for caso de injúria racial é
que a pena máxima será superior a 2 anos e estará afastada a competência do
Juizado Especial Criminal.
• Em tais casos, curiosamente, o art. 519 do Código de Processo Penal dispõe que
deverá ser seguido o rito ordinário apesar de a pena máxima em abstrato ser
inferior a 4 anos — a calúnia agravada (por ter sido cometida na presença de várias
pessoas ou por meio que facilite a divulgação, por exemplo) tem pena máxima de
2 anos e 8 meses, nos termos do arts. 138 e 141, III, do Código Penal, enquanto a
injúria racial tem pena máxima de 3 anos (art. 140, § 3º, do CP).
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• ■ Exceção da verdade

• Pressuposto para a tipificação dos crimes de calúnia e de difamação (contra


funcionário público em razão de suas funções) é que a imputação seja falsa.
• Em decorrência disso, os arts. 138, § 3º, e 139, parágrafo único, do Código Penal
permitem que o querelado (pessoa apontada como autora da ofensa) proponha-se
a provar, na mesma relação processual, que a imputação feita é verdadeira, ou
seja, que ele não cometeu calúnia ou difamação (contra funcionário público)
porque simplesmente falou a verdade a respeito da outra pessoa.
• Nesse caso, o instrumento processual de que deve se valer é a exceção da
verdade.
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• Perceba-se que há uma presunção relativa de que a imputação é falsa, de modo
que, ao querelante basta fazer prova da ocorrência concreta da imputação por
parte do querelado, ou seja, basta provar que o querelado disse ou escreveu
determinada coisa a seu respeito.
• A este, portanto, cabe provar que a imputação é verdadeira e, para tanto, deve
opor exceção da verdade.
• Caso consiga fazê-lo, será absolvido por atipicidade de sua conduta. Se não
conseguir, será condenado, exceto se houver alguma outra razão impeditiva.
• Note-se que, se o juiz julgar procedente a exceção da verdade, não poderá
condenar o querelante nos mesmos autos. Sua providência será de remeter cópia
do feito ao Ministério Público, caso se trate de delito de ação pública e desde que
não esteja prescrito.
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• A exceção da verdade deve ser oposta no prazo da defesa preliminar, se adotado o
rito da Lei n. 9.099/95, ou da resposta escrita, se adotado o rito ordinário,
podendo ser arroladas testemunhas.

• De acordo com o art. 523 do Código de Processo Penal, o querelante poderá


contestar a exceção da verdade dentro de 2 dias, podendo também solicitar a
oitiva de novas testemunhas ou a substituição daquelas arroladas anteriormente,
desde que não excedido o número máximo.

• A exceção da verdade tramita nos mesmos autos da ação que apura o crime de
calúnia ou difamação contra funcionário público e o julgamento será conjunto.
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• ■ Pedido de explicações em juízo

• Trata-se de medida facultativa, prevista no art. 144 do Código Penal, para


hipóteses em que a ofensa é feita de forma velada, não explícita, ambígua, ficando
a pessoa virtualmente ofendida na dúvida acerca do real significado das palavras
ou da efetiva intenção de ofender por parte de quem as proferiu.
• Em tais casos, para sanar a dúvida e até mesmo evitar que seja
desnecessariamente proposta a ação penal, permite o mencionado dispositivo que
a pessoa pretensamente ofendida peça explicações à outra parte por intermédio
do Poder Judiciário. Cuida-se de medida preliminar, ou seja, anterior ao
oferecimento da queixa e, como já dito, facultativa.
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• Trata-se, entretanto, de medida recomendável, pois, se são ambíguas as palavras proferidas, existe o
sério risco de rejeição da inicial, caso o ofendido não tenha buscado explicações acerca de seu real
significado.

• A legislação não prevê rito específico para o pedido de explicações, que, portanto, segue o
procedimento das notificações avulsas: a vítima faz o requerimento, o juiz manda notificar o autor da
ofensa, fixando-lhe prazo para a resposta e, com ou sem esta, entrega os autos ao requerente.

• O juiz não julga o pedido de explicações, que é feito por intermédio da Justiça apenas para conferir-lhe
caráter oficial, posto que a parte final do art. 144 do Código Penal prevê que, aquele que não oferece
resposta ou a oferece de modo insatisfatório responde pela ofensa.

• Assim, por ocasião do juízo de recebimento da denúncia ou queixa o juiz deve levar em conta o teor da
resposta ou a omissão do querelado. É evidente, todavia, que, ao final da ação penal, poderá o
querelado ser absolvido, já que, durante o contraditório, terá a oportunidade de produzir provas em seu
favor.
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• O pedido de explicações é possível nos crimes contra a honra que se apuram


mediante ação pública condicionada à representação. A vítima deve usar o pedido
para decidir se a apresenta ou não.
• A representação, uma vez oferecida, não vincula o Ministério Público que, em face
de sua independência funcional constitucionalmente garantida, pode formar
livremente a opinio delicti, oferecendo denúncia ou promovendo o arquivamento.
• Importante ainda salientar que o pedido de explicações não interrompe o prazo
decadencial, mas torna prevento o juízo.
• Contra a decisão que indefere de plano o pedido de explicações cabe recurso de
apelação, nos termos do art. 593, II, do CPP.
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