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Belo Horizonte
2020
Tiago Pimenta Gonçalves
Belo Horizonte
2020
Tiago Pimenta Gonçalves
Palavras chave: Juros Sobre Capital Próprio – natureza jurídica – PIS/Pasep – COFINS –
dedutibilidade – Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido – Imposto sobre a Renda - lucro
real - períodos anteriores – capacidade contributiva - Superior Tribunal de Justiça
ABSTRACT
This study aims to analyse the tax treatment of interest on stockholders equity,
particularly to verify its compatibility with the ability-to-pay principle and equal protection, as
well as look into the disputes about the subject and the precedents set by the Brazilian
Superior Court of Justice. Therefore, it will be assessed the legal scholarship, besides the
stance of the taxpayers, tax authority and court precedents on its legal nature, whether or not
the social Contributions to PIS/Pasep and COFINS should apply over the interest on equity,
the possibility to deduct these from the tax base of social contribution on net income related to
the calendar year of 1996, and, at last, the possibility to subtract out off the taxable income the
interest on equity accounted based on fiscal years previous to the payment. In the end, we
conclude that the interest on equity is a viable option to increase the development of Brazilian
companies whilst respects the ability-to-pay principle and equal protection. In addition, up
until now the Superior Court consistently settled the law to define the autonomy of the legal
nature of the interest on equity, allowed the incidence of PIS/Pasep and COFINS, and denied
the possibility to deduct the interest on equity from the tax base of the social contribution on
net income of 1996. Even though there is no settled law on whether it is possible to deduct
from the taxable income the interest on equity related to fiscal years previous to the payment,
we support that the deductibility is possible.
1. INTRODUÇÃO................................................................................................................ 11
4 CONCLUSÃO.................................................................................................................. 33
5 REFERÊNCIAS............................................................................................................... 34
11
1. INTRODUÇÃO
O intuito deste trabalho é analisar o instituto jurídico dos Juros Sobre Capital Próprio
(JCP), com enfoque no tratamento tributário que a Lei 9.249/95 lhe atribuiu. Para tanto, será
demonstrada a origem do instituto bem como os motivos que ensejaram a sua criação, além
das principais alterações que o diploma legal que o disciplina sofreu desde sua criação.
Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os
juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a
título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio
líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP.
§ 1º O efetivo pagamento ou crédito dos juros fica condicionado à existência de
lucros, computados antes da dedução dos juros, ou de lucros acumulados e reservas
de lucros, em montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem
pagos ou creditados.
§ 2º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de
quinze por cento, na data do pagamento ou crédito ao beneficiário.
§ 3º O imposto retido na fonte será considerado: I - antecipação do devido na
declaração de rendimentos, no caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com
base no lucro real; II - tributação definitiva, no caso de beneficiário pessoa física ou
pessoa jurídica não tributada com base no lucro real, inclusive isenta, ressalvado o
disposto no § 4º;
§ 4º Revogado
§ 5º No caso de beneficiário sociedade civil de prestação de serviços, submetida ao
regime de tributação de que trata o art. 1º do Decreto-Lei nº 2.397, de 21 de
dezembro de 1987, o imposto poderá ser compensado com o retido por ocasião do
pagamento dos rendimentos aos sócios beneficiários.
§ 6º No caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro real, o
imposto de que trata o § 2º poderá ainda ser compensado com o retido por ocasião
do pagamento ou crédito de juros, a título de remuneração de capital próprio, a seu
titular, sócios ou acionistas.
§ 7º O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de
remuneração do capital próprio, poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que
trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem prejuízo do
disposto no § 2º.
§ 8o Para fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo, serão consideradas
exclusivamente as seguintes contas do patrimônio líquido: I - capital social; II -
reservas de capital; III - reservas de lucros; IV - ações em tesouraria; e V - prejuízos
acumulados.
§9º Revogado
§ 10. Revogado
§ 11. O disposto neste artigo aplica-se à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido.
§ 12. Para fins de cálculo da remuneração prevista neste artigo, a conta capital
social, prevista no inciso I do § 8o deste artigo, inclui todas as espécies de ações
previstas no art. 15 da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976, ainda que
classificadas em contas de passivo na escrituração comercial.
Ressalta-se que o referido dispositivo legal sofreu algumas alterações relevantes desde
sua edição, nesse ponto, cita-se a Lei 9.430/96 que revogou os §§ 4º e 10. do art. 9º da Lei
13
1
9.249/95. O §4º previa que os JCP devessem ser adicionados à base de cálculo relativa à
incidência da alíquota adicional de 10% do IRPJ aplicada sobre a parcela do lucro real,
presumido ou arbitrado que exceder o valor médio mensal de R$20.000,00 por período de
2
apuração. Já o §10. determinava que os Juros Remuneratórios do Capital devessem ser
incluídos no lucro líquido e, consequentemente, integrar a base de cálculo da CSLL. Dessa
forma verifica-se que a revogação de ambos dispositivos constitui benefício para as pessoas
jurídicas que fazem uso do instituto.
Análise histórica do nosso ordenamento jurídico revela que o Decreto Lei nº 2.627/40
(Lei do Anonimato), que dispunha sobre as sociedades por ações, já previa em seu art. 129,
parágrafo único, alíneas “d” e “e” 4, hoje revogado pela Lei nº 6.404/76 (Lei de Sociedades
Anônimas), a possibilidade de incluir, nas despesas de instalação da sociedade, os juros pagos
aos acionistas durante o período que antecedesse o início das atividades sociais, previsão essa
que se justificava pela mesma lógica dos juros remuneratórios estudados neste trabalho 5.
1
§ 4º No caso de beneficiário pessoa jurídica tributada com base no lucro presumido ou arbitrado, os juros de
que trata este artigo serão adicionados à base de cálculo de incidência do adicional previsto no § 1º do art. 3º.
2
§ 10. O valor da remuneração deduzida, inclusive na forma do parágrafo anterior, deverá ser adicionado ao
lucro líquido para determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido.
3
§ 2 º Os juros ficarão sujeitos à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de dezoito por cento, na data
do pagamento ou crédito ao beneficiário.
4
Art. 129. No fim de cada ano ou exercício social, proceder-se-á a balanço geral, para a verificação dos lucros
ou prejuízos.
Parágrafo único. Feito o inventário do ativo e passivo, a estimação do ativo obedecerá às seguintes regras: (...)
d) entre os valores do ativo poderão figurar as despesas de instalação da sociedade, desde que não excedam de
10 % (dez por cento) do capital social e sejam amortizadas anualmente;
e) nas despesas de instalação deverão ser incluidos os juros pagos aos acionistas durante o período que anteceder
o início das operações sociais. Os estatutos fixarão a taxa de juro, que não poderá exceder de 6 % (seis por cento)
ao ano, e o prazo para a amortização.
5
LIMA, Mariana Miranda. A Natureza Jurídica dos Juros sobre o Capital Próprio e as Convenções para evitar a
Dupla Tributação. Dissertação de Mestrado. USP. 2009. fl. 79.
6
10. Com vistas a equiparar a tributação dos diversos tipos de rendimentos do capital, o Projeto introduz a
possibilidade de remuneração do capital próprio investido na atividade produtiva, permitindo a dedução dos
juros pagos aos acionista, até o limite da variação da Taxa de Juros de Longo prazo - TJLP; compatibiliza as
alíquotas aplicáveis aos rendimentos provenientes de capital de risco àquelas pela qual são tributados os
14
Assim, infere-se que o instituto equiparou o financiamento por meio do capital próprio
ao capital de terceiros, na medida em que os juros pagos a estes em razão de empréstimos são,
em regra, despesas financeiras dedutíveis do Imposto sobre a Renda.
Alguns doutrinadores também explicam a origem dos Juros sobre Capital Próprio
como uma forma de contrabalancear a extinção, prevista pelo art. 4º da Lei 9.249/95 9, da
correção monetária das demonstrações financeiras. Esta que, nos termos dos já revogados art.
10
2º, art. 3º e art. 4º da Lei nº 7.799/89 , garantia a atualização monetária dos resultados
contábeis que determinavam o lucro real, e, consequentemente, impedia distorção causada por
eventual inflação na base de cálculo do IRPJ.
Entretanto, não se poder perder de vista que os JCP foram inseridos no ordenamento
jurídico no mesmo momento histórico da isenção dos dividendos, o que leva ao
posicionamento defendido por Luís Eduardo Schoueri de que o instituto objetiva combater a
prática da subcapitalização, esta que consiste nos sócios de determinada sociedade deixarem
de aportar seus investimentos no capital social da mesma para mantê-los como empréstimos.
Nas palavras do referido doutrinador: “em situações em que tanto os juros quanto os
dividendos pagos aos sócios são tributados, é mais vantajoso para os sócios capitalizar suas
empresas por meios de empréstimos do que por aportes no capital social, uma vez que o
12
pagamento de juros, diferentemente dos dividendos, é despesa dedutível da sociedade” .
Dessa forma, a dedutibilidade dos JCP aliada à isenção dos dividendos se mostrou uma
solução do legislador para combater o fenômeno da subcapitalização, na medida em que
favorece a capitalização por meio do capital próprio e de aportes no capital social em
detrimento de empréstimos.
10
Art. 2° Para efeito de determinar o lucro real - base de cálculo do imposto de renda das pessoas jurídicas -, a
correção monetária das demonstrações financeiras será efetuada de acordo com as normas previstas nesta Lei
Art. 3° A correção monetária das demonstrações financeiras tem por objetivo expressar, em valores reais, os
elementos patrimoniais e a base de cálculo do imposto de renda de cada período-base.
Parágrafo único. Não será admitido à pessoa jurídica utilizar procedimentos de correção monetária das
demonstrações financeiras que descaracterizem os seus resultados, com a finalidade de reduzir a base de cálculo
do imposto ou de postergar o seu pagamento.
Art. 4° Os efeitos da modificação do poder de compra da moeda nacional sobre o valor dos elementos do
patrimônio e os resultados do período-base serão computados na determinação do lucro real mediante os
seguintes procedimentos: (...)
11
CARVALHOSA, Modesto. Comentários à Lei de Sociedades Anônimas. vol 1. 7ª Edição. São Paulo: Saraiva,
2013. fl. s/n.
12
SCHOUERI, Luís Eduardo. Juros sobre Capital Próprio: Natureza Jurídica e Forma de Apuração diante da
"Nova Contabilidade". Controvérsias Jurídico-Contábeis: (Aproximações e Distanciamentos) 3º Volume. 2012.
fl. 171
16
Nesse ponto, destaca-se que a Instrução Normativa SRF nº 41/98, em seu art. 1º,
parágrafo único 13, permite expressamente que o valor creditado a título de JCP seja utilizado
para aumentar o capital social da companhia sem lhe retirar a característica da dedutibilidade,
tanto a relativa ao IRPJ quanto à CSLL, desde que recolhido, é claro, o IRRF devido.
Em relação à apuração, os JCP devem ser calculados de acordo com alguns limites,
primeiro, eles devem ser apurados sobre o patrimônio líquido da empresa, este obtido levando
em conta apenas o capital social, as reservas de capital e de lucro, as ações em tesouraria e os
prejuízos acumulados da pessoa jurídica 14, sendo o pagamento limitado à variação da Taxa de
Juros de Longo Prazo (TJLP) 15.
Segundo, o pagamento dos Juros Sobre Capital Próprio está vinculado à existência de
lucros, computados antes da dedução dos juros, lucros acumulados ou reserva de lucros em
17
montante igual ou superior ao valor de duas vezes os juros a serem creditados . Quer dizer,
só é possível distribuir JCP até o limite de 50% do lucro do exercício, ou 50% da reserva de
lucros ou lucros acumulados. Ou seja, se determinada empresa realizar pagamento fora dos
13
Art. 1º Para efeito do disposto no art. 9o da Lei No 9.249, de 26 de dezembro de 1995, considera-se creditado,
individualizadamente, o valor dos juros sobre o capital próprio, quando a despesa for registrada, na escrituração
contábil da pessoa jurídica, em contrapartida a conta ou subconta de seu passivo exigível, representativa de
direito de crédito do sócio ou acionista da sociedade ou do titular da empresa individual.
Parágrafo único. A utilização do valor creditado, líquido do imposto incidente na fonte, para integralização de
aumento de capital na empresa, não prejudica o direito a dedutibilidade da despesa, tanto para efeito do lucro
real quanto da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido.
14
Artigo 9º, §8º, da Lei nº 9.249/95.
15
Artigo 9º, caput, da Lei nº 9.249/95.
16
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. A figura dos juros sobre capital
próprio e as contribuições sociais do PIS e da COFINS. Revista Dialética de Direito Tributário nº 169. 2009. fl.
74.
17
Artigo 9º, §1º, da Lei nº 9.249/95.
17
parâmetros citados acima estará pagando aos seus sócios rendimentos diversos do JCP ou,
ainda que os denomine dessa forma, eles serão indedutíveis 18.
Ainda, no caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro real, o imposto
suportado por essa pode ser compensado com o retido por ocasião do pagamento de juros
25
remuneratórios de capital aos seus próprios sócios ou acionistas , desonerando estes em
detrimento da sociedade que efetivamente suportou o ônus da tributação quando recebeu os
18
MOSQUERA, Roberto Quiroga. O Regime Jurídico-tributário das Participações Societárias – Ganho de
Capital, Juros sobre o Capital Próprio e Dividendos. O Direito Tributário e o Mercado Financeiro e de Capitais.
2009. fl. 419.
19
Artigo 9º, §2º, da Lei nº 9.249/95.
20
Art. 24. As disposições relativas a preços, custos e taxas de juros, constantes dos arts. 18 a 22, aplicam-se,
também, às operações efetuadas por pessoa física ou jurídica residente ou domiciliada no Brasil, com qualquer
pessoa física ou jurídica, ainda que não vinculada, residente ou domiciliada em país que não tribute a renda ou
que a tribute a alíquota máxima inferior a vinte por cento.
21
Art. 14. As importâncias pagas, creditadas, entregues, empregadas ou remetidas para beneficiários
domiciliados no exterior, a título de juros sobre o capital próprio, estão sujeitas à incidência do imposto sobre a
renda na fonte, à alíquota de 15% (quinze por cento).
§ 1º Os rendimentos mencionados no caput recebidos por pessoa jurídica domiciliada em país ou dependência
com tributação favorecida a que se refere o art. 24 da Lei nº 9.430, de 1996, sujeitamse à incidência do imposto
sobre a renda na fonte à alíquota de 25% (vinte e cinco por cento).
22
Artigo 9º, §3º, inciso I, da Lei nº 9.249/95; Art. 51, parágrafo único, da Lei nº 9.430/96; Art. 726, §1º, inciso I,
do Decreto 9.580/18 (Regulamento do Imposto de Renda).
23
Artigo 9º, §3º, inciso II, da Lei nº 9.249/95; Art. 726, §1º, inciso II, do Decreto 9.580/18 (Regulamento do
Imposto de Renda).
24
DURIGON, André Luís, Regime tributário da remuneração dos sócios de pessoa jurídica. Revista PGFN.
2018. fl. 185.
25
Artigo 9º, §6º, da Lei nº 9.249/95.
18
juros sobre capital. Dessa forma, verifica-se que tal previsão consiste principalmente em um
benefício ao sócio, titular ou acionista 26.
26
LIMA, Mariana Miranda, op. cit. fl. 85.
27
LIMA, Mariana Miranda, op. cit. fl. 86.
28
DURIGON, André Luís, op. cit. fl. 193.
29
QUEIROZ E SILVA apud DURIGON, André Luís, op. cit. fl. 192.
19
30
Art. 202. Os acionistas têm direito de receber como dividendo obrigatório, em cada exercício, a parcela dos
lucros estabelecida no estatuto ou, se este for omisso, a importância determinada de acordo com as seguintes
normas: (...).
31
Os juros sobre o capital próprio – JCP são instituto criado pela legislação tributária, incorporado ao
ordenamento societário brasileiro por força da Lei 9.249/95. É prática usual das sociedades distribuirem-nos aos
seus acionistas e imputarem-nos ao dividendo obrigatório, nos termos da legislação vigente.
20
A natureza jurídica dos Juros sobre Capital Próprio é tema de grande debate entre os
doutrinadores de modo que a discussão se divide, basicamente, em três posicionamentos,
quais sejam, de que o instituto tem natureza de dividendos, de que se trata de juros, ou é uma
figura própria do Direito Tributário e que não se encaixa em nenhuma classificação pré-
existente do Direito Privado. O debate tem grande importância e implicações diretas em
questões práticas relevantes, tal como a possibilidade de se cobrar as Contribuições do
PIS/Pasep e da COFINS sobre os valores recebidos a título de JCP.
32
Modesto Carvalhosa é um dos defensores da tese de que os Juros Sobre Capital
Próprio tem natureza de dividendo, na medida em que constituem distribuição de resultado.
Nesse ponto o autor invoca, com o intuito de reforçar seu posicionamento, a Deliberação
CVM n. 207, de 13/96, que, em seus “considerandos”, tratou da seguinte forma o dispositivo:
a) que o art. 9º da Lei 9.249/95 instituiu a figura dos juros calculados sobre o capital
próprio, permitindo a sua dedutibilidade para efeitos de apuração do lucro real;
b) que, no conceito de lucro da lei societária, remuneração do capital próprio,
paga/creditada aos acionistas, configura distribuição de resultado e não despesa;
c) que o §7º do art. 9º da referida lei veio a reforçar essa interpretação, ao permitir
que esses juros possam ser imputados ao valor do dividendo obrigatório,
estabelecido no art. 202 da lei societária.
No mesmo sentido, Ives Gandra e Fátima Rodrigues invocam os arts. 109 e 110 do
35
CTN , e explicam que interpretação destes deixa “evidente que a Lei tributária não pode
32
CARVALHOSA, Modesto. op. cit. fl. s/n.
33
A questão que se coloca é se os dividendos previstos na legislação societária brasileira (dividendo obrigatório,
dividendos fixos e mínimos, JCP e dividendo intermediário) atendem às três condições para reconhecimento de
um passivo na data das demonstrações contábeis, quais sejam: (i) de obrigação presente; (ii) de probabilidade
provável de saída de recursos que incorporam benefícios econômicos; e (iii) de estimativa confiável passível de
elaboração para chegar ao seu montante. (...)
34
Os JCP, quando imputados ao dividendo obrigatório, devem receber tratamento análogo, como vem sendo
também a prática adotada pelas empresas brasileiras. (...)
35
Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do
alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários.
21
Os autores argumentam então, que a figura dos Juros Sobre Capital Próprio não se
adéquam a definição e a finalidade dos juros tratados pelo Código Civil, de modo que
“encontra-se, portanto, muito mais próxima da natureza jurídica de resultados distribuídos, de
lucro da sociedade, ou seja, de dividendos” 38. Ressaltam ainda, o posicionamento de Bulhões
Pedreira de que os “juros computados sobre o capital social e creditados aos sócios são lucros
distribuídos, pois os sócios não são credores da sociedade, mas titulares de direito de
participar no seu lucro” 39.
Finalmente, Ives Gandra e Fátima Rodrigues aduzem que não só própria Lei 9.249/95
indica a característica de distribuição de resultado do instituto, a exemplo da previsão do seu
art. 9º, §7º, que possibilita a imputação do valor pago a título de JCP ao pagamento de
dividendos, como também as discussões em torno do surgimento do instituto evidenciam sua
natureza de dividendo 40.
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de
direito privado, utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos
Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências
tributárias.
36
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fl. 76.
37
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op cit., fl. 77.
38
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op cit., fl. 77.
39
PEDREIRA, Bulhões apud MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op.
cit., fl. 78/79.
40
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fl. 79.
41
Art. 17. As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir: (...)
§ 1º Os dividendos, ainda que fixos ou cumulativos, não poderão ser distribuídos em prejuízo do capital social,
salvo quando, em caso de liquidação da companhia, essa vantagem tiver sido expressamente assegurada.
42
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fl. 79.
22
43
Em contrapartida, João Dácio Rolim entende que os juros sobre capital próprio são
despesas financeiras da empresa que realiza o pagamento e, do ponto de vista do sócio ou
acionista, juros de remuneração do capital. Em síntese, Rolim defende que o fato de o
pagamento dos JCP estar condicionado à existência de lucros “não lhes tira a sua natureza
própria e não os identifica como dividendo”, afinal, os juros remuneratórios do capital próprio
tem por fundamento, assim como os juros, o “custo do dinheiro”.
Assim, o doutrinador identifica os Juros sobre Capital Próprio como uma forma de
remunerar o capital, e cujo conceito tributário parte “da noção econômica de custo de
oportunidade, entendida enquanto renúncia, pelo agente econômico, dos benefícios derivados
de determinado investimento em função do potencial de lucro superior vislumbrado em
43
João Dácio Rolim, apud SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fl. 177.
44
Art. 29. Para efeito de apuração do lucro real, observado o regime de competência, poderão ser deduzidos os
juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a (...)
§ 4º Os juros a que se refere este artigo, inclusive quando exercida a opção de que trata o § 1º ou quando
imputados aos dividendos, auferidos por beneficiário pessoa jurídica submetida ao regime de tributação com
base no: a) lucro real, serão registrados em conta de receita financeira e integrarão lucro real e a base de cálculo
da contribuição social sobre o lucro; (...)
§ 10. O imposto incidente na fonte, assumido pela pessoa jurídica, será recolhido no prazo de quinze dias
contados do encerramento do período-base em que tenha ocorrido a dedução dos juros, sendo considerado: (...)
§ 11. Na hipótese da alínea "b" do § anterior, a pessoa jurídica beneficiária deverá registrar, como receita
financeira, o valor dos juros capitalizados que lhe couber e o do imposto de renda na fonte a compensar.
45
Art. 30. O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio,
poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976,
sem prejuízo da incidência do imposto de renda na fonte.
Parágrafo único. Para efeito de dedutibilidade na determinação do lucro real, os juros pagos ou creditados, ainda
que imputados aos dividendos ou quando exercida a opção de que trata o § 1º do artigo anterior, deverão ser
registrados em contrapartida de despesas financeiras.
46
SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fl. 176.
47
SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fls. 179/182.
23
aplicação distinta”. Dessa forma, destaca que o lucro de dado negócio, só poderia ser apurado
“se desconsiderando o lucro sobre o capital”. 48
48
SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fl. 182.
49
SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fls. 182/184.
50
SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fl. 184.
51
SCHOUERI, Luís Eduardo, op. cit. fl. 185
52
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.373.438/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
SEGUNDA TURMA, julgado em 11/06/2014, DJe 17/06/2014.
24
ambivalente, sendo, ontologicamente, parcela do lucro a ser distribuído aos acionistas e que,
por ficção jurídica, a lei tributária lhe conferiu características de juros.
Desse modo, passou para a análise das controvérsias. Primeiro, esclareceu que a Corte
Superior já definiu tese 54 em sede de Recurso Repetitivo 55 no sentido de “que os dividendos
podem ser incluídos na condenação, independentemente de pedido expresso”, concluindo que,
uma vez aberta à exceção para admitir pedido implícito quanto aos dividendos, o mesmo
tratamento deve ser conferido aos JCP, em razão das verbas apresentarem natureza
semelhante para efeitos do direito societário. Também por este motivo, negou a possibilidade
de executar tanto dividendos quanto JCP em execução de sentença condenatória de
53
REQUIÃO, Rubens apud SANSEVERINO, Paulo, op. cit. fls. 16/17
54
1.3. É devida indenização a título de dividendos ao adquirente de linha telefônica como decorrência lógica da
procedência do pedido de complementação das ações da CRT/Celular CRT, a contar do ano da integralização do
capital.
55
REsp 1.034.255/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/04/2010,
DJe 11/05/2010
25
56
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fl. 77.
57
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fl. 87.
26
58
COFINS, previstas no art. 1º, §3º, da Lei nº 10.637/2002 e art. 1º, §3º, da Lei nº
59
10.833/2003 .
60
Ainda em defesa ao contribuinte, Ives Gandra e Fátima Fernandes afirmam que
“transformar a distribuição de resultados em “receita financeira” da pessoa jurídica
beneficiária para o fim de integrar a base de cálculo do PIS e da COFINS constitui manifesta
alteração de conceito de instituo do Direito Privado, alargando artificialmente a competência
desses tributos”.
Os autores destacam, também, que a incidência das contribuições sobre os JCP tem
como consequência resultado contrário à intenção da Lei 9.249/95, na medida em que geram
uma supressão no resultado dos investimentos em conglomerados empresarias, afinal, nas
empresas investidoras (holdings) o “aumento do ônus tributário de 9,25% decorrente da
incidência de PIS e Cofins ocorrerá em cada pagamento na cadeia de participação societária”
61
.
O Tribunal Superior considerou que, conforme exposto pelo Exmo. Ministro Mauro
Campbell, por se tratar de instituto de natureza autônoma criado no âmbito do imposto de
renda como receita tributável, estaria à legislação tributária apta para definir seu alcance.
Destarte, não havendo exclusão específica para tal rubrica e, estando o instituto dentro do
58
§ 3o Não integram a base de cálculo a que se refere este artigo, as receitas: (...)
V - referentes a: a) vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos; b) reversões de provisões e
recuperações de créditos baixados como perda, que não representem ingresso de novas receitas, o resultado
positivo da avaliação de investimentos pelo valor do patrimônio líquido e os lucros e dividendos derivados de
participações societárias, que tenham sido computados como receita;
59
§ 3o Não integram a base de cálculo a que se refere este artigo as receitas: (...)
V - referentes a: a) vendas canceladas e aos descontos incondicionais concedidos; b) reversões de provisões e
recuperações de créditos baixados como perda que não representem ingresso de novas receitas, o resultado
positivo da avaliação de investimentos pelo valor do patrimônio líquido e os lucros e dividendos derivados de
participações societárias, que tenham sido computados como receita;
60
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fl. 90.
61
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. op. cit., fls. 89/90.
62
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.200.492/RS, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/10/2015, DJe 22/02/2016.
27
conceito de receitas auferidas pela pessoa jurídica, os JCP devem compor, consequentemente,
a base de cálculo das contribuições ao PIS/Pasep e da COFINS.
3.3. Dedução da Base de Cálculo da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido no ano
calendário de 1996
63
Art. 1º Ficam reduzidas a zero as alíquotas da Contribuição para o PIS/PASEP e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas
jurídicas sujeitas ao regime de incidência não-cumulativa das referidas contribuições.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica às receitas financeiras oriundas de juros sobre capital próprio
e as decorrentes de operações de hedge.
64
Art. 1º Ficam reduzidas a zero as alíquotas da Contribuição para o PIS/PASEP e da Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social - COFINS incidentes sobre as receitas financeiras, inclusive decorrentes de
operações realizadas para fins de hedge, auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de incidência não-
cumulativa das referidas contribuições.
Parágrafo único. O disposto no caput: I - não se aplica aos juros sobre o capital próprio;
65
Art. 30. O valor dos juros pagos ou creditados pela pessoa jurídica, a título de remuneração do capital próprio,
poderá ser imputado ao valor dos dividendos de que trata o art. 202 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976,
sem prejuízo da incidência do imposto de renda na fonte.
Parágrafo único. Para efeito de dedutibilidade na determinação do lucro real, os juros pagos ou creditados, ainda
que imputados aos dividendos ou quando exercida a opção de que trata o § 1º do artigo anterior, deverão ser
registrados em contrapartida de despesas financeiras.
28
9.249/95 66, que determinava que os juros remuneratórios devessem ser adicionados ao lucro
líquido para determinação da base de cálculo da CSLL, dessa forma, com sua revogação
passou-se a permitir a dedutibilidade da referida contribuição.
Embora a Lei nº 9.430/96 tenha sido publicada em 30.12.1996, ao dispor sobre sua
67
vigência em seu art. 87 , determinou que entrasse em vigor na data da publicação,
produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de janeiro de 1997, fato esse que deu ensejo à
discussão acerca da possibilidade de realizar a dedução dos JCP da base de cálculo da CSLL
relativa ao ano calendário de 1996.
Nesse ponto, Diego Bomfim, em defesa aos contribuintes, argumenta que tendo o
dispositivo legal em questão sido revogado em 30 de dezembro de 1996, e diante da
ocorrência do fato gerador da contribuição se dar em 31 de dezembro do mesmo ano, “já
revogada estava a determinação de que os juros sobre o capital próprio deveriam ser
adicionados ao lucro líquido, para determinação da base de cálculo da contribuição social” 68,
não havendo falar em incluir os juros remuneratórios no computo da CSLL.
Sustenta, ainda, que “não há como afirmar pela concomitância semântica das
expressões efeitos e efeitos financeiros” na medida em que a primeira diz respeito à produção
de efeitos de determinada norma jurídica, enquanto a segunda guarda relação com o direito
financeiro. Dessa forma, segundo o autor, no caso da Lei 9.430/96 a expressão efeitos
financeiros simplesmente “teve o condão de informar que a desoneração da contribuição
social sobre o lucro líquido realizada” somente “surtiria efeitos financeiros a partir do
exercício de 1997 (já que a data de vencimento da exação se dava apenas em março de 1997)”
69
.
66
§ 10. O valor da remuneração deduzida, inclusive na forma do parágrafo anterior, deverá ser adicionado ao
lucro líquido para determinação da base de cálculo da contribuição social sobre o lucro líquido.
67
Art. 87. Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação, produzindo efeitos financeiros a partir de 1º de
janeiro de 1997.
68
BOMFIM, Diego Marcel. Dedutibilidade dos juros sobre capital próprio da base de cálculo da CSLL no ano
de 1996: proposta interpretativa da expressão “efeitos financeiros” e análise da jurisprudência do Conselho de
Contribuintes. Revista Dialética de Direito Tributário, n. 150. 2008. fl.23
69
BOMFIM, Diego Marcel, op. cit, fl. 32.
29
expressão efeitos financeiros deveria ser entendida como efeitos tendo o legislador cometido
mero erro técnico na redação do dispositivo legal. 70
O STJ já se manifestou diversas vezes sobre o tema, de modo que a questão já está
pacificada na corte, que adota o entendimento de que “a dedutibilidade dos juros sobre capital
próprio pagos aos acionistas da base de cálculo da CSLL só passou a vigorar a partir do ano-
calendário 1997, exercício 1998, não alcançando os fatos geradores ocorridos no ano-
calendário 1996”. 71
3.4. Dedutibilidade dos Juros Sobre Capital Próprio relativos a Exercícios Anteriores ao
do efetivo pagamento
Por exemplo, considerando que a empresa Alpha apurou lucro no exercício de 2018,
mas, à época, não se valeu dos JCP para remunerar os acionistas, só vindo a distribuir os
resultados daquele ano na forma de juros remuneratórios em 2020, a discussão se resume a se
estes JCP podem ser deduzidos na apuração do lucro real relativa ao exercício de 2020,
momento em que foram, de fato, pagos.
70
BOMFIM, Diego Marcel, op. cit, fl. 27.
71
Superior Tribunal de Justiça. Agravo Interno em Agravo em Recurso Especial 1.359.504/SP, Rel. Sérgio
Kukina, PRIMEIRA TURMA, julgado em 16.05.2019, DJe 21.05.2019.
72
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.090.336/RJ, Rel. Castro Meira, SEGUNDA TURMA,
julgado em 25.06.2013, DJe 05.08.2013.
73
Art. 29. Para efeito de apuração do lucro real, observado o regime de competência, poderão ser deduzidos os
juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a (...)
30
Quando instado a se manifestar sobre o tema, a Primeira Turma do STJ 75 opinou pela
possibilidade de dedução dos juros remuneratórios relativos a exercícios anteriores,
consignando que a legislação não impõe que essa deva ocorrer no mesmo exercício financeiro
em que se apurou lucro, sendo possível que a dedução ocorra em ano calendário futuro,
quando efetivamente se realizar o pagamento. Tal permissão encontra respaldo no regime de
caixa na medida em que a efetivação da distribuição do resultado se dará quando os JCP
forem de fato distribuídos, mesmo que isso ocorra em período distinto ao da apuração.
74
MOREIRA, André Mendes; FONSECA, Fernando Daniel de Moura. Da possibilidade de pagamento de juros
sobre capital próprio apurados com base em exercícios anteriores - dedutibilidade do IRPJ. Revista Dialética de
Direito Tributário, n. 235. 2015. fl. 38.
75
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.086.752/PR, Rel. Ministro Francisco Falcão, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe 11/03/2009.
76
CARF, 1º Seção, 2ª Turma, 3ª Câmara, Recurso Voluntário, Acórdão nº 1302-000.465, publicado em
27/01/2011
77
1º Conselho de Contribuintes, 7ª Câmara, Recurso Voluntário, Acórdão nº 107-08.9442, publicado em
28/03/2007
78
MOREIRA, André Mendes; FONSECA, Fernando Daniel de Moura, op. cit., fl. 33.
79
CARF, 1º Seção, 1ª Turma, 4ª Câmara, Recurso Voluntário, Acórdão nº 1401-000.348, publicado em
10/11/2010
80
MOREIRA, André Mendes; FONSECA, Fernando Daniel de Moura, op. cit., fl. 35.
31
81
anteriores ao do efetivo pagamento, a exemplo dos acórdãos de nº 9101-002.797 e 9101-
82
002.180 , nos quais os conselheiros destacam que as despesas com JCP devem estar
correlacionadas com as receitas obtidas no período em que ocorreu a utilização do capital dos
sócios, ou seja, no período em que o capital estava de fato investido na sociedade.
As despesas de juros com capital próprio devem ser confrontadas com as receitas
que formam o lucro do período, ou seja, tem que estar correlacionadas com as
receitas obtidas no período que se deu a utilização do capital dos sócios, no período
em que esse capital permaneceu investido na sociedade.
81
CSRF, 1ª Turma, Recurso Especial do Procurador e do Contribuinte, Acórdão nº 9101002.797, julgado em
09/05/2017.
82
CSRF, 1ª Turma, Recurso Especial do Contribuinte, Acórdão 9101002.180, julgado em 20/01/2016.
32
rejeitada por não atingir o quórum mínimo de aprovação, reforça a ideia de que a
administração tem um posicionamento claro sobre o tema. 83
Dessa forma e tendo em vista que o STJ vem adotando entendimento no sentido da
prevalência da autonomia do instituto e da legislação tributária para definir seu tratamento
jurídico, será mais coerente se fixar posicionamento em favor da possibilidade de dedução
relativa a períodos anteriores, mesmo porque, quando determinou a incidência de PIS/Pasep e
COFINS sobre os JCP se valeu do argumento de que, caso a legislação desejasse excluir o
instituto do campo de incidência das contribuições deveria tê-lo feito expressamente, de modo
que a mesma lógica pode ser aplicada aos limites da dedutibilidade.
Entretanto, até o momento, não é possível afirmar que o STJ tenha definido um
posicionamento definitivo sobre a matéria, vez que, além da Segunda Turma ainda não ter se
manifestado sobre ela, a decisão que estudamos neste trabalho foi o único momento em que a
Primeira Turma se posicionou a favor da dedutibilidade relativa a períodos anteriores, desse
modo, também não revela claro posicionamento dessa.
83
NETO, Carlos Augusto Daniel. Carf rejeita dedutibilidade de juros sobre o capital próprio retroativos. Conjur.
11.09.2019.
33
4. CONCLUSÃO
Isso porque os benefícios tributários que são concedidos a quem se vale do instituto
têm o objetivo claro de manter o capital dentro da companhia e permitir o seu
desenvolvimento, sendo, principalmente, um benefício que permite o crescimento da própria
empresa em detrimento do mero enriquecimento dos sócios, o que está de acordo com os
objetivos descritos na própria Exposição de Motivos da Lei 9.249/95. Além disso, os JCP
estão em consonância ao princípio da igualdade ao passo em que o benefício da
dedutibilidade relacionado ao instituto equipara as espécies de financiamento via capital
próprio e de terceiros, bem como apresentam tributação equivalente à utilizada em aplicações
de renda fixa, o que se justifica pelo conceito de custo de oportunidade.
5. REFERÊNCIAS
SCHOUERI, Luís Eduardo. Juros sobre Capital Próprio: Natureza Jurídica e Forma de
Apuração diante da "Nova Contabilidade". Controvérsias Jurídico-Contábeis: (Aproximações
e Distanciamentos), 3º Volume. 2012. fls. 169-193.
MARTINS, Ives Gandra da Silva, DE SOUZA, Fátima Fernandes Rodrigues. A figura dos
juros sobre capital próprio e as contribuições sociais do PIS e da COFINS. Revista Dialética
de Direito Tributário, n. 169. 2009. fls. 73-90.
DURIGON, André Luís, Regime tributário da remuneração dos sócios de pessoa jurídica.
Revista PGFN. 2018.
LIMA, Mariana Miranda. A Natureza Jurídica dos Juros sobre o Capital Próprio e as
Convenções para evitar a Dupla Tributação. Dissertação de Mestrado. USP. 2009.
BOMFIM, Diego Marcel. Dedutibilidade dos juros sobre capital próprio da base de Cálculo
da CSLL no ano de 1996: proposta interpretativa da expressão “efeitos financeiros” e análise
da jurisprudência do Conselho de Contribuintes. Revista Dialética de Direito Tributário, n.
150. 2008. fls. 21-32.
35
NETO, Carlos Augusto Daniel. Carf rejeita dedutibilidade de juros sobre o capital próprio
retroativos. Conjur. 11.09.2019. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2019-set-
11/rejeicao-dedutibilidade-juros-capital-proprio-retroativo>
BRASIL. Lei n. 6404, 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm>
36
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.373.438/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino, SEGUNDA TURMA, julgado em 11/06/2014, DJe 17/06/2014.
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.086.752/PR, Rel. Ministro Francisco Falcão,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/02/2009, DJe 11/03/2009.
Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1.090.336/RJ, Rel. Castro Meira, SEGUNDA
TURMA, julgado em 25.06.2013, DJe 05.08.2013.