Você está na página 1de 7

AÇÃO PENAL PRIVADA E QUEIXA-CRIME

 Conceito: É aquela titularizada pela vítima ou pelo seu representante legal, na


condição de substituição processual, já que ela atua em nome próprio, pleiteando
a punição que será exercida pelo Estado.
OBSERVAÇÃO! Enquadramento terminológico:
a) Vítima: É chamada de querelante.
b) Réu: É chamado de querelado.
c) Petição inicial: Ela é chamada de queixa-crime, sendo que seus requisitos estão
no art. 41 do CPP.
OBSERVAÇÃO! Quando o crime é de ação privada, encontraremos na lei a seguinte
referência: o crime se procede mediante queixa. Ex.: art. 145 do CP.

PRINCÍPIOS DA AÇÃO PRIVADA


1. Princípio da Oportunidade: A vítima só vai ingressar com a ação
privada se lhe for conveniente.
o Institutos correlatos:
a) Decadência: É a perda da faculdade de ingressar com a ação
privada em razão do decurso do prazo, qual seja, em regra 6
meses contados do conhecimento da autoria da infração
(art. 38 do CPP). A decadência provoca a extinção da
punibilidade (art. 107, IV, do CP).
b) Renúncia: Ocorre com a declaração expressa da vítima de
que não pretende ingressar com a ação privada ou pela prática
de ato incompatível com essa vontade. Assim, a renúncia
pode ser expressa ou tácita (arts. 49 e 50 do CPP). Provoca
a extinção da punibilidade (art. 107, V, do CP).

2. Princípio da Disponibilidade: A vítima poderá desistir da


demanda ajuizada.
o Institutos correlatos:
a) Perdão: Ocorre quando a vítima declara expressamente que
não pretende continuar com a demanda ou quando ela pratica
ato incompatível com essa vontade (art. 58 do CPP). Assim,
percebe-se que o perdão pode ser oferecido de forma
expressa ou tácita. O perdão só surtirá o efeito pretendido,
qual seja, a extinção da punibilidade, se o réu o aceitar, o que
pode ocorrer de forma expressa ou tácita (art. 59 CPP c/c
art. 107, V, parte final, do CP).
 Procedimento: Se a vítima declara nos autos o perdão,
o réu será intimado e dispõe de 3 dias para dizer se o
aceita (art. 58 do CPP). A omissão faz presumir a
aceitação (ACEITAÇÃO TÁCITA).
 Procurador: A oferta e a aceitação do perdão podem
ocorrer por meio de procurador, exigindo-se poderes
especiais (art. 55 do CPP).

b) Perempção: É a sanção judicialmente imposta pelo descaso


da vítima na condução da ação privada.
o Hipóteses (art. 60 do CPP): Provocam a extinção da
punibilidade (art. 107, IV, do CP).

3. Princípio da Indivisibilidade: Se a vítima optar por ajuizar a ação


privada, deverá fazer contra todos os infratores conhecidos.
OBSERVAÇÃO! Cabe ao MP fiscalizar a indivisibilidade da ação privada.
o Questões Complementares:
a) Se a vitima dolosamente processa apenas parte dos sujeitos,
ela estará renunciando ao direito em favor dos não
processados, o que extingue a punibilidade em benefício de
todos.
b) O perdão apresentado a parte dos sujeitos é aplicável a todos
que desejem aceitar (art. 51 do CPP).

4. Princípio da Intranscendência ou Pessoalidade: Os efeitos da ação


privada não podem ultrapassar a figura do réu.

MODALIDADES DE AÇÃO PRIVADA


 Ação Privada Exclusiva ou Propriamente dita:
É aquela titularizada pela vítima ou por seu representante legal, nas hipóteses
de incapacidade.
Havendo sucessão por morte ou ausência, o direito de ação é transferido aos
seguintes sucessores:
Cônjuge/companheiro
Ascendentes
Descendentes
Irmãos (art. 31 do CPP)
 Prazo: Usualmente 6 meses, contados do conhecimento da autoria da infração.

 Ação Privada Personalíssima:


É aquela que possui um único titular, quem seja, a vítima. Assim, não há
intervenção do representante legal ou sucessão por morte ou ausência.
O único crime de ação personalíssima é o induzimento a erro ou ocultação
de impedimento ao casamento (art. 236 do CP).
o Prazo: 06 meses contados do trânsito em julgado da sentença
cível que invalidar o casamento.

 Ação Privada Subsidiária da Pública:


Ela está consignada no art. 5º, LIX, da CF como cláusula pétrea, autorizando
que a vítima ingresse com a ação privada em deleito da esfera pública, já que o MP não
cumpriu o seu papel nos prazos legais. Assim, se o MP ofereceu denúncia, requereu
diligências ou promoveu o arquivamento, não caberá ação privada subsidiária.
o Prazo: 06 meses contados do esgotamento do prazo que o MP
dispunha para agir, qual seja, em regra, 05 dias se o sujeito está
preso ou 15 dias se está em liberdade (art. 46 do CPP).

o Poderes do MP: O MP deve intervir em todos os termos do


processo, sob pena de nulidade (art. 564, III, “d”, do CPP).
Além disso, o MP tem amplos poderes, catalogados no art. 29 do
CPP. Vejamos:

 Apresentar recursos;
 Aditar a inicial, até mesmo para incluir mais réus;
 Propor provas;
 Se a vitima fraquejar, ela será afastada, cabendo ao MP
retomar a demanda como parte principal.
ADVERTÊNCIA! Não cabe perdão ou perempção na ação privada subsidiária.
ATENÇÃO! A petição inicial da ação privada subsidiária é chamada é chamada de
queixa-crime substitutiva.

ESTUDO DA QUEIXA-CRIME
a) Conceito: É a petição inicial que caracteriza o exercício da ação penal privada.
b) Identificação da peça na OAB: O examinador indicará que determinada pessoa
foi vítima de um crime de iniciativa privada e procurou o seu escritório para a
adoção das providências cabíveis.
ADVERTÊNCIA! Devemos analisar o tipo penal para detectar que é passível de ação
privada.
ATENÇÃO! O examinador pode indicar que a investigação apurando o delito foi
concluída e que a vítima procurou o seu escritório para a adoção das providências
cabíveis.
c) Endereçamento: A queixa-crime é usualmente endereçada ao juiz de primeiro
grau competente, admitindo as seguintes variáveis:
 Juiz estadual: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE
DIREITO DA ... VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ...
 Justiça Federal: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ
FEDERAL DA... VARA CRIMINAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA
DE...

 Violência Doméstica: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ


DE DIREITO DO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER DA COMARCA DE...

 Infração de menor potencial ofensivo: EXCELENTÍSSIMO SENHOR


DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL
DA COMARCA DE...

d) Preâmbulo: O art. 41 do CPP funciona como referência, já que o preâmbulo


deve conter os seguintes elementos:
 Qualificação: Deve ser exauriente;
 Assistência por advogado: É necessário procuração específica com
poderes especiais (art. 44 do CPP);
ADVERTÊNCIA! Só vamos elaborar a procuração se o enunciado da questão exigir
expressamente. Devemos consultar no tópico MATERIAIS COMPLEMENTARES um
modelo de procuração.
 Embasamento jurídico:
o Ação privada exclusiva: arts. 30 e 41 do CPP c/c art. 100, §2º, do
CP.
o Ação privada personalíssima: arts. 30 e 41 do CPP c/c art. 100,
§2º e 236, parágrafo único, do CP.
o Ação subsidiária da pública: art. 5º, LIX, da CF c/c art. 29 do
CPP e art. 100, §3º, do CP.
e) Nome jurídico da peça:
 Regra geral: QUEIXA-CRIME.
 Regra Especial: Na ação privada subsidiária, o nome da peça é QUEIXA-
CRIME SUBSTITUTIVA.

f) Narrativa fática: JAMAIS INVENTAR INFORMAÇÕES.


g) Esboço jurídico:
 Devemos indicar os artigos de lei que caracterizam as infrações
imputadas.
 Enquadramento do fato ao tipo penal.
 Apontar qualificadoras.
 Apontar causar de aumento de pena.
 Apontar agravantes.
 Apontar a autoria e a materialidade.
 Apontar o eventual concurso de crimes (material, formal ou crime
continuado).
h) Pedidos:
 Recebimento da petição inicial;
 Abertura de vistas ao MP para manifestação como “custos legis”.
 Citação do querelado para apresentar resposta à acusação e intimação
para os demais termos do processo, até final julgamento, onde deve ser
condenado nas penas dos arts...
 Fixação do valor mínimo de indenização pelos danos causados pelo
crime (art. 387, IV, do CPP).
 Notificação oportuna das testemunhas arroladas.
ADVERTÊNCIA! Vale lembrar que a petição inicial é o momento para a acusação
arrolar testemunhas, sob pena de preclusão.
i) Parte autenticativa: LOCAL, DATA E ASSINATURA.
OBSERVAÇÃO! O prazo para o ajuizamento da queixa-crime é decadencial, ou seja, é
um prazo fatal, não tolerando interrupção, suspensão ou prorrogação, sendo contado de
acordo com o art. 10 do CP. Pouco importa se é dia útil ou não.

CASO CONCRETO
Fábio Roque no dia 22/10/2020, sabendo que o fato era falso, mediante uso do
Twitter, o que caracteriza ambiente público, disse a Tício (que leu a mensagem), que
Mévio havia praticado crime de furto contra o Gran. Mévio teve conhecimento de tal
imputação no mesmo dia em que a mensagem foi postada na rede social.
Na sequencia dos acontecimentos, ainda no dia 22.10.2020, Fábio encontrou
Mévio e, com clara intenção de ofensa, disse: “Você é um sujeito desonesto e canalha”.
Tal fato foi presenciado por Nestor.
Por sua vez, Mévio se sentiu ofendido com as condutas praticadas por Fábio.
Com cabe nas informações constantes no caso, elabore a peça processual
correspondente privativa de advogado, no último dia do prazo, tendo em vista que
Mévio procurou o seu escritório para a adoção das providências cabíveis.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ... VARA


CRIMINAL DA COMARCA DE ...
PULAR 5 LINHAS
Mévio, nacionalidade..., profissão..., estado civil..., filiação..., naturalidade...,
RG nº..., CPF nº..., residente e domiciliado na Rua..., por meio do seu advogado que
esta subscreve (procuração com poderes especiais anexa – art. 44 do CPP), vem, à
presença de Vossa Excelência, oferecer QUEIXA-CRIME, com fundamento nos artigos
30 e 41 do Código de Processo Penal c/c art. 100, §2º, do Código Penal, em face de
Fábio Roque, nacionalidade..., estado civil..., filiação..., naturalidade..., profissão..., RG
nº..., CPF nº..., residente e domiciliado..., pelas razões de fato e de direito a seguir
apontadas.
PULAR 1 LINHA
DOS FATOS
No dia 22.10.2020, Fábio Roque, mediante o uso da rede social Twitter, que
caracteriza ambiente público, disse a Tício, mesmo sabendo que o fato era falso, que o
querelante praticou crime de furto contra o Gran.
No mesmo dia, ao encontrar pessoalmente o querelante, e com a intenção nítida
de ofensa à honra, o querelado proferiu as seguintes palavras: “Você é um sujeito
desonesto e canalha”, fato presenciado por Nestor.
Sentindo-se ofendido com as condutas do querelado, o demandante decidiu
intentar a presente ação penal.
Em apertada síntese, eis o histórico dos fatos.
PULAR UMA LINHA
DO DIREITO
I. Do crime de calúnia:
Nobre magistrado, como demonstrar os fatos narrados, em 22 de outubro de
2020, agindo com evidente “animus caluniandi”, utilizando-se da rede social Twitter, ou
seja, ambiente público, o querelado praticou o delito de calúnia contra o querelante.
Em verdade, na sobredita ocasião, o querelado imputou falsamente a prática de
fato definido como crime, ao dizer que o demandante teria praticado o crime de furto
contra o Gran, mesmo sabendo que o fato era inverídico.
Desta feita, resta evidente que o querelado praticou o delito previsto no art. 138
do CP, em sua versão majorada, valendo a transcrição:
Art. 138 do CP: “Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido
como crime:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos, e multa”.
Assim, a autoria e a materialidade restam comprovadas, diante da essencial
testemunha Tício, que leu a mensagem em questão, ocasião em que a honra objetiva do
querelante foi atacada.
Como se não bastasse, ainda é importante destacar a incidência de exasperação
da pena, em virtude do emprego de rede social, nos termos do §2º do art. 141 do CP.
II. Do crime de injúria:
Ainda no mesmo dia, quando o querelante e o querelado, por coincidência, se
encontraram o demandado, não satisfeito, disse: “Você é um sujeito desonesto e
canalha”, praticando assim o crime de injúria.
Na verdade, o inequívoco propósito do querelado era ofender a honra da
vítima, logrando êxito em sua empreitada. Assim agindo, o querelado incorreu nas
penas do art. 140 do CP, que prevê:
Art. 140 do CP – “Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa”.
Como não poderia ser diferente, com esta nova conduta, o querelado agiu com
“animus injuriandi”, fato testemunhado por Nestor, devidamente arrolado como
testemunha.
III – Do concurso de crimes:
Como ficou demonstrado, o querelado praticou os delitos de calúnia e de
injúria, com condutas autônomas e desígnios distintos, incidindo nas regras do concurso
material de infrações, catalogado no art. 69 do CP, exigindo-se o somatório das penas.
PULAR UMA LINHA
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:
a) Seja designada audiência de conciliação, na forma do art. 520 do CPP;
b) Em caso de impossibilidade de conciliação, seja recebida a presente queixa-
crime;
c) A abertura de vistas ao Ministério Público, para manifestação como “custos
legis”;
d) Citação do querelado;
e) A procedência da presente demanda com a consequente condenação do
querelado nas penas dos arts. 138 c/c art. 141, §2º, do CP, assim como nas
sanções do art. 141 do CP, diante da regra do concurso material;
f) A oportuna oitiva das testemunhas abaixo arroladas com a correspondente
intimação;
g) A fixação do valor mínimo de indenização, nos termos do art. 387, IV, do CPP.
PULAR UMA LINHA
Termos em que, pede deferimento.
LOCAL..., 21 de abril de 2021.
..............................................
Advogado..., OAB nº...
Rol de Testemunhas:
a) Tício, qualificação..., endereço...
b) Nestor, qualificação..., endereço...

Você também pode gostar