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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

FACULDADE DE DIREITO - FADIR

ANDRE LUIS RODRIGUES DE LIMA


LUCAS VINÍCIUS MONTELO BORGES

TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA

Campo Grande, MS
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
FACULDADE DE DIREITO - FADIR

ANDRE LUIS RODRIGUES DE LIMA


LUCAS VINÍCIUS MONTELO BORGES

TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA

Trabalho realizado para a Faculdade de Direito da


Fundação Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul – FADIR/UFMS, especificamente para a
disciplina Direito Tributário II, ministrada pela
Profª. Drª. Lídia Maria Ribas

Campo Grande, MS
2020

Sumário
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................4
2 BREVES ASPECTOS DA TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA E MP 899/2019...........................4
3 Conversão da Medida Provisória n. 899: Lei 13.988/2020..........................................................6
4 CONCLUSÃO...........................................................................................................................6
APRESENTANDO O INSTITUTO DA TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho objetiva apresentar noções básicas sobre a transação


tributária, uma das formas de extinção da obrigação tributária, ou seja, do dever de
fazer de um contribuinte, responsável ou terceiro em função de lei.
O Código Tributário Nacional, instituído pela Lei n. 5.172/1966 que
regula o sistema tributário nacional e estabelece as normas gerais de direito
tributário aplicáveis aos entes federativos, aborda o instituto da transação tributária,
especificamente em seu artigo 171, dispondo que:

A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos ativo e
passivo da obrigação tributária celebrar transação que, mediante
concessões mútuas, importe em determinação de litígio e conseqüente
extinção de crédito tributário.
Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente para autorizar a
transação em cada caso. (BRASIL, 1966, s/p).

2 BREVES ASPECTOS DA TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA E MP 899/2019

De acordo com o Governo Federal, a transação tributária na dívida


ativa de pequeno valor consiste em um “serviço que possibilita ao contribuinte pagar
os débitos inscritos em dívida ativa da União com benefícios, como entrada reduzida
e descontos sobre o valor total” (BRASIL, 2020b, s/p).
Segundo Carvalho (2018, p. 456), trata-se do instituto “mediante o qual,
por concessões mútuas, credor e devedor põem (sic) fim ao litígio, extinguindo a
relação jurídica”.
Contudo,
é curioso verificar que a extinção da obrigação, quando ocorre a figura
transacional, não se dá, propriamente, por força das concessões recíprocas,
e sim do pagamento. O processo de transação tão somente prepara o
caminho para que o sujeito passivo quite sua dívida, promovendo o
desaparecimento do vínculo (CARVALHO, 2018, p. 456).
A Medida Provisória n. 899/2019 trouxe as hipóteses em que a
transação na cobrança da dívida ativa poderá ser realizada para a resolução do
litígio entre a União e os devedores (BRASIL, 2019).
A transação é vedada para reduzir o montante principal do crédito;
tratar de multas de lançamento de ofício, de falta de lançamento ou recolhimento de
imposto e de natureza penal; e dispor sobre créditos do Simples Nacional, FGTS e
aqueles ainda não inscritos em dívida ativa da União (BRASIL, 2019).
Assim, ao contrário do que ocorre no direito civil, em que a transação pode
ser realizada antes a fim de prevenir a litigância, no direito tributário a transação
pressupõe a existência do litígio (CARVALHO, 2018).
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, responsável por propor a
transação tributária, lançou o Edital n. 16/2020, contendo as propostas com prazo de
adesão até 29 de dezembro de 2020 (BRASIL, 2020a).
São elegíveis para essas propostas de transação os débitos de
pequeno valor (consolidado por inscrição igual ou inferior a 60 salários mínimos até
a data limite para adesão) inscritos em dívida ativa cujos devedores são pessoas
naturais, microempresas e empresas de pequeno porte (BRASIL, 2020a).
É válido ressaltar que “a proposta de transação não suspende a
exigibilidade dos créditos por ela abrangidos nem o andamento das respectivas
execuções fiscais” (BRASIL, 2019, s/p) e também não implica em novação dos
créditos, entretanto, é admitida a suspensão do processo por acordo das partes.
Ao aceitar a proposta de transação, o devedor confessa os créditos,
que apenas serão extintos após o cumprimento integral das condições previstas no
termo (BRASIL, 2019).
Antes disso, a transação poderá rescindida quando houver: a) “o
descumprimento das condições, das cláusulas ou dos compromissos assumidos”; b)
“a constatação, pelo credor, de ato tendente ao esvaziamento patrimonial do
devedor como forma de fraudar o cumprimento da transação, ainda que realizado
anteriormente à sua celebração”; c) “a decretação de falência ou de extinção, pela
liquidação, da pessoa jurídica transigente”; e d) “a ocorrência de alguma das
hipóteses rescisórias adicionalmente previstas no respectivo termo de transação”
(BRASIL, 2019, s/p), sendo que a rescisão implica na revogação dos benefícios e na
cobrança integral da dívida, amortizados os pagamentos parciais, bem como
autoriza a Fazenda Pública a pleitear a convolação da recuperação judicial em
falência ou promover ação de falência.

3 CONVERSÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 899/19: Lei 13.988/2020

Em 14 de abril de 2020 o Presidente da República sancionou a referida


Lei, a qual estabelece, conforme o art. 1º:

“os requisitos e as condições para que a união, as autarquias e fundações,


e os devedores ou as partes adversas realizem transação resolutiva de
litígio relativo à cobrança de créditos da Fazenda Pública, de natureza
tributária ou não tributária. (BRASIL, 2020b)

Essa Lei veio com o fito de consolidar a transação tributária e assim,


atendendo ao interesse público e observando os princípios da isonomia, capacidade
contributiva, transparência, moralidade, razoável duração dos processos, eficiência e
publicidade, resolver os litígios da esfera relativa às cobranças de créditos tributários
e não tributários da Fazenda Pública.
Importa ressaltar, ainda, que o art. 3º da supracitada norma legal expõe
as condições mínimas às quais o devedor está vinculado a ter que cumprir, quais
sejam:

I - não utilizar a transação de forma abusiva, com a finalidade de limitar, de


falsear ou de prejudicar, de qualquer forma, a livre concorrência ou a livre
iniciativa econômica; II - não utilizar pessoa natural ou jurídica interposta
para ocultar ou dissimular a origem ou a destinação de bens, de direitos e
de valores, os seus reais interesses ou a identidade dos beneficiários de
seus atos, em prejuízo da Fazenda Pública federal; III - não alienar nem
onerar bens ou direitos sem a devida comunicação ao órgão da Fazenda
Pública competente, quando exigido em lei; IV - desistir das impugnações
ou dos recursos administrativos que tenham por objeto os créditos incluídos
na transação e renunciar a quaisquer alegações de direito sobre as quais se
fundem as referidas impugnações ou recursos; e V - renunciar a quaisquer
alegações de direito, atuais ou futuras, sobre as quais se fundem ações
judiciais, inclusive as coletivas, ou recursos que tenham por objeto os
créditos incluídos na transação, por meio de requerimento de extinção do
respectivo processo com resolução de mérito [...] (BRASIL, 2020b)

Este dispositivo tem a função de limitar e assegurar que a transação


ocorra de forma benéfica para todas as partes do processo, bem como, agir de
forma a reduzir os litígios relativos à créditos envolvendo tributos ou não.
Neste jaez, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional publicou na
mesma data da promulgação da Lei, a Portaria nº 9.917/2020, a qual tem como
propósito a regulamentação dos procedimentos, condições e requisitos necessários
à celebração da transação.

4 ART. 28 DA Lei 13.988/2020. ADI 6.399.

Ponto controverso na Lei 13.988/2020 que gerou discussão


constitucional foi o dispositivo 28 que trouxe uma alteração legislativa quanto ao
artigo 19-E da Lei n. 10.522/2012, dispondo acerca da extinção do voto de qualidade
proferido pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
Com a nova redação legal, em caso de empate no julgamento do
processo administrativo de determinação e exigência do crédito tributário, resolve-se
a questão favoravelmente ao contribuinte, não sendo necessário o voto de qualidade
do órgão fiscal.
Assim, a Procuradoria-Geral da República entende que tal Lei padece
de inconstitucionalidade formal, por vício no processo legislativo, posto que o artigo
supramencionado não tem pertinência temática com a Medida Provisória em que foi
inserido, que tratava das regras para transação tributária, violando, dessa forma os
princípios constitucionais da separação de poderes, do devido processo legal e do
princípio democrático.

5 CONCLUSÃO

Analisando os pontos apresentados, é possível inferir que a transação


tributária opera como um modelo relacional que atende aos princípios democráticos
e à função social dos tributos, edificando-se relações de confiança e colaboração,
focadas em viabilizar um modelo de solução de conflitos mais voltado à
autocomposição.
Além disso, ao contrário dos modelos convencionais de mero parcelamento, a
transação tributária atua discutindo e analisando, minuciosa e especificamente, os
créditos e os contribuintes.
Por fim, acredita-se, ainda, que o instituto da transação tributária irá
colaborar ainda mais na diminuição do número de processos que tramitam no
judiciário federal, principalmente agora, aliada à evolução dos processos digitais.

REFERÊNCIAS FINAIS
BRASIL. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema
Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à
União, Estados e Municípios. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm. Acesso em: 26 set.
2020.

BRASIL. Lei n. 13.988, de 14 de abril de 2020b. Dispõe sobre os requisitos e as


condições para que a União, as autarquias e fundações, e os devedores e as
partes adversas realizem transação. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/l13988.htm. Acesso em:
26 set.. 2020.
BRASIL. Medida Provisória n. 899, de 16 de outubro de 2019. Dispõe sobre a
transação nas hipóteses que especifica. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv899.htm. Acesso
em: 26 set. 2020.

BRASIL. Ministério da Economia. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Edital n.


16, de 19 de agosto de 2020a. Torna públicas propostas da Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional para adesão à transação no contencioso tributário de
pequeno valor relativo ao processo de cobrança da dívida ativa da União.
Disponível em: https://www.gov.br/pgfn/pt-br/servicos/editais-de-
notificacao/transacao-na-divida-de-pequeno-valor/edital-no-16_2020_transacao-
tributaria-de-pequeno-valor.pdf. Acesso em: 26 set. 2020.

BRASIL. Ministério da Economia. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.


Transação Tributária na Dívida Ativa de Pequeno Valor, 2020. Disponível em:
https://www.gov.br/pgfn/pt-br/servicos/orientacoes-contribuintes/acordo-de-
transacao/transacao-tributaria-na-divida-ativa-de-pequeno-valor. Acesso em: 26 set.
2020.

Brasil. Ministério Público Federal. Procuradoria-Geral da República. Petição inicial


da ADI 6.399 de 28 de abril de 2020. Disponível em:
http://www.mpf.mp.br/pgr/documentos/ADIDFInicialADILei13.9882020votodesempat
ecarfCD31.pdf. Acesso em: 26 de set. 2020.

CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva


Educação, 2018.

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