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Ação Penal Privada

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Ação Penal de Iniciativa Privada
• A ação penal será de iniciativa privada quando o Código Penal disser que “somente se procede
mediante queixa”;
• Nesse caso, o particular (ofendido ou seu representante legal) é titular de uma pretensão
acusatória e exerce o seu direito de ação, sem que exista delegação do poder de punir, que
continua sendo do Estado-juiz;
• A AP privada é exercida pelo ofendido ou seu representante legal – que passa a ser chamado
de querelante – por meio da QUEIXA-CRIME, que deve conter os mesmos requisitos da
denúncia, previstos no art. 41 do CPP;
• A queixa-crime também deve conter todas as condições da ação já estudadas, com algumas
adições.
Intervenção do MP
• Atenção ao art. 45 do CPP:
• A queixa, ainda quando a ação penal for privativa do ofendido, poderá
ser aditada pelo Ministério Público, a quem caberá intervir em todos
os termos subsequentes do processo.
• MP não atua como dominus litis, mas como custus legis, intervenção
obrigatória.
Condições extras da queixa-crime
• Deve conter valor da causa, de alçada, pois a queixa paga custas processuais;
• Conter procuração com poderes especiais, nos termos do art. 44 do CPP: A
queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo
constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do
fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências
que devem ser previamente requeridas no juízo criminal. IMPORTANTE: a
descrição do fato NA PROCURAÇÃO constitui uma garantia contra uma
eventual responsabilidade por denunciação caluniosa em relação ao
advogado;
• O querelante deve pedir a condenação do querelado ao pagamento das
custas e honorários advocatícios, pois incide nesse tipo de ação (salvo se for
pedida e concedida a assistência judiciária gratuita).
Regras que orientam a AP privada
• 1. Oportunidade e conveniência:
• É regida pelos princípios da oportunidade e da conveniência
(diferente da AP pública que é regida pelo princípio da
obrigatoriedade). Ou seja, o ofendido não está OBRIGADO a exercer a
ação penal, é uma FACULDADE;
• Ponderação das vantagens e das desvantagens de exercer a ação
penal (lembrando sempre das mazelas inerentes ao processo penal).
Regras que orientam a AP privada
• 2. Disponibilidade:
• A ação penal de iniciativa privada é plenamente disponível;
• Poderá o ofendido renunciar ao direito de ação, desistir do processo
dando causa à perempção (art. 60), bem como perdoar o réu (mas
somente produzirá efeito em caso de aceitação).
Regras que orientam a AP privada
• 3. Indivisibilidade:
• Art. 48 do CPP: A queixa contra qualquer dos autores do crime
obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade;
• Mesmo sistema da AP pública;
• O querelante não poderá escolher – em caso de concurso de agentes
– contra quem irá oferecer a queixa;
• Forma de evitar um claro caráter vingativo por meio da escolha.
Regras que orientam a AP privada
• Ponto de dificuldade: como é feito o controle da indivisibilidade por
parte do MP, já que é mandamento do CPP?
• Há quem entenda que não incluindo o querelante algum dos autores
do fato (e, para tanto, deve o inquérito ou contexto probatório
demonstrar isso) o MP poderia aditar a queixa para incluir o coautor
ou partícipe excluído (interpretação do art. 45);
• Problema desse entendimento: o MP não tem legitimidade para
acusar nos crimes processados mediante ação penal de iniciativa
privada.
Regras que orientam a AP privada
• Há quem entenda que o MP deve intervir requerendo a manifestação
do querelante em relação aos demais sujeitos, aditando a queixa;
• Caso não o faça, entende-se que houve a renúncia do direito de
queixa em relação a TODOS;
• Aury: posição mais radical, entende que o MP deve zelar pela
indivisibilidade da ação por meio da aplicação do art. 49, ou seja,
manifestando-se pela extinção da punibilidade em relação a todos,
pois houve renúncia tácita;
• Art. 49. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um
dos autores do crime, a todos se estenderá.
Regras que orientam a AP privada
• E se durante o processo surgirem novas provas indicando novos autores?
• Nesse caso, o querelante terá o prazo de 06 meses, a contar do
conhecimento da autoria, para oferecer queixa-crime contra esses
autores;
• Interpretação do art. 38 do CPP: Salvo disposição em contrário, o
ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de queixa ou de
representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado
do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art.
29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
• Se o processo inicial ainda estiver tramitando, os dois (o velho e o novo)
devem tramitar juntos, pois há continência (art. 77, inciso I, do CPP).
Titularidade
• O titular da queixa-crime é o querelante. O réu é o querelado;
• O querelante é o ofendido pelo delito (art. 30 CPP), sendo que, em caso de morte ou
ausência declarada por decisão judicial, o direito de prosseguir na ação passará ao
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão;
• E se o ofendido for incapaz (menor de 18 anos ou mentalmente enfermo)? Deverá ser
representado;
• E se houver divergência entre o interesse do incapaz e do representante? Cabe ao juiz
nomear um curador, que não está obrigado a ajuizar a queixa-crime, pois ela não é
obrigatória, senão que deverá ponderar a conveniência e oportunidade para o incapaz;
• Aqui também há a discussão sobre o prazo do direito de queixa (flui ou não contra o
incapaz representado?), que já tratamos nas ações penais de iniciativa pública
condicionada.
Prazo da queixa-crime
• A queixa-crime deverá ser oferecida no prazo decadencial de 06
meses, contados a partir da data em que o ofendido vier a saber
quem é o autor do delito (art. 38);
• É prazo material/decadencial, por isso não é prorrogado,
interrompido ou suspenso.
Procuração com Poderes Especiais
• O querelante somente pode postular em juízo por meio de advogado, cuja
procuração deverá conter poderes especiais e fazer a menção ao fato criminoso;
• O processo penal (em geral) exige procuração ADEQUADA e ESPECÍFICA para o
processo penal;
• Abandonar o uso da procuração com poderes gerais do art. 105 do CPC, pois em
nada ajuda (ajuda somente no processo civil, por óbvio);
• Os tribunais têm entendido que por “menção ao fato criminoso” compreende-se a
mera indicação dos crimes praticados. Bastam os poderes especiais para oferecer
queixa-crime contra fulano (querelado), porque no dia tal, às tantas horas, teria
praticado os delitos de injúria e difamação (por exemplo);
• Ponto importante: o advogado PRUDENTE solicita sempre a assinatura do seu
cliente (querelante) na queixa-crime, junto da sua assinatura.
Espécies de AP privada
• 1. Originária ou comum:
• É a ação penal de iniciativa privada tradicional, sem qualquer
especificidade, podendo ser ajuizada por meio da queixa, no prazo
decadencial de 6 meses, pelo ofendido ou seu representante legal;
• 2. Personalíssima: é restrita à iniciativa pessoal da vítima. Hoje, existe
apenas um delito de iniciativa personalíssima: o crime de induzimento a
erro essencial e ocultação de impedimento, previsto no art. 236 do CP.
• Parágrafo único do art. 236: A ação penal depende de queixa do
contraente enganado (...);
• Significa que não se opera a sucessão prevista no art. 31 do CPP.
Espécies de AP privada
• 3. Subsidiária da pública:
• Consagrada constitucionalmente no art. 5º, LIX, e também nos arts. 29 do
CPP e 100, § 3º, do CP;
• Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não
for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa,
repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do
processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no
caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
• É chamada também de queixa substitutiva;
• Exige uma atenção maior, pois se trata de uma legitimação extraordinária
para o ofendido exercer ação penal em um crime que é de iniciativa pública.
Espécies de AP privada
• Se recebido o inquérito policial para oferecer a denúncia ou pedir o arquivamento (ou, ainda, postular
diligências), o Ministério Público ficar inerte, poderá o ofendido, superado o prazo concedido para o MP
denunciar (5 dias se o imputado estiver preso ou 15 dias se estiver solto), oferecer uma queixa subsidiária,
dando início ao processo e assumindo o polo ativo (como acusador);
• Por inércia do MP compreende-se o fato de ele não acusar, nem pedir diligências e tampouco ordenar o
arquivamento;
• O prazo para o ofendido exercer essa ação penal inicia com o término do prazo concedido ao Ministério Público,
logo, no 6º dia estando o imputado preso ou no 16º dia estando ele em liberdade, findando 6 meses após,
conforme disciplina o art. 38 do CPP.
Espécies de AP privada
• Essa legitimação extraordinária não transforma a ação penal pública
em privada!
• O MP pode retomar (para si) o processo a qualquer tempo como
parte principal (pode aditar a queixa, repudiá-la e oferecer a
denúncia, intervir em todos os termos do processo, etc.);
• Nesse caso, o ofendido poderá permanecer no processo, mas como
assistente da acusação, devendo habilitar-se com advogado (art. 268
e ss do CPP).
Espécies de AP privada
• 4. Ação Penal nos Crimes Praticados contra a Honra de Servidor Público:
• Nos crimes contra a honra de servidor público, praticado em razão do ofício ou função
desempenhados, a legitimidade ativa é, atualmente, considerada concorrente entre o ofendido
(servidor) e o Ministério Público (condicionada à representação);
• Súmula 714 do STF: É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do
Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime
contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.
• Nesse caso em específico, eleita uma das vias, a outra é preclusa (impedida).
Renúncia ao direito de queixa
• É causa extintiva da punibilidade, prevista no art. 107 do CP;
• Ato unilateral do ofendido, que não necessita de aceitação do imputado
para produção de efeitos;
• Poderá ser expressa (por escrito, art. 50) ou tácita (art. 104, parágrafo
único, do CP), quando houver a prática de ato incompatível com a
intenção de acusar alguém (admitindo-se qualquer meio de prova para
sua demonstração, art. 57 do CPP);
• Art. 104, parágrafo único, CP: “Importa renúncia tácita ao direito de
queixa a prática de ato incompatível com a vontade de exercê-lo; não a
implica, todavia, o fato de receber o ofendido a indenização do dano
causado pelo crime”;
Renúncia ao direito de queixa
• Contudo, nos crimes de competência do JECrim, o acordo acarreta a
renúncia ao direito de queixa (ou de representação): Art. 74,
parágrafo único, da Lei nº 9.099: “tratando-se de ação penal de
iniciativa privada ou de ação penal pública condicionada à
representação, o acordo homologado acarreta a renúncia ao direito
de queixa ou representação”;
Renúncia ao direito de queixa
• Também deve ser considerado como renúncia o pedido de arquivamento
do inquérito policial (instaurado para apuração de um delito de iniciativa
privada) feito pelo ofendido ao juiz;
• Não havendo previsão legal de pedido de arquivamento do inquérito pelo
ofendido, eventual manifestação sua nesse sentido deve ser recebida como
renúncia, até porque é mais favorável também para o sujeito passivo, pois
a decisão de extinção da punibilidade faz coisa julgada formal e material;
• E o ofendido menor de 18 anos? A renúncia do seu representante legal
conduz à extinção da punibilidade. Em tese, havendo divergência entre a
vontade do menor e a do representante legal, aplica-se o art. 33, podendo
ser nomeado um curador especial.
Perdão
• Trata-se de ato bilateral, na medida em que o ofendido oferece – no
curso do processo – e o réu precisa aceitar;
• É possível a partir do recebimento da queixa (antes, o que pode haver
é renúncia) até que ocorra o trânsito em julgado da sentença (art.
106, § 2º);
• É a máxima manifestação da disponibilidade da ação penal privada;
• No caso de concurso de agentes, o perdão oferecido a um dos réus a
todos é aproveitado, menos àquele que recursar (art. 51 CPP).
Perempção
• É uma penalidade, sanção de natureza processual imposta ao
querelante negligente e que conduz à extinção do processo e da
punibilidade;
• Os casos de perempção estão previstos nos 4 incisos do art. 60 do
CPP;
• Expressamente não está consagrada a “desistência” do querelante,
mas ela poderá ser considerada uma causa supralegal de perempção;
• Operando-se a perempção, o querelante arcará com as custas
processuais e os honorários advocatícios do querelado.
Fixação de valor indenizatório na sentença
penal condenatória
Fixação de valor indenizatório
• Ainda que as esferas da ilicitude civil e penal sejam distintas, há
situações em que uma mesma ação ou omissão gera efeitos nos dois
(civil ou penal) – ou três campos (administrativo);
• Exemplo clássico: homicídio culposo de trânsito. Gera reflexos no
âmbito criminal, civil e administrativo.
• A fixação de valor indenizatório no processo penal trata dos efeitos
civis da sentença penal condenatória;
• Art. 384, inciso IV e art. 63, parágrafo único, ambos do CPP.
Fixação de valor indenizatório
• Art. 384, inciso IV: [a sentença penal condenatória] fixará valor
mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido;
• Art. 63, Parágrafo único: Transitada em julgado a sentença
condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos
termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem prejuízo da
liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido;
• Os dois dispositivos foram incluídos no CPP pela Lei n. 11.719/2008.
Fixação de valor indenizatório
• O legislador brasileiro permitiu com essas duas normas cumular no
juízo criminal uma pretensão acusatória e outra indenizatória;
• O valor fixado na sentença penal condenatória é sempre MÍNIMO, o
que não impede que a vítima busque, na esfera cível, um montante
maior (art. 935 do CC);
• A liquidação de sentença e a execução não incumbem ao juiz penal.
Fixação de valor indenizatório
• Para que o juiz da área criminal possa fixar o valor indenizatório na
sentença penal condenatória, quais são os requisitos?
• 1. existir pedido expresso na inicial acusatória de condenação do réu
ao pagamento de um valor mínimo para reparação dos danos
causados (caso contrário, há violação do princípio da correlação);
• 2. o tema da reparação dos danos deve ser submetida ao
contraditório e assegurada a ampla defesa do réu;
• 3. o valor, inclusive, deve ser discutido;
• 4. somente é cabível essa condenação em relação aos fatos ocorridos
após a vigência da Lei n. 11.719/2008.
Fixação de valor indenizatório
• Havendo a fixação do valor e havendo o trânsito em julgado da ação
penal, a sentença penal passa a ser um título executivo judicial no
âmbito cível, cabendo à parte interessada (vítima do delito ou seu
representante legal) o ajuizamento da ação de execução no juízo
cível;
• Pode haver a discussão do valor, postulando-se a liquidação da
sentença, ou executá-la de pronto;
• É claro que, a qualquer tempo, pode o interessado propor ação
indenizatória no âmbito cível (ação de conhecimento), art. 64 do CPP.

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